domingo, 7 de agosto de 2011

Gilberto Carvalho: "A Dilma não é lulodependente"

O ministro fala da relação da presidente com Lula, das mudanças no governo pós-Palocci e de corrupção

Luiz Maklouf Carvalho

”Vinde a mim vós todos que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” Cristão de boa cepa – já quis até ser padre –, o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, continua com o hábito de escolher, matinalmente, o versículo do dia. O da quarta-feira, 27 de julho, era este Mateus 11, 28-30. Oprimido ele não está, mas o cansaço não dá para esconder. “Isso aqui não para”, disse logo depois de voltar de mais uma reunião “com a Dilma”. É como ele a trata, alternando com o “presidenta” quando acha mais adequado. “Eu chamo mais ela de Dilma que chamava o Lula de Lula. O Lula gostava muito que a gente o chamasse de presidente.” Aos 60 anos, o ex-seminarista, ex-sindicalista e ex-dirigente do PT quer ser ex-ministro no fim deste mandato, “se a presidenta quiser que eu fique até lá”.
ENTREVISTA - GILBERTO CARVALHO

Igo estrela/ÉPOCA QUEM É
Secretário-geral da Presidência da República e ex-chefe de gabinete do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva


O QUE FEZ
Quadro histórico do PT, já foi dirigente do partido, sindicalista e seminarista. Atuou também na prefeitura de Santo André, no ABC paulista

ÉPOCA – Qual é a formulação que o senhor prefere: “o ministro Gilberto é um homem do ex-presidente Lula” ou “um homem da presidente Dilma”?
Gilberto Carvalho –
O Gilberto é um homem da dona Geracy, minha mãe. Não sou homem do Lula nem da Dilma. Tenho de fato uma intimidade com o Lula, que me honra muito. É um dado da minha vida e agradeço a Deus por ele. Mas não faço disso uma herança, e isso não me faz nem um pouco mais importante. E muito menos faz me sentir com qualquer outro tipo de poder no governo. A relação da Dilma comigo não passa por isso. Passa pela confiança e pelo desempenho que eu tenha ou deixe de ter.

ÉPOCA – De 0 a 100, quanto o senhor aposta que eles vão rachar?
Carvalho –
Zero. Mas zero total.

ÉPOCA – No curto, médio e longo prazo?
Carvalho –
Zero total.

ÉPOCA – Não é só uma questão de tempo?
Carvalho –
Não, não vai ter.

ÉPOCA – Não costuma ser assim no mundo da política.
Carvalho –
Vamos marcar um encontro para daqui a cinco anos. E vamos apostar um bom uísque. A relação dos dois é muito impressionante, muito emocionante. A Dilma tem uma noção muito clara da dimensão do Lula, do que ele significa para o país, do salto que significou para nosso povo. E também tem noção muito clara do papel que ela cumpre, de complementação, de continuidade e de aprofundamento das coisas. Não tem essa história de submissão. O Lula queria que ela mantivesse o Henrique Meirelles (no Banco Central), ela não manteve. Não é assim também não. Não é que fecha tudo direitinho. Da parte dele, tem um enorme cuidado em não ficar interferindo.

ÉPOCA – Como é que o senhor sabe?
Carvalho –
Sei porque falo com ele muitas vezes ao telefone. Acompanho isso muito de perto. Ela entende que o Lula não foi só um governante, mas o sujeito que fez o povo ficar de pé, que elevou a autoestima. E ela trabalha a partir disso: só existe Dilma porque houve o Lula.

ÉPOCA – A presidente Dilma é plenamente capaz de dizer não para Lula em qualquer pedido que ele faça?
Carvalho –
Totalmente. Eu já vi nãos da parte dela.

ÉPOCA – Pode contar?
Carvalho –
Não.

ÉPOCA – Era grave?
Carvalho –
Não, não era grave. Por exemplo: indicação de pessoas. Citei um caso, o do Meirelles, mas tem outros em que ela diz: “Olha, acho que não é o caso”. Tranquilamente. Tenho o privilégio de ter testemunhado várias conversas entre eles. A última, no final, quase chorei de ver aqueles dois seres de pé, um abraçando o outro, na porta do escritório do Alvorada, durante a crise do Palocci (Antonio Palocci, ex-chefe da Casa Civil). E ela fez uma declaração linda para ele: quanto ele era importante na orientação para ela.

ÉPOCA – Como é que funciona a relação dos dois? Eles se falam todos os dias?
Carvalho –
Não é todo dia. É quinzenal. Em São Paulo ou aqui em Brasília, eles acabam se encontrando. É uma combinação que eles têm, que não precisa ser seguida tão rigorosamente. E se falam muito por telefone. Vira e mexe ele liga.

ÉPOCA – Olhando a médio prazo, não vai haver um momento em que a presidente Dilma vai se perguntar qual é a necessidade dessa relação?
Carvalho –
Ela não tem necessidade. Ela não é uma lulodependente. De jeito nenhum. Ela tem prazer. É livre, ela curte. Ela dá muita risada com ele. É muito divertida a relação deles. Brincam muito.

ÉPOCA – Na hipótese de acontecer esse racha que o senhor já disse que não vai acontecer, de que lado vai ficar?
Carvalho –
Vou ficar do lado de quem eu achar que tem razão, que está fazendo o melhor para o país. Não nasci trabalhando com o Lula nem com ela. Briguei muito com o Lula quando achava que ele estava errado. Se tiver discordância de questões, vou brigar com ela também.

ÉPOCA – O senhor ia para cima de Lula?
Carvalho –
Um dia que o Lula me encheu muito o saco, um dia de trabalho duro, eu falei para ele: “Ô, veio, eu sou teu amigo, mas não nasci aqui. Eu posso trabalhar em outra área de governo. Porrada o dia inteiro não dá. Você bota outro cara aqui que te agrada mais”. Ele dizia: “Ô, Gilbertinho, você é bem besta mesmo, né? Não vê que eu tenho que ter alguém perto de mim em quem eu confie e possa dar porrada? Senão, vou dar porrada em quem? Vai trabalhar e não enche o saco”.

ÉPOCA – O senhor se sente com liberdade para criticar a presidente?
Carvalho –
Não tenha dúvida. Houve uma ocasião em que achei que ela tinha tratado um ministro de maneira um pouco dura numa reunião. Depois falei: “Ô, Dilma, você podia ter maneirado um pouco”.

ÉPOCA – Quem foi o ministro?
Carvalho –
Não vou dizer. Mas ela disse: “Você tem razão, Gilbertinho, é que às vezes a gente perde a paciência”. Tenho essa liberdade com ela. Claro que não faço isso na frente das pessoas.

ÉPOCA – Ser ministro é melhor que ser chefe de gabinete?
Carvalho –
Ser chefe de gabinete era mais confortável para o meu perfil. Embora fosse muita pancada, muita tensão, eu estava mais protegido, mais nos bastidores. Quando a Dilma me convidou para a Secretaria-Geral, foi um processo bem rico, porque o Lula nunca pediu.

ÉPOCA – É o que todo mundo acha.
Carvalho –
Mas nunca pediu. Quem acha isso não sabe da relação que eu tinha com a Dilma, que se fortaleceu quando ela veio para a Casa Civil e eu tive de estar colado a ela. Nós dois nos apoiamos para ela dar conta da Casa Civil, que era uma tarefa fundamental. Nunca me esqueço que logo depois ela descobriu que eu gostava da Adélia Prado (escritora mineira) e me deu um livro com a prosa reunida da Adélia. A partir dali nasceu uma amizade com muito carinho. No dia em que ela me deu posse, bateu no meu ombro e disse: “Gilbertinho, eu vou precisar muito do seu ombro”. Já se vão sete meses. Naturalmente ou prematuramente, a gente já sofreu muito.

ÉPOCA – Começando com o caso Palocci?
Carvalho –
Sempre fui muito ligado ao Palocci. Tinha noção, sem exagerar, de quanto seria ruim se ele saísse do governo. E tinha convicção de que as acusações não eram coisas ligadas ao governo. Com base nisso, saí em defesa do Palocci.

ÉPOCA – Qual foi o erro do Palocci?
Carvalho –
Nenhum erro enquanto agente do governo. Isso é que nos permitiu fazer a defesa. Vejo hoje que o que o Palocci fez, de maneira inadequada, foi acumular esses recursos da maneira como ele fez, ainda, diga-se com clareza, que tenham sido declarados. O erro não foi de juízo ético. Foi um erro político, de saber que uma pessoa que está no governo, ao amealhar uma riqueza como essa, vai se expor, porque vai suscitar um monte de dúvidas sobre as razões pelas quais aqueles que pagaram a consultoria dele o fizeram num montante tão alto.

"A saída do Palocci e a vinda da Gleisi e da Ideli deram uma renovada no ar.
Não pelo Palocci, mas porque o desenho (das atribuições) ficou mais claro"

ÉPOCA – O senhor se assustou com o tamanho da riqueza?
Carvalho –
Não me assustou, mas é evidente que surpreendeu.

ÉPOCA – O senhor tem sido citado como um ministro que representa um governo, o do presidente Lula, que não foi tão rigoroso com a corrupção.
Carvalho –
Fico meio impressionado de ver como há uma insistência em tentar plantar a Dilma como uma pessoa absolutamente ligada à ética, e o Lula como um sujeito que conviveu com a tal da corrupção. Fico revoltado. Eu vi o combate duro que se fez. Pegue as ações da Polícia Federal (PF) nos oito anos do Fernando Henrique e nos oito anos do Lula. A PF combateu os crimes de colarinho como nunca antes. A CGU (Controladoria-Geral da União) mal existia com Fernando Henrique. Não aceito essa história de que nós inventamos a corrupção.

ÉPOCA – O que mudou no dia a dia do governo com a saída de Palocci?
Carvalho –
A saída do Palocci e a vinda da Gleisi (Gleisi Hoffmann, chefe da Casa Civil) e da Ideli (Ideli Salvatti, ministra das Relações Institucionais) deram uma renovada no ar. Não pelo Palocci, mas porque o desenho ficou mais claro: relações institucionais com Ideli; Gleisi na coordenação. Essa menina é um talento. Ela aprende rapidamente, tem tino, convicção, autoridade.

ÉPOCA – O ambiente melhorou, então?
Carvalho –
Ficou um ambiente muito leve. E, a partir daí, a Dilma passou a me puxar mais. É uma ironia que justo neste momento os caras tentem plantar uma história de que eu represento, aqui dentro, o restante da corrupção do Lula, que é o que alguns editoriais tentam colocar, como se fosse oposto a Dilma. Esse é exatamente o momento em que estou mais próximo da Dilma, que a gente está discutindo mais, que ela me chama mais para decisões importantes, quer que eu consulte pessoas. Enfim... Estou adorando ser secretário-geral.

ÉPOCA – O senhor está com a presidente todos os dias? Como funciona?
Carvalho –
Todo dia, em geral mais de uma vez por dia. De manhã tem um briefing, onde participam a Helena Chagas (ministra da Comunicação Social), eu, a Gleisi, a Ideli e o Giles (Giles Azevedo, Gabinete Pessoal). É um briefing que atualiza as coisas da imprensa, entre outras coisas. A partir daí a gente tira algumas decisões e encaminhamentos que ela nos pede para fazer ao longo do dia. A volta ao gabinete naquele mesmo dia depende um pouco dos temas. É muito comum eu ir ao gabinete em algum outro momento do dia. Agora mesmo cheguei do Alvorada. Ela estava indo para o Peru e quis discutir algumas coisas com a gente.

ÉPOCA – Por exemplo?
Carvalho –
Transportes. Ela está preocupada com a montagem da nova equipe do ministério. Pediu tarefas. Ela usa muito a Gleisi, eu e a Ideli para essas coisas, para fazer consultas, para indicar, testar.

ÉPOCA – Até onde vai a determinação da presidente nessa limpeza da corrupção?
Carvalho –
Não vejo limite, não. Não vejo nenhuma tendência de recuo da Dilma nessa história. Não vejo contemplação. Não vai ter trégua para nenhum tipo de malfeito, que é a palavra que ela usa para se referir à corrupção. Ela usou na posse e tem usado sempre com a gente.

ÉPOCA – Como ela agiu, internamente, no caso dos Transportes?
Carvalho –
Tem uma coisa importante no episódio dos Transportes. Ela não demitiu o Alfredo (Alfredo Nascimento, ex-ministro dos Transportes). Ela botou a gente para informar, circunstanciar as informações, chamou o Alfredo, deu um crédito de confiança e pediu que a gente começasse a conversar com as pessoas. Nós começamos. Passaram-se dois dias. Os assessores do Alfredo, que vinham falar com a gente, diziam: “O Alfredo não segura, o Alfredo não fica”. E ela foi surpreendida, com uma matéria on-line, dizendo que o Alfredo ia pedir demissão. Em 20 minutos chega um portador com uma carta para ela. O Alfredo não veio pedir demissão, não avisou que ia pedir demissão. Ele precipitou a demissão dele, certamente porque fez a análise que competia a ele fazer. Então, a presidenta não fez nenhum ato precipitado, assoberbado. Acho que esse estilo vai continuar.

ÉPOCA – O senhor acha que ela pode radicalizar?
Carvalho –
Não vou usar a palavra radicalizar, para não dar a impressão que ela tem prazer em fazer isso. Pelo contrário, ela fica muito abatida perante esses fatos. Mas ela não vai contemporizar. E não vai permitir que o governo seja enlameado ou de alguma forma influenciado por esse tipo de situação.

ÉPOCA – Qual era sua expectativa para o desempenho da presidente Dilma? E até que ponto ela surpreendeu o senhor?
Carvalho –
Com o tamanho que o Lula tinha alcançado, havia um temor no começo de como é que a gente ia tocar isso aqui. Além disso, tinha a questão do estilo dela, mais cortante, mais duro, menos político. Mas devagar a gente vai se dando conta, primeiro, que não é verdade que ela é só gestora. Ela tem uma visão política muito forte, muito clara. É uma pessoa com uma inteligência acima da média e uma intuição política muito interessante. Tem um padrão de exigência forte, com o qual também a gente aprende a conviver. Essa coisa de dizer que a Dilma grita. O Lula gritava muito. Comigo, por exemplo, ele gritava muito mais do que ela grita. Era um tipo de relação. O Lula dava murro na mesa, falava palavrão.

ÉPOCA – A presidente grita com o senhor?
Carvalho –
Nunca gritou comigo. O Lula já gritou.

ÉPOCA – Qual é o máximo que ela sai do sério com o senhor?
Carvalho –
Não houve nenhum episódio. Ela mantém o Gilbertinho, tem muito bom humor, faz muita brincadeira sobre o Lula.

"O Lula gritava muito. Comigo, ele gritava muito mais do que ela grita.
Era outro tipo de relação. O Lula dava murro na mesa, falava palavrão"

ÉPOCA – Por exemplo?
Carvalho –
No dia que saiu no jornal que eu era um cara do Lula aqui, ela me abraçou e disse: “Gilbertinho, se você é do Lula, eu sou de quem?”. Ela se delicia muito com as coisas que ele apronta.

ÉPOCA – Qual é a importância de seu ministério no dia a dia do governo?
Carvalho –
Está na contradição, latente, e muitas vezes exposta, entre aquilo que os movimentos sociais querem e aquilo que o governo consegue realizar.

ÉPOCA – Que comparação o senhor faz entre o Lula e a presidente Dilma nestes sete meses de governo?
Carvalho –
O Lula é um animal político, que transpira na pele a percepção e a interpretação da política de uma maneira magistral. A Dilma tem visão política, mas com o centro do foco na ação, mais voltado para a gestão. No tratamento, o Lula tem uma espontaneidade e uma sedução extraordinária. A Dilma é uma pessoa simpática, mas comedida. A Dilma não é uma pessoa que te seduz de cara. Você tem de conhecê-la para ir descobrindo a grandeza que ela tem dentro dela. O Lula adorava viajar. Para ele, o contato com o Brasil era fundamental. Uma das coisas que mais ele insiste com ela é isso: ela tem de andar, tem de andar, tem de andar. E a Dilma é mais gabinete. Ela adora ficar no gabinete trabalhando, chamando, usa muito o telefone para convocar as pessoas, corrigir.

ÉPOCA – Até quando vai seu fôlego para permanecer no governo?
Carvalho –
Meu horizonte é o final deste governo, se assim a presidenta quiser. Porque isso aqui é perigoso. Isso aqui cria cacoetes, cria rituais com os quais você acaba se iludindo. Essa coisa de chamar de ministro, que eu acho um saco, diga-se de passagem. Procuro quebrar esses rituais, ainda que em certos momentos você tenha de cumpri-los. E também tem o risco de a gente começar a olhar a realidade através desses vidros e dos códigos que têm aqui dentro. Então não é bom ficar muito tempo. É bom trocar.

ÉPOCA – O que as pessoas podem esperar do governo e da presidente Dilma?
Carvalho –
Primeiro, um cuidado imenso em manter o modelo de desenvolvimento com distribuição de renda. Ela vai ficar em cima disso de um jeito maluco.

ÉPOCA – Volta e meia a corrupção atrapalha tudo. Como a presidente reage quando surgem as denúncias?
Carvalho –
A esperança dela é que esses fatos possam exemplar – que é como ela fala, usando uma expressão da mãe dela. “Vou exemplar você porque você vai aprender.” Então ela acha que essa ação vai contaminar a Esplanada para o bem. Ela é implacável nesse aspecto. O recado o tempo todo é deixado bem claro. Ela mal ouviu falar de um outro ministério, que eu não vou falar qual é, mandou chamar o ministro e disse para ele: “Ó, veio, tem um rumor aí na praça. O que acontecer vai cair em cima de você. Então você se cuide”. O aviso está dado. É nessa linha.

Com novas denúncias na Conab, oposição promete reagir

Líderes da oposição na Câmara e no Senado prometem obstruir as votações em plenário nesta semana e fazer uma nova ofensiva para garantir as assinaturas necessárias para a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar suspeitas de corrupção em ministérios do governo de Dilma Rousseff.

O movimento é uma resposta ao loteamento de parentes de líderes políticos do PMDB em cargos da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), empresa pública subordinada ao Ministério da Agricultura.

Reportagem publicada neste domingo pela Folha aponta que receberam cargos na estatal um filho do senador Renan Calheiros (AL), líder do PMDB na Casa, a ex-mulher do deputado Henrique Eduardo Alves (RN), líder da legenda na Câmara, um neto do deputado federal Mauro Benevides (CE) e um sobrinho de Orestes Quércia, ex-presidente do PMDB de São Paulo.

As nomeações ocorreram após o peemedebista Wagner Rossi assumir a direção da Conab, em junho de 2007. Rossi, homem de confiança do vice-presidente Michel Temer, é o atual ministro da Agricultura. Assinou de punho próprio várias dessas nomeações.

"Não vamos votar nenhuma matéria no plenário em protesto às ações do governo para evitar uma investigação. Vamos radicalizar com o objetivo de ajudar a sensibilizar a classe política", disse à Folha o líder do DEM na Câmara, deputado ACM Neto (BA). Ele afirmou que o partido vai encaminhar para o Ministério Público as denúncias envolvendo a pasta da Agricultura.

O congressista reconhece que a criação de uma CPI seria o "único instrumento" para investigar as denúncias já feitas, mas afirma que a câmara está "blindada" diante da ampla base governista na Casa.

"É importante verificar se isso ocorre em muitos ministérios. Depois do mensalão, uma outra forma utilizada para agradar a base foi distribuir nacos [do governo] aos partidos, de porteira fechada. E isso levou a uma corrosão endêmica dentro da maioria desses ministérios", disse o líder tucano na Câmara, deputado Duarte Nogueira (SP).

O senador Demóstenes Torres (GO), líder do DEM no Senado, disse que faltam apenas duas das 27 assinaturas necessárias para abertura de uma CPI (comissão parlamentar de inquérito) na Casa.

A intenção inicial era investigar denúncias de corrupção no Ministério dos Transportes, mas Torres afirmou ontem que a Agricultura (e outras pastas) também podem ser alvo de atuação do grupo.

"Está na hora de se fazer uma grande CPI pra apurar tudo o que está acontecendo e dar uma resposta firme à sociedade sobre loteamento de cargo, nepotismo, corrupção. É uma tradição [de irregularidades] que tem que ser extirpada", afirma o senador.

"O PMDB não é o PR. Se começar a mexer com o PMDB, [o governo] pode começar a sofrer problemas graves de atrito na base", avalia o presidente do PPS, Roberto Freire.

A Globo vai partir pra cima de Amorim: isso prova que Dilma escolheu bem!

por Rodrigo Vianna

Acabo de receber a informação, de uma fonte que trabalha na TV Globo: a ordem da direção da emissora é partir para cima de Celso Amorim, novo ministro da Defesa.

O jornalista, com quem conversei há pouco por telefone, estava indignado: “é cada vez mais desanimador fazer jornalismo aqui”. Disse-me que a orientação é muito clara: os pauteiros devem buscar entrevistados – para o JN, Jornal da Globo e Bom dia Brasil – que comprovem a tese de que a escolha de Celso Amorim vai gerar “turbulência” no meio militar. Os repórteres já recebem a pauta assim, direcionada: o texto final das reportagens deve seguir essa linha. Não há escolha.
Trata-se do velho jornalismo praticado na gestão de Ali Kamel: as “reportagens” devem comprovar as teses que partem da direção.

Foi assim em 2005, quando Kamel queria provar que o “Mensalão” era “o maior escândalo da história republicana”. Quem, a exemplo do então comentarista Franklin Martins, dizia que o “mensalão” era algo a ser provado foi riscado do mapa. Franklin acabou demitido no início de 2006, pouco antes de a campanha eleitoral começar.

No episódio dos “aloprados” e do delegado Bruno, em 2006, foi a mesma coisa. Quem, a exemplo desse escrevinhador e de outros colegas na redação da Globo em São Paulo, ousou questionar (“ok, vamos cobrir a história dos aloprados, mas seria interessante mostrar ao público o outro lado – afinal, o que havia contra Serra no tal dossiê que os aloprados queriam comprar dos Vedoin?”) foi colocado na geladeira. Pior que isso: Ali Kamel e os amigos dele queriam que os jornalistas aderissem a um abaixo-assinado escrito pela direção da emissora, para “defender” a cobertura eleitoral feita pela Globo. Esse escrevinhador, Azenha e o editor Marco Aurélio (que hoje mantem o blog “Doladodelá”) recusamo-nos a assinar. O resultado: demissão.

Agora, passada a lua-de-mel com Dilma, a ordem na Globo é partir pra cima. Eliane Cantanhêde também vai ajudar, com os comentários na “Globo News”. É o que me avisa a fonte. “Fique atento aos comentários dela; está ali para provar a tese de que Amorim gera instabilidade militar, e de que o governo Dilma não tem comando”.

Detalhe: eu não liguei para o colega jornalista. Foi ele quem me telefonou: “rapaz, eu não tenho blog para contar o que estou vendo aqui, está cada vez pior o clima na Globo.”

A questão é: esses ataques vão dar certo? Creio que não. Dilma saiu-se muito bem nas trocas de ministros. A velha mídia está desesperada porque Dilma agora parece encaminhar seu governo para uma agenda mais próxima do lulismo (por mais que, pra isso, tenha tido que se livrar de nomes que Lula deixou pra ela – contradições da vida real).
Nada disso surpreende, na verdade.

O que surprendeu foi ver Dilma na tentativa de se aproximar dessa gente no primeiro semestre. Alguém vendeu à presidenta a idéia de que “era chegada a hora da distensão”. Faltou combinar com os russos.

A realidade, essa danada, com suas contradições, encarregou-se de livrar Dilma de Palocci, Jobim e de certa turma do PR. Acho que aos poucos a realidade também vai indicar à presidenta quem são os verdadeiros aliados. Os “pragmáticos” da esquerda enxergam nas demissões de ministros um “risco” para o governo. Risco de turbulência, risco de Dilma sofrer ataques cada vez mais violentos sem contar agora com as “pontes” (Palocci e Jobim eram parte dessas pontes) com a velha mídia (que comanda a oposição).

Vejo de outra forma. Turbulência e ataques não são risco. São parte da política.
Ao livrar-se de Jobim (que vai mudar para São Paulo, e deve ter o papel de alinhar parcela do PMDB com o demo-tucanismo) e nomear Celso Amorim, Dilma fez uma escolha. Será atacada por isso. Atacada por quem? Pela direita, que detesta Amorim.

Amorim foi a prova – bem-sucedida – de que a política subserviente de FHC estava errada. O Brasil, com Amorim, abandonou a ALCA, alinhou-se com o sul, e só cresceu no Mundo por causa disso.
Amorim é detestado pelos méritos dele. Ou seja: apanhar porque nomeou Amorim é ótimo!
Como disse um leitor no twitter: “Demóstenes, Álvaro Dias e Reinaldo Azevedo atacam o Celso Amorim; isso prova que Dilma acertou na escolha”.

Relações militares

 

Ex-chanceler do governo Lula, Celso Amorim assume a pasta da Defesa no lugar de Nelson Jobim - mas a escolha já provoca insatisfação na caserna

Octávio Costa

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DISCRETO
Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores de Lula:
ao contrário de Jobim, ele é homem de poucas palavras
O peixe morre pela boca e quem fala demais, de forma impensada, também. A demissão do ministro da Defesa, Nelson Jobim, na quinta-feira 4, é prova disso. Ele não caiu por seus atos ou por incompetência, nem foi vítima da onda de denúncias que atingiu a Esplanada dos Ministérios. Jobim foi demitido por suas palavras. Em entrevista à revista “Piauí”, voltou a falar mal do governo e levou a presidente Dilma Rousseff a antecipar uma decisão que anunciaria nos próximos dias: descartar Jobim e convidar para assumir a Defesa o ex-ministro das Relações Exteriores do governo Lula, Celso Amorim. A decisão, porém, trouxe insatisfação na caserna. “Desde quando um diplomata gosta de guerra? É como botar médico para cuidar de necrotério. Parece brincadeira”, atacou um oficial. “Jobim foi trocado por um fanático esquerdista”, reverberou o líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO), falando em nome dos descontentes. O Palácio do Planalto não respondeu às críticas, mas a presidente Dilma tomou a iniciativa de aparar arestas com os comandantes das Três Forças, em café da manhã na sexta-feira 5, no Palácio da Alvorada. Enzo Peri, do Exército, Juniti Saito, da Aeronáutica, e Júlio de Moura Neto, da Marinha, foram confirmados nos cargos. E a posse de Amorim está marcada para a segunda-feira 8.

Em sua derradeira entrevista como ministro da Defesa, Jobim atacou sem piedade as ministras Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, e Gleisi Hoffmann, da Casa Civil. “A Ideli é muito fraquinha e Gleisi nem sequer conhece Brasília”, disse ele à revista “Piauí.” Poderia ser apenas mais uma parlapatice de Jobim, mas Dilma não estava em clima de brincadeira. A presidente sentiu-se diretamente ofendida por outra frase, na qual Jobim reconstituiu um diálogo com ela sobre a nomeação do ex-deputado José Genoino para seu assessor. O ministro disse que Dilma perguntou se Genoino lhe seria útil e ele deu a seguinte resposta: “Presidenta, quem sabe se ele pode ou não ser útil sou eu.” Para Dilma, a inconfidência de Jobim foi a gota d’água. No início da tarde da quinta-feira, a presidente ligou para o vice Michel Temer, que estava numa missão em Tabatinga com o ministro, ordenou que Jobim antecipasse a volta para Brasília e avisou: “Ou ele pede para sair ou eu saio com ele.”

Desta vez, Jobim foi obediente. Deixou Tabatinga às pressas, chegou à Base Aérea de Brasília às 19h40 e seguiu direto para o Palácio do Planalto. Seu encontro com Dilma Rousseff durou apenas três minutos, o suficiente para ele entregar a carta de demissão. Mesmo no último ato, Jobim mostrou-se arrogante: “Foi uma honra ter servido à senhora e a seu governo. Seja feliz”. O texto de despedida, porém, não é fiel aos fatos. Jobim só ficou no Ministério da Defesa a pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E nunca se adaptou à personalidade de Dilma Rousseff. A presidente demorou a recebê-lo em audiência e, quando o fez, decidiu rever a licitação dos caças da FAB, que havia sido sacramentada pelo ministro a favor dos franceses. Além disso, pediu que o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, também participasse das negociações. Com pouco mais de um mês de governo, Jobim dizia que se tornou apenas “um conselheiro da presidente”, que não lhe delegava decisões. Suas críticas nos bastidores subiram de tom quando o Ministério da Defesa foi duramente atingido pelo corte no Orçamento deste ano. Perdeu R$ 4 bilhões, mais de 20% do total. Jobim também se sentiu desprestigiado por não conseguir emplacar o sucessor da economista Solange Amaral na direção da Agência Nacional de Aviação Civil.

Se Jobim estava descontente, Dilma também não via a hora de se livrar do ministro. Tudo indicava que ele cairia na primeira reforma ministerial. Mas a situação se deteriorou rapidamente quando Jobim alardeou seu voto para Serra. Dilma sabia, mas achou descabida a revelação pública. Preparou-se para a demissão e começou a pensar num nome para suceder Jobim. Sondou o ex-chanceler Celso Amorim, com quem conviveu bem durante o governo Lula. Assim que a situação de Jobim se tornou insustentável, surgiram vários nomes no meio político. Falou-se do ex-ministro e deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) e também da transferência do ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, para a Defesa. O PMDB fez uma indicação surpreendente, a do ex-governador do Rio Moreira Franco, hoje ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos. Pura perda de tempo. Dilma já tinha convidado o ex-chanceler Celso Amorim. Durante a ditadura, Amorim foi demitido da Embrafilme porque financiou “Pra Frente, Brasil”, de Roberto Farias, sobre os anos de chumbo e a tortura. Mas, apesar da reação dos militares, ele tem apoio da presidente da República e uma característica preciosa: é homem de poucas palavras.
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Eles fabricam sindicatos

 

Ministério do Trabalho promove o milagre da multiplicação, criando uma nova entidade a cada dia, e documentos revelam um mercado negro das cartas sindicais

Claudio Dantas Sequeira

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A trajetória do ex-jornaleiro Carlos Lupi, que virou presidente do PDT e ministro de Estado, é um exemplo do quanto a política e os movimentos sociais no Brasil são capazes de transformar a vida de um cidadão. Foi a disciplinada militância de Lupi nos partidos e nos sindicatos que consolidou seu caminho até o Ministério do Trabalho. E desde que assumiu a pasta, em 2007, Lupi, associado ao deputado federal Paulinho da Força (PDT), ainda teve fôlego para tornar-se personagem de um novo milagre: o da multiplicação de sindicatos. Em apenas três anos de sua gestão no Ministério, foram concedidos 1.457 registros sindicais e há outros 2.410 pedidos em trâmite na Secretaria de Relações do Trabalho.

Nos primeiros seis meses deste ano, o ministro autorizou o funcionamento de 182 entidades sindicais, tanto de trabalhadores como patronais. Ou seja, em média surge um novo sindicato a cada dia no Brasil. Em vez de alta produtividade associativa, no entanto, parece haver uma situação de descontrole total na concessão de registros, como indicam uma avalanche de impugnações por parte de sindicatos históricos e o acúmulo de processos na Justiça do Trabalho. Há sinais contundentes de que a fabricação de sindicatos, federações e confederações vem atendendo a interesses políticos e partidários, não apenas trabalhistas. Denúncias, recebidas por ISTOÉ, indicam inclusive a existência de um balcão de negócios por trás da concessão das cartas sindicais, que chegariam a custar R$ 150 mil no mercado negro da burocracia federal.
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MILAGRE
O ministro Carlos Lupi e o deputado Paulinho da Força promovem a
multiplicação das entidades que disputam contribuições de trabalhadores
A presidente da Federação Nacional dos Terapeutas (Fenate), Adeilde Marques, relata um episódio definitivo para revelar o tratamento diferenciado que estaria ocorrendo na burocracia federal. Quem paga, segundo ela, vai para o topo da fila das concessões de cartas sindicais. Quem se recusa a entrar no esquema pode ficar esperando indefinidamente pelo registro. Ela conta que, ao buscar a regularização da entidade junto ao Ministério do Trabalho, em Brasília, foi encaminhada ao escritório do sindicalista Miguel Salaberry, ligado à Social Democracia Sindical, hoje a nova central UGT, União Geral dos Trabalhadores. “Me pediram R$ 5 mil para que a carta sindical saísse mais rápido”, afirma. Indignada, Adeilde pediu apoio da Força Sindical. Foi pior. Em conversa com o próprio presidente da central em Sergipe, Willian Roberto Cardoso Arditti, o “Roberto da Força”, Adeilde foi informada de que a carta sindical poderia custar até R$ 40 mil. “Eu me recusei a pagar”, garante.

Roberto da Força é o mesmo personagem que aparece em denúncia da presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Nossa Senhora do Socorro, Edjane Silveira. Ao Ministério Público Federal, ela disse que não quis pagar o pedágio e trocou a Força Sindical pela CUT. Em retaliação, Roberto criou, com aprovação do Ministério, um clone do sindicato de Edjane com um nome quase idêntico: o Sindicato dos Servidores do Município de Nossa Senhora do Socorro (Sindispub). No comando desse Sindispub clonado está Joanes Albuquerque de Lima, que também preside outros sindicatos locais da Força Sindical. “Mesmo provando que o sindicato de Edjane já existia desde 2001, a Secretaria de Relações do Trabalho arquivou nosso processo de pedido de registro sindical”, reclama o advogado João Carvalho.

Há uma coleção de casos estranhos. Em São Paulo, o camelô José Artur Aguiar conseguiu fundar o Sindicato dos Trabalhadores em Casas Lotéricas, mesmo sem nunca ter trabalhado na atividade (o registro é contestado na Justiça). Em outro episódio, o Sindicato de Empresas de Desmanche de Veículos (Sindidesmanche), entidade patronal ligada à Força, ganhou sua carta sindical apesar de seus dirigentes – Mario Antonio Rolim, Ronaldo Torres, Antonio Fogaça e Vitorio Benvenuti – também comandarem, na outra ponta, uma entidade de trabalhadores, o Sintseve, que reúne inspetores técnicos em segurança veicular. O objetivo da multiplicação de entidades não é difícil de entender.
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MANIFESTAÇÃO
Nesta semana, a Força Sindical reuniu 17 mil pessoas
em São Paulo para pedir redução da jornada de trabalho
Sindicalistas brigam para pôr as mãos na contribuição sindical dos trabalhadores. Só em 2010, R$ 1,2 bilhão foi arrecadado, sendo que 60% da bolada parou nos cofres dos sindicatos, 15% nas federações, 5% nas confederações e 10% nas centrais de trabalhadores. A criação de sindicatos clones é a maneira mais rápida de decidir a parada. Quando reconhece um novo sindicato, o Ministério do Trabalho fornece o código que permitirá à entidade ter acesso a uma conta-corrente na Caixa Econômica em que serão depositados os recursos do imposto sindical recolhido daquela categoria. Automaticamente, então, o novo sindicato passa a ser dono do cofre. O sindicalista Raimundo Miquilino da Cunha, presidente da Federação dos Trabalhadores no Comércio de Minérios e Derivados de Petróleo, tem um bom exemplo de como funciona a clonagem oficial de entidades. A federação comandada por ele, fundada há quase 30 anos, tem 24 sindicatos e representava cerca de 400 mil trabalhadores, a maioria frentistas. Este contingente acabou abocanhado pela Força Sindical a partir da criação de sindicatos estaduais de frentistas. A tarefa de multiplicação coube a Antonio Porcino, dirigente da Força e ex-prefeito de Itaporanga (PB). Ele criou o Sindicato dos Empregados em Postos de Serviço de Combustíveis e Derivados de Petróleo de São Paulo, depois ajudou a fundar sindicatos de frentistas em vários Estados, inclusive no Rio de Janeiro. “O Lupi participou da inauguração do sindicato dos frentistas no Rio antes que a certidão sindical fosse publicada no ‘Diário Oficial’ ”, acusa Miquilino da Cunha.

O esquema que permite a clonagem e o fatiamento de entidades sindicais começou em 2008, a partir da Portaria 186, que estabeleceu novas regras para o registro sindical. O texto tinha por princípio combater a unicidade sindical nas entidades de grau superior (federações e confederações), mas acabou retalhando o movimento sindical e servindo aos interesses da Força e do PDT. A Secretaria de Relações do Trabalho, responsável pela concessão das cartas sindicais, foi comandada até o ano passado por Luiz Antonio de Medeiros, que deixou o posto para concorrer nas eleições.

Mesmo fora da pasta, ele continua operando por intermédio da técnica Zilmara Alencar e de seu chefe de gabinete, o delegado aposentado Eudes Carneiro, que representa Lupi em reuniões sindicais e inaugurações de entidades. Carneiro é tesoureiro do Sindicato Nacional dos Delegados de Polícia Federal (Sindepol). Questionado por ISTOÉ, Lupi negou que haja interferência política na liberação dos registros. “O papel do ministério é de mediação”, diz ele. Na opinião do ministro, a Portaria 186 “democratizou” o movimento sindical. Não é o que pensam outros históricos sindicalistas como o ex-governador gaúcho Olívio Dutra. Para ele, a política de Lupi não passa de um “democratismo sindical”, que estaria “estilhaçando a representação dos trabalhadores e favorecendo barbaridades”. Dutra alerta: “São gangues que se apropriam dos recursos do trabalhador

A vitória da "patinha feia"

 

Às vésperas de o PT decidir se acaba ou não com as prévias, a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, mostra como a democracia partidária pode trazer resultados positivos

Alan Rodrigues

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INVESTIMENTO
Recursos públicos aqueceram a economia de Fortaleza
e a renda média da população cresceu mais de 50%
A prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, sempre gostou de uma boa briga. Seu embate mais célebre foi travado com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que queria porque queria impedir que ela se candidatasse a prefeita da capital do Ceará no agora distante ano de 2004. Às vésperas da eleição municipal daquele ano, Lula, José Genoino, José Dirceu e a maioria da cúpula petista tentaram intervir no diretório local para que o partido não lançasse candidatura própria. Na época, os “chefões do PT” pretendiam empurrar goela abaixo do partido como candidato ideal o nome do senador Inácio Arruda, do PCdoB. Lula perdeu. Os militantes optaram pela candidatura da petista e, mesmo sem o apoio do presidente da República, Luizianne venceu as eleições. “Eu era a patinha feia da história”, diverte-se hoje a prefeita, que há muito fez as pazes com Lula e boa parte da cúpula petista.

Agora, às vésperas do fim de seu segundo mandato como prefeita de Fortaleza, Luizianne se prepara para um novo embate com Lula. O tema, mais uma vez, envolve o poder de decisão dos diretórios em tempos de eleição. O ex-presidente, assim como parte importante dos caciques petistas, quer acabar com as prévias para a escolha de candidatos, pondo fim a uma tradição democrática do PT. Luizianne vai para o congresso nacional do PT, no início de setembro, decidida a lutar contra a proposta. E levará como armas principais para essa briga a sua própria história e o que vem ocorrendo neste momento no diretório municipal do PT de Fortaleza. Lá, mais de um ano antes das eleições, 13 petistas não esperaram a decisão do congresso nacional do partido e lançaram suas pré-candidaturas à sucessão de Luizianne.

A profusão de pré-candidatos em Fortaleza está diretamente ligada ao bom momento que vive a administração municipal. A cada ano, a gestão da prefeita Luizianne coleciona o aumento de expressivos indicadores de desenvolvimento sociais e econômicos. Dona da quinta maior população entre as capitais do País, com quase 2,5 milhões de habitantes, Fortaleza foi a capital nordestina que mais reduziu a pobreza em sua periferia, entre 2001 e 2008, segundo pesquisa do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (CPS/FGV). Traduzindo, a renda média dos moradores da periferia da capital cearense aumentou 52,25%, passando de R$ 204,34 para R$ 311,11, um crescimento cinco vezes maior do que o registrado em Salvador ou São Paulo. “Os números revelam uma maior inserção da população no mercado formal de trabalho, consequência de uma política educacional em conjunto com um resultado macroeconômico mais equilibrado”, avalia o economista Mercelo Neri, autor do estudo.

Desde que assumiu a prefeitura, Luizianne tem dado uma atenção especial às populações mais carentes, o que lhe tem rendido duras críticas. “A classe média odeia a prefeita, mas os pobres da cidade representam quase 70% do município”, afirma o cientista político Francisco Moreira, da Universidade de Fortaleza (Unifor). “O importante é que aumentamos em muito nossa receita, sem aumentar impostos, e estamos conseguindo investir na cidade”, diz Luizianne. Os investimentos da prefeitura em 2010 renderam ao município o posto mais alto do ranking das capitais do Norte e do Nordeste na geração de empregos formais e a quarta colocação entre as cidade brasileiras, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego. Pelos dados do MTE, a capital cearense abriu 54.669 novos postos de trabalho com carteira assinada, superando Salvador (BA), com 37.786, e quase o dobro de João Pessoa (PB), que contabilizou 28.112 novas vagas de emprego no último ano. “Programas sociais, alinhados a uma política de mão de obra formal, geram uma capacidade de compra que movimenta toda uma economia”, explica o economista Roberto Smith, ex-presidente do Banco do Nordeste (BNB).

Segundo os números da prefeitura, nos sete anos à frente do governo, a gestão de Luizianne reduziu em 52% a mortalidade infantil – crianças mortas antes de completar um ano de vida. Em 2004, morriam 21,2 crianças por 100 mil nascidos e no último ano esse número despencou para 12. Para complementar o saldo positivo da administração, Fortaleza é a terceira maior rede pública municipal de educação, com 240 mil alunos matriculados, só perdendo para São Paulo e Belo Horizonte. Agora resta saber se todos esses números ajudarão Luizianne na batalha que ela vai voltar a travar com a cúpula do PT.
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A central tucana de dossiês

 

Mais de 50 mil documentos encontrados no Arquivo Público de São Paulo mostram como a polícia civil se infiltrou e investigou partidos políticos, movimentos sociais e sindicatos em pleno governo de Mário Covas

Pedro Marcondes de Moura

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Agentes infiltrados em movimentos sociais, centenas de dossiês sobre partidos políticos, relatórios minuciosos com os discursos de oradores em eventos políticos e sindicais. Tudo executado por policiais, a mando de seus chefes. Estas atividades, típicas da truculenta ditadura militar brasileira, ocorreram no Estado de São Paulo em plena democracia, há pouco mais de dez anos. Cerca de 50 mil documentos, até então secretos e que agora estão disponíveis no Arquivo Público do Estado, mostram como os quatro governadores paulistas, eleitos pelas urnas entre 1983 e 1999, serviram-se de “espiões” pagos com o dinheiro dos contribuintes para monitorar opositores. Amparados e estimulados por seus superiores, funcionários do Departamento de Comunicação Social (DCS) da Polícia Civil realizavam a espionagem estatal. Até o tucano Mário Covas, um dos maiores opositores do regime militar e ele mesmo vítima de seus métodos autoritários, manteve a “arapongagem” durante todo o seu primeiro mandato e por um período de sua segunda gestão. Entre os alvos preferidos na administração do PSDB aparecem o PT e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), organização sindical fundada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há dezenas de dossiês com informações sobre as duas entidades e seus principais expoentes. Já as investigações a respeito dos tucanos e seus aliados foram suspensas a partir de 1995, quando Covas assumiu o governo de São Paulo.

A classificação dos documentos, que vieram à tona em uma reportagem publicada pelo portal IG, deixa claro como a polícia a serviço dos políticos paulistas se utilizou exatamente das mesmas práticas que fizeram a fama dos órgãos de repressão militar. As informações coletadas eram organizadas em fichas por códigos alfanuméricos, como no temido Departamento de Ordem Política e Social (Dops), onde opositores do golpe de 1964 foram alvo de interrogatórios e sessões de tortura. Tarimbados profissionais do extinto Dops integravam também a equipe do Departamento de Comunicação Social da Polícia Civil. Delegados de cidades paulistas foram orientados a reportar qualquer acontecimento político-social ao DCS. Codinomes e infiltrações em assembleias grevistas também faziam parte da rotina dos agentes, que relatavam os acontecimentos aos superiores. Em um dos dossiês sobre a CUT, os investigadores autodenominados Gama 30 e Gama 38 relatam a tentativa frustrada de participar de uma assembleia dos funcionários da Fundação Florestal do Estado de São Paulo em 13 de março de 1995. Dizem que “cumpriram a determinação”, mas foram barrados por uma moça na portaria. Os crachás de empregados temporários de que dispunham os agentes trapalhões não eram aceitos na entrada.

Os agentes eram enviados para acompanhar até eventos públicos. “Em cumprimento à determinação de V.S., assistimos no local e constatamos a presença de aproximadamente 250 pessoas juntamente com um carro de som e de uma perua Kombi”, relatam os agentes Gama 45 e Gama 55 sobre manifestação da CUT realizada no dia 10 de março de 1995, na Praça da Sé, em São Paulo. No documento ainda identificam os proprietários dos veículos pelas placas e fazem questão de mencionar que o hoje deputado Vicente Paulo da Silva (PT-SP), o Vicentinho, presidente na época da entidade sindical, discursou no evento. Essa seria apenas uma das diversas arapongagens contra a Central Única dos Trabalhadores na gestão Covas.
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FOCO
Tanto Lula, candidato a presidente contra Fernando Henrique Cardoso,
quanto Marta Suplicy, que disputava o governo de São Paulo com
Mário Covas, foram alvo da arapongagem estatal paulista em 1998
Em algumas tentativas os arapongas paulistas pareciam conseguir antecipar alguma coisa. “A CUT e entidades alinhadas estão articulando para os dias 06, 07 ou 08/03/99, Praça da Sé, um grande “Ato Público” contra o desemprego e arrocho salarial. Distribuirão no ato, entre outros, o panfleto “Bloco do Bode”, que segue abaixo”, informa o documento sem assinatura ou destinatário. Em seguida, junto de recortes de jornal confirmando a manifestação, há uma lista com 15 policiais designados para ficar de plantão. Procurado pela reportagem de ISTOÉ, Vicentinho mostrou-se perplexo com a espionagem: “Na época do Covas, eles ainda faziam isso? Achei que tinha parado na ditadura. É inimaginável”, diz o ex-líder sindical. “É um absurdo gastar dinheiro público para violar a privacidade das pessoas, ainda mais com interesse político. Graças a Deus nada disso interrompeu a consolidação da democracia”, complementa.

Em tempos tucanos, o Partido dos Trabalhadores (PT) virou o principal alvo. Há pilhas e pilhas de documentos produzidos pelo Departamento de Comunicação Social (DCS) a respeito da sigla. Convenções, disputas internas, gestões municipais do partido e informações das principais lideranças e dos possíveis candidatos a eleições majoritárias eram coletadas pela “polícia política” em plena década de 90. Os nomes do ex-presidente Lula e da hoje senadora Marta Suplicy (PT-SP), que disputaria com Covas o primeiro turno da corrida pelo governo de São Paulo em 1998, aparecem constantemente nos “dossiês PT”. Já para Antônio Palocci, prefeito de Ribeirão Preto no período, criaram um dossiê exclusivo. Na pasta, o ex-ministro é apresentado como uma figura em ascensão no partido e favorável a privatizações.

Segundo o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do Rio de Janeiro, Wadih Damou, as atividades realizadas pelo Departamento de Comunicação Social da Polícia Civil do Estado de São Paulo são ilegais, violam a Constituição e devem ser investigadas com extremo rigor. “Causa mais repulsa ainda que tenham sido feitas em um período democrático. Nunca vi nada parecido. Fico preocupado e penso se isso não continua acontecendo.” O DCS, pelo menos, acabou extinto em 24 de novembro de 1999.
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Um plano o fim do túnel



 

Em meio à sua maior crise política, Dilma acelera o lançamento de medidas para fortalecer a economia e tenta mostrar que o governo não está paralisado

Adriana Nicacio

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DECIDIDA
Dilma obrigou ministros a dar plantão no fim de
semana para lançar programa na terça-feira 2
Na sexta-feira 29, os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, fizeram plantão no Palácio do Planalto. Por ordem expressa da presidente Dilma Rousseff, ficaram reunidos até dar forma definitiva à nova política industrial, pondo fim ao impasse entre a Fazenda e o Desenvolvimento em torno da desoneração da folha de pagamento das empresas. Na falta de um acordo, os dois ministros, na véspera, haviam comunicado que o adiamento das medidas seria inevitável. Foram duramente cobrados pela presidente, que considerou inadmissível a paralisação num momento difícil para o governo, em razão dos escândalos envolvendo os partidos da base aliada. Dilma avisou que, desta vez, a agenda tinha que ser positiva. No entanto, ao retornar ao Planalto após um encontro protocolar com a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, a questão ainda não estava resolvida. “Guidinho, quero todos vocês no Palácio da Alvorada amanhã (sábado) às 9 horas”, avisou Dilma, e foi embora. Para a presidente, tratava-se de questão de honra. O pacote, batizado de Plano Brasil Maior, seria anunciado na terça-feira 2.

Dilma Rousseff abriu a reunião no Alvorada no sábado de manhã e comandou os trabalhos até as 11h30, quando deixou seus subordinados para embarcar, às pressas, rumo ao Rio, onde participou da cerimônia de sorteio das eliminatórias da Copa do Mundo da Fifa Brasil 2014. Os ministros permaneceram de castigo em Brasília durante o fim de semana, fazendo o dever de casa. Seguiram à risca a determinação da presidente: “A Receita Federal não manda no meu governo”, disse ela, diante dos temores de que as contas não fechariam com os benefícios à indústria. Graças ao esforço concentrado, Dilma anunciou às 11h30 da terça-feira 2, para uma ampla plateia de empresários e políticos, o programa criado para estimular investimentos, diminuir os efeitos negativos do real valorizado sobre a indústria e evitar a enxurrada de produtos importados. Preocupada porque as compras externas crescem num ritmo bem superior ao da produção nacional, Dilma quer proteger a indústria brasileira, em defesa do emprego e da renda. “Essas medidas são o nosso primeiro passo em direção ao aumento de competitividade do Brasil a partir da inovação, da agregação de valor e do combate a práticas no que se refere à concorrência”, disse.

As 35 medidas, que somam R$ 20,7 bilhões em renúncia fiscal, também confirmam o esforço que a presidente tem feito para mostrar que o governo não está paralisado pelas intrigas políticas. Antes de cobrar o acordo entre Mantega e Pimentel, Dilma havia pressionado a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, para que apressasse o novo balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A presidente passou um pente fino no PAC em audiências com ministros da área para atestar que as obras não sofreram superfaturamento. E decidiu lançar versões do Brasil Sem Miséria pelo Nordeste. Acertou com o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, mais investimentos em recursos hídricos e irrigação e prometeu aumentar os recursos para as ferrovias. A presidente Dilma Rousseff quer tocar seu governo com ou sem problemas políticos. Resta saber se vai conseguir.
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Ameaças explicítas

Ameaças explicítas

Em represália à saída de Alfredo Nascimento dos Transportes, o PR deixa de apoiar o governo no Congresso e inicia o que pode ser um perigoso racha na base

Lúcio Vaz

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MÁGOA
Nascimento garante que todas as irregularidades
nos Transportes são culpa de seu sucessor
“Não sou lixo e meu partido não é lixo para ser varrido da administração”
Desde que o senador Alfredo Nascimento (PR-AM) foi afastado do Ministério dos Transportes, em meados do mês passado, especula-se pelos corredores da Esplanada quais seriam as retaliações contra o governo que os caciques do Partido Republicano estariam preparando. Ao longo das últimas semanas, circularam em Brasília rumores e ameaças veladas de todos os calibres. Até então, acreditava-se que dificilmente o PR ultrapassaria a fronteira das bravatas para ingressar na seara das ações concretas. Na terça-feira, Nascimento finalmente dirimiu as dúvidas sobre as intenções, ao menos até segunda ordem, do PR.

Em um discurso inflamado na tribuna do Senado, o ex-ministro declarou guerra ao governo e anunciou que o PR estava, a partir daquele momento, fora da base de apoio no Congresso. “Não sou ladrão, não sou desonesto, não sou lixo. O meu partido não é lixo para ser varrido da administração”, disse o senador, em um tom ameaçador ao governo. Além de defender suas passagens pelo Ministério dos Transportes, Nascimento focou os ataques em seu sucessor, o colega de partido Paulo Sérgio Passos. De acordo com ele, o orçamento do ministério passou de R$ 58 bilhões para R$ 78 bilhões no período em que esteve afastado do cargo para disputar o governo do Amazonas, no ano passado. Quem assumiu seu lugar na época foi exatamente o atual ministro Paulo Sérgio Passos.
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ATAQUE
Maggi apoiou a saída da base de apoio
Além de anunciar que abandonava a base de apoio do Congresso, por pouco o PR não conseguiu causar um estrago de grandes proporções ao governo. Com a tensão em alta, a oposição conseguiu ainda na terça-feira as 27 assinaturas que precisava para instaurar a CPI dos Transportes. Rapidamente, o Palácio do Planalto reagiu e a tropa de choque do governo conseguiu dissuadir dois parlamentares. Momentos antes de a comissão ser instaurada, os senadores João Durval (PDT-BA) e Reditário Cassol (PP-RO) retiraram o apoio à proposta de criação da CPI, feita pelo senador tucano Álvaro Dias.

Apesar de ter evitado um desastre de grandes proporções na última semana, o governo sabe que o risco PR ainda não foi zerado. Mesmo com o partido afirmando não ter ido para oposição – mas sim apenas deixado a base –, a tendência é que seus senadores e deputados tornem a vida do Planalto mais complicada no Congresso. “A gente não tem nada no governo. Por que vai carregar o governo?”, indagou o também senador Blairo Maggi (PR-MT). E oportunidades para isso não faltarão. Só nos próximos dias ao menos cinco ministros irão à Câmara e ao Senado prestar explicações por conta de denúncias de irregularidades. Como se vê, ainda há muito espaço para Nascimento fazer valer suas ameaças.

Um mensaleiro dá as cartas no PP

Mesmo sem cargo há mais de cinco anos, o ex-deputado Pedro Corrêa continua indicando nomes no governo e traçando as estratégias no Partido Progressista

Sérgio Pardellas

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PODER
Pedro Côrrea agora tenta emplacar o presidente do Denatram
Na alça de mira da presidente Dilma Rousseff desde a eclosão da crise política, o PP fez de tudo nos últimos dias para passar ao largo dos escândalos na Esplanada dos Ministérios. O esforço foi em vão. Na quarta-feira 3, o Congresso aprovou o convite para que o ministro das Cidades, Mário Negromonte, esclareça as denúncias de favorecimento a empresas doadoras de campanha, publicadas na última edição de ISTOÉ. Indicado para as Cidades pelo PP, Negromonte terá de explicar, por exemplo, por que o secretário nacional de Saneamento do ministério, Leodegar Tiscoski, cumpriu jornada dupla no ano eleitoral. Ao mesmo tempo que administrava obras de saneamento em todo o País, ele operava como tesoureiro nacional do partido. Era Tiscoski quem arrecadava recursos para financiar as campanhas do partido. O depoimento está marcado para a quarta-feira 10 nas comissões de Desenvolvimento Urbano e de Fiscalização e Controle. “Tudo tem que ser investigado. Há problemas não só como o PR, mas com o PCdoB, PMDB, PP. A denúncia envolvendo o PP é grave. A Dilma precisa agir com o governo inteiro como fez com o PR”, disse o líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA).
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HERANÇA
Aline Corrêa é uma espécie de braço parlamentar do pai,
Pedro, que teve o mandato cassado no escândalo do mensalão

A bancada do PP promete comparecer em peso à audiência na tentativa de blindar o correligionário. O partido tem se empenhado em discutir alternativas para escapar da “faxina” a ser promovida por Dilma. Na quarta-feira 3, a cúpula do PP reu­niu-se até altas horas da madrugada no apartamento do deputado João Pizzolatti (SC), localizado na quadra 311 Sul em Brasília. Além do anfitrião, de Negromonte e do líder da legenda na Câmara, Nelson Meurer (PR), participou do encontro o ex-deputado federal cassado Pedro Corrêa, réu no processo do mensalão acusado de formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A presença de Corrêa numa reunião em que foram discutidas estratégias do PP é mais do que sintomática. Conforme apurou ISTOÉ com vários parlamentares do Partido Progressista, o mensaleiro não apenas tem força como continua influenciando decisivamente nos rumos do partido. “Com a entrada de Negromonte no ministério, Corrêa passou a mandar mais, é ele quem está dando as cartas. Com o antecessor Márcio Fortes a coisa era mais discreta”, garantiu à ISTOÉ um parlamentar do PP incomodado com a intensa movimentação de Corrêa. “O mensaleiro é ele, mas o ônus fica para todos nós”, reclama o mesmo deputado.

Sem cargo eletivo desde o escândalo do mensalão, Pedro Corrêa tornou-se um especialista na articulação de bastidor. Embora distante dos holofotes, é ele quem chancela boa parte das indicações do PP para postos estratégicos no governo. Foi necessário o aval de Pedro Corrêa para o próprio secretário Leodegar Tiscoski, envolvido na denúncia de ISTOÉ, assumir o Saneamento. Em troca, o presidente do PP, senador Francisco Dornelles (RJ), um dos interessados em emplacar Tiscoski na secretaria, aceitou apadrinhar junto ao Palácio do Planalto o nome de Paulo Roberto Costa para a BR Distribuidora. Agora, Corrêa trabalha pela nomeação do deputado Inaldo Leitão (PP-PB) à presidência do cobiçado Denatran. Oficialmente, no entanto, os padrinhos são o deputado Dudu da Fonte (PP-PE) e o senador Ciro Nogueira (PP-PI).

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BERLINDA
Após denúncias de ISTOÉ, Negromonte terá que se explicar no Congresso

Quando vai a Brasília, ao menos uma vez por semana, Corrêa se hospeda na casa da filha, deputada Aline Corrêa (PP-SP), vizinha de Pizzolatti e Negromonte no bloco “A” da Superquadra 311 Sul. Aline é uma espécie de braço parlamentar de Corrêa. Ela formula emendas e projetos do interesse do pai. A atuação de Pedro Corrêa tem feito tanto barulho no PP, e ensejado negócios importantes em São Paulo, que passou a incomodar o deputado Paulo Maluf (PP-SP). Em recente reunião da bancada na sede do partido, Maluf e Aline discutiram asperamente e precisaram ser apartados. Já no Palácio do Planalto, conhecedor das atividades de Pedro Corrêa e companhia, a seriedade do PP já está sendo mais do que questionada. Nos últimos dias, a presidente Dilma Rousseff escalou a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, para cobrar explicações. No governo, faz-se a seguinte avaliação: caso o depoimento de Negromonte no Congresso não traga respostas convincentes, ele poderá ser o próximo ministro a perder o emprego.
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