segunda-feira, 27 de junho de 2011

EUA: assembleia de Brasília é “refúgio de canalhas”

Cinco anos antes do mensalão do DEM, telegrama fazia um perfil de diversos parlamentares brasilienses envolvidos em escândalos


Por Marcus V F Lacerda, especial para a Pública



Um telegrama de agosto de 2004 descreve a cassação do mandato do deputado distrital Carlos Xavier (PMDB), o primeiro a perder o mandato na história da Câmara Legislativa do Distrito Federal.


Escrito por John Danilovich, embaixador americano no Brasil até 2005, o telegrama, intutulado “um malandro a menos na galeria” é irônco e pessimista. O diplomata considera a sentença um feito, “dada a notoriedade da Assembleia em ser um refúgio de canalhas”.


Deputado distrital por três mandatos, Carlos Xavier já havia sido acusado de subornar duas adolescentes a não depor contra o seu irmão em um caso de estupro em 1998. Em 2001, foi investigado pelo envolvimento em um esquema de grilagem de terras públicas que chegaram a valorizarem-se 50 vezes.

No entanto, o que culminou em sua cassação foi o assassinato de um menor. Segundo o telegrama, o jovem trabalhou na campanha de Xavier de 2002 e havia mantido um caso sexual com a esposa do político.


Para Danilovich, era difícil saber se a medida era um primeiro impulso contra a impunidade ou se “meramente serviu para desenhar uma linha: que assassinos, pelo menos, não serão tolerados na Assembleia Distrital”.


Além dos casos de corrupção, Danilovich observa a baixa qualidade do trabalho da Assembleia. “Só nos primeiros três meses de 2004, o governador Roriz vetou 40 das matérias da assembleia por serem claramente inconstitucionais”, relata o embaixador.


Segundo ele, a casa passou meses discutindo a substituição do peixe Pirá-Brasília como animal símbolo do DF devido à descoberta da pratica de hermafroditismo na espécie. “Eu não tenho intenção de ficar aqui. Este lugar é uma não-instituição”, teria dito Érika Kokay, atualmente deputada federal do PT então no seu primeiro mandato de dois na Assembleia Distrital.

WIKILEAKS: As conversas da embaixada com a ministra Dilma


Documentos detalham encontros de Rousseff com diplomatas quando era ministra Minas e Energia para discutir o marco regulatório da energia elétrica


Por Anselmo Massad, especial para a Pública



O governo americano esteve profundamente interessado no debate sobre o marco regulatório do setor elétrico, discutido em 2003 e implantado no ano seguinte, logo no início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.


Antes de as medidas provisórias 144 e 145/03 serem assinadas, diplomatas e representantes dos EUA receberam na embaixada a então ministra de Minas e Energia, atual presidente da República, Dilma Rousseff, como revelam documentos do WikiLeaks obtidos pela Pública.


Os telegramas apresentam Dilma como uma figura “determinada”, “confiante” e “orgulhosa da transparência” empregada na discussão do novo modelo proposto pelo Executivo federal. São descritos dois encontros pessoais e um telefonema. Houve ainda, segundo os documentos, um almoço privado entre a ministra e o embaixador, mas o que foi tratado não é detalhado.


Os documentos revelam também que a embaixada atuou diretamente em nome das multinacionais americanas NGR e Duke Energy – essa reclamava estar sendo “preterida” pela divisão entre geração de energia “nova” – relativa a contratos assinados após a entrada em vigor das mudanças legislativas no setor – e energia “velha”.


Ceticismo


No dia 4 de setembro de 2003, uma mensagem assinada pela então embaixadora Donna Hrinak descreve audiência com seis representantes da estrutura diplomática norte-americana com Dilma e o “vice-ministro” Mauricio Tolmasquim para duas horas e meia de apresentação sobre o modelo que o Palácio do Planalto queria implantar. O atual presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) era, à época, secretário-executivo do ministério.


Dilma falou sobre o cenário em vigor e a perspectiva com as mudanças previstas. A então ministra descreveu o modelo energético que ainda vigorava, implantado na década de 1990, como falho por não ter reduzido preços, e por não ter estimulado a expansão, nem trazido segurança para investidores.


Segundo ela, o modelo havia contribuído para a crise financeira do Brasil de 1998 em diante.
O novo modelo pretendia retomar o “conceito de serviço público” como princípio básico do gerenciamento do setor, explicou Dilma.

Os contratos seriam respeitados e almejava-se criar um cenário transparente e mais definido para atrair investimentos.
Porém, a meta de ter o novo regime em funcionamento em janeiro de 2004 é taxado como “irrealista” pela embaixadora, devido aos entraves do Legislativo brasileiro. De fato, a medida provisória editada no fim de 2003 foi aprovada definitivamente pelo Congresso Nacional em maio de 2004.


“O tão aguardado modelo energético já escorregou para algo bem mais modesto em relação ao ambicioso prazo para sua introdução”, comenta a embaixadora. “Dito isso, a maior parte da indústria e o governo tenderiam a concordar que é mais importante fazer bem feita a mudança do que rapidamente.

E o lado positivo é que parece que os atores do setor privado estão sendo consultados e tendo a chance de opinar no refinamento do modelo”, descreve Hrinak.


Queixas da Aneel e do setor privado


As principais mudanças previstas envolviam centrar a definição de políticas no Ministério e tirar poder de regulação da Agência Nacional de Elergia Elétrica (Aneel). A agência era vista pelo governo como excessivamente ligada e favorável ao mercado.


Em outro telegrama, Cristiano Amaral, então superintendente de Fiscalização dos Serviços de Geração da Aneel, critica o modelo defendido pelo governo.


Nomeado em 1998, ainda durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, Amaral permaneceu no posto até 2005. Atualmente é vice-presidente da Associação Brasileiro dos Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape).


Na conversa com a agência norte-americana para investimentos internacionais de empresas privadas (Opic, na sigla em inglês) e com uma delegação de multinacionais, Amaral sugere que havia pouca certeza sobre o grau de confiabilidade do novo modelo. Isso porque 80% da geração permanecia submetida à estatal Eletrobras. “Até o presente momento, é difícil dizer se é seguro investir”, recomendou o superintendente. “Mesmo a construção sob algumas das concessões existentes de hidroelétricas pararam”, descreveu.


“O tom da crítica de Amaral ao modelo energético por ter sido ocasionado por tensões decorrentes dos esforços do governo brasileiro para reformar as agências reguladoras”, pondera Donna Hrinak. “A substância das críticas, no entanto, atingem o alvo (…). Baseado no que se viu até o momento, o novo modelo energético parece incapaz de atrair novos investimentos significativos em um setor tão crucial.”


Nos documentos há ainda relatos de conversas com diversos representantes da indústria de energia. Mauro Jardim Arce, secretário de Energia de São Paulo, foi o único a defender a necessidade de barrar o plano do governo a qualquer custo e o presidente da Câmara Brasileira de Investidores em Energia Elétrica, Cláudio Sales, mostrou-se preocupado.

Além de criticar os “acadêmicos” que “enviezaram” o modelo politicamente, ele fala em “loucura” do novo modelo, por desconsiderar o momento vivido à época. Ele ainda sustenta que suas queixas teriam apoio de Antonio Palocci, então ministro da Fazenda – que estaria, segundo ele, articulando revisão do modelo tarifário.

Lobby

Em um telegrama de novembro de 2004, assinado por Phillip Chicola, então ministro-conselheiro da diplomacia dos EUA no país, revelam-se detalhes de um telefonema de cortesia a Dilma, quando o novo modelo já estava em operação.


Chicola foi direto ao cobrar uma dívida da Petrobras com a norte-americana NGR pela compra da Termorio em 2003. A aquisição demorou mais de um ano para ser quitada, e envolveu ação judicial até o pagamento de US$ 80 bi em 2004. Além disso, Chicola repassou críticas ouvidas de filiais de empresas norte-americanas do setor elétrico.


A Duke Energy, que opera oito usinas no rio Paranapanema (divisa entre Paraná e São Paulo), havia se queixado da divisão do mercado de energia em “velha” e “nova”, com regras diferentes e vantagens para estas últimas.


“Rousseff acredita firmemente que o Estado deve atuar em um papel central para organizar os mercados”, diz Chicola. “A respeito ao novo modelo, Rousseff e o ministério repetidamente respondem às críticas tanto da indústria como da Aneel com a mesma resposta pronta que deu ao embaixador”.

Ministro de Minas e Energias é apontado em telegrama como a favor da privatização do setor elétrico


Telegramas da embaixada norte-americana em Brasília, em 2008, apontam o ministro Edison Lobão como um “amigo do setor privado” e criticam exigências ambientais para aprovação de hidrelétricas no país.


Por Débora Prado e Paula Sambo, especial para a Pública



O ministro de Minas e Energia brasileiro, Edison Lobão, foi classificado pela embaixada norte-americana em Brasília como um amigo do setor privado e favorável às privatizações no setor elétrico.
Um telegrama obtido pelo Wikileaks, do dia 5 de maio de 2008, afirma que Lobão, recém-empossado naquele momento, se mostrou “um amigo da indústria e a favor da privatização do setor elétrico”.

Além disso, o documento assinala que, em seminário realizado no Rio de Janeiro naquele mesmo ano, o ministro teria enfatizado que o “MME [Ministério de Minas e Energia] deve ser obsessivo no que diz respeito a honrar os contratos para evitar ceticismo nos investidores”.
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O telegrama indica ainda que, em ligação “de cortesia” para o embaixador norte-americano, “Lobão se mostrou positivamente inclinado para formalizar negócios com os EUA”.

A embaixada descreve Lobão como “um ex-jornalista e político sem experi
ência na área de energia, em particular, que se comprometeu a se cercar de especialistas no assunto”. O documento continua: “A maioria dos especialistas do setor nos dizem que o cargo requer mais habilidades políticas do que experiência no assunto e estão, portanto, confortáveis com a nomeação”.

A capacidade elétrica é apontada pelos norte-americanos como um ponto fundamental para o crescimento econômico brasileiro. Eles assinalam que o Brasil ainda podia enfrentar novos “apagões”.

“Como o Brasil pretende manter e até melhorar na esteira do recente crescimento do PIB de 5,4%, o sistema elétrico vai representar um desafio constante e talvez mesmo a limitação”.

Apagões e flexibilização ambiental

Outro telegrama, datado de 16 de maio de 2008, destaca que “conforme o Brasil parece continuar em sua trajetória de forte crescimento econômico, capitalizando a recente decisão da [agência norte-americana de classificação de rating] Standard and Poor’s de elevar o país para grau de investimento, este crescimento pode ser reprimido por limites no setor elétrico”.

O documento explica que “nesse meio tempo, o governo se encontra obrigado a equacionar precariamente os recursos limitados no setor elétrico para evitar possíveis apagões e racionamento, por um lado, ou picos de custos elétricos, por outro”.

Segundo os documentos, um elemento crítico para o crescimento futuro será a capacidade do Brasil de fornecer um suprimento confiável de energia elétrica. “O País é altamente dependente da energia hidroelétrica, sem muita diversificação, o que gera dificuldades em anos com chuvas leves”.

A embaixada critica duramente as exigências para os licenciamentos ambientais. O argumento central é que as complicações para a obtenção das licenças acaba tendo efeito contrário e, ao invés de ajudar na preservação social e ambiental, estimulam o uso de fontes não limpas de energia, como a termelétrica.

Assim, a embaixada recomenda a flexibilização nos licenciamentos de hidrelétricas – cujas obras, atualmente, geram polêmicas ambientais e sociais, como é o caso da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. “O Banco Mundial concluiu recentemente um estudo que aborda esta e outras complicações no licenciamento de energia no Brasil, fazendo recomendações na tentativa de aliviar os desafios de licenciamento para empresas de energia elétrica que visam operar no Brasil”.


Uma turba de descontentes

Em diversos telegramas fica claro o descontentamento de representantes do setor de energia com a postura do governo Lula, buscando a embaixada para reclamar da pressão por preços baixos.

“A associação dos fornecedores independentes de energia, Abraceel [Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia], acredita que o papel do governo no processo de concessões tem levado a uma distorção do sistema.

O presidente da Abraceel, Paulo Pedrosa, disse ao assessor econômico que as preocupações deste ano acerca de uma eventual crise energética não se deveram a limitações de geração, mas a uma escassez de oferta causada pela intervenção artificial do governo no sistema de leilões para manter os preços baixos.

Ele aponta para um eufemismo do governo da demanda real contratada no leilão como forma de diminuir o número de contratos de fornecedores a serem disputados.

Ao fazer isso, os fornecedores interessados oferecem um preço mais baixo, na tentativa de ganhar os contratos. Essa tática não só resulta em preços mais baixos de energia para o consumidor, como em uma oferta de energia mais baixa para os próximos anos também”.

As principais fontes citadas nos telegramas são figuras importantes no cenário elétrico do País até hoje, como é o caso de Pedrosa, que atualmente é presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace) e atua em Brasília fazendo lobby para empresas como Arcelor, Rhodia, Usiminas, Vale, Nestlé, Schincariol junto ao governo e aos diversos atores do setor, e também de Luiz Fernando Leone Vianna, que preside a Apine, associação que defende os interesses de empresas como AES, CPFL, Duke Energy, EDP, Endesa, Light, MPX e Tractebel.

http://apublica.org/2011/06/eua-apontaram-lobao-como-defensor-da-privatizacao-do-setor-eletrico/

Rio de Janeiro mergulhado em corrupção da grossa nos governos Cabral/Paes

        

Será que ninguém vai terminar atrás das grades?
Será que ninguém vai terminar atrás das grades?


Quem acompanha o blog há mais tempo vai se lembrar. Durante um bom tempo, no início de 2010, se especulou quando seria desencadeada no Rio de Janeiro, a Operação Caixa de Pandora II, versão I foi realizada no Distrito Federal, quando a PF desbaratou a quadrilha do governador José Roberto Arruda e o seu mensalão. O jornalista Cláudio Humberto teve informações em Brasília, que o caso do Rio era pior do que o de Brasília, e que a Polícia Federal ia entrar em ação em pouco tempo. Mais de um ano se passou e tudo foi abafado dentro da Polícia Federal.

Como eu, na época, afirmei no blog era sabido que autoridades graúdas do governo Cabral, e bota graúdas nisso, tinham caído nas escutas da Polícia Federal. Um empresário que tinha contrato com Estado prestou longo depoimento no Rio, sobre as falcatruas no governo Cabral e contou tudo. Logo depois, estranhamente ele se refugiou no interior de São Paulo e nunca mais se falou nele.

No início do ano, foi deflagrada a Operação Guilhotina que revolveu o mar de lama na Segurança Pública. Atingiu a cúpula da Polícia Civil, inclusive o chefe Allan Turnowski e seus tentáculos chegaram à prefeitura de Eduardo Paes. Turnowski não aceitou cair sozinho e em público fez ameaças veladas de contar tudo o que sabia sobre o secretário Beltrame. O secretário com medo, de acusador de Turnowski virou, pasmem, testemunha de defesa voluntária. Depois afastaram o superintendente da Polícia Federal do Rio e o delegado que comandou a Operação Guilhotinha. Foram mandados para longe do Rio. Todos os acusados foram soltos e tudo foi abafado mais uma vez.

É bom relembrar que nesse episódio o delegado Allan Turnowski acusou e apresentou provas contra o delegado Cláudio Ferraz, da DRACO (Divisão de Repressão ao Crime Organizado) revelando um esquema de extorsão a prefeituras envolvidas em fraudes e foi citado o caso da prefeitura de Rio das Ostras. Como foi contado no blog, o inquérito contra a prefeitura de Rio das Ostras, que está nas mãos de um amigo de Cabral, Carlos Augusto (PMDB) foi aberto num dia e arquivado por ordem de Cláudio Ferraz, sem qualquer apuração, menos de 48h depois. Revelei aqui a história de um telefonema que foi gravado pelo pessoal de Turnowski, onde uma alta autoridade do Estado, de forma arrogante e prepotente, manda Ferraz arquivar o inquérito imediatamente ou vai se dar mal.

Esses dois casos da Caixa de Pandora II (que não aconteceu) e da Operação Guilhotina já eram mais do que suficientes para uma devassa no nosso Estado. São fatos gravíssimos que foram jogados para baixo do tapete para preservar o governador Sérgio Cabral e seu vice Pezão.

Agora estamos diante de uma avalanche de denúncias que atingem o governador e seus auxiliares mais próximos, de enriquecimento ilícito, de compra de mansões e imóveis de luxo, de desvio de dinheiro, de contratos milionários sem licitação, de superfaturamento, de relações promíscuas do governador com grandes empresários, de uma farra de viagens no governo, de fraudes em documentos, de sonegação fiscal.

Como já disse e volto a repetir. O presidente Collor e o governador José Roberto Arruda sofreram o impeachment, o segundo foi até preso, por muito menos do que já foi revelado do mar de lama do governo de Sérgio Cabral. É um festival de improbidade administrativa. O Rio de Janeiro está se transformando no paraíso da corrupção.

Neste e nos próximos anos, o Rio de Janeiro vai receber verbas bilionárias, como nunca aconteceu antes, por conta das obras necessárias para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Não tenham dúvidas de que se nada for feito agora, centenas de milhões de reais serão desviados, repartidos entre os sócios das negociatas e os que estão à frente desses eventos, Cabral, Paes e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e seus amigos. O legado da Copa e das Olimpíadas não ficará para o povo do Rio de Janeiro. Irá para o bolso de um bando de corruptos.

Cabe aos parlamentares do Rio de Janeiro (eu e minha filha Clarissa e mais uma meia-dúzia estamos fazendo a nossa parte), honrarem os votos que receberam e cumprirem o seu papel de fiscalizar, no lugar de fechar os olhos a tudo, em troca de vantagens pessoais. Cabe ao Ministério Público também cumprir o seu papel e investigar e denunciar o mar de lama que está à vista de todos. Cabe à Polícia Federal deixar de agir como polícia política e exercer sua função de combater os crimes do colarinho branco.

Mas não basta isso. É preciso que a sociedade civil organizada, as entidades representativas assim como em outras épocas abraçaram a campanha “Ética na política”, agora façam a sua parte, não se calem, saiam da inércia em que se encontram e digam em voz alta: “Chega de corrupção no Rio de Janeiro!”. Só assim a mídia vai parar de blindar Cabral, por que, se sentir que a sociedade está mobilizada, vai ser como no movimento dos bombeiros, chega a uma hora que muda de lado para não ter a população contra.

A grande verdade é que ou se faz alguma coisa agora, para dar um basta em toda essa bandalheira, ou então, é melhor pedir logo uma grande pizza e todo mundo ir festejar no carnaval, na marcha da maconha, nas paradas gays, nas micaretas, em muitos shows na praia, afinal Cabral e Paes gostam de festas, como os romanos antigos “pão e circo para deixar o povo feliz”. Chegamos ao ponto daquela velha máxima do Barão de Itararé: “Restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos”. A situação do Rio de Janeiro é muito grave!

Cabral e o silêncio que o incrimina.

Reprodução de O Globo
Reprodução de O Globo

Lavando cérebros de um modo polido e profissional

 



John Pilger

por John Pilger

Um dos livros mais originais e provocantes da última década é Mentes disciplinadas (Disciplined Minds) de Jeff Schmidt [1] (Rowman & Littlefield). “Um olhar críticos aos profissionais assalariados”, diz a capa, “e o sistema de massacre de almas que molda as suas vidas”. O seu tema é a América pós-moderna, mas também se aplica à Grã-Bretanha, onde o estado corporativo engendrou uma nova classe de administradores americanizados para dirigir os sectores privado e público: os bancos, os principais partidos, corporações, comitês importantes, a BBC.

Dizem que os profissionais são meritórios e não ideológicos. Mas, apesar da sua educação, escreve Schmidt, eles pensam menos independentemente do que não profissionais. Eles utilizam jargões corporativos como “modelo”, “desempenho”, “alvos”, “visão estratégica”. Em Mentes disciplinadas, Schmidt argumenta que o que faz profissional moderno não é conhecimento técnico, mas “disciplina ideológica”. Aqueles que na educação superior e nos meios de comunicação/informação fazem “trabalho político”, mas de um modo que não é visto como político. Ouçam um indivíduo sênior da BBC descrever o nirvana da neutralidade ao qual ele ou ela se elevaram. “Tomar partido” é anátema; e o profissional moderno sabe nunca desafiar a “ideologia incorporada do status quo”. O que importa é a “atitude certa”. [2]

Uma chave para o treino de profissionais é o que Schmidt chama “curiosidade assinalável”. As crianças são naturalmente curiosas, mas ao longo do caminho para tornar-se uma profissional elas aprendem que a curiosidade é uma série de tarefas assinalada por outros. Ao entrar no treino, os estudantes são otimistas e idealistas. Ao deixá-lo, estão “pressionados e perturbados” porque percebem que “o objetivo primário para muitos é serem suficientemente compensados por abandonarem seus objetivos originais”. Tenho encontrado muitos jovens, especialmente jornalistas novatos, que se reconheceriam a si próprios nesta descrição. Pois não importa quão indireto é o seu efeito, a influência primária dos administradores profissionais é culto político extremo da devoção ao dinheiro e à desigualdade conhecido como neoliberalismo.

O supremo administrador profissional é Bob Diamond, o presidente do Barclays Bank em Londres, que em Março obteve um bônus de £6,5 milhões. Mas de 200 administradores do Barclays levaram para casa £554 milhões no ano passado. Em Janeiro, Diamond disse no comitê do Tesouro do parlamento britânico que “o temor do remorso está ultrapassado”. Ele referia-se ao £1 milhão de milhões (trillion) de dinheiro público entregue sem condições a bancos corrompidos por um governo trabalhista cujo líder, Gordon Brown, descreveu tais “financeiros” como a sua “inspiração” pessoal.

Isto foi o ato final do golpe de estado corporativo, agora disfarçado por um debate especioso acerca de “cortes” e de um “déficit nacional”. A maior parte das premissas humanas da vida britânica está sendo eliminada. O “valor” dos cortes diz-se ser de £83 bilhões, quase exatamente o montante da tributação evitada legalmente pelos bancos e corporações. Que o público britânico continua a dar aos bancos um subsídio adicional anual de £100 bilhões em seguro gratuito e garantias – um número que financiaria todo o Serviço Nacional de Saúde – é abafado.

Assim, também, é o absurdo da própria noção de “cortes”. Quando a Grã-Bretanha estava oficialmente em bancarrota a seguir à Segunda Guerra Mundial, havia pleno emprego e algumas das suas maiores instituições públicas, tais como o Serviço de Saúde, foram montadas. Mas os “cortes” são administrados por aqueles que dizem opor-se a eles e fabricam consentimento para a sua aceitação ampla. Este é o papel dos administradores profissionais do Partido Trabalhista.

Em questões de guerra e paz, as mentes disciplinadas de Schmidt promovem violência, morte e caos numa escala ainda não reconhecida na Grã-Bretanha. Apesar da evidência incriminatória no inquérito Chilcot do antigo chefe de inteligência, general de divisão Michael Laurie, o administrador do “negócio principal”, Alastair Campbell, permanece solto, assim como todos os outros administradores da guerra trabalharam com Blair e no Foreign Office para justificar e vender o banho de sangue no Iraque.

Os meios de comunicação/informação de referência muitas vezes desempenham um papel sutilmente crítico. Frederick Ogilvie, o qual sucedeu ao fundador da BBC, Lord Reith, como diretor geral, escreveu que o seu objetivo era transformar a BBC num “instrumento de guerra plenamente efetivo”. Ogilvie teria ficado deliciado com os seus administradores do século XXI. Na corrida para a invasão do Iraque, a cobertura da BBC refletia esmagadoramente a posição mentirosa do governo, como mostra estudos da Universidade de Gales e da Media Tenor.

Contudo, o grande levante árabe não pode ser facilmente administrado, ou apropriado, com omissões e advertências, como deixa claro um diálogo no programa Today, da BBC, de 16 de Maio. Com o seu celebrado profissionalismo, concentrado em discursos corporativos, John Humphrys entrevistou um porta-voz palestino, Husam Zomlot, a seguir ao massacre de Israel de manifestantes desarmados no 63º aniversário da expulsão ilegal do povo palestino dos seus lares.

Humphrys: ... não é surpreendente que Israel tenha reagido do modo o fez?

Zomlot: ... estou muito orgulhoso e satisfeito [eles estavam] se manifestando pacificamente só para... realmente chamar atenção para os seus 63 anos de infortúnio.

Humphrys: Mas eles não se manifestaram pacificamente, esse é o meu ponto...

Zomlot: Nenhum deles... estava armado... Opuseram-se a tanques, helicópteros e F-16s israelenses. Você não pode sequer começar a comparar a violência... Isto não é uma questão de segurança... [os israelenses] sempre falham em tratar com um assuntos puramente político, humanitário e legal...

Humphrys: Desculpe interrompê-lo, mas... se eu marcho dentro da sua casa agitando um cassetete e lançando-lhe um pedra então isso seria uma questão de segurança, não seria?

Zomlot: Desculpe-me. Segundo resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aquelas pessoas estavam marchando para as suas casas; elas têm os direitos sobre os seus lares; é sua propriedade privada. Vamos então por as coisas em pratos limpos de uma vez por todas...

Foi um momento raro. Por as coisas em pratos limpos não é um “objetivo” administrativo.

23/Junho/2011

[1] Jeff Schmidt foi editor da revista Physics Today durante 19 anos, até que foi despedido por ter escrito Disciplined Minds . Para encomendá-lo clique em Rowman & Littlefield Publishers Inc.

[2] Desde a publicação deste livro as coisas agravaram-se. Agora os meios de comunicação/informação que se proclamam como “referência” proíbem os profissionais que neles trabalham de exprimirem opiniões independentes fora dos mesmos (blogs, sítios web ou quaisquer outros meios de informação). Tais proibições estão mesmo fixadas nas suas respectivas normas internas. Anula-se assim a separação entre o trabalho feito para um patrão e a vida pessoal do assalariado. Este, na sua vida privada, está politicamente castrado: fica impedido de manifestar-se em público a fim de conservar o emprego.

O artigo original, em inglês, encontra-se em: Brainwashing the polite and professional way
Esta tradução foi extraída de: Resistir

Pequim e Moscou, depois da reunião da Organização de Cooperação de Xangai




A longa marcha contra Pentágono/OTAN

Pepe Escobar
22/6/2011, Pepe Escobar, Al-Jazeera, Qatar
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Afinal, o que realmente resultou da reunião anual da Organização de Cooperação de Xangai [ing. Shanghai Cooperation Organisation (SCO)], semana passada, no Cazaquistão?

Comparada às expectativas ensandecidas, foi coisa bem prudente e moderada: mais um ‘mapa do caminho’, que mudança de jogo. Mesmo assim, China, Rússia e quatro ‘stãos’ da Ásia Central – Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão e Uzbequistão – foram bem além do cardápio previsível de cooperação em questões de segurança/economia.

A Organização de Cooperação de Xangai (SCO) incluiu incremento de países asiáticos, mas tradicionais potências ocidentais não foram convidados a participar [EPA]

Nursultan Nazarbayev, o “leopardo da neve” do Cazaquistão, anfitrião e presidente do encontro, disse detalhadamente que a Organização de Cooperação de Xangai continuará a combater o terrorismo e a ciber-narco-criminalidade, ao mesmo tempo em que tentará equacionar a delicada questão da distribuição da água na Ásia Central – capítulo chave das guerras globais pela água, que estão começando.

Mas disse também que a Organização de Cooperação de Xangai é favorável a uma nova moeda global. E tem mais. Assinou-se novo memorando, segundo o qual a Organização de Cooperação de Xangai iniciará consultas com Índia, Paquistão e Irã – que se candidataram a membros plenos da SCO.

Não significa que seja negócio fechado. O Irã é candidato a membro desde 2008. Ainda não foi aceito, porque está sob sanções impostas pelo ocidente via ONU.

O Paquistão, por outro lado, mal pode esperar para ser incluído. É o que se vê pelos efusivos elogios disparados pelo presidente Asif Ali Zardari. Uma SCO acolhedora com certeza ganha de uma Washington invasora serial e dependente terminal de aviões-robôs-drones.

Pequim, por sua vez, terá muito cuidado ao sopesar a admissão da Índia e do Paquistão. Segundo Wu Hongwei da Academia Chinesa de Ciências Sociais, “se se unirem à Organização de Cooperação de Xangai, há o risco de que levem para lá suas disputas não resolvidas.”

O Afeganistão candidatou-se ao status de observador. Provavelmente será aceito. E é quando o jogo fica mais emocionante.

Façam dinheiro, não façam guerra

Acompanhar as mídias chinesa e russa tem sido absolutamente fascinante. Para muitas mentes críticas em Moscou, incomodadas porque a Rússia parece não saber diversificar a economia, a Organização de Cooperação de Xangai é hoje fundamentalmente chinesa.

Faz sentido. Embora o comércio bilateral esteja bombando, o coletivo-liderança em Pequim vê Moscou como pouco mais que fornecedor-gigante de energia/commodities que alimenta o dragão. Moscou, por sua vez quer/precisa muito de investimentos da alta tecnologia chinesa em seu combalido setor industrial.

Rússia e China têm programa estratégico bilateral até 2018. Basicamente, envolve desenvolvimento/produção de petróleo, gás e minérios na Rússia – na Sibéria e no extremo oriente do país – e processamento na China.

O oleodutostão principal, o nome do jogo nessa região, é o imenso oleoduto Sibéria Oriental-Oceano Pacífico [ing. East Siberia-Pacific Ocean, ESPO. Mapa da região) – de Skovorodino, na Rússia, até Mohe, na China, mais dois gasodutos.

ESPO pipeline
O gasoduto ESPO está sendo construído em duas fases e vai percorrer Sibéria.

O que o Oleodutostão encobre é a questão extremamente sensível de quem será o cão alfa econômico na Ásia Central. Ninguém precisa ser a Moça do Tempo, para ver de que lado sopram esses ventos de estepe. Como conseguir equilibrar o jogo estratégico da Rússia na Ásia Central e a voracidade econômica da China?

Por exemplo: a Organização de Cooperação de Xangai quer criar um banco de desenvolvimento. Moscou quer ligá-lo ao Banco de Desenvolvimento Eurasiano – cujos maiores acionistas são a Rússia e o Cazaquistão. Pequim quer que seja instrumento absolutamente novo.

E num plano geoestratégico, a história é completamente diferente.

A mídia estatal em Pequim estava em êxtase, porque China e Rússia já trabalhavam para aprofundar sua parceria estratégica, logo no dia seguinte ao encontro da Organização de Colaboração de Xangai, em declaração conjunta de Hu Jintao presidente da China, e Dmitry Medvedev, da Rússia.

Em vez dos bombardeios da OTAN, Rússia/China são pela “não interferência” e por “menos ação militar” na Coreia e, sobretudo, no Oriente Médio/Norte da África [ing. (Middle East/North Africa, MENA).

Em vez das intromissões de Washington em questões entre a China e países do sudeste da Ásia, Rússia/China são a favor dessas “parcerias estratégicas”, que veem como “fator chave para a paz e a estabilidade da região do Pacífico asiático”.

Em vez dos planos de Washington de instalar escudos antimísseis na Europa do leste, Rússia/China privilegiam “soluções políticas e diplomáticas”.

Em vez de demonizar o Irã, Rússia/China não se cansam de repetir que o Irã tem pleno direito de desenvolver seu programa nuclear para finalidades pacíficas.

E nem é preciso dizer que, além de opor-se ao bombardeio da OTAN contra a Líbia, Rússia/China são contra qualquer possível resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre a Síria.

Tampouco é preciso dizer que nada disso desce muito bem goela abaixo da Casa Branca e do Departamento de Estado, ao mesmo tempo em que a teoria da Dominação de Pleno Espectro [ing. Full Spectrum Dominance] do Pentágono vai-se pelo ralo. A cereja do bolo foi a segunda declaração de Hu e Medvedev: China e Rússia aprofundarão a cooperação militar.

Mais um buraco na cerca

E há também o “Rosebud” desse filme “Cidadão Eurásia” – que é o invencível labirinto das encruzilhadas afegãs. Washington está em total “surge” de operação-gigante de Relações Públicas, para tentar convencer a opinião pública mundial de que os EUA estão empenhados em “conversações” com os Talibã “porque” a OTAN está(ria) “vencendo” a guerra.

O que virá agora? O Mulá Omar convidado para um Arroz à Cabul, em jantar de recepção a chefe de Estado na Casa Branca?

A realidade é um pouco mais complexa. O astuto Hamid Karzai, presidente do Afeganistão, lá estava, na reunião da Organização de Cooperação de Xangai, fazendo lobby a favor da candidatura de seu país ao status de observador. Karzai sabe que nenhuma solução realista para o Afeganistão virá de Washington. Ele tem de envolver na discussão a Organização de Cooperação de Xangai.

Nazarbayev, o “leopardo da neve” cazaque, entregou o jogo, ao dizer que “é possível que a Organização de Cooperação de Xangai venha a assumir responsabilidades em várias questões que envolvem o Afeganistão, depois da retirada dos soldados da coalizão em 2014”.

A primeira parte do comentário está perfeita. A segunda, não. Porque a hipótese de o Pentágono deixar o Afeganistão é simplesmente impensável... nos termos da Doutrina da Dominação de Pleno Espectro, do Pentágono.

Mesmo assim, pergunte a qualquer um, por todo o arco, do sul ao centro da Ásia: ninguém quer por lá bases militares permanentes dos EUA no Afeganistão. A opinião pública, sim, mas também os membros da Organização de Cooperação de Xangai, incluídos os observadores.

Jamais se lerá nem menção a isso em declarações da Organização de Cooperação de Xangai, é claro. Mas Pequim e Moscou estão convencidas de que, se se deixar caminho livre para os EUA no Hindu Kush, eles instalarão mísseis de defesa no Afeganistão, mirados, evidentemente, contra Rússia e China.

Portanto, senhoras e senhores, apertem os cintos. China e Rússia se aproximarão cada dia mais, em termos geopolíticos, em toda a Eurásia – e nenhuma campanha de propaganda jornalística sobre “reset” das relações EUA-Rússia mudará isso.

Essa é a mensagem “invisível” que a Organização de Cooperação de Xangai deixa para o futuro imediato: parafraseando Pink Floyd, não precisamos de intervenção, não precisamos de controle de ideias. Eis como Rússia/China planejam o primeiro passo da longa marcha para derrubar o muro Pentágono/OTAN.

Código Florestal em debate: Palestra com Aldo Rebelo




 


Richard Jakubaszko
O deputado Aldo Rebelo proferiu palestra em Salvador, no Agrocafé, para falar sobre o Código Florestal.

Vale a pena assistir o vídeo abaixo e opinar. As alterações propostas estão sendo negociadas e serão levadas a plenário no Congresso, para discussão e aprovação, mas muita gente anda falando abobrinhas e absurdos a respeito das consequências sobre o meio ambiente e o agronegócio se for aprovado assim ou assado. O raciocínio não é linear ou simples como imaginam os ambientalistas e urbanos, que ignoram completamente a realidade, pois a complexidade dos problemas é gigantesca, e exige soluções alternativas viáveis.

A palestra é antológica, digamos assim, para ficarmos no comedimento. Registra passagens dramáticas ou saborosas da maratona feita por esse deputado federal, Brasil adentro, para ouvir de produtores rurais, ribeirinhos, gente do povo que vive da agricultura ou da pesca, sobre o que acontece em cada região. Ou sobre como a história legislativa elaborou erros e interpretações ao sabor dos tempos e interesses.

Me deu orgulho lembrar que votei nesse caboclo nas últimas eleições. Votei nele, não por pertencer ao PCdoB, de SP, mas pelo fato de ser o relator do Código Florestal, e pelo trabalho que vem realizando para harmonizar e compatibilizar interesses tão díspares como os que estão envolvidos nesse projeto do Código Florestal. Se não houver o devido cuidado haverá um engessamento da produção de alimentos no Brasil, com a criação de um monstro legal, um nó górdio quase impossível de ser desamarrado no futuro breve desta nação. Tudo isso porque as emoções têm dominado todos os cenários de debate de assunto tão importante aos brasileiros.

Uma das verdades, jamais citadas pelos debatedores dessa insanidade contemporânea que é esse projeto, é que se o Código Florestal for aprovado com a ótica ambiental restritiva, além de se engessar a agropecuária, em propriedades de qualquer tamanho, colocará uma pá de cal nas pretensões de se realizar a reforma agrária neste país, porque inviabilizaria a pequena propriedade rural. Esta a principal razão política de Rebelo ter sido indicado como relator desse projeto de lei. Talvez ele passe para a história como o comunista que salvou - ou sepultou - a reforma agrária brasileira. Quem sabe, talvez, como o carrasco da agropecuária.

Ao leitor, antes de criticar ou bater palmas, assista a palestra de Rebelo, mas depois comente, participe de forma responsável. E lembre-se: seja qual for o mostrengo a ser aprovado no Congresso Nacional, seremos todos perdedores, porque a causa principal de todos os problemas sequer foi mencionada, e que é a superpopulação planetária

Mais uma vez, no Brasil, tentamos resolver os problemas atacando pelas bordas, de forma dissimulada, pois nunca vamos ao núcleo da questão.


Extraído do blog do Richard Jakubaszko

Humala e Cabral, dois extremos

 




Publicado em 26/06/2011 por Mário Augusto Jakobskind

Se alguém ainda tinha dúvidas sobre as transformações que estão a ocorrer no continente americano, o vizinho Peru pode servir de exemplo concreto sobre este novo tempo que desagrada os setores conservadores. Até bem pouco tempo, a Aliança Popular Revolucionária Americana, mais conhecida como Apra, o partido do atual Presidente Alan Garcia, mandava e desmandava. Mas nas últimas eleições teve um resultado pífio só conseguindo eleger quatro deputados. Ou seja, nem poderá formar um bloco parlamentar e consequentemente não terá forças para continuar dando as cartas políticas, como fazia anos atrás.

O partido de Alan Garcia tem raízes históricas, mas nem por isso conseguiu sobreviver aos novos tempos no país, que acabou resultando na eleição de Ollanta Humala. Vinculado à socialdemocracia, que hoje passou a ser uma linha auxiliar dos apologistas do esquema neoliberal e do deus mercado, a Apra colheu os frutos de sua prática, imaginando sempre que o processo político é imutável.

O exemplo peruano deve servir de reflexão não apenas para cúpulas partidárias que sucumbem à burocracia, transformando as suas agremiações políticas em meros departamentos cartoriais, como a políticos que imaginam estar acima do bem e do mal. No Brasil já temos exemplos, sobretudo à direita, mas de alguns partidos de esquerda, ou que se julgam de esquerda, embora nos últimos tempos venham adotando práticas diferenciadas do que defendiam antes.

Em termos regionais, o exemplo mais elucidativo está a ocorrer no Rio de Janeiro, onde partidos que se consideram de esquerda apoiam um governador, Sergio Cabral que reprime violentamente bombeiros que ganham salários de fome e ainda por cima concede as maiores facilidades para empresários em troca de favores especiais.

Já se imaginava que isso acontecia, embora a opinião pública estivesse iludida, como nas eleições de outubro do ano passado, quando sufragou Cabral por maioria absoluta. Agora, depois de uma tragédia em que morreram sete pessoas na queda de um helicóptero na Bahia, caiu a máscara. Isso tem um nome: promiscuidade. Ou será que tem outra denominação o fato de um governador estar usufruindo das benesses de um empresário, como Fernando Cavendish, proprietário da construtora Delta, a empreiteira responsável pela reforma milionária do Maracanã em associação com as do mesmo ramo Odebrecht e Andrade Gutierrez?

Escondendo o jogo, como faz sempre, Cabral foi a Bahia para participar de uma festa milionária de Cavenish, a quem presta favores. E o que dizer em pegar carona a hora que quiser no avião do trilionário Eike Batista? O empresário e o governador acham isso perfeitamente normal.

Há denúncias segundo as quais o governo Sergio Cabral está fazendo obras no Estado sem concorrência pública, o que mereceria pelo menos uma investigação mais apurada da Assembleia Legislativa e do Ministério Público.

Em outros países, por muito menos, governos caíram porque os chefes do Poder Executivo se envolveram em jogadas prejudiciais ao Estado.

Cabral tem maioria na Assembleia Legislativa e dificilmente se conseguirá algum tipo de ação, salvo se a opinião pública se mobilizar e exigir, pois, afinal de contas, o Estado é responsável em gerir os impostos arrecadados de honestos cidadãos contribuintes.

O momento é grave. O Rio está na antevéspera de dois megaeventos que vão lidar com muitos milhões. Tudo agora gira em torno disso, inclusive no âmbito da Prefeitura, onde o alcaide Eduardo Paes está aprontando, como, por exemplo, promovendo remoções de favelas que não estão em área de risco, mas são cobiçadas pela especulação imobiliária há tempos. O Morro dos Prazeres, em Santa Tereza, que o diga. E perguntem também que grupos econômicos apoiaram Paes.

Aliás, que pouca sorte tem o Rio de Janeiro. Depois de um Cesar Maia aparece um Paes. E um Maia que responde na Justiça pelo que foi feito na Cidade da Música, na Barra da Tijuca, que ainda por cima ganhou o nome de Roberto Marinho, um cidadão acima de qualquer suspeita, mas que em nenhum momento teve algum envolvimento com a música, seja clássica ou popular, salvo as editorias de cultura de seus meios de comunicação.

Maia imaginava que colocando o nome do finado proprietário das Organizações Globo poderia tudo que fez de errado ficar por isso mesmo. Mas como as denúncias se avolumaram, Cesar Maia terá de responder na Justiça as acusações de ilegalidades cometidas na Cidade da Música.

O Rio de Janeiro, claro, merecia coisa melhor, mas como a região historicamente sempre primou pela resistência, embora nos últimos tempos, Cabral, Paes e antes Maia, para não falar em tempos mais distantes de Moreira Franco e Marcelo Alencar, que ocuparam o espaço político, transformando a área em uma verdadeira vergonha nacional, não se descarta que em algum momento o povo desperte e exija que sejam tomadas providências enérgicas para acabar com o atual estado de coisas. O integral apoio popular aos bombeiros vitimados por Cabral foi um aviso,.

No Peru, o esquema meliante de Fujimori foi derrotado nas urnas e o partido de Alan Garcia, que apoiou a filha do ex-Presidente, a Keiko Fujimori, sofreu um revés sem precedentes históricos, que não imaginava poderia acontecer. Nos tempos de transformações porque passa o continente americano, não pode mais haver lugar para tipos como Alan Garcia, Alberto Fujimori, Cabral, Paes, ou Maia, muito menos para Moreira Franco, que virou Ministro de Assuntos Estratégicos, embora já se conheça há tempos que tipo de estratégia ela adota no seu fazer político.

Ah, sim, neste time fica faltando o chileno Sebastián Piñera, que conseguiu se eleger depois da falência do esquema da Concertación, mas, segundo as pesquisas, já é repudiado pela maioria da população.

Militares de forças especiais dos EUA atuaram em 18 países latinoamericanos em 2009

 



Um documento preparado a pedido de congressistas de extrema direita dos EUA indica que o 7º Grupo de Operações Especiais conduziu operações militares em quase todos os países da América Latina em 2009.

Além de terem participado de uma operação-chave na desastrosa guerra contra as drogas no México, esses soldados altamente treinados também participaram de cursos de treinamento no Brasil, segundo reportagem do site Narconews, parceiro da Pública.

7o Grupo de Forças Especiais de Fort Bragg (EUA) atuando no Brasil


Um documento do Pentágono confirma que os EUA empregaram grupos militares de operações especiais no México, durante a escalada da guerra contra as drogas, que levou à morte de cerca de 40 mil pessoas desde 2006.


Os militares de operações especiais também atuaram na Colômbia, Equador, Peru, e em quase todos os países da América Central, vistos como fundamentais na política antidrogas promovida pelos EUA.

O briefing do Departamento de Defesa foi apresentado em Washignton em meados de maio de 2009 a um grupo de empresários e líderes políticos do noroeste da Flórida.

O documento, marcado “Não classificado/Somente para uso oficial” revela as 18 nações da América Latina onde os soldados do 7º Grupo de Forças Especiais [Airborne Green Berets] foram empregados no ano fiscal de 2009, que terminou em 30 de setembro de 2009. As operações incluíram 21 missões e 165 soldados.

Segundo o documento, membros do grupo foram treinados no Brasil, no Centro de Instrução de Guerra na Selva, próximo a Manaus.

O briefing que detalha foi tornado público por uma associação empresarial da Flórida que inclui empresas militares privadas. O grupo, chamado Economic Development Council for Okaloosa County (EDC), publicou no seu site o documento, apesar dele ser classificado como “apenas para uso oficial”.

O documento de briefing havia sido preparado pelo 7o Grupo de Forças Especiais a pedido de do deputado americano Jeff Miller, um republicado ultradireitista próximo ao Tea Party cujo distrito eleitoral, na Flórida, vai receber o 7º Grupo (que está sendo relocado do forte Bragg, na Carolina do Norte)


No México
O documento também indica que uma unidade do 7o Grupo de Forças Especiais foi empregada no México em 1996 como parte de uma missão “anti-narcóticos”.

As revelações no documento são importantes porque até o momento nem o Pentágono nem o Departamento de Estado confirmavam que soldados de forças especiais americanos haviam atuado em território mexicano.

Isso porque a atuação direta de soldados americanos de operações especiais dentro do México traz um risco político, colocando em risco a vida desses militares caso sejam descobertos por cartéis do tráfico. A revelação também pode estremecer as relações com o presidente mexicano Felipe Calderón, cada vez mais criticado pela desastrosa política de combate ao narcotráfico.

O 7o Grupo de Forças Especiais tem atuado fortemente desde 1980 na América Latina, de acordo com o documento e também com outras fontes. Ele participou em numerosas missões de “contra-insurgência” na América Central e na invasão do Panamá, no final de 1989.

Também tem sido bastante atuante ao longo dos anos em missões de combate às drogas na Colômbia, Venezuela, Peru, Equador e Bolívia. Entre as operações mais notórias em que o grupo atuou está o resgate em julho de 2008 da política colombiana Ingrid Bittencourt e de três contratistas do Departamento de Defesa dos EUA, que estavam sequestrados pelas FARC.


A reportagem explicava que:
a unidade americana Força Tarefa 7, desde o começo de 2009, de acordo com o agentes da CIA, ajudou a descobrir um depósito em Cuidad Juárez cheio de munições americanas que estava sob o controle de narcotraficantes; ajudou a providenciar inteligência que levou à invasão pela polícia mexicana de uma oficina ilegal em Juárez que produzia uniformes militares falsos; trabalhou com militares mexicanos para descobrir um cemitério clandestino perto de Las Palomas, México, cidadezinha próxima à fronteira, ao sul da cidade americana de Columbus, no estado de Novo Mexico. Além disso, nos bastidores, a Força Tarefa cooperou com militares mexicanos na busca de um chefe do narcotráfico, Arturo Beltran Leyva – que foi morto por forças especiais da marinha mexicana em dezembro de 2009 durante uma operação em um apartamento de luxo na cidade de Cuernavaca”.

A informação foi dada ao Narconews por um ex-agente da CIA, Tosh Plumlee, antigo piloto contratista que tinha grandes conexões com o mundo subterrâneo, com o intuito de proteger os membros da Task Force 7. Plumlee disse ao Narconews que os traficantes já sabiam que membros da força-tarefa estavam no país e por isso eles haviam se tornado alvos do tráfico. Contar à imprensa poderia protegê-los e forçar as autoridades americanas a buscar o alvo do vazamento da informação.

O organização WikiLeaks publicou recentemente um telegrama do Departamento de Estado dos EUA revelando que a unidade da marinha mexicana que conduziu as operações contra o “capo” Beltran Leyva “recebeu extensivo treinamento dos EUA” — mais uma evidência do envolvimento das forças especiais americanas na guerra às drogas no México.

O mesmo telegrama observa que o assassinato de Beltran Leyva iria, a curto prazo, levar a um aumento da violência relacionada ao narcotráfico “já que as batalhas entre os cartéis vão ser intensificadas pela falta de uma liderança em um dos cartéis mais importantes do país.”

No México, a guerra contra as drogas já levou à morte de mais de 40 mil pessoas desde 2006.

Centenas de pessoas chegaram nesta quinta-feira, dia 9 de junho, a Cuidad Juárez, na fronteira com os Estados Unidos, em protesto contra a violência gerada pela guerra.

A marcha, que percorreu 3.000 quilômetros, está sendo liderada pelo poeta Javier Sicilia, que perdeu seu filho junto com seis amigos em uma chacina no final de março deste ano.

A chacina aconteceu na cidade de Cuernavaca, próxima à capital – na mesma região onde o capo Beltran Leyva foi assassinado.

No Brasil

De acordo com o briefing, o Grupo de Forças Especiais participou de três atividades no Brasil em 2009. Primeiro foi a visita do chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas dos Estados Unidos, Almirante Mike Mullen, que visitou o país nos dias 2 e 3 de março para conhecer a estrutura de defesa de Amazônia.

Acompanhado pelo ministro da defesa Nelson Jobim, Mullen viajou em um avião da FAB até o Pelotão de Fronteira de Ipiranga, na divisa com a Colômbia.

Mullen também ouviu um relato sobre a atuação do Centro de Instrução de Guerra na Selva, criado em 2 de junho de 1964 – dois meses depois do golpe militar – com a ajuda de Grupos de Forças Especiais americanos. O Centro foi fundado pelo Coronel Jorge Teixeira de Oliveira, que fora treinado na Escola das Américas.

No mesmo ano de 2009, dois soldados de Forças Especiais fizeram o treinamento de selva – os primeiros americanos a serem treinados no Centro em 10 anos. Um deles, o oficial Javier Alejandro, é descrito como “um oficial de Forças Especiais altamente treinado e com muita experiência” que fala português fluentemente e é membro do mesmo 7 Grupo de Forças Especiais, segundo um release do comando militar americano.

“Agora, 40 anos depois, a parceria entre os Estados Unidos e o Brasil completam o ciclo”, afirma o release.

Membros do 7o Grupo de Forças Especiais também participaram da competição Fuerzas Comando 2009, realizado em junho em Goiânia, que reuniu 300 militares altamente treinados de 21 países.

Financiada pelo Comando do Sul do Departamento de Defesa dos EUA, a competição acontece todo ano em um país diferente e visa “promover as relações entre militares, aumentar a interoperabilidade e melhorar a segurança regional”.

A edição brasileira foi a 6ª e contou com 150 militares americanos.

Por Bill Conroy, do Narconews
Com colaboração de Natalia Viana, da Pública
Leia a reportagem original em inglês.
Enviado por Luís Giannini de Freitas