sábado, 11 de junho de 2011

Cantadas indecorosas nos tribunais



Advogada diz que se recusou a sair com desembargador do Maranhão e por isso foi reprovada em concurso para juíza

Claudio Dantas Sequeira
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ESCÂNDALO
O desembargador Jaime Araújo e o texto encaminhado 
à ministra Eliana Calmon: galanteios em exame oral
Alvo frequente de denúncias de corrupção, a Justiça do Maranhão enfrenta agora uma guerra interna deflagrada por um escândalo de assédio sexual. O caso começou em abril. Durante a prova oral para o concurso de juiz estadual, o desembargador Jaime Ferreira de Araújo, membro da comissão examinadora, teria assediado a candidata Sheila Silva Cunha. Segundo denúncia encaminhada ao Conselho Nacional de Justiça e à Procuradoria-Geral da República, Sheila não só recebeu cantadas indecorosas do magistrado como, por não ter cedido aos galanteios, acabou reprovada injustamente. A investigação está em curso e conta com o apoio da desembargadora Nelma Celeste Sarney, cunhada do presidente do Senado José Sarney. Nelma encaminhou ao CNJ um ofício relatando o problema. “Em conversa reservada, a senhora Sheila Silva narrou-me que o desembargador teria lhe convidado para saírem juntos de forma acintosa e inesperada”, escreveu a desembargadora.

Em um trecho da prova oral, uma voz masculina, identificada nos autos do processo como sendo de Jaime Araújo, pede para a mulher, apontada como a candidata Sheila Silva, anotar seu número de telefone. “Eu te ligo ou você me liga?”, pergunta o homem. Em outro trecho, ele questiona por que ela não teria atendido ao seu telefonema e pergunta até quando ficará em São Luiz, capital do Maranhão. Detalhe: Sheila é de Salvador (BA). Na gravação, ela explica que ficaria no Maranhão até o dia seguinte, para pegar o resultado da prova, enquanto o marido viajaria de volta para a Bahia. “Manda ele ir embora de manhã”, afirma o homem, em tom de gracejo. Em depoimento encaminhado à corregedoria do CNJ, Sheila dá sua versão. “Como não cedi ao assédio a que fui submetida nos dois dias de provas, passou o desembargador Jaime Ferreira a me perseguir de toda forma”, disse ela. Em sua defesa, Jaime de Araújo argumentou ao CNJ que Sheila não obteve nota suficiente para aprovação no concurso, mesmo após o pedido de revisão. O caso foi parar nas mãos da corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, que pediu à Polícia Federal a busca e apreensão dos discos rígidos onde estão armazenados os arquivos de áudio correspondentes às provas orais do concurso. O material também será periciado para saber se houve qualquer manipulação. Pelo que se ouve na gravação, há poucas dúvidas sobre os galanteios impróprios do magistrado.

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Quem são os bombeiros incendiários



Conheça os líderes do motim que quebrou a hierarquia militar e colocou em risco a segurança do Rio de Janeiro

Wilson Aquino
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REVOLTA
Bombeiros em confronto com a Polícia: ação despropositada
Por mais legítima que seja a reivindicação de reajuste de salários e melhoria de condições de trabalho feita pelos bombeiros do Rio de Janeiro, as ações praticadas nos últimos dias por centenas de homens que têm a função primordial de salvar e proteger pessoas foram absurdas. Para chamar a atenção da sociedade, em vez de se manifestarem por meio de passeatas ou qualquer outro tipo de protesto pacífico, os bombeiros cometeram o disparate de invadir o quartel-general da corporação. Embora muita gente não saiba, bombeiro é um policial militar. Significa que, em sua estrutura, há uma rígida hierarquia. Em quartéis, democracias não são possíveis – o que colocaria em risco o próprio funcionamento do sistema. Em quartéis, há acesso fácil a armas e, por isso, não é difícil imaginar os perigos que um motim como o planejado pelos bombeiros possam desencadear. Em quartéis, não se admite revoltas, caracterizadas como crimes e sujeitas, com justiça, à prisão. Ao invadir o QG, os bombeiros incendiaram a sua própria causa e não deixaram alternativa às autoridades. Ou eles seriam presos ou a instituição estaria em risco.

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PERIGO 
O flagrante da invasão do quartel general dos bombeiros: acesso a armas de fogo
A mobilização não está nas mãos de sindicalistas, mas de alguns integrantes da corporação que tomaram a liderança aos poucos, em ações pontuais nos quartéis. Olhar com lupa a atuação desses líderes é essencial para entender a crise. São nove os líderes da revolta que mobilizou 6 mil bombeiros e seus parentes. Oito deles passaram a semana presos no Grupamento Especial Prisional (GEP) junto com dezenas de amotinados. Na sexta-feira 10 foram libertados por força de um habeas corpus. Embora de menor patente, o cabo Benevenuto Daciolo é aquele que se impõe aos demais. Aos 35 anos e salva-vidas há 12, Daciolo é o principal articulador junto a parlamentares que apoiam o movimento. O cabo, que tem quatro filhos, foi candidato a deputado estadual em 2006 e a vereador em 2008, pelo PRTB. Também trabalhou no gabinete da ex-deputada evangélica Beatriz Santos (PRTB). Daciolo costuma misturar política com religião. Ao final de cada discurso, celebra uma prece. “O movimento só tem um líder: Jesus Cristo”, disse ele à reportagem de ISTOÉ. Detalhe preocupante: Daciolo já havia sido detido em maio, acusado de incitamento a crimes militares.

Outra liderança é o capitão Alexandre Marchesini, 35 anos, quatro filhos, candidato a deputado federal nas últimas eleições pelo Partido Republicano Brasileiro (PRB), nas quais obteve 3.200 votos. Numa tendência preocupante entre os cabeças do movimento, ele também tem histórico de prisões. Em 2011, foi detido três vezes por “agitação sindical.” Seu discurso é direto. “Mesmo com o reajuste oferecido pelo governo, vamos continuar com o menor salário da Federação”, diz. “Não cederemos.” O mais velho do grupo é o sargento Valdelei Duarte, 51 anos, salva-vidas que está na corporação desde 1981. Por causa da excessiva exposição ao sol, tanto nas areias brancas das praias da zona sul quanto no Piscinão de Ramos, onde está lotado atualmente, adquiriu um câncer de pele.
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ANTECEDENTE
O capitão Lauro Botto (de branco), 
líder do movimento, já foi preso três vezes

O caso do major Márcio Garcia é singular. Aos 33 anos, sendo 15 deles de serviços prestados à instituição, casado com uma bombeira e pai de uma criança de quatro anos, o oficial está prestes a ser promovido a tenente-coronel. Ao participar do motim, pode ter jogado sua carreira fora. “Todo mundo pergunta se estou maluco”, diz. “Isso é para a população ver o estado de desespero em que se encontram os bombeiros.” Garcia e os outros líderes dividem cinco celas no GEP com outros 20 presos, entre os quais um coronel pedófilo e um sargento que matou a mulher e a sogra. Os detentos passam o dia no pátio do presídio fazendo exercícios, assistindo à tevê, jogando pingue-pongue numa mesa improvisada e articulando os próximos passos do movimento. Ou seja: transformaram o presídio em gabinete.
Fora da prisão está outro bombeiro que é integrante da cúpula do movimento, o capitão Lauro Botto. Ele não participou da invasão porque estava de serviço em Resende, no sul do Estado. É um homem de ações impulsivas. No dia 31 de dezembro de 2010, mandou a seguinte mensagem para Sérgio Cortes, ex-secretário de Saúde e Defesa Social, ao qual se subordinava o Corpo de Bombeiros: “Se tiver o mínimo de vergonha nos próximos quatro anos, tente olhar para os que são bombeiros da sua secretaria.” Também foi preso três vezes em 2011. Com 31 anos e nove como bombeiro, Botto é filiado ao Partido Verde e disputou as eleições de 2010. Na campanha, apareceu em foto ao lado da presidenciável Marina Silva e do candidato a governador Fernando Gabeira.

As ligações políticas do grupo reforça as suspeitas levantadas pelo governador Sérgio Cabral no dia seguinte à invasão: “Tenho informações de que deputados estimularam esse tipo de coisa”, disse. “São políticos que já passaram pelo governo e não fizeram nada.” Era uma referência a seu antecessor, Anthony Garotinho, atual deputado federal pelo PR. Para tentar debelar a crise, Cabral mudou o comando do Corpo de Bombeiros, criou a Secretaria de Estado de Defesa Civil, tirando os bombeiros da pasta da Saúde, e antecipou o reajuste da corporação, previsto para dezembro. Para os juristas, são poucas as possibilidades de os amotinados ganharem a pretendida anistia. “Esse foi um movimento contrário à ordem constitucional ”, diz o professor de Direito da Universidade Candido Mendes Farlei Martins. O cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, diretor do Instituto Universitário de Pesquisas do RJ (Iuperj), avalia que tanto o governador quanto os manifestantes se meteram num beco sem saída. “O governo subestimou o poder de mobilização e o radicalismo. Por outro lado, os bombeiros cometeram crimes militares.”  

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A Classe operária vai ao paraíso



ccLúcio Vaz
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MILHAS 
Depois de Lisboa e Madri, Meneguelli agora vai para Paris e Roma
Jair Meneguelli e Luiz Inácio Lula da Silva foram companheiros de militância sindical no ABC paulista no final dos anos 1970 e início dos anos 1980. Estiveram na porta de fábricas, lideraram greves históricas e ajudaram a derrubar a ditadura militar. Meneguelli seria eleito presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em 1983, enquanto Lula enveredava pela vida política que o levou à Presidência da República. Nomeado pelo poderoso amigo, Meneguelli mantém-se na presidência do Conselho Nacional do Sesi (Serviço Social da Indústria) há oito anos. Com direito a carro e gabinete de luxo em Brasília e salário batendo no teto constitucional. Desde o ano passado, no entanto, decidiu rodar o mundo para divulgar seu trabalho. No fim de novembro do ano passado, esteve com uma comitiva de dez pessoas em Lisboa e Madri por dez dias, em seminário de combate à prostituição infantil. Este ano, Meneguelli promoverá novos eventos em Paris e Roma. O tema é o mesmo, assim como o tamanho da entourage.

A justificativa para as viagens pelas capitais europeias é a promoção do projeto ViraVida, de estratégias de combate à exploração sexual de crianças e adolescentes. O que não se explica é por que o presidente do Sesi precisa estar acompanhado de dez pessoas para fazer uma simples apresentação de um projeto em um seminário internacional, algo corriqueiro para qualquer executivo ou pesquisador. Até agora, foram realizados seminários internacionais, entre os dias 29 e 30 de novembro de 2010, no Palácio de Congresos y Exposiciones de Madrid, na Espanha, e nos dias 2 e 3 de dezembro do mesmo ano, no Centro de Informação Urbana de Lisboa. Parte dos custos da viagem foi paga pelo Banco Santander e pela companhia aérea portuguesa TAP. Para este ano, estão programados novos eventos internacionais, um em Paris e outro em Roma. Meneguelli já está recrutando a volumosa equipe que vai acompanhá-lo na viagem a dois dos maiores centros turísticos mundiais.

Depois da passagem pelo movimento sindical, Meneguelli teve uma carreira discretíssima como deputado federal, de fevereiro de 1995 a janeiro de 2003. Tentou um voo mais alto, disputando a eleição para prefeito de São Caetano do Sul em 2000, mas foi derrotado já no primeiro turno. Nas eleições de 2002, não conseguiu a reeleição, ficando como suplente de deputado. Mas não ficou no sereno, como se diz no jargão político. Lula chegou à Presidência da República e nomeou o amigo para a presidência do Conselho Nacional do Sesi. Com as atitividades inerentes ao cargo vieram as tradicionais mordomias. Meneguelli tem direito a carro de luxo em Brasília, mora num luxuoso flat. Seu gabinete ocupa uma sala no prédio da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o mais moderno do Setor Bancário Norte. 
Ele sucedeu Leonor Franco, mulher do ex-senador Albano Franco, também ex-presidente da Confederação Nacional de Indústria (CNI). O cargo era decorativo, mas Meneguelli deu uma boa turbinada na entidade. Sua desenvoltura surpreende o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR). Os dois foram deputados no mandato de 1999 a 2003. “É evidente que tudo aquilo que eles discursavam enquanto sindicalistas contra o Sistema S – que isso tirava dinheiro do trabalhador, encarecia a folha, que era um esquema de luxo – mudou. A prática, agora, é de tirar proveito, ou seja, de buscar mordomias inerentes ao sistema que eles condenavam”, ataca Bueno. Sobre os eventos internacionais, ele comenta: “Esses seminários podem ser apenas um esquema de fachada para justificar viagens.” Excelentes e agradáveis viagens, por sinal. 
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P.S. Opinião do Blog.
A revista não procurou ouvir o outro lado e por isso não deu espaço as explicações de Jair o que vai de encontro as boas práticas jornalísticas. 

Dilma sem Palocci




A crise que derrubou o ministro mais poderoso do governo abriu espaço para a presidente deixar de lado os compromissos de campanha e dar um tom ainda mais pessoal a sua equipe

Octávio Costa e Claudio Dantas Sequeira
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ESPERANÇA 
Pouco antes de ser demitido, Palocci acreditava que o pior já havia passado
Até surgir a denúncia sobre a multiplicação do patrimônio do ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, o governo Dilma Rousseff vivia em lua de mel com a opinião pública. Pesquisa CNI/Ibope divulgada em abril indicava uma aprovação de 73%, semelhante à do ex-presidente Lula no início do segundo mandato. Mas, depois de 23 dias de crise política, o clima de harmonia rapidamente se desfez, a ponto de ameaçar a imagem de gestora competente que Dilma construiu no exercício do poder. Era preciso estancar a sangria com urgência, por mais dolorosa que fosse a decisão. Na noite da segunda-feira 6, Dilma comunicou às pessoas mais próximas que Palocci seria substituído no dia seguinte. Ninguém se surpreendeu, a não ser o próprio Palocci. 

O ministro animou-se com a decisão do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, de arquivar os pedidos da oposição para que a origem de seu patrimônio fosse investigada. Viu ali uma tábua de salvação, uma espécie de sobrevida. Se nada havia contra ele nas esferas criminal e penal, poderia permanecer no cargo. A presidente Dilma, porém, tinha visão completamente oposta à de seu auxiliar. Tanto a decisão de Gurgel quanto a entrevista de Palocci à Rede Globo em nada alteraram o sentimento da opinião pública, escandalizada com os negócios milionários do chefe da Casa Civil. “O problema não é jurídico, é político”, disse Dilma a seus interlocutores. Ela também viu no aval de Gurgel a oportunidade para se livrar do problema, sem agravar a situação de Palocci. O ministro, porém, manteve-se confiante. Durante a cerimônia de lançamento do evento Rio +20, na terça-feira 7, Palocci surgiu sorridente ao lado de Dilma. Ainda sonhava com o apoio da bancada do PT no Senado. Pediu à senadora Marta Suplicy (SP) que recolhesse assinaturas para uma moção a seu favor, mas a maioria da bancada rejeitou a ideia. “Isso é coisa de gente que está querendo ser mais realista do que o rei ou está procurando protagonismo”, reclamou Delcídio Amaral (PT-MS). 

A movimentação do ministro foi em vão. Mesmo grata a Palocci por seu trabalho na campanha à Presidência, Dilma recebeu pesquisas comprovando o prejuízo à imagem de seu governo. Concluiu que o caso Palocci, além de paralisar a administração, desestabilizou a base aliada no Congresso e ofuscou iniciativas importantes como o lançamento do programa Brasil Sem Miséria. Ao descartar Palocci, Dilma se sentiu com as mãos livres para retomar o controle do governo. Por deferência e amizade, comunicou a decisão ao ex-presidente Lula e aproveitou para dar o nome do novo ocupante do cargo: a senadora Gleisi Hoffmann. Na manhã da terça-feira, antes mesmo de se reunir com Palocci, confirmou a demissão ao presidente do PT, Rui Falcão, ao ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e ao chefe de gabinete, Giles Azevedo. A todos, Dilma explicou que o remédio era amargo, mas necessário.
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NOVOS DESAFIOS 
O PMDB de Temer (esq.) pressiona Dilma por mais espaço após ter defendido
Palocci (centro), enquanto Ideli (dir.) assume a Secretaria de Articulação Política
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Se a saída de Antônio Palocci já era esperada, a escolha de Gleisi Hoffmann para a Casa Civil foi uma enorme surpresa. A presidente quis mostrar que não é influenciada por ninguém e viu na crise uma oportunidade de deixar isso bem claro. Ninguém falava no nome de Gleisi, uma senadora de primeiro mandato e tão inexperiente em articulação política como Dilma. Até então, os nomes mais cotados eram os de Miriam Belchior, ministra do Planejamento, considerada um dos quadros mais importantes do atual governo, de Paulo Bernardo, ministro das Comunicações e marido de Gleisi, e do próprio Gilberto Carvalho, homem de confiança de Lula. Essas escolhas, porém, acabariam passando a imagem de solução caseira, sem maior impacto. Portanto, a escolha de Gleisi não foi um acidente. Dilma quer que a Casa Civil retome suas funções tradicionais, reduzindo a ênfase na articulação política, e se concentre na gestão, como acontecia no governo Lula. Palocci, como se sabe, tinha absorvido as atribuições de articulação política, repassando a coordenação de projetos ao Planejamento.

Comenta-se no Congresso que Gleisi Hoffmann será uma espécie de Dilma da Dilma, mas essa não é a conclusão adequada. Nos tempos de Lula, a ministra da Casa Civil dedicava-se integralmente à gestão administrativa porque o presidente encarregava-se do jogo político, tarefa que a presidente Dilma não gosta de exercer. Foi só depois das queixas contra Palocci que ela começou a receber aliados e opositores em almoços semanais. Enquanto isso, Luiz Sérgio, ministro de Relações Institucionais, ganhou o apelido de “garçom”, por apenas anotar os pedidos dos parlamentares, mas não conseguir nada de concreto. Dilma, agora, está disposta a reestruturar toda a coordenação política. Mas há alguns problemas pela frente. O PMDB, em troca do apoio que deu na crise, quer ocupar uma posição mais forte no governo. Reagiu por não ter sido consultado sobre o nome de Gleisi e sinalizou que vai cobrar a nomeação de cargos de segundo escalão. Outro problema é o próprio PT, que está rachado desde que o deputado Cândido Vaccarezza (SP) perdeu a presidência da Câmara para o gaúcho Marco Maia. 

Dilma Rousseff pediu ao presidente nacional do PT, Rui Falcão, que ajude a pacificar o partido. Falcão avalia que a situação não chega a ser dramática e que o governo, apesar de tudo, obteve seguidas vitórias no Congresso. Foram aprovadas 18 medidas provisórias na Câmara e outras 15 MPs no Senado. Ele também cita a criação da Autoridade Pública Olímpica e a aprovação da regra de ajuste do salário mínimo. “O governo está indo muito bem. Mesmo na questão do Código Florestal, o problema foi apenas a emenda 164, que está sendo renegociada no Senado”, afirma. Apesar do balanço positivo, Dilma também decidiu substituir Luiz Sérgio. PT e PMDB insistiram em emplacar o deputado Cândido Vaccarezza, mas Dilma novamente fez valer a sua vontade e nomeou na tarde da sexta-feira 10 a ex-senadora Ideli Salvatti para a Articulação Política. Luiz Sérgio cuidará do Ministério da Pesca, posto que era ocupado por Ideli.

É difícil acreditar que Gleisi ­Hof­fmann ficará confinada a tarefas administrativas. Afinal, todos os ministros têm de se reportar à Casa Civil, assim como lideranças políticas e governadores também batem à porta em busca de repasses. Em poucos meses no Senado, Gleisi conquistou os colegas, tanto por seu carisma como pela maneira firme com que defende suas ideias. Ao se despedir da Casa, foi homenageada por senadores de todos os partidos. O primeiro aparte veio do ex-presidente Fernando Collor, que se desfez em elogios à colega. Ela também demonstrou que não tem medo da imprensa. Enquanto Palocci passou meses refugiado em sua torre de marfim, a nova ministra, tão logo confirmada no cargo, convocou uma coletiva e respondeu prontamente a perguntas de jornalistas. Gleisi também estendeu a mão à oposição, num gesto parecido com o de Dilma na posse. Para a presidente, a nova auxiliar já demonstrou coragem e competência. Se Dilma fez a escolha certa, o tempo dirá. 
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