domingo, 11 de setembro de 2011

Há 40 anos morria Lamarca, o Che brasileiro



Há 40 anos morria Lamarca, o Che brasileiroFoto: Divulgação

EX-COMPANHEIRO DE DILMA NA GUERRILHA, ELE FOI ATOCAIADO E MORTO NA BAHIA. AO 247, OUTRO COMBATENTE, CELSO LUNGARETTI, REVELA O PERFIL DO CAPITÃO QUE DESERTOU DO EXÉRCITO, PARA QUEM DEFENDE UM STATUS SEMELHANTE AO DE TIRADENTES

11 de Setembro de 2011 às 16:03
Claudio Julio Tognolli_247 – No próximo sábado completam-se 40 anos que o capitão do Exército Carlos Lamarca, nascido no Rio de Janeiro em 1937, foi atocaiado e morto no interior da Bahia. Lamarca desertou em 1969, e converteu-se num dos comandantes da Vanguarda Popular Revolucionária, VPR, grupo de guerrilha armada no qual também lutou a presidente Dilma Rousseff. Tido e havido como o Che Guevara brasileiro, Lamarca foi elevado ao status do maior inimigo do governo militar. Caçado pelas forças de segurança por todo o país, ele comandou diversos assaltos a bancos, montou um foco guerrilheiro na região do Vale do Ribeira, no sul do estado de São Paulo. Liderou o grupo que seqüestrou o embaixador suíço Giovanni Bucher, no Rio de Janeiro, em 1970, em troca da libertação de 70 presos políticos.
Perseguido por mais de dois anos pelos militares, foi localizado e morto no interior da Bahia 17 de setembro de 1971. Trinta e seis anos após sua morte, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, sob o ministro Tarso Genro, dedicou sua sessão inaugural a promovê-lo a coronel do Exército. Lamarca teve reconhecida a condição de perseguidos políticos de sua viúva e filhos.
Ninguém melhor para falar do mito Lamarca do que o escritor e jornalista paulistano Celso Lungaretti. Nascido em 1950, autor do livro "Náufrago da Utopia" (Geração Editorial, 2005), Lungaretti lutou com Lamarca na Vanguarda Popular Revolucionária.
Falsamente acusado de delator da área de treinamento da VPR em Registro/SP, conseguiu restabelecer a verdade dos fatos no final de 2004, a partir de um relatório secreto militar que veio a público e da intervenção em seu favor do historiador Jacob Gorender, que o inocentou dessa acusação em carta publicada na Folha de S. Paulo. “Ele era um revolucionário sincero, extremamente dedicado à causa e disposto a todos os sacrifícios. A cultura militar também era muito forte nele, de uma forma peculiar: identificava-se com os subalternos, não com os outros oficiais. Tinha uma relação de zelo e carinho para com os comandados, ao passo que sempre se referia com desdém aos graduados”, relata Lungaretti ao Brasil 247.
“Lembro-me de que, na área de treinamento de Registro, ele até se emocionava ao conversar conosco sobre a rotina simples da caserna, como a brincadeira que a soldadesca fazia quando eram tocados certos temas nas paradas. Segundo ele, pelos cantos da boca, cantavam: "A mãe do tenente/ morde o pau da gente". E, ao rufar dos tambores, "bunda! bunda!"...Lamarca chegou à VPR com um conhecimento muito superficial das teses marxistas e correu atrás do tempo perdido, devorando livros nos longos períodos de inatividade em "aparelhos". Mas, sempre coisas muito objetivas, diretas, operacionais. Não lhe interessavam temas teóricos como os desvios do stalinismo e a importância da verdade como fator revolucionário.” Prossegue Lungaretti: “Daí certas "versões convenientes" que deu, nos momentos em que julgou atenderem melhor aos interesses superiores da revolução. Hoje percebo que ele não fazia por mal. Apenas, acreditou que isto fosse necessário para combater com alguma chance de êxito um inimigo totalmente sem escrúpulos”.
Lamarca era um matador? Lungaretti repele a tese. “Nem de longe era um sanguinário. Desde o primeiro momento percebi que ele mataria pela causa, se considerasse imprescindível, mas não por prazer ou por vingança. A clandestinidade lhe pesava, como a todos nós, mas não ao ponto do desequilíbrio. Sua maior contribuição às concepções guerrilheiras foi o conceito de coluna móvel estratégica. Ou seja, a coluna guerrilheira não teria o papel de crescer até se transformar num exército revolucionário, pois a repressão a aniquilaria antes disso e os moradores da região sofreriam terríveis retaliações”.
Segundo Lungaretti, a ideia de Lamarca era que a coluna guerrilheira “enterrasse previamente munição e mantimentos por uma extensa área, que deveria ser bem mapeada pelos guerrilheiros antes de entrarem em ação. Aí, assestariam golpes nos inimigos, escapando graças à sua mobilidade e conhecimento do terreno. Então, seu papel seria de símbolo vivo da possibilidade de se derrotar as Forças Armadas. Utilizando tal símbolo, a propaganda revolucionária, nas cidades e nos campos, iria estimulando a união de todas as forças contrárias à ditadura, até sua derrubada. Ou seja, o exército revolucionário se formaria a partir do exemplo dado pela coluna, mas não em torno da coluna.
É uma concepção que ninguém tinha enunciado até então. Lamarca a lançou”.
Leia, abaixo, outras percepções de Lungaretti sobre o Lamarca que ele conheceu
O Legado de Lamarca:
“O mesmo de Tiradentes: sua visão de que deveria dedicar a vida e arriscar-se à morte para concretizar seus ideais. Mesmo que travando uma luta tão desigual, com chances ínfimas de êxito no começo e nenhuma no final. Na boca dele também caberia o "dez vidas eu tivesse, dez vidas eu daria" do inconfidente”.
Pelo que Lamarca lutaria hoje:
“É uma incógnita. Com certeza, defendendo sempre o povão, os trabalhadores e os excluídos. Era com eles que se identificava -- tinha muito orgulho de ser filho de sapateiro, não de abastados, e mesmo assim haver chegado aonde chegou na carreira militar. Ficávamos sensibilizados ouvindo-o falar da pena que sentia da gente comum oprimida pelos israelenses, quando integrou a missão da ONU em Suez. E não necessariamente por meio da luta armada, pois ele estava bem consciente das dificuldades inerentes, mesmo quando se combate uma ditadura. E detestava perdas inúteis.
Então, o mais provável é que hoje atuasse dentro dos limites de uma democracia. Mas, claro, é só minha avaliação pessoal”.
Mortes:
“Destacando poucos episódios da sua vida, evitei falar sobre o pior deles, a decisão de matarem o ten. Alberto Mendes Jr. -- até compreensível para quem priorizava a salvação dos seus comandados, mas politicamente desastrosa. Seria melhor terem corrido o risco de deixá-lo vivo. Já o atentado ao QG do II Exército no qual morreu o recruta Kotzel, na minha avaliação, nada teve a ver com o Lamarca. Levando em conta datas e outros detalhes, concluí que seu envolvimento (como autor da sugestão) foi apenas boato”.
Imprensa:
“Quando falo na dificuldade de se travar uma luta com tamanha desigualdade de forças e em circunstâncias tão dramáticas, na verdade estou expondo o motivo que me levou a ser mais condescendente com ele. Quando a imprensa caiu matando sobre sua memória naquele episódio da anistia e promoção a coronel, segui meu impulso de a defender. Foi mais instinto do que decisão pensada. E, desde então, tenho procurado equilibrar os pratos da balança, transcendendo as mágoas pessoais”
Morte de Lamarca:
“Neste sábado (17) se completarão 40 anos da morte do comandante Carlos Lamarca, que estava debilitado e indefeso quando foi covardemente executado pela repressão ditatorial no sertão baiano, em 17 de setembro de 1971, numa típica vendetta de gangstêres. O que há, ainda, para se dizer sobre Lamarca, o personagem brasileiro mais próximo de Che Guevara, por história de vida e pela forma como encontrou a morte? Foi, acima de tudo, um homem que não se conformou com as injustiças do seu tempo e considerou ter o dever pessoal de lutar contra elas, arriscando tudo e pagando um preço altíssimo pela opção que fez. Teve enormes acertos e também cometeu graves erros, praticamente inevitáveis numa luta travada com tamanha desigualdade de forças e em circunstâncias tão dramáticas”.
Melhores momentos:
“Mas, nunca impôs a ninguém sacrifícios que ele mesmo não fizesse. Chegava a ser comovente seu zelo com os companheiros -- via-se como responsável pelo destino de cada um dos quadros da Organização e, quando ocorria uma baixa, deixava transparecer pesar comparável ao de quem acaba de perder um ente querido. Dos seus melhores momentos, dois me sensibilizaram particularmente. Logo depois do Congresso de Mongaguá (abril/1969), quando a VPR saía de uma temporada de luta interna e de quedas em cascata, o caixa estava a zero e a rede de militantes, clandestinos em sua maioria, carecia desesperadamente de dinheiro para manter as respectivas fachadas -- qualquer anomalia, mesmo um atraso no pagamento de aluguel, poderia atrair atenções indesejáveis. Mas, o chamado grupo tático fora o setor mais duramente golpeado pelas investidas repressivas. Então, quando se planejou a expropriação simultânea de dois bancos vizinhos, na zona Leste paulistana, o pessoal experiente que sobrara não bastava para levá-la a cabo. Eu e os sete companheiros secundaristas que acabáramos de ingressar na Organização fomos todos escalados -- na enésima hora, entretanto, chegou a decisão do Comando, que me designou para criar e coordenar um setor de Inteligência, então fiquei de fora. Lamarca, procuradíssimo pelos órgãos repressivos, fez questão de estar lá para proteger os recrutas no seu batismo de fogo. Os outros quatro comandantes tudo fizeram para demovê-lo, em nome da sua importância para a revolução. Em vão. A lealdade para com a tropa nele falava mais alto. Depois de muita discussão, chegou-se a uma solução de compromisso: ele não entraria nas agências, mas ficaria observando à distância, pronto para intervir caso houvesse necessidade. Houve: um guarda de trânsito, alertado por transeunte, postou-se na porta de um dos bancos, arma na mão, pronto para atingir o primeiro que saísse.
Lamarca, que tomava café num bar a 40 metros de distância, só teve tempo de apanhar seu .38 cano longo de competição, mirar e desferir um tiro dificílimo -- tão prodigioso que, no mesmo dia, a ditadura já percebeu quem fora o autor. Só um atirador de elite seria capaz de acertar.
Segundo o Darcy Rodrigues, foi a vida dele que Lamarca salvou. O próprio, contudo, contou-nos que seria um dos novatos o primeiro alvejado.
Como resultado, a repressão teve pretexto para fazer de Lamarca o inimigo público nº 1 -- e, claro, o fez. A imagem dele foi difundida à exaustão, obrigando-o a redobrar cuidados e até a submeter-se a uma cirurgia plástica.
Também teve de brigar muito com os demais dirigentes e militantes, para salvar a vida do embaixador suíço Giovanni Butcher, quando a ditadura se recusou a libertar alguns dos prisioneiros pedidos em troca dele e ainda anunciou que o Eduardo Leite (Bacuri) morrera ao tentar fugir.
Dá para qualquer um imaginar a indignação resultante -- afinal, as (dantescas) circunstâncias reais da morte do Bacuri ficaram conhecidas na Organização.
Mesmo assim Lamarca não arredou pé, usando até o limite sua autoridade para evitar que a VPR desse aos inimigos o monumental trunfo que as Brigadas Vermelhas mais tarde dariam, ao executarem Aldo Moro. O episódio foi tão traumático que ele acabou deixando a VPR.
E, no MR-8, novamente divergiu da maioria dos companheiros -- quanto à sua salvação.
Pressionaram-no muito para que saísse do Brasil, preservando-se para etapas posteriores da luta, pois em 1971 nada mais havia a se fazer. Aquilo virara um matadouro.
Conhecendo-o como conheci, tenho a certeza absoluta de que não perseverou por acreditar numa reviravolta milagrosa. Em termos militares, suas análises eram as mais realistas e acuradas. Nunca iludia a si próprio.
O motivo certamente foi a incapacidade de conciliar a idéia de fuga com todos os horrores já ocorridos, a morte e os terríveis sofrimentos infligidos a tantos seres humanos idealistas e valorosos. Fez questão de compartilhar até o fim o destino dos companheiros, honrando a promessa, tantas vezes repetida, de vencer ou morrer.
Doeu -- e como! -- vermos os militares exibindo seu cadáver como troféu, da forma mais selvagem e repulsiva.
Mas, ele havia conquistado plenamente o direito de desconsiderar fatores políticos e decidir apenas como homem se preferia viver ou morrer.
Merece, como poucos, nosso respeito e admiração.

Silêncio, a França tem ouvidos



Silêncio, a França tem ouvidosFoto: Divulgação

CAMPEÃO EUROPEU EM INTERCEPTAÇÃO DE TELECOMUNICAÇÕES, O PAÍS SE TORNOU UM ESPIÃO DESCARADO EM NOME DA LUTA CONTRA O TERRORISMO.

11 de Setembro de 2011 às 16:59
Roberta Namour, correspondente do 247 em Paris
Quem aterriza pela primeira vez no aeroporto Roissy-Charles de Gaulles, em Paris, pode se impressionar com as dezenas de militares que transitam diariamente pelos saguões, fortemente armados com um fuzil. Mas a cena se torna banal depois de alguns dias em solo parisiense. Eles estão por todas as partes. Embaixo da torre Eiffel, nas escadarias do Sacre Cœur, nas estações de metrô. De todas as nações da Europa, a França sempre foi a mais paranóica, talvez pelo fato de ter sofrido atentados terroristas da década de 80. Dali surgiu sua primeira lei anti-terrorista em 1986. Mas a queda das torres gêmeas em Nova York foi a responsável por transformar a paisagem urbana e o Código Penal do país da liberté. Os militares uniformizados que reforçam o policiamento são apenas uma pequena aparte visível dessa mudança de comportamento da França.
O País se transformou em um enorme Big Brother desde então. Hoje a França é a campeã europeia em interceptação de telecomunicações. Em 2009, a terra dos direitos humanos fez quase 515 mil pedidos de acessos aos « logs » (quem ligou ou mandou e-mail para quem, quando, onde, por quanto tempo) mantido pelos operadores de telefonia fixa e móvel e provedores de serviços de internet. A título de comparação, o país mais populoso da UE, a Alemanha, fez apenas 12,7 mil solicitações do tipo, ou 42 vezes menos que a França.
A invasão de privacidade em nome da segurança nacional foi ainda mais além, em 2006. Criada pelo então ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, a Lei sobre a Luta contra o Terrorismo (LCT) se estende a obrigação de conservar os "dados de tráfego" de cybers cafés. Ela também permite que as agências anti-terrorismo possam acessá-los sem nenhum controle judiciário.
Atualmente, a triagem dos "inimigos" do Estado é feita por um órgão em operação desde 1° de julho de 2008. A Direção Central de Inteligência Interna, o DCRI, nasceu da fusão de dois serviços de vigilância do ministério do Interior. Quase três mil pessoas usam seus poderes absolutos na luta contra o terrorismo, mas também no controle de empresas privadas, de manifestações políticas e de jornalistas.
No início de setembro, o ministro do Interior, Claude Guéant, reconheceu que as comunicações telefônicas do jornalista do Le Monde Gérard Davet foram interceptadas. Ele é um dos autores do livro "Sarko m'a tuer", publicado recentemente. A obra acusa o presidente da França de ter recebido envelopes com dinheiro da herdeira da L’Oréal, Liliane Bettencourt, que tem hoje mais de 80 anos. Tudo indica que essa é uma prática regular do governo francês. E pensar que o Reino Unido parou com o escândalo das escutas ilegais feitas pelo jornal News of The World, do grupo de Ruppert Murdoch.
O alcance do Estado vai mais longe com as câmeras de vigilância que estão por todas as partes. O país pretende triplicar o número delas de 20 mil a 60 mil em 2011 – 1 mil só em Paris.

Três mortos em hotel de luxo na Bahia



Três mortos em hotel de luxo na BahiaFoto: Divulgação

SECRETARIA DE SAÚDE DA BAHIA CONFIRMOU SETE CASOS DE MENINGITE DO TIPO C, LEVANDO TRÊS VÍTIMAS À MORTE, NO COMPLEXO HOTELEIRO DE SAUÍPE.

Por Agência Estado
11 de Setembro de 2011 às 20:13Agência Estado
A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) confirmou hoje a ocorrência de sete casos de meningite meningocócica do tipo C - o tipo mais grave da doença -, no município de Mata de São João, distante pouco mais de 100 quilômetros de Salvador. Destes três casos resultaram em mortes, sendo as vítimas dois homens e uma mulher. A secretaria também informou que todos os registros são de funcionários do Complexo Hoteleiro de Sauípe. Não haveria ocorrências entre hóspedes dos hotéis que integram o referido complexo e outros moradores da região.
Conforme a Sesab, a partir do conhecimento do primeiro caso, ocorrido no último domingo, dia 4, o Estado e as prefeituras dos municípios de Camaçari, Mata de São João e Entre Rios teriam iniciado a quimioprofilaxia, sob o comando do coordenador da Vigilância Epidemiológica da Bahia, Juarez Dias, para todas as pessoas que tiveram contato direto com os trabalhadores que apresentaram os sintomas da doença, tanto no ambiente de trabalho quanto em suas residências.
As mortes ocorreram na quarta-feira, dia 7; sexta-feira, dia 9, e ontem, 10, mesmo período em que se realizou no local o Sauípe Folia, espécie de carnaval fora de época, que atrai um número bem maior de turistas e baianos para a região. Os demais infectados estão internados no Hospital Couto Maia, em Salvador, unidade médica de referência para o tratamento de doenças infecto-contagiosas.
Juarez Dias explicou que não há motivos para alarme, porque não se configura uma situação de surto. Entretanto ele admite que o número de casos - localizados em uma única região - foge à normalidade.
Cerca de 1.800 pessoas já teriam recebido medicação preventiva, e nenhum novo caso ocorreu nas últimas 24 horas.
Como medida complementar, a administração do Complexo Hoteleiro Sauípe, anuncia que está programando para os próximos dias a vacinação de todos os funcionários. A Sesab acrescenta que a medida mais eficiente para bloquear o surgimento de novos casos é através do uso de antibióticos, pois a vacina não oferece proteção imediata.

11/9: a dor presente e a culpa ausente nos Estados Unidos



11/9: a dor presente e a culpa ausente nos Estados UnidosFoto: Reuters

LADO A LADO, BUSH E OBAMA HONRARAM OS 2.983 MORTOS NO ATENTADO ÀS TORRES GÊMEAS. NO ENTANTO, NENHUMA PALAVRA FOI DIRIGIDA AOS 112 MIL INOCENTES MORTOS E OUTROS TANTOS TORTURADOS OU MUTILADOS NO IRAQUE E NO AFEGANISTÃO

11 de Setembro de 2011 às 18:43
247 – Na manhã deste domingo, os Estados Unidos choraram pela data que marca os dez anos do dia mais amargo de sua história. Lado a lado, discursaram Barack Obama, presidente do país, e seu antecessor George W. Bush, em homenagem às 2.983 vítimas do atentado terrorista às Torres Gêmeas, ocorrido em 11 de setembro de 2001.
Bush, que lançou os Estados Unidos a duas guerras paralelas, a do Iraque e a do Afeganistão, tentou confortar as vítimas do atentado citando uma carta enviada pelo ex-presidente Abraham Lincoln à mãe, que perdeu cinco filhos na Guerra da Secessão. "Qualquer palavra pode ser fraca para falar sobre uma dor tão profunda, mas digo, como consolo, que eles morreram por uma República. Por esta razão, eu peço a Deus que reduza a sua dor."
Obama mencionou Deus, embora a intenção dos organizadores do evento fosse retirar qualquer caráter religioso da passagem do decênio do 11 de setembro. "Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia. Pelo que não temeremos, mesmo que a terra seja retirada debaixo de nossos pés, que as montanhas sejam levadas até o oceano", disse o presidente ao ler o Salmo 46 da Bíblia. "Deus está conosco. Sabemos que houve guerras, que há guerras, e sabemos que ainda sim Deus será sempre exaltado entre as nações."
E a dor alheia?
Obama também lembrou os bombeiros de Nova York, que ajudaram a resgatar as vítimas do World Trade Center por terem “ensinado a coragem” aos americanos. Mas não mencionou a covardia de uma invasão injustificada a outro país, que deixou um número de mortos quase 40 vezes maior do que o do WTC. De acordo com o site Iraq Body Count, até agora já foram mortas 111.938 pessoas no Iraque, em decorrência da invasão americana. Invasão, diga-se de passagem, ancorada numa mentira: a das armas de destruição em massa.
Em relação às vítimas da resposta americana com a “Guerra ao Terror”, nenhuma palavra foi dita por Bush – este, sim, tido por muitos como o maior terrorista da era moderna. Afora as mortes no Iraque e no Afeganistão, Bush corroeu o patrimônio moral dos Estados Unidos com as cenas degradantes da tortura nas prisões de Abu Graib, no Iraque, e de Guantánamo, em Cuba.
Depois de Bush, mesmo aqueles que sempre admiraram os Estados Unidos e amaram Nova York, passaram a enxergar a face obscura de um Império decadente.

Carlos Lupi já é fritado na "panella" de Dilma



Carlos Lupi já é fritado na Foto: Divulgação

MINISTRO DO TRABALHO AFASTOU SEU CHEFE DE GABINETE, MARCELO PANELLA, INVESTIGADO POR REPASSES IRREGULARES DO FUNDO DE AMPARO AO TRABALHADOR; HÁ O TEMOR DE UMA AÇÃO DA PF CONTRA ESQUEMAS DO PDT NO GOVERNO FEDERAL; FAXINA CONTINUA

11 de Setembro de 2011 às 18:37
247 – Depois de uma relativa calmaria em Brasília, que deu a impressão de que a “faxina” contra a corrupção havia chegado o fim, o cheiro de fritura volta a ser sentido na capital federal. E quem está na panela é o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Ou melhor: na “panella”. Isso porque o pivô de um possível novo escândalo no governo federal se chama Marcelo Panella, que, ao mesmo tempo, é tesoureiro nacional do PDT e chefe de gabinete do ministro do Trabalho.
Panella, segundo informa o colunista Claudio Humberto, um dos mais influentes de Brasília, já estaria sendo investigado pela Polícia Federal em função de repasses irregulares do bilionário Fundo de Amparo ao Trabalhador, uma das fontes de financiamento do BNDES, para a Fundação Pró-Cerrado. Desconhecida, esta fundação estaria recebendo recursos para qualificação profissional, sem prestar as contrapartidas necessárias. Um esquema não muito diferente do que deu origem à Operação Voucher, no Ministério do Turismo, focada em convênios irregulares também para qualificação profissional.
Lupi já foi, inclusive, chamado pelo Palácio do Planalto para prestar esclarecimentos sobre os negócios de Panella, que, neste momento, está erguendo uma mansão de alto luxo na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Receoso de uma ação da PF no Ministério, Lupi afastou seu chefe de gabinete para tentar se preservar no cargo, no qual é mantido pela base relativamente coesa do PDT – Lupi tem o apoio de Paulinho da Força, que comanda o partido em São Paulo. No entanto, já enfrenta a oposição do deputado Brizola Neto, eleito no Rio de Janeiro, e do senador Cristovam Buarque, do Distrito Federal.
Distante de Dilma
Embora a origem de Dilma seja o PDT de Leonel Brizola, ela nunca manteve uma relação próxima com Lupi. Ao contrário, quase não há afinidades entre os dois. Nos últimos anos, Lupi teve a sorte de contar com os bons indicadores do Caged, o cadastro de empregos formais do Ministério do Trabalho – só em agosto foram mais de 200 mil vagas abertas. Mas, apesar dos bons números, ele praticamente não teve audiências reservadas com Dilma nestes seus oito primeiros meses de governo.
Se vier a cair, Lupi será o quinto ministro demitido na “faxina” presidencial – todos, por sinal, herdados do governo do presidente Lula. O primeiro foi o todo-poderoso Antônio Palocci, da Casa Civil, seguido de Alfredo Nascimento, dos Transportes, de Nelson Jobim, da Defesa, e de Wagner Rossi, da Agricultura. Também balançam Pedro Novais, do Turismo, e Mario Negromonte, das Cidades. Lupi é mais um a engrossar a lista.

“OS LÍBIOS AMAVAM GADDAFI” – DIZ BERLUSCONI


DOMINGO, 11 DE SETEMBRO DE 2011


11/9/2011, *MK Bhadrakumar, Indian Punchline
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

Sobre a Líbia, o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi deveria ter falado há seis meses. A Itália conhece bem o Maghreb.

Que sentido tem dizer agora o que disse na 6ª-feira? Pelo menos, registra o que todos os governos ocidentais sabem, mas não dizem – “Na Líbia, não houve levante popular. Alguns políticos ocidentais poderosos decidiram iniciar uma nova era, derrubando Gaddafi. Não houve levante popular na Líbia. Gaddafi era amado pelos líbios, como vi quando estive na Líbia” [1].

Berlusconi é político esperto. Não é ideólogo, claro que não, que criticasse a doutrina da “intervenção humanitária” usada como pretexto para uma intervenção ocidental. O mais provável é que tenha sido induzido a falar porque há risco de o novo regime em Trípoli favorecer as empresas de petróleo de França e Grã-Bretanha (que comandaram a ‘coalizão de vontades’ da OTAN na Líbia), em detrimento da Itália, que foi parceira privilegiado da Líbia durante a era Gaddafi. A era colonial, no século 19, foi repleta dessas rivalidades entre potências coloniais europeias que disputavam os despojos de guerra na África. No século 21, a história se repete.

Mas a fala de Berlusconi traz também um alerta – o regime da OTAN em Trípoli não tem base popular e dependerá do apoio militar da OTAN. Que tipo de estabilidade poderá ter tal arranjo?

As coisas tomarão provavelmente o rumo do que parece estar acontecendo no Iêmen. Há semelhanças entre as situações da Líbia e do Iêmen. A disputa entre clãs é o centro da narrativa política; petróleo e geopolítica misturam-se; a localização geográfica é estratégica; os grupos mais bem organizados do país são extremistas, o que faz diferença, caso o país entre em anarquia. Já há notícias de que elementos da al-Qaeda estão cruzando a fronteira para a Síria, e tomando posição para recolher vantagens da volatilidade naquele país.

O que acontece se Síria, Líbano e Iraque se converterem em teatros de dramas correlacionados? A violência que mutilou a Líbia já está respingando no Sinai. O Egito está perdendo o controle sobre a Península do Sinai e, como escreveu um comentarista israelense ontem, angustiado, o espaço que “separa” Israel e Egito está-se convertendo em “fronteira abandonada aos contrabandistas de armas, traficantes de seres humanos e refugiados africanos” [2].

O mesmo se pode dizer das fronteiras entre Iêmen e Arábia Saudita, nas regiões dominadas pelos xiitas. Não surpreende que a União Africana recuse-se a aplaudir a derrubada de Gaddafi [3]. (...)

Emb. MK Bhadrakumar
Embaixador *MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quaisThe Hindu e Asia Online. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante comunista de Kerala.



Notas dos tradutores