segunda-feira, 11 de julho de 2011

O depoimento de Pagot tira o sono de Paulo Bernardo

O pig é implacável com qualquer sombra de desvio ético que tenha algum petista envolvido. Se for petista de pedigree aí o escarcéu estará feito. Não foi sem aviso que o tal de Pagot foi parar no Dnit. O senador Mário Couto, opositor ferrenho de Lula e de Ana Júlia Carepa, vociferou dias a fio no senado contra a indicação desse cidadão.

Couto chegou a fazer até greve de fome para que uma CPI que tinha o número regimental de assinaturas coletadas fosse instalada no senado, impedida pelas manobras diversionistas de Sarney que utilizou-se de vários artifícios regimentais para que o festival de denuncias não pautasse a genda positiva que o governo à época implantava no país.

Aí com sabidas razões. A oposição joga o jogo do quanto pior melhor. Pode ter o interesse de querer mesmo investigar, de passar o Brasil a limpo e acabar com esse cancer da corrupção. Por trás, porém, de sua propalada busca pela moralidade há sempre uma razão subjacente que leva-nos a crer que o objetivo maior é a desestabilização do governo.

Não sou a favor desse moralismo exacerbado, da caça às bruxas porque por trás desse falso moralismo esconde o desejo oculto de levar o governo que nem bem começou à lona. A imprensa brasileira não tem nada de ética e nem a defende como propaga. Se o fizesse seria a primeira a querer o escalpo de Ricardo Teixeira, de Sérgio Cabral e de outros corruptos aliados. O governo Dilma não reza na cartilha neoliberal associada aos E.U.A  para quem a imprensa brasileira de fato está a serviço, plenamente devotada.

A mais recente leva de documentos revelados pelo wikileaks mostra que a embaixada dos E.U.A não tinha outra coisa a fazer que não fosse conspirar contra os interesses do Brasil em nosso solo com o apôio descarado de jornalistas quinta colunas que viviam de fruticar com o embaixador americano, passando para ele análises totalmente infundadas sobre o país e a corrida eleitoral em franca oposição ao governo do presidente Lula.

De William Waack, com a previsão de que Serra ganharia as eleições de 2010 ao ex ombudsman da Folha e outros jornalistas engajados na campanha de desmoralização do país que faziam questão de dá a conhecer ao embaixador americano em face do ódio que nutrem à Lula, colocando nesse grupo de traidores as principais figuras da oposição que se prestavam a passar horas discutindo estratégias de como evitar que o ex presidente Lula fizesse seu sucessor, estratégias essas articuladas em parceria com a embaixada Yank, são todos hipócritas, não buscam, embora aparente, a moralidade pública, a ética na política.

Tanto não buscam que nos 16 anos de governo tucano de São Paulo nunca apresentaram uma denúncia consistente de corrupção que levasse a uma consequência mais drástica. E não é por falta de desvios éticos. Paulo, "não se deixa um companheiro ferido na estrada" Preto que o diga.

Nas Minas Gerais, Anastasia, seguindo o modelo de governo de Aécio, baixou decreto que lhe permite governar por meio de leis delegadas, um entulho da época da ditadura que impede o parlamento de fazer o que é de sua essência, falar, discutir. A palavra parlamento por si traduz esse significado. Os deputados mineiros estão cumprindo uma função meramente decorativa. No legislativo paulista algo semelhante acontece disfarçadamente.

Os projetos do interesse do governo Alckmin já vem pronto, discutido em consenso com as lideranças partidárias. Os demais deputados só referedam, sem debater, sem apresentar emendas, ou propor qualquer alteração.

Acontecesse isso no governo Lula a mídia golpista diria que Lula é um Chavez, ditador que não respeita a democracia. Seriam os primeiros a empreenderem uma campanha de achincalhe ao congresso.

Em Minas e em São Paulo os governos são aliados tucanos que podem tudo em termo de comportamento antiético e antidemocrático. No Paraná o governador Richa do PSDB empregou quase todos os parentes. O irmão, José Richa Filho, a esposa, o filho também é secretário. Tivesse Lula arranjado uma boquinha nas centenas de milhares de cargos de livre provimento da União para um de seus irmãos teria sido queimado em praça pública.

Não sequer aqui desconhecer que exista corrupção no governo passado e no atual. A corrupção é inerente ao ser humano. Onde houver o homem como agente social manipulando verbas públicas ou somas astronômicas em dinheiro, haverá a tentação de misturar o que pertence aos outros como se nosso fosse. O que se tem que fazer é dificultar, punir, dá transparência aos atos de governo para que sejam fiscalizados.

Se a imprensa tivesse realmente interesse em passar o Brasil a limpo o faria denunciando com isonomia a todos os governos indescriminadamente e não só aqueles que não reza pela sua cartilha ideológica que faz parte da agenda oculta desvendada pelo Wikileaks e concorre para os mesmos interesses do império do Norte e seu receituário neoliberal de desregulamentação da econõmia com total autonomia para os mercados financeiros e consequente entrega da soberania nacional ao capital estrangeiro que elegeu os mercados emergentes como sua próxima parada, produzindo desemprego, desespero e guerras.

Agora que me dá uma satisfação íntima vê esses ministros petistas, atucanados, do governo Dilma levarem um sacode por dia nas página do PIG isso eu não nego. Um já se foi. Se esse Bernardo também se for será ótimo. Ele está enterrando o PNBL, ao entregá-lo as teles, e a regulação desse complexo mafiomidiático, teme fazer para não afrontá-lo. Tomara que Pagot o enrede em alguma trama. Vou dá risadas homéricas. E torcer pelo seu sangramento até a queda, para aprender a respeitar quem está do lado de cá, lutando nas ruas contra esse sistema golpista da midia.




Carlos Newton

Os nervos estão à flor da pele e o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, quase perdeu a linha com a repórter Luiza Damé, de O Globo, que lhe fazia perguntas sobre o envolvimento dele com as obras do Ministério dos Transportes na gestão de Lula, quando ocupava o Ministério do Planejamento.

Como se sabe, o ainda diretor-geral do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), Luiz Antonio Pagot, presta depoimento na Câmara hoje, e Paulo Bernardo é o coringa do carteado que se coloca sobre a mesa. Se Pagot fizer carga contra o ministro, dizendo que obedecia ordens diretas dele para beneficiar empreiteiras, vai ser uma festa.

De toda forma, mais ou cedo ou mais tarde, tudo virá à tona, não adianta tentar esconder, porque é corrupção demais. A CGU (Controladoria-Geral da União) já apura irregularidades em 34 contratos de obras e uma licitação do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) e da Valec, estatal de ferrovias, órgãos vinculados ao Ministério dos Transportes. E a Polícia Federal já abriu outros 74 inquéritos para investigar desvio de verbas no Dnit, comandado até quarta-feira passada pelo PR, que é o ex-PL.

A coisa está feia, e na quinta-feira, representantes da CGU foram aos três órgãos (Dnit, Valec e Ministério), copiaram dados de oito computadores e levaram documentos para uma auditoria determinada pela presidente Dilma Rousseff. Os computadores do diretor afastado do Dnit, Luiz Antonio Pagot, do ex-presidente da Valec, José Francisco das Neves, o “Juquinha”, e do ex-chefe de gabinete do Ministério dos Transportes, Mauro Barbosa, serão analisados.

Uma expressiva fonte de corrupção está na Valec, estatal na qual a CGU já encontrou irregularidades em 23 contratos e uma licitação para ferrovias. Um dos problemas levou o ex-ministro Alfredo Nascimento a cancelar em maio passado uma licitação de R$ 800 milhões para a compra de trilhos para a Ferrovia Oeste-Leste. E se Nascimento cancelou, é porque a corrupção realmente passara de qualquer limite.

Os 23 contratos com indícios de irregularidades são referentes a vários trechos em construção da Ferrovia Norte-Sul e somam quase R$ 2 bilhões. Há indícios de superfaturamento e pagamento por serviços não realizados.

No Dnit, estão sendo fiscalizados pela CGU inicialmente 11 contratos: sete de rodovias e quatro de hidrovias. Na maior parte deles, os pagamentos não correspondem ao que foi realizado pelas construtoras. Mas há os outros 74 inquéritos da Polícia Federal em andamento para investigar desvio de verbas no órgão, vejam a que ponto chegamos.

Bem, de toda forma, a partir das 9 horas da manhã, com o início do depoimento de Pagot, transmitido direto do Senado Federal, começaremos a saber mais detalhes sobre o Dnit, que é o antigo DNER, também famoso por suas bandalheiras. Mudaram o nome, que já estava completamente imundo e desgastado, mas esqueceram de mudar as práticas administrativas.

Vejam quem é o dono do apartamento onde Cabral foi morar depois do divórcio


O luxoso prédio, na praia do Leblon, onde Cabral foi morar depois do divórcio (Fotos do Blog de Ricardo Gama)
O luxoso prédio, na praia do Leblon, onde Cabral foi morar depois do divórcio (Fotos do Blog de Ricardo Gama)


O Código de Ética de Cabral deve pra valer para todo mundo, menos para ele. Essas fotos que vocês estão vendo desse luxuoso prédio na Avenida Delfim Moreira, esquina com Rainha Guilhermina, na praia do Leblon foi a residência escolhida pelo governador do Rio, Sérgio Cabral para morar após sua separação da advogada Adriana Ancelmo, agora ex-Cabral.

Mas vejam como as coisas se misturam mais uma vez. Esse luxuoso apartamento pertence a um poderoso banqueiro, um dos donos do Banco BTG Pactual, um dos maiores na área de investimentos, o seu nome é Guilherme Paes, já perceberam a coincidência do sobrenome? O generoso banqueiro que emprestou o apartamento, segundo o mercado avaliado em R$ 8 milhões, (afinal Cabral não iria se contentar com um “simples” sala e 4 quartos), Guilherme Paes vem a ser irmão do prefeito Eduardo Paes. Isso é o que se pode chamar de “somando forças” para rasgar o código de ética, que quando foi assinado por Cabral já estava sendo burlado por ele próprio morando no apartamento do banqueiro.

Mas tem mais. Como todos os episódios envolvendo Cabral são nebulosos vou lhes contar mais uma história. Cabral estaria morando nesse apartamento até hoje, não fosse a reportagem, que sairia este final de semana numa revista de grande circulação nacional, que foi quem descobriu o paradeiro de Cabral e quem é o dono do apartamento. Para tentar evitar mais um escândalo, Cabral, na noite de quinta-feira, mobilizou um grande aparato para se mudar às pressas para o Palácio Laranjeiras, onde está residindo solitariamente. Foram mobilizados quase 100 funcionários entre seguranças, cozinheiros, camareiras, lavadeiras, pessoal de apoio, enfim, um verdadeiro exército para atender Cabral, que chegou subitamente como se diz “com mala e cuia” pra ficar, tão logo soube do explosivo conteúdo da reportagem que seria publicada, mas estranhamente, na última hora a revista desistiu.

E por que a revista desistiu de soltar a matéria? Dizem que a pressão foi grande. Pressão de quem? Dizem que foi coisa muito poderosa. É, lamentavelmente Cabral não cumpriu com seu código de ética e a revista não cumpriu seu compromisso de informar os leitores.


Em tempo: O nome do prédio “Diamond” tem tudo a ver com Cabral. Fazendo um trocadilho com as classificações de um cartão de crédito. Cabral não é “gold”, é mais, é “diamond”. Vida de magnata!

Como o Pezão da Toca da Traíra virou o Mão Grande do Leblon


Lá vem o Pezão descendo a ladeira...
Lá vem o Pezão descendo a ladeira...


Já contei essa história, mas vale a pena recordá-la porque muitos leitores acompanham o blog há menos tempo e não sabem. Quando eu era governador do Rio, e Pezão prefeito de Piraí, ele costumava me levar para comer um peixe que aqui no Rio é chamado “traíra”, num restaurante da região. Na época teve quem brincasse comigo dizendo: “Cuidado com a traíra do Pezão”. Eu não levei a sério, mas hoje, confesso que deveria ter ouvido as palavras proféticas.

Vejam a ironia: Pezão foi secretário de Governo de Rosinha e foi minha indicação, com o apoio do nosso grupo, para ser o vice na chapa de Sérgio Cabral. Eu sabia que Cabral não tinha grandes ligações com o interior fluminense e achava importante que não ficasse abandonado no futuro governo (me enganei redondamente). Esse foi um dos motivos da escolha de Pezão. Todos no meio político sabem que Cabral não queria Pezão de jeito nenhum. Queria alguém de sua inteira confiança.

Pois, foi só Cabral assumir o governo, que Pezão decidiu me trair e a Rosinha, para ganhar a confiança de Cabral. Logo no primeiro mês de governo numa visita ao interior atacou o governo de Rosinha, dizendo que era uma bagunça, engraçado, que ele foi secretário de Governo. Mas isso são águas passadas, serve apenas para que vocês conheçam melhor o caráter de Pezão.

Pois vejam vocês, misturou-se com Cabral, deu no que deu. Está chafurdando na lama, envolvido em atos de improbidade, em escândalos, começando a descer a ladeira. Esse caso da desapropriação superfaturada do imóvel da família de sua mulher, em Barra do Piraí (postada sábado no blog), que denunciei, três meses antes da Época, com base numa ação que deu entrada no MP de Barra do Piraí, por iniciativa de um morador da cidade, Jeff de Castro, não é nada perto de tudo em que Pezão está metido.

Vejam o caso da empreiteira Delta, do amigo de Cabral. Nas obras do Arco Rodoviário, Pezão é responsável por superfaturamentos absurdos, já detectados pelo Tribunal de Contas da União. E na reforma do Maracanã? Já se descobriu que Pezão mandou pagar a Delta por obras que nem foram realizadas, e olhem que as obras do Maracanã estão só começando e o dinheiro já começou a ir pelo ralo. Fora isso a Polícia Federal tem muitas informações de negócios de Pezão e seu braço-direito Hudson Braga, que por enquanto foram abafadas.

Deslumbrado pelas mordomias, inebriado pelo poder, acostumado a ver seu chefe Cabral sendo protegido por várias blindagens, Pezão hoje, chega ao desplante de zombar da sociedade, debochar da lei, constranger a presidente da República, Dilma Rousseff, e na sua presença, numa cerimônia oficial fazer uma homenagem à empreiteira Delta, envolvida em numerosos escândalos não apenas com Cabral.

Zomba de todos nós também quando diz no maior cinismo, como respondeu à revista Época, na maior cara-de-pau, que desapropriou a casa de família da sua mulher sem saber de nada. Jura de pés juntos, como se fossemos imbecis, que nunca nem conversou sobre esse assunto em família, não sabia de nada.


Pezão está nas alturas. Sonha em ser o próximo governador sucedendo Cabral. Acredita que nada poderá atingi-lo, que a blindagem de Cabral vai protegê-lo por mais 3 anos e meio e que escapará impune para virar governador. Só esquece que nenhuma mentira dura para sempre. Até mesmo Cabral, com toda a blindagem da mídia, não conseguiu esconder o mar de lama, que já é visível, e podem estar certos, que muita coisa ainda vai aparecer daqui pra frente. O próprio Eduardo Paes, que vai disputar a eleição do próximo ano já anda preocupado vendo o “castelo de cartas” de Cabral começar a desmoronar. Imaginem no final de 2013, a um ano da eleição.

Pezão pode até estar nas alturas e continuar sonhando em ser governador, mas não custa lembrá-lo de que quanto mais alto, maior é o tombo. E pelas denúncias que estão surgindo, não resta dúvida de que Pezão, hoje, mais conhecido como Mão Grande, começou a descer a ladeira.

A incrível história do apartamento de Adriana Ancelmo no Leblon


Adriana Ancelmo e o prédio onde fica o apartamento que vale pelo menos R$ 4 milhões
Adriana Ancelmo e o prédio onde fica o apartamento que vale pelo menos R$ 4 milhões


A ex-senhora Cabral, a advogada Adriana Ancelmo, segundo o seu agora ex-marido, é “a melhor advogada do Brasil”. Ele sabe do que está falando porque uma coisa ninguém pode negar, ela é a dona do escritório de advocacia que mais cresce no Brasil. E isso não sou eu quem está afirmando. Basta relembrar a denúncia do Estadão, que mostrou que o seu escritório, em 2006, antes de Cabral assumir o governo era formado por ela, o primeiro ex-marido e um sócio, não tinha um único advogado contratado. No primeiro ano de Cabral o escritório contratou logo 23 advogados e pulou de 506 ações em 2007 para 9.800 ações, em 2008, um crescimento extraordinário de 1.836%. Todos sabem que esse milagre da multiplicação dos clientes se deu por conta de concessionárias de serviços públicos, como o Metrô e a Supervia; prestadores de serviços do Estado, como o grupo Facility e muitos interessados em negócios que dependiam da caneta de Cabral, como o apresentador Luciano Huck, que depois de contratar o escritório de Adriana Ancelmo ganhou de Cabral um decreto pra chamar de seu, sim, porque foi um decreto por encomenda que legalizou sua mansão em Angra, que estava foi construída ilegalmente.

Faço essa introdução para vocês entenderem melhor a história do luxuoso apartamento da rua Aristides Espínola, nº 27, 401, onde morou o casal Cabral enquanto estava junto, e que agora é a residência de Adriana Ancelmo. Vamos aos fatos.

Conforme poderão constatar pelos documentos abaixo (trechos das escrituras), o apartamento foi comprado no nome de Adriana no dia 21/01/2004, dois meses e meio antes do casamento com CABRAL, que aconteceu no dia 03/04/2004. É bom ressaltar que os dois viviam juntos há 3 anos, mas só em 2004 oficializaram a união. Na época Adriana Ancelmo era assessora da Presidência da ALERJ, com um salário médio e o seu escritório de advocacia era uma pequena sala com meia dúzia de clientes, muito longe do andar luxuoso de hoje, e da invejável carteira de clientes. Pessoas que trabalhavam com ela na ALERJ se surpreenderam como conseguiu juntar dinheiro para comprar o luxuoso apartamento no Leblon?

Agora, o mais surpreendente. O apartamento comprado por R$ 1,3 milhão foi pago à vista por Adriana Ancelmo. Deve ter dado uma sorte danada nos investimentos! Não é inacreditável?

Já ouvi duas versões sobre a compra do apartamento. Uns dizem que teria sido um presente de Cabral, uma espécie de acordo pré-nupcial, e outros, que Cabral queria esconder o apartamento. Bem, isso são especulações que circularam nos corredores da ALERJ. Isso é não sei. Mas de uma coisa estou certo: se tivesse sido Rosinha a comprar um apartamento à vista por R$ 1,3 milhão, dois meses antes de se casar comigo, uma tropa de choque do MP estaria vasculhando a origem do dinheiro.

É claro, que o MP vai ligar tanto para esse fato estranho, como Ricardo Teixeira liga para as críticas de parte da imprensa. Mas deixo a pergunta no ar: Como Adriana Ancelmo conseguiu R$ 1,3 milhão para comprar à vista o apartamento do Leblon? E é bom destacar o detalhe que esse preço está subavaliado porque aquele apartamento do Leblon não vale menos do que R$ 4 milhões.

Existem aí dois mistérios: de onde veio o dinheiro e por que até agora ninguém questionou o preço do apartamento?


As duas escrituras do 23º Ofício de Notas, do mesmo dia, são porque o apartamento tinha herdeiros, isso é operação normal. Pagou R$ 700 mil numa escritura e R$ 600 mil em outra
As duas escrituras do 23º Ofício de Notas, do mesmo dia, são porque o apartamento tinha herdeiros, isso é operação normal. Pagou R$ 700 mil numa escritura e R$ 600 mil em outra


Exclusivo! Cabral e Beltrame gastam R$ 200 milhões com aluguel de carros da polícia


Beltrame articulou e Cabral aprovou a negociata com a Julio Simões
Beltrame articulou e Cabral aprovou a negociata com a Julio Simões


Os números que vocês vão ver são estarrecedores. Mostram mais uma mentira inventada por Cabral e Beltrame, de que a terceirização dos carros da PM era um excelente negócio para os cofres públicos. O que estão fazendo é um verdadeiro assalto aos cofres públicos. Uma coisa jamais vista.

Em apenas 3 anos, gastaram mais de R$ 200 milhões só com o pagamento de aluguel das viaturas à empresa Julio Simões. Isso não inclui os gastos com combustível (por conta do Estado), nem dos motoristas, que são os policiais. Essa montanha de dinheiro daria para comprar 5.700 Gols 1.6 zerinho. Observem que estes gastos vão de fevereiro de 2 de fevereiro de 2008 a 3 de março de 2011, portanto a esta altura essa conta que sai a R$ 6 milhões por mês, já está na casa de R$ 220 milhões.


Pagamentos anuais da secretaria de Segurança à empresa Julio Simões
Pagamentos anuais da secretaria de Segurança à empresa Julio Simões



Para piorar ainda mais, Beltrame mentiu também ao justificar um outro gasto, que foi o da instalação do kit gás, que segundo ele geraria uma economia para o Estado. Até hoje as garagens da polícia não fazem abastecimento de gás. Foi dinheiro jogado fora. Querem mais? Muitas das viaturas que quebram não estão sendo repostas pela Julio Simões e na secretaria de Segurança todos sabem disso.

Basta vocês clicarem no link abaixo, que terão todos os pagamentos da secretaria de Segurança à empresa Julio Simões, mês a mês, e é documento oficial, do Sistema de Transparência Fiscal, da secretaria estadual de Fazenda.

http://www.blogdogarotinho.com.br/download/juliosimoes.pdf

O secretário Beltrame diz que tem vergonha por causa do caso do menino Juan, onde, aliás, foi o primeiro a mentir na televisão. Deveria ter vergonha também de meter a mão num negócio sujo com esse com a Julio Simões que já custou mais de R$ 220 milhões aos cofres públicos, só em aluguel de carros para a polícia.

Será que alguém no Ministério Público vai tomar alguma providência desta vez? Ou vão continuar jogando tudo nas gavetas atulhadas de denúncias contra o governo Cabral? Já, já as gavetas vão estourar de tão cheias e o MP não vai ficar bem na história!

José Serra, o conselheiro




Em um gesto inusitado (mas não imprevisível), o ex-governador José Serra, na qualidade de presidente do conselho político do PSDB, divulgou um documento que deixou embaraçada a direção de seu partido. “Nossa Missão” tem um título que sugere que o autor ao menos tentava olhar o Brasil de uma perspectiva partidária e coletiva, mas não o fazia.


A publicação aconteceu no blog do ex-candidato, talvez para lhe permitir, se necessário, justificá-la como privada. Como não consultou seus colegas ou procurou saber se estavam de acordo com o que queria dizer, melhor ter esse recurso.


Isso não diminuiu o constrangimento dos líderes tucanos. O texto tinha todas as características de um documento oficial do partido, não somente pelo cargo do responsável, mas pela natureza: uma conclamação aos filiados, a proposta de uma agenda, a fixação de um calendário de ações para seus órgãos nacionais e estaduais. Só que era apenas uma manifestação pessoal.


Ao externá-la da forma que fez, Serra extrapolou o papel que lhe havia sido delegado pela convenção peessedebista de junho. Aquela, em que seu grupo foi derrotado pelo de Aécio Neves, em que tentou, sem sucesso, emplacar a direção do Instituto Teotônio Vilela e na qual foi obrigado a se contentar com a presidência do então criado conselho.


Parece que o ex-senador queria dar uma resposta a seus adversários de dentro do partido. Se achavam que ficaria quieto em seu canto, satisfeito com o cargo honorífico a ele destinado, se enganavam. Na primeira oportunidade, veriam do que era capaz.


Escolheu uma hora inconveniente. Veio com um texto agressivo, cheio de acusações e ressentimentos, justo quando a convivência entre o PSDB e o PT começava a perder a beligerância do período eleitoral, quando o clima (por obra sua) ficara mais tenso que o normal para nossos costumes políticos.
Partiu de Dilma Rousseff o primeiro movimento de desanuviamento dos espíritos, na carta de homenagem a Fernando Henrique pelos seus 80 anos. Até contrariando os sentimentos de parte do PT, havia sido bem mais que protocolar no reconhecimento de sua contribuição para o Brasil de hoje.


FHC respondeu acenando com uma proposta de entendimento mínimo entre governo e oposição para enfrentar as dificuldades externas. Embora velhas desavenças permanecessem, o ex-presidente sinalizava que um diálogo mais produtivo entre os dois lados era possível.


Para Serra, não. De seu ponto de vista, tucanos e petistas são inimigos irreconciliáveis e suas visões do Brasil, antagônicas. Uns estão totalmente certos, outros inteiramente errados. No seu partido só há gente notável, no outro só incapazes, oportunistas e bandidos. Lula tinha apenas “talento de animador”, Dilma faz um governo “autoritário e incompetente-”.


O mais extraordinário no texto de Serra é entender porque não aproveitou a última campanha presidencial para defender ideias como essas, deixando para fazê-lo agora, de forma tão mais limitada. Como comparar um blog à enorme mídia de que dispunha?


Entre agosto e o fim de outubro de 2010, Serra teve mais tempo de televisão e rádio que qualquer anunciante privado. Se quisesse, poderia ter lançado uma marca, uma moda, uma ideia.


Imaginando que a visão de Brasil que transparece em seu texto não foi inventada de repente, que não foi agora que ficou sabendo do que se passa no País que queria governar, a pergunta é por que se calou quando teve a oportunidade de falar. Por que subtraiu do cidadão verdades tão graves?


Hoje diz, por exemplo, que o governo FHC não é devidamente “reconhecido”. Como se não fosse ele quem nunca falou em Fernando Henrique nas suas campanhas. Quem sempre pretendeu não ter vínculos com o governo que integrou por oito anos.


Quando pôde se dirigir ao País sem qualquer embaraço, o que fez foi se apresentar como “o candidato mais preparado para prosseguir a obra de Lula”. Nem uma palavra se ouviu para criticá-lo. Seu discurso era ser “o Zé que vai continuar o trabalho do Lula da Silva”.


É, realmente, um percurso peculiar: do mais lulista ao mais radical dos oposicionistas, em questão de meses. Outro dia mesmo, brigava com Dilma pelo posto de campeão da continuidade. Agora, é o tucano incendiário, para quem nada presta no governo.

O texto termina de forma patética: depois de instar “nossas direções em todos os níveis” à “combatividade”, Serra pede a seus companheiros (até com humildade) que “não antecipem as decisões sobre alianças e candidaturas em 2014”. Ou seja, que não o descartem de vez.
O que não quer é reconhecer que seu sonho de ser presidente da República acabou.

O QUE A MÍDIA PRIVADA MOSTRA É O QUE OS DONOS PAGAM



Laerte Braga

Laerte Braga

Há uma guerra imunda sendo travada contra os líbios. O governo francês armou os “rebeldes” para enfrentar as forças do líder Muamar Gadafi e a OTAN proclama que seus bombardeios atingem instalações militares do governo daquele país.

Um relatório da ANISTIA INTERNACIONAL divulgado na Europa e convenientemente omitido no Brasil – a turma recebe para não divulgar – mostra que os ataques de um dos tentáculos de EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A contra os líbios atingem alvos civis, matam crianças, destroem hospitais, são inconseqüentes e têm como objetivo destruir a infra estrutura do país. Física e humana.

Embaixadores norte-americanos no Brasil têm o hábito de reuniões com jornalistas. É o que mostra o WIKILEAKS. William Waack da GLOBO é um dos mais estimados, digamos assim. A despeito de ter errado redondamente nas avaliações que fez das eleições presidenciais de 2010 no Brasil – encantou Hillary Clinton com sua verborragia e submissão – continua participando de reuniões, encontros, ágapes em “negócios” que os EUA têm interesses diretos, para depois veicular em seu JORNAL DA NOITE, ou em programas da GLOBONEWS (canal fechado) aquilo que foi determinado, é do agrado dos que pagam.

Num estúdio de tevê o telespectador enxerga o cenário do programa apresentado e nesse cenário o que é interesse da emissora. Nos programas de William Waack não mostram os pés dos embaixadores brasileiros convidados para emitir opiniões sobre essa ou aquela situação. Caso de Celso Láfer, ou do próprio apresentador. É que estão todos descalços controlados pela embaixada dos EUA. Submetem-se a revista prévia por agentes especializados. Só depois sai o contracheque.

Num telegrama de 2005 o cônsul norte-americano em São Paulo (país vizinho que fala a mesma língua e é controlado pelo esquema FIESP/DASLU) conta a visita do embaixador de seu país John Danilovich a Porto Alegre e o encontro com diretores da RBS – REDE BRASIL SUL – num almoço particular com os editores do grupo. A RBS é o maior grupo regional de comunicação da América latina e ligado à GLOBO.

Os objetivos eram dois. A defesa dos “negócios” segundo a ótica dos EUA e de Israel, evitando notícias sobre o crime de genocídio que vem sendo cometido desde a invenção do Estado pelas grandes potências contra os palestinos. Os resultados foram satisfatórios. O compromisso foi selado.

O embaixador foi agraciado com uma entrevista no jornal ZERO HORA e em emissoras de rádio e tevê do grupo. Esse mesmo embaixador encontrou-se com líderes da comunidade judaica em Porto Alegre e jornalistas, presente o rabino Henry Sobel (aquele que teve uma crise e roubou uma gravata numa loja de New York e acabou passando uns dias na cadeia). No encontro estava presente Abraham Goldstein, presidente da B’nai Brith do Brasil e que garantiu que a mídia faria campanha para garantir pontos de vista favoráveis ao estado invasor e terrorista de Israel e a comunidade de judeus no Brasil.

O mesmo Goldstein garantiu que o editor do ESTADO DE SÃO PAULO assegurou campanha favorável a Israel. Essa campanha tinha como objetivo buscar não judeus críticos do secretário de Assuntos Estratégicos do governo de Lula, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, considerado anti-sionista. Essa importante Secretaria no governo Dilma foi comprada pelo PMDB e está em mãos de Wellington Moreira Franco, político de “grande competência” e “reputação ilibada”, depois de ter destruído o sistema de CIEPs magnificamente construído por Darci Ribeiro e Leonel Brizola. Tem certificado fornecido por Washington, por Wall Street e paraísos fiscais para dinheiro público roubado.

Um ex-ombudsman do jornal FOLHA DE SÃO PAULO (partícipe ativo da ditadura militar na desova de corpos de presos políticos assassinados nos porões do regime) Carlos Eduardo Lins e Silva é outro “patriota” que tem o hábito de conversar com os diplomatas norte-americanos. Entrega o ouro e de quebra se compromete a defender a matança de palestinos. Esteve, como mostra o WIKILEAKS, com o Assistente do Departamento de Estado para Assuntos Econômicos no Fórum Econômico Mundial América Latina, em 2006. Errou feito também em suas previsões ao apresentar o governador Geraldo Alckmin, coroinha da OPUS DEI, como um candidato de “grande viabilidade” às eleições presidenciais daquele ano.

Participou de um encontro com o senador republicano Chuck Hagel, em São Paulo, onde estava Celso Láfer (ministro das Relações Exteriores do governo FHC que tirou os sapatos nos aeroporto de New York para ser revistado). No mesmo encontro estavam Rubens Ricúpero, ex-ministro da Fazenda do governo Itamar, embaixador do Brasil nos EUA e Sérgio Amaral, também ex-ministro de FHC.

Quando do início das descobertas do pré-sal o jornalista esteve reunido com o cônsul geral dos EUA Thomas White. Discutiram planos para a exploração do petróleo, campanhas para a entrega. Noutro encontro juntaram-se o sociólogo Bolívar Lamounier, Celso Láfer, e o ex-ministro da Ciência e Tecnologia de FHC, José Goldemberg. Essa foi uma reunião com o Arturo Valenzuela, secretário assistente para assuntos do Hemisfério Ocidental.

O cientista político Bolívar Lamounier e José Augusto Guilhon de Albuquerque aparecem noutra “reunião” com norte-americanos, onde foram apresentados como “acadêmicos ligados ao PSDB”. O partido é um dos principais braços do complexo EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A no Brasil.

Os dois acertaram a previsão que Lula elegeria seu sucessor, mas seria necessário buscar apoio no PMDB classificado como um partido que “é sempre problema, nunca a solução, porque não tem nenhuma identidade política nem ideológica e existe com o único propósito de avançar em interesses pessoais para seus membros”.

Aí Dilma correu lá e chamou Moreira Franco, entre outras peças das máfias que formam o partido (existe gente decente sim, mas 0,00000000001%).

Nesse encontro estava o embaixador Clifford Sobel, dos EUA, lógico, que ao final relatou aos seus superiores que ficou acertada uma cobertura positiva para os Estados Unidos, inclusive nas manobras militares entre as marinhas de três países. A dos EUA e as auxiliares, do Brasil e da Argentina.

O jornalista Fernando Rodrigues, repórter político especial do jornal FOLHA DE SÃO PAULO, foi procurado duas vezes para analisar questões relativas ao Brasil. O funcionamento do Tribunal de Contas e uma eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, onde o deputado Aldo Rebelo – pró-EUA, relator do Código Florestal, no bolso dos latifundiários, da bancada do PC do B) concorria.

Como se vê, toda aquela proclamada liberdade de expressão da mídia brasileira pode ser encontrada nos livros caixas da embaixada e consulados norte-americanos, grupos sionistas do Estado invasor de Israel, imaginem quanto a revista VEJA – a líder em podridão explícita – deve ter recebido para a matéria onde afirma que muçulmanos são terroristas e que agem no Brasil com conhecimento do governo.

Na realidade os que agem aqui são outros. Os da MOSSAD – serviço terrorista do Estado invasor de Israel – da CIA e embaixadores e funcionários dos EUA, no serviço de “amaciar” jornalistas e empresas privadas de comunicações.

O que o brasileiro lê, escuta ou vê na mídia privada é aquilo que foi pago pelos donos. A liberdade de expressão dessa gente se resume aos “negócios” e Dilma Rousseff vai entregar a Banda Larga às teles num ato criminoso e de pura traição a tudo o que foi dito durante sua campanha eleitoral. É tucana, disfarçou-se para ser o poste que segundo Delfim Neto Lula elegeria – “Lula elege até um poste” –. Elegeu uma tucana com roupagem petista.

Um dos momentos de rara felicidade no jornalismo brasileiro foi quando Paulo Henrique Amorim definiu essa mídia – PIG, o PARTIDO DA IMPRENSA GOLPISTA. E outro, anterior a essa definição precisa, quando o jornalista Millôr Fernandes afirmou ainda na revista O CRUZEIRO, que “a corrupção começa no cafezinho”. Estava definindo o jornalista venal.

Íntegra da entrevista de Ricardo Teixeira à Piauí

 


Da Piauí.

Por Daniela Pinheiro


A varanda do Hotel Baur au Lac foi construída, em 1844, de maneira a oferecer aos hóspedes uma paisagem inspiradora: o jardim aparado com esmero em primeiro plano, depois o lago sereno e, ao fundo, os Alpes soberbos. Milionários bronzeados que pilotam Jaguar são habitués do hotel, no centro de Zurique.

Eles costumam ser acompanhados por senhoras que portam dois relógios de brilhante no mesmo braço (um que marca a hora local e o outro com o fuso do país de onde vêm). Ou então por loiras magras que bebem Campari com gestos lentos.

Em maio, o hotel estava cheio de dirigentes da Fédération Internationale de Football Association, a Fifa, que realizava o seu 61º congresso na capital da Suíça. Num começo de tarde, Ricardo Teixeira, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF, tomava champanhe sentado de costas para o jardim.

A seis dias da eleição do novo presidente da Federação, ele falava de tudo um pouco, com animação: das dificuldades do ministro Antonio Palocci para explicar o seu patrimônio, da blitz da Lei Seca que pegou o senador Aécio Neves ao fim de uma noitada, da despedida de Ronaldo Fenômeno da Seleção, dali a alguns dias.


Parecia imune à catadupa de incriminações de corrupção dos dirigentes da Fifa – ele inclusive, e com realce. David Triesman, ex-presidente da Federação Inglesa de Futebol, dissera que Ricardo Teixeira lhe pedira dinheiro para votar na Inglaterra para sede da Copa de 2018. O cartola britânico contou que o colega o abordou durante o jogo do Brasil com a Inglaterra, no ano passado, e lhe disse: "O Lula não é nada, venha aqui e diga o que você tem para mim."


Quando o assunto surgiu, no terraço do Baur au Lac, ele apertou os olhos, franziu o nariz como se tivesse sentido um odor pestilento e emitiu um "pffffffffffff", enquanto girava a cabeça para o lado. O gesto se repete todas as vezes em que se fala de uma acusação a ele, ou da hipótese de um estádio não ficar pronto a tempo da Copa no Brasil.


"Minha filha, você acredita em tudo que sai na imprensa?", perguntou, sarcástico. "Esquece, isso é tudo armação. Esses ingleses estão putos porque perderam, eles não se conformam. Olha para mim e me fala se eu diria uma bobagem dessas. Que eu ia dizer que o Lula era nada. E pedir suborno em tribuna, na frente de todo mundo. Faz favor, né?"



Discorreu então sobre o domínio colonial e o imperialismo britânico. Classificou os ilhéus de "piratas do mundo", relatou casos da empáfia da Loira Albion e lembrou até de falar mal da comida inglesa.


"Esse Triesman está tendo que explicar na Justiça como gastou 50 milhões de dólares, sendo 15 do governo, na candidatura da Inglaterra", prosseguiu, sublinhando as moedas. "É uma quantia absurda, não se explica. Nós gastamos 3 milhões de reais e levamos 2014. Eles não engolem isso, percebe?"


Outra acusação foi feita pelo jornalista Andrew Jennings, no programa Panorama, da BBC. Ele apresentou uma lista de dirigentes da Fifa, entre eles Teixeira e João Havelange, que teriam recebido 100 milhões de dólares, ao longo dos anos 90, de uma empresa de marketingesportivo chamada ISL. Em troca, os cartolas teriam concedido benesses à companhia na venda de direitos de transmissão de campeonatos.


Teixeira, afirmou o repórter inglês, recebeu 9,5 milhões de dólares, por meio de uma empresa de fachada. Jennings disse que um tribunal suíço obrigara o brasileiro a devolver o suborno, o que significava admitir o crime. "Ah é? Devolvi dinheiro? Então, cadê? Por que ninguém mostra?", perguntou Teixeira. Porque, segundo a BBC, o processo foi encerrado com um acordo extrajudicial que garantiu o anonimato dos acusados. "Eu nem era do Comitê Executivo nessa época, iam me subornar para quê?"


Juntou-se à mesa a mulher de Ricardo Teixeira, Ana Carolina Wigand, uma morena de 34 anos, trinta mais nova que ele, e a filha do casal, Antônia, de 11. Falou-se da cidade, do clima, do hotel. O presidente abraçou a filha, uma menina espevitada que o beijava e acariciava os cabelos dele. Brincando, ele disse que a proibiria de sair à rua de roupa curta.


Quando as duas se foram, ele voltou ao assunto. Disse que Jennings, autor de um livro sobre corrupção na Fifa, era um "fanfarrão" que vivia de palestras. "Minha querida, presta atenção, raciocina", pediu, "a BBC é estatal, é do governo, entende? É interesse do governo inglês anular a escolha da Rússia e tirar o Brasil do páreo, porque eles acham que podem nos substituir na última hora. É tudo orquestrado, percebe?"


Quando quer que fixem o que diz, Teixeira faz "psssiiii" e põe o dedo indicador na altura da boca. Ele costuma chamar mulheres e homens de "meu amor", com acentuado sotaque carioca: "Meu amor, já falaram tudo de mim: que eu trouxe contrabando em avião da Seleção, a CPI da Nike e a do Futebol, que tem sacanagem na Copa de 2014. É tudo coisa da mesma patota, UOL, Folha, Lance, ESPN, que fica repetindo as mesmas merdas."


Uma garçonete se aproximou e recolheu os copos. "O Lula me falava: 'Eu não vejo essa Globo News porque só dá traço'", disse, referindo-se à baixa audiência da emissora. "Então, esse uolsó dá traço. Quem lê o Lance? Oitenta mil pessoas? Traço! Quem vê essa ESPN? Traço!"


Ele concorda com um raciocínio que José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, teria feito no tempo em que dirigia a Rede Globo. Certa vez, falaram-lhe que um avião caíra e centenas de pessoas morreram. Boni teria dito que, se o Jornal Nacional não noticiasse, para todos os efeitos o avião não teria caído. "Portanto, só vou ficar preocupado, meu amor, quando sair no Jornal Nacional", disse Teixeira.


Aos 64 anos, o mineiro Ricardo Terra Teixeira está há 22 à frente da CBF. É também presidente do Comitê Organizador da Copa de 2014 e membro do Comitê Executivo da Fifa. Dito de outro modo: ele é o chefe do futebol brasileiro, o cartola-mor.


É Teixeira quem decide onde, quando e a que horas os clubes jogam. No que toca à Seleção, ele define o cachê de um amistoso, a emissora que o transmite, e é quem fecha os acordos milionários com os patrocinadores. É quem dá ou não credenciais para que jornalistas possam trabalhar nos estádios. E quem nomeia o técnico da equipe brasileira.


Na próxima Copa, Teixeira influenciará na escolha dos estádios, dos lugares de concentração das equipes estrangeiras, e poderá palpitar sobre qualquer obra pública ligada ao Mundial.


Filho de um funcionário do Banco Central e de uma dona de casa, Teixeira nasceu em Carlos Chagas, no interior de Minas Gerais. Foi criado em Belo Horizonte, mas ainda na infância se mudou para o Rio. Estudou no Santo Inácio, escola tradicional carioca onde aprendeu francês com um padre (se comunica bem em portunhol e tem um inglês infrabásico).


Na adolescência, chegou a integrar a equipe de vôlei do Botafogo. Futebol nunca foi o seu forte. Torce pelo Atlético Mineiro e pelo Flamengo. Em 1968, ele estava no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva, o CPOR, de onde observou a radicalização da ditadura militar.


Aos 19 anos, em um baile de Carnaval em Teresópolis, foi apresentado a Lúcia, filha de João Havelange, o presidente da Confederação Brasileira de Desportos, organização que antecedeu a CBF. Começaram a namorar, casaram-se cinco anos depois e tiveram três filhos. Abandonou o curso de direito, no 4º ano, para trabalhar em uma financeira de Belo Horizonte, o que o obrigava a viver na ponte aérea.


Quando fala de seu período como operador do mercado financeiro, ele se deleita em lembrar como vendia ações desacreditadas e triplicava o investimento. "Eu ganhava muito mais do que hoje", disse. "Era como se eu ganhasse um Dodge Charger RT por dia." Graças aos contatos de João Havelange, fez cursos e estágios em Zurique e em Nova York. Foram as suas primeiras viagens ao exterior.


Para explicar como saiu do mercado financeiro e virou cartola de futebol, Teixeira é sucinto: "Foi o rumo natural das coisas." No relato de João Havelange, porém, foi ele o Merlin que ensinou e preparou o genro para as artes da cartolagem. Em 1989, Teixeira foi eleito presidente da CBF. Ao falar da Confederação ou da Seleção, Teixeira emprega a metonímia "eu": "Eu tive que pagar", ou "Eu tenho 120 milhões em caixa", ou "Eu tinha que ganhar aquela Copa", ou "Eu não queria abrir a Copa da Alemanha".


Teixeira é pródigo em citações folclóricas, que atribui sempre a sua mãe, qualquer que seja o assunto. "Mamãe, que era mineira, sempre dizia...", ele começa, e daí segue: "o que não tem remédio, remediado está", "aqui se faz, aqui se paga", "macaco senta no próprio rabo para falar do dos outros", "nada como um dia após o outro", "a vida é fácil, a gente é que complica". Sua expressão predileta para falar da imprensa esportiva é: "Isso é de quinta categoria!"


Ele tem as feições pouco marcadas, rechonchudas. Como anda um pouco curvado, devagar e tem pigarros recorrentes, aparenta mais idade. Parece estar sempre irritado porque, mesmo relaxado ou de bom humor, mantém o cenho contraído, como se o sol do meio-dia ou uma forte dor de cabeça lhe atingisse em cheio a fronte.


Quando se desarma, ou toma uma taça a mais num fim de noite, é espirituoso e atencioso com todos. Ele se veste de maneira formal, padrão: calça marrom, camisa branca, blazer azul com botões dourados e gravata vermelha. Antes de se casar – sua mulher contou – usava sapato preto com meia soquete branca.


Em dez dias de convivência, riu às lágrimas em duas ocasiões. Na primeira, ao contar a história, que jurou ser verdadeira, de duas brasileiras do interior que entraram num elevador do Hotel Plaza, em Nova York, com o jogador de basquete Michael Jordan e o cachorro. Sem saber de quem se tratava, e alertadas para a violência na cidade, vinda dos negros, elas se agacharam em pânico quando ele ordenou sit! ao animal. A outra foi sobre ladrões portugueses que, ao explodir um caixa eletrônico, botaram fogo no dinheiro.


O presidente entrou às sete e meia da noite num dos seus restaurantes preferidos, o Zeughauskeller. Especializada em salsichão, chucrute e batata rosti, a casa tem a decoração rústica dos Alpes, com mesas longas e bancos de madeira pesada. Foi recebido em espanhol pela dona, que o conhecia pelo nome e o encaminhou a uma mesa reservada para quinze pessoas. Sentou-se, tirou a gravata e arregaçou as mangas.



Os convivas eram cartolas de confederações sul-americanas, suas esposas e assessores. Parecia um jantar do elenco do seriado Chapolin, com muita tinta acaju, pulseiras de prata, calças de tergal e sobrancelhas feitas com um risco em forma de meia-lua. Estava lá o octogenário Julio Grondona, jefe da Associação do Futebol Argentino. Ele é acusado de ter ganho 78 milhões de dólares para votar no Catar para sede da Copa de 2022.



Também apareceu Nicolás Leoz, um paraguaio de 82 anos que preside a Confederação Sul-Americana de Futebol, a Conmebol. Além de ter recebido suborno da ISL, diz-se que ele teria pedido um título de nobreza a David Triesman, em troca de seu voto pela Inglaterra. "Don Leoz, donde está su corona?", gritou-lhe Teixeira, trazendo à baila o almejado título de sir. Leoz fez um bico de muxoxo e levantou os braços sobre a cabeça, fingindo estar sendo coroado, e todos gargalharam. "Se nos devolverem as Malvinas, eu voto em qualquer coisa!", gritou Grondona, que usa um anel de ouro no mindinho com a expressão Todo pasa.



Em Zurique, Teixeira anda sempre com os latinos. Quando não estava com a família, sua companhia mais frequente eram cartolas uruguaios, argentinos e paraguaios. Mesmo durante a maior crise da história da Fifa, permaneceu à margem de reuniões da cúpula da entidade – como a que ocorreu às vésperas da eleição, quando um grupo virou a noite ajudando Joseph Blatter a preparar seu discurso.



Depois do jantar, Teixeira – apesar da locomoção vagarosa – quis voltar a pé para o hotel. Em 1998, caiu do cavalo, foi operado e lhe colocaram uma placa de ferro na coxa, o que lhe encurtou em 2 centímetros a perna direita. Ele enfrenta o problema usando sapatos feitos sob medida, por "um cara em Olaria", com um salto interno para compensar a diferença.



À medida que percorria a Bahnhofstrasse, a rua das lojas de luxo, comentava o que via nas vitrines: "Não gosto dessa roupa, acho brega", "Olha que diferente isso", "Essa loja é nova", "Nessa aqui você acha tudo quanto é tipo de perfume", "Olha que coisa bem bolada esses chocolates". Na esquina do Baur au Lac, ele parou, com as mãos enfiadas nos bolsos do paletó, e se espantou: "Ah, não. Olha isso! Casaco de pele a mil euros? Tenho que comprar. Não é possível esse preço."



Parecia cansado, mas sugeriu que tomássemos um último café no salão de chá. Meio em inglês, meio em espanhol, pediu um expresso com um pouco de água quente em separado. Eram seis da tarde no Brasil e o celular de Rodrigo Paiva, diretor de comunicação da CBF, tocava sem parar. Em quarenta minutos, ele havia atendido treze telefonemas, e escutara perguntas sobre o atraso do salário da Seleção Brasileira de Futebol Feminino, o suposto achaque ao dirigente inglês e os gastos da Confederação.



Quando Paiva desligou, Teixeira se aprumou na cadeira, como se tivesse descansado o suficiente, e disse: "Que porra as pessoas têm a ver com as contas da CBF? Que porra elas têm a ver com a contabilidade do Bradesco ou do HSBC? Isso tudo é entidade pri-va-da. Não tem dinheiro público, não tem isenção fiscal. Por que merda todo mundo enche o saco?"



Ao assumir a presidência, Teixeira abriu mão de toda a receita pública, inclusive de dividendos da loteria esportiva, uma das principais fontes de renda da entidade. Também abdicou dos ganhos pelo uso da imagem dos times, e deixou que o lucro de bilheteria ficasse para os clubes. Ao contrário do Comitê Olímpico Brasileiro, cujas verbas são públicas, na CBF não há dinheiro do Estado.



Ele conta que, ao assumir o cargo, encontrou a Confederação em petição de miséria. Até a Taça Jules Rimet estava penhorada. Houve ocasiões em que jogadores só entraram em campo depois de ver, literalmente, a cor do dinheiro de seus salários atrasados. Diz que saneou as contas graças a sua experiência no mercado financeiro. Hoje a entidade tem 120 milhões de reais em caixa, jatinho, helicóptero e um terreno na Barra, estimado em 25 milhões de reais, destinado à construção de uma nova sede. No seu mandato, a Seleção chegou à final da Copa três vezes, venceu duas e ganhou a Copa América em cinco ocasiões.



No final de 2009, ele encomendou uma pesquisa ao Vox Populi. Das 2 500 pessoas entrevistadas em 150 municípios, 53% disseram que o seu trabalho na CBF era ótimo ou bom. Mais da metade considerou que o Campeonato Brasileiro de Futebol estava mais organizado. E a maioria se disse favorável às mudanças que o presidente implementou, como o ponto corrido, a quantidade de times da serie a e o fim do mata-mata. "Só jornalista fala mal de mim", ele disse.


Todos haviam terminado o café. Um representante da empresa Match, que negocia os pacotes de hospedagem e entradas para a Copa, quis saber se, na entrevista agendada com a Rede Globo, haveria perguntas sobre os preços, considerados estratosféricos, de hotéis e restaurantes no Brasil. "Não vai ter isso, não: está tudo sob controle", respondeu Teixeira. Quase à uma da manhã, ele se despediu. Antes de entrar no elevador, comentou: "E essa coisa da Dilma doente? Não quero nem pensar."


Inaugurada há dois anos, a sede da Fifa em Zurique custou 250 milhões de dólares. Em uma área de 44 mil metros quadrados, o prédio de três andares tem outros cinco pisos subterrâneos, sala de meditação, capela ecumênica, academia de ginástica e um campo de futebol oficial. O piso do saguão da entrada é forrado com granito e lápis-lazúli importados do Brasil. Era meio-dia quando Teixeira saiu de uma reunião e checou a programação do dia com seu secretário particular.



Alexandre Silveira o acompanha há dezoito anos. Carrega sua mala, celular e computador, tem sempre duas gravatas do patrão à mão, completa as suas frases, faz ligações, organiza a sua agenda, e tudo o mais que lhe for pedido, com a eficiência de alguém treinado no cerimonial do Palácio de Buckingham – e sem jamais ouvir um "por favor" ou um "obrigado". Ex-telefonista da CBF, ele é jovem, baixo, só anda de terno e passa mais tempo com o chefe do que com a mulher e a filha de 7 anos. José Serra uma vez o confundiu com o ministro Orlando Silva, dos Esportes, e o cumprimentou efusivamente.



Breno Silveira e Andrucha Waddington, da Conspiração Filmes, registraram os bastidores da Copa na Alemanha, em 2006. No DVD com a primeira montagem das imagens, pode-se ver Ronaldo Fenômeno sem camisa, com 91 quilos de músculos, enquanto a imprensa o chamava de gordo (hoje ele pesa cerca de 110 quilos). Também chamam a atenção as cenas no vestiário que mostram o ambiente pesado, de derrota inevitável, ainda no intervalo da final contra a França.



No carro, a caminho do almoço, Teixeira falou que quer fazer um filme em 2014 cujo tema seja "a Copa que perdeu e a Copa que ganhou" (pressupondo que na próxima a Seleção vencerá). Queria ter feito isso no Mundial passado, mas Dunga proibiu que os cineastas se aproximassem dos jogadores, o que o irritou sobremaneira. No banco de trás, Rodrigo Paiva observou que deveriam pedir o copião do que fora gravado, e Teixeira o atalhou: "Pedir porra nenhuma, o filme é nosso, as imagens são minhas."



Com a temperatura de 18 graus, o presidente quis ficar no terraço do restaurante italiano Bindella. Naquela manhã, uma nota de cinco linhas na Folha de S.Paulo noticiava que o processo conhecido como "voo da muamba", no qual ele era réu, havia sido arquivado, dezessete anos depois de iniciado. "São uns filhos da puta, nem colocaram que não tinha a coisa do meu bar", disse.



O avião que trouxe a Seleção de volta ao Brasil, depois de ganhar a Copa do Mundo nos Estados Unidos, em 1994, tinha na bagagem 17 toneladas de compras de jogadores, cartolas e convidados. Teixeira foi acusado de pressionar um funcionário para liberar a carga sem vistoria. "Falaram que eu tinha trazido material contrabandeado, o caralho", lembrou. "Agora, sabe por que isso tudo aconteceu? Porque não deixei que a imprensa entrasse no avião e porque o secretário da Receita, o Osíris Lopes Filho, ia ser demitido."



O garçom, que falava português, interrompeu a conversa para anotar os pedidos. Ele quisburrata com presunto cru, uma massa bem cozida ("Detesto al dente, sinto gosto de farinha", disse) e vinho tinto. Teixeira não gosta de peixe, dispensa frango e não come nada verde.



Explicou que Osíris seria exonerado por Itamar Franco, por ter "falado umas merdas sobre a Petrobras". De fato, em julho daquele ano, numa palestra, o secretário da Receita disse que a estatal devia o equivalente a 1 bilhão de dólares em impostos.



"Aí, foi tudo armado", prosseguiu. "Descemos no aeroporto, o povo da Receita falou para deixarmos as bagagens, que eles iam guardar e dali a três dias devíamos voltar para pegar. A CBF pagaria todo o imposto, como pagou depois, mas o seu Osíris armou para mostrar serviço, posou de arauto da moralidade, a imprensa comprou a história e nós nos fodemos."



Havia toda sorte de eletroeletrônicos e eletrodomésticos a bordo. Falou-se que o jogador Branco havia trazido uma cozinha inteira e que Teixeira incluíra na bagagem chopeiras para seu bar no Jockey Club, no Rio. "Essas chopeiras vieram da Nova Zelândia", disse ele. "Então, presta atenção: o gênio aqui conseguiu entrar com esse material contrabandeado ilegalmente nos Estados Unidos, depois sair dos Estados Unidos ilegalmente, e entrar no Brasil também ilegalmente, até ser descoberto?"


Dias depois, em Brasília, encontramos por acaso Henrique Hargreaves, chefe da Casa Civil do governo Itamar Franco, que confirmou a versão de Teixeira.


Há mais de quarenta anos, Jean-Marie Faustin Goedefroid de Havelange se hospeda no Hotel Savoy. Não gosta da badalação do Baur au Lac. Num fim de tarde, ele chegou ao saguão para a entrevista com pontualidade suíça. Aos 95 anos, mantém o porte reto e senhorial. Sempre de terno, chama a todos de mais de quinze anos de "senhor" ou "senhora". Para expor seus argumentos, usa o método socrático: faz perguntas cujas respostas já sabe, mas deixa que o interlocutor chegue a elas por conta própria.



Havelange é talvez o maior responsável pela transformação da Fifa numa potência. Ao assumir a sua direção, contou ter encontrado 20 dólares no caixa. Foi um dos primeiros a perceber, nos anos 70, que o futebol tinha a vocação de se transformar, com as transmissões ao vivo, via satélite, num espetáculo mundializado, atraindo patrocinadores multinacionais. Com a vantagem de, ao contrário das Olimpíadas, o futebol não ser contaminado pela política da Guerra Fria, já que os Estados Unidos não se interessavam pelo esporte.



Mas seria preciso que a Federação, de origem europeia e bem de vida, incorporasse países pobres. Alterou então o critério de eleição para presidente, dando o mesmo peso dos europeus aos votos da África, do Caribe e da Ásia. Destinou-lhes também verbas para organizarem estruturas nacionais. Assim, consolidou o seu poder. Hoje, a Fifa fatura 4,6 bilhões de dólares só com o Mundial.



No Savoy, Havelange disse que, se teve algum sucesso, foi porque nasceu no Brasil, onde "aprendemos a lidar desde o berço" com diferenças de raça e religião. Lembrou-se do primeiro congresso da Fifa que organizou, em 1974: "A senhora acha que um inglês dá beijo num preto? Um alemão dá? Pois todo africano que entrava no congresso, eu e minha mulher, Anna Maria, beijávamos todos."



A escolha do Brasil para sediar a Copa do Mundo passa pela relação de Havelange com os cartolas africanos. Em troca do apoio que teve durante os anos à frente da Fifa, Havelange havia conseguido, já em 2006, a maioria dos votos para que a África do Sul fosse a sede da Copa. Em contrapartida, os africanos apoiariam a candidatura brasileira na eleição seguinte.



Na última hora, no entanto, numa atitude suspeitíssima, o representante da Nova Zelândia votou em branco, e a Alemanha levou o Mundial de 2006. A Fifa mudou logo as regras de rodízio de continentes, de modo que a sede seguinte fosse na África e, na sequência, na América do Sul. Como a África do Sul e o Brasil eram os países mais ricos dos seus continentes, não tinham como perder. E não perderam.



As denúncias de corrupção não lhe fizeram mossa. Para Havelange, tratava-se de maquinações para desestabilizar candidatos, de disputa política por um cargo cobiçadíssimo. "Quem não quer sentar nessa cadeira com os recursos e o poder que a Fifa tem hoje?", perguntou.



Ele descreveu Ricardo Teixeira assim: inteligência acima da média, observador, calado "como um bom mineiro", tem sempre uma pessoa dele infiltrada nos lugares que importam ("O que faz com que esteja sempre bem informado") e capacidade de aguentar desaforos e planejar o troco para mais tarde. "O Ricardo é o quê? Mineiro, não é? O Aécio é amigo dele, não é? Onde você acha que vai ser a abertura da Copa do Mundo?" "Em Belo Horizonte", concluí. "Isso é o Ricardo, nós é que somos bobos", ele comentou.



Quando o casamento de sua filha acabou, Havelange rompeu com Teixeira. Ninguém da família podia pronunciar o nome dele na sua frente. "Um dia minha mulher, Anna Maria, me disse: 'Não te esqueças que ele é o pai dos teus netos'", contou. "E aí apaguei tudo. Voltei a me relacionar como se ele ainda estivesse casado com a minha filha. Porque neto é neto. Bisneto é bisneto."



Por isso, tentará o que lhe estiver ao alcance para fazer o ex-genro chegar à presidência da Fifa, em 2015: "O Ricardo queria se apresentar agora, mas eu disse a ele: 'Faz uma Copa do Mundo de qualidade, trata todo mundo de maravilha, vão votar em você por agradecimento.'"


Perguntei se Teixeira precisava dele para se eleger. "Claro que não, burro é uma coisa que ele não é", respondeu Havelange. "Se a senhora um dia tivesse que definir a malandragem, no bom sentido, claro, ela se chamaria Ricardo Teixeira."



Ele acha, contudo, que o seu herdeiro deveria ter mais paciência para cultivar as pessoas, como ele próprio fez. E poderia se preocupar um pouco mais em não melindrar certos ânimos. Contou que, certa vez, Joseph Blatter foi de jatinho à Etiópia. E ele fez uma ponderação ao seu sucessor na Fifa: "Não se anda em país pobre de jatinho. Pega um avião comum, salta pela frente, todo mundo respeita. É essa sensibilidade que se tem que ter."



Depois de quase duas horas sentado, Havelange sentiu uma fisgada no pé. Apesar de ainda nadar 1 200 metros diariamente, teve uma fissura no osso do tornozelo. Gentilmente, encerrou a entrevista. Sua observação final foi a seguinte: "O Ricardo é sozinho. Deveria ter alguém para confiar, para se détendre."


Jornalistas esportivos me disseram que a CBF privilegia repórteres e veículos de comunicação que preservam Teixeira.


E procura restringir o acesso daqueles que o criticam. Em Zurique, o presidente conversou por duas vezes com advogados sobre a possibilidade de negar credenciais para jogos da Seleção Brasileira. Foi orientado a conceder pelo menos uma aos desafetos, de maneira a não se caracterizar a discriminação.


Uma equipe da BBC mandara mais de dez pedidos de entrevista a Teixeira, para uma reportagem que fariam no Brasil sobre a Copa de 2014. "Eu vou infernizar a vida deles", explicou. "Enquanto eu estiver na CBF, na Fifa, onde for, eles não entram." Apesar de a reportagem da BBC e de o depoimento do inglês David Triesman terem ocupado a primeira página de dezenas de jornais, Teixeira não buscou reparação na Justiça. Um advogado francês lhe disse que um processo contra a BBC lhe custaria, no mínimo, 500 mil dólares. "Fora isso, tem que ir lá, dar depoimento, aquela coisa toda, muito trabalho", comentou.



No Brasil, suas investidas judiciais têm um alvo preferencial, o comentarista Juca Kfouri, a quem já processou mais de cinquenta vezes. "Dele, eu não deixo passar nada", afirmou. "Outro dia, recebi um dinheiro dele. Mas eu doo para a caridade. Na próxima que ganhar, vou publicar no site da CBF um agradecimento."



A desavença entre ambos, contou, tinha uma origem pessoal. Antes de se divorciar da filha de Havelange, correu o rumor de que uma amante de Teixeira havia morrido em um desastre de carro, em Miami. Kfouri noticiou a história, provocando um terremoto em sua vida familiar que culminou com o fim do casamento.



Kfouri disse que o cartola usa a história como pretexto para atacá-lo, e que a origem real do conflito foi o fato de ele ter noticiado as "relações promíscuas" de Teixeira com a Nike. "A estratégia dele é me processar por qualquer coisa, na tentativa de convencer meus empregadores que eles gastam muito com advogados para me defender, e me mandem embora", disse Kfouri. "Ele não pode achar que pode agir como quiser à frente do futebol, sem que ninguém fale nada. Na camiseta da Seleção não está escrito Teixeira."



No terraço do Bindella, a mesa aguardava a sobremesa enquanto Rodrigo Paiva atendia mais chamadas de repórteres brasileiros. Queriam saber o que o presidente pensava da tentativa do deputado Anthony Garotinho, da bancada evangélica, de aprovar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a CBF e a organização da Copa do Mundo. "Ele está trabalhando para a Record", disse Teixeira.



As relações de Teixeira com a Record ficaram atritadas no ano passado, quando a rede mantida pela Igreja Universal do Reino de Deus tentou tirar da Globo o direito de transmissão do Campeonato Brasileiro. Falava-se que a Record ofereceria 1 bilhão de reais aos vinte maiores times, congregados no chamado Clube dos 13.


E a Globo, com o apoio da CBF, passou a negociar individualmente com os clubes. Logo de início, acertou-se com o Flamengo e o Corinthians, cujos dirigentes são bastante próximos de Teixeira. No fim, a maioria renovou com a Globo e a Record, novamente, ficou sem futebol.



"A partir daí, o Garotinho começou com essa coisa de montar CPI", disse Teixeira. Em março, o ex-governador do Rio conseguiu reunir as assinaturas para formar uma Comissão sobre a Copa. Pego de surpresa, o presidente da Confederação voou para Brasília, peregrinou pelos gabinetes e conseguiu demover muitos parlamentares. "Todo mundo que era do PT e havia assinado voltou atrás quando viram que aquilo era um absurdo", disse.



No futuro, Teixeira considera montar uma estrutura jornalística própria, que produzirá conteúdo de interesse da CBF. Seja para responder aos ataques dos críticos, seja para comercializar o acesso privilegiado que a entidade tem sobre os jogadores.


Antes de pagar a conta no restaurante, Teixeira falou pelo telefone com Evandro Guimarães, lobista da Globo em Brasília. Trocou ideias sobre inseminação de bovinos, uma de suas mais novas atividades. Sua fazenda, no interior do Rio, produz 10 mil litros de leite por dia e os laticínios do presidente são consumidos em diversos restaurantes cariocas. Ele também vende doce de leite, ricota, queijo de minas, parmesão e requeijão (o melhor produto, no seu entender). O negócio é rentável? "Não sou de jogar dinheiro fora", respondeu.



Perguntado sobre quem são seus melhores amigos, ele disse: "O Rico, o Beto, a Joana e a minha mulher." São os seus três filhos mais velhos, que, assim como seu irmão e seu cunhado, também estão no ramo dos negócios do futebol. Para ilustrar sua visão da amizade, inventou uma pequena fábula: "Se você está na merda, vão falar: 'Coitado do Ricardo, vamos dar uma mão para ele.' Mas aí, todo mundo volta para casa, não ajuda e finge que esqueceu o assunto", disse. "Agora, pense na situação inversa: 'Porra, o Ricardo está bem pra caralho, que sucesso.' Pode ter certeza que vai ser aquele que você acha que é seu melhor amigo quem vai dizer primeiro: 'Também, roubando, quem não fica bem?'"



Ele disse que não se incomoda com as acusações de corrupção: "Não ligo. Aliás, caguei. Caguei montão." Como Tom Jobim, ele acha que os brasileiros lidam mal com o sucesso alheio. "O neguinho do Harlem olha para o carrão do branco e fala: 'Quero um igual'", raciocinou. "O negro não quer que o branco se foda e perca o carro. Mas no Brasil não é assim. É essa coisa de quinta categoria."



Ao sair do Bindella, quis novamente andar até o hotel. "Preciso dar essa caminhadinha para fazer a digestão", justificou. Em frente à loja dos casacos de pele, mais uma vez se mostrou intrigado: "Olha o casaco, ainda está lá. Será que o preço é esse mesmo?"



No salão de chá do Baur au Lac, o argentino Julio Grondona estava esparramado numa poltrona, com o rosto afogueado. "Ah, fui ver os vitrais do Chagall, comi um risoto maravilhoso, bebi uma garrafa de Chianti e brindei à eleição da Fifa", disse, caindo na gargalhada.



Teixeira pareceu surpreso ao saber que um dos principais pontos turísticos de Zurique, os vitrais de Marc Chagall, ficava a menos de 500 metros do hotel. Ainda que frequente a cidade há mais de trinta anos, seus trajetos são inalteráveis: hotel, Fifa, os mesmos restaurantes, onde é atendido pelos mesmos garçons – a quem pede os mesmos pratos. As paisagens deixaram de deslumbrá-lo.



Às cinco e meia da tarde, Teixeira disse que precisava dar uns telefonemas, avisou que jantaríamos às oito e subiu para o quarto. Eduardo Deluca, o secretário-geral da Confederação Sul-Americana de Futebol, falou então sobre o companheiro: "Você conhece alguém que tenha esse cargo, essa projeção e sobre o qual não inventem as mesmas histórias? Ele é um candidato fortíssimo para 2015, por isso o atacam. Estamos fechados com ele." Deluca é uma figura pantagruélica, de fala monocórdia, cujos olhos parecem boiar no vazio.



O presidente, a mulher, as duas filhas, Rodrigo Paiva e o secretário Alexandre Silveira foram jantar no Dézaley, que serve uma das fondues mais elogiadas da cidade. Instalaram-se numa mesa de fundos, o garçom lhes deu boas-vindas em português e anotou os pedidos.



"Olha aqui, tenho uma notícia fresquinha", anunciou o cartola à mulher enquanto lhe passava um maço de folhas de papel. "A Federação inglesa mandou um relatório agora à tarde para a Fifa dizendo que não tenho nada com aquilo de pedir suborno para o inglês, lê aí."



Quando chegou a fondue, Teixeira dizia que o documento seria mostrado à imprensa dali a três dias, durante uma entrevista coletiva. "Mas que absurdo. Vão deixar você apanhar até lá?", perguntou Ana. "Tanto faz para mim", respondeu ele. Sua filha mais velha, Joana Havelange, de 34 anos, só escutava a conversa. Ela é loira, alta e gosta de roupas pretas. Foi nomeada pelo pai diretora-executiva do Comitê Organizador da Copa.



Nos almoços e jantares com Ricardo Teixeira (que nunca me permitiu pagar nem um café em sua companhia), todos são instados a dar palpites sobre a burocracia do futebol, sobretudo da Copa, e a comentar fofocas políticas. São raros os momentos de intimidade, como quando a caçula Antônia abraçou o pai e disse que ele era lindo, tinha um cabelo maravilhoso e que não deveria cortá-lo. Derretendo-se, ele deixou a cabeça descansar no ombro da menina.



Quando a conta chegou, Teixeira sacou a carteira Gucci, que só tem cartões de crédito e nenhuma nota de dinheiro. Ajeitou os óculos na ponta do nariz e perguntou, atarantado: "O que é trinkgeld?" Quando soube que se tratava da gorjeta, contou que uma vez teve um cartão recusado porque se confundiu com os números da senha, ainda que o limite fosse de 600 mil reais.



Perto da meia-noite, o grupo andou até a ponte do rio Limmat e parou na frente do relógio da catedral de Fraumünster. Estavam munidos de pedaços de pão velho, trazidos do restaurante, que foram jogados ao vento, caíram e boiaram na água cristalina do rio. "Dou pão aos patos aqui desde 1974", disse Teixeira, suspirando. Na Bahnhofstrasse, ele chamou a atenção da filha: "Toninha, olha esse casaco: mil euros! Eu vou comprar!"


Em 1997, Ricardo Teixeira se separou de Lúcia Havelange e engatou um namoro com a grã-fina Narcisa Tamborindeguy. Logo depois, conheceu Ana Carolina, que estudava administração na Pontifícia Universidade Católica. Ela esperava amigas no bar da El Turf, a boate dele. As amigas não chegaram e o cartola, sem se identificar, disse a um funcionário que pegasse o telefone da jovem de 19 anos. Dias depois, ligou. "Ele não ficou enrolando, disse que não era garoto, que não tinha tempo nem paciência para ficar de paquera e foi logo direto ao assunto", contou Ana Carolina.



Passaram semanas até que ela consentisse em marcar um encontro. Foram jantar e, na hora de deixá-la em casa, beijaram-se. Ela gostou, mas Teixeira deu-lhe um gelo. "Depois daquilo, ele me ignorou totalmente, e aí eu fiquei com a pulga atrás da orelha: quem era ele para fazer aquilo comigo?", disse.



Ana Carolina comentou que mexera recentemente numa caixa de fotos antigas. Ficou surpresa com as mudanças físicas do marido, ocorridas em tão pouco tempo: "O pescoço, a pele, tudo; o cabelo era grisalho e agora é todo branco."



Passaram-se outras tantas semanas até que começassem a namorar. Aí veio Paris. Com um sorriso eloquente, ela lembrou a primeira viagem que fizeram juntos. Jantaram no Jules Verne, o restaurante da Torre Eiffel, e depois, caminhando para o hotel, ocorreu, segundo ela, uma das cenas mais românticas do casamento. "Tinha uma cigana vendendo rosas.


Ele perguntou quanto era, ela disse que eram 10 francos, acho, ele pegou uma nota de 500, deu a ela e pegou uma rosa", contou, encarando o marido, que ficou todo o tempo de cabeça baixa, examinando algo invisível nas mãos. "Aí, ele pegou a rosa, deu para a cigana, pegou o balde inteiro de flores e me deu." Teixeira continuava vexado. Quando perguntei o que lhe havia chamado a atenção em Ana Carolina, ele não respondeu (para desconsolo da mulher).


A quatro dias da eleição da nova diretoria da Fifa, uma equipe da Globo foi mandada de Londres para Zurique para fazer uma reportagem sobre os preparativos da Copa. Executivos da Federação, inclusive Teixeira, falaram longamente sobre as obras de infraestrutura no Brasil, a construção dos estádios e as cidades-sede dos jogos. Apesar de todas as denúncias sobre corrupção e suborno, nenhuma pergunta foi feita sobre o assunto pela Globo.



Durante a CPI da Nike, em 2001, a rede levou ao ar uma reportagem no Globo Repórtersustentando que a renda de Ricardo Teixeira era incompatível com o seu patrimônio e padrão de vida. A CBF anunciou pouco depois, do nada, uma mudança no horário de transmissão de uma partida Brasil x Argentina, clássico sul-americano que costuma bater recordes de audiência. Em vez de ser exibido no horário de praxe, depois da novela das oito, o jogo foi marcado para as 19h45.



"Pegava duas novelas e o Jornal Nacional. Você sabe o que é isso?", cochichou-me Teixeira, no Baur au Lac, quando o caso foi relembrado. Como a Globo transmitiu a partida, amargou o prejuízo de deixar de mostrar diversos anúncios no horário nobre, o mais caro da programação. A partir daí, não houve mais reportagens desagradáveis sobre o presidente da CBF na Globo.



Teixeira quis almoçar de novo no Zeughauskeller. No caminho, o celular de Rodrigo Paiva tocou e, do Rio, alguém lhe contou que o prefeito Eduardo Paes havia divulgado que a sede do centro de imprensa da Copa seria na cidade. O anúncio, no entanto, deveria ter sido feito pelo Comitê Organizador, ou seja, por Ricardo Teixeira. O que se falou no carro é impublicável.



Chovia com intensidade e o celular de Paiva não parava. Em outro telefonema, alguém avisou que uma reportagem "bombástica" sobre Teixeira seria exibida, no domingo, na Rede Record. Ele reagiu amaldiçoando a emissora, jornalistas, sites noticiosos e a imprensa toda. Disse que não se preocupava porque o programa da rede da Igreja Universal "dava traço". Achava até bom: "Quanto mais tomo pau da Record, fico com mais crédito na Globo." Ao longo dos dias, porém, teve a sensação de que era injusto tomar bordoadas sozinho por causa de uma briga deletéria entre a Globo e a Record.



Quando o carro entrou na rua do restaurante, disse ao secretário para não se esquecer de "comprar as meias do vice-governador Pezão". No Zeughauskeller, pediu cerveja e o estrogonofe de vitela. Depois, telefonou para o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, para reclamar de Garotinho.



Enquanto comia, disse que estava comprometido "desde sempre" com a reeleição de Joseph Blatter, que disputava com o milionário catariano Mohammed Bin Hammam. A filha Antônia, que saboreava batatas fritas, virou em direção ao pai com uma expressão de não ter entendido direito. "Ué, mas você não quer o Bin Hammam?", ela perguntou. Teixeira fez um movimento brusco com o braço direito por debaixo da mesa. Quis ser discreto, mas a menina protestou, alto: "Ai, pai! Não me belisca!"



Houve um silêncio desajeitado. Teixeira voltou a comer, sua mulher a ler o cardápio e Antônia escreveu uma mensagem no smartphone. A menina passou o telefone para a mãe, que digitou alguma coisa antes de lhe devolver o aparelho. De olho na tela, Antônia riu e disse alto: "Desculpa."


Teixeira mandou o secretário ligar para Sandro Rosell, presidente do Barcelona, ex-diretor da Nike e seu padrinho de casamento. "Meu querido, boa sorte, tudo de bom, estamos torcendo demais", disse-lhe. No dia seguinte, o Barcelona enfrentaria o Manchester, na final da Copa dos Campeões, em Londres, e Rosell havia convidado os Teixeira a assistir a partida na tribuna. O presidente não aceitou para evitar o assédio da imprensa inglesa.


Eles são amigos desde os anos 90, quando Rosell morou no Rio. Foi nessa época que a empresa se tornou fornecedora oficial do material esportivo das seleções do Brasil e uma grande patrocinadora da CBF. A relação entre a Confederação e a Nike foi investigada na Câmara e no Senado, e ficou meses a fio no noticiário.


"Aquilo só aconteceu para abafar a CPI do Eduardo Jorge: ela estava pronta, mas aí inventaram essa do futebol que, obviamente, ofuscou a outra", disse Teixeira. Ele se referia ao secretário-geral da Presidência, no governo Fernando Henrique Cardoso. À época, Jorge foi envolvido no escândalo de superfaturamento de obras do Tribunal Regional do Trabalho, junto com o juiz Nicolau dos Santos Neto e o senador Luiz Estevão. (Nada ficou provado contra Eduardo Jorge, que processou e ganhou indenização de vários órgãos de imprensa que o acusaram).


"Até o Ronaldo teve que depor na CPI da Nike", prosseguiu ele. "E, no depoimento, um deputado ficou perguntando quem era o encarregado de marcar o Zidane. Isso é coisa para CPI?" Ao final da investigação, Teixeira foi indiciado por treze crimes, entre eles apropriação indébita, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. Todos os processos vieram a ser arquivados, a pedido do Ministério Público Federal. "Reviraram tudo e não acharam nada. Foi tudo arquivado. E aí? O Ministério Público é incompetente, então?", disse.


A empresa Match alugara uma sala no hotel para que caciques da Fifa assistissem ao jogo do Manchester contra o Barcelona. Teixeira ajeitou-se numa cadeira na primeira fileira, em frente à televisão. Havia salgadinhos e bebida, mas ele tomou suco. Um cartola uruguaio lhe perguntou detalhes dos times brasileiros e ele respondeu de maneira lacônica: "Santos es muy fuerte. El problema es que sólo tiene dos jugadores","Problema de Palmeiras es que gastó mucho y no ganó nada."


Ao contrário dos outros, que vibravam, comentavam, gritavam e xingavam, Teixeira parecia ver um filme repetido da sessão da tarde. Fez comentários breves sobre os passes errados do Barça, e apertava os lábios quando o time perdia uma boa jogada. No meio do jogo, pegou seu iPad. Quando Messi marcou um gol, mal levantou os olhos por cima dos óculos para conferir o tira-teima.


Ao final, comentou que detestava ver jogo rodeado de "muita gente". Ele já me havia dito que sabia separar o público do privado no que dizia respeito ao gosto pelo esporte. "Eu não sou dirigente torcedor, eu sou administrador", dissera. "Não quero saber quem o técnico vai escalar, não fico de ti-ti-ti com jogador, não chamo jogador para a minha casa."


No dia seguinte, devido às denúncias, o tradicional baile de gala que antecede a eleição do presidente da Fifa foi cancelado. O secretário-geral Jérôme Valcke mostrara à imprensa o documento que absolvia Teixeira da acusação de suborno. Ainda assim, o cartola estava com a cara péssima. "Olha como a imprensa brasileira é escrota!", disse, na varanda do hotel. Pegou o iPad e mostrou três reportagens de sites brasileiros sobre o assunto. Apenas a da BBC esclarecia o caso com detalhes. As demais colocavam o documento sob suspeita, já que era produto de uma investigação de um órgão ligado à Fifa.


"A imprensa brasileira é muito vagabunda", disse. Contou que, certa vez, um site noticiara que ele havia passado o Réveillon em uma estação de esqui. Usara como fonte um porteiro de hotel. "Se eu não estivesse com a minha mulher, esses putos teriam acabado com o meu casamento", falou.


Às 7h45, João Havelange estava sentado sozinho no saguão do Savoy, esperando seu motorista, que só chegaria às nove para levá-lo à eleição da Fifa. A caminho, falou que comemorava seu aniversário, havia décadas, indo a um circo em Zurique. "O circo é o único lugar do mundo hoje onde ainda há solidariedade", disse. Quando chegou, em frente ao prédio, dez manifestantes exibiam cartazes pedindo "jogo limpo". Havia mais de 500 jornalistas cadastrados, a maior parte ingleses.



Antes de começar a votação da Fifa, Jérôme Valcke avisou aos 203 delegados presentes que deveriam testar a maquininha de voto. Ele faria duas perguntas pró-forma, e os representantes dos países filiados deveriam apertar verde para sim, amarelo para abstenção e vermelho para não. As instruções foram traduzidas em sete idiomas. "Esse Congresso está ocorrendo na Hungria?", foi a primeira questão. Para o espanto geral, 45 delegados responderam que sim. "Foi a Espanha que ganhou a última Copa do Mundo?" No painel, viu-se que sete responderam negativamente.



Aprovaram-se pontos de um novo estatuto, a entrada de novos membros e, motivados pelas acusações de corrupção, mudanças no sistema de escolha dos países para sediar as copas do mundo. Dali em diante, todos os delegados, e não mais só os membros do Comitê Executivo, poderiam votar. O aumento do número de votantes dificultará, em tese, a corrupção, já que haverá muito mais gente para se subornar.



Ricardo Teixeira passou todo o tempo com o fone de tradução no ouvido. Antes de o resultado da eleição ser proclamado, sumiu. Tinha que pegar um voo para o Brasil ainda naquela tarde. Sem adversários, Blatter foi reeleito por mais quatro anos. O primeiro ministro inglês, David Cameron, classificou o resultado de "farsa".


Era meio-dia quando Ricardo Teixeira atravessou o saguão do Hotel Caesar Park, em Guarulhos, onde a Seleção Brasileira estava concentrada para o amistoso contra a Romênia. O jogo marcaria a despedida de Ronaldo Fenômeno.


Em uma sala do hotel, ocorreu a cerimônia de entrega de um relógio comemorativo ao jogador, com quem Teixeira estava estremecido. "Você foi o melhor jogador da Seleção Brasileira na minha gestão", disse-lhe o cartola. Na frase, havia uma vendeta particular: o deputado federal Romário, que quisera levar Teixeira a depor na Câmara, havia dito que era ele, e não Ronaldo, o melhor atleta da história recente do Brasil.


A eleição da Fifa ocorrera há uma semana e ninguém mais falava dela. Quando encontrei Teixeira, quis saber se a situação era como dizia o anel de seu amigo Grondona: Todo pasa. Ele riu, botou a mão no meu ombro e disse: "O feio é perder, minha querida. Quando ganha, acabou."


Na saída do evento, o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, contou que o ex-presidente Lula lhe havia dito que não poderia assistir ao jogo de Ronaldo porque tinha de ir a Brasília "resolver essa coisa do Palocci, que está dando a maior merda". Quando alguém comentou que Palocci não se sustentava mais no cargo, Teixeira respondeu: "Por que ele tem que sair? Não tem que sair nada, Palocci não vai sair."



À tarde, a Seleção fez um treino rápido no Estádio do Pacaembu. Ao final, Luiz Gleiser, diretor da Globo, ensaiou Ronaldo: ensinou como ele e seus dois filhos deveriam andar ao entrar no campo, a que horas deveriam correr, quantos minutos depois deveriam se retirar, onde ele deveria falar. Assim, na noite da partida, depois de quinze minutos em campo, duas tentativas de gols perdidas, o Fenômeno se despediu.



Na hora do intervalo, fez um discurso preparado e agradeceu aos torcedores por "terem me aceitado como eu sou". As câmeras e as lentes dos fotógrafos registraram a última imagem do ídolo em campo: suado, gordo e, curiosamente, usando um dilatador de nariz. Em casa, os espectadores da Globo tiveram uma informação complementar: entre a despedida de Galvão Bueno e a chamada do Jornal da Globo, o único comercial exibido foi o do Respire Melhor, o dilatador de nariz que Ronaldo usara sem nenhum motivo.


Na semana seguinte, Ricardo Teixeira entrou numa sala VIP do Aeroporto Santos Dumont, no Rio, onde embarcaria no jato da CBF para Brasília. Soube que a deputada Ideli Salvatti havia acabado de ser anunciada ministra de Relações Institucionais. "A presidenta sabe exatamente por que quis a Ideli lá", disse ele, em resposta a um comentário estranhando a nomeação.



Na hora da decolagem, olhou pela janela, respirou fundo e fez cinco vezes seguidas o sinal da cruz. Só relaxou quando o avião alcançou a altura de cruzeiro. Alexandre Silveira se sentou à sua frente e começaram a despachar. Eram três pastas com dezenas de cartas, solicitações, convites. A cada uma, o presidente dava uma orientação: "Arquivo", "Recebo", "Manda para o Salim", "Diz que me coloco à disposição". A respeito de um convite para um baile pelo aniversário da rainha Elizabeth, no Copacabana Palace, disse: "Ninguém vai a nada de inglês."



Em Brasília, ele pretendia assistir à cerimônia de posse de três ministros do Superior Tribunal de Justiça. Também esperava se encontrar com Ciro Gomes e Aécio Neves. A um ele chama de "Cirinho", mas quer que o outro seja presidente da República. O vínculo entre o cartola e o senador mineiro é recente. Quando era presidente da Câmara, foi Aécio Neves quem indicou Sílvio Torres para o cargo de relator da CPI da Nike. Torres preparou uma denúncia nutrida e bem concatenada contra Teixeira.



Até a CPI da Nike, a CBF fazia doações em dinheiro para candidatos. Assim, manteve no Congresso, durante anos, a chamada "bancada da bola". Agora, com investimentos previstos de 24 bilhões de reais em obras para a Copa, os políticos o bajulam e pressionam para que ele marque jogos nos seus currais eleitorais.


Teixeira se aproximou de Lula em 2004, quando a Seleção Brasileira foi jogar no Haiti, numa ação de propaganda para valorizar as tropas nacionais enviadas a Porto Príncipe. Lula passou a recebê-lo, geralmente às sextas-feiras, no final do expediente, para tomar um uísque e conversar sobre futebol e política. Com Dilma Rousseff, a situação mudou: jamais esteve com a presidenta. Quando quer saber sobre os bastidores do Palácio do Planalto, costuma acionar interlocutores em comum, com trânsito privilegiado em Brasília.


Ao entrar no restaurante Gero, num shopping center de Brasília, Teixeira foi cumprimentado pela maioria das mesas: "Oi, presidente!", "Boa-tarde, presidente!"; "Por aqui, presidente", disse-lhe o garçom. "Não tenho a mínima ideia de quem seja aquele baixinho. Tenho que fazer óculos para longe", falou. Nem Ciro Gomes, nem Aécio Neves apareceram. Não estavam na cidade.



Ele pediu nhoque com ragu ("O meu nhoque é muito cozido, tá? Ragu é tipo bolonhesa, é isso?") e uma garrafa de vinho tinto. Um assessor comentou que o sucesso da Copa do Mundo no Brasil seria a prova de sua competência e calaria os inimigos. Teixeira mencionou que já havia conseguido amealhar 300 milhões de dólares, três anos antes do Mundial, enquanto a África do Sul não havia faturado nem 40 milhões de dólares em todo o período dos jogos.



E continuou: "Taí, vai ver que a minha vaidade é essa: ver que as maiores empresas do mundo, a maior de carne, a maior de seguros, a maior cervejaria, o maior banco do país, a maior editora, todo mundo investiu milhões no ladrão, no bandido aqui, numa CBF de merda, num time que só perde, né?" Referia-se aos grandes patrocinadores da Copa no Brasil: Seara, Liberty, Ambev, Itaú e Abril. Entre risadas, contou que, ao voltar de Zurique, mandou cancelar o resumo dos jornais, parou de ver televisão e fuçar a internet. "Não leio mais porra nenhuma, a vida ficou leve pra cacete, tá muito bom", afirmou.


A cerimônia de posse dos ministros do Superior Tribunal de Justiça foi rápida. Mas havia uma fila de cumprimentos interminável. Ao deixar o plenário, Teixeira foi abordado por uma repórter. "Não dou entrevista", disse, ríspido. Foi informado de que se tratava de uma jornalista da TV Justiça, que só queria saber o que ele achara da cerimônia.


Depois de uma hora em pé na fila, ele começou a sentir dores na perna operada. Uma desembargadora a seu lado puxava assunto sobre as obras para a Copa de 2014. "No que depender de nós, está tudo dentro do prazo", disse. "Estou muito tranquilo, vai dar tudo certo. O Rio está um canteiro de obras; Belo Horizonte, Salvador e Recife, idem. Com dinheiro, se faz tudo", afirmou.


Quis saber sobre a polêmica dos estádios paulistas. "A imprensa é a maior culpada de tudo isso", ele disse. "Por ser toda paulista, passou três anos tentando enfiar goela abaixo o Morumbi. Com isso, atrasaram todos os projetos."


Há outra versão. A de que, na esteira da briga envolvendo o Clube dos 13, a Globo e a Record, Teixeira teria descartado o Morumbi, que pertence ao São Paulo, para atingir o presidente do clube, Juvenal Juvêncio – um de seus detratores –, durante a disputa. Os críticos do presidente argumentaram que, em vez de se gastar o triplo na construção do estádio do Corinthians, o Itaquerão – como ele defende –, bastaria apenas uma reforma para viabilizar o Morumbi.


Teixeira argumentou que o melhor estádio da Copa na Alemanha ficava "no meio de uma estrada e outra estrada". Segundo ele, "Itaquera tem muito mais estrutura do que o Morumbi. Tem trem e metrô na porta".


Como de hábito, responsabilizou a imprensa pela celeuma: "Olha a merda que foi a Copa na França: a Seleção jogou num estádio de 27 mil lugares, ficamos concentrados no meio do nada. E algum jornalista reclamou? Não, né? Afinal, estavam indo para Paris." Quando se falou em aeroportos, ele deixou claro que o problema não lhe diz respeito. "Isso é o governo. E se o governo acha que a Copa não é prioridade, não posso fazer nada. Esse é o SEU país", disse.


A fila andou, mas havia pelo menos mais vinte minutos em pé. Falou-se sobre o goleiro Bruno, acusado de mandar matar a mãe do filho dele. Teixeira acha que há pelo menos cinco jogadores de renome que foram salvos pelo futebol. Se não tivessem se tornado profissionais, teriam sido mortos antes dos 15 anos por terem índole de criminosos. Depois de quase duas horas de espera, os cumprimentos duraram menos de cinco minutos. Mas ele ficou satisfeito: "Foi muito bom, encontrei pelo menos vinte ministros."



Na Base Aérea de Brasília, recebeu um telefonema alertando que a Record anunciava mais uma "reportagem avassaladora" sobre sua vida, naquela noite. Teixeira afastou-se para falar com seu advogado, e perguntava o que exatamente exibiriam no programa. Repórteres haviam feito imagens da sua fazenda, atribuído a ele uma casa em Búzios que não era sua, e mostrado sua casa na Flórida.



Ele mandou o advogado preparar a notificação para um processo. O jatinho taxiava e ele atendeu a mais uma chamada pelo celular. Quando desligou, ficou sentado longe do espaldar da poltrona segurando o telefone na mão. "Alguém está falando do Palocci hoje? Não, né? Se eu renunciasse hoje, eu viraria santo", disse, em tom de desabafo.


Enquanto o avião decolava, tirou os sapatos, esticou as pernas sobre um banquinho de couro creme e fez o sinal da cruz. As luzes da cidade tinham ficado para trás quando rompeu o silêncio: "Em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Porque eu saio em 2015. E aí, acabou."