terça-feira, 28 de junho de 2011

Serra, governador, pediu ajuda aos EUA contra ataques de PCC


Nova leva de documentos do Wikileaks revelam que Serra queria treinamento para lidar com bombas e ameaças no transporte público, que seriam de autoria da facção


Por Daniel Santini, especial para a Pública







Assim que assumiu o poder como governador de São Paulo, em janeiro de 2007, José Serra (PSDB) foi procurar o embaixador dos Estados Unidos no Brasil Clifford M. Sobel para pedir orientações sobre como lidar com ataques terroristas nas redes de metrô e trens, atribuídos por membros do governo paulista ao PCC.

O encontro foi o primeiro de uma série em que, como governador, Serra buscou parcerias na área de segurança pública, negociando diretamente com o Consulado Geral dos Estados Unidos, em São Paulo, sem comunicar ao governo federal. É o que revelam relatórios enviados à época pela representação diplomática a Washington e divulgados agora pela agência de jornalismo investigativo Pública, em parceria com o grupo Wikileaks.

Os documentos, classificados como “sensíveis” pelo consulado, são parte de um conjunto de 2.500 relatórios ainda inéditos sobre temas variados, que foram analisados em junho por uma equipe de 15 jornalistas independentes e serão apresentados em reportagens ao longo desta semana. Os telegramas que falam dos encontros de Serra com representantes dos Estados Unidos também revelam a preocupação do então governador com o poder do Primeiro Comando da Capital (PCC) nas prisões.

Após tomar posse como governador, a primeira reunião de Serra com representantes dos Estados Unidos, realizada em 10 de janeiro de 2007, é descrita em detalhes em um relatório no dia 17.

Na conversa, que durou mais de uma hora, Serra apontou a segurança pública como prioridade de seu governo, em especial na malha de transporte público, disse o Estado “precisava mais de tecnologia do que de dinheiro” para combater o crime e indagou sobre a possibilidade de o DHS (Departament of Homeland Security) treinar o pessoal da rede de metrô e trens metropolitanos para enfrentar ataques e ameaças de bombas.

Semanas antes, três bombas haviam explodido, afetando o sistema de trens, conforme noticiado à época.
Em 23 de dezembro de 2006, um artefato explodiu próximo da estação Ana Rosa do Metrô. No dia 25, outra bomba explodiu dentro de um trem da CPTM na estação Itapevi, matando uma pessoa, e uma segunda bomba foi encontrada e levada para um quartel. Em 2 de janeiro de 2007, um sargento da Polícia Militar morreu tentando desarmar o dispositivo.

Segundo o documento diplomático, “membros do governo acreditam que o Primeiro Comando da Capital (PCC) pode ser o responsável pelos episódios recentes”.

O secretário de Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, chegou a entregar uma lista com questões sobre procedimentos adotados nos Estados Unidos e manifestou interesse em conhecer a rotina de segurança do transporte público de Nova York e Washington.

Também participaram desse primeiro encontro o chefe da Casa Civil Aloysio Nunes Ferreira, o secretário de Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, o secretário de Transportes, Mauro Arce, o coordenador de segurança do Sistema de Transportes Metropolitanos, coronel Marco Antonio Moisés, o diretor de operações do Metrô Conrado Garcia, os assessores Helena Gasparian e José Roberto de Andrade.



Parceria estabelecida




As conversas sobre as possíveis parcerias entre o governo de São Paulo e os Estados Unidos na segurança da rede de metrô e trens metropolitanos continuaram na semana seguinte, quando Portella se reuniu com o cônsul-geral em São Paulo, o adido do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (Departament of Homeland Security – DHS) no Brasil e o responsável por assuntos políticos do consulado.
O encontro aconteceu em 17 de janeiro de 2007 e foi relatado em relatório no dia 24.

Acompanhado do secretário adjunto de segurança pública, Lauro Malheiros, e de outras autoridades da área, Portella falou sobre as dificuldades encontradas pelo Metrô em garantir a segurança da rede e informou sobre a tragédia ocorida nas obras da estação Pinheiros, dias antes (12 de janeiro de 2007), quando um desabamento provocou a morte de sete pessoas. No relatório, os representantes dos Estados Unidos destacam que a linha amarela é a primeira Parceria Público-Privada do Brasil e que o projeto foi lançado em meio à “grande fanfarra”.

Portella falou sobre os episódios anteriores de bombas e ameaças no metrô e “respondeu a uma série de questões preparadas pelo adido do DHS sobre a estrutura da rede” e disse que depois que as inspeções foram reforçadas, por causa das ameaças de bomba, mais pacotes suspeitos foram encontrados, e que mesmo “um saco de bananas ou de roupa suja” têm de ser examinados, o que provocava atrasos e paralisações no metrô. Novamente o PCC é mencionado: “Autoridades acreditam que a organização de crime organizado Primeiro Comando da Capital (PCC) pode ser responsável pelos ataques e relatam a prisão de um membro do PCC responsável pelo assassinato de um juiz em 2002”.

No final, Portella designou, então, o coronel da Polícia Militar José Roberto Martins e o diretor de Segurança do Metrô Conrado Grava de Souza para dar continuidade à parceria proposta.



Itamaraty



Nos meses seguintes, Serra voltou a se encontrar com representantes dos Estados Unidos e insistir em parcerias para lidar com o PCC.

Em 6 e 7 de fevereiro, conversou com o subsecretário de Estado dos EUA para Negócios Políticos, Nicholas Burns. De acordo com relatório de 1º de março de 2007, falou no encontro sobre a “enorme influência” que a organização tem no sistema prisional no Estado e pediu ajuda, incluindo tecnologia para “grampear telefones”.

Sua assessora para assuntos internacionais Helena Gasparian agradeceu a assistência na questão da segurança nos transportes públicose afirmou que a participação dos Estados Unidos foi “imensamente útil”.
Diante da sugestão de novas parcerias, o subsecretário Burns e o embaixador Sobel ressaltaram que seria importante obter aprovação do governo federal e destacaram que o Ministério de Relações Exteriores, o Itamaraty, “é às vezes sensível quanto a esses assuntos”.

O relatório afirma que “o governo estadual talvez precise de ajuda para convencer o governo federal sobre o valor de ter os Estados Unidos trabalhando diretamente com o Estado”. Serra disse que ele gostaria de falar com a mídia sobre a necessidade dessa ajuda.

Questionado pela agência Pública sobre esses relatórios, o professor Reginaldo Nasser, especialista no estudo de relações internacionais, de segurança internacional e de terrorismo da PUC de São Paulo, criticou a postura dos governador Serra e disse que acordos deste tipo devem ser intermediados pelo Itamaraty.

“Os Estados Unidos têm pressionado o Brasil para colocar terrorismo no Código Penal e o país até agora resistiu. Este tipo de acordo é uma relação de Estado para Estado e precisaria passar pelo governo federal”, explicou, destacando que, desde os ataques de 11 de Setembro, os Estados Unidos assumiram uma postura de polícia internacional. “Agentes agem com ou sem autorização em outros países, prendem, torturam e assassinam”, diz.

A assessoria de imprensa do Itamaraty disse que ninguém se posicionaria sobre as revelações dos documentos. Procurado por meio de sua assessoria, o ex-governador José Serra não retornou o contato da reportagem.

http://apublica.org/2011/06/serra-governador-pediu-ajuda-aos-eua-contra-ataques-de-pcc/

WIKILEAKS: Proibição ao aborto é “lei que não pega”, diz embaixada


Para diplomatas americanos, aborto é prática comum no Brasil e continuará sendo




Por Mariana Simões, especial para a Pública







Documentos obtidos pelo WikiLeaks mostram que a diplomacia americana avalia que o aborto, embora ilegal, é uma “prática comum” no Brasil, e que a proibição, com forte apoio das igrejas católica e evangélica, é e continuará sendo “amplamente desrespeitada”.


O primeiro documento trata-se de uma avaliação da legislação sobre o aborto enviada a Washington pela embaixada em Brasília em 7 de julho de 2004.

Na época, o Supremo Tribunal Federal havia decidido temporariamente liberar mulheres grávidas de fetos anencefálicos (sem cérebro) a interromper a gravidez. Bebês que nascem com esse problema, geralmente ligado à subnutrição da mãe, morrem em 100% dos casos.



Para os americanos, a oposição da igreja seria um grande empecilho para uma mudança efetiva na lei. “Apesar da maioria dos brasileiros terem uma mente aberta, a igreja não só se opõe à liminar mais a vê como a ponta do ‘iceberg’ no início de uma série de exceções à proibição do aborto que viesse na pratica a legalizá-la”, descreve o telegrama assinado pelo ex-cônsul-geral dos EUA em São Paulo, Patrick Duddy.





Lei que não pega


Para ele, porém, a prática do aborto é comum – e continuará sendo – como mostra a conclusão do telegrama, intitulada “leis que não pegam”:

“Apesar de ser ilegal, o aborto é comum aqui e um estudo mostrou que 31% das mulheres grávidas no Brasil fazem aborto. O resultado mais provável desse debate é que o aborto continuará a ser amplamente proibido – com certas exceções – e a proibição continuará a ser amplamente desrespeitada”.

Em outubro de 2004, o Supremo decidiu extinguir a exceção para fetos anencefálicos. A embaixada rapidamnete descreveu o “debate tempestuoso” que precedeu a decisão por 7 vostos a 4: “(os juízes) Mello e Joaquim Barbosa quase se socaram durante a discussão”, diz o documento enviado em 8 de novembro de 2004.


A conclusão do então embaixador John Danilovich é semelhante à do telegrama enviado em julho: “A legislação brasileira é cheia de leis que ‘não pegam’, e o aborto é uma delas”, diz Danilovich.


“Mulheres mais pobres, mais suscetíveis a terem fetos anencefálicos, também são as que mais provavelmente usarão o sistema público de saúde onde a proibição ao aborto é mais rigidamente vigiada. Assim, seja ou não contra a lei, o aborto provavelmente continuará sendo acessível a muitas mulheres brasileiras”.



Hoje em dia, o aborto pode ser realizado legalmente apenas em caso de estupro ou de risco de vida para a mãe. Em junho deste ano, o STF deu entrada em novo processo para legalizar o aborto nos casos em que o bebê nasce sem cérebro.


Segundo a Pesquisa Nacional de Aborto (PNA), elaborada pela Ong ANIS – Instituto de Bioética Direitos Humanos e Gênero da Universidade de Brasilia e divulgada em maio de 2010, uma em cada sete brasileiras entre 18 e 39 anos já realizou pelo menos um aborto na vida.





O estudo também concluiu que abortos feitos de forma clandestina estão entre as principais causas de mortalidade materna no país e que 50% das mulheres que abortam procuram atendimento médico público em decorrência de complicações na saúde.

http://apublica.org/2011/06/proibicao-ao-aborto-e-%e2%80%9clei-que-nao-pega%e2%80%9d-diz-embaixada/

WIKILEAKS: Cônsul e FHC ironizam movimento “Cansei”



Movimento não convenceu o ex-cônsul-geral dos Estados Unidos em São Paulo, Thomas White, que diz que seus líderes se tornaram alvos fáceis de caricatura



Por Andrea Dip, especial para a Pública







Em 2007, aproveitando o acidente com o vôo 3054 da TAM, empresários paulistas lançaram o “Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros” que ficou conhecido popularmente como “Cansei”, integrado por atrizes, atores e apresentadores de TV famosos que protestavam por uma variedade de temas – caos aéreo, corrupção educação, segurança.

Na visão do cônsul-geral dos Estados Unidos em São Paulo, Thomas White, que deixou o cargo em meados de 2010, o movimento não era apartidário.

Assim começa um comunicado enviado a Washington no dia 18 de setembro de 2007: “Na tentativa de aplacar o descontentamento popular com o governo Lula, um grupo de empresários de São Paulo lançou o Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros, conhecido informalmente como ‘Cansei’ (I’m tired)”.

O documento segue dizendo que “apesar de os líderes insistirem no apartidaridarismo e dizerem que o movimento não ataca ninguém especificamente, tem causado forte reação de movimentos sociais e entidades ligadas ao governo Lula, que caracterizam o Cansei como um grupo de membros ricos da elite branca sem nada melhor para fazer do que reclamar”.

White diz ainda que o movimento não sabia direito para que direção avançar. “Conforme descrito em seu site e cartazes publicitários, os membros do Cansei estão fartos do caos aéreo, do poder dos traficantes, das crianças nas ruas, balas perdidas e tanta corrupção”.


Conversas com D’Urso



A Washington, White comenta sobre um encontro entre oficiais da embaixada americana, Luiz Flávio Borges D’Urso e representantes da OAB de São Paulo no dia 29 de agosto de 2007.

“A OAB organiza frequentemente programas em conjunto com as mesmas associações empresariais que fazem parte do ‘Cansei’. De acordo com D’Urso, faz parte dos interesses da organização elogiar o governo mas também criticá-lo quando for o caso”.

O presidente da OAB São Paulo também aproveitou o encontro para criticar a resolução da arquidiocese de São Paulo, que proibiu o Cansei de fazer uma manifestação na Catedral da Sé em julho daquele ano e obrigou o movimento a fazer seu “um minuto de silêncio de indignação” ao ar livre. “Para D’urso, o arcebispo se curvou diante da pressão e não quis criar controvérsias”


FHC: “não é um lema para Martin Luther King”



Outra parte do documento diz que os líderes do “Cansei” não ajudaram ao tentar contar seu lado da história. “Entrevistado pela revista Veja, João Dória Jr. queixou-se que a opinião pública discrimina os bem sucedidos e ricos (…) e que sua imagem de alguém que nunca fumou, bebeu ou usou drogas, não briga, não fala palavrões e usa gel no cabelo tornou difícil aos brasileiros comuns se identificarem com sua causa”.

White diz também que o presidente da Philips no Brasil, Paulo Zotollo, atraiu atenção negativa quando disse a um jornal que, ao apoiar o movimento Cansei, desejava remexer no “marasmo cívico” do Brasil, e afirmou:

“Não se pode pensar que o país é um Piauí, no sentido de que tanto faz quanto tanto fez. Se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado”. “Zottolo insistiu que sua observação tinha sido tirado do contexto, mas, novamente, o estrago já estava feito” diz o americano.

Thomas White conclui o telegrama dizendo que o slogan “Cansei”, embora possa resumir com precisão os sentimentos de algumas pessoas, não é muito eficaz como um grito de guerra.

“Como ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comentou recentemente ao cônsul-geral, não é um lema que Martin Luther King, Jr., teria escolhido para inspirar seus seguidores”, revela White.
Para ele, “os líderes do movimento, por toda sinceridade e seriedade tornaram-se alvos fáceis para a caricatura”.

Em 2011, não há mais vestígios do Cansei. A página do movimento foi tirada do ar.

http://apublica.org/2011/06/wikileaks-consul-e-fhc-ironizam-movimento-%e2%80%9ccansei%e2%80%9d/

Olívio Dutra exemplo de político honesto.


Olívio Dutra, o anti-Palocci




por Lucas Azevedo, de Porto Alegre, em CartaCapital

Olívio Dutra
Em um velho prédio numa barulhenta avenida de Porto Alegre, em companhia da mulher, vive há quatro décadas o ex-governador e ex-ministro Olívio Dutra. Em três ocasiões,

Dutra abandonou seu apartamento: nas duas vezes em que morou em Brasília, uma como deputado federal e outra como ministro, e nos anos em que ocupou o Palácio do Paratini, sede do governo gaúcho.

Apesar dos diversos cargos (também foi prefeito de Porto Alegre), o sindicalista de Bossoroca, nos grotões do Rio Grande, leva uma vida simples, incomum para os padrões atuais da porção petista que se refastela no poder.


No momento em que o PT passa por mais uma crise ética, dessa vez causada pela multiplicação extraordinária dos bens de ex-ministro Palocci, Dutra completou 70 anos. Diante de mais uma denúncia que mina o resto da credibilidade da legenda, ele faz uma reflexão: “Política não é profissão, mas uma missão transitória que deve ser assumida com responsabilidade”.

De chinelos, o ex-governador me recebe em seu apartamento na manhã de terça-feira 14. Sugeriu que eu me “aprochegasse”. Seu apartamento, que ele diz ter comprado por meio do extinto BNH e levado 20 anos para quitar, tem 64 metros quadrados, provavelmente menor do que a varanda do apê comprado por Palocci em São Paulo por módicos 6,6 milhões de reais.

Além dele, o ex-governador possui a quinta parte de um terreno herdado dos pais em São Luiz Gonzaga, na região das Missões, e o apartamento térreo que está comprando no mesmo prédio em que vive.

“A Judite (sua mulher) não pode mais subir esses três lances de escada. Antes eu subia de dois em dois degraus. Hoje, vou de um em um.” E por que nunca mudou de edifício ou de bairro? “A vida foi me fixando aqui. E fui aceitando e gostando”.

Sobre a mesa, o jornal do dia dividia espaço com vários documentos, uma bergamota (tangerina), e um CD de lições de latim.

Depois de exercer um papel de destaque na campanha vitoriosa de Tarso Genro ao governo estadual, atualmente ele se dedica, como presidente de honra do PT gaúcho, à agenda do partido pelos diretórios municipais e às aulas de língua latina no Instituto de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

“O latim é belíssimo, porque não tem nenhuma palavra na sentença latina que seja gratuita, sem finalidade. É como deveria ser feita a política”, inicia a conversa, enquanto descasca uma banana durante seu improvisado café da manhã.

Antes de se tornar sindicalista, Dutra graduou-se em Letras. A vontade de estudar sempre foi incentivada pela mãe, que aprendeu a ler com os filhos. E, claro, o nível superior e a fluência em uma língua estrangeira poderiam servir para alcançar um cargo maior no banco.

Mas o interior gaúcho nunca o abandonou. Uma de suas características marcantes é o forte sotaque campeiro e suas frases encerradas com um “não é?” “Este é o meu tio Olívio, por isso tenho esse nome, não é? Ele saiu cedo lá daquele fundão de campo por conta do autoritarismo de fazendeiro e capataz que ele não quis se submeter, não é?”,

relembra, ao exibir outra velha foto emoldurada na parede, em que posam seus tios e o avô materno com indumentárias gaudérias. “É o gaúcho a pé. Aquele que não está montado no cavalo, o empobrecido, que foi preciso ir pra cidade e deixar a vida campeira”.

Na sala, com exceção da tevê de tela plana, todos os móveis são antigos. O sofá, por exemplo, “tem uns 20 anos”. Pelo apartamento de dois quartos acomodam-se livros e CDs, além de souvenires diversos, presentes de amigos ou lembrança dos tempos em que viajava como ministro das Cidades no primeiro mandato de Lula.

Dutra aposentou-se no Banrisul, o banco estadual, com salário de 3.020 reais. Somado ao vencimento mensal de 18.127 reais de ex-governador, ele leva uma vida tranquila. “Mas não mudei de padrão por causa desses 18 mil. Além do mais, um porcentual sempre vai para o partido. Nunca deixei de contribuir”.

Foi como presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, em 1975, que iniciou sua trajetória política. Em 1980, participou da fundação do PT e presidiu o partido no Rio Grande do Sul até 1986, quando foi eleito deputado federal constituinte.

Em 1987, elegeu-se presidente nacional da sigla, época em que dividiu apartamento em Brasília com Lula e com o atual senador Paulo Paim, também do Rio Grande do Sul. “Só a sala daquele já era maior do que todo esse meu apartamento”.

Foi nessa época que Dutra comprou um carro, logo ele que não sabe e nem quer aprender a dirigir. “Meu cunhado, que também era o encarregado da nossa boia, ficava com o carro para me carregar.” Mas ele prefere mesmo é o ônibus.

“Essa coisa de cada um ter automóvel é um despropósito, uma impostura da indústria automobilística, do consumismo”. Por isso, ou anda de carona ou de coletivo, que usa para ir à faculdade duas vezes por semana.

“Só pra ir para a universidade, gasto 10,80 reais por dia. Como mais de 16 milhões de brasileiros sobrevivem com 2,30 reais de renda diária? Este país está cheio de desigualdades enraizadas”, avalia, e aproveita a deixa para criticar a administração Lula.

“O governo não ajudou a ir fundo nas reformas necessárias. As prioridades não podem ser definidas pela vaidade do governante, pelos interesses de seus amigos e financiadores de campanha. Mas, sim, pelos interesses e necessidades da maioria da população”.

O ex-governador lamenta os deslizes do PT e reconhece que sempre haverá questões delicadas a serem resolvidas. Mas cabe à própria sigla fazer as correções.

“Não somos um convento de freiras nem um grupo de varões de Plutarco, mas o partido tem de ter na sua estrutura processos democráticos para evitar que a política seja também um jogo de esperteza”.

Aproveitei a deixa: e o Palocci? “Acho que o Palocci fez tudo dentro da legitimidade e da legalidade do status quo. Mas o PT não veio para legitimar esse status quo, em que o sujeito, pelas regras que estão aí e utilizando de espertezas e habilidades, enriquece”.

E o senhor, com toda a sua experiência política, ainda não foi convidado para prestar consultoria? Dutra sorri e, com seu gestual característico, abrindo os braços e gesticulando bastante, responde: “Tem muita gente com menos experiência que ganha muito dinheiro fazendo as tais assessorias. Mas não quero saber disso”.

Mas o senhor nunca recebeu por uma palestra? “Certa vez, palestrei numa empresa, onde me pagaram a condução, o hotel e, depois, perguntaram quanto eu iria cobrar. Eu disse que não cobro por isso. Então me deram de presente uma caneta. E nem era uma caneta fina”, resumiu, antes de soltar uma boa risada.

Tribunal Penal Internacional côrte de escroques a serviço dos E.U.A

Após o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitir um mandado de prisão contra o ditador da Líbia, Muammar Gaddafi, ao menos três ministros de seu governo foram à Tunísia para negociar com "representantes estrangeiros", afirma o jornal espanhol "El País".

Entre os ministros que negociam na ilha tunisiana de Yerba está o chanceler líbio, Abdelati Obeidi, afirma o diário citando a agência de notícias estatal da Tunísia, TAP.
As informações do jornal chegam no mesmo dia em que o procurador-geral do TPI, o argentino Luis Moreno Ocampo, disse que as negociações não interferem no pedido de prisão, que tem caráter de urgência.

"Há uma necessidade urgente de negociação (na Líbia), mas a negociação tem de respeitar as resoluções da ONU e as decisões dos juízes do TPI", declarou Ocampo à imprensa um dia depois de os juízes da Corte emitirem uma ordem de detenção contra Gaddafi, seu segundo filho, Saif al Issam e o chefe da espionagem líbia, Abdullah al Senussi.

O procurador-geral argentino se mostrou otimista sobre as possibilidades de captura do ditador líbio e inclusive se aventurou a estimar que sua detenção não durará mais de "dois ou três meses".

Moreno Ocampo se mostrou convencido que a isso ajudará a "vontade de executar a detenção" que lhe expressaram hoje representantes do governo interino da Líbia, regido pelos opositores ao regime e cujo ministro da Justiça, Mohammed al Alagi, se encontra nesta terça-feira em Haia.

"Nesta segunda-feira foi o dia em que os juízes emitiram sua decisão, (...) hoje é o momento da detenção", declarou o chefe da Procuradoria do TPI, que disse que quarta-feira se reunirá na sede da Corte com o representante do órgão dos rebeldes, o Conselho Nacional de Transição (CNT), Mahmoud Gibril.

MINISTROS

Ocampo advertiu às autoridades de Trípoli que caso não colaborem com a prisão do ditador, se "arriscam a ser perseguidos" pela Justiça Internacional.
Lembrou também às autoridades líbias que embora não sejam parte do Estatuto do TPI, devem cumprir com os mandatos do Conselho de Segurança da ONU, que é quem remeteu o caso da Líbia à promotoria da corte.

"Se Gaddafi viaja para um Estado-membro (da Corte), será detido", afirmou Ocampo, quem lembrou que seu escritório segue investigando supostos crimes na Líbia, como encobrimento de delitos e violações.

Dado que o TPI carece de uma estrutura policial, depende dos Estados a execução das ordens de detenção contra seus processados.

A ordem de captura emitiu quando se procura uma saída negociada ao conflito, que passaria por um possível exílio de Gaddafi ou que este, após abandonar o poder, permanecesse em algum lugar da Líbia.

Mas a ordem de detenção do TPI poderia pôr fim a estas opções, especialmente depois que o mesmo Conselho Nacional manifestasse após conhecer a decisão da Corte que não se pode "negociar com criminosos de guerra".

Globo deixa jornais mais populares e libera âncoras para comentar

A partir de setembro o telespectador assistirá a uma significativa mudança no telejornalismo da Globo, hoje líder de audiência em praticamente todos os horários na TV aberta. Baseada em pesquisas, a Globo vai promover, ao mesmo tempo, uma dança das cadeiras entre apresentadores e uma mudança editorial, em busca de um conteúdo menos sofisticado e mais popular.

Além de mudanças na pauta jornalística, a emissora deve liberar alguns âncoras para fazer comentários. Chico Pinheiro, que substituirá Renato Machado no "Bom Dia Brasil"; César Tralli, que ocupará o lugar de Chico no "SPTV 1ª Edição"; e Evaristo Costa, no "Hoje", poderão comentar livremente o noticiário, sempre que acharem conveniente.
Costa e sua parceira Sandra Annenberg têm utilizado esse expediente com mais intensidade nas últimas semanas.

Questionada, a Globo informou, por meio de sua assessoria, que os âncoras do jornal "Hoje", "um jornal mais leve, sempre tiveram liberdade para fazer seus comentários".
As mudanças devem atingir até as tradicionais receitas culinárias ensinadas pelo "Hoje". Devem sair os pratos sofisticados, como o magret de canard, e entrar a mesa popular, como o feijão tropeiro e a bisteca.

Historicamente, na Globo, com exceção do esporte, os comentaristas sempre estiveram confinados ao último jornal da grade, o "Jornal da Globo". Agora o "Bom Dia Brasil" já conta com um comentarista policial (Rodrigo Pimentel). Trata-se de expediente que outras TVs, como Record e SBT, já usam há décadas.

Aparentemente, a pesquisa feita pela Globo apontou que os telespectadores aprovam os comentários de âncoras, mas sentem mais facilidade em entender um assunto quando ele é tratado por um especialista ou convidado --especialmente nos casos de segurança publica e política. Com as mudanças, Renato Machado será correspondente na Europa, e Mariana Godoy vai assumir o "Jornal das Dez", na Globonews.

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/935936-globo-deixa-jornais-mais-populares-e-libera-ancoras-para-comentar.shtml

Brasileiros são os mais barrados na Europa


 

Segundo agência europeia, 6 mil tiveram entrada recusada em aeroportos em 2010. País é o 6º em permanência ilegal
O Globo
Os brasileiros são os estrangeiros que mais tiveram a entrada recusada nos aeroportos da União Europeia em 2010 e o sexto grupo com mais permanências ilegais detectadas. De acordo com a agência europeia de controle de fronteiras, Frontex, no ano passado 6.072 brasileiros foram barrados pelas autoridades europeias ao tentarem entrar no bloco por via aérea, o equivalente a 12% do total de entradas recusadas. Os dados foram divulgados pela BBC Brasil.
Quase 30% dos casos com brasileiros foram na Espanha, onde 1.813 pessoas foram enviadas de volta ao Brasil, principalmente por não poderem justificar o motivo da viagem ou as condições de estada no país.
Os brasileiros também foram os mais barrados nos aeroportos da França em 2010, com 673 casos.
O Brasil mantém a primeira posição entre as entradas negadas nos aeroportos europeus desde que a Frontex começou a contabilizar o dado, em 2008, mas a agência destaca que o número de casos caiu 24% no ano passado em relação a 2009.
— A razão está relacionada à crise econômica. Com menos oportunidades de emprego, a União Europeia se tornou destino menos atrativo para imigrantes. Por isso houve queda significativa no tráfego aéreo para a UE, inclusive a partir do Brasil — explicou à BBC Brasil Izabella Cooper, porta-voz da Frontex.
Em segundo lugar, muito atrás do Brasil, estão os Estados Unidos, com 2.338 cidadãos barrados às portas da União Europeia em 2010, o equivalente a 4,8% do total, seguidos de Nigéria, com 1.717 barrados, e China, com 1.610.
Apenas outros dois países latino-americanos estão entre as dez nacionalidades mais recusadas nas fronteiras aéreas europeias: Paraguai, em sexto, com 1.495 entradas negadas, e Venezuela, em décimo, com 1.183.
De maneira geral, considerando também fronteiras terrestres e marítimas, os brasileiros foram a quarta nacionalidade mais recusada na Europa no ano passado, com 6.178 negativas, ou 5,7% do total.
Em primeiro lugar ficaram os ucranianos, que responderam por 17% do total, com 18.743 negativas, seguidos de russos, com 9.165 negativas, e sérvios, com 6.990.  

No ano passado, a Frontex também detectou 13.369 brasileiros vivendo ilegalmente em algum país europeu — a maioria deles em Portugal, Espanha e França.
O número representa 3,8% do total de residentes ilegais identificados no bloco em 2010 e coloca o Brasil na sexta posição da lista, liderada por Marrocos, com 6,3% do total.
Na frente dos brasileiros também ficaram os cidadãos de Afeganistão, Albânia, Sérvia e Argélia.

Deputados clientelistas da base governista prega o salve-se quem puder

Ideli sinaliza com cancelamento de emendas

 Ideli Salvatti
Em uma bateria de reuniões com parlamentares da base do governo, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, deixou o recado de que a presidente Dilma não pretende prorrogar o decreto que trata das emendas dos parlamentares dos anos anteriores.
O primeiro encontro de Ideli foi com os deputados do PT na manhã de hoje. À tarde foi a vez dos líderes da base aliada.
Os parlamentares querem que o decreto seja prorrogado por mais 90 dias.
A respeito do que ouviu de Ideli, disse, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN):
- O clima é de preocupação, pois esse decreto já era para ter sido prorrogado. Se não for, naturalmente ocorrerá um mal estar na Casa.
O líder o PR, Lincoln Portela (MG) observou: “Eu não seguro mais o partido, nem o bloco. Cada um vai votar como quiser. Agora vai ser a lei da sobrevivência”.
Uma das alternativas como retaliação que pode se posta em prática contra o Planalto é esvaziar o plenário nas votações de interesse do Executivo.
“Pode ser uma estratégia, mas não apareceu na reunião [de líderes realizada nesta tarde ]”, admitiu o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS).
Outra demanda levada à Ideli pelos líderes da base foi a reivindicação de se liberar 50% das emendas dos parlamentares relativas a esse ano até o recesso do Congresso em julho.
Além disso, foi sugerido a ela que os novos deputados recebam 50% do valor das emendas daqueles deputados que não retornaram nas últimas eleições.
Tais emendas ao Orçamento da União destinam recursos para a costrução de obras em redutos eleitorais dos parlamentares.
Na prática esses novos deputados receberiam R$ 3 milhões até o recesso e mais R$ 3 milhões até o fim do ano.

A prevalencia da razões políticas para os polítcos sobre a causa pública.

Janio de Freitas, Folha de S. Paulo
Políticos são políticos em toda parte, e a causa pública é pública, mas não é causa em parte alguma. A razão política prevalece para eles e sobre ela.
Um exemplo daqui mesmo, que se repete a cada dia brasileiro, mudados apenas os aspectos físicos, humanos ou não.
Deputados fluminenses, com ares alarmados, adotam iniciativas firmes, diante das notícias de ligação de Sérgio Cabral Filho com empresários, por sua vez, ligados a concessões estaduais; e alarmados, ainda, com a quantidade e o valor das contratações de um deles para obras chamadas emergenciais, sem licitação pública.
Providenciam-se um levantamento de tais contratações, com os respectivos pormenores, e um projeto de lei que proíba o recebimento, pelos governadores fluminenses, de favores, presentes e outras generosidades, assim como lei federal determina ao (à) presidente da República.
Um país que precisa de tal lei para a própria Presidência, não bastando a simples recomendação da ética, não suscita qualquer dúvida sobre a dimensão dos valores morais em seus costumes políticos e administrativos. Vamos adiante.
Sérgio Cabral Filho não mudou seus modos de governador, vindos do primeiro mandato. No máximo, tornou-os mais repetitivos, tão logo superada a fase de adaptação às circunstâncias do cargo, e passou a ostentar uma arrogância de que jamais dera nem o mais sutil sinal. Em contraste com o exercício permanente de sedução, no qual fora considerado imbatível.
As contratações com dispensa de licitação, tidas como 17, não são recentes. Para constatá-las nas ocasiões de suas ocorrências, os deputados agora ativos já dispunham de equipes de assessoria, tempo, recursos técnicos, infraestrutura e documentação oficial consultável sem dificuldade, disponível inclusive no Tribunal de Contas do Estado.
Os espantos e as urgências de hoje atestam que nenhum dos atuais defensores dos interesses públicos teve interesse algum na devida ocasião. Aquela em que, se constatada irregularidade, sustariam contrato após contrato.
Foi necessária a tragédia no litoral baiano para que as relações empresariais de Sérgio Cabral Filho, com seus desdobramentos noticiosos, acendessem o interesse dos políticos vigilantes.
É difícil distinguir se foram movidos pela causa pública ou pela tragédia. Se pela causa pública, não se explica que precisasse haver a tragédia para despertar seu interesse. Não foi a tragédia. Nem foi a causa pública. Foi a conveniência, o momento enfim conveniente à razão política. Se não surgisse sob outra forma, paciência - por si, a causa pública não se faz causa.

Prefeito de Campinas indica dois ministros como testemunhas de defesa.

Acusado de fraudes, o prefeito de Campinas chama para depor em sua defesa dois ministros denunciados por irregularidades: Orlando Silva e Carlos Lupi.


Carlos Newton

Orlando Silva Jr
O ministro do Esporte, Orlando Silva Jr., diz que foi “surpreendido” ao ser indicado como testemunha de defesa pelo prefeito de Campinas, Hélio de Oliveira Santos, o Dr. Hélio (PDT-SP), no processo sobre um esquema de fraudes em licitações na administração local. Mas adiantou que, quando convocado, irá falar sobre as parcerias de sua pasta e da União com a prefeitura, “em solidariedade” ao político.

Ministros e deputados federais estão na lista de testemunhas apresentada pelo prefeito para se defender em um processo que pode resultar no seu impeachment na Câmara dos Vereadores, em funções de irregularidades comandadas pela primeira-dama Rosely Nassin Jorge Santos, que era chefe de gabinete do prefeito e está sendo investigada pela Polícia Federal.

Detalhe: Dr. Helio alega que está sendo perseguido “por ser amigo do ex-presidente Lula e do ex-ministro José Dirceu”, vejam só que boa desculpa. Além de Orlando Silva (Esporte), o ministro Carlos Lupi (Trabalho e Emprego), que também é do PDT, está entre as testemunhas do prefeito. É curioso notar que ambos os ministros, Silva e Lupi, também são alvo de graves denúncias de irregularidades e deviam estar mais dedicados a cuidar das próprias defesas.

Orlando Silva, por exemplo, está emparedado por gravíssimas acusações de favorecimento a falsas ONGs comandadas por correligionários do PCdoB, no programa Segundo Tempo, cujo objetivo é aumentar o acesso de crianças carentes às práticas esportivas.

Em fevereiro, quando surgiram as denúncias, o ministro do Esporte também alegou estar sendo perseguido pela imprensa e foi se socorrer usando o chefe da Casa Civil como escudo, dizendo que o então ministro Antonio Palocci “ficou impressionado com o fato das respostas que nós oferecemos não terem sido veiculadas nas matérias publicadas.

Na verdade, as reportagens contra o Ministério do Esporte estavam repletas de fotos, entrevistas e números, que são irrespondíveis. O Tribunal de Contas da União imediatamente anunciou que vai fazer um monitoramento completo do programa Segundo Tempo. Há vários processos no TCU que apontam para irregularidades no programa: em licitações, na execução dos convênios com prefeituras e no repasse de contrapartidas. Mesmo assim, a presidente Dilma, estranhamente, ainda mantém Orlando Silva na pasta do esporte.

Carlos Lupi responde ao mesmo tipo de denúncias, todas também comprovadas e envolvendo favorecimentos a ONGs comandadas por integrantes do PDT. Portanto, com tamanha especialização em fraudes e favorecimentos oficiais, certamente Carlos Lupi e Orlando Silva estão na obrigação de dar um show na defesa de Dr. Helio e sua amantíssima esposa. Entendem do
assunto como poucos.

Incentivos fiscais de Cabral impedem reajustes do funcionalismo

 


Pedro do Coutto


Os incentivos fiscais concedidos pelo governo Sérgio Cabral, no período de 2007 a 2010, segundo reportagem de Italo Nogueira, Marco Antonio Martins e Bernardo Mello Franco, Folha de São Paulo de segunda-feira 27, atingem exatamente 50,1 bilhões de reais, quase a metade da receita tributária estadual no mesmo período. Os autores da reportagem – clara como copo d’água – revelam terem obtido os dados na própria Secretaria da Fazenda. Comparativamente, aqui estão eles.

No exercício de 2007, ano inicial do primeiro mandato do governador, a receita tributária, sempre baseada fortemente no ICMS, foi de 20,2 bilhões. As renúncias fiscais somadas alcançaram 8,8 bilhões. Em 2008, para uma arrecadação de 22,9 bilhões, os incentivos registraram a cifra de 10,9 bilhões.

No ano de 2009, para uma receita de 24,9 bilhões, o RJ concedeu incentivos na escala de 15,1 bilhões. Finalmente em 2010, a comparação foi a seguinte: receita de 20,1 bilhões, incentivos fiscais na escala de 15,3 bilhões de reais. Assim, em todo quatriênio, os tributos forneceram 101,1 bilhões, o volume dos incentivos foi de 50,1 bilhões de reais.

O montante dos incentivos liberados para empresas, analisando-se detidamente os números, bloqueou tanto o programa de investimentos públicos do próprio executivo quanto a capacidade de o governo reajustar linearmente os vencimentos do funcionalismo civil e militar, aliás como determina a Constituição federal e a Constituição do Estado repete, como não poderia deixar de ser. O dispositivo da CF que estabelece a revisão anual e geral é o item 10 do artigo 37.

O bloqueio dos investimentos estatais pode ser diretamente identificado se compararmos os incentivos fiscais com a rubrica específica dos investimentos para 2011, contida esta no balanço da execução orçamentária publicada no Diário Oficial de 30 de maio.

Até o final deste exercício as aplicações reprodutivas de capital estão previstas de apenas 6 bilhões e 28 milhões de reais. Doze por cento do orçamento, projetado em 54 bilhões e 93 milhões. Dessa forma, os incentivos concedidos ao longo dos quatro primeiros anos do governo Sérgio Cabral representam mais de 8 vezes o plano de investimentos para o exercício em curso. Pelo visto, as renúncias fiscais não surtiram o efeito reprodutivo desejado. Pois, se assim fosse, os investimentos fixados para 2011 seriam maiores do que são.

Os incentivos fiscais em cascata impediram paralelamente a concessão de reajustes aos funcionários civis e militares. Levando-se em conta apenas reajustes (acréscimos iguais à taxa de inflação) e nem considerando aumentos reais (elevação superior ao índice inflacionário).

Vê-se que renúncias tributárias bloquearam tudo. É só ver os números relativos às despesas de pessoal. Para este ano, também de acordo com o Diário Oficial de 30 de maio, os desembolsos previstos com o funcionalismo civil e militar ativo são de 13 bilhões de reais. Com aposentados, pensionistas e reformados mais 7,9 bilhões. Ao todo, portanto, 20,9 bilhões de reais. Praticamente 40% do limite da lei orçamentária.

Não tivesse o governo aberto mão de tantos impostos, a receita estadual seria bem maior e, com isso, o percentual de 40% aplicado aos funcionários produziriam um resultado em números absolutos superior ao de hoje. E o estado não teria, como tem, (está no DO) uma dívida interna da ordem de 2,3 bilhões. Dívida custa dinheiro e quem paga tudo, no final da ópera, é a população.

O panorama do RJ não é boa: o estado depende dos royalties do petróleo: 6,4 bilhões que recebe este ano da Petrobrás, correspondendo a 13% da receita geral. Sem eles, a administração entra em crise financeira. Não tem portanto cabimento dar tantos incentivos tributários como os concedidos.

Marieta Severo deve interpretar Dilma Rousseff no cinema

 

27/6/2011 9:51, Redação, com Vermelho - de São Paulo


  

A atriz Marieta Severo ficou feliz com a lembrança

A atriz Marieta Severo, 64, é cotada para interpretar a presidente Dilma Rousseff no cinema. O roteiro, ainda em fase de pré-produção, será baseado no livro A Primeira Presidenta, do jornalista, analista político e palestrante Helder Caldeira, que faz um paralelo entre a trajetória política de Dilma e o processo de redemocratização do Brasil.

O produtor Antônio de Assis, que comprou os direitos cinematográficos da obra na semana passada, convidou a atriz na noite de sexta-feira. De acordo com ele, a resposta de Marieta foi positiva, mas ainda há detalhes a serem acertados. Segundo o agente da atriz, Marieta “ficou feliz com a lembrança” e “a princípio aceitou [o convite], mas ainda vai ler o roteiro e estudar a proposta”. Ela preferiu não dar entrevista por enquanto.

Marieta Severo é uma das atrizes mais premiadas do teatro brasileiro. Ex-mulher do cantor e compositor Chico Buarque, com quase 50 anos de carreira, ela tem dezenas de trabalhos na televisão e no cinema.

O escritor Helder Caldeira, que supervisionará o roteiro cinematográfico, afirmou que o financiamento do filme vai “se distanciar o máximo possível” de recursos públicos.

– É a nossa convicção de trabalho –, disse ele, que nega ter escrito uma biografia da presidente.
Segundo Caldeira, a obra é uma “análise política” que tenta explicar “como uma mulher que tinha sido torturada há menos de 40 anos era a mesma mulher que estava na TV, em 1º de janeiro, passando as tropas em revista como comandante-em-chefe”.

A versão cinematográfica, porém, vai citar brevemente a infância, a adolescência e a fase de militância de Dilma durante o regime militar.

– A redemocratização é o período em que temos informações sobre ela. Os documentos da ditadura estão naqueles arquivos em que não podemos mexer –, disse.

O livro, escrito durante seis dias em janeiro de 2011, era vendido sob encomenda pela internet, mas será lançado pela editora Faces. O filme deve chegar aos cinemas em um ano e meio.
– Vamos começar a filmar em fevereiro de 2012 e o lançamento está previsto para dezembro de 2012 –, disse Caldeira.

Por que Sergio Cabral se preocupa tanto com o empréstimo do jato Legacy de Eike Batista, quando há denúncias muito mais importantes para responder?


Carlos Newton

Ibrahim Sued costumava dizer que “em sociedade tudo se sabe”. É verdade, segredos duram muito pouco. No caso do governador Sergio Cabral, que é um dos destaques da sociedade carioca, não somente pela importante função política, mas também pela fortuna que amealhou nos últimos anos, pode-se dizer que a vida dele é hoje um livro aberto.

A cada dia a imprensa aperta o cerco ao governador, as informações vão surgindo inexoravelmente. Cabral se desespera. Não tem condições de fazer nada, a não ser assistir à própria derrocada. Ontem terminou a licença que pediu, a pretexto do choque pela morte trágica da namorada de um de seus filhos, além de outras seis vítimas da queda do helicóptero, todas ligadas intimamente a ele.
Grande número de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas aguardaram ontem no Palácio Guanabara que o governador enfim respondesse às pesadas denúncias que se acumularam nos últimos dias. Mas a espera foi em vão. Nenhuma declaração, nenhuma palavra, nada, nada.

A única informação que vazou foi de que Cabral mandou chamar um dos executivos de Eike Batista para uma reunião em seu gabinete, com objetivo de justificar o uso do jatinho do empresário na ida a Porto Seguro.

Esta única e escassa informação, por si só, aparentemente mostraria o grau da desorientação que atinge o governador. Com tantas denúncias pesadas de corrupção, por que ele se preocuparia exatamente com o empréstimo do luxuoso jato Legacy de Eike? Por que tamanha preocupação com um detalhe que parece até irrelevante em relação à gravidade das demais questões.
Mas acontece que, muitas vezes, são os pequenos detalhes que explicam tudo.

***
DUAS VERSÕES BEM CONFLITANTES


Na quarta-feira passada, dia 22, o blog da Tribuna questionou a versão da assessoria do governador sobre a hora da viagem. Mostramos que as primeiras matérias publicadas por O Globo sobre o acidente do helicóptero em Porto Seguro noticiaram que Cabral estava em Porto Seguro desde a sexta-feira de manhã, pelo menos, segundo relato do prefeito Gilberto Pereira Abade, que encontrou o governador passeando pela cidade, de acordo com declarações publicadas pelo maior jornal baiano, A Tarde.

E mais: lembramos que a reportagem de O Globo também divulgou que “o acidente aconteceu após um almoço do grupo no Villa Vignoble Terravista Resort, em Trancoso. De lá, os convidados começaram a ser levados para o Jacumã Ocean Resort, a uma distância de 15 km. Como eram várias pessoas, foi preciso fazer várias viagens”.

Jacumã Ocean Resort
Na edição de terça-feira, porém, O Globo publicou sem qualquer contestação uma informação oficial da assessoria do governador, que mudava tudo, dando conta de que Cabral, o filho e a namorada teriam viajado para a Bahia junto com a família Cavendish, no final da tarde de sexta-feira, no jato de Eike Batista, que teria decolado do Santos Dumont às 17 horas.

Como se vê, a “informação oficial” da assessoria do governador desmoralizava totalmente as matérias de O Globo e de A Tarde, como se os repórteres tivessem inventado não somente a realização de um almoço em Trancoso, mas também estivessem mentindo sobre o fato de o prefeito de Porto Seguro ter se encontrado com Cabral na sexta-feira de manhã.

E nem O Globo e nem A Tarde se preocuparam em desmentir a versão do governador. Aqui na Tribuna, demonstramos que a versão de O Globo e de A Tarde era muito mais factível do que a informação divulgada pela assessoria de Cabral, pelos seguintes motivos:
1) A viagem Rio-Porto Seguro, em boas condições meteorológicas, dura bem mais de uma hora, porque a distância é de 400 milhas náuticas (740 km) e a velocidade máxima do Legacy é de pouco mais de 800 km/h.

2) Contando o tempo perdido em decolagem, aterrissagem e outros procedimentos, a viagem teria durado bem mais de um hora, porque o tempo estava ruim.

3) Assim, se o jatinho de Eike decolou do Rio às 17 horas, a que horas chegou a Porto Seguro?

4) Como foi amplamente divulgado, o helicóptero levava 10 minutos no percurso Porto Seguro-Jacumã. A decolagem fatídica do helicóptero ocorreu às 18h31m, segundo O Globo. Como antes o helicóptero já havia feito uma viagem, conduzindo o governador e a esposa do piloto, e depois voltando a Porto Seguro, o tempo vai ficando cada vez mais escasso para confirmar a versão da assessoria de Cabral, de que o jatinho decolara do Rio às 17 horas.
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FOLHA DESMENTE VERSÃO DE CABRAL


Ontem, a assessoria de Cabral reafirmou que ele embarcou do Rio para Porto Seguro às 17 horas da sexta-feira, dia 17. A mesma informação foi novamente prestada pela assessoria da EBX, empresa do empresário Eike Batista.

Mas acontece que a presença de Cabral em Porto Seguro foi confirmada por funcionários da Fazenda Jacumã, um condomínio de casas luxuosas próximo a Porto Seguro, onde ocorreria a festa de Cavendish. Dois funcionários, que pediram para ter a identidade preservada, relataram ao repórter Graciliano Rocha, da Folha, terem visto o governador no local antes do meio-dia.

O jatinho de Eike
O jornalista apurou também que o avião que transportou o governador à Bahia deveria pousar na pista do Terravista, um condomínio de luxo a cerca de 20 km de Jacumã. Segundo funcionários do aeroporto privado, também ouvidos pela Folha, a gerência da Jacumã telefonou na manhã do dia 17 para perguntar se um jato com o governador do Rio poderia pousar na pista e se o helicóptero Esquilo, pilotado por Marcelo Mattoso Almeida (uma das vítimas), poderia levá-lo à fazenda, a 10 minutos de voo.

Como o tempo estava chuvoso e o Terravista não opera pousos e decolagens por instrumentos, os operadores indicaram que a aeronave deveria se dirigir a Porto Seguro.

A administração do Aeroporto de Porto Seguro e a Aeronáutica não se manifestaram sobre o horário da chegada do jato privado com Cabral e os voos realizados pelo helicóptero de Almeida.
No Rio, de acordo com a assessoria do governador, a informação de que Cabral e sua comitiva viajaram às 17 horas poderia ser confirmada no Aeroporto Santos Dumont e também na Escola Britânica, onde ele teria passado para ver os filhos pouco antes de embarcar.

Procurados pela Folha, o aeroporto Santos Dumont e a Aeronáutica afirmaram que a informação sobre o horário de saída do avião é sigilosa. Já na Escola Britânica, não foram localizadas pessoas que pudessem confirmar a presença de Sérgio Cabral no local. Traduzindo: está mais do que comprovado que a versão de Cabral é mentirosa, conforme a Tribuna adiantou na terça-feira passada, com total e absoluta exclusividade.

Agora só resta explicar que essa fixação de Cabral em mudar a data do vôo tem apenas um objetivo: aliviar o peso de sua consciência, conforme já explicamos aqui na Tribuna, também na terça-feira. Cabral, indiretamente, foi o culpado pela morte da namorada do filho.

Se o governador tivesse cumprido sua obrigação e trabalhado normalmente na sexta-feira, sem inventar um fim de semana prolongado que nao existia, se não tivesse pedido emprestado o jato Legacy de Eike Batista, ao qual também é tão ligado, não teria levado o filho e a namorada a perderem o dia de aula, nada disso teria acontecido, e ele não estaria chorando a morte da jovem que seu filho Marco Antonio tanto amava.

Esta é a realidade de uma tragédia que nunca deveria ter ocorrido, na trajetória de um político que nasceu limpo e nunca deveria ter se enfeitiçado pelo fascínio da riqueza corrompida. E há muito mais a falar sobre esse rumoroso caso. E daqui a pouco a gente volta.

Exclusivo! Mais um incrível negócio imobiliário do governo Cabral


Hudson Braga, o Braguinha dá muita sorte nos negócios.


O “mala” de Pezão, Hudson Braga conseguiu uma façanha inédita no ramo imobiliário brasileiro, conforme poderão comprovar vendo as escrituras reproduzidas abaixo, que revelam a compra de um apartamento na Barra da Tijuca. Hudson Braga é o subsecretário de Pezão que cuida de todas as obras, inclusive a reforma do Maracanã. É um homem de sorte como verão. A toda a hora vemos notícias que dão conta que o mercado do Rio de Janeiro está superaquecido, especialmente na Barra. Pois para o “mala” de Pezão o mercado imobiliário da Barra está mais frio do que no Pólo Norte. Conseguiu comprar por R$ 400 mil um apartamento que a proprietária anterior adquiriu um mês antes por R$ 600 mil. A história é a seguinte para vocês entenderem.

Trata-se de um apartamento na Rua Coronel Eurico de Souza Gomes Filho. Em 5 de outubro de 2009 é registrada uma promessa de compra e venda dos antigos proprietários para Thyene Costa Niedo de Oliveira, universitária, estipulando o valor de R$ 600 mil. No dia 15 de março de 2010 é efetuada a venda para Thyene, pelo valor acertado de R$ 600 mil. Até nada anormal.

A surpresa vem agora, menos de um mês depois de ter comprado o apartamento (15 de março de 2010), observem que no dia 12 de abril de 2010, Thyene vende o apartamento que comprou por R$ 600 mil para o empresário Hudson Braga e sua mulher Rosângela de Oliveira Machado Braga por R$ 400 mil, ou seja, R$ 200 mil a menos. Em menos de um mês um apartamento de R$ 600 mil desvalorizou para R$ 400 mil, na Barra da Tijuca. Hudson Braga é mesmo um homem de muita sorte!


Escrituras do apartamento comprado pelo subsecretário de Pezão
Escrituras do apartamento comprado pelo subsecretário de Pezão

Extraido do blog do Garotinho.


WIKILEAKS: Aécio Neves comentou sobre disputa com Serra a cônsul

Mensagem do consulado americano no Rio de Janeiro a Washington revela a tensão pré-disputa eleitoral dentro do PSDB em 2009.


Por Ana Aranha, especial para a Pública


Um ano antes do pleito presidencial, Aécio já media forças com José Serra sobre quem seria o candidato tucano à presidência – mas, de acordo com o documento, alegava ser tudo de forma “amigável”.

Em conversa por telefone com o cônsul-geral do Rio de Janeiro Dennis Hearne em 20 de outubro de 2009, Aécio garantiu que os dois estavam empenhados em não deixar a disputa interna vazar para o público, gerando danos “do tipo visto entre Serra e Alckmin na última eleição”.

Na época da conversa, Aécio era governador de Minas Gerais e Serra era governador de São Paulo – dois dos mais importantes postos que o PSDB ocupava no país.

“Vamos manter postura amigável”, disse Aécio, ou pelo menos “até o fim de 2009”. A partir de janeiro de 2010, o senador disse que o partido deveria nomear um candidato, deixando intuir que essa seria a data para o fim do armistício. “Aécio não deixou dúvidas de que ele não vai esperar além dessa data”, diz o documento.

Em 2006, o partido rachou em São Paulo, enfraquecendo a candidatura de Geraldo Alckmin à presidência. Naquele ano, grupos “alckmistas” e “serristas” se cristalizaram e o fogo amigo se alastrou pelas as disputas posteriores, como no pleito à prefeitura de São Paulo em 2008, quando Serra deu apoio velado a Gilberto Kassab e derrotou Alckmin.

No ano seguinte, como previsto, os candidatos disputaram a vaga à candidatura com discrição. Ou pelo menos assim foi até que, depois de meses de diálogo “amigável”, Aécio deixou vazar que Serra o convidou para ser seu vice e ele negou a oferta.

Depois disso, mais de 20 nomes foram especulados para a vaga. A demora em definir o vice foi um dos pontos que pesou contra Serra na disputa contra a presidente Dilma Rousseff.

No final de maio deste ano, Serra saiu derrotado na briga interna pelo comando do PSDB e pela liderança na fila de pré-candidatos à presidência em 2014. Depois de tensa negociação, o grupo de Aécio Neves conquistou postos-chave na máquina partidária. Serra ficou como presidente do Conselho Político do PSDB.

Palmério Dória: o filho ilegítimo de FHC e o silêncio da imprensa.



Fala Palmério!



Assim como existe carro-forte, existe armário-forte. O do Caso FHC-Miriam Dutra não abria nem com pé-de-cabra até abril de 2000, quando Caros Amigos veio com a primeira reportagem sobre o assunto. A revista entrega o jogo logo de cara. “Por que a imprensa esconde o filho de 8 anos de FHC com a jornalista da Globo” é o título que ocupa toda a capa. Não entra em tricas nem futricas, denuncia o silêncio dos grandes grupos de comunicação diante de “Um fato jornalístico”, como diz o título da reportagem.

Por isso, os jornalistas que assinamos a matéria de 6 páginas – eu, Sérgio de Souza, Mylton Severiano, Marina Amaral, José Arbex e João Rocha – deixamos de lado quase todos os detalhes que cercam o romance para ir fundo no essencial: por que, quando lhe interessa, a mídia publica que Fulano ou Cicrano teve caso fora do casamento; e naquele caso, passou uma década escondendo o caso FHC-Miriam Dutra. Então, em 2000, não era o caso de contar que...

... o caso de amor começa com a bênção de outro par constante, Alberico de Souza Cruz, o todo-poderoso diretor de jornalismo da Rede Globo, e Rita Camata, a bela deputada federal do PMDB, sensação do Congresso, mulher do senador capixaba Gerson Camata, que um dia seria candidata a vice de Serra nas eleições presidenciais de 2002.

... mais saborosa que a pauta da Constituinte, as andanças do quarteto na noite brasiliense eram o grande assunto nos círculos políticos e nas redações. Contudo, os diálogos e as situações vividas por eles não renderam um mísero gossip em coluna social alguma.

... o bafafá com status de rififi que se instalou no gabinete de Fernando Henrique, ouvido no corredor por jornalistas do naipe de Rubem Azevedo Lima, e presenciado por seus assessores, quando Miriam Dutra foi comunicar-lhe a gravidez, seria digno dos melhores bordéis do Mangue – “Rameira!”, xingava o senador aos berros. Tudo com direito a efeitos especiais, arrematados por um chute de bico de sapato de cromo alemão no circulador de ar.

... a operação cala-a-boca-da-Miriam foi organizada por uma força-tarefa: Alberico de Souza Cruz; o então deputado federal José Serra; e Sérgio Motta, que tinha coordenado a campanha de Fernando Henrique para o Senado, seu amigo mais íntimo.

... o trio maravilha se desdobra. Providencia a mudança da futura mamãe para apartamento mais confortável na Asa Sul – ao botar o colchão no caminhão, um dos carregadores alisou-o e disse para os colegas: “Este é do senador” (ah, esse povo brasileiro); e, depois do nascimento da criança, na medida em que se projetava a candidatura de Fernando Henrique à presidência, tratam de mudar Miriam para outro país. No caso, Portugal, onde a Globo era parceira da SIC – Sociedade Independente de Comunicação, primeira estação portuguesa de televisão privada. Aí a repórter iniciaria a longa carreira de última exilada brasileira, que chega aos nossos dias.

... Ruth Cardoso, antropóloga, pouco ficava em Brasília. Tocava vida própria em São Paulo, o que facilitava o caso extraconjugal do marido.

... Fernando Henrique não contou para Ruth Cardoso o caso extraconjugal durante certa viagem a Nova York como se propala, mas numa casa isolada nos arredores de Brasília, onde o casal descansava nos fins de semana. Foi pouco antes dele assumir a candidatura. Não se sabe, claro, o que conversaram. O certo é que, por volta das oito da manhã, jornalistas que ali davam plantão, viram um Gol sair em disparada, com Fernando Henrique ao volante e a mulher ao lado. E foram atrás deles até o hospital Sarah Kubitschek, onde o casal desapareceu.

.. a futura primeira-dama reapareceria com um braço na tipóia no saguão do hospital; ao ser abordada pelos repórteres, perdeu sua habitual presença de espírito e afastou-os, quase explodindo:

“Me deixem em paz!”

SEGREDOS DE POLICHINELO

Não havia, como não há hoje, jornalista em Brasília que não soubesse de tudo quanto se passa, às claras ou nos bastidores. Segredos de polichinelo. Veja fez uma reportagem, mandou repórter atrás de Miriam na Europa (não por coincidência, Mônica Bergamo, que viria a dar na Folha, em 2009, a notícia do reconhecimento do filho adulterino por Fernando Henrique, 18 anos depois). Mas, naquela época, a semanal nada publicou. Nós também fomos atrás dela na Espanha, onde Miriam passou a morar depois de Portugal – “Perguntem para a pessoa pública”, foi a única coisa que deixou escapar. Ao mesmo tempo, fomos atrás de uma história que envolveu toda a imprensa. E volta a envolver: a história de Tomás Dutra Schmidt. Que a maioria dos colegas, na sua anglofilia, transformou em Thomas. Está lá, no registro do cartório Marcelo Ribas, conforme cópia autenticada obtida por Marina Amaral, a quem bastou sair do hotel em Brasília, atravessar a pista e entrar no edifício Venâncio 2000, primeiro andar, onde a avó materna de Tomás foi declarante do nascimento, ocorrido a zero hora e quinze minutos de 26 de setembro de 1991.

Por que tanto segredo?, perguntamos a todos os jornalistas que ocupavam postos de comando nas publicações em que trabalhavam durante a campanha presidencial de 1994. Cada qual apresentou suas razões. Alguns simplesmente desqualificaram o fato. Outros apelaram para a uma ética jornalística válida apenas para FHC. Outros confessaram ainda que guardavam matéria “de gaveta” para a eventualidade de um concorrente sair na frente.

Tentando fazer Caros Amigos sustar a matéria, houve vários tipos de pressões, relatadas uma a uma na reportagem. Algumas sutis, outras ostensivas. Um amigo jornalista me acenou com emprego público na Petrobras, durante almoço na cantina Gigetto, quando julgavam que eu era o único autor do trabalho. Tinha sido enviado pelo lobista Fernando Lemos, cunhado de Miriam Dutra. O mesmo Lemos que mandou um dublê de jornalista e lobista à redação de Caros Amigos, dizendo estar intercedendo em nome da própria jornalista da Globo, o que ela negou de pés juntos lá em Barcelona. Um deputado federal do PT ligou-nos para dar “um toque”. Disse que o Planalto estava preocupado com “uma matéria escandalosa” que estaríamos fazendor. O afável colega Gilberto Mansur chamou Sérgio de Souza e seu sócio Wagner Nabuco de Araújo para jantar no Dinho’s Place da avenida Faria Lima. Começou suave, ponderando que a revista ia criar problemas para si própria, que aquele assunto era irrelevante, que, deixando aquilo pra lá, Caros Amigos passaria a ter o mesmo tratamento da grande imprensa em matéria de anúncios estatais. Vendo que Sérgio de Souza era irredutível, deixou claro que podíamos esquecer a publicidade oficial se publicássemos a matéria – o que já acontecia na prática.

ETERNAMENTE OTÁRIO

Na época, Gilberto Mansur, ex-diretor da revista masculina Status, um mineiro maneiro, era braço-direito do publicitário Agnelo Pacheco, que havia conquistado a confiança do secretário de Comunicação de FHC – e homem das verbas publicitárias, portanto. Falamos do embaixador Sérgio Amaral, porta-voz da Presidência, que o colunista de humor José Simão chamava de “porta-joia”, sempre com a pose de “nojo de nóis”. Juntos, Agnelo e Amaral “operavam” a Caixa Econômica Federal. Agnelo adorava dizer que era um dos depositantes do “Bolsa Pimpolho”, que financiava a vida de Miriam Dutra e seu filho no continente europeu.

O que não tem a menor relevância perto do Custo Brasil para alimentar a conspiração de silêncio em torno do romance. Existem hoje, no eixo Brasília-São Paulo, grupos de picaretas que ficaram ricos graças a esse adultério, bem como ao falso DNA agora brandido pela família Cardoso, a fim de evitar mais um herdeiro a dividir l’argent que FHC vai deixar. Absolutamente contra sua vontade, FHC cai de novo na boca do povo. Mesmo nas edições online dos grupos de comunicação que tanto faturaram para esconder o romance, seus leitores vêm com pérolas, tais como este comentário sobre a notícia da Folha do teste de DNA negativo, repercutindo nota da coluna Radar, de Veja – autora do furo:

A GLOBO DEU GOLPE DA BARRIGA EM FHC: O Brasil pagou caro essa pensão. FHC, quando era ministro da Fazenda, isentou de CPMF todos os meios de comunicação. Em 2OOO houve o Proer da mídia, que custou entre US$ 3 e US$ 6 bilhões aos cofres públicos. Ele também mudou a Constituição para permitir que a mídia brasileira, então falida, pudesse contar com 30% de capital estrangeiro. E autorizou que o BNDES fizesse um empréstimo milionário à Globo.

Ricardo J. Fontes: DNA falso você pode conseguir com qualquer R$ 10 milhões em qualquer esquina de São Paulo ou Washington, onde Tomás estuda. Mas, se FHC de fato não for o pai, o Brasil merece conhecer o pai verdadeiro, o homem que tomou dinheiro dos Marinhos e de FHC durante 20 anos e carimbou de vez o ex-presidente como, além de entreguista, zé-mané, trouxa, pangaré, terceirizado. Enfim, otário.

Domine o déspota que vive em você




Os pressupostos básicos do regime democrático nem deveriam ter que ser escritos. A convivência pacífica e civilizada entre os que pensam de formas diferentes nem deveria ter nome. A nominação da coexistência entre contrários (democracia) pressupõe que princípios que deveriam ser tão lógicos e naturais quanto respirar, em uma sociedade, tiveram que ser enumerados porque as pessoas não são capazes de agir coerentemente por si sós.

A internet vai tornando clara uma faceta da natureza humana que os estudiosos da alma, em última instância, enumeraram, quantificaram, dimensionaram há séculos. Pensadores como Hannah Arendt, Zygmunt Baumann, Manoel Castells, cada um a seu modo e a seu tempo, contribuíram com a “Hipótese do Monstro” que habita cada um de nós e que, sob determinadas condições, pode se revelar.
Há um vídeo em que o professor da universidade norte-americana de Stanford Philip Zimbardo relata

o “Experimento do Aprisionamento de Stanford”, no qual pesquisou reações humanas diante de condições de poder sobre semelhantes. O vídeo explica melhor condutas despóticas e até monstruosas que brotam em pessoas que, até então, poderiam ser consideradas “decentes”, “boas”, “civilizadas”.
Esse vídeo também explica ataque anônimo que minha filha doente sofreu recentemente em

comentário postado neste blog. A menina tem doze anos, sofre de paralisia cerebral e está com a saúde gravemente abalada, sobrevivendo com home-care em casa. Isso, porém, não impediu que sofresse insultos e agressões de um comentarista que discorda do autor desta página.
Abaixo, o vídeo. O texto prossegue em seguida.
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Philip Zimbardo: Como pessoas comuns se tornam monstros… Ou heróis
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Note-se que o fator anonimato é o elemento desencadeador das reações despóticas e até monstruosas que podem nos atingir a todos nas condições “certas”, sobretudo quando nos são oferecidas desculpas para tomarmos atitudes que teríamos vergonha de tomar vestidos com nossas identidades sociais.
O sociólogo espanhol Manuel Castells, durante a década de 1980, passou a estudar o papel das novas tecnologias de informação e comunicação. Já na década de 1990 escreveu “A Era da Informação“, em uma trilogia publicada entre 1996 e 1998.

O primeiro volume da Trilogia chamou de “Sociedade em Rede – A Era da informação: Economia, sociedade e cultura”. Nesse estudo, idealizou o conceito de capitalismo informacional a partir da história do forte desenvolvimento das tecnologias e sua influência nas relações humanas. De certa forma, previu os efeitos que a internet, então impensada, exerceria sobre a natureza primal do homem.
Vários estudos recentes revelaram que, na internet, as pessoas vão se aglutinando em redes sociais, dividindo-se em grupos que se identificam e unem em torno de dogmas, crenças, preferências comuns, muitas vezes passando a atuar como facções em questões como competições esportivas ou em política e ideologia, rejeitando cada vez mais fortemente o pensamento contrário.]

Na rede social Twitter, por exemplo, tem sido possível mensurar com precisão os movimentos de adesão ou afastamento que a difusão das idéias de alguém gera.
Através dos “seguidores” que cada membro da rede ganha ou perde, percebe-se que uns passam a “seguir” outros que manifestam idéias com as quais aquela pessoa concorda. Quando aquele que parecia pensar igual diz alguma coisa que contraria tal premissa, perde o “seguidor”. Da mesma forma, uma frase com a qual se concorda pode bastar para alguém começar a ser “seguido” por quem concorda com aquele ponto específico das idéias daquela pessoa.

A blogosfera também deixa bastante evidente essa aglutinação em tribos que vai separando as pessoas na era moderna, valendo-se, sobretudo, da identificação mútua com premissas macro-ideológicas. Um termo foi desenvolvido para aquele que entra em fóruns da internet para se contrapor à maioria que pensa de determinada forma. Troll é uma figura grotesca do folclore escandinavo que passou a designar aquele que diverge nesses fóruns.

Apesar de que há aqueles que entram em fóruns de discussão com o propósito malicioso de fazer as pessoas insultarem e perderem a elegância, aqueles que entram simplesmente para apresentar opinião oposta também acabam sendo incluídos no estereótipo. A esse fenômeno segue-se vontade da maioria de eliminar a discordância, assim como no Twitter deixa-se de seguir quem “muda de lado” ou descobre-se que, na verdade, não pensava igual em tudo.

A rejeição ao diferente vai transtornando as pessoas e o anonimato vai cuidando de transformar um pai de família, por exemplo, alguém pacato e cumpridor das leis, em alguém despido do mínimo de sensibilidade humana, capaz de atacar uma criança inocente e gravemente enferma só para se vingar daquele que expõe idéias “insuportáveis” para a vítima desse surto de intolerância.

Mesmo aqueles que não chegaram, até aquele momento, a adotar alguma atitude grotesca e até desumana diante do inconformismo com idéias antagônicas, esses já deixam ver a faceta que todo ser humano tem e que alguns conseguem conter mais e outros, menos. Ao fugirem dos que pensam diferente e se aglutinarem aos grupos supostamente concordantes, adotam uma conduta despótica de não suportar a divergência.

O drama dessa tendência que vai ganhando corpo na internet em progressão geométrica é que na vida é praticamente impossível que as pessoas concordem em tudo. A divergência é a regra entre os seres humanos. Pode ser nos gostos culinários, artísticos, culturais, de indumentária… Duas pessoas com a mesma ideologia política facilmente torcerão para times diferentes, por exemplo.

A ditadura militar que se abateu sobre o Brasil por duas décadas não foi nada mais, nada menos do que a condição de poder desbalanceado que havia em um dos lados. Assim como no estudo que o leitor assistiu no vídeo acima, pessoas decentes das Forças Armadas, sob a desculpa de uma “revolução” que combateria a “ameaça comunista”, converteram-se em autômatos monstruosos ao se despirem das próprias identidades vestindo uma farda.

Há um exemplo prosaico que exemplifica bem os estudos que fiz. Por certo todos já conheceram alguém que se transforma ao assumir a direção de um veículo automotor. A moça delicada, gentil e educada se transforma em alguém que xinga, esbraveja e comete até imprudências, muitas vezes avançando sobre pedestres, fechando outros veículos, buzinando descontroladamente etc.

O grande desafio civilizatório de uma nação, pois, é o de ela aprender a divergir de forma civilizada e produtiva, de maneira que dessa divergência brotem decisões, políticas públicas, leis, costumes aceitáveis para todos os lados ainda que ninguém possa se considerar plenamente satisfeito. A esse estágio de uma nação foi dado o nome de Democracia, na qual a grande maioria aprendeu a “suportar” o diferente.

http://www.blogcidadania.com.br/2011/06/domine-o-despota-que-vive-em-voce/