segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Os sem-nome: cemitério na Califórnia é destino final de centenas de latinos

Do Opera Mundi
Chegando ao Vale Imperial da Califórnia no começo de abril, pode-se ver a neve que cobre as pedras do deserto e as casinhas da Polícia de Fronteira, que emergem ao longo do caminho. A estrada Kumeyaay Freeway corre paralela ao trecho mexicano da Rumorosa e desce até uma zona agrícola organizada e tranquila.
Holtsville é um centro habitado por pouco mais de cinco mil pessoas no Vale Imperial. Durante o século XX, foi famoso como sede do Imperial Valley Carrot Festival, o festival da cenoura. A mesma Imperial Valley (nome em inglês) é um dos condados que mais concentram atividades agrícola nos Estados Unidos. Porém, essa terra fértil também tem espaço para hospedar e esconder os corpos sem nome de quase 700 imigrantes.
Federico Mastrogiovanni/Opera Mundi

As centenas de cruzes fincadas no cemitério de Holtsville trazem a mesma frase: "Não esqueçcam de nós"
Hoje, o pequeno povoado californiano de Holtsville poderia se tornar famoso por abrigar um cemitério de desconhecidos, quase todos presumivelmente imigrantes mexicanos e centro-americanos, que ocupam silenciosamente o pátio dos fundos do cemitério municipal, o Terrace Park Cemetery, onde descansa em paz também Erik H. Silva, o primeiro marine de origem mexicana morto na operação Liberdade Iraquiana, em 4 de abril de 2003, aos 24 anos.
A partir de 1997, o espaço que fora dedicado aos mortos "sem nome" no cemitério de El Centro, a cidade mais importante do condado, se esgotou. Decidiu-se então abrir uma vala comum na vizinha Holtsville.
“O número de mortos começou a aumentar em 1997, quando surgiram os primeiros resultados da Operação Guardião", lembra Enrique Morones, fundador da organização de defesa dos direitos humanos Border Angels e ganhador, em 2009, do prêmio mexicano de direitos humanos. "E também quando os imigrantes mexicanos e centro-americanos começaram a cruzar a fronteira pelo deserto desta região. Eles começaram a ser enterrados no cemitério de El Centro, mas este logo ficou lotado, com os primeiros 25 ou 30 corpos. Então começaram a enterrá-los por aqui. O que cabe destacar é a conexão direta que existe entre as leis migratórias racistas dos EUA e as milhares de mortes que ocorrem ao longo de toda a fronteira com o México. Não são mortes casuais, trata-se de uma política migratória que provoca a morte sistematicamente”.
A área tem cerca de três mil metros quadrados e fica ao lado do verde e tranquilo cemitério, cheio de flores. Trata-se de uma esplanada de terra simples, riscada por centenas de pequenos tijolos cinzas ou marrons, dispostos a um metro um do outro. Cada tijolo identifica o local de sepultamento de uma pessoa e faz parte de longas fileiras paralelas de pequenas cruzes.
As cruzes são montadas e decoradas por estudantes das universidades de San Diego, que enviam voluntários à organização dos Border Angels. "É uma forma de não esquecer esses mortos", explica uma jovem da Universidade Estadual de San Diego, "pois sua identidade já não é conhecida e eles não têm ninguém que os visite ou recorde. Pelo menos nós lhes colocamos uma cruz."
Sempre houve mortes nesta zona fronteiriça, por causa das condições extremas do deserto, por hipotermia, por causa da exposição ao frio das noites e do inverno, desidratação provocada pelo calor do verão, afogamento durante a travessia do rio. Mas o número de vítimas aumentou muito com as novas políticas migratórias.
Federico Mastrogiovanni/Opera Mundi
Nos últimos anos, aumentou o fluxo de corpos sem nome, afirma Martín Sánchez, encarregado das sepulturas no pequeno cemitério. “Nos últimos anos têm chegado com mais frequência corpos encontrados pela Patrulha de Fronteira ou por outroas pessoas”, diz o empregado, que trabalha aqui desde o início. “Mas podemos encontrar um corpo a cada semana ou não encontrar nada durante seis meses. É como se eles caíssem aqui. Logo lhes damos um número e uma placa de cimento. E pronto. Podem ser encontrados aqui no deserto, ou na montanha rumo a San Diego, ou no rio."
Os quase 700 corpos enterrados em Holtsville quase superam o número de túmulos “normais” no cemitério. Não parece um número muito elevado quando se considera o comprimento da fronteira que separa o México dos EUA, mas é impressionante quando se pensa no pequeno trecho de fronteira onde os corpos foram encontrados, e no fato de quase todos serem desconhecidos. Em um cemitério normal de um povoado como Holtsville, os túmulos sem nome não chegam a poucas dezenas em várias décadas.
Os corpos enterrados na vala comum geralmente são encontrados pela polícia de fronteira e, às vezes, pelos voluntários dos Border Angels ou mesmo por alguém que está apenas de passagem.
"John Doe"
“Quando são encontrados, são levados ao necrotério do condado”, conta Martín. “Os corpos, ou os ossos, dependendo do que se encontra, permanecem ali por alguns dias. São feitas análises de DNA e são registradas suas impressões digitais. Espera-se algum tempo, caso alguém venha reclamá-los. Mas isso nunca acontece. Só uma vez uma senhora veio do México reclamar de um parente que havia desaparecido. Foi possível encontrar seu registro graças às impressões digitais, e seu corpo foi levado ao México. Mas, em geral, depois de alguns dias de espera, os corpos são levados para a vala e escreve-se em um tijolo 'John Doe', se for um homem ou menino, e 'Jane Doe' se for uma mulher ou menina."
Esse nomes são normalmente utilizados nos EUA para indicar pessoas não identificadas ou desconhecidas.
No condado de Imperial Valley, a maioria das pessoas não conhece este lugar. E as instituições evitam falar do tema ou encontrar as associações de voluntários que, de vez em quando, vêm deixar cruzes e flores para os mortos, que sensibilizam sobre a imigração.
Federico Mastrogiovanni/Opera Mundi
As autoridades do condado de Holtsville, que se encarrega do enterro dos desconhecidos, embora se ocupem dos corpos, preferem não tornar público o fato de haver tantos imigrantes sepultados em seu território. "Os funcionários do condado não querem que se fale dessa vala comum, nem que se fale desses 700 mortos sem nome", afirma John Hernández, ativista mexicano e presidente do centro multicultural Our Roots de El Centro.
"Aliás, nome eles têm, só que ninguém sabe qual é. Muitas vezes os responsáveis pelo cemitério tiram as cruzes que colocamos aqui, porque é contra o regulamento do local. Não querem que se chame a atenção para este lugar, nem da mídia, nem das organizaçoes. Então, voltamos e recolocamos as cruzes, para que esses mortos não sejam esquecidos". É por isso que os voluntários dos Border Angels insistem em levar os jovens das escolas e universidades para ver o lugar.
Os Border Angels são uma associação civil da Califórnia que, desde 1986, oferece serviços de advocacia, educação e apoio humanitário aos imigrantes da fronteira, por meio da instalação de estações de água no deserto e da distribuição de roupas e alimentos aos imigrantes e boias-frias. No lado político, eles fazem pressão por uma reforma migratória integral.
Os quase 700 corpos enterrados no cemitério de Holtsville representam apenas uma parte das mortes “sem nome” que ocorrem a cada dia na fronteira entre o México e os Estados Unidos.
Segundo um informe elaborado pela associação de defesa dos direitos humanos No More Deaths e pela Coalizão de Direitos Humanos, que atuam na fronteira entre Sonora e Arizona, os corpos encontrados apenas na zona fronteiriça de Tucson entre 1º de outubro de 2009 e 30 de setembro de 2010 seriam 253. A maioria desses mortos não foi reconhecida e continua sem nome. Segundo essas organizações, de 1º de outubro de 2010 até hoje, morreram 59 imigrantes na mesma zona.
Nas fileiras de pequenas cruzes coloridas, que vigiam os tijolos dos muitos John e Jane Does, os voluntários das organizações sociais da fronteira fazem sóbrias orações laicas para lembrar as centenas de mortos esquecidos, para que nunca se considere um acontecimento normal a morte resultante da aplicação de leis migratórias.

Perda de credibilidade leva globo a lançar código de ética


Globo: os princípios, a credibilidade e a prática


Deve ter sido coincidência. Todavia, não deixa de ser intrigante que os Princípios Editoriais das Organizações Globo tenham sido divulgados apenas algumas semanas após o estouro do escândalo envolvendo a News Corporation e um dia depois que um ex-jornalista da própria Globo tenha postado em seu Blog orientação para tentar incompatibilizar o novo Ministro da Defesa com as Forças Armadas.


Venício Lima


Deve ter sido coincidência. Todavia, não deixa de ser intrigante que os “Princípios Editoriais das Organizações Globo” tenham sido divulgados apenas algumas semanas após o estouro do escândalo envolvendo a News Corporation e um dia depois que um ex-jornalista da própria Globo tenha postado em seu Blog – com grande repercussão na blogosfera – que havia uma orientação na TV Globo para tentar incompatibilizar o novo Ministro da Defesa com as Forças Armadas.


Credibilidade: questão de sobrevivência

A credibilidade passou a ser um elemento absolutamente crítico no “mercado” da notícia. O monopólio dos velhos formadores de opinião não existe mais. Não é sem razão que as curvas de audiência e leitura da velha mídia estejam em queda e o “negócio”, no seu formato atual, ameaçado de sobrevivência.


Na contemporaneidade, são muitas as fontes de informação disponíveis para o cidadão comum e as TICs ampliaram de forma exponencial as possibilidades de checagem daquilo que está sendo noticiado. Sem credibilidade, a tendência é que os veículos se isolem e “falem”, cada vez mais, apenas para o segmento da população que compartilha previamente de suas posições editoriais e busca confirmação diária para elas, independentemente dos fatos.


O escândalo do “News of the World” explicitou formas criminosas de atuação de um dos maiores conglomerados de mídia do mundo, destruiu sua credibilidade e levantou a suspeita de que não é só o grupo de Murdoch que pratica esse tipo de “jornalismo”. Além disso, a celebrada autorregulamentação existente na Inglaterra – por mais que o fato desagrade aos liberais nativos – comprovou sua total ineficácia. As repercussões de tudo isso começam a aparecer. Inclusive na Terra de Santa Cruz.


Os Princípios da Globo

No Brasil ainda não existe sequer autorregulamentação e as Organizações Globo, o maior grupo de mídia do país, não tem um único Ombudsman em suas dezenas de veículos para acolher sugestões e críticas de seus “consumidores”. Neste contexto, a divulgação de princípios editoriais – sejam eles quais forem – é uma referência do próprio grupo em relação à qual seu jornalismo pode ser avaliado. Não deixa de ser um avanço.


A questão, todavia, é que o histórico da Globo não credencia os Princípios divulgados. Em diferentes ocasiões, ao longo dos últimos anos, coberturas tendenciosas que se tornaram clássicas, foram documentadas. E alguns pontos reafirmados e/ou ausentes dos Princípios agora divulgados reforçam dúvidas. Lembro dois: a presunção de inocência e as liberdades “absolutas”.


Presunção de inocência

O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, adotado pela FENAJ, acolhe uma garantia constitucional (inciso LVII do artigo 5º) que tem origem na Revolução Francesa e reza em seu artigo 9º: “a presunção de inocência é um dos fundamentos da atividade jornalística”.


Não é necessário lembrar que o poder da velha mídia continua avassalador quando atinge a esfera da vida privada, a reputação das pessoas, seu capital simbólico. Alguém acusado e “condenado” pela mídia por um crime que não cometeu dificilmente se recupera. Os efeitos são devastadores. Não há indenização que pague ou corrija os danos causados. Apesar disso, a ausência da presunção de inocência tem sido uma das características da cobertura política das Organizações Globo.


Um exemplo: no auge da disputa eleitoral de 2006, diante da defesa que o PT fez de filiados seus que apareceram como suspeitos no escândalo chamado de “sanguessugas”, o jornal “O Globo” publicou um box de “Opinião” sob o título “Coerência” (12/08/2006, Caderno A, pp.3/4) no qual afirmava:


“Não se pode acusar o PT de incoerência: se o partido protege mensaleiros, também acolhe sanguessugas. Sempre com o argumento maroto de que é preciso esperar o julgamento final. Maroto porque o julgamento político e ético não se confunde com o veredicto da Justiça. (…) Na verdade, a esperança do PT, e de outros partidos com postura idêntica, é que mensaleiros e sanguessugas sejam salvos pela lerdeza corporativista do Congresso e por chicanas jurídicas. Simples assim.”


Em outras palavras, para O Globo, a presunção de inocência é uma garantia que só existe no Judiciário. A mídia pode denunciar, julgar e condenar. Não há nada sobre presunção de inocência nos Princípios agora divulgados.


Aparentemente, a postura editorial de 2006 continua a prevalecer nas Organizações Globo.


Liberdades absolutas?

Para as Organizações Globo a liberdade de expressão é um valor absoluto (Seção I, letra h) e “a liberdade de informar nunca pode ser considerada excessiva” (Seção III).


Sem polemizar aqui sobre a diferença entre liberdade de expressão e liberdade de imprensa – que não é mencionada sequer uma única vez nos Princípios – lembro que nem mesmo John Stuart Mill considerava a liberdade de expressão absoluta. Ela, como, aliás, todas as liberdades, têm como limite a liberdade do outro.


Em relação à liberdade de informar, não foi exatamente o fato de “nunca considerá-la excessiva” que levou a News Corporation a violar a intimidade e a privacidade alheia e a cometer os crimes que cometeu?


O futuro dirá

Se haverá ou não alterações na prática jornalística “global”, só o tempo dirá. Ao que parece, as ressonâncias do escândalo envolvendo o grupo midiático do todo poderoso Rupert Murdoch e a incrível capilaridade social da blogosfera, inclusive entre nós, já atingiram o maior grupo de mídia brasileiro.


A ver.


Venício A. de Lima é professor Titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor, dentre outros, de Regulação das Comunicações – História, poder e direitos, Editora Paulus, 2011.

Credibilidade, cara de pau e dívida

Para compreender o furor quanto à decisão da agência de classificação de crédito Standard&Poor's de rebaixar a classificação dos títulos de dívida pública federais americanos, é preciso ter em mente duas ideias aparentemente (mas não de fato) contraditórias.

A primeira é que os Estados Unidos já não são o país estável e confiável que um dia foram. A segunda é que a S&P tem credibilidade ainda menor do que o país; e é o último lugar que uma pessoa deveria procurar em busca de opinião abalizada sobre nossas perspectivas.

Vamos começar pela falta de credibilidade da S&P. Se existe uma palavra que pode ser usada para descrever a decisão da empresa de rebaixar os títulos americanos, é cara de pau --tradicionalmente definida com a história do jovem que, depois de assassinar os pais, pede clemência porque é órfão.

O grande deficit orçamentário americano, afinal, é em larga medida resultado da desaceleração econômica que se seguiu à crise financeira de 2008. E a S&P, em companhia das demais agências do ramo, desempenhou papel importante no surgimento da crise, ao oferecer classificação AAA, a mais positiva, a ativos lastreados por hipotecas que posteriormente provaram ser não mais que lixo tóxico.

E a ineficiência nas avaliações não parou por ali. A S&P é notória por ter conferido ao banco Lehman Brothers, cujo colapso criou pânico mundial, classificação A até o mês anterior à sua quebra. E como a agência de classificação reagiu depois da falência de uma empresa à qual dava a classificação A? Divulgando um relatório no qual negava ter cometido qualquer erro.

São essas as pessoas que estão se pronunciando quanto à posição de crédito dos Estados Unidos.

Mas espere, porque a coisa fica ainda melhor. Antes de rebaixar a classificação americana, a S&P enviou um rascunho de seu comunicado ao Tesouro americano. Funcionários federais logo descobriram um erro de US$ 2 trilhões nos cálculos da companhia.

E o erro era do tipo que qualquer especialista em assuntos orçamentários teria detectado na hora. Depois de uma discussão, a S&P admitiu que estava errada --mas rebaixou a classificação dos Estados Unidos mesmo assim, depois de remover trechos de análise econômica de seu relatório.

Como explicarei logo abaixo, essas estimativas orçamentárias não deveriam ser tratadas com muita seriedade, de qualquer modo. Mas o episódio dificilmente serve para causar confiança quanto ao juízo da S&P.

Em termos mais amplos, as agências de classificação de crédito jamais nos deram motivos para levar a sério suas avaliações de solvência nacional. É verdade que os países que terminaram dando calotes foram rebaixados antes que isso acontecesse, em geral. Mas nesses casos as agências estavam apenas seguindo os mercados, que já haviam feito dessas nações devedores em crise.

E nos raros casos em que as agências rebaixaram países que, como os Estados Unidos hoje, ainda contam com a confiança dos investidores, estiveram sempre erradas. Considere, especialmente, o caso do Japão, rebaixado pela S&P em 2002. Passados nove anos, o Japão continua capaz de captar recursos livremente e a baixo preço. Na sexta-feira, de fato, a taxa de juros sobre o título japonês de 10 anos era de apenas 1%.

Portanto, não há motivo para levar a sério o rebaixamento dos Estados Unidos na sexta-feira. As agências de classificação de crédito são as últimas pessoas que deveriam merecer nossa confiança.

Mas ainda assim os Estados Unidos têm grandes problemas.

Os problemas têm pouco a ver com aritmética orçamentária de curto ou mesmo médio prazo. O governo dos Estados Unidos não vem encontrando problemas para captar recursos e cobrir seu atual deficit. É verdade que estamos acumulando dívidas, sobre as quais teremos de pagar juros no futuro.

Mas se você fizer mesmo as contas, em lugar de enunciar grandes números com voz malévola, descobrirá que mesmo que haja grandes deficit nos próximos anos, o impacto sobre a sustentabilidade fiscal dos Estados Unidos será notavelmente baixo.

O que faz com que o país pareça pouco confiável não é a matemática orçamentária, mas a política. E, por favor, evitemos as declarações usuais de que os dois lados são culpados. Nossos problemas são quase totalmente unilaterais --especificamente, foram causados pela ascensão de uma direita extremista disposta a criar crises repetidas de preferência a ceder quanto a qualquer de suas exigências.

A verdade é que, em termos estritamente econômicos, os problemas fiscais de longo prazo dos Estados Unidos não são difíceis de resolver. É fato que a população envelhecida e a alta nos custos de saúde vão elevar mais os gastos que a arrecadação, se mantidas as políticas atuais. Mas os Estados Unidos têm custos de saúde muito mais altos que os demais países desenvolvidos, e impostos muito baixos pelos padrões internacionais.

Se avançarmos nem que parcialmente rumo à média internacional, nessas duas frentes, nossos problemas orçamentários estarão resolvidos.

Por que não o fazemos? Porque temos um movimento político poderoso no país que protestou violentamente até mesmo diante de esforços modestos para usar de forma mais efetiva as verbas do programa federal de saúde Medicare, e preferiu causar o risco de uma catástrofe financeira a concordar com nem que um centavo a mais de arrecadação.

A verdadeira questão que os Estados Unidos enfrentam, mesmo em termos puramente fiscais, não é cortar um US$ 1 trilhão do orçamento aqui ou ali; mas determinar se os extremistas que bloqueiam a adoção de qualquer política responsável poderão ser derrotados e marginalizados.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

Receita abre hoje consulta ao terceiro lote de restituições do IRPF 2011


Os valores estarão disponíveis no dia 15 de agosto; também serão liberados lotes referentes a 2008, 2009 e 2010



Agência Brasil



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A Receita Federal do Brasil libera hoje (8), às 9h, a consulta ao terceiro lote regular de restituições do Imposto de Renda Pessoa Física 2011. Há lotes também de 2010, 2009 e 2008. O dinheiro estará disponível no próximo dia 15 no banco. A consulta deverá ser feita por meio da página da Receita na internet ou do ReceitaFone (146).


Para o exercício de 2011, serão creditadas restituições para um total de 1.772.511 contribuintes, com correção de 3,92%. Do lote residual do exercício de 2010, serão creditadas restituições para 30.521 contribuintes, com correção de 14,07%, e do de 2009, para 19.122, com correção de 22,53%. Já do lote de 2008, as restituições serão pagas a 5.794 contribuintes e corrigidas em 34,60%.


A restituição ficará disponível no banco durante um ano. Se o contribuinte não fizer o resgate nesse prazo, deverá requerê-la pela internet, por meio do Formulário Eletrônico - Pedido de Pagamento de Restituição, ou diretamente no e-CAC, no serviço Declaração IRPF.


A Receita informa que, caso o valor não seja creditado, o contribuinte poderá ir a qualquer agência do Banco do Brasil ou ligar para a Central de Atendimento por meio do telefone 4004-0001 (capitais), 0800 729 001 (demais localidades) e 0800 729 0088 (deficientes auditivos), para agendar o crédito em conta-corrente ou poupança, em seu nome, em qualquer banco.

Segunda noite de distúrbios em Londres tem 100 detidos

 

 

 

Várias casas, duas viaturas e um ônibus de dois andares foram incendiados; protestos ocorrem desde sábado devido à morte de um homem de 29 anos em uma ação policial



AFP

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A polícia britânica informou nesta segunda-feira (8) a detenção de 100 pessoas na segunda noite de distúrbios em Londres, nas zonas norte, sul e leste da cidade, "inspirados" segundo a Scotland Yard pelos confrontos de sábado no bairro de Tottenham. Nove policiais ficaram feridos nos distúrbios em que grupos de jovens atacaram lojas e carros e atiraram objetos contra a polícia em Brixton, na zona sul, e nos distritos do norte de Enfield, Walthamstow e Islington, assim como em Oxford Street, no centro da cidade.
 
 
 
A polícia estava preparada para novos confrontos, depois da violência da noite de sábado no bairro multiétnico de Tottenham (norte), ao fim de um protesto pela morte de um homem de 29 anos em uma ação policial. Várias casas, duas viaturas da polícia e um ônibus de dois andares foram incendiados. Além disso, muitas lojas foram saqueadas em Tottenham nos mais graves distúrbios registrados em Londres em décadas, a pouco menos de um ano da cidade receber os Jogos Olímpicos.
 
 
"Os policiais que responderam aos distúrbios esporádicos em alguns bairros efetuaram mais de 100 detenções durante a noite e a madrugada", anunciou a Scotland Yard, que prendeu 61 pessoas no sábado à noite. Pelo menos nove policiais ficaram feridos, três deles atropelados por um veículo. No total, 35 agentes foram agredidos desde o início dos confrontos, segundo a Scotland Yard, que se declarou surpresa com "o incrível nível de violência contra a corporação".
 
 
Saques
 
 
A polícia mobilizou reforços nas áreas mais sensíveis no domingo, mas os saques continuaram em vários pontos da cidade. Em Brixton, que assim como Tottenham tem uma longa história de tensões com as forças de segurança, centenas de pessoas saquearam um depósito de produtos eletrônicos e grupos de jovens atiraram objetos contra as forças de segurança. As vitrines de várias lojas foram destruídas na principal avenida comercial.
 
 
"Ouvi os helicópteros ontem à noite depois da festa de rua. Era inevitável que algo acontecesse depois das pessoas terem passado todo o dia bebendo", disse Marilyn Moseley, uma conselheira de vendas que mora na região.
 
 
Também foram registrados saques em Enfield, ao norte, onde dois veículos foram incendiados. Em Walthamstow, mais de 30 jovens, a maioria encapuzados, invadiram várias lojas. Um grupo de 50 jovens também provocou danos em Oxford Circus, no coração da Londres turística.
 
 
Protestos
 
 
Os distúrbios de Tottenham explodiram no sábado à noite, depois de uma manifestação em protesto pela morte na quinta-feira de Mark Duggan, 29 anos, em um tiroteio com a polícia. A polícia classificou a morte de Duggan, pai de quatro filhos, de "absolutamente lamentável" e a Comissão Independente de Queixas da Polícia (IPCC) abriu uma investigação.
 
 
O tiroteio provocou revolta em Tottenham, um dos distritos mais marginalizados da cidade. Em 1985, violentos distúrbios aconteceram no mesmo bairro depois que as forças de segurança feriram um civil. Nos confrontos um policial foi morto.

Nova classe média tem maioria feminina, branca e com mais de 25 anos

 

Segundo os dados, novo grupo é majoritariamente urbano, mora em cidades de pequeno porte e têm quase todas as suas crianças na escola

Agência Brasil

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Perfil elaborado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República revela que a nova classe média brasileira, formada por 95 milhões de pessoas, tem a maioria feminina (51%) e branca (52%) e é predominantemente adulta, com mais de 25 anos (63%).
Os dados são da Pesquisa de Amostra Domiciliar (Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) antes do Censo 2010, e agora recompilados pela SAE para estabelecer o perfil da classe C – que, na última década, teve o ingresso de 31 milhões de pessoas e tornou o estrato social mais volumoso. A renda familiar da classe média varia de R$ 1 mil a R$ 4 mil mensais.
O perfil da nova classe média é tema do seminário que o governo promove nesta segunda-feira (8), em Brasília, para estabelecer novas políticas sociais para o segmento.
Segundo os dados, a nova classe média é majoritariamente urbana (89%) e, em sua maioria, está em três regiões brasileiras: Sul (61%), Sudeste (59%) e Centro-Oeste (56%). O percentual da população nesse estrato social é maior em cidades de pequeno porte (45%), com menos de 100 mil habitantes, do que em regiões metropolitanas (32%) e em cidades de médio porte (23%).
Os dados educacionais revelam que 99% das crianças e adolescentes (7 a 14 anos) da classe média frequentam a escola. A proporção é a mesma que a da classe alta. A frequência escolar nas faixas etárias mais elevadas é, no entanto, comparativamente menor. Na classe alta, 95% dos jovens de 15 a 17 anos e 54% dos adultos de 18 a 24 anos frequentam escola; enquanto, na classe emergente, os percentuais caem para 87% e 28%, respectivamente.
Apesar do perfil escolar mais baixo, a SAE afirma que a classe C tem buscado incrementar a formação escolar. Segundo o secretário executivo da SAE, Roger Leal, o total de anos dedicados ao estudo é maior que no passado, e a classe C tende a se beneficiar da melhoria da qualidade no ensino. Para ele, é natural a junção entre um acesso mais amplo à educação e um espaço maior no mercado de trabalho.
Conforme a SAE, seis em cada dez pessoas da classe C estão empregadas. A maioria dessas tem registro formal (42% com carteira assinada e 11% como funcionário público); 19% trabalham sem registro; outros19% trabalham por conta própria; 3% são empregadores; e 6% não são remunerados. O perfil de formalização da classe C (53%) está acima da média nacional (47%), mas, na classe alta, o índice de formalização é maior, 59%.
“O fato de a pessoa chegar à classe média, de ter tido um incremento do rendimento, experimentado alguma ascensão social, não significa dizer que houve formalização do emprego”, pondera Leal, ao destacar que não há uma relação rigorosa entre a melhoria da qualidade de vida e a legalização do vínculo empregatício. “Isso não quer dizer que o combate à pobreza gere formalização do emprego.”
Ainda conforme os dados compilados da Pnad 2009, três quartos da classe C moram em casa própria, sendo 99% dos domicílios de alvenaria ou madeira aparelhada; com forro ou cobertura de laje, telhado ou madeira aparelhada.
Despesas

As famílias da chamada nova classe média gastam mais de sua renda com alimentação, habitação, vestuário, higiene e cuidados especiais, assistência à saúde, fumo e serviços pessoais do que as famílias da classe alta (classes A e B).
Segundo o secretário executivo da SAE, Roger Leal, “a academia vem legitimando” essa faixa de renda como de classe C. “Os diferentes parâmetros usados não fogem muito dessa faixa”, disse. Ele reconhece, no entanto, que um intervalo de renda que começa com valor inferior a dois salários mínimos (R$ 1.090) pode ser contestado. “Sempre a definição de limites é passível de discussão”, admitiu.
Leal pondera que a faixa comporta grande variação de potencial de consumo, desde domicílios que têm R$ 250 de renda familiar per capita até domicílios com R$ 1 mil (média de quatro pessoas por domicílio) de renda. “Dentro dessa banda, há diferentes patamares e variações. Eu não estou querendo dizer que aquele que recebe R$ 250 é igual aquele que recebe R$ 1 mil”, disse, ao destacar a heterogeneidade do potencial de consumo.
Para o secretário executivo da SAE, a classe C se beneficiou das políticas sociais que, desde 2003, diminuíram a desigualdade. Conforme os dados da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (Pnad), de 2009, a taxa de crescimento na renda per capita dos 10% mais pobres foi cerca de quatro vezes acima da taxa de crescimento entre os 10% mais ricos da população.
Leal reconhece, no entanto, que o país ainda é desigual e não conseguiu eliminar a pobreza. “A ascensão significativa não afastou a possibilidade de extrema pobreza. Por isso, o [Plano] Brasil sem Miséria”, disse, fazendo referência ao programa lançado pelo governo em junho.
Os dados analisados pela SAE serão publicados no site www.sae.gov.br/novaclassemedia.

Sem cargo eletivo, Serra abriu uma consultoria empresarial

Serra abre consultoria de assessoria empresarial


DE SÃO PAULO

Sem cargo eletivo, o ex-governador José Serra, derrotado nas eleições presidenciais de 2010, abriu uma consultoria em abril, a Apecs Consultoria e Assessoria em Gestão Empresarial.

Segundo o registro na Junta Comercial, a Apecs faz consultoria em gestão empresarial (exceto consultoria técnica específica); edição de livros; serviços de organização de feiras, congressos, exposições e festas; além de atividades de apoio à educação.

A empresa, sediada em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, foi criada com capital social de R$ 10 mil. Serra é o sócio-administrador da Apecs, com participação de R$ 9.900. O economista Gesner Oliveira tem participação minoritária de R$ 100.

Alexandre Rezende/Folhapress
O ex-governador José Serra abriu uma consultoria em gestão empresarial, a Apecs

Oliveira foi presidente da Sabesp de 2007 a 2010, quando Serra era governador de São Paulo. Ele também dirigiu o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) de 1996 a 2000, durante o governo de FHC.

O novo sócio de Serra também tem sua própria consultoria, a G.O. Associados.

Após perder a eleição, Serra disse que pretendia "ganhar a vida" com aulas e palestras em 2011.

Entre maio e julho deste ano, Serra fez palestras para associações como a Federasul (Federação das Associações Comerciais e de Serviços do RS), a Findes (Federação das Indústrias do ES) e a ADVB (Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing de Santa Catarina).

Os assuntos abordados em geral foram reforma política e desenvolvimento econômico. A assessoria do ex-governador não informou se elas foram pagas. Segundo o jornal "O Estado de S. Paulo", que revelou ontem a existência da consultoria, Serra não recebeu cachê pelas palestras na Findes e na ADVB.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também passou a dar palestras em 2011, em geral para grandes empresas. Ele já faturou cerca de R$ 2 milhões, considerando o cachê de R$ 200 mil estimado pelo mercado.

A eleição em São Paulo

 


As eleições municipais de 2012 estão começando. Não para os eleitores, que nem pensam no assunto. Mas para os políticos. Para eles, a largada foi dada.

A discussão do momento é a sucessão na prefeitura em São Paulo. A escolha dos prefeitos de algumas outras capitais recebe atenção, mas em plano menor.

Dessas, algumas devem ter fortes candidatos naturais, pois os atuais prefeitos disputam a reeleição e, a esta altura, são favoritos. É o caso do Rio de Janeiro com Eduardo Paes e Belo Horizonte com Marcio Lacerda. Em outras, o processo está mais aberto, seja porque o atual prefeito é pouco conhecido – era vice e assumiu o cargo após a desincompatibilização do titular no ano passado (como em Porto Alegre e Curitiba), não está no páreo, pois já foi reeleito (como em Salvador e Fortaleza), ou não tem boa avaliação (como no Recife).

A importância da eleição em São Paulo é indiscutível, mas costuma ser exagerada. Como maior cidade e capital econômica do País, tudo que acontece na política local tem repercussão nacional, nem que seja por suas consequências na vida política do estado, o maior colégio eleitoral brasileiro. Daí a imaginar que a escolha do prefeito da cidade tenha grande impacto na política brasileira há uma diferença.

Com Luiza Erundina, por exemplo, o PT conquistou a prefeitura em 1988 e viu Fernando Collor derrotar Lula na cidade no ano seguinte. Em 1992, foi a vez de Paulo Maluf, adversário figadal dos tucanos, ganhar, enquanto a cidade, dois anos depois, deu a Fernando Henrique uma vitória no primeiro turno. Nas próximas, o padrão se repetiu, com Celso Pitta vencendo em 1996 e FHC se reelegendo em 1998.

Houve resultados “alinhados” apenas nas eleições de 2000 e 2002, com Marta Suplicy na prefeitura e Lula no Planalto. Mas, quando Serra venceu em 2004 e Gilberto Kassab em 2008, voltamos ao normal, pois suas vitórias foram seguidas por duas do PT nas eleições nacionais.
Salvo, então, uma exceção, os demais casos indicam que o desempenho na eleição municipal de São Paulo não tem maior efeito na eleição presidencial seguinte. Mas, mesmo que não pavimente o caminho para Brasília, vencer na cidade é importante para qualquer partido.

Nas pesquisas atuais (que devem ser lidas com a cautela habitual, considerando sua grande distância da eleição) só três candidatos despontam, dos quase 20 mais comentados. No PT, Marta Suplicy; no PSDB, José Serra; no PP, Celso Russomanno. Nessa ordem, com Marta bem à frente de Serra e ele de Russomanno.

Algumas coisas chamam a atenção nos resultados. Em primeiro lugar, diferentemente do que costumam apregoar seus companheiros e amigos na mídia, Serra saiu mal da eleição de 2010. Ter, atualmente, 3% de intenções espontâneas e ficar atrás de Marta (com 9%) e Kassab (com 6%), empatando com Maluf, não é performance impressionante.

Alguém poderia argumentar que ele não é, apenas, lembrado espontaneamente para o cargo. Mas seu desempenho continua fraco nos cenários de voto estimulado, perdendo, com 24%, para Marta, que tem 29%. Seus melhores números aparecem quando os adversários são os nomes menos conhecidos do PT (Fernando Haddad e Jilmar Tatto), mesmo assim ficando pouco acima dos 25%. É pouco, para quem tem sua biografia, a menos que se considere que a desvalorizou com a campanha que fez (não esquecendo que é o mais rejeitado dos candidatos testados).

No PSDB, o grave é que Serra é, de longe, o nome mais viá-vel, vários corpos à frente de qualquer outro. Para os tucanos, talvez seja ruim com Serra, mas pior sem ele.

Do lado do PT, está Marta, na casa dos 30%, liderando em todos os cenários, e Aloizio Mercadante, com 10%, atrás de Serra e Russomanno. Fernando Haddad e Jilmar Tatto ficam distantes, não passando de 3%, independentemente dos oponentes. Ou seja, uma escolha que poderia ser considerada natural.

Consta, porém, que Lula prefere a candidatura de Haddad. Parece que acredita que poderia repetir o que fez com Dilma, apresentando-o à cidade e lhe transferindo os votos de que precisaria. Deve imaginar que seria melhor opção que Mar-ta.

Por tudo que já foi e fez, ninguém tem coragem de se contrapor ao ex-presidente. Mas não se pode esquecer que seu poder de transferência só foi plenamente confirmado na eleição presidencial, naquilo que os especialistas chamam de “transferência horizontal” (para o mesmo cargo). Na maior parte das vezes em que pensou influenciar eleitores para votar em candidatos a governador e prefeito (no que seria uma “transferência vertical”), não foi bem-sucedido. O que não quer dizer que não poderia fazer de seu ministro da Educação o prefeito de São Paulo.

Há vários outros nomes se movimentando nos demais partidos. Alguns são novidade, como Gabriel Chalita, outros personagens antigos, como Guilherme Afif. Da perspectiva de hoje, no entanto, nada indica que terão papel fundamental na eleição.

O código de ética das organizações globo



Por Marco Aurélio Mello

A divulgação este fim de semana dos Princípios Editoriais das Organizações Globo tem por finalidade dar uma resposta à sociedade que clama por regulação. Eles sabem que não podem mais continuar fazendo o que vinham fazendo e tentam se antecipar à legislação para criar um ambiente favorável, no sentido de argumentar que, sozinhos, são capazes de impor uma norma de conduta. Nada mais falso, como conta Rodrigo Vianna (aqui).

Pesquisas qualitativas tem demonstrado que o público voltou a ter antipatia pelo jornalismo praticado pela emissora. O monopólio da verdade acabou. Com o advento da internet (que eles próprios elogiam, já que têm enormes interesses comerciais e investimentos nesse setor) o consumidor de informação deixou de ser massa acrítica. Hoje, uma informação veiculada por eles é confrontada em seguida logo depois, com fez o xará Mello (aqui).
Para trazer informação de qualidade é preciso não ignorar o contraditório, não fazer juízos apressados e preconceituosos, não testar hipóteses irresponsavelmente e não subestimar a capacidade de seu público. Muitos podem até absorver conteúdo inercialmente, mas muitos também estão dispostos a dizer basta. Basta de manipulação, basta hipocrisia, basta de irresponsabilidade (aqui).

Ao definir o jornalismo que fazem, ressaltam: "Livre de prismas e de vieses, pelo menos em intenção, restará apenas o noticiário. Mas, se de fato o objetivo do veículo for conhecer, informar, haverá um esforço consciente para que a sua opinião seja contradita por outras e para que haja cronistas, articulistas e analistas de várias tendências." Desafio os leitores a encontrarem vozes dissonantes em política e economia, por exemplo. Vejam uma amostra do que fazem (aqui).

Informação de qualidade, segundo o documento, tem que ter: isenção, correção e agilidade. Ótimo, bom tripé. No entanto, o jornalismo da emissora não é isento. Posso garantir - como ex-funcionário durante 12 anos - que todo conteúdo "sensível" à emissora, não só é acompanhado de perto pela direção como é modificado e devolvido para os jornalistas. E ai daquele que ouse discordar.

Na seção II o documento prega a relação entre os jornalistas e as fontes. Posso afirmar, são no geral muito promíscuas. Como a TV é vitrine, quase sempre o que temos entre repórter e entrevistado é uma relação pautada pelo interesse recíproco. Como o alcance sempre foi grande, muitas "fontes" se acostumaram a frequentar os noticiários, mesmo quando suas declarações com frequência eram retiradas de contexto.

Quanto aos valores, "As Organizações Globo serão sempre independentes (dependendo do patrocinador - grifo meu), apartidárias (quando o PSDB não estiver no pleito - grifo meu), laicas (quando o Papa não se pronunciar oficialmente - grifo meu)." E prossegue: "Não serão, portanto, nem a favor nem contra governos, igrejas, clubes, grupos econômicos, partidos. Mas defenderão intransigentemente o respeito a valores sem os quais uma sociedade não pode se desenvolver plenamente: a democracia, as liberdades individuais, a livre iniciativa, os direitos humanos, a república, o avanço da ciência e a preservação da natureza." Aqui deixo para os leitores comentarem.

http://maureliomello.blogspot.com/2011/08/o-gigante-no-pantano.html