terça-feira, 9 de agosto de 2011

Fiscal da receita que denunciou esquema de 3.000,000,000,00 morre em acidente misterioso


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Um mistério ronda as investigações da Polícia Federal, da Corregedoria da Receita Federal e da Procuradoria da República de São Paulo que desbarataram uma quadrilha de auditores fiscais que vendiam fiscalizações e informações privilegiadas para empresas de Osasco. Em maio passado, no curso da investigação do caso, morreu o ex-subdelegado da Receita Federal naquele município, Jorge Luiz Miranda da Silva, responsável pelas denúncias que levaram as três instituições a desmontarem o esquema de corrupção que, segundo cálculos de policiais federais, pode ter provocado um prejuízo aos cofres públicos de R$ 3 bilhões. Jorge Luiz estava recebendo ameaças de morte, segundo dizem seus colegas.

Depois de ter denunciado o esquema de corrupção na Delegacia da Receita em Osasco e se sentir ameaçado, ele foi transferido, em janeiro deste ano, para a Delegacia Regional de São José dos Campos. Não chegou a atuar muito no novo posto, pois obteve licença médica. As ameaças, a transferência e a própria licença médica fazem seus colegas auditores fiscais classificarem na rede de e-mail da categoria o caso como uma “morte anunciada”.

Jorge Luiz ficou quase um mês desaparecido e, por pouco, não foi enterrado como indigente no cemitério de Queimados, na Baixada Fluminense, muito embora ao se acidentar com seu Chevrolet Montana (placa EVK 8954, de São Paulo) às 21h30 do dia 15 de maio, 400 metros adiante do KM 193 da Via Dutra, pista em direção a São Paulo, estivesse com os documentos no bolso, além da documentação regular do automóvel. Foi isto o que permitiu ao policial rodoviário federal Marcos Alves Pereira o identificar ao registrar o Boletim de Ocorrência 01861/2011, na 55ª Delegacia Policial do Rio, em Queimados.

Ele morreu dois dias depois, no Hospital da Posse, em Nova Iguaçu, para onde foi levado no dia do acidente por uma equipe de socorro da Nova Dutra. Foi transferido para o IML no mesmo bairro da Posse, devidamente identificado, como consta do livro de registro visto neste domingo (7/8) pela reportagem da ConJur. Mas, ainda assim, sua família ficou sem notícias suas por quase um mês. Na delegacia da Receita Federal de São José dos Campos sua ausência só foi sentida depois que venceu a licença médica e ele nem apareceu, nem deu notícias.

Tão logo seus colegas descobriram sua morte, a Delegacia Sindical do Rio do Sindicato dos Auditores Fiscais (Sindifisco) reivindicou ao superintendente da Receita no estado uma investigação do caso. Porém, como afirma nota divulgada, os sindicalistas receberam instruções de São Paulo para permanecerem em silêncio de forma a não atrapalhar as investigações da Operação Paraíso Fiscal que culminou com a prisão de oito pessoas e a apreensão de cerca de R$ 12,2 milhões em espécie na casa e no escritório de alguns auditores.

Em consequência da Operação Paraíso Fiscal, no último dia 5 de agosto, o
Diário Oficial da União publicou a exoneração dos envolvidos de seus cargos comissionados, inclusive do delgado-adjunto Antônio Ramos Cardozo, cargo que Jorge Luiz ocupou. Foram atingidos ainda Alaor de Paulo Honório, chefe do Serviço de Fiscalização; José Geraldo Martins Ferreira, chefe da Equipe de Fiscalização; e Kazuko Tane, chefe de Equipe de Fiscalização.

Uma equipe do setor de Inteligência da Superintendência da Polícia Federal de São Paulo esteve na Baixada Fluminense dando início a uma investigação paralela. Conforme a ConJur apurou nesta segunda-feira (8/8), mesmo depois que a família o identificou no IML, o corpo do auditor foi impedido de ser liberado até que papiloscopistas federais recolhessem suas digitais para uma identificação oficial. A Polícia Federal de São Paulo já instaurou inquérito específico para apurar o acidente de carro, apesar de na Delegacia do DPF de Nova Iguaçu, assim como no Posto da Polícia Rodoviária de São João de Meriti, explicarem que tudo não passou de um acidente e uma triste coincidência.

Segundo informações, Jorge Luiz estava viajando desde a Região dos Lagos em direção a São José dos Campos quando colidiu na traseira do ônibus Mercedes Benz, ano 2010, da Expresso São Jorge, placa LLE 7619, dirigido por Maria José de Melo Silva. O carro, já recolhido pela família do pátio da PRF, ficou com a frente toda acabada. Na Delegacia de Queimados só existe o Boletim de Ocorrência, uma vez que o laudo do Exame de Corpo Delito do IML de Nova Iguaçu foi remetido para a 58ª DP e ainda não foi encaminhado a Queimados onde deve ocorrer a investigação do acidente.

Apesar disto tudo, diversos auditores fiscais querem que a Superintendência da Receita Federal do Rio acompanhe as investigações, como diz a nota divulgada assim como a carta encaminhada à superintendente adjunta da Receita no Rio de Janeiro. Na rede de e-mails deles, alguns cobram que o Sindifisco contrate um advogado para acompanhar o caso. Teme que o acidente possa ter sido provocado por terceiros.

Fiscalização corrupta

 A operação foi deflagrada na última quinta-feira (4/8). A Polícia Federal, em conjunto com a Receita Federal e o Ministério Público Federal, descobriu que um grupo de fiscais da Receita cobrava de empresas para reduzir o valor das multas aplicadas. Na casa dos acusados foram encontrados pelo menos 12 milhões, em reais e dólares. A estimativa é que a soma do prejuízo para os cofres públicos pode passar dos R$ 3 bilhões.

Segundo a Polícia, o esquema contava com servidores da Receita de Osasco (SP) para a venda de fiscalizações e de advocacia administrativa, no qual eram lavrados autos de infração com valores menores que os devidos. Segundo o fisco, foi a maior operação conjunta de combate à corrupção da história da Corregedoria da Receita Federal, envolvendo 120 agentes e delegados da PF e 50 auditores da Receita. Foram cumpridos 25 mandados de busca e apreensão nos municípios de São Paulo, Osasco, Sorocaba e Barueri, e oito mandados de prisão — seis preventivas e duas temporárias —, lavradas pela 2ª Vara Federal Criminal de São Paulo.

As prisões ocorreram pela prática dos crimes de advocacia administrativa — quando o funcionário público usa informações privilegiadas para ajudar um criminoso —, corrupção passiva, violação de sigilo, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha. São suspeitos de participar do esquema 11 servidores e ex-servidores da Delegacia da Receita Federal de Osasco-SP. Cinco auditores foram suspensos cautelarmente de suas funções por ordem judicial. Também foram presos o filho e a mulher de um dos fiscais, além de um doleiro. Em outra ação, no Rio de Janeiro, a PF prendeu seis funcionários do INSS suspeitos de fraudar benefícios previdenciários.

Nas casas dos cinco auditores presos, a Polícia encontrou e apreendeu R$ 12,9 milhões, entre notas de real e de dólar, muitas escondidas em caixas de leite e de biscoitos. A maior apreensão em espécie da operação aconteceu na casa de um auditor em Alphaville: R$ 2,5 milhões e US$ 2,5 milhões, encontrados no forro do telhado. Na casa do delegado adjunto da Receita Federal em Osasco foram apreendidos R$ 814 mil e US$ 232 mil. Com um dos chefes de fiscalização da Delegacia foram apreendidos quase R$ 1 milhão e US$ 91 mil. Com um quarto auditor foram apreendidos R$ 530 mil e US$ 3 mil, além de pedras preciosas. Na casa de outra chefe de fiscalização, mais R$ 3 milhões foram apreendidos. No armário desta auditora-chefe na própria repartição da Receita foram encontrados R$ 45 mil. Ao todo, 11 carros de luxo foram confiscados. Segundo a Polícia, os servidores tinham contas no exterior e alto padrão de vida.

Notícia publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo conta que os fiscais estavam sendo investigados desde o início do ano. A apuração começou com uma denúncia feita por um ex-auditor à Corregedoria da Receita. O esquema vigorava desde 2003. De acordo com o MPF, empresários da região de Osasco eram abordados pelos funcionários públicos, que deixavam de autuá-los em troca de vantagens financeiras, além de transmitir informações privilegiadas aos empresários. A quadrilha também dava consultoria para que as empresas com supostas irregularidades pudessem invalidar multas recebidas e alterar valores a serem pagos. Entre 100 e 150 fiscalizações foram vendidas. Cerca de 50 empresas teriam sido beneficiadas.

O fisco constatou que os acusados moravam em casas de alto padrão, realizavam viagens internacionais com frequência e mantinham contas correntes no exterior. As provas foram obtidas a partir de interceptação telemática e telefônica e o monitoramento de encontros com empresários fiscalizados.

Fonte: Conjur

FAB desmente reporcagem do fantástico, e o código de ética das organizações?

Nota Oficial – Esclarecimentos sobre reportagem do Fantástico exibida em 07/08/2011


O Comando da Aeronáutica repudia veementemente o teor da reportagem do jornalista Walmir Salaro, levada ao ar no Fantástico deste domingo, sete de agosto, e no Bom Dia Brasil desta segunda-feira, oito de agosto.


A matéria em questão parte de princípios incorretos e de denúncias infundadas para passar à população brasileira a falsa impressão de que voar no Brasil não é seguro. A reportagem contradiz os princípios editoriais da própria Rede Globo ao apresentar argumentos com falta de Correção e falta de Isenção, itens considerados pela própria emissora como sendo atributos da informação de qualidade.


O jornalista embarcou em uma aeronave de pequeno porte (aviação geral), que tem características como nível de voo, rota, classificação e regras de controle aéreo diferentes dos voos comerciais. A matéria trata os voos sob condições visuais e instrumentos como se obedecessem as mesmas regras de controle de tráfego aéreo, levando o espectador a uma percepção errada.


O piloto demonstra espanto ao avistar outras aeronaves sobre o Rio de Janeiro e São Paulo, dando um tom sensacionalista a uma situação perfeitamente normal e controlada que ocorre sobre qualquer grande cidade do mundo. Nesse sentido, causa estranheza que a reportagem tenha mostrado a proximidade dos aviões como algo perigoso para os passageiros no Brasil. As próprias imagens revelam níveis de voo diferenciados, além de rotas distintas.


Além disto, o piloto que opta por regras de voo visual, só terá seu voo autorizado se estiver em condições de observar as demais aeronaves em sua rota, de acordo com as regras de tráfego aéreo que deveriam ser de seu pleno conhecimento. Mesmo assim, o piloto receberá, ainda, avisos sobre outros voos em áreas próximas.


Foi exatamente o que ocorreu durante a reportagem, que mostra o contato constante dos controladores de tráfego aéreo com o piloto. Desde a decolagem foram passadas informações detalhadas sobre os demais tráfegos aéreos na região, sem que houvesse qualquer perigo para as aeronaves envolvidas.


A respeito da dificuldade demonstrada em conseguir contato com o serviço meteorológico, é interessante lembrar que há várias frequências disponíveis para contato com o Serviço de Informações Meteorológicas para Aeronaves em Voo (VOLMET), que está disponível 24 horas por dia em todo o país. Além destas, há frequências de ATIS (Serviço Automático de Informação em Terminal) que fornecem continuamente, por meio de mensagem gravada e constantemente atualizada, entre outros dados, as condições meteorológicas reinantes em determinada Área Terminal, bem como em seus aeroportos. Como, aliás, é o caso da Terminal de Belo Horizonte, incluindo os aeroportos da Pampulha e de Confins.


Ressalte-se que, a despeito da operação de tais serviços, todos os pilotos têm a obrigação de obter informações meteorológicas antes do voo pessoalmente nas Salas de Informações Aeronáuticas dos aeroportos, por telefone ou até pela internet.


Ao realizar o voo sem, possivelmente, ter acessado previamente informações meteorológicas, o piloto expôs a equipe de reportagem a uma situação de risco desnecessário. Tratou-se, obviamente, de mais um traço sensacionalista e sem conteúdo informativo.


A respeito do momento da reportagem em que o controle do espaço aéreo diz que não tem visualização da aeronave, cabe esclarecer que o voo realizado pela equipe do Fantástico ocorreu à baixa altitude, em regras de voos visuais, uma situação diferente dos voos comerciais regulares.


Na faixa de altitude utilizada por aeronaves como das empresas TAM e GOL, extensamente mostradas durante a reportagem, há cobertura radar sobre todo o território brasileiro. Para isso, existem hoje 170 radares de controle do espaço aéreo no país. Como dito acima, é feita uma confusão entre perfis de voos completamente diferentes. Dessa forma, o telespectador do Fantástico ficou privado de ter acesso a informações que certamente contribuem para a melhor apresentação dos fatos.


No último trecho de voo da reportagem, o órgão de controle determinou a espera para pouso no Aeroporto Santos-Dumont. O que foi retratado na matéria como algo absurdo, na realidade seguiu rigorosamente as normas em vigor para garantir a segurança e fluidez do tráfego aéreo. Os voos de linhas regulares, na maioria das vezes regidos por regras de voo por instrumentos, gozam de precedência sobre os não regulares, visando a minimizar quaisquer problemas de fluxo que possam afetar a grande massa de usuários.


A reportagem também errou ao mostrar que Traffic Collision Avoidance System (TCAS) é acionado somente em caso de acidente iminente. O fato do TCAS emitir um aviso não significa uma quase-colisão, e sim que uma aeronave invadiu a “bolha de segurança” de outra. Essa bolha é uma área que mede 8 km na horizontal (raio) e 300 metros na vertical (raio).


Cabe ressaltar ainda que a invasão da bolha de segurança não significa sequer uma rota de colisão, pois as aeronaves podem estar em rumos paralelos ou divergentes, ou ainda com separação de altitude, em ambiente tridimensional.


A situação pode ser corrigida pelo controle do espaço aéreo ou por sistemas de segurança instalados nos aviões, como o TCAS. Nem toda ocorrência, portanto, consiste em risco à operação. O TCAS, por exemplo, pode emitir avisos indesejados, pois o equipamento lê as trajetórias das aeronaves, mas não tem conhecimento das restrições impostas pelo controlador.


Todas as ocorrências, no entanto, dão início a uma investigação para apurar os seus fatores contribuintes e geram recomendações de segurança para todos os envolvidos, sejam controladores, pessoal técnico ou tripulantes. É esse o caso dos 24 relatórios citados na reportagem. A existência desses documentos não significa a ocorrência de 24 incidentes de tráfego aéreo, e sim uma consequência direta da cultura operacional de registrar todas as situações diferentes da normalidade com foco na busca da segurança.


A investigação tem como objetivo manter um elevado nível de atenção e melhorar os procedimentos de tráfego aéreo no Brasil, pois é política do Comando da Aeronáutica buscar ao máximo a segurança de todos os passageiros e tripulantes que voam sobre o país. Incidentes e acidentes não são aceitáveis em nenhum número, em qualquer escala.


Sobre a questão dos controladores de tráfego aéreo, ao contrário da informação veiculada, o Brasil tem atualmente mais de 4.100 controladores em atividade, entre civis e militares. No total, são mais de 6.900 profissionais envolvidos diretamente no tráfego aéreo, entre controladores e especialistas em comunicação, operação de estações, meteorologia e informações aeronáuticas.


Para garantir a segurança do controle do espaço aéreo no futuro, o Comando da Aeronáutica investe na formação de controladores de tráfego aéreo. A Escola de Especialistas de Aeronáutica forma anualmente 300 profissionais da área. Todos seguem depois para o Centro de Simulação do Instituto de Controle do Espaço Aéreo (ICEA), inaugurado em 2007 em São José dos Campos (SP). Com sistemas de última geração e tecnologia 100% nacional, o ICEA ampliou de 160 para 512 controladores-alunos por ano, triplicando a capacidade de formação e reciclagem.


Vale salientar que a ascensão operacional dos profissionais de controle de tráfego aéreo ocorre por meio de um conselho do qual fazem parte, dentre outros, os supervisores mais experientes de cada órgão de controle de tráfego aéreo. Desse modo, nenhum controlador de tráfego aéreo exerce atividades para as quais não estejam plenamente capacitados.


A qualidade desses profissionais se comprova por meio de relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA). De acordo com o Panorama Estatístico da Aviação Civil Brasileira, dos 26 tipos de fatores contribuintes para ocorrência de acidentes no país entre 2000 e 2009, o controle de tráfego aéreo ocupa a 24° posição, com 0,9%. O documento está disponível no link:

http://www.cenipa.aer.mil.br/cenipa/Anexos/article/19/PANORAMA_2000_2009.pdf


A capacitação dos recursos humanos faz parte dos investimentos feitos pelo DECEA ao longo da década. Entre 2000 e 2010, foram R$ 3,3 bilhões, sendo R$ 1,5 bilhão somente a partir de 2008. O montante também envolve compra de equipamentos e a adoção do Sistema Avançado de Gerenciamento de Informações de Tráfego Aéreo e Relatórios de Interesse Operacional (SAGITÁRIO), um novo software nacional que representou um salto tecnológico na interface dos controladores de tráfego aéreo com as estações de trabalho. O sistema tem novas funcionalidades que permitem uma melhor consciência situacional por parte dos controladores. Sua interface é mais intuitiva, facilitando o trabalho de seus usuários.


Os resultados desses investimentos foram demonstrados pela auditoria realizada em 2009 pela International Civil Aviation Organization (ICAO), organização máxima da aviação civil, ligada às Nações Unidas, com 190 países signatários. A ICAO classificou o Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro entre os cinco melhores no mundo. De acordo com a ICAO, o Brasil atingiu 95% de conformidade em procedimentos operacionais e de segurança.


Sem citar quaisquer dessas informações, para realizar sua reportagem, a equipe do Fantástico exibe depoimentos sem ao menos pesquisar qual a motivação dessas fontes. O Sr. Edileuzo Cavalcante, por exemplo, apresentado como um importante dirigente de uma associação de controladores, é acusado por atentado contra a segurança do transporte aéreo, motim e incitação à indisciplina, e responde por essas acusações na Justiça Militar.


O Sr. Edileuzo Cavalcante foi afastado da função de controlador de tráfego aéreo em 2007 e recentemente excluído das fileiras da Força Aérea Brasileira. Em 2010, também teve uma candidatura impugnada pela Justiça Eleitoral.


Quanto à informação sobre as tentativas de chamada por parte do controlador de tráfego aéreo, Sargento Lucivando Tibúrcio de Alencar, no caso do acidente ocorrido com a aeronave da Gol (PR-GTD) e a aeronave da empresa Excel Aire (N600XL) em 29 de setembro de 2006, cabe reforçar que elas não obtiveram sucesso devido à aeronave da Excel Aire não ter sido instruída oportunamente a trocar de frequência e não a qualquer deficiência no equipamento, conforme verificado em voo de inspeção. Durante as tentativas de contato, a última frequência que havia sido atribuída à aeronave estava fora de alcance, impossibilitando o estabelecimento das comunicações bilaterais.


Já quando foi consultar o Departamento de Controle do Espaço Aéreo, a equipe de reportagem omitiu o fato que trataria de problemas de tráfego aéreo. Foi informado que se tratava unicamente sobre a evolução do tráfego aéreo de 2006 a 2011.


Por fim, o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica ressalta que voar no país é seguro, que as ferramentas de prevenção do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro estão em perfeito funcionamento e que todas as ações implementadas seguem em concordância com o volume de tráfego aéreo e com as normas internacionais de segurança. No entanto, este Centro reitera que a questão da segurança do tráfego aéreo no país exige um tratamento responsável, sem emoção e desvinculado de interesses particulares, pessoais ou políticos.


Brasília, 9 de agosto de 2011.

Brigadeiro-do-Ar Marcelo Kanitz Damasceno

Chefe do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica

Líderes da base reclamam de abuso de poder no caso do Turismo




MARIA CLARA CABRAL
DE BRASÍLIA

Líderes da base aliada da presidente Dilma Rousseff na Câmara reclamaram, nesta terça-feira (9), de abuso de poder do Judiciário no caso das prisões no Ministério do Turismo. No total, 35 pessoas foram presas nesta manhã na Operação Voucher.

Um dos detidos é o secretário-executivo da pasta Frederico Costa. O ex-secretário-executivo, Mário Moysés, e o secretário nacional de Programas e Desenvolvimento do Turismo, o ex-deputado Colbert Martins, também foram presos.

Para o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), uma pessoa que está há dois meses no ministério, como Colbert Martins, não pode ser presa sem nenhum tipo de explicação por convênios firmados em 2009.

"Acho que houve abuso de poder do Judiciário e do Ministério Público", afirmou o petista.

A opinião é a mesma do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), que reclama do tratamento dado pelo Judiciário ao seu correligionário, Colbert Martins. "Isso é um absurdo. Ele foi preso sem nem saber o porquê, sem nem ter sido ouvido. Esse procedimento não é correto, não faz parte do Estado democrático de direito", disse.

Em almoço nesta terça-feira na casa de Alves, todos os líderes da base disseram-se perplexos com a ação da Polícia Federal. "Há uma indignação generalizada", resumiu o deputado Jilmar Tatto (PT-SP). O clima do almoço, segundo participantes, foi de forte cobrança e contrariedade.

Os deputados ressaltam que as investigações são referentes aos convênios firmados em 2009, mas pessoas que entraram no ministério neste ano também foram presas. "Tudo isso nos surpreende pela forma que está sendo executada. Não se pode prejulgar todo mundo como corrupto", disse Alves.

"Essa decisão da Justiça é absurda e muito estranha. É preocupante a forma como foi feita, tudo por um juiz de primeira instância", afirmou o líder do PTB, Jovair Arantes (GO).

A Operação Voucher, da PF, investiga o desvio de recursos públicos destinados ao Ministério do Turismo por meio de emendas parlamentares. Além dos presos, estão sendo investigados funcionários da ONG Ibrasi (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável), foco da fraude, e empresários, de acordo com a PF.

Provas contra número 2 do Turismo são robustas, diz PF

O diretor-executivo da Polícia Federal, Paulo de Tarso Teixeira, disse que 33 pessoas foram presas e R$ 610 mil foram apreendidos na Operação Voucher, deflagrada nesta terça-feira e que investiga desvios de dinheiro no Ministério do Turismo.

FILIPE COUTINHODE BRASÍLIA


Segundo o delegado, o secretário-executivo da pasta, Frederico Costa, o ex-secretário-executivo, Mário Moysés, e o secretário nacional de Programas e Desenvolvimento do Turismo, Colbert Martins da Silva Filho, foram presos preventivamente, ou seja, para evitar a eliminação de provas e com prazo maior de detenção.



"Para que a Justiça decrete a prisão preventiva, as provas têm que ser mais robustas do que as prisões temporária", disse o delegado. Por determinação da Justiça Federal, todos que foram presos preventivamente serão encaminhados a Macapá, onde a investigação está centralizada.

A investigação da PF começou em abril deste ano. No total, a Justiça expediu 38 mandados de prisão --19 temporárias e 19 preventivas--, mas 33 foram detidos por enquanto. Em Brasília, dez pessoas foram presas preventivamente, enquanto sete estão detidos temporariamente e deverão ser soltos após prestarem depoimentos.

Divulgação
Frederico Silva da Costa, secretário-executivo do Ministério do Turismo, foi preso na Operação Voucher, da PF

Frederico Silva da Costa, secretário-executivo do Ministério do Turismo, foi preso na Operação Voucher, da PF

De acordo com a investigação --que deve ser finalizada entre duas semanas e um mês-- o convênio suspeito totaliza R$ 4,45 milhões do ministério, em convênio com o Ibrasi (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável), no Amapá.

"O dinheiro era repassado pelo ministério ao Ibrasi, que usava empresas do grupo ou fictícias. A partir desse repasses, os treinamentos não eram executados", disse o delegado.

Os policiais suspeitam que pelo menos dois terços deste valor foi desviado.

O Ministério do Turismo fez o convênio com dinheiro originado de emenda parlamentar. Segundo o delegado, contudo, não há indícios, "até o momento", de participação de deputados no esquema.

Na casa do diretor do Ibrasi, em São Paulo, foram apreendidos R$ 610 mil _ um dos objetivos da operação era justamente buscar dinheiro vivo. A PF, contudo, disse que não informará nomes dos envolvidos nem especificar a conduta de cada um.

De acordo com o delegado Paulo de Tarso Teixeira, as oitivas que serão realizadas servirá para esclarecer a participação dos envolvidos no esquema.

PLANALTO

Questionado se a presidência da República sabia com antecedência da investigação, o diretor-executivo da PF afirmou que as informações só foram repassadas após a deflagração da operação.

De acordo com Paulo de Tarso, a PF é "apartidária" e tem autonomia para investigar.

Polícia londrina divulga fotos de suspeitos por distúrbios

DA BBC BRASIL

A Scotland Yard (polícia metropolitana de Londres) divulgou na tarde desta terça-feira as primeiras de "muitas" imagens de suspeitos de participação nos distúrbios que têm se alastrado pela cidade e por outras partes da Inglaterra.

Scotland Yard
Montagem de fotos de suspeitos por saques durante distúrbios em Londres divulgadas pela Scotland Yard

Montagem de fotos de suspeitos por saques durante distúrbios em Londres divulgadas pela Scotland Yard

As imagens foram feitas pelas câmeras de segurança nas ruas de West Norwood e Croydon (ao sul de Londres), na madrugada desta terça-feira. Os fotografados são suspeitos de saque na região.

Veja a galeria de fotos dos protestos em Londres

O comandante da polícia, Simon Foy, disse que as imagens serão usadas para levar à Justiça os acusados por crimes durante os protestos londrinos.

"Aqueles que cometeram ou têm intenção de cometer atos criminosos ou violentos ficam advertidos. Teremos fotos e provas que usaremos para identificá-lo e levá-lo à Justiça", afirmou comunicado policial.

"Hoje, divulgamos as primeiras de muitas, muitas imagens de pessoas que interrogaremos em conexão com as cenas de violência. Não toleraremos a violência que tem sido vista em partes de Londres."

As fotos serão colocadas no Flickr (site de compartilhamento de fotos) da Scotland Yard, para que o público ajude a identificar os suspeitos.

Foy disse que a polícia está ao mesmo tempo realizando detenções e indiciando pessoas acusadas de participar dos distúrbios.

AÇÃO POLICIAL

A polícia londrina disse que mantinha 16 mil policiais de prontidão para reagir aos protestos até esta terça de manhã -- em um dia normal, esse número seria inferior a 3.000.

"Estaremos em maior número (patrulhando as ruas) nesta noite, pelo tempo que for necessário", disse o comissário Tim Godwin.

A polícia também informou que usará balas de plástico contra os manifestantes (até então, a munição nunca havia sido usada para conter protestos no território britânico).

Até esta terça, mais de 520 pessoas haviam sido detidas e 99, indiciadas pelos atos de violência em Londres.

O Ministério da Justiça afirmou que os indiciados serão levados à corte "em questão de horas", em procedimentos mais rápidos que o comum.

Escola sem papel

 

País com um dos melhores sistemas de ensino do mundo, a Coreia do Sul vai tirar livros e cadernos das salas de aula

Débora Rubin

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VANGUARDA
Estudantes sul-coreanos na sala de aula com
seus tablets: investimento de US$ 2 bilhões
Os alunos da Coreia do Sul não precisarão carregar mais tanto peso nas costas a partir de 2015. O governo anunciou neste mês que todo o sistema de ensino será digitalizado. Para ler o conteúdo de um livro ou fazer a lição de casa, bastará ter um tablet ou até mesmo um smartphone. O conteúdo digital faz parte do programa SmartEducation (Educação Inteligente), que terá investimentos da ordem de US$ 2 bilhões. Além de eliminar o uso de livros e cadernos, o programa prevê a criação de salas multimídia com computadores e quadros eletrônicos. As aulas também serão transmitidas em tempo real – o que pode ser o fim da velha desculpa de faltar na escola quando se está doente.

A transformação digital da educação coreana é inédita. Nenhum outro país, por hora, prevê tamanha mudança em tão pouco tempo. Nem tanto pela falta de investimentos, mas sim pelo modelo educacional. “A grande maioria dos países tem uma estrutura muito menos centralizada e mais complexa, o que dificulta a padronização e a digitalização da educação”, afirma César Nunes, pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Inovação Curricular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e diretor da Oort Tecnologia, produtora de material didático digital. Nos Estados Unidos, por exemplo, algumas cidades estão apostando em projetos-piloto com os tablets – a Prefeitura de Nova York comprou dois mil aparelhos. No Estado de Indiana, o ensino da letra cursiva agora é opcional.

Para o especialista César Nunes, a questão mais importante a ser debatida é como usar a tecnologia em sala de aula. “Quando falamos em cadernos e livros digitais, corremos o risco de nos ater apenas a atividades muito guiadas, mais parecidas com o sistema tradicional”, diz. “Mais interessante é pensar em como usar isso focado no desenvolvimento do pensamento e das competências do século XXI.” Encher uma sala de aula de computadores e não saber o que fazer deles é uma história recorrente no mundo educacional. Recentemente, a Espanha investiu em lousas digitais e notebooks em sua rede pública. O que parecia uma iniciativa nobre gerou uma grande confusão, já que a maioria dos professores nem sequer sabia usar o material.

No Brasil, há um ano foi lançado oficialmente o Programa Um Computador por Aluno (Prouca) pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ainda está na fase piloto. Dez escolas de cinco cidades receberam 1.390 máquinas para a fase de teste. A segunda etapa vai levar 150 mil laptops para três mil alunos de mais cinco municípios. Paralelamente, 600 professores universitários foram capacitados para treinar docentes da rede pública a usar o material de forma adequada.
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Golpe nigeriano

 

Empresários e funcionários graduados de multinacionais são alvo de bandidos sofisticados, que falsificam documentos, criam sites e empresas e atraem suas vítimas por e-mail

Flávio Costa

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"Os papéis pareciam em ordem. Não era uma negociação diferente de
tantas outras que fiz em mais de 20 anos de trabalho com exportação"

Osmar Pereira, brasileiro sequestrado e torturado em Johannesburgo
Os alvos são quase sempre médios exportadores em busca de negócios vultosos em terras desconhecidas. Ou incautos seduzidos pela primeira proposta tentadora que surge na tela do e-mail. Os bandidos falsificam documentos bancários e diplomáticos, criam sites de empresas inexistentes e inventam ofertas para atrair a cobiça das vítimas, cujos contatos obtêm facilmente na internet. Se você checar sua caixa de mensagens nesta semana, é enorme a probabilidade de encontrar uma proposta com teor semelhante. O nível de sofisticação é variável, mas o chamado golpe nigeriano costuma fazer vítimas de nacionalidades diversas e causar dores de cabeça em autoridades de vários países.

Um caso clássico aconteceu há pouco mais de um mês, na cidade de São Paulo. Policiais prenderam em um hotel na área nobre da capital paulista um nigeriano de 36 anos que tentou extorquir um empresário de Uruguaiana (RS). Durante quatro meses, em seguidas conversas por e-mail, o estelionatário tentou convencer o brasileiro a lhe entregar R$ 14 mil. O dinheiro seria usado para transferir para o Brasil US$ 16,4 milhões retidos em uma fictícia conta bancária de um “amigo falecido” na Nigéria. “O acusado dizia que, assim que o valor fosse transferido para uma conta no Brasil, ele daria 40% ao brasileiro”, disse o delegado Marco Aurélio Batista, que prendeu o nigeriano após ser informado do caso pelo empresário.

País com alto índice de corrupção, a Nigéria carrega a sina de ser associada a esse tipo de fraude, também conhecida como 419 Scam – número do artigo referente ao estelionato no Código Penal do país, equivalente ao 171 brasileiro. Não são apenas os nigerianos que praticam o golpe, criado por volta dos anos 80, mas eles se tornaram experts no assunto. E, nos últimos anos, ele passou a ter um caráter mais violento. Uma das últimas vítimas foi o executivo holandês Edo de Ronde, sequestrado há três semanas em Johannesburgo, na África do Sul, onde desembarcou atraído pela perspectiva de fechar um acordo milionário no setor de reciclagem. Durante dois dias ele ficou à mercê dos criminosos, mesmo sua empresa tendo pago US$ 15 mil dólares pelo resgate. Uma mensagem de texto enviada pelo celular permitiu à polícia sul-africana localizar o cativeiro e libertá-lo.

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PERIGO


O executivo holandês Edo de Ronde, sequestrado na África do Sul:
ele foi atraído por um acordo milionário no setor de reciclagem

História parecida, e ainda mais violenta, viveu o exportador paraense Osmar Pereira, sequestrado na mesma cidade dias antes do início da Copa do Mundo de 2010. Ao procurar interessados em importar portas de mogno para o Iraque, ele encontrou, por meio da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, um grupo supostamente baseado em Dubai, nos Emirados Árabes. A venda girava em torno de US$ 4 milhões e as tratativas seguiam em um ritmo normal. Foram pelo menos três meses de trocas de e-mails e telefonemas. “Os papéis pareciam em ordem e eu era sempre atendido quando ligava para o telefone deles, não parecia uma negociação diferente de tantas outras que eu fiz em mais de 20 anos de trabalho com exportação”, afirma Pereira.

O sequestro foi anunciado assim que o exportador chegou ao aeroporto sul-africano. Ele foi levado a uma casa na periferia de Johannesburgo, onde também se encontrava cativo um executivo sul-coreano. Após sofrer três dias de tortura – foi amarrado e teve peito e barriga queimados por um ferro –, o brasileiro foi resgatado pela polícia. Os seis sequestradores, todos nigerianos, já foram julgados e condenados a 25 anos de prisão. Mas a quadrilha era comandada por um russo ainda foragido, o que revela o caráter transnacional dessas organizações. Pereira deve voltar ao país em setembro para um novo julgamento dos acusados. “Mas apenas se a Polícia Federal brasileira me oferecer segurança”, acrescenta.

Depois deste caso, outros três empresários brasileiros, da área de mineração, foram seqüestrados na África do Sul. O que levou a embaixada brasileira no país a criar uma página na internet para orientar quem quer fazer negócios no Exterior de maneira segura. “Conseguimos frustrar várias tentativas de golpe contra brasileiros. Numa delas, além de comprovar que a empresa não existia, obtivemos da polícia a informação de que o suposto empresário possuía vários antecedentes criminais por estelionato na Cidade do Cabo”, informa o adido da Polícia Federal em Pretória, Luiz Dórea. “É preciso checar diariamente o nível de segurança virtual, pois dados confidenciais podem estar vulneráveis para a ação de golpistas”, explica Rennan Fortes, diretor do site Blindado, especializado em segurança virtual. “Instalar sistemas de filtragem de e-mails é uma das alternativas para evitar receber mensagens de procedência duvidosa”, acrescenta André Carrareto, executivo da Symantec, que atua na mesma área.

O FBI criou uma unidade especial para investigar esse tipo de crime nos Estados Unidos, onde o nigeriano Okpako Diamreyan, disfarçado de príncipe, convenceu pessoas a doarem US$ 1,3 milhão. Ao explicar o que leva pessoas instruídas a cair nesse tipo de golpe, policiais apontam a cobiça pelo dinheiro fácil como fator preponderante. Mas ela sozinha não explica tudo. “Esses golpistas têm um enorme talento para criar uma trama verossímil que consiga ludibriar as vítimas. Qualquer um pode cair num golpe como esse”, comenta o historiador José Augusto Dias Júnior, autor do livro “Os Contos e o Vigário”, uma trajetória de golpes aplicados no País desde o século XIX. É quando a ocasião encontra a vítima e o ladrão.
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O que fazer com as crianças do crack?

 

A polêmica internação forçada de menores de idade dependentes da droga que está em vigor no Rio de Janeiro pode se expandir em São Paulo e se espalhar pelo País

Solange Azevedo e Wilson Aquino

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DRAMA

Na Cracolândia (à esq.), em São Paulo, o uso da droga ocorre à luz do dia. Ao lado, equipe da
Prefeitura do Rio recolhe crianças e adolescentes. A., abaixo, está num abrigo carioca há dois meses

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"Eu usava droga com a minha mãe. Mas, mesmo assim, amo ela", diz o carioca A., 17 anos. "Queria que ela viesse me ver. Aposto que ia querer se curar também." Depois do desabafo, esse adolescente, de corpo franzino e face marcada pelo sofrimento, caiu no choro. Morador da favela de Manguinhos, um dos maiores pontos de venda de crack da capital fluminense, ele costumava passar dias perambulando por outras comunidades e acabava dormindo na rua. Foi assim até ser pego por uma equipe da prefeitura e levado para um abrigo público. A. é um dos 84 menores de idade recolhidos entre 30 de maio – quando uma espécie de "choque de ordem" começou a vigorar na cidade – e a quinta-feira 4. Chamada tecnicamente de "acolhimento compulsório", essa medida foi determinada pela Justiça, que atendeu a um pedido da promotora Ana Cristina Huth Macedo, do Ministério Público do Estado. Ana Cristina acredita que tirar os dependentes de crack das ruas, mesmo contra a vontade, é a única maneira de tentar salvar a vida deles.

A política carioca é polêmica e tem pautado discussões de grupos que lidam com o público infantojuvenil nas últimas semanas: juristas, médicos, defensores dos direitos humanos. "O administrador público que não fizer nada para proteger crianças e adolescentes que estão nessa situação deve ser considerado negligente", alega a ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. "Visitei um dos abrigos e vi crianças destruídas pelo crack, com as mãos e os pés queimados, em crise de abstinência." Maria do Rosário constatou que o programa tem problemas – como a condução imediata dos recolhidos para a delegacia, mesmo sem flagrante delito, a contratação de profissionais que não são ligados ao Sistema Único de Saúde, a falta de planos individuais de atendimento e, também, de avaliações periódicas para analisar as condições de reintegração familiar dos abrigados. Apesar disso, se forem feitos os devidos ajustes, a ministra afirma que a iniciativa pode se tornar um exemplo positivo. "O crack também é uma forma de prisão", diz Maria do Rosário. "Essas crianças precisam recuperar o direito de viver."

Depois da implantação do recolhimento compulsório no Rio, a Prefeitura de São Paulo começou a estudar a adoção de um programa semelhante na capital paulista e deputados federais passaram a debater o assunto em Brasília. "Mas não adianta só tirar da rua no período agudo da doença", afirma o deputado Osmar Terra (PMDB-RS). "O ideal é que haja uma boa rede de suporte à saúde, que as crianças possam voltar para a escola e, se possível, para a família. Caso contrário, sou a favor de que elas fiquem abrigadas até completarem 18 anos." Terra é autor de um projeto de lei que prevê a internação forçada de crianças e adultos dependentes de drogas. O deputado conta que, em 2007, quando era secretário de Saúde do Rio Grande do Sul, 80% dos internados em hospitais psiquiátricos do Estado por serem dependentes químicos eram viciados em crack e metade dos assassinatos ocorridos em terras gaúchas tinham relação com essa droga.

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ABRIGO
Em dois meses, 84 criançase adolescentes foram internados
compulsoriamente no Rio, como L., 17 anos, usuária de drogas desde os 11

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O crack – uma mistura de pasta básica de coca com substâncias diversas, como bicarbonato de sódio, amônia e água – chegou ao Brasil na década de 90. De lá para cá, o consumo explodiu. De acordo com o Ministério da Saúde, 600 mil brasileiros são viciados na droga. Especialistas menos conservadores calculam que o número chegue a um milhão. O deputado Terra vai mais longe: "A Confederação Nacional dos Municípios está fazendo um levantamento e estima que 1% da população brasileira seja dependente da droga. São quase dois milhões de pessoas." O crack produz efeitos mais avassaladores do que a cocaína. Por ser uma droga barata, se espalhou com rapidez pelo País. "Comecei com maconha, aos 11 anos. Quando cheguei no crack, não consegui mais parar", relata L., 17 anos, internada compulsoriamente no Rio de Janeiro. A adolescente, grávida de oito meses, conta que se prostituía e apanhou muito na rua. Exibe as duas mãos furadas à bala. "Foram os traficantes", lembra. "Me castigaram porque eu roubava na área deles."

Dramas como esse são comuns em várias partes do Brasil. Para o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, coordenador-geral do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo, no entanto, o que se propõe no Rio é uma "medida heroica". Ele garante que, na maior parte dos casos, não é a droga que empurra os usuários para as ruas. É o contrário. É a condição degradante de viver em situação de rua, vulnerável, que faz muitos cidadãos se tornarem dependentes. Embora as autoridades cariocas tenham vendido o projeto que está em curso como um resgate dos viciados em crack, não são apenas os que têm esse perfil que estão sendo recolhidos. Uma porção das crianças e adolescentes foi entregue aos Conselhos Tutelares ou encaminhada para abrigos comuns. "É evidente que se trata de uma política higienista que simplifica o problema", afirma Luís Fernando Vidal, da Associação Juízes para a Democracia. "Precisamos negar o nosso lado perverso, sequestrar e tirar das nossas vistas aquelas pessoas que nos chocam."

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SÃO PAULO
Adolescentes dependentes atendidas em hospital

A juíza Ivone Ferreira Caetano, autora da sentença que determina o acolhimento compulsório, reclama das críticas. "Alguém, por acaso, se manifesta quando um pai que pode pagar uma clínica particular resolve internar seu filho contra a vontade?", pergunta. "Eu nunca vi. Quando o pai não quer ou não pode, o poder público tem que fazer esse papel." Rodrigo Bethlen, secretário da Assistência Social do município e que comanda o programa, faz coro. "Eu, sinceramente, acho que essa gente nunca viu uma cracolândia", diz. "Quero saber que direitos humanos são defendidos nesses lugares." A Prefeitura do Rio de Janeiro, segundo a ministra Maria do Rosário, não está cometendo ilegalidades, já que o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê a adoção de medidas como forma de proteção aos menores de idade. "Não fazer é política de desassistência", afirma o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas. "Um terço dos usuários de crack que têm família morre. Imagine os que não têm! A internação tira a pessoa da situação de risco. Mas, também, se não houver estratégias posteriores para que ela se reabilite socialmente, não adianta. E isso ainda não existe no Brasil."

Favoráveis ou não à internação compulsória, num ponto os médicos concordam: a internação, tanto a voluntária quanto a forçada, é apenas uma das formas de tratamento. "O importante é descobrir, caso a caso, o que funciona para cada paciente. Para alguns, o acompanhamento ambulatorial é o mais adequado. Para outros, o melhor é passar algum tempo num hospital ou numa comunidade terapêutica", afirma o psiquiatra Pedro Daniel Katz, diretor técnico do Serviço de Atenção Integral ao Dependente, único hospital público da cidade de São Paulo voltado exclusivamente a viciados em drogas. Nos últimos dois anos, 70 menores de 18 anos em situação de rua foram internados contra a própria vontade na capital paulista. "A dependência química é uma doença multifatorial e as recaídas são comuns. O sucesso do tratamento depende do tempo de acompanhamento e da reintegração social do paciente", relata Katz. "Estudos mostram que, nos Estados Unidos, quando esse acompanhamento é feito durante dois anos ou mais, o índice de sucesso pode chegar a 65%. O foco apenas na internação, isoladamente, não funciona. É jogar o problema para debaixo do tapete."
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O prédio de um quilômetro

 

É esta a altura do edifício mais alto do mundo, que será construído pela família Bin Laden na Arábia Saudita e impõe vários desafios à engenharia

Paula Rocha

A corrida pelo recorde de prédio mais alto do mundo acaba de ganhar um concorrente de peso. O governo da Arábia Saudita divulgou o projeto de uma torre com mais de mil metros de altura, que será construída na cidade de Jeddah, na costa do Mar Vermelho. Batizado de Kingdom Tower, o edifício de dimensões estratosféricas contará com área total de 530 mil metros quadrados, divididos entre escritórios, um hotel, lojas de luxo e muitos terraços. Para atender as cerca de 25 mil pessoas que circularão pela torre todos os dias, serão instalados 59 elevadores, que percorrerão três andares em apenas um segundo. A obra, programada para começar ainda em 2011, deve durar cinco anos e será realizada pelo Bin Laden Group, construtora do pai do terrorista Osama bin Laden. Seu custo promete ultrapassar US$ 1,2 bilhão, magnitude proporcional ao impacto que a torre causará na cidade. “Uma construção desse porte demanda um gasto de energia gigantesco, além de gerar muitos resíduos” afirma Luiz Henrique Ferreira, engenheiro civil presidente da Inovatech Engenharia. “Espero que a Arábia Saudita invista em contrapartidas sustentáveis para tamanha extravagância.” 

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A china quer conquistar a web


 

Versões paralelas de gigantes da internet - como YouTube, Facebook e Google - não param de crescer e prometem conquistar usuários também no Ocidente

Larissa Veloso e Francisco Alves Filho

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GIGANTESCO
Cyber café lotado de internautas na cidade de Taiyuan.
Navegação no país é censurada pelo governo comunista

Copiar a criatividade alheia é uma das características mais famosas do mercado chinês. Essa vocação para a pirataria, que tornou turbulentas as relações comerciais com o resto do mundo, chega agora de forma bombástica à web. Sem a menor cerimônia, a China lançou sites genéricos dos maiores gigantes da internet, como Google, Facebook, Twitter e YouTube, e as criaturas cresceram tanto que estão competindo com seus modelos originais. O portal de buscas Baidu já é o terceiro maior do planeta e brevemente deverá ultrapassar o segundo colocado, o Yahoo!, com a ajuda de um novo parceiro, ninguém menos que a Microsoft. Em um movimento surpreendente, a empresa de Bill Gates associou-se aos chineses há algumas semanas para fornecer resultados de buscas em inglês. Já a rede social Renren tem um quarto dos usuários do Facebook, o que não deixa de ser uma vitória, e já avança em direção à conquista de usuários ocidentais. E os clones não param de surgir.

Essa modalidade de pirataria digital começou como resposta do governo autoritário à entrada de portais estrangeiros no país: vários deles foram censurados (o Google chegou a se retirar da China por conta disso) e houve incentivo à criação de versões locais. O movimento deu tão certo que deixou de ser uma estratégia de defesa e transformou-se em um plano de ataque para as autoridades de Pequim. “Eles incentivam verdadeiras fábricas de cópias de sites ocidentais e concedem vários benefícios, como isenção de aluguel para as instalações”, explica Silvio Meira, presidente da Sociedade Brasileira de Computação e professor da Universidade Federal de Pernambuco. Os resultados aparecem em forma de crescimento dos lucros e aumento do número de usuários. Altos faturamentos, aliás, são outra marca do mercado daquele país.

Na base do fenômeno chinês na internet está o rompimento das práticas democráticas. Como o governo proíbe ou censura os sites ocidentais, as versões locais têm, então, caminho aberto para conquistar os 480 milhões de internautas do país. “É difícil competir assim, já que, na mão inversa, os portais chineses têm total liberdade para ingressar em outros países”, avalia Meira. Como é difícil vencer esse enorme oponente, algumas das maiores marcas da web começam a se aliar ao adversário. Assim como a Microsoft, o MySpace fez um acordo com o Youku, cópia descarada do YouTube.

Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Computação, das páginas acessadas hoje na internet, pouquíssimas são originárias da China. Em dez anos, acredita ele, esse percentual será de 30% e com potencial para chegar a 50% em 20 anos. “Como todos já podem notar, muito da nova ordem mundial passa pela internet, e o papel dos chineses será cada vez mais importante”, diz Meira. Diante da tradição de práticas contrárias à liberdade de expressão e à privacidade do cidadão, é preciso prestar muita atenção a esse crescimento. Por agora, a melhor providência para os cientistas da computação de todo o mundo que desejam aproveitar esse mercado virtual é aprender mandarim urgentemente.

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Atração fatal pela bola

 

Por que a mistura de juventude, futebol e mulheres costuma ser explosiva, como no caso da namorada de Rafael Silva, jogador da Portuguesa, que morreu após cair do 15º andar de um prédio

Claudia Jordão

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CASAL
Rafael, 20 anos, e Flávia, 16, se conheceram
três anos atrás e moravam juntos desde 2010
Um jovem humilde, de educação precária, sem preparo psicológico. Uma carreira promissora, com salários estratosféricos e assédio constante – da mídia, dos patrocinadores, da família e, especialmente, das mulheres. A combinação explosiva, tão comum na biografia dos jogadores de futebol brasileiros, rendeu novamente uma manchete policial na semana passada. No domingo 31, Flávia Anay de Lima, 16 anos, mulher do jogador da Portuguesa Rafael Silva, 20, caiu do 15º andar do prédio onde moravam na Vila Carrão, em São Paulo. Em depoimento, Rafael alegou que, após discutirem, por causa de uma crise de ciúme dela, a jovem cometeu suicídio. A família de Flávia, no entanto, alega que o jogador bebia e era agressivo e defende a hipótese de homicídio. No apartamento, a polícia encontrou sangue, garrafas de bebida e objetos quebrados. A discussão teria se iniciado num bar e continuado no apartamento. Um vizinho disse que praticamente só escutava a voz de Flávia.

São incontáveis os episódios envolvendo jogadores que vão parar na Justiça ou na polícia. Em maior grau (do goleiro Bruno, acusado de ter assassinado a ex-namorada Eliza Samudio) ou em menor grau (do Alexandre Pato, que briga com a ex-mulher por causa de pensão alimentícia), costuma ser fatal a atração que a bola exerce. Para esses rapazes, em geral muito novos e imaturos, o futebol representa a perspectiva de ascensão social meteórica. Para as moças, vira a oportunidade de ter contato com um mundo de glamour, viagens e muito dinheiro. “Ao mesmo tempo que a estratégia de sobrevivência desses jovens é de se tornar um craque da bola, a estratégia de sobrevivência de suas namoradas é de se casar, ter filhos e obter uma boa pensão”, diz o psicanalista e sociólogo Antonio Flávio Testa, da Universidade de Brasília. Segundo ele, essa relação de interesse, na maioria das vezes regada a ciúme doentil, favorece os desfechos conturbados – e tragédias.

Rafael e Flávia se conheceram há três anos em uma praia no litoral paulista, onde ela morava com os pais, o empreiteiro Francisco Carlos Silva e a dona de casa Laura Adriana de Lima. Tiveram um breve romance e se afastaram. Há pouco mais de um ano, se reencontraram na internet e resolveram namorar. Flávia se mudou, então, para São Paulo para morar com Rafael. Na Portuguesa desde os 11 anos, ele ainda era amador e não ganhava o suficiente para manter uma casa. Por isso se mudaram para a casa dos avós de Flávia, onde viveram juntos por seis meses. Rafael virou titular do clube em fevereiro deste ano, quando passou a receber um salário de cerca de R$ 4 mil. Foi aí que alugaram o apartamento na Vila Carrão.
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EXPLICAÇÕES
Rafael depôs na polícia na segunda-feira 1o
Desde o início das investigações, a personalidade de Rafael vem sendo esmiuçada. É descrito pelos colegas de clube como um rapaz tranquilo. Durante toda a sua carreira de jogador, nunca teria levado um cartão vermelho. A família de Flávia, porém, diz que o casal costumava resolver as diferenças fisicamente. “Ela sempre aparecia em casa com alguma mancha”, disse o pai de Flávia, Francisco Silva. No início, a relação de Flávia com o jogador foi incentivada pelos pais dela, que chegaram a comprar móveis para o casal. “Quando começou tudo isso, eles queriam casar de imediato, combinaram de fugir juntos”, disse Francisco. “Ela era uma criança que quis crescer antes do tempo.” No dia 16 de julho, no entanto, durante uma briga do casal, Flávia ligou para a mãe, que chamou a polícia. A jovem e o jogador foram conduzidos para o 10º Distrito Policial, mas Flávia preferiu não registrar boletim de ocorrência. A mãe conta que quis levar a filha embora, mas não conseguiu separar o casal.

Segundo o advogado de Rafael, Giuseppe Cláudio Fagotti, Flávia era ciumenta e tinha crises cada vez mais constantes. “Rafael me contou que Flávia trabalhava como manicure e se irritava sempre que uma cliente aparecia em seu apartamento quando ele estava em casa”, diz Giuseppe. Segundo o advogado, Flávia teria cometido suicídio quando viu o namorado fazer as malas para deixá-la. “Ela entrou em desespero e tentou se jogar da janela do quarto, mas ele conseguiu impedi-la”, diz Giuseppe. “Então ela foi para a sala e ele não conseguiu impedi-la.” Espera-se que a polícia possa esclarecer o que de fato ocorreu naquela noite.
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Bovespa tem pior dia desde 2008 e maior queda entre bolsas

 

Na semana passada, o índice da bolsa brasileira teve queda acumulada de cerca de 10%.

Do Portal Terra

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O rebaixamento inédito da nota de crédito dos Estados Unidos anunciado na sexta-feira pela agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) repercutia no começo desta semana nas bolsas de valores de todo o mundo. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teve o pior resultado entre as principais bolsas, e chegou a desabar até 9,74% na mínima do dia, atingindo 47.793 pontos, com o temor de que as economias globais estejam entrando em nova recessão. O principal índice das ações brasileiras, Ibovespa, fechou o pregão em queda de 8,08%, a 48.688 pontos.


Com a preocupação, investidores do mercado de renda variável ampliam as vendas de ações, o que provoca a redução de seus valores, e consequentemente, menor pontuação dos principais índices que medem o desempenho dos papéis.


Nos EUA, o índice Dow Jones, referência da bolsa de Nova York, fechou em queda de 5,5%, pouco após o presidente Barack Obama afirmar em um pronunciamento oficial que o país não precisa de uma agência de classificação para dizer que necessita de uma abordagem de longo prazo equilibrada para conseguir reduzir o déficit americano. Os índices Nasdaq, de tecnologia, e S&P 500, terminaram o pregão em queda de 6,9% e 6,6%, respectivamente.


Na Europa, o índice FTSEurofirst 300 caiu 3,4% no pregão desta segunda-feira, para o menor nível em quase dois anos. O indicador já acumula baixa de 16% desde o início de 2011. Na Ásia, o índice MSCI tombou 3,23%. O MSCI não leva em conta o mercado acionário japonês, no qual o índice Nikkei, de Tóquio, fechou o dia em queda de 2,18%.


Na sexta-feira (5), os Estados Unidos tiveram sua nota de dívida rebaixada pela primeira vez na história, pela agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P). O país sustentava a nota máxima, "AAA", e passou a ser classificada como "AA+" após a agência ter considerado insuficiente o acordo feito no Congresso americano para solucionar a saúde financeira dos EUA.


No dia 2 de agosto, data limite para a definição de um acordo parlamentar para elevar o limite de endividamento do país e evitar a suspensão do pagamento da dívida, o presidente Barack Obama sancionou uma lei designada a reduzir o déficit fiscal em US$ 2,1 trilhões ao longo de 10 anos, bem abaixo do montante de US$ 4 trilhões considerado pela S&P como uma boa "entrada" para arrumar as finanças.


Segundo a S&P, ainda há possibilidade de a nota sofrer um novo corte em até 18 meses. As outras duas principais agências de classificação, Fitch e a Moody's, mantiveram a nota máxima para o país. A título de comparação, o Brasil possui atualmente pela S&P nota "BBB-", o chamado "grau de investimento".


Além da dívida americana, a situação na Europa também preocupava os investidores. O Banco Central Europeu (BCE) comprava bônus soberanos da Itália e da Espanha para reduzir os juros cobrados pelo mercado a esses países, considerados insustentáveis.


É o primeiro pregão após o histórico rebaixamento da nota da dívida dos Estados Unidos pela agência de classificação de risco Standard & Poor's. Embora a Fitch e a Moody's tenham mantido a nota máxima para o país, a notícia resumiu o temor dos investidores com a dívida americana no longo prazo. Os principais índices das bolsas do país caíam cerca de 3%.

Saiba mais


O mercado acompanha de perto o desempenho do Ibovespa porque este é o mais importante indicador do desempenho médio das cotações do mercado de ações brasileiro. O índice retrata o comportamento dos principais papéis negociados na bolsa. A pontuação do Ibovespa aumenta na medida em que sobe o valor das ações.

O polêmico homem-chave da Copa

 

Como o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, responsável pelo Arena Itaquerão, construiu uma vertiginosa trajetória de sucesso no futebol brasileiro, ancorado por amizades poderosas, enquanto progredia como dono de negócios nebulosos

Flávio Costa


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ESTILO
Esse é Andrés Sanchez: “Sou amigo do Ricardo Teixeira.
Sou amigo da Globo, apesar de ela ser gângster”
O dia 12 de junho de 2014 é a data. Mais de 60 mil pessoas saudarão a entrada da Seleção Brasileira de futebol no campo em que se disputará o jogo de abertura da Copa do Mundo do Brasil. Não importa o adversário ou o resultado. De algum ponto das tribunas de um estádio recém-inaugurado no distante bairro de Itaquera, na zona leste de São Paulo, um homem celebrará uma grande vitória. Andrés Navarro Sanchez provavelmente deixará escapar um palavrão em meio a frases efusivas. E não fará concessões aos que duvidaram dele. Faltam pouco menos de três anos para esse momento de glória. Mas quem conhece Sanchez pode imaginar a cena desde já. Nas próximas semanas a Fifa deve confirmar o Itaquerão como sede da partida inaugural do evento. E então o atual presidente do Corinthians terá marcado mais um gol surpreendente em uma das trajetórias mais impressionantes e improváveis da cartolagem brasileira. Em apenas 17 anos, Sanchez passou de chefe de torcida organizada a homem-chave nas decisões que envolvem o Mundial de 2014.

No comando do segundo clube mais popular do País, com seu jeito direto e falastrão, em pouco tempo conseguiu dinamitar a musculatura política do Clube dos 13, instituição que reúne as principais equipes brasileiras, ao decidir negociar sem intermediários os direitos de transmissão dos jogos de seu time pelas tevês. É um dos nomes mais cotados para substituir Ricardo Teixeira na presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Tem uma constelação de amigos poderosos, encabeçada por nomes como o ex-jogador Ronaldo Fenômeno e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Aos 47 anos, coleciona admiradores e desafetos na mesma proporção em que fortalece seu clube e se envolve em transações comerciais nebulosas.

A gestão Sanchez no Corinthians tem o carimbo da ousadia. A maior até o momento foi a contratação de Ronaldo Fenômeno, em 2009, fundamental para o clube aumentar sobremaneira sua receita. Hoje, o time do Parque São Jorge é o que mais fatura com patrocínio e publicidade no Brasil – R$ 47 milhões só no ano passado. A construção do Itaquerão, por sua vez, retrata como tem sido profícua sua proximidade com a CBF. O antigo sonho corintiano foi viabilizado com a reprovação, por parte do comitê organizador da Copa, comandado por Ricardo Teixeira, do favorito Estádio do Morumbi, do rival São Paulo, forçando a maior cidade do País a buscar uma alternativa, ainda que mais cara, para não ficar de fora do evento. A partir daí, Sanchez mobilizou toda a sua rede de contatos políticos até encontrar uma fórmula que permitisse bancar a construção de um estádio novo para o clube. Foi uma costura difícil, cercada de interesses milionários. Não por acaso, Sanchez chorou copiosamente no dia 20 de julho, na cerimônia em que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito Gilberto Kassab assinaram, no terreno do futuro estádio, os contratos que davam sinal verde para o empreendimento.
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MARCO
Sanchez ao lado de Alckmin e de Kassab na abertura das obras do Itaquerão
Dos R$ 820 milhões garantidos para a obra, R$ 420 milhões são de incentivos fiscais aprovados pela Câmara de Vereadores e R$ 400 milhões serão financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). Especialistas apontam que a conta final da obra, realizada pela Odebrecht, deve bater R$ 1 bilhão. Críticos da empreitada alegam ser um absurdo construir um estádio com dinheiro do governo. “O Corinthians não recebe dinheiro público”, rebate Sanchez. “A prefeitura abriu mão de parte do que recebeu para ter a abertura do evento.”

Ao mesmo tempo que imprime uma imagem de dirigente vencedor, Sanchez também gosta de lembrar sua origem humilde, de descendente de espanhóis que atravessou a adolescência trabalhando como feirante. Esse é o capítulo de sua biografia que ele lança aos holofotes. Há outros bem menos luminosos. Sob sigilo, por exemplo, correria na Polícia Federal uma investigação contra ele pelos crimes de lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. Duas pessoas ligadas ao Corinthians confirmaram à ISTOÉ que estão arroladas como testemunhas nesse inquérito. ISTOÉ apurou ainda que pelo menos 40 pessoas deverão ser ouvidas a partir deste mês. Sanchez já teve o seu sigilo telefônico quebrado, desde outubro do ano passado. Um pedido de prisão teria sido negado há dois meses pela Justiça Federal, que requereu mais provas. “Não sei da existência dessa investigação”, declarou Sanchez.
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IDENTIDADE
Em um prédio em Moema, deveria estar a Biosfera Promoções
e Eventos Ltda., mas funciona um escritório de advocacia

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No site oficial do clube, o presidente da agremiação é classificado como um “próspero empresário”. De fato, Sanchez leva uma vida confortável. Divorciado e pai de um casal de jovens de 19 e 18 anos, mora sozinho há 12 anos num apartamento de 198 metros quadrados no Alto da Lapa, bairro de classe média alta de São Paulo. E é dono de um posto de gasolina na capital, o único negócio regular registrado em seu nome, o que garantiria o “próspero” em sua nota biográfica oficial. Em consulta a juntas comerciais de São Paulo, a reportagem de ISTOÉ localizou pelo menos outras sete empresas registradas em nome do dirigente. Depois, visitou quatro endereços paulistanos onde estariam sediadas sete firmas em nome de Sanchez e seus familiares.

A Sol Brasil Promoções e Eventos Ltda. deveria ser encontrada na mesma rua do bairro de Vila Olímpia onde está localizada a Santa Aldeia, casa noturna frequentada por pessoas ligadas ao futebol. “A empresa não está mais aqui desde o início do ano”, atestou um funcionário do edifício. Em um prédio comercial na avenida Ibirapuera, em Moema, deveria estar a Biosfera Promoções e Eventos Ltda., mas funciona um escritório de advocacia. “Essa empresa nunca esteve sediada aqui”, afirmou uma das recepcionistas. Quem trabalha no número 143 da rua Alvarenga Peixoto, na cidade de Caieiras, região metropolitana de São Paulo, também nunca ouviu falar na Usina de Negócios Comércio de Encartes e Eventos Culturais Ltda. E no centro comercial de Alphaville não há representante da ASN Participações. Uma funcionária do escritório de advocacia que fica no local afirma que o lugar serve apenas para receber correspondência. Essa última empresa e outras duas estão bloqueadas parcialmente por ordem da Delegacia da Receita Federal em Jundiaí, desde maio de 2009. Questionado por ISTOÉ, Sanchez limitou-se a dizer que seus negócios particulares não têm relação com o Corinthians. “Mas desconheço a empresa Biosfera, e a Sol Brasil Promoções e Eventos está inativa há seis meses e sendo transferida pelo meu contador”, afirmou.

Também paira sobre o atual presidente a acusação de cobrar propina de empresários em venda de jogadores. O sócio do clube Rolando Wohlers fez uma denúncia formal ao Conselho Deliberativo na qual afirma que Sanchez, por meio de auxiliares, pediu uma taxa de R$ 300 mil a um agente, metade a que ele teria direito, na venda de um jogador corintiano. “Não é à toa que o presidente é conhecido como Taxinha no meio do futebol”, acusa Wohlers. O conselheiro Alexandre Husne afirma não ter visto nenhuma irregularidade contábil nessa negociação. Outra transação polêmica foi a transferência do volante Jucilei para o Anzhi Makhachkala, da Rússia, neste ano. O atleta pertenceria metade ao Corinthians, metade ao Corinthians Paranaense. Após a venda do jogador por 10 milhões de euros, descobriu-se que o time paulista tinha apenas 15% do valor do passe – os outros 35% que lhe eram de direito haviam sido repassados a um empresário de Jundiaí (SP). “O clube perdeu o dinheiro”, diz o administrador de empresas Marcos Caldeirinha, integrante do Conselho Deliberativo, que pediu explicação oficial à direção. A reportagem ouviu ainda empresários de jogadores que afirmaram ter deixado de negociar atletas com o clube após a chegada de Sanchez à presidência. O dirigente diz que as acusações são mentirosas. “Todas as contratações são feitas com o aval do departamento jurídico e analisadas pelo órgão de controle”, afirma.
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AUSÊNCIA
A Usina de Negócios está registrada na cidade
de Caieiras. Mas nunca esteve sediada lá
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Fundador de uma das maiores torcidas organizadas do Corinthians, a Pavilhão 9, em 1990, Sanchez trabalhou como coordenador nas divisões de base do clube por muitos anos, graças a sua proximidade com Alberto Dualib, que presidiu o clube de 1993 a 2007. Sua ascensão começou em 2004, com o início da parceria entre a MSI, do milionário russo Boris Abramovich Berezovsky, e o time do Parque São Jorge. Ele se aproximou do representante da MSI no Brasil, o iraniano Kia Joorabchian, um apreciador da noite, assim como Sanchez. Por indicação de Joorabchian, foi nomeado diretor de futebol, o segundo cargo mais importante do clube. E o time, que tinha como estrela o argentino Tévez, ganhou o Brasileirão de 2005.

A parceria MSI/Corinthians trouxe vários jogadores de renome. E problemas de igual envergadura. Primeiro, Joorabchian e Dualib começaram a travar uma disputa renhida pelo poder no Corinthians. Segundo, a Polícia Federal descobriu que a parceria funcionava como um véu para um esquema de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. O escândalo tragou toda a diretoria do clube, menos Sanchez, que, em um lance planejado com Joorabchian, havia pulado para o barco da oposição, com um discurso de renovação e transparência. Em depoimento à Polícia Federal durante a investigação, Sanchez admitiu que os atletas contratados pela MSI acertavam contratos fora do Brasil. Escutas telefônicas mostraram que ele combinou o conteúdo do depoimento com o próprio Dualib. Até hoje pairam dúvidas sobre o seu não indiciamento. Procurado por ISTOÉ, o deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), encarregado da investigação à época, não quis se pronunciar. Dualib foi condenado em primeira instância, em outro processo por estelionato, e afastado da presidência.

Sanchez venceu as eleições para presidente em 2007. Mas para isso fez um acordo, na reta final de campanha, com o próprio Dualib. “Todo mundo sabe que foi graças aos votos controlados por Dualib que ele conseguiu vencer o Paulo Garcia (empresário que deve disputar novamente o cargo)”, afirma o advogado Rubens Gomes, conselheiro do clube. Na noite da vitória, Sanchez teria ligado para o amigo iraniano: “Kia! Ganhamos, c...” “Quem manda no Corinthians ainda é o Kia”, afirma o blogueiro Paulo César Prado, que acusa o dirigente de tê-lo grampeado e com quem trava batalhas judiciais. Sua página tem 30 mil visitas diárias e reúne denúncias contra a atual administração. Entre elas a de que o Corinthians pegou dinheiro emprestado da empresa Salamandra Investimentos, cujo representante é Wagner Martins Ramos, sócio de Andrés Sanchez em outras empresas. A Salamandra é propriedade última da Newbut Investiments, sediada no Uruguai.
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Se a relação com o iraniano Joorabchian cacifou a ascensão de Sanchez no Corinthians, a proximidade com Ricardo Teixeira o alçou à categoria de protagonista do futebol nacional. O namoro começou em abril de 2010, quando o corintiano apoiou a candidatura derrotada de Kleber Leite, aliado de Teixeira e ex-presidente do Flamengo, na disputa pela presidência do Clube dos 13. Ganhou Fábio Koff, ex-presidente do Grêmio (RS), mas Sanchez foi recompensado com o cargo de chefe da delegação brasileira na Copa do Mundo da África do Sul. E no início deste ano foi o principal artífice do desmoronamento da entidade. Alegando não concordar com a maneira como Koff conduzia as negociações dos direitos de transmissão das próximas temporadas, ele desfiliou o Corinthians. Um a um, os clubes decidiram negociar individualmente com a Rede Globo. A parte que coube ao Corinthians foi da ordem de R$ 114 milhões “Sanchez jogou limpo”, diz Alexandre Kalil, presidente do Atlético Mineiro. “De todos os presidentes de clubes que tiveram postura contrária à minha, ele foi o mais correto.”

Sobre sua proximidade com a CBF e a Globo, Sanchez não se faz de rogado. “Sou amigo do Ricardo Teixeira mesmo, sou amigo da Globo, apesar de ela ser gângster”, chegou a dizer. Esta é uma declaração típica do dirigente, boquirroto por natureza. Em um jantar de arrecadação para a campanha de Protógenes a deputado federal, no ano passado, Sanchez comentou dessa maneira uma vitória do seu time sobre o São Paulo: “O Corinthians vai ser condenado pela Lei Maria da Penha. Batemos nas meninas ontem.” O vocabulário rústico, adornado por modos pouco apurados, parece fazer parte do marketing pessoal dele, que gosta de lembrar que não fez faculdade, estudou apenas até o ensino médio e sofre preconceito por isso. Com o esvaziamento do Clube dos 13, já se fala numa nova agremiação, a Liga dos Clubes, subordinada à CBF, que teria Sanchez no comando. Mas ele diz que não é candidato a nada. Nem à Liga, nem à reeleição no Corinthians, nem à presidência da CBF. “Em dezembro, saio do Corinthians e vou para a minha casa”, garante.


O que está por traz do código de ética divulgado pelas organizações globo?

O que diz o Observatório?




por Luciano Martins Costa

A novidade do final de semana na imprensa brasileira é a declaração de princípios das Organizações Globo, publicada em todos os seus veículos no domingo, disponível na internet e destaque no jornal O Globo e na revista Época.
Não é a primeira manifestação desse tipo da empresa que domina o mercado brasileiro de comunicação.
Em 1989, quando se envolveu em controvérsias sobre manipulação de informações durante a campanha eleitoral para presidente da República, a empresa divulgou um credo jornalístico que a prática acabava de desmentir, ao forçar o noticiário em favor de um dos candidatos.
Depois, em 1997, o grupo empresarial divulgou um documento intitulado “Visão, Princípios e Valores”, no qual declara que deseja, permanentemente, “ser o ambiente onde todos se encontram. Entendemos mídia como instrumento de uma organização social que viabilize a felicidade”, diz a carta básica da empresa.
Esses pontos fundamentais de suas convicções são repetidos a cada ano, em seus relatórios de atividades.
Mas boas intenções não impedem controvérsias.
Em 2005, teve grande repercussão uma declaração de William Bonner, apresentador do Jornal Nacional. Bonner dissse, e sustentou, que para a TV Globo, o telespectador típico do Jornal Nacional é como o personagem de desenho animado Homer Simpson, porque teria dificuldade de “entender notícias complexas”.
Aparentemente, não há na divulgação da declaração de princípios deste final de semana qualquer contexto especial. O Brasil não se encontra envolvido em campanha eleitoral, não ocorrem grandes questionamentos sobre a imprensa e o Grupo Globo não se encontra sob os holofotes da atenção pública, como aconteceu em 2002, quando a empresa foi socorrida por um multimilionário empréstimo do BNDES.
O pano de fundo mais evidente para esse acontecimento é uma reacomodação do Grupo Globo e de outras empresas de mídia ao ambiente político nacional.
E o cenário político pode ser afetado pelo ambiente econômico, valendo lembrar que foram retomadas recentemente as negociações para um programa de crédito do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico eSocial – para as empresas de mídia.
As dívidas do setor eram avaliadas, no ano passado, em cerca de R$ 10 bilhões, dos quais 60% são atribuídos às Organizações Globo.
O tema volta eventuamente à pauta e chegou a gerar um plano de socorro oficial durante o governo Lula, que foi batizado pela imprensa como Promídia.
Bandeira branca
O Forum Nacional para a Democratização da Mídia tem monitorado os movimentos de executivos de empresas do setor e já definiu posição contra qualquer programa de socorro que desconsidere o desafio da concentração da propriedade da mídia.
Além disso, exige transparência no processo e garantia de contrapartidas por parte das empresas.
Dentro das próprias organizações que representam empresas de comunicação há divergências quanto ao papel do BNDES – a Rede Record, por exemplo, entende que os recursos do banco oficial de fomento só devem ser destinados a investimento, não ao saneamento de dívidas.
Atualmente, o projeto que cria uma linha de financiamento para socorro de empresas de mídia se encontra na Comissão de Educação do Senado.
Evidentemente, o movimento das Organizações Globo, ao destinar três páginas de seu principal diário e sete páginas de sua revista semanal a uma declaração de princípios, não precisa ser necessariamente vinculado a possíveis dificuldades financeiras.
Pode ser apenas isso: um desejo irrefreável de garantir à sociedade brasileira que a Globo é do bem, que se pode esperar de seus veículos que se comportarão sempre como instrumentos “de uma organização social que viabilize a felicidade”.
O documento garante que “as Organizações Globo serão sempre independentes, apartidárias, laicas e praticarão um jornalismo que busque a isenção, a correção e a agilidade (…)”.
Mas não há também como resistir à hipótese de que, tendo exercido, nos últimos oito anos, uma oposição ferrenha e eventualmente alucinada ao governo do ex-presidente Lula da Silva, a empresa que controla a maior emissora brasileira de televisão esteja buscando novo posicionamento político.
Os analistas da empresa devem ter concluido que a atual presidente, Dilma Rousseff, não encarna um projeto pessoal de longo prazo no poder.
Ao prometer um jornalismo isento na medida do possível, mas vigilante, a Globo acena com uma trégua. Pelo menos até as próximas eleições.