domingo, 21 de agosto de 2011

O Brasil segundo Raul


O Brasil segundo Raul
 
Foto: Divulgação

 

Vinte e dois anos após sua morte, também em um domingo de 1989, o músico baiano se mantém como mito de uma época; seu repertório é uma crônica viva e irreverente da história do País


21 do 08 de 2011 às 15:05
Jaciara Santos_Bahia247 - Esqueça os quase quatro milhões de resultados que o Google lhe dá se você pergunta quem foi Raul Seixas. Dê uma de maluco beleza e mergulhe nas músicas do multifacetado artista, ora moleque maravilhoso, ora carimbador maluco, uma eterna metamorfose ambulante. Ficar no batido e rebatido bla bla bla de que o baiano Raul Santos Seixas (1945-1989), o Raulzito, foi um famoso cantor e compositor brasileiro é muito pouco. Vamos fazer diferente: que tal pegar uma carona numa nave espacial e pedir com jeitinho, "ô ô, seu moço/ do disco voador/ me leve com você/pra onde você for..."?

Ah, como era abusado, o Raul! Senão, o que dizer de um autor que, em plena vigência dos anos de chumbo, escarnecia da ditadura? Sabe como? Simplesmente conclamando seus seguidores (ícones como Raulzito não têm fãs, agregam fiéis) a viver a plenitude de uma sociedade alternativa em que valia como lei a mais absoluta liberdade. Algo como tomar banho de chapéu, discutir Carlos Gardel e esperar Papai Noel... Quer dizer, enquanto o país era amordaçado pela ditadura, nosso inquieto poeta pregava os ensinamentos do filósofo inglês Aleister Crowley (1875-1947) resumidos na obra "Livro da Lei" e na doutrina batizada de Thelema, palavra grega que significa vontade: "Faz o que quiseres que tudo deve ser da lei. Todo homem é um indivíduo único e tem direito a viver como quiser", pregava Crowley.

Como diz o jornalista e escritor Celso Lungaretti, no artigo Reflexões sobre Raulzito e a Sociedade Alternativa, publicado no blog Raul Santos Seixas (raulsantosseixas.multiply.com), houve uma tentativa da esquerda conservadora de tentar reduzir a obra de Raul a uma mera manifestação anarquista. "Mas ele era um homem sintonizado com o neoanarquismo que esteve em evidência na Europa e EUA na virada dos anos 60 para os 70. E só não dizia isso de forma mais explícita em suas canções porque o Brasil era um estado policial, submetido a uma censura rígida, embora burra", dispara o intelectual, que é autor do livro "Náufrago da Utopia" (Geração Editorial, 2005) e fez parte do círculo de amigos do artista.

Quando os tabus falam mais alto

Hummmm... mas, passeando pela obra de Raul, dá pra ver que, mesmo pregando a liberdade, havia momentos em que os tabus falavam mais alto. Como quando retrata em "Paranóia" o conflito do adolescente, que, com os hormônios em ebulição, se tranca no banheiro para fazer você sabe o quê: "Vacilava sempre a ficar nu lá no chuveiro, com vergonha/Com vergonha de saber que tinha alguém ali comigo/Vendo fazer tudo que se faz dentro dum banheiro".

Já se disse tudo sobre Raul. Inclusive sobre a relação de amor e ódio dele com o escritor Paulo Coelho, seu parceiro em várias composições, como a antológica Sociedade Alternativa, a mística Gita e a instigante Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás, dentre outras. Como demonstram registros históricos, não era apenas a música o elo que os ligava, mas o sonho de construir a chamada sociedade alternativa, com base na experiência adquirida nas irmandades de que já haviam participado: Raul, na Grã Ordem Kavernista; Paulo na Argentum Astrum, AA, organização que tinha como base os ensinamentos do bruxo Crowley.

Para a veterana roqueira Rita Lee, a imagem mística que Raul assumiu nessa época não era de fundo religioso. "Me parece que depois que Paulo Coelho entrou na vida de Raul como parceiro de trabalho e de aventuras no mundo da magia, Raul praticamente neutralizou seu jeito Presley de ser e mudou, feliz, para o papel de Profeta Apocalíptico. O fã radical de Elvis ingeriu uma overdose de misticismo e se transformou num guru", diz em entrevista ao site Casa do Bruxo.

Dançando por entre as estrelas

Há quem diga que Raul foi um suicida, mesmo que tenha passado ao mundo a ideia de ser um lutador. Relembre os versos de Tente Outra Vez: "Basta ser sincero/E desejar profundo/Você será capaz/De sacudir o mundo/Vai! Tente outra vez!". Mas, apesar desse discurso que daria o mote para um best-seller de autoajuda, no final do caminho, ele parece ter jogado a toalha. Alcoólatra, diabético, acabou por desenvolver uma pancreatite aguda, inflamação do pâncreas, glândula localizada atrás do estômago e que tem como principais funções auxiliar a digestão e controlar os níveis de açúcar no sangue. Já havia nove anos que ele vivia sem dois terços da glândula. Proibido de ingerir bebida alcoólica, desrespeitava solenemente as recomendações médicas: seu café da manhã era um copo de vodca com suco de laranja e, durante o dia, se encharcava de éter.

Naquele 21 de agosto de 1989, aos 49 anos, Raul sofreu uma parada cardíaca fatal. Morreu sozinho, num apartamento do Flat Service Residence Aliança, situado na zona central de São Paulo. Mas quem disse que Raul morreu? Como Elvis, Michael e Amy, há quem jure que ele continua por aí como um anjo de cara safada ou dançando por entre as estrelas...

Erro no caso Gianecchini abre crise no Sírio-Libanês

 


Foto: DIVULGAÇÃO

COLOCAÇÃO MAL FEITA DE UM CATETER CAUSOU SANGRAMENTO E ADIOU A QUIMIOTERAPIA; ASSUNTO É TABU NO HOSPITAL MAIS CARO DO PAÍS; RAUL CUTAIT (ESQ.), QUE CHEFIAVA A EQUIPE, NÃO ESTÁ MAIS NO COMANDO; INFECTOLOGISTA DAVID UIP (DIR.) ASSUMIU O CASO

21 de Agosto de 2011 às 14:45
247 – Um possível erro médico no tratamento do ator Reynaldo Gianecchini abriu uma crise no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, tido como um dos mais avançados do Brasil, onde se tratam autoridades de todo o País, como a própria presidente Dilma Rousseff.
Gianecchini já deveria estar sendo submetido ao tratamento de quimioterapia, mas ele foi adiado em função de um sangramento ocorrido durante a colocação de um cateter. “Na noite de anteontem (17/8), durante a passagem de cateter central, o paciente apresentou sangramento que foi prontamente tratado com as medidas necessárias”, diz boletim emitido pelo hospital Sírio Libanês, em São Paulo, onde Gianecchini está internado. O hospital não divulga quando começa o tratamento.
De acordo com a apuração do 247, o erro na colocação do cateter causou uma perfuração no pulmão do ator, que sofreu sérias consequências na UTI do hospital, tendo corrido, inclusive, risco de vida. O erro teria gerado também atritos entre a equipe médica do hospital. O médico Raul Cutait Filho, que chefiava o time, não está mais no comando do tratamento.
A família do ator está transtornada. A situação também chegou à jornalista Marília Gabriela, ex-mulher de Gianecchini, que pediu providências e está ajudando a família a apurar o caso. Os familiares exigem uma investigação do hospital.
Na nova fase do tratamento, o ator está aos cuidados do infectologista David Uip. Ouvido pelo 247, o médico Uip diz que desconhece qualquer crise que envolva a direção do hospital ou outros colegas e afirma ainda que todas as informações são prestadas pelos boletins médicos. “Esse é o meu acordo com a família do ator Gianecchini”, diz ele. Uip também diz que apenas conduz uma das três equipes que cuidam do tratamento do ator.

Esperneios de um nojento


O Ocorrupto daqui - o notório, o notável, o que tem orgulho de roubar o Pará - ingressou em nova fase de esperneio.
Esperneando, o corrupto daqui, aquele ladravaz que barbalhiza o erário há mais de 25 anos, revela-se por inteiro.
Aliás, é dele mesmo - e concedamo-lhe o benefício da dúvida, imaginando que ele não roubou de ninguém - esta máxima: “A política não dá nem tira o caráter de ninguém. Obrigatoriamente revela”.
É verdade. O corrupto daqui, sempre empavonado, sempre orgulhoso de roubar o Pará, tem-se revelado, em seus esperneios, o despeitado, o debochado, o cínico, o mentiroso de sempre.

Por quê? Porque O LIBERAL tem relembrado, nos últimos dias, os trechos mais marcantes de ação penal a que ele responde, sob a acusação de ter metido as mãos nos cofres da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), para de lá afanar mais de R$ 130 milhões.
Para refrescar a memória desse meliante, fundador da Rede de Corrupção da Amazônia (RCA) - formada por um pasquim, uma rádio e uma televisão -, este jornal tem lembrado que, na denúncia oferecida à Justiça Federal, ele próprio foi apontado como líder de quadrilha montada para dilapidar os cofres públicos.
A denúncia tem um trecho assim, sem tirar nem pôr: “Jader Fontenelle Barbalho, líder da organização criminosa, estabeleceu um sistema de controle da direção da Sudam, com a finalidade de deixar fluir os recursos do Finam para seus comparsas de forma fraudulenta, depois tornar estes recursos ‘limpos’ , dando-lhes circulação econômica regular meramente aparente e inexistente.”
Esse trecho lapidar está na ação do Ministério Público Federal. Quem a escreveu? Quatro procuradores da República, um deles Pedro Taques, hoje senador (PDT-MT).
Eis aqui outra razão do agastamento, dos esperneios do corrupto: ele não suporta ouvir falar no senador e ex-procurador Pedro Taques, que o chamou de “líder de organização criminosa”.
O corrupto não deve ter gostado de saber que Taques, na sessão da última segunda-feira do Senado, disse o seguinte, refererindo-se aos corruptos e à corrupção, ao manifestar integral apoio à presidente Dilma Rousseff, na faxina que vem promovendo: “Senhora presidente da República, eu aqui votei de acordo com a minha consciência, mas estou do seu lado nessa faxina. Faxina se faz com o lixo, e quem rouba o dinheiro público é lixo. Não podemos ter medo das palavras. Quem rouba o dinheiro público é nojento - daí, hediondo -, porque o dinheiro público roubado causa vítimas que são indeterminadas. A corrupção mata! A corrupção rouba o futuro de crianças”.
É examente isso. Taques foi no âmago. Foi diretamente no calo dos corruptos, inclusive no daqui.
Ninguém duvida que um corrupto como o daqui, que tem orgulho de roubar o Pará há quase três décadas, rouba o futuro de crianças, quando afana recursos que poderiam ser utilizados na promoção de políticas para a infância.
Um corrupto como o daqui é nojento porque produz nojeiras. Sua cara é nojenta, seus discusos são nojentos, seus hábitos são nojentos, tudo nele dá nojo.
Um corrupto como o daqui, que já foi preso sob algemas e levado para uma delegacia da Polícia Federal no Estado do Tocantins, é um nojento cruel, porque os crimes que perpetra, sugando o dinheiro do erário para enfiar em seus próprios bolsos, impedem a aplicação de recursos públicos em melhorias na saúde, na educação, no saneamento básico.
O corrupto daqui é nojento porque nem se dá conta de que é corrupto. Mas os paraenses sabem que ele é. Sabem que ele rouba, que é debochado, que ele elegeu os mais sórdidos, os mais baixos, os mais vis princípios como sustentáculos de sua trajetória política.
Mas deixem que o corrupto que tem orgulho de roubar o Pará esperneie. Esperneando, ele se revela."

Como as mulheres chegam ao orgasmo

Um grupo de pesquisadores descobriu o que acontece com o cérebro feminino durante o prazer
HUMBERTO MAIA JUNIOR
Anthony Marsland/Stone/Getty Images
O psicólogo americano Barry Komisaruk, contrariando Sigmund Freud, conseguiu entender o que se passa na cabeça das mulheres – pelo menos no momento do orgasmo. O pesquisador da Universidade Rutgers recrutou 11 mulheres – bastante desinibidas, diga-se de passagem – para que elas se estimulassem sexualmente (uma de cada vez) dentro de um aparelho de ressonância magnética.

Komisaruk e sua equipe registraram quais áreas do cérebro eram ativadas quando as mulheres tocavam a vagina, o clitóris e o colo do útero, com os dedos ou brinquedos sexuais. As voluntárias, que tinham entre 23 e 56 anos, ganharam US$ 100 para participar das sessões da pesquisa, que duravam entre uma e duas horas. As imagens do funcionamento do cérebro das mulheres foram publicadas no final do mês passado no jornal da Sociedade Internacional de Medicina Sexual. Ganharam o apelido de “mapa do prazer feminino”.

Antes que leitores do sexo masculino se entusiasmem, é preciso avisar que as descobertas de Komisaruk não se traduzem em sugestões para satisfazer as parceiras. Mas dão pistas sobre onde começar. Os estímulos na vagina e no clitóris acionam áreas diferentes do cérebro, o que provaria que os orgasmos ligados a essas duas regiões não são iguais. “Ao contrário do que dizem muitos sexólogos – que o clitóris é responsável pela maior parte do prazer feminino –, os estímulos vaginais também produzem ativações fortes no cérebro”, disse Komisaruk a ÉPOCA.
A conclusão mais interessante do estudo é sobre a sensibilidade dos mamilos, uma área frequentemente menosprezada por homens que vão direto ao ponto sul, e não ao norte. Os pesquisadores descobriram que estimulá-los ativa as mesmas zonas cerebrais ativadas pelo toque na região genital, embora com intensidade menor. Isso explicaria por que algumas mulheres, segundo relatos colhidos pelos cientistas, podem ter orgasmos pela estimulação do mamilo (#ficaadica).
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ministro foge de pergunta sobre o uso de avião de empreiteira que faz obras públicas e financiou campanha da mulher, Gleisi Hoffmann

 
ANDREI MEIRELES E MARCELO ROCHA
O empréstimo de aviões particulares para autoridades há tempos faz parte do amplo cardápio de relações promíscuas entre o poder público e o setor privado no país. Mas apenas recentemente esse tipo de conduta começou a ganhar ares de escândalo. Em junho, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, mergulhou em um inferno astral quando foi revelado, após uma tragédia aérea, que ele costumava viajar em aviões de empresários com grandes contratos com seu governo. Na semana passada, um dos motivos da demissão do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, foi a divulgação de que ele viajou em um jatinho de uma empresa beneficiada por decisões do ministério.

ÉPOCA perguntou a 30 ministros da presidente Dilma se eles já viajaram em algum jato particular desde que assumiram seus cargos. Dos contactados, 28 responderam prontamente que não. O ministro dos Transportes, Paulo Passos, informou que já teve de usar aviões particulares para vistoriar obras de sua pasta localizadas em áreas remotas, aonde aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) não tinham como chegar. O ministro das Cidades, Mario Negromonte, deputado federal eleito pela Bahia, disse que freta, por sua conta, aviões particulares para chegar a determinadas cidades de sua base eleitoral.
A presteza desses ministros contrasta com o comportamento do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Por quatro vezes nos últimos 40 dias, ÉPOCA perguntou a Paulo Bernardo sobre suas eventuais viagens em um avião particular quando exercia o cargo de ministro do Planejamento no governo Lula. Trata-se do King Air, matrícula PR-AJT, que pertence ao empresário Paulo Francisco Tripoloni, dono da construtora Sanches Tripoloni. Em nenhuma dessas ocasiões, Bernardo respondeu à pergunta.

A indagação tem duas razões. Um parlamentar que integra a base de apoio do governo Dilma no Congresso relatou a ÉPOCA que viu Paulo Bernardo embarcar no ano passado no avião da construtora Sanches Tripoloni em um terminal do Aeroporto de Brasília, usado por empresas que operam aviões particulares. Outro parlamentar, de oposição ao governo, também afirmou que a chefe da Casa Civil da Presidência da República, a ministra Gleisi Hoffmann, mulher de Paulo Bernardo, usou o avião em sua pré-campanha ao Senado Federal pelo Paraná. Na ocasião, Gleisi era presidente regional do PT e não ocupava cargo público. Bernardo era simplesmente o responsável pelo Orçamento da União e por definir as verbas para obras públicas.

Como ministro do Planejamento, Paulo Bernardo mostrou um empenho especial na construção do Contorno Norte de Maringá, no Paraná – uma obra tocada pela empreiteira Sanches Tripoloni, que já custa o dobro de seu preço original. Inicialmente, Bernardo ajudou a liberar verbas para a obra, destinadas por meio de emendas parlamentares ao Orçamento da União. Depois, Bernardo conseguiu incluir a construção do contorno no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o que livrava o empreendimento da dependência de emendas parlamentares, sempre sujeitas a contingenciamentos e cortes orçamentários. Em junho de 2010, Paulo Bernardo convenceu o então presidente Lula a assinar um decreto incluindo o anel rodoviário de Maringá num regime especial no PAC. No mundo das acirradas disputas por verbas em Brasília, o regime especial equivale a um passe de mágica: assegura transferências obrigatórias de dinheiro público para o empreendimento.

De acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), há problemas graves na obra em Maringá, como superfaturamento de preços pela construtora Sanches Tripoloni. A empreiteira não deixou, porém, de receber dinheiro público, mesmo depois de ter sido declarada “inidônea” pelo TCU em 2009 por causa de outra obra no Paraná: a construção do contorno rodoviário de Foz do Iguaçu. A construtora Sanches Tripoloni é hoje uma das empreiteiras que mais recebem verbas públicas. No ano passado, ela recebeu R$ 267 milhões do governo federal. Sua ascensão é recente. Em 2006, por causa da má situação financeira da empresa, seus sócios chegaram a registrar uma redução de capital.

Na campanha eleitoral de 2010, a empreiteira e seus donos fizeram doações de R$ 7 milhões, especialmente para o PR, que comandava o Ministério dos Transportes, e o PT. No Paraná, eles doaram R$ 510 mil para a campanha da ministra Gleisi Hoffmann ao Senado. O deputado estadual Ênio Verri, do PT do Paraná, que foi chefe de gabinete de Paulo Bernardo no Ministério do Planejamento, também foi beneficiado por uma doação.

A recusa de Paulo Bernardo em falar sobre o eventual uso do avião da Sanches Tripoloni deixa várias dúvidas no ar. Se ele não fez nada que pudesse ser caracterizado como um conflito de interesses, bastaria ter adotado o mesmo pro-cedimento de seus colegas de governo Dilma Rousseff e respondido à pergunta. Como não responde, levanta-se a suspeita de que Paulo Bernardo tenha algum tipo de dificuldade para explicar suas relações com a construtora Sanches Tripoloni. Em ambos os casos, o comportamento do ministro pode se demonstrar inadequado, além de inútil. Nos próximos dias, parlamentares de oposição encaminharão à Mesa da Câmara um pedido de informação sobre quem viajou no avião PR-AJT desde que ele foi comprado pela empreiteira, em abril de 2009 – e a identidade dos passageiros do King Air poderá ser conhecida.
ÉPOCA também perguntou à ministra Gleisi Hoffmann se ela viajou no avião da Sanches Tripoloni nos últimos três anos. Até o fechamento da edição, ela mantinha, como o marido, silêncio absoluto sobre o assunto. Questionada se o avião da empreiteira transportou Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann, a Sanches Tripoloni disse que “não tem conhecimento sobre o transporte das autoridades em questão”.
Marcelo Camargo
Marcelo Camargo
FICOU NO AR
Paulo Bernardo e o King Air da Sanches Tripoloni. O ministro não responde à pergunta sobre viagens no avião e alimenta dúvidas sobre suas relações com a empreiteira do Paraná

Otan bombardeia complexo de Kadhafi em Trípoli, diz TV

 

Forças rebeldes teriam matado 31 membros das forças de Kadhafi.
Ministro líbio confirmou invasão de grupos de rebeldes a Trípoli.

Do G1, com agências internacionais*
As forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) teriam bombardeado neste domingo (21) o complexo de Bab al-Aziziya, no centro de Trípoli, capital da Líbia, de acordo com a rede de televisão Al Jazeera. O complexo fortificado é o "quartel residência" do líder Muammar Kadhafi.
Mais cedo, a mesma rede de TV afirmou que as forças rebeldes que tentam avançar sobre Trípoli teriam matado 31 membros das forças de Kadhafi. Outros 42 teriam sido detidos.
Depois que testemunhas relataram explosões e rajadas de tiros em diversos bairros de Trípoli no sábado, o ministro da Informação do governo líbio, Moussa Ibrahim, confirmou que "pequenos" grupos de rebeldes invadiram a capital do país, mas afirmou que foram detidos por tropas pró-Khadafi.
Forças rebeldes na flores de Gadayem, já próximas a Trípoli (Foto: AFP)Forças rebeldes na flores de Gadayem, já próximas a Trípoli (Foto: AFP)
Segundo Ibrahim, Muammar Kadhafi continua governante do país e a capital Trípoli está protegida. Ele afirmou que entre os presos há argelinos, tunisianos e egípcios. Os comentários foram mostrados pela televisão estatal. Ibrahim renovou o apelo aos rebeldes para que se rendam, dizendo que seriam perdoados mesmo que "matassem nossos parentes".
"Eu garanto aos líbios que Kadhafi é o seu líder e que Trípoli está cercada por milhares de pessoas para defendê-la", disse o ministro.
Em Benghazi, líbios comemoram notícias sobre os avanços rebeldes em Trípoli (Foto: Reuters)Em Benghazi, líbios comemoram notícias sobre os avanços rebeldes em Trípoli (Foto: Reuters)
Em pronunciamento transmitido pela televisão Muammar Kadhafi parabenizou os líbios pela "eliminação dos ratos" (em referência aos rebeldes) e ainda acusou o presidente francês, Nicolás Sarkozy, de ser responsável pelos ataques.
  (Foto:  )
Um representante do grupo de rebeldes disse que há confrontos com as forças do governo próximos à base militar Mitiga e que "existe um número desconhecido de rebeldes mortos no distrito de Tajourah e que há bairros sem eletricidade".
Abdel Hafiz Ghoga, número dois do Conselho Nacional de Transição, que reúne os opositores da ditadura, disse que "as próximas horas serão cruciais" no combate contra o governo atual.
Segundo Ghoga, o conselho apoia os rebeldes que cercam Trípoli e que muitos comandantes e apoiadores de Kadhafi fugiram da capital.
Mais cedo, um porta-voz do governo afirmou que os conflitos estariam sendo controlados.
Cidade controladaMais cedo, os rebeldes líbios afirmaram que retomaram o controle de toda a cidade de Brega, cenário de violentos combates há semanas na frente leste do país, depois de terem se apoderado das instalações petroleiras locais.
"A zona industrial (de Brega) se encontra sob nosso controle. Toda Brega está agora sob nosso controle", afirma um comando militar da insurgência. "As forças de Kadhafi estão se retirando para o oeste", indicou.
Depois de meses de estancamento na frente leste, os insurgentes lançaram no final de julho uma ofensiva contra Brega, um posto avançado das forças leais a Muammar Kadhafi no leste do país.
Milhares de líbios saíram às ruas na cidade de Benghazi para comemorar o que os rebeldes estão chamando de primeiro levante contra o regime de Kadhafi  (Foto: Gianluigi Guercia/AFP)Milhares de líbios saíram às ruas neste sábado (20) na cidade de Benghazi para comemorar o que os rebeldes estão chamando de primeiro levante contra o regime de Kadhafi (Foto: Gianluigi Guercia/AFP)
*Com informações da Reuters, France Presse e Associated Press

Documentos obtidos por ÉPOCA mostram a luta da juíza contra grupos de extermínio, suspeitos de sua morte



HUDSON CORRÊA
Frederico Rozario
MARCADA
A juíza Patrícia Acioli, morta a tiros na porta de sua casa. No alto à direita, cópia da ordem de prisão assinada por ela, no dia de sua morte, contra oito policiais
A audácia dos assassinos da juíza Patrícia Lourival Acioli, de 47 anos, no último dia 11, foi algo inédito na violenta história do Rio de Janeiro. Ao longo de décadas de descalabro e atrocidades vivenciadas pela população fluminense, criminosos nunca haviam ousado matar um magistrado. Além de sem precedentes, o crime foi brutal: 21 tiros foram disparados por homens encapuzados postados diante de sua casa, no bairro de Piratininga, em Niterói, região metropolitana do Rio. Diante do crime, a primeira pergunta era: por quê? Uma análise do trabalho recente da magistrada lança luz sobre os possíveis interesses dos assassinos. Na semana passada, ÉPOCA obteve um conjunto de documentos, vídeos e escutas telefônicas que ajudam a entender por que a juíza, conhecida pela firmeza com que combatia grupos de extermínio, tornou-se um alvo tão visado pelos criminosos.

Em junho último, um rapaz de 18 anos foi morto por policiais militares em São Gonçalo, onde Patrícia comandava a 4ª Vara Criminal. A Promotoria de Justiça diz que os PMs desfizeram a cena do crime. Em seguida, entregaram na delegacia, de “forma fraudulenta”, uma pistola calibre 45, como se a arma tivesse sido usada pela vítima em reação a um flagrante por tráfico de drogas. ÉPOCA obteve cópia da deci-são de Patrícia sobre o caso, provavelmente a última medida contundente da juíza no combate a crimes de execução. Algumas horas antes de morrer, ela decretou a prisão de oito policiais militares suspeitos de assassinar e acobertar a morte do rapaz. A ordem foi escrita à mão, um procedimento comum em processos judiciais para acelerar as ações. A Polícia Civil suspeita que esse grupo de presos possa estar envolvido na morte da juíza.

Na ação contra Patrícia Acioli, um fato chamou a atenção da polícia: os assassinos não se preocuparam em ser discretos. Um policial próximo à investigação percorreu o caminho que a juíza fez pela última vez de carro entre o Fórum de São Gonçalo e o condomínio em que morava, em Piratininga. Verificou diversos pontos em que os bandidos poderiam ter agido sem ser filmados. Mas os criminosos preferiram a entrada do condomínio, onde ficaram expostos a várias câmeras. Três dias antes, um homem havia sido filmado no local, por volta das 23 horas, pedindo informações sobre a rotina da juíza. Policiais encarregados da investigação acreditam que os criminosos se deixaram filmar deliberadamente, num ato de afronta ao Estado.

A ousadia condiz com o comportamento daqueles que foram alvos do trabalho da juíza nos últimos anos. O material obtido por ÉPOCA, parte de uma investigação contra um grupo de extermínio atuante em São Gonçalo, revela que policiais militares sequestravam pessoas, geralmente envolvidas com o tráfico de drogas. Torturavam os reféns. Pediam resgate e, mesmo depois de receber dinheiro e armas como pagamento, matavam as vítimas a tiros. Isso quando não as incendiavam.

Um retrato devastador da realidade que cerca a Polícia Militar do Rio de Janeiro foi descrito por Wanderson da Silva Tavares, o Gordinho, apontado pela polícia como líder do Bonde do Zumbi, um dos grupos de extermínio mais ativos em São Gonçalo. Gordinho foi preso em janeiro, em Guarapari, Epírito Santo, por ordem da juíza Patrícia. Na ocasião, tinha uma lista com 12 nomes, entre os quais o de Patrícia. Se-gundo a Polícia Civil, era uma relação de pessoas marcadas para morrer. Num acordo de delação premiada fechado com a Promotoria de Justiça do Estado, Gor-dinho resolveu contar o que sabia, em troca de uma pena de dez anos de prisão. Sem o acordo, o criminoso poderia ser condenado a 150 anos.
Ao longo de nove páginas, Gordinho relatou ao promotor Paulo Roberto Mello Cunha Jr., em junho deste ano, que quatro policiais militares, também integrantes do Bonde do Zumbi, sequestravam e matavam pessoas supostamente envolvidas com o tráfico. O nome do promotor, que atuava em parceria com Patrícia, também consta da lista. A juíza havia decretado a prisão dos quatro policiais no final de 2010.

Gordinho disse ao promotor que passou a ter contato com os PMs em março do ano passado, na porta do Fórum de São Gonçalo, onde Patrícia trabalhou por mais de dez anos. Conheceu o soldado Rogélio Acácio Ferreira e ficaram amigos a ponto de o policial, segundo relato de Gordinho, dizer: “Quando tiver uma situaçãozinha, conheço uma rapaziada”. A “situaçãozinha” apareceu algum tempo depois. Gordinho marcou uma reunião com Acácio atrás do quartel do 7º Batalhão da PM em São Gonçalo. Estavam presentes os cabos Alexsandro Horffmam Lopes e Alecsandre Nazareth Baiense. Os quatro definiram a missão: sequestrar Bruno Maconha, suposto líder do tráfico numa favela da região.
Depois de entrar na favela e dominar Bruno Maconha, os policiais pediram informação sobre onde estavam dinheiro e armas. “Começaram a dar soco.” Exausto, o traficante capitulou. Entregou cinco granadas e uma metralhadora. O grupo levou o traficante, seu carro (um Gol), as granadas e a arma. Fora da favela, pediram resgate a colegas da vítima. Queriam R$ 50 mil, mas fecharam em R$ 4 mil.

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FRUTOS DO CRIME
Cheques, dinheiro e joias apreendidos com Gordinho, acusado de liderar um grupo de extermínio em São Gonçalo, Rio de Janeiro
Mesmo com o pagamento, o refém não foi solto. Levado para uma “trilha cheia de mato”, caminhava quando “levou dois tiros na cabeça disparados por Baiense, enquanto Lopes desferiu um tiro de confere (final)”, disse Gordinho. Os quatro dividiram o dinheiro do resgate em partes iguais. Mais tarde, cada um recebeu mais R$ 900 pela venda das granadas. Passaram a aguardar que a metralhadora e o carro de Maconha também pudessem render algum dinheiro. Não houve tempo de vender a metralhadora – um mês depois precisaram usá-la. Com ela, Baiense deu uma rajada para o ar dispersando moradores que tentavam impedir o sequestro de outro envolvido com o tráfico, Daniel Bafo. Não se sabe se o grupo de Bafo chegou a pagar o resgate, mas ele também foi morto.

As histórias de Gordinho não param por aí. Em outro relato, descreveu o destino dado ao traficante Bodinho. Alvo de tortura, Bodinho levou choques “até a bateria acabar”, enquanto o grupo exigia dinheiro. Assim como nos dois outros casos, Bodinho foi morto, mas dessa vez o autor dos dois tiros na cabeça foi o próprio Gordinho. Segundo a investigação, o áudio de uma escuta telefônica, realizada com autorização da Justiça, mostra Lopes falando com uma mulher durante a tortura. Ele diz que se convenceu de que Bodinho não sabia mesmo de nada. “Três horas direto de choque ninguém aguenta. Com certeza iria falar (...). Não falou(em) nenhum momento.” Inspirado em um sucesso do cinema, Gordinho se referiu a ele próprio e a Lopes, em uma gravação do dia 4 de setembro, como “máquina mortífera”. Por ação da polícia e especialmente da juíza Patrícia Acioli, a “máquina” foi desmantelada poucos dias depois. O cabo Lopes foi o primeiro a ser preso, no dia 10 – ÉPOCA obteve um vídeo gravado no momento de sua prisão, decretada pela juíza. As imagens revelam que Patrícia Acioli acompanhava de perto as investigações.

A juíza foi responsável pela prisão de mais de 60 policiais militares nos últimos anos, a maioria acusada de crimes de execução. Seu trabalho levou a uma redução impressionante dos homicídios descritos dentro dos autos de resistência, situação em que a polícia alega que matou porque o acusado reagiu. Em 2007, foram registrados ao menos 20 assassinatos desse tipo em São Gonçalo. A juíza passou a ser rigorosa com casos em que as cenas do crime eram desfeitas. Um ano depois, as mortes em autos de resistência caíram para seis. Neste ano, houve apenas duas.
Há muitos suspeitos do assassinato de Patrícia. O advogado Rafael Batista dos Santos Filho, que defende Wanderson Tavares, o Gordinho, disse não crer no envolvimento de seu cliente. Segundo Santos Filho, Gordinho nunca preparou uma lista de autoridades marcadas para morrer. Seu cliente teria apenas colocado no papel os nomes da juíza, do promotor e de policiais que atuavam no processo contra ele.

Anderson Rollemberg, que defende Acácio e Baiense, disse que os dois negam os crimes e que foram envolvidos apenas porque falavam ao telefone com suspeitos. As escutas, segundo ele, foram mal interpretadas pela polícia. “Não há testemunhas”, afirmou Rollemberg. ÉPOCA não conseguiu falar com o defensor de Lopes.

Na semana passada, surgiu uma polêmica sobre falhas na segurança da magistrada. Em 2007, ela encaminhou uma correspondência ao Tribunal de Justiça (TJ) do Rio reclamando da redução de sua escolta. Presidente do TJ desde fevereiro, o desembargador Manoel Alberto Rebelo dos Santos diz que a juíza não pediu escolta em sua gestão. A administração anterior afirma que a decisão de reduzir a segurança de Patrícia foi normal. Somente agora, depois do crime, o Tribunal de Justiça passou a dedicar maior atenção à 4a Vara Criminal. Designou três juízes para assumi-la e tocar os processos. O titular, Fábio Uchoa, de 52 anos, conta com carro blindado e escolta pessoal.




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Tensão na Líbia cresce e ditador diz que não se renderá

O ditador líbio, Muammar Gaddafi, assegurou neste domingo que sairá vitorioso da batalha de Trípoli, capital do país, em uma nova mensagem difundida pela televisão nacional, enquanto aumenta a tensão e a pressão dos rebeldes.
A rede de TV "Al Jazeera" relata que os rebeldes chegaram ao centro de Trípoli, onde ocorrem violentos confrontos com as forças leais a Gaddafi. A informação ainda não foi confirmada.



Gaddafi assegurou que não se renderá nem abandonará Trípoli. Trata-se da segunda mensagem de Gaddafi em menos de 24 horas, enquanto a rebelião assegura que a capital, reduto do regime, cairá nas próximas horas.

A emissora indicou ainda que os bairros dos arredores da capital foram "libertados" e que as forças do regime se retiraram para Bab al Azizia, o "palácio-bunker" de Gaddafi.

Mais cedo, a "Al Jazeera" informou que os aviões da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) teriam bombardeado o quartel-general do ditador, em Trípoli, e o aeroporto de Maitika, também na capital do país.

A emissora anunciou também a prisão do coronel Khituni, considerado um dos principais militares leais ao regime de Gaddafi, além de oito de seus colaboradores.

As forças rebeldes da Líbia teriam ainda matado 31 membros das forças do ditador Muammar Gaddafi e capturado outros 42 durante operação na capital Tripoli neste domingo, segundo a "Al Jazeera".

Os rebeldes iniciaram no sábado à noite uma ação para isolar Gaddafi na capital "até conseguir a sua captura ou saída do país", informou o porta-voz do grupo, Ahmed Jibril. Eles chegaram ontem à capital, reduto do regime.

A operação teria a participação do CNT (Conselho Nacional de Transição) e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

A conquista intensificou a impressão de que a ditadura de Gaddafi está por um fio. Rumores davam conta de que ele e a família já haviam deixado o país, o que o governo líbio nega.

A Líbia vive uma guerra civil desde fevereiro, quando milhares de pessoas, inspiradas pelas revoluções nos vizinhos Egito e Tunísia, iniciaram uma revolta contra os 41 anos do regime de Gaddafi.

Filippo Monteforte/France Presse
Rebeldes líbios avançam rumo a Trípoli por meio da floresta de Gadayem
Rebeldes líbios avançam rumo a Trípoli por meio da floresta de Gadayem

RESPOSTA

Em resposta, o porta-voz do regime líbio, Musa Ibrahim, afirmou que milhares de soldados e voluntários estão dispostos a defender Trípoli, em entrevista à imprensa.

"Temos milhares de militares e milhares de voluntários protegendo a cidade. Não são apenas patriotas; têm aqui famílias e casas que querem defender. Sabem muito bem que, se os rebeldes entrarem, haverá sangue por todos os lados", afirmou.

Na manhã deste domingo, Seif al-Islam Gaddafi, filho de Gaddafi, disse que o regime de Trípoli "não vai abandonar a batalha", convidando os rebeldes para um diálogo, durante um discurso transmitido pela televisão estatal.

"Estamos na nossa terra e nosso país. Resistiremos seis meses, um ano, dois anos... E nós vamos vencer ", disse Seif al-Islam diante de algumas dezenas de jovens que assistiam ao discurso.

"Não vamos nos submeter, não vamos abandonar a batalha. E não se trata de uma decisão de Seif al-Islam ou de Gaddafi, mas da decisão do povo líbio", disse ele, acrescentando que" sua família pagou a conta, como todos os líbios".

Ele chamou os rebeldes para o diálogo: "Se vocês querem a paz, estamos prontos", ele disse, lembrou de ter supervisionado o desenvolvimento de um projeto de Constituição.

O ministro da Defesa italiana, Ignazio La Russa, afirmou à agência Ansa que o ex-número dois do governo líbio, Abdessalem Jalloud, fugiu de seu país e está na Sicília.

Filippo Monteforte/France Presse
Rebelde líbio em confronto com as forças de Gaddafi na floresta Gadayem, a oeste da capital Trípoli
Rebelde líbio em confronto com as forças de Gaddafi na floresta Gadayem, a oeste da capital Trípoli

ALEMANHA

A chanceler alemã, Angela Merkel, pediu hoje a Gaddafi que deixe o poder "o mais rápido possível" para evitar mais derramamento de sangue.

"Seria bom que renunciasse o mais rápido possível", disse a chefe do governo alemão, em entrevista concedida à emissora de televisão pública "ZDF".

As declarações da chanceler seguem à proclamação do Conselho Nacional de Transição (CNT) líbio, organismo político dos rebeldes, de que o fim do regime de Gaddafi está "muito perto".

TURISTAS

A chancelaria polonesa informou hoje que é impossível, por enquanto, evacuar pessoas de vários países, como Reino Unido e Polônia, que querem deixar a Líbia. Isso porque o navio maltês fretado para transportá-los não conseguiu atracar no porto de Trípoli por causa dos combates.

"O navio 'MV Triva 1', ainda está na baía, sem conseguir se mover", declarou Paulina Kapuscinska, porta-voz da chancelaria, acrescentando que quatro poloneses já estavam preparados para subir na embarcação.

Londres havia informado, pouco antes, que cidadãos britânicos aguardavam para serem retirados.

RATOS

O porta-voz do governo de Gaddafi, Moussa Ibrahim, fez um pronunciamento ontem à noite na TV estatal confirmando a presença de rebeldes armados contrários ao regime nas ruas da capital. Ibrahim, porém, disse que a situação está "sob controle" e que o ditador continua a governar o país.

"Eu garanto que Gaddafi é o líder de vocês. Trípoli está cercada de milhares de pessoas para defendê-la", afirmou, acrescentando que tratam-se de grupos "pequenos de insurgentes, com poucos integrantes".

Também ontem à noite, a TV estatal líbia divulgou uma gravação de áudio em que Gaddafi felicita os líbios pela eliminação dos "ratos".

No áudio, Gaddafi também faz acusações contra o presidente francês, Nicolas Sarkozy, dizendo que ele "quer o petróleo líbio".

Os violentos distúrbios na capital na noite deste sábado, após dias de derrotas das forças leais a Gaddafi, geraram especulação de que os 41 anos do regime poderiam estar perto do fim.

Editoria de Arte/Folhapress

Sertanhol

 

O sucesso "Chora, Me Liga", da dupla João Bosco & Vinícius, vira mania na América Latina, ganha versão em espanhol e inaugura um novo gênero

Ivan Claudio

Assista ao vídeo e conheça as diferentes versões da música :
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SEM TEMPO
Com agenda lotada no Brasil, João Bosco e Vinícius não
puderam aceitar os convites para fazer shows na Argentina
A música “Chora, Me Liga”, que há dois anos anima as baladas sertanejas no Brasil, está se tornando um fenômeno também na América Latina. Vertida para o espanhol com o título “Llora, Me Llama”, a canção da dupla João Bosco & Vinícius pode ser ouvida na voz de, pelo menos, duas dezenas de bandas estrangeiras. Foi gravada por artistas colombianos, peruanos, venezuelanos e, claro, argentinos – em Buenos Aires, a canção é uma mania que sobreviveu ao fim do verão e aquece o frio inverno portenho. É ouvida em rádios, lojas, bares e, especialmente, nas pistas de dança. Caiu tanto no gosto popular que passou a ser usada pelas torcidas dos grandes times como grito de guerra – o tom romântico, obviamente, foi trocado por agressões verbais ao torcedor adversário. O primeiro time a usá-la foi o Newell’s Old Boys, logo seguido pelo River Plate. Não se tem notícia se o Boca Juniors aderiu à febre, mas o YouTube traz um clipe do hit, dedicado ao time do coração de Maradona.

João Bosco, que se refere a si mesmo como “o japonês” da dupla, diz que ficou sabendo do fenômeno justamente pelo futebol. Ao visitar o blog do jogador argentino Sergio Aguero, do Manchester City, ele leu com surpresa – e alegria – que a música era a preferida do atacante. “A partir daí, sempre recebíamos da Argentina emails de amigos com filmes de celular mostrando pessoas cantando o nosso refrão”, diz. Nem João Bosco nem Vinicíus foram conferir o fenômeno in loco: não sobra tempo na agenda de 25 shows por mês, fechada até o ano que vem. Por isso, não puderam também aceitar os inúmeros convites para se apresentar no país. Eles pretendem, contudo, tirar “uns três ou quatro dias de folga” para visitar as rádios locais: “Não conseguimos dar conta da demanda de apresentações no Brasil. Nosso foco ainda está aqui”, afirma João Bosco.

Mesmo com a crise fonográfica, o mercado latino ainda representa uma mina de ouro para os artistas, mas, ultimamente, raros nomes nacionais têm conseguido furar o bloqueio do idioma antes conseguido por gente como Roberto Carlos e Caetano Veloso. Há dois anos, a dupla Victor & Leo lançou um CD e um DVD em espanhol, “Nada es Normal”, e no início do ano o cantor Luan Santana estrelou um comercial de tevê em Buenos Aires. Tudo leva a crer que, com o câmbio favorável e a grande afluência de brasileiros à cidade, a onda do sertanejo universitário tenha ido na bagagem. Redes de fast-food portenhas servem sua versão da feijoada, e os difíceis cortes de carne argentinos já trazem tradução para o português. Nos outlets apinhados de brasileiros sempre se ouvem Bruno & Marrone e outras duplas de sucesso. Nada, contudo, que se iguale ao estouro de “Chora, Me Liga”.
João Bosco, que está preparando com Vinícius a versão em espanhol dessa música e de outros sucessos, dá uma pista para se entender a mania.

Ele lembra que o estilo de sua dupla traz elementos dos ritmos do Sul, como o chamamé, originário do norte da Argentina, e a polca paraguaia, gêneros musicais muito comuns em Mato Grosso do Sul, Estado onde nasceram e cresceram, que faz fronteira com o Paraguai. De fato, estudiosos da música sertaneja detectam em sua formação esses dois estilos sonoros.

E também da guarânia – a dupla Cascatinha e Inhanha, por exemplo, gravou “Índia”, mais tarde recuperado pelo tropicalismo, via Gal Costa. Trata-se, portanto, de uma estrada de mão dupla: o nosso sertanejo foi influenciado pelo som dos países fronteiriços e, agora, devolve o resultado deglutido e transformado. Outra fonte de inspiração para os rapazes de bota e camisa xadrez é a canção romântica mexicana, mais precisamente, o cantor Cristian Castro, cujas baladas derramadas integram o repertório de runo & Marrone, Marlon & Maicon, Guilherme & Santiago e das extintas duplas Rick & Renner e Edson & Hudson.
O que estaríamos assistindo, então, seria ao surgimento de um novo estilo: o sertanhol.
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Senna versus Dzi croquettes

 

Dois documentários sobre ícones brasileiros aceleram na corrida rumo ao Oscar nessa categoria em ascensão

Marcos Diego Nogueira

Assista ao trailer de "Dzi Croquettes" :
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Assista ao trailer de "Senna":
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Foi dada a largada da “corrente pra frente” e desta vez não por brasileiros mas pela imprensa americana: com críticas positivas, o documentário “Senna”, sobre o piloto brasileiro morto em 1994, vem sendo apontado como um dos favoritos ao Oscar desde a sua estreia nos EUA, na semana passada. Coincidência ou não, um filme brasileiro quer tentar uma vaga na mesma categoria e não está medindo esforços. Trata-se de “Dzi Croquettes”, a mais premiada produção do gênero até hoje no País, registro da trajetória da irreverente trupe de teatro e dança que enfrentou a ditadura. Pode parecer uma disputa injusta, mas, em comum, as duas produções precisam de gasolina. E muito lobby.

Produção inglesa, “Senna” sai na frente. Conta com o suporte da Producers Distribution Agency, que no ano passado levou o documentário “Exit Through the Gift Shop”, sobre o artista inglês Banksy, a uma bilheteria de US$ 3 milhões nos EUA e à indicação nessa mesma categoria. Já “Dzi Croquettes” mantém a independência do projeto iniciado há dois anos. Não contou com patrocínio, apenas com a coprodução do Canal Brasil. Seus diretores, Raphael Alvarez e Tatiana Issa, correm contra o tempo para arrecadar US$ 23 mil, que é o custo mínimo para lançar o filme nos EUA, pré-requisito para ser selecionado.

A exibição do longa em três sessões diárias em Nova York e Los Angeles pelo período de uma semana inclui-se no chamado Oscar Qualifying Package, um pacote de qualificação para o Oscar. “Estamos usando os serviços de um site, que recebe doações de qualquer valor em troca de suvenires do filme”, diz Tatiana. Faltam ainda US$ 13 mil. O cineasta britânico Asif Kapadia, diretor de “Senna”, não terá de fazer esforços no orçamento, já que seu filme bateu o recorde de bilheteria para documentários na Grã-Bretanha. A produção vem sendo novamente elogiada por focar a luta de Senna contra os movimentos políticos na Fórmula 1, tema quente hoje em Hollywood, que prepara dois blockbusters centrados em campões das pistas.
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Vovô, quero ir para a globo

 

Neto de Silvio Santos, dono do SBT, o ator Tiago Abravanel quer aproveitar o seu bom momento no teatro para ser convidado a trabalhar na emissora rival

Luciani Gomes

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O sobrenome diz tudo: o ator paulista Tiago Abravanel, 23 anos, é parente do Abravanel mais famoso do Brasil, o apresentador Silvio Santos, de quem é neto. E era na emissora do avô que ele trabalhava até agora, quando abandonou o elenco de “Amor e Revo­lução” para encabeçar o espetáculo “Tim Maia – Vale Tudo, o Musical”, sucesso teatral da temporada carioca. Ele vem atuando tão bem como o “síndico” que está sendo observado pela maior concorrente de Silvio Santos, a Rede Globo. Tiago, um dos herdeiros do grupo SBT, afirma que ainda não foi procurado, mas adora a ideia: “Até agora não recebi nada, mas vou ficar muito feliz se acontecer.” Se o convite de fato chegar, segundo ele, não só Silvio, como a família inteira, vai encarar com naturalidade: “O estranhamento viria mais por parte do público, do tipo por que você fez isso com seu avô?
Mas acho que ele ficaria até orgulhoso de me ver crescendo na profissão”, diz Tiago.

Um crescimento e tanto para quem queria ser bailarino e, em troca, recebeu do pai no aniversário não as sonhadas sapatilhas iguais às do dançarino russo Mikhail Baryshnikov, mas luvas de boxe de um peso-pesado. “Não rolou”, lembra Tiago, que já nessa época era meio gordinho. Passou, então, para as aulas de teatro, jazz e dança para musical. Tornou-se um ator e agora encarna seu primeiro grande papel. O avô famoso nunca se envolveu em suas escolhas – era bem distante na infância. Isso não impediu que Tiago herdasse de Silvio a simpatia e o talento para lidar com o público. Ele fala de forma clara, diz o que pensa e está sempre de bom humor. Hoje, quando avô e neto se encontram, o programa preferido é justamente o teatro. Não é difícil adivinhar o próximo espetáculo que eles vão compartilhar. Silvio Santos vai ao Rio de Janeiro prestigiar o neto: “Deve ser lá por outubro, para aproveitar e comemorar meu aniversário”, diz Tiago. Profissional dedicado, nas horas vagas ele prefere festas em casa às baladas.

Não bebe muito, não curte drogas, mas expe­rimentou maconha: “Não foi a melhor expe­riência do mundo, fiquei meio esquisito.”
Sua loucura é a música. Veste-se cantando, anda na rua cantando e nem liga para quem estranha. Sua vida hoje é um musical.
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Porto seguro para Lília Cabral


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EMPRESTADA
Manoel Carlos quer Lília de volta em 2014 para encarnar mais uma “Helena”
No conto de fadas “Cinderela”, Griselda é uma mulher perversa. Em “Fina Estampa”, próxima novela global do horário nobre, que estreia na segunda-feira 22, Griselda vai tornar-se uma mulher generosa. Mais. Será promovida a protagonista pelas mãos do novelista Aguinaldo Silva e pelo talento da atriz Lília Cabral – que aos 54 anos e após quatro décadas de carreira ganha pela primeira vez o papel principal. Já era hora: Lília está há 27 anos na emissora e é garantia de ibope, como provou a recente série “Divã”. Escolhida para um posto que normalmente é de Susana Vieira, musa declarada de Aguinaldo, Lília se esquiva de picuinhas: “Tudo tem seu tempo. Se chegou agora é porque essa era a hora.” Na nova trama, ela é desafiada a dar vida à mulher menos feminina que já interpretou, a portuguesa Griselda Pereira, que é conhecida em todo o Jardim Oceânico (zona oeste do Rio de Janeiro), como Pereirão.

O apelido lhe foi dado pelos vizinhos porque ela trabalha como faz-tudo do bairro para sustentar seus filhos depois que o marido Pereirinha (José Mayer) desapareceu. Para incorporar essa mãe masculinizada, Lília vai dispensar a maquiagem e usará sempre um macacão cinza, de pedreiro. Na cabeça, um boné esconderá os cabelos. Sem os atrativos habituais, a atriz terá que mostrar a sua garra. Mas, a julgar pelos papéis anteriores, não há por que se preocupar. Nos mais recentes trabalhos de Manoel Carlos, mesmo quando as sinopses não previam grande dimensão a seus personagens, Lília roubava a cena com ótimas atuações. Foi assim na pele de Marta, a mãe insensível de “Páginas da Vida”, e como Tereza, a supermatriarca da ex-modelo que fica tetraplégica em “Viver a Vida”, duas interpretações que lhe renderam indicações ao prêmio Emmy. Embora tenha começado a se destacar pelas mãos do mesmo Aguinaldo Silva, não trabalhava com ele desde 1992. O troco veio rápido: Manoel Carlos já a convidou para ser sua próxima “Helena”, clássica protagonista de seus enredos.
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Dante desce ao inferno

 

Biografia revela que Dante Alighieri teria usado alucinógenos para escrever a sua "Divina Comédia" e aponta outros fatos inéditos da vida do poeta italiano

Ivan Claudio

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O clássico “Divina Comédia”, do escritor italiano Dante Alighieri (1265-1321) , é um ­livro ambicioso que sintetiza o pensamento político, filosófico e teológico da Idade ­Média. Por isso é uma obra de difícil acesso. Agora, no entanto, uma biografia crítica ­torna a descida de Dante ao inferno uma jornada mais fácil e agradável. Trata-se de “Dante” (Record), da escritora e tradutora inglesa Barbara Reynolds, uma das maiores especialistas quando o assunto é o poeta florentino.

Ela releu toda a obra do autor, muniu-se de informações novas e escreveu um calhamaço de 640 páginas que traça um perfil ágil e ousado do retratado. Funciona para o leitor como o poeta Virgílio foi para Dante em sua peregrinação pelas profundezas: um guia erudito e conhecedor de todos os meandros dos versos alegóricos criados pelo escritor.
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PAIXÃO
Na tela do pintor inglês Henry Holiday, Dante observa a amada
Beatrice (de vermelho) em Florença: ele desmaiava quando a via
A leitura da biografia mostra que a “Comédia” é uma resposta aos infortúnios que perseguiram Dante em sua existência: ele também desceu ao inferno em vida e teve que superar pelo menos três círculos de condenações terrenas. O primeiro foi o da paixão não consumada. Perdidamente enamorado por uma jovem de sua cidade, Beatrice Portinari, que conhecia desde os nove anos de idade, ele não conseguiu ser retribuído em seus sentimentos. Como era costume na época, ambos casaram-se com parceiros escolhidos pelas respectivas famílias, mas isso não impediu Dante de insistir em suas investidas. Fazia poemas endereçados à amada e, ao encontrá-la em situações sociais, desmaiava. Aos 24 anos, Beatrice morreu. Dante ficou devastado para o resto da vida. Já nessa época, ele vivia outro ciclo infernal, o das drogas e suas visões horripilantes. Membro de um grupo de poetas (os Fedeli d’Amori) que endeusavam o amor, o florentino começou a fazer uso de poções “inspiradoras” e parece não as ter abandonado. Barbara pesquisou o herbário medieval e chegou à conclusão de que ele fez uso de maconha (identificada como canapa) e de aloé vera (de onde se faz o alucinógeno mescalina).
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Registra também outra droga nomeada apenas como “grãos do paraíso” e cita como prova o trecho da “Comédia” em que Dante, “transumanizado” ao ascender ao Céu, se compara a Glauco, que “experimentou a erva” e se transformou em Deus do mar.
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A autora levanta a hipótese de que o uso de estímulos psicodélicos esteja na origem das visões divinas de ­Dante, tese válida também para as aterradoras descrições do inferno, quando o autor se vinga de seus inimigos políticos, reservando lugares de destaque na parte mais funda da morada do Demo aos bajuladores, semeadores de discórdia, corruptos e hipócritas. Integrante do grupo dos guelfos brancos (à frente do poder em Florença), Dante defendeu a cidade na Batalha de Campaldino e foi escolhido prior (alto posto na hierarquia social) aos 35 anos. Numa crise entre os rivais guelfos negros, foi obrigado a mandar para o exílio o amigo poeta Guido Cavalcanti, que acabou falecendo (de malária, como ele). O pior viria a seguir, quando vai a Roma negociar a paz e é traído pelo papa Bonifácio VIII: sua cidade é tomada pelos inimigos. Sem recursos para pagar a vultuosa multa pela falsa condenação de corrupção, amargou o resto da vida sem dinheiro, no exílio. Segundo Barbara, “A Divina Comédia” seria assim não um tratado em versos sobre a salvação religiosa pela prática da virtude, mas um relato alegórico contra os usurpadores da vida justa em sociedade.

A guerra dos cabos

 

Por que a nova lei aprovada pelo Senado que abre o mercado das tevês por assinatura para as operadoras de telefonia é uma boa notícia para o consumidor


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Na semana passada, o Senado aprovou uma legislação que mexe profundamente com um dos segmentos mais lucrativos e vitais da era da informação. A partir de agora, as operadoras de telefonia também poderão oferecer o serviço de tevê a cabo, utilizando a infraestrutura já existente para as linhas telefônicas. A chegada de novos concorrentes esquenta o mercado e promete agradar ao consumidor, já que o preço dos pacotes de televisão, internet, telefone fixo e celular pode cair significativamente – até 30%, segundo analistas de mercado. Além disso, a nova lei determina uma cota para a produção nacional na grade dos canais de tevê por assinatura. A partir de agora, os canais devem exibir ao menos três horas e meia de conteúdo feito no Brasil.

Depois de aprovado pelos senadores, o projeto agora segue para a sanção da presidente Dilma Rousseff. Como o texto da lei foi costurado pelo próprio ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, a proposta deve passar sem vetos pela Presidência. O governo não esconde que a principal intenção por trás da nova legislação é forçar o setor privado a investir em novas tecnologias e infraestrutura, visando uma melhor qualidade e a expansão dos serviços para todo o País. Hoje, 11 milhões de brasileiros são clientes de operadoras de tevês a cabo. A projeção para os próximos dez anos é de que esse número suba para 30 milhões de assinantes.

Entre o setor privado, a notícia era esperada com ansiedade. Empresas como Oi e Telefônica prometem entrar com agressividade no mercado, forçando rivais como NET e TVA a rever suas estratégias. Além disso, a competição pode fazer com que tecnologias mais modernas – como a IPTV, que usa a internet para transmitir o sinal de tevê e aumenta a interatividade via aparelho – cheguem ao Brasil. A nova legislação ainda impede que as empresas radiodifusoras possuam mais que 50% do capital das distribuidoras de tevê a cabo – o que fará com que a Globo transfira o controle da NET para o grupo mexicano Telmex.
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Google + Motorola contra a Apple

A compra da fabricante de aparelhos móveis pela gigante da internet acirra ainda mais a concorrência e favorece o consumidor

André Julião

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O Google fez na semana passada sua jogada mais ambiciosa desde a sua fundação, em 1998. A empresa anunciou a compra da Motorola Mobility, braço da multinacional americana que fabrica dispositivos móveis – leia-se celulares e tablets – e receptores de tevê a cabo. A negociação ainda precisa ser autorizada pelas autoridades americanas. Se confirmada, será a maior aquisição já realizada pela empresa de Sergey Brin e Larry Page.

Com a compra da Motorola por US$ 12,5 bilhões (em dinheiro), 63% acima do valor de mercado, o Google entra de vez no mercado de telefonia móvel. Até então, ele fornecia apenas um sistema operacional para esses aparelhos, o Android. Mais importante do que a empresa em si, porém, o interesse de Brin e Page é nas 17 mil patentes para dispositivos móveis que a Motorola detém. Recentemente, Apple, Microsoft e um consórcio de outras empresas adquiriram o portfólio da agora extinta Nortel, por um montante de US$ 4,5 bilhões. “O Google tem agora o suficiente para competir com força”, disse à ISTOÉ Camila Milanesi, analista da consultoria Gartner.
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LIBERDADE
O engenheiro Robério Alvim planeja trocar o iPad por um tablet da Motorola
Nos últimos três anos, a disputa por essas tecnologias se tornou mais acirrada no mercado de smartphones. A RIM, fabricante do BlackBerry, que até então dominava o mercado, perdeu espaço com a chegada do iPhone, em 2007, e do sistema operacional Android, no ano seguinte. A aquisição é um marco para o Google, que fracassou com o lançamento do seu celular, o Nexus One, no ano passado, e desde então não fabricava nenhum aparelho que funcionasse com seu programa. Apple, RIM e HP, por ou­tro lado, dominam ambas as partes da produção.

O Android é o programa para smartphones e tablets mais usado no mundo, com 43% de um mercado em que, até o ano passado, só detinha 17%. Como é usado em aparelhos de diferentes fabricantes (o software é aberto, dispensando o pagamento de royalties), ainda funciona melhor em alguns do que em outros, o que torna difícil fazê-lo competir com o iOS, sistema operacional dos líderes em seus segmentos, iPhone e iPad, da Apple.

Um fato não tão comentado, mas também relevante, é que agora o Google possui a tecnologia para tevê a cabo e pode fazer emplacar o Google TV, serviço de exibição de vídeos via internet na televisão. “A combinação das duas empresas vai não apenas potencializar o Android como também fortalecer a competição e oferecer aos consumidores inovação acelerada, mais opções de escolha e excelentes experiências aos usuários”, disse Page, que desde abril exerce o cargo de presidente-executivo do Google, em post no blog oficial da empresa.
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FIDELIDADE
A dentista Gisele Maffei não abre mão da tecnologia criada pela Apple
A transação veio em boa hora para o engenheiro Robério Alvim. Usuário do Android em seu smartphone, ele pensa agora em substituir seu iPad por um Xoom, o tablet da Motorola. “Os produtos da Apple são muito bons, mas o modelo de negócio deles é muito fechado”, diz. “A partir do momento em que você compra deles, fica preso. O Android dá muito mais liberdade para se conectar com diferentes aparelhos”, afirma.

Alvim é um exemplo de como o confronto direto entre Google e Apple será benéfico ao consumidor. A concorrência deve se traduzir em preços mais baixos para smartphones e tablets. O iPhone é líder global do mercado, com 20%. Os aparelhos da Motorola, como Milestone e Atrix, detêm menos da metade disso. A união do fabricante de celulares com o desenvolvedor do sistema operacional pode forçar a empresa de Steve Jobs a baixar os preços. O cenário seria ideal para a dentista Gisele Maffei. Atualmente, ela usa o computador iMac, o iPhone e tem as duas versões do iPad, que usa em seu trabalho diário. “Procuro trabalhar sempre com o melhor. A Apple ainda é a que oferece os aplicativos mais adequados para o meu trabalho diário”, diz.

A compra da Motorola acontece no ano em que a empresa produziu alguns dos mais inovadores dispositivos móveis do mercado. Em janeiro, ela anunciou o Atrix, um híbrido de celular com laptop, e o Xoom, que usa a versão mais avançada do Android. Mesmo com tamanho poder, o Google garante que seu sistema operacional continuará aberto para todos os fabricantes, gratuitamente. “Continuaremos trabalhando com nossos parceiros para desenvolver e distribuir aparelhos de ponta”, disse o executivo-chefe do Android, Andy Rubin. Ironicamente, esse novo capítulo da batalha dos smartphones e tablets poderia muito bem ser definido pelo slogan do iPad 2. “Isso muda tudo. De novo.”
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