quarta-feira, 22 de junho de 2011

A qualidade da Globo é que assegura sua liderança na televisão



Pedro do Coutto
É a alta qualidade da Rede Globo, mais do que qualquer outro fator, que assegura à emissora o predomínio na televisão brasileira. Falei predomínio e explico: não é apenas a liderança absoluta de audiência, como revelou a repórter Keila Jimenez, Folha de São Paulo, ótima matéria de página inteira, edição de domingo. É também o êxito mercadológico, setor talvez onde se encontra sua maior e mais decisiva vantagem, a que lhe garante a manutenção no primeiro lugar. A Vênus Platinada, como é conhecida, amplia seu domínio principalmente nas classes A e B, exatamente de maior poder de consumo.
Keila Jimenez, com base em dados do IBOPE, apontou audiência da Globo, ao longo das 24 horas do dia, da ordem de 16,5 pontos. A Record alcança 7,4; o SBT 5,4%. Somados todos os outros canais, a Globo, sozinha, atinge 50%. Cinquenta por cento mais um, se fosse eleição, vitória por maioria absoluta. Não é esta, entretanto, a primeira pesquisa publicada a respeito. A mesma Folha de São Paulo, edição de 12 de junho, publicou matéria publicitária de página inteira apontando 17,4 para Globo e 16,5 para todas as outras redes juntas.
Somente a Globo possui audiência acima de 15 pontos. A contagem por pontos é fundamental. O Brasil tem praticamente 60 milhões de domicílios. A televisão está presente, segundo o IBGE, numa escala de 96% deles. Logo esse ponto percentual equivale quase a 600 mil residências. Cada residência reune, em média, creio eu, 2,5 telespectadores. Um ponto, assim, representa em termos nacionais 1 milhão e 500 mil em frente às telas. As agências de publicidade e os grandes anunciantes baseiam-se nestas duas escalas para uma avaliação sobre o potencial de poder de compra que possuem.
Não é nada complicado entender esse processo. Sua lógica é nítida.
Entretanto, a FSP acentuou na reportagem e que me refiro ao fato de a Globo, no ano 2000, ter apresentado a média diária de 21 pontos, ao longo de 24 horas. E agora, onze anos depois, estar com 17 pontos. O diretor do Centro de Comunicação da Globo, Luiz Erlanger, observa que, no entanto, a Record e o SBT somados permaneceram nos treze pontos ao longo da década. O avanço da Record foi em cima do SBT. Não em cima da Vênus.
Acredito que Erlanger pudesse ser capaz de aprofundar a análise estatística se lembrasse que a audiência dos canais também aumentou. E se considerarmos a TV paga, e não só a aberta, vamos verificar desempenho positivo da Globo News, melhor que os da Record News e Bandnews. Na televisão por assinatura, o SBT não tem pontos. A Globo, além da Globo News, também reune a Sport TV e os Canais Pay Per View. Com a firmeza de sua audiência, a Globo absorve uma receita anual em torno de 19 bilhões de reais. Pelo menos.
Isso porque o mercado publicitário, como a mesma FSP revelou há alguns meses, fechou 2010 com a cifra de 39,6 bilhões. Deste total, 60% destinaram-se a anúncios nas telas coloridas que tanto atraem quanto exercem magia sobre as multidões. Fascínio mais alto quando se trata de futebol e novelas. A Globo reina absoluta. Não sei como perdeu a concorrência para transmitir as Olimpíadas de 2012 em Londres. Deve ter sido uma falha enorme de seu sistema comercial. A Record venceu. A Globo tenta acionar a SportTV na tentativa de compensar pelo menos uma parte da derrota.
Erros ocorrem como aquele do carnaval de 84 em que ela decidiu não transmitir. Resultado: deu 6 pontos, menor índice de sua história. A Rede Manchete alcançou 47. Isso define, como sempre sustento, ao contrário do que pensou Mcluhan, o meio não é mais forte do que a mensagem. Os dois se completam.

Total de milionários no Brasil sobe para 155 mil em 2010



De acordo com relatório sobre a riqueza global, número representa uma expansão de 6% em relação ao ano anterior
AE


O número de milionários cresceu no Brasil em 2010, segundo relatório sobre a riqueza global "World Wealth Report" elaborado pela Merrill Lynch Global Wealth Management e pela consultoria Capgemini. O documento divulgado nesta quarta-feira mostra que o País fechou 2010 com 155,4 mil milionários, expansão de 6% ante 2009.



No ranking global de países com mais milionários, o Brasil ocupa a 11ª posição. Estados Unidos, Japão, Alemanha e China, nesta ordem, ocupam os primeiros quatro lugares. O estudo aponta que no mundo, o número de milionários cresceu em 2010 e voltou a superar o período pré-crise em boa parte das regiões do planeta.



O documento mostra ainda que tanto o número de milionários quanto o valor da riqueza que eles possuem cresceu, no Brasil e no resto do mundo. No planeta, havia em 2010 um total de 10,9 milhões de pessoas com US$ 1 milhão ou mais, expansão de 8,3% ante o ano anterior. Ao todo, essas pessoas possuíam uma riqueza de US$ 42,7 trilhões, aumento de 10% no mesmo período de comparação.



Um dos destaques para o crescimento da riqueza global foi a Ásia, que teve taxas mais altas de expansão e ultrapassou a Europa em número de milionários e em riqueza. Os países asiáticos têm 3,3 milhões de pessoas com mais de US$ 1 milhão, enquanto a Europa tem 3,1 milhões.



Mesmo com o crescimento de milionários em países emergentes, Japão, Estados Unidos e Alemanha ainda são as regiões com o maior número de milionários. Nada menos que 53% do total de endinheirados do mundo ficam nesses três países. Só nos EUA existem 3,1 milhões de pessoas com fortuna de pelo menos US$ 1 milhão.



http://www.istoe.com.br/

Decisão do STF pode manter barracas de praia

A delimitação da linha de preamar será executada em todo o Ceará 
que, hoje, só tem 10% da área demarcada

Empresários das barracas da Praia do Futuro acreditam que a demarcação da linha de preamar, que define as terra de marinha, pode mudar com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de março deste ano, que modificou as regras de citação dos interessados na delimitação da área que pode ser ocupada por edificações. Para o advogado dos proprietários de barracas, Paulo Lamarão, a demarcação que vigora atualmente é ilegal porque foi feita de maneira aleatória, sem a utilização de material cartográfico.

O julgamento, pelo STF, da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4262, impetrada em 2009, determina que pessoas certas e incertas que tenham material que sirva para delimitar a linha de preamar, como mapas, plantas, cartografia, sejam citadas para contribuir com a delimitação pessoalmente e não mais por meio de edital, como era feito antes.

Paulo Lamarão afirma que apenas 1% das demarcações no Ceará é legal. "O Patrimônio da União, somente por meio de um estudo cartográfico, poderia delimitar a faixa de praia". A confusão gira em torno dos limites de terreno de marinha e de área litorânea.

Para o advogado, as barracas da Praia do Futuro não estão nem na faixa de areia e nem em terreno de marinha. "Todas as edificações estão a 120 metros da praia. A perícia, que foi feita a pedido do Ministério Público, disse que os estabelecimentos não ocupam a faixa costeira e nem terra de marinha".

As linhas que atualmente definem os terrenos da União, em todo o Brasil, foram fixadas pela preamar média (LPM) do ano de 1831. No entanto, conforme certidão visada, em 1992, pela Delegacia do Patrimônio da União no Ceará, a LPM de 1831 não foi oficialmente demarcada na Praia do Futuro, em Fortaleza. Ainda segundo a certidão, a Avenida Zezé Diogo é o limite dos terrenos de marinha. O advogado Paulo Lamarão acrescenta que a decisão do STF tem repercussão em todo o Brasil. "Vários estados já pediram ao Supremo a extensão da decisão para eles", informa.

Conforme o superintendente do Patrimônio da União do Estado do Ceará, Clécio Jean de Almeida Saraiva, a decisão da 4ª Vara Federal, de outubro de 2010, de derrubar todas as barracas sem Registro Imobiliário Patrimonial (RIP) continua em processo até que os recursos sejam julgados. Isso porque, segundo ele, todas as barracas estão em faixa de praia (área não edificante). Saraiva destaca que, por enquanto, a demarcação da linha de preamar não vai mudar porque depende da intimação das pessoas que irão contribuir com material cartográfico. "A citação vai demandar muito tempo porque teremos de notificar todos pessoalmente". A delimitação da linha de preamar será feita em todo o Ceará que, hoje, só tem 10% da área demarcada, que é a que está ocupada.

Defesa
De acordo com o procurador-chefe da União no Estado do Ceará, José de Arimatéa Neto, a preocupação é defender áreas da União que estão sofrendo com a especulação imobiliária. "O litoral cearense era habitado por colônias de pescadores que hoje foram mandadas para trás. Estamos defendendo um patrimônio nacional".

Segundo Paulo Lamarão, a pressão para a derrubada dos estabelecimentos tem um pouco de terrorismo porque eles estão, na realidade, em propriedade particular.

REMOÇÃODefinição aguarda análise dos recursosCom base na demarcação feita pelo Patrimônio da União, em 1979, que diz que as barracas estão em área de praia e da marinha, o juiz José Vidal Silva Neto (da 4ª Vara Federal) decidiu pela derrubada das 18 construções sem RIP, que são as que ficam localizadas na foz do Rio Cocó. A ação foi proposta contra 154 barracas, mas 22 tem contrato de permissão de uso da Prefeitura.

Enquanto isso, o processo está na fase de apelação no Tribunal Regional Federal (TRF) da 5ª Região, com sede em Recife. Todos os empresários, o Ministério Público Federal (MPF) e a Prefeitura de Fortaleza entraram com recursos, que estão sendo analisados. A decisão do STF sobre a citação das pessoas que podem contribuir com a demarcação da linha de preamar será anexada à apelação dos empresários. O Ministério Público Federal está fazendo um estudo sobre as barracas de praia e a Advocacia Geral da União (AGU) vai dar o parecer sobre o que deverá ser removido.

"Enquanto o Tribunal não disser que é para derrubar, as barracas não serão demolidas. Essa é uma ação que envolve 15 mil pessoas e milhares de empregos diretos e indiretos", enfatiza o advogado dos empresários da Praia do Futuro, Paulo Lamarão.

Também a decisão pela derrubada das barracas da Praia do Futuro, que estão abandonadas e em ruínas, está em análise pela AGU .

LINA MOSCOSO
REPÓRTER



http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1000926

Azenha: como Bernardo entregou a banda larga às teles





Em 26 de agosto de 2010, a Telebrás divulgou uma lista com as cem primeiras cidades que seriam incluídas no Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). A promessa era já naquele ano começar a cumprir a meta de atender a 1.163 municípios até o fim de 2011. Não deu certo. Só depois de quase 10 meses, em 8 de junho, é que a empresa foi assinar um contrato com o primeiro provedor a ingressar no PNBL, em Santo Antônio do Descoberto (GO). Com um enxugamento de recursos e um cronograma super atrasado, a Telebrás hoje não é bem aquela que se desenhou como a principal novidade do programa governamental de massificação da internet.


Nesse ritmo, é bem provável que o governo não cumpra sua meta, que é conectar 4.283 municípios de todas as regiões, elevando o número de domicílios com banda larga de 12 milhões (2009) para 40 milhões em 2014. O ex-presidente da Telebrás, Rogério Santanna, demitido em 31 de maio deste ano, já havia dito que o contingenciamento de recursos inviabilizaria o atendimento das cidades previstas para 2011. Ele trabalhava com um número de 800 municípios, mas agora, é ainda mais pessimista. Embora ainda não possa revelar um dado mais concreto, sua previsão é de uma diminuição ainda mais drástica. “ (O governo) Não vai conseguir atender as metas se não houver recomposição do orçamento”, afirmou ele, em entrevista a este Observatório.


Recompor o orçamento não parece estar nos planos do governo, e essa tem sido a justificativa usada pelo ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, para aumentar cada vez mais a participação do setor privado no PNBL. Nas contas do ministro é preciso R$ 7 bilhões para cumprir a meta do Plano, mas a presidente Dilma Rousseff só autorizou a liberação de R$ 1 bilhão por ano. É essa diferença que Paulo Bernardo está negociando com as empresas privadas.


O último movimento do Ministério das Comunicações (Minicom) é tentar preencher essa lacuna com parcerias público-privadas, criando cotas da rede para empresas. Segundo Paulo Bernardo, um banco privado já demonstrou interesse. Na lógica do ministro, o fundamental é cumprir as metas. “Não importa a cor do gato, contanto que ele cace o rato”, já manifestou ele.


Mas não era esse o plano de Rogério Santanna. Para ele, o governo erra ao fazer esse tipo de negociação neste momento. Sua opção, se fosse mantido no comando da Telebrás, seria fortalecê-la (com recursos e profissionais) e expandir sua rede primeiro. “Uma coisa é negociar tendo rede outra é sem ter nada. O montante faltante não precisaria ser negociado agora. Isso não foi discutido comigo. Ele (Paulo Bernardo) apenas chamou meu diretor (Caio Bonilha, atual presidente da Telebrás) e conversou com ele sobre isso”, relatou Santanna, claramente aborrecido. Na sua visão, daqui a uns anos a empresa começaria a ter lucros, o que mudaria o cenário. Talvez tenha sido este o motivo central de sua substituição.


Recursos



Nas contas de Rogério Santanna são necessários R$ 5,7 bilhões para o cumprimento das metas do PNBL e não R$ 7 bilhões. Mesmo assim, será preciso uma virada financeira considerável neste momento se o Ministério quiser realmente gastar os R$ 4 bilhões prometidos por Dilma (isso se a verba de 2011 for recomposta) para usar os mais de 30 mil quilômetros de fibras pertencentes a seus parceiros, como Petrobras, Eletrobrás, Furnas e Chesf. Até agora, a realidade tem sido outra, de contingenciamento.


Inicialmente, a Telebrás deveria ter recebido até 2011 R$ 1 bilhão. O aporte inicial de R$ 600 milhões se transformou em R$ 316 milhões. Este ano, a empresa esperava receber R$ 400 milhões, mas foi contemplada com apenas R$ 226 milhões. E ainda assim, com contingenciamento, chegaram aos cofres da empresa apenas R$ 50 milhões. Os contratos já acordados pela Telebrás para a implementação da rede nacional (backbone) e o acesso até a sede dos municípios contemplados pelo PNBL (backhaul) somam R$ 207,4 milhões.


Mas porque tantos cortes? “É uma boa pergunta. Talvez o Paulo Bernardo saiba”, critica Rogério Santanna. Embora compreenda que tal política foi adotada por todo o governo, Santanna defende que a Telebrás foi prejudicada. “O corte deste ano foi de 75% na Telebrás enquanto em todo o Minicom foi de 50%”, comparou.


Divergências



Oficialmente o ministro Paulo Bernardo disse que a troca na presidência da Telebrás foi para melhorar as relações institucionais com a empresa. Um modo diplomático de dizer que não havia mais entendimento entre os dois. A entrada de Caio Bonilha, que era diretor comercial da empresa, é um sinal de que o ministro não via em Santanna um bom administrador. E fazia tempo.


Em entrevista ao Valor Econômico, em 25 de abril, o ministro deu a seguinte declaração sobre um bloqueio que a empresa teve em seu orçamento: “o Tesouro não vai liberar dinheiro se não há nada projetado”. O recado era para Santanna. Da mesma forma, Paulo Bernardo atribuiu ao ex-presidente da Telebrás a demora para assinar o contrato com a Petrobras e a Eletrobras, para uso de suas fibras. “Não tinha prioridade dentro dessas empresas. Não foi um problema da Telebrás”, defende-se Santanna.


Mas alguns fatos demonstram que a demissão não aconteceu apenas por problemas administrativos. Toda vez que tem oportunidade, o ministro Paulo Bernardo reforça que o papel da Telebrás não é competir com as teles. Para Santanna, a rede pública devia privilegiar locais não atendidos, mas não se restringir a eles. “Periferia das grandes cidades não são atendidas e tem mercado”, pontou ele, frisando que o problema central a ser atacado pelo PNBL é a falta de concorrência: “Embratel/Net, Telefônica, Oi, CTBC e GVT controlam 95% do mercado de prestação de serviços de banda larga no país porque detém as redes de transporte da informação”.


PGMU



Depois da aprovação do Plano Geral de Metas de Universalização (PGMU) III, em 2 de junho pelo Conselho da Anatel, o PNBL tornou-se ainda mais central para o governo. No começo da gestão Dilma, ainda havia uma vontade de que as teles fossem obrigadas a expandir suas redes por meio do plano de universalização, mas as empresas foram contra e no fim das contas levaram – ou negociaram – a batalha. Basicamente o PGMU III cria um programa especial de telefone fixo mais barato para pessoas do Bolsa Família (Aice) e reorganiza a distribuição de orelhões no país.


Em contrapartida, o governo pediu que as operadoras fizessem ofertas para baratear e melhorar o serviço onde ele já existe. As teles têm feito propostas tacanhas. De antemão, já manifestaram a possibilidade de oferecer a banda larga no preço que o PNBL estipula (1megabite por R$ 35) apenas em locais menos populosos, de baixo Índice de Desenvolvimento Humano e ainda assim fazendo a venda casada com outros serviços. Especula-se que essa negociação foi responsável pela queda de Nelson Fujimoto da Secretaria de Telecomunicações do Minicom.


O ex-presidente da Telebrás acredita que acordo do PGMU III foi ruim. “Deviam (as empresas) ampliar o backhaul. Há uma clara aproximação do governo com as teles. O PGMU é um dos elementos”, sentencia Santanna, que também foi secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento do governo Lula.


Demissão



Rogério Santanna não esconde a insatisfação com a forma como foi conduzida sua substituição. Segundo ele, nada havia sido conversado antes – e também não foi até agora – e diz que foi informado por jornais. “Foi um procedimento deselegante no mínimo”, diz. Ele afirma também que até hoje não sabe ao certo o motivo de sua saída. “Não houve debate sobre o que era divergente. O ministério nunca se reuniu comigo presente”, reclama. Na sua versão, ele estaria contrariando o interesses de algumas operadoras. Ele vai cumprir quatro meses de quarentena e depois diz que estará aberto a propostas de trabalho. As substituições de Santanna e de Fujimoto são um indicativo de que mais mudanças de rumo no projeto do governo para massificar a internet devem estar a caminho.


Recondução de Kravchychyn ao CNJ sob questionamento da CCJ.


Denúncia de juiz adia recondução de Kravchychyn

Demóstenes Torres levanta queixas de Donizetti Nunes


Os senadores presentes à reunião desta terça-feira (21/6) da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) decidiram adiar para a próxima semana decisão sobre a recondução de Jefferson Kravchychyn para o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), informa a Agência Senado. Os parlamentares querem esclarecer denúncia apresentada contra o advogado, que foi indicado ao CNJ pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Segundo a agência, o adiamento da decisão sobre Kravchychyn visa dar aos senadores mais tempo para esclarecer denúncias enviadas por um desembargador de Minas Gerais e apresentadas pelo senador Demóstenes Torres (DEM-GO). O indicado da OAB é acusado de ter violado sigilo e divulgado seu voto à imprensa antes da conclusão de processo envolvendo o desembargador, que tramitava no conselho. Ele nega a acusação.

O noticiário do Senado não identifica o magistrado. Trata-se de questionamento feito pelo desembargador do Tribunal de Justiça de Minas Gerais Elpídio Donizetti Nunes, ex-presidente da Anamages (Associação Nacional dos Magistrados Estaduais).

O desembargador alega ter havido "vazamento de informação" de dados sobre sua vida privada pelo gabinete de Kravchychyn. O conselheiro foi relator de procedimento administrativo cujo julgamento resultou na decisão unânime de determinar ao TJ-MG a exoneração da ex-mulher do magistrado, Leila Donizetti Freitas Santos Nunes, do cargo de provimento em comissão de assessor judiciário. Segundo o CNJ, a nomeação foi citada em acordo formalizado durante a separação judicial do casal.

Donizetti Nunes também enviou requerimento ao presidente do CNJ, ministro Cezar Peluso, pedindo a abertura de procedimento contra o conselheiro.

Na reunião da CCJ, Demóstenes também questionou Kravchychyn quanto à manutenção de seu nome e foto em site de seu escritório de advocacia, do qual o conselheiro diz ter se licenciado quando assumiu no CNJ. Para o senador, ao manter seus dados no site, o indicado "dá a impressão de estar captando clientes para os filhos", que assumiram o escritório. O indicado negou qualquer participação no escritório.

O senador solicitará ao desembargador que envie à CCJ comprovação da denúncia, antes da votação da indicação, marcada para a próxima quarta-feira (29/6).

Extraido bo blog do Frederico Vasconcelos na Folha online.

Direitos da mulher como senhora de seus desejos


Do blog do Frederico Vasconcelos na Folha online.



Sob o título "Marcha das 'p…'”, o artigo a seguir é de autoria de Maria Berenice Dias, desembargadora aposentada e advogada especializada em direito homoafetivo, direito de famílias e sucessões. Primeira mulher a ingressar na magistratura gaúcha, foi também a primeira desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. (*)

Bem assim: a letra “p” e reticências.

Esta era a forma utilizada por todos os meios de comunicação para identificar as mulheres que, simplesmente, assumiam o livre exercício de sua sexualidade. Seja profissionalmente, mediante remuneração; seja pelo só fato de se vestirem de uma forma considerada inadequada, deixando exposta alguma parte do corpo que poderia revelar que se tratava de um corpo feminino.

Inclusive, houve época em que eram assim rotuladas as mulheres que saíam do casamento por vontade própria. Nem importava a causa. Separadas e desquitadas eram consideradas “p…”. Mulheres disponíveis que qualquer homem tinha o direito de “usar”.

Claro que muitas coisas mudaram. E não há como deixar de prestar tributo ao movimento feminista, que, em um primeiro momento, gerou tamanha reação, que convenceu até as mulheres que não poderiam ser ativistas, o que as identificaria como mulheres indesejadas. Talvez pelo absurdo de reivindicarem as mesmas prerrogativas dos homens.

É significativo constatar que ao feminismo não se atribuíam adjetivações ligadas à prática sexual. Ou seja, as feministas eram mulheres feias, mal-amadas, lésbicas, mas não eram chamadas de “p…”. Eram mulheres que homem nenhum quis. Por isso saíam às ruas em busca de igualdade. De qualquer modo, um movimento tão significativo, que mudou a feição do mundo, a ponto de se dizer que o século 20 foi o século das mulheres.

Apesar dos avanços em termos de igualdade de oportunidades no mundo público, na esfera privada ainda é longo o caminho a percorrer. Basta atentar à violência doméstica, cujos assustadores números só recentemente vêm sendo revelados, graças à Lei Maria da Penha.

Mas há outra violência que somente agora está levantando o véu da impunidade: a violência sexual. Como a virilidade é reconhecida como o maior atributo do homem, o livre exercício da sexualidade sempre foi um direito ao qual as mulheres precisam se submeter. Inclusive ainda se fala em débito conjugal e tem gente que acredita que o casamento se “consuma” na noite de núpcias e busca anulá-lo sob o absurdo fundamento de que o casamento não ocorreu.

O controle da natalidade é outro exemplo da absoluta irresponsabilidade masculina. Até hoje se atribui à mulher o encargo de prevenir a gravidez. É sua a culpa pela gestação indesejada. É ela que precisa fazer uso dos meios contraceptivos, em face da enorme resistência dos homens ao uso de preservativos.

Ou seja, as mulheres sempre tiveram que se submeter ao “instinto sexual” masculino. Algo que parece dominar a vontade do homem, que se torna um ser irracional, que não pode ser responsabilizado pelos seus atos. As mulheres são culpadas por excitarem os homens, que viram bestas humanas e não merecem responder por seus atos. Por isso, nos delitos sexuais, o comportamento da vítima é invocado como excludente da criminalidade.

Até que enfim, as mulheres estão se dando conta de que submissão e castidade não lhes servem mais de qualificativos. Não são atributos que lhes agregam valor. Têm o direito de agir, se vestir e se expor do jeito que desejarem. Não podem ser chamadas de putas, vadias, vagabundas, adjetivos que só servem para inocentar os homens que as estupram.

Vislumbra-se um novo momento, em que as mulheres passam a ter orgulho de sua condição de seres sexuados. A Marcha das Vagabundas, que está acontecendo no mundo todo, é uma bela prova. Reação à afirmativa de um policial, em uma universidade de Toronto, Canadá: as mulheres devem evitar se vestirem como “slut” para não se tornarem vítimas. A expressão pode ser traduzida por vadia, vagabunda ou puta.

Depois que nos tornarmos sujeitas de nossos direitos, é chegada a hora de assumirmos a condição de senhoras de n
ossos desejos.

(*) Texto publicado originalmente no jornal "Zero Hora" e reproduzido no site "Judiciário e Sociedade", mantido por magistrados gaúchos.

Cabral deve explicação sobre seus passeios em jatinho de Eike


Em meio a tragédia, Cabral terá que dar explicações

Fábio Pozzebom/ABr
O país acompanhou no final de semana uma tragédia que ceifou a vida de sete pessoas próximas ao governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB).

O grupo viajara do Rio para Porto Seguro (BA), num jatinho que tinha Cabral como passageiro. 

Dali, governador e acompanhantes iriam a um resort em Trancoso.
A primeira leva de passageiros embarcou num helicóptero que caiu antes de alcançar o destino. Entre as vítimas, Mariana Noleto,namorada do filho de Cabral.
Licenciado do cargo até domingo (26), ainda em meio à atmosfera fúnebre, Cabral enfrenta agora um subproduto político do acidente.

Descobriu-se que o governador e suas companhias voaram para o Sul da Bahia nas asas de um jatinho Legacy de Eike Batista, dono do grupo EBX.

O passeio destinava-se a festejar o aniversário de outro empresário, Fernando Cavendish. Dono da empresa Delta, ele estava a bordo do avião de Eike.

Um grupo de cinco deputados estaduais, informa a Folha, enxergou na proximidade de Cabral com os empresários indícios de um caso de conflito de interesses.

Entre 2009 e 2010, a EBX de Eike obteve do governo do Rio benefícios fiscais estimados em R$ 75 milhões.

Entre 2006 e 2011, a Delta de Cavendish celebrou com a administração Cabral 27 contratos. Juntos, somam quase R$ 1 bilhão.

A conta não inclui as obras das quais a Delta participa como consorciada. A reforma do Maracanã, por exemplo, orçada também em R$ 1 bilhão.

Os deputados, que fazem oposição a Cabral, decidiram encaminhar ao governo um requerimento de informações.

Os termos da peça serão definidos em reunião marcada para esta quarta (22). Assinarão o texto:
Marcelo Freixo (PSOL), Janira Rocha (PSOL), Flávio Bolsonaro (PP), Clarissa Garotinho (PR) e Luiz Paulo Corrêa (PSDB).

Procurado, o governo fluminense saiu-se com uma explicação inconsistente. Disse que pedido de empréstimo da aeronave de Eike é democrático (!?!?!).

A alegação, além de vaga, não orna com o estatuto dos servidores do Rio. O documento proíbe funcionários e autoridades de:

"Exigir, solicitar ou receber vantagens de qualquer espécie em razão do cargo ou função, ou aceitar promessas de tais vantagens".

Ouvida, a Delta informou que todos os contratos que celebrou com o Estado respeitaram as leis.
Eike disse que empresta seu jatinho a quem bem entender.

Afora o favor aéreo, o magnata borrifou R$ 750 mil nas arcas eleitorais de Cabral, em 2010.
Em nota, Eike anotou: "Tive satisfação em ter colocado meu avião à disposição do governador Sérgio Cabral […]…”

"Sou livre para selecionar minhas amizades, contribuir para campanhas políticas, trazer a Olimpíada para o Rio…”

“…Apoiar a implantação das UPPs [Unidades de Polícia Pacificadora], patrocinar o RJX [time de vôlei masculino]…”

“…E auxiliar a realização de diversos projetos sociais e culturais do Estado".  Eike acrescentou: "Faço tudo com dinheiro do meu bolso e me orgulho disso."

De fato, o empresário pode gastar seu dinheiro como quiser. O diabo é que, quando cedido a gestor público, um jatinho privado não costuma viajar a passeio.

Em meio a tragédia, Cabral terá que dar explicações

Fábio Pozzebom/ABr
O país acompanhou no final de semana uma tragédia que ceifou a vida de sete pessoas próximas ao governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB).

O grupo viajara do Rio para Porto Seguro (BA), num jatinho que tinha Cabral como passageiro. 

Dali, governador e acompanhantes iriam a um resort em Trancoso.
A primeira leva de passageiros embarcou num helicóptero que caiu antes de alcançar o destino. Entre as vítimas, Mariana Noleto,namorada do filho de Cabral.
Licenciado do cargo até domingo (26), ainda em meio à atmosfera fúnebre, Cabral enfrenta agora um subproduto político do acidente.

Descobriu-se que o governador e suas companhias voaram para o Sul da Bahia nas asas de um jatinho Legacy de Eike Batista, dono do grupo EBX.

O passeio destinava-se a festejar o aniversário de outro empresário, Fernando Cavendish. Dono da empresa Delta, ele estava a bordo do avião de Eike.

Um grupo de cinco deputados estaduais, informa a Folha, enxergou na proximidade de Cabral com os empresários indícios de um caso de conflito de interesses.

Entre 2009 e 2010, a EBX de Eike obteve do governo do Rio benefícios fiscais estimados em R$ 75 milhões.

Entre 2006 e 2011, a Delta de Cavendish celebrou com a administração Cabral 27 contratos. Juntos, somam quase R$ 1 bilhão.

A conta não inclui as obras das quais a Delta participa como consorciada. A reforma do Maracanã, por exemplo, orçada também em R$ 1 bilhão.

Os deputados, que fazem oposição a Cabral, decidiram encaminhar ao governo um requerimento de informações.

Os termos da peça serão definidos em reunião marcada para esta quarta (22). Assinarão o texto:
Marcelo Freixo (PSOL), Janira Rocha (PSOL), Flávio Bolsonaro (PP), Clarissa Garotinho (PR) e Luiz Paulo Corrêa (PSDB).

Procurado, o governo fluminense saiu-se com uma explicação inconsistente. Disse que pedido de empréstimo da aeronave de Eike é democrático (!?!?!).

A alegação, além de vaga, não orna com o estatuto dos servidores do Rio. O documento proíbe funcionários e autoridades de:

"Exigir, solicitar ou receber vantagens de qualquer espécie em razão do cargo ou função, ou aceitar promessas de tais vantagens".

Ouvida, a Delta informou que todos os contratos que celebrou com o Estado respeitaram as leis.
Eike disse que empresta seu jatinho a quem bem entender.

Afora o favor aéreo, o magnata borrifou R$ 750 mil nas arcas eleitorais de Cabral, em 2010.
Em nota, Eike anotou: "Tive satisfação em ter colocado meu avião à disposição do governador Sérgio Cabral […]…”

"Sou livre para selecionar minhas amizades, contribuir para campanhas políticas, trazer a Olimpíada para o Rio…”

“…Apoiar a implantação das UPPs [Unidades de Polícia Pacificadora], patrocinar o RJX [time de vôlei masculino]…”

“…E auxiliar a realização de diversos projetos sociais e culturais do Estado".  Eike acrescentou: "Faço tudo com dinheiro do meu bolso e me orgulho disso."

De fato, o empresário pode gastar seu dinheiro como quiser. O diabo é que, quando cedido a gestor público, um jatinho privado não costuma viajar a passeio.

Globo muda telejornal para tentar salvar ibope e atrair classe C



RICARDO FELTRIN
DE SÃO PAULO



A reviravolta das cadeiras que a Central Globo de Jornalismo promoveu em seus telejornais matinais e vespertinos, anunciada ontem pela Folha, tem dois motivos: estancar a perda de participação dos programas em número de TVs ligadas (share) e, mais ainda, popularizar esses produtos de forma a atrair a agora cobiçada classe C.

Para tanto, a emissora agora colocou na bancada Chico Pinheiro, cujo perfil é considerado mais popular, para suceder Renato Machado. Também incluiu nas edições um comentarista policial (Rodrigo Pimentel), e vem priorizando pautas e notícias que atendam também ao interesse da população de baixa renda. O "Bom Dia Brasil" que Machado ancorou nos últimos 15 anos foi considerado elitista demais para o público C. Machado agora será correspondente da Globo em Londres.

Levantamento de audiência desde 2003 mostra que esse telejornal estagnou em ibope, mas perdeu mais de uma em cada cinco TVs ligadas nesse mesmo período. Ou seja, um em cada cinco domicílios pararam de assistir ao jornal matinal da Globo, que é exibido em rede nacional. A mobilização da Globo se deve ao fato de que, a despeito do share cair, o número de TVs ligadas aumentou mais de 50% entre 2003 e 2011 --de 16% para 24%.
A melhoria e avanço da economia nacional e das classes mais desfavorecidas fez com que mais pessoas comprassem TVs nos últimos anos; mais pessoas passaram a assistir jornais matinais na TV, mas, mesmo assim, esse novo público não está sintonizando a Globo.

"Share" é a porcentagem de TVs assistindo a um programa dentro do universo de TV's ligadas. Em 2003, mais da metade das TVs ligadas pela manhã na Grande São Paulo (52,3%) assistiam todos os dias ao "Bom Dia Brasil". Este ano, até o último dia 17, esse índice caiu para 37,2%.

O início da crise no "BDB" da Globo ocorre justamente após 2003, quando a Record estreia o "Fala Brasil" em versão jornalística. Até então o programa era uma espécie de revista eletrônica de amenidades.

Desde que virou telejornal, o "Fala Brasil da Record cresceu mais de 450% no ibope: de 1,1 ponto para 6,1 pontos. O share também cresceu de forma notável, de 6,5% oito anos atrás para 25,3%, crescimento de 289%

Outras emissoras também foram abaladas pela concorrência da Record, especialmente o SBT, que perdeu um quarto do ibope e quase metade do share desde 2003.


Governo concede visto de permanência a Cesare Battisti




DANIEL RONCAGLIA
DE SÃO PAULO

Por 14 votos a favor, dois contra e uma abstenção, o CNIg (Conselho Nacional de Imigração) concedeu nesta quarta-feira o visto de permanência para terrorista italiano Cesare Battisti.


O conselho, que faz parte do Ministério do Trabalho, é formado por nove representantes dos ministérios, cinco de sindicatos dos trabalhadores e cinco de entidades patronais. O órgão ainda é composto por oito observadores de entidades como OIT (Organização Internacional do Trabalho) e a Organização Internacional para as Migrações.

Três conselheiros não estavam presentes na reunião de hoje.
Segundo o conselho, o resultado da votação será encaminhado para o Ministério da Justiça, que vai executar a concessão da permanência.

O pedido de Battisti ao CNIg foi feito no dia 9 de junho, um dia depois de o STF (Supremo Tribunal Federal) decidir soltar o italiano. Desde então, o único documento nas mãos de Battisti era o alvará de soltura.

Em fevereiro deste ano, a 2ª Turma Especializada do TRF (Tribunal Regional Federal) da 2ª Região (RJ e ES) manteve a condenação de Battisti por uso de passaporte falso. O documento foi encontrado com ele durante sua prisão em 2007.
No dia 8 de junho, o plenário do Supremo validou a decisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de negar a extradição do italiano.

Por 6 votos a 3, o tribunal determinou expedição de alvará de soltura e Battisti pode deixar o presídio da Papuda, em Brasília, onde ficou preso por quatro anos.
O governo italiano afirmou que vai levar o caso ao Tribunal Internacional de Justiça, em Haia, na Holanda.

Na semana passada, o ministro das relações exteriores da Itália, Franco Frattini, disse que até 25 de junho será apresentada a demanda ao comitê de conciliação com o Brasil.
Battisti foi condenado à prisão perpétua na Itália por quatro assassinatos cometidos na década de 1970, quando militava no grupo de extrema-esquerda PAC (Proletários Armados pelo Comunismo). Ele nega as acusações e afirma sofrer perseguição política.





O Hezbollah e a revolução árabe



Anunciado por milhões de seguidores como “o mentor da resistência” - e demonizado por EUA e Israel como um “terrorista”, a retórica Sayyed Hassan Nasrallah em direção à Síria é igualmente divisionista. [GALLO / GETTY]



Traduzido e comentado pelo pessoal da Vila Vudu





O que está acontecendo com o Hezbollah[1]
O movimento cresceu da ignomínia e da exclusão, da exploração feudal, do viés sectário e ocupa hoje o centro da política libanesa. Em menos de 30 anos, converteu a absoluta insignificância sociopolítica dos xiitas, em contrapeso político decisivo.

Enfrentou o Golias israelense. Sobreviveu aos “incêndios” lançados por políticos árabes que se uniram contra ele, de Amã ao Cairo. Superou os inimigos dentro e fora do Líbano, com política imaginativa e afinada análise política, contra todas as expectativas.

Agora, enquanto resiste ao Golias de Telavive, mas abraça o leão de Damasco, o Hezbollah – Partido de Deus – expõe-se ao risco de ver encolher o compromisso com a revolução árabe e com o próprio passado revolucionário.

Sayyed Hassan Nasrallah: nascido da revolta

Muitos líderes políticos nascem dentro de partidos já existentes. Com Sayyed Hassan aconteceu o contrário: nasceu quatro anos antes de o Hezbollah ser fundado

Mas sempre esteve próximo da revolta dos palestinos e dos iranianos. Sua liderança foi concebida no seio da revolução iraniana.

Aos 21 anos, Nasrallah foi saudado como estrela em nascente pelo falecido Aiatolá Khomeini em Jamaran Husseiniyyah, Norte de Teerã, em 1981. O jovem Nasrallah estava acompanhado de companheiros-em-armas do Amal, outra organização política xiita, e a discussão centrou-se em meios para apoiar a causa palestina e derrotar as potências suprematistas ocidentais. 

Impressionado com o jovem Nasrallah, Khomeini selou a liderança de Sayyid Hassan, ao consagrá-lo e dar-lhe autoridade para coletar e distribuir as taxas religiosas conhecidas como hisbiyyah – inclusive o khums (um quinto de todos os ganhos ou lucros) e o zakat (espécie de imposto islâmico obrigatório, de traços redistributivos).

Khomeini sempre foi muito seletivo, além de frugal, na distribuição das funções do hisbiyyah, funções que não foram do primeiro-secretário geral Subhi al-Tufaily até 1987 e nem de seu sucessor, Sayyid Abbas Musawi, mentor do jovem Nasrallah, em 1986.

Além disso, o papel de Nasrallah foi definido também pelo gesto de Khomeini, que se dirigiu ao jovem chamando-o de "Hojjat al-Islam", título de reconhecimento de superior formação intelectual.

Musawi, que foi professor de Nasrallah no seminário de estudos islâmicos de Najaf, e depois seu mentor no posto de secretário-geral de Hezbollah até ser assassinado em 1992, também via o potencial do jovem Nasrallah como liderança política. Os dois homens foram ligados por profunda camaradagem pessoal, política e intelectual. Ligaram-se e depois desligaram-se do grupo Amal, depois o combateram, e dessas lutas criaram, com outros, uma pequena falange de combatentes zelosos e eficientes que, adiante, se converteria em formidável organização política e militar – o Hezbollah.

“O Che Guevara do Líbano” 

“Deus seja louvado. Deus escolheu um mártir de minha família, ofereceu-nos o dom do martírio e assim nos incluiu na comunidade de famílias dos Santos Mártires”. Com essa fala, Sayyed Hassan enterrou seu filho mais velho, Hadj, morto em combate contra Israel, em setembro de 1997.

No mesmo discurso, Nasrallah agradeceu a Deus a graça de, pelo martírio de Hadj, tê-lo posto, com toda a família, em condições de igualdade com todas as famílias que perderam filhos na luta contra Israel.

A história de Nasrallah merece ser conhecida em detalhes, por dois motivos. Em primeiro lugar, porque Sayyed Nasrallah, no comando político do Hezbollah, rapidamente estabeleceu contato direto e profundo com o eleitorado árabe, porque sempre agiu, pensou e falou como árabe, igual aos mais pobres: conheceu a pobreza, combateu em armas e consistentemente comprometeu-se, também pessoalmente, com os ideais que sempre pregou como pregador muçulmano.

Em segundo lugar, mas não menos importante, e especificamente no que tenha a ver com o triste grupo de líderes árabes que, um a um, estão sendo varridos pela grande revolta árabe de 2011, Nasrallah é caso único: nenhum dos privilégios que os demais líderes árabes fizeram chover sobre as próprias famílias, filhos e filhas – da Líbia à Síria – jamais foram aceitos pelo Hezbollah.

Hadi Nasrallah é mártir da luta contra Israel. Não foi jamais um Saif Gaddafi nem um Gamal Mubarak; e um primo de Nasrallah, Hashim Safi Al-Din, que desde novembro de 2010 comanda a região do sul do Líbano não é algum Rami Makhlouf, conhecido e corrupto bilionário sírio.

“A voz e oráculo dos oprimidos” 

Para mim, dois leitmotifs explicam o Hezbollah: a luta contra a miséria e as carências sociais; e a resistência. Ambos aparecem sempre associados. E ambos ajudaram intelectuais e pensadores políticos como Raghd Harb, e antes dele Musa Al-Sadr, a construir o empoderamento político dos xiitas, traçando uma impressionante trajetória política, pela resistência contra a miséria e as carências dos mais pobres. E a luta de resistência contra a ocupação israelense.

No primeiro manifesto político do Hezbollah, de 1985, “A Carta Aberta” ["al-Risalah al-Maftuhah"], ainda ressoa a retórica de Che- Khomeini: contra o imperialismo, na defesa “dos oprimidos”, “dos mais pobres”, com “justiça”, “autodeterminação” e “liberdade”.

O mar de gente que vi em agosto de 2006, que acorreu para saudar e ouvir Nasrallah depois da guerra de 34 dias contra Israel, foi atraído por essas mensagens. E como naquele dia, acontece ainda hoje. E milhões de árabes o ouvem com reverência, de Rabat a Sana'a.

A oratória de Nasrallah na “Promessa Divina” [al-Wa'd al-Sadiq] quando falou a centenas de milhares de pessoas, foi empolgante – como sempre, o oráculo dos excluídos e humilhados, um gigante, contra a injustiça e a ocupação. No mantra de Nasrallah – a resistência como instrumento para mudar, muqawamah, os pobres encontram consolo e força, uma espécie de redenção, e esperança e força para se reconstruírem como iguais, como seres humanos livres.

Por isso, em 2006, como em 2000, quando Israel foi obrigada a retirar-se do sul do Líbano ocupado, Nasrallah foi envolvido numa onda gigantesca de popularidade pan-árabe e pan-islâmica que o mundo árabe não via desde a morte de Nasser, em setembro de 1970. Um líder de uma seita islâmica minoritária xiita substituiu o sunita Nasser, como encarnação da resistência e da luta por liberdade e igualdade.

Inspirado pelo Imã Khomeini, Nasrallah modernizou o Hezbollah e articulou um projeto político de empoderamento das massas pobres, transformando a Ashurae todo o imaginário da Karabala em potente conjunto de ideias para reinventar, não só a identidade política, mas também a identidade xiita no Líbano.

O Hezbollah e a revolução síria 

Vinda do homem que para milhões de muçulmanos é “o braço e a alma da resistência”  – e o “Che Guevara muçulmano”  – demonizado pelo Congresso dos EUA e por Israel como “terrorista”, a retórica de Nasrallah sobre o regime sírio surpreende por pelo menos dois motivos.

Primeiro, porque a resistência não é divisível. Resistir é resistir, seja a um opressor colonial seja a um ditador local que, no caso da Síria, ocupa estado. Tampouco a liberdade é divisível. Resistir é lutar por liberdade, na Palestina e no Líbano ocupados, ou na Síria ou Iêmen ocupados por ditadores.

Nasrallah foi dos primeiros que manifestou apoio às revoluções no Egito e Tunísia e, mais tarde, aos xiitas que foram às ruas protestar contra a marginalização no Bahrain. Mas não apoiar o levante na Síria – porque o regime apóia amuqawamah e opõe-se ao imperialismo norte-americano e a Israel – é falar com duas línguas.

Na Síria, são as massas que sempre apoiaram a resistência do Hezbollah. A dinastia Assad pouco tem a ver com isso. Além do mais, por razões ou interesses específicos, os Assads apóiam a resistência em Gaza e no sul do Líbano – mas não nas colinas do Golan. Um dia os Assads desaparecerão para sempre. Os sírios lá estarão, sempre. 

Síria: a disputa entre Maher e Bashar

Em segundo lugar, Nasrallah não precisa do apoio do regime sírio – embora, no discurso de maio, Nasrallan tenha manifestado tanto apreço ao povo sírio quanto preocupação com a estabilidade.

Em 2006, em momento de muita sabedoria, Sayyed Hassan disse aos líderes da Jordânia e do Egito, que segurassem a língua e não criticassem o Hezbollah em momento tão crítico – quando no sul do Líbano e em al-Dahiya o Hezbollah enfrentava a chuva de bombas israelenses. O silêncio teria sido mais eloquente também agora, em vez de falar a favor de um regime que, hoje, é culpado de ataque brutais contra cidades e populações sírias.

Os sírios, nas ruas, estão dizendo eloquentemente que desejam uma Síria do povo, para o povo e pelo povo. Não uma dinastia. Há dúvidas sobre se o atual regime ainda conta com o apoio da maioria – Nasrallah parece ter informações que indicam que não, ou não teria falado a favor do governo sírio.

As revoluções árabes tem sido como referendos, em países onde não há eleições e, quando há, têm resultado antecipadamente resolvido.

Tampouco se sabe se Bashar al-Assad ainda está no comando – ou se já é presidente pato-manco, sem poder, completamente controlado por seu irmão mais jovem, Maher, e os asseclas de seu cunhado Asef Shawkat. Se assim for, Bashar já não pode ajudar a muqawamah do Hezbollah no Líbano, como já não pode defender nem os próprios sírios.

É possível que Bashar represente a face melhor da política síria – como pareciam indicar os planos de reformas. Mas o que garante que seja assim, se as reformas jamais acontecerem? Além do mais, hoje que fala grosso na Síria são os tanques de Maher.

Bashar ainda estará no comando? Se estiver, ainda pode conter os massacres comandados por seu irmão Maher.

Hirman – marginalização e miséria 

Os pobres e humilhados do Líbano, inclusive a população xiita, sabem bem o que significam o hirman – marginalização e miséria. Por isso, foram os primeiros a associar-se à revolução árabe.

A linguagem da resistência contra a marginalização e a miséria são laço inquebrável que une os miseráveis das ruas de al-Dahiya al-Janubiyyah e Sidi Bouzid, Dar'aa, Taiz ou Imbaba. Sayyed Hassan Nasrallah sempre manteve o ouvido colado ao chão, atento ao eco dos passos dos mais pobres, dos despossuídos, dos humilhados. Essa sensibilidade é a fonte de onde brota o poderoso arsenal moral do Hezbollah, que não depende de seus mísseis e grandes vitórias militares.

Temos de esperar que Nasrallah reencontre aquela sensibilidade e aquela linguagem, e que corrija o que disse, em apoio a Bashar Al-Assad. Que aconselhe aos sírios reformas radicais, governo eleito, como se lê na “Carta Aberta”, o manifesto do Hezbollah de 1985. Só assim voltará a conectar-se ao ethos da resistência pacífica, como direito dos pobres e humilhados. Em política, nunca é tarde para redescobrir essa via.