segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Assassino disfarçado

 


Miami (EUA) - O atual governador da Flórida, Rick Scott, vem sendo muito combatido pelas medidas adotadas em seu primeiro ano de governo. Tanto que figura entre os governadores de estado piores avaliados pelos eleitores. O republicano que venceu uma eleição disputada com a democrata Alex Sink, no entanto, vem fazendo um bom trabalho no que se refere ao combate das chamadas “drogas legais”.

Dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA confirmam que em 2009 o número de mortes provocadas pelo uso indiscriminado e equivocado de medicamentos fortes pela primeira vez superou o de mortes causadas em acidentes de trânsito no país. E Scott está jogando duro com os traficantes destas drogas.


Enquanto as campanhas pela educação no trânsito somadas aos aperfeiçamentos nos sistemas de segurança dos veículos estão colhendo resultados positivos, cresce a preocupação das autoridades americanas com este fenômeno que vem tomando conta do país.

As vítimas pertencem a vários perfis e faixas etárias. Vão desde os jovens que usam OxyContin, Vicodin, Xanax, Soma e Fentanil, entre outros remédios, misturados ao álcool para dar “o maior barato” até pessoas de mais idade que são obrigadas a usar estes medicamentos controlados para combater a dor nas costas ou nos joelhos e acabam tornando-se viciadas. É o típico caso do remédio que mata o doente.

Agora, as autoridades estão enfrentando os traficantes para tentar evitar o uso indevido destas substâncias. E é uma luta árdua. Estes medicamentos podem ser comercializados com receitas pela Internet, através de farmácias e de médicos inescrupulosos e por meio de traficantes que estão especializando-se neste tipo de substâncias, que estão causando mais mortes do que a cocaína e a heroína combinadas.

Agentes do DEA (Drug and Enforcement Agency), órgão policial de combate ao tráfico de drogas e entorpecentes, estão preocupados com este aumentos e vem unindo esforços com os departamentos de polícia locais a fim de coibir a distribuição maciça destes medicamentos para pessoas que não precisam tomá-los.
Recentemente, foram desmanteladas no sul da Flórida várias clínicas especializadas no fornecimento dos chamados painkillers. Em uma delas, foram presos dois irmãos e a mãe, que não tinham nenhum tipo de formação médica e/ou farmacêutica. Eles apenas viram neste mercado uma fácil maneira de obter lucros. E que lucros! Moravam numa mansão em Wellington, dirigiam carros de luxo e desfilavam de iates. Agora, porém, tudo mudou.

Assim como mudou para o brasileiro David Britto. O rapaz de 28 anos, ex-Marine, foi condecorado em 2010 como o Policial do Ano em Boynton Beach, cidade do condado de Palm Beach, por ter salvado um menino do afogamento. No entanto, em julho deste ano, uma investigação interna flagrou o braso-americano com 500 gramas de metamfetamina. Ele compareceu à corte, desclarou-se inocente e foi mandado para a prisão familiar sob o pagamento de uma fiança de US$ 100 mil. Nos EUA, você pode pagar somente 10% do valor da fiança para cumprir a prisão domicilair e assina um termo de compromisso para saldar o resto da dívida. Ele, porém, tinha outros planos. O rapaz arrebentou a tornozeleira eletrônica de monitoramento, comprou uma passagem e embarcou para Brasília, aproveitando-se de ter dupla cidadania. Um juiz federal decretou ordem de prisão para o fugitivo.

Mas nem tudo é ruim quando se trata de comunidade brasileira. Em Pompano Beach, no sul da Flórida, por exemplo, uma jovem brasileira protagonizou um ato de coragem. Como funcionária de uma farmácia local, ela desconfiou de um sujeito que entrou no estabelecimento para tentar comprar os medicamentos conhecidos no Brasil como tarja preta. Imediatamente ligou para a polícia do condado de Broward e os agentes prenderam o traficante com vários comprimidos para distribuir. Entrevistada pela afiliada local da CBS, Aline Leça disse apenas ter cumprido seu dever de cidadã ao tirar das ruas um mau elemento. Realmente, um exemplo a ser seguido.

Faltam visão crítica e instrumentos legais contra corruptor, diz Hage


 

Para o ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU), Jorge Hage, empresários também são culpados por desvio de verba pública, mas não se discute punição deles porque Congresso e imprensa seriam 'expressões do poder econômico'. Em entrevista à Carta Maior, Hage sugere que internet mobilize sociedade para pressionar pela votação de leis contra corruptores.

BRASÍLIA - O escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo escreveu certa vez, numa de suas crônicas periódicas, que o brasileiro parece encarar a corrupção um pouco como faz com a homossexualidade: só o passivo é. O recente noticiário político, recheado de páginas sobre má conduta ética de um lado só, dá motivo à curiosa comparação.

“Quem compra é quem detém o poder econômico. E o poder econômico sempre fica menos exposto à crítica”, afirma o ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU), Jorge Hage.

Em entrevista exclusiva à Carta Maior, Hage diz que, no Brasil, o poder econômico controla dois dos principais responsáveis por definir aquilo que o país debate. Os veículos de comunicação, que antes de tudo são empresas. E o Congresso, aonde dificilmente se chega sem doação empresarial em eleições.

Para ele, o cerco aos corruptores, tão responsáveis quanto os corruptos pelo roubo de dinheiro público, requer uma intensa mobilização social. Só assim, pressionados, os parlamentares aprovariam o fim de contribuições empresariais para campanhas e uma lei para punir pessoas jurídicas corrompedoras, dois projetos parados no Congresso.

Na entrevista que o leitor verá a seguir, Hage fala sobre a esperança de ver a internet - e até setores da imprensa - ajudando a mobilizar a sociedade contra os corruptores. Explica o que a CGU consegue fazer com "instrumentos modestos". E comenta os atos contra a corrupção realizados no 7 de setembro. "Foram muito bem vindos e a favor do governo".

Por que no Brasil, em matéria de corrupção, só aparece quem se vende e não quem compra?

Jorge Hage: Em primeiro lugar, porque quem compra é quem detém o poder econômico. E o poder econômico sempre, no Brasil, e talvez no mundo inteiro, mas nas democracias mais maduras essa diferença de tratamento tende a se atenuar, fica menos exposto à crítica do que o poder político. E uma das razões é o fato de que os próprios meios de comunicação são detidos pelo mesmo poder econômico. Além disso, na minha visão, os problemas de corrupção começam no próprio financiamento dos partidos e das campanhas políticas. Se nós vivemos num sistema capitalista, onde o capital é quem financia a constituição do poder político, ou seja, é quem escolhe quem vai exercer o poder político, é mais do que óbvio que o problema tem raiz aí mesmo.

Como enfrentar isso?

Hage: Medidas como financiamento exclusivo de campanhas e partidos poderiam ajudar, mas é extremamente difícil de aprovar. Mantido o marco do financiamento privado, seria possível ampliar enormemente a sua transparência, por exemplo, tornando obrigatória a divulgação do nome dos financiadores e do destinatário do financiamento antes das eleições, e não somente depois, como acontece hoje. Mas, enquanto não conseguirmos passar ao financiamento público, eu edefendo tetos bem mais baixos do que os atuais, tanto para financiamento da pessoa física quanto da pessoa jurídica.

Quanto seria um limite aceitável
?

Hage: Não sei, mas deve ser discutido.

O senhor está na CGU há nove anos, já deve ter se debruçado sobre muitos casos de irregularidades. O que conta mais: quem está na máquina e monta um esquema ou quem está fora, fustigando?

Hage: Nunca pensei em fazer um gol de desempate nesse jogo. Acho que há responsabilidade dos dois lados. O que está faltando hoje é não só um foco maior da visão crítica para o lado do corruptor, como também a construção de instrumentos melhores para combater esse lado. O que a CGU pode fazer em relação a empresas que pagam propina, cometem qualquer tipo de ilícito em licitações? São apenas aquelas penalidades previstas na lei 8666, que são a suspensão por até dois anos e a declaração de inidoneidade para contratar com o serviço público ou para participar de licitações. O que fizemos com esse instrumento modesto? Passamos a dar utilização máxima. Instauramos processos contra fornecedores sempre que há casos mais graves. E colocamos no site um cadastro que busca reunir todas as penalidades que existem contra empresas aplicadas por todos os órgãos públicos do Brasil. O espírito da lei é fazer com que a empresa punida por um órgão não possa fornecer a mais nenhum órgão, e não só àquele que lhe aplicou a pena.

E o cadastro funciona? Os órgãos deixam de assinar contratos, cancelam contratos?

Hage: Amplamente. Aconteceu um caso concreto com a Valec [estatal da área de Transportes atingida por denúncias]. A Valec contratou uma empresa, a Dismaf, que tinha sido declarada inidônea pela ECT [Correios]. Comuniquei o ministro dos Transportes, que comunicou a Valec, e foi desfeito o contrato. Mas são poucos os instrumentos. O que seria o mais importante em muitos casos? Conseguir aplicar multas pesadas, não as irrisórias que existem nos contratos. Multas que atinjam um percentual do faturamento da empresa.

Esse tipo de multa está previsto no projeto de responsabilização das empresas por crimes contra a administração pública que o governo mandou ao Congresso há 17 meses. Até agora, o projeto não andou. O que é preciso fazer para que ele ande?

Hage: Mobilização da opinião pública, social. Via internet e imprensa, dois grandes instrumentos de mobilização.

Mas o senhor disse antes que a imprensa é expressão do poder econômico...

Hage: Mas os órgãos de imprensa também não são todos homogêneos, monolíticos. Tem jornalistas influentes dentro de determinados órgãos de imprensa que escrevem o que querem - alguns, não são todos -, que conseguem furar o bloqueio do que seria o interesse do poder econômico. E os próprios jornais, até para que se mantenham com o mínimo de credibilidade, procuram, aqui e ali, abrir brecha ao seu próprio interesse. Nós temos o exemplo recente da Ficha Limpa. A lei é contrária a grandes segmentos do poder econômico e a parlamentares que representam o poder econômico, sem dúvida, mas a imprensa deu cobertura. Porque houve uma grande mobilização da sociedade. Há outras formas dessa mobilização se expressar, e aí muitas vezes a imprensa vai junto.

A gente não está num momento bom para isso ser colocado de forma mais firme no debate público, com o tema corrupção tão em evidência? E, mesmo assim, não se viu isso ainda...

Hage: É verdade, não se chegou lá ainda.

Há um outro projeto na Câmara, mais antigo que o do governo, do deputado Henrique Fontana, que tipifica o crime de corrupção ativa...

Hage: Mas a corrupção ativa já é tipificada, no Código Penal. O que falta tipificar é enriquecimento ilícito de funcionário público.

O projeto tipifica a atuação das empresas corruptoras...


Hage: Pronto, é isso aí, a pessoa jurídica. Esse é o ponto. No entendimento da CGU, será muito mais difícil conseguir tipificar como autor do crime uma pessoa jurídica. Não é da tradição do sistema jurídico brasileiro a instituição de tipos criminais cujo agente seja pessoa jurídica. Na nossa tradição, o crime é da pessoa física, do homem. Temos um só exemplo, mas com pouca aplicação prática, que é na área do crime ambiental. A experiência não é boa, não deu frutos, porque não se coaduna com a tradição do sistema jurídico brasileiro. Por isso, nós fizemos uma opção consicente de propor o crime como ilícito civil, que pega inclusive o patrimônio da pessoa jurídica.

E apesar disso...

Hage: Está parado lá, até hoje.

O senhor mencionou antes que o financiamento público é uma medida estrutural que ajudaria a combater a corrupção. Mas eu não tenho memória de, até agora, algum grande empresário vir a público para defendê-lo.


Hage: Vai ser difícil...

O senhor acha que mesmo aquele empresário de boa índole não tem disposição para mexer nesse vespeiro, e aí fica mais difícil de criar na sociedade um clima que force o Congresso a fazer algo que o Congresso, no fundo e em sua maioria, não quer fazer?

Hage: Sugeriria a você levar essa ideia ao Instituto Ethos, com quem nós temos um diálogo mais fácil, temos parceria.

Como é no exterior? O dilema corruptor-corrompido existe também?


Hage: O que posso dizer, pela minha vivência nesses fóruns internacionais, é que existe uma grande preocupação dos organismos internacionais que discutem combate à corrupção, de engajar o setor privado nessa luta. Mas ninguém, até hoje, conseguiu, na prática, desenvolver uma iniciativa concreta nessa direção. Nós, no Brasil, inclusive, estamos sendo pioneiros em algumas iniciativas. Nos seminários de que tenho participado, tem se discutido coisas assim: 'seria interessante oferecer estímulos para empresas que se comprometam a adotar posturas de integridade corporativa, como dar vantagens em licitações, benefícios fiscais, creditícios'. Eu digo, 'nessa aí, estou fora, nós não vamos fazer no Brasil'.

O senhor acha que combate à corrupção tem se prestado apenas à exploração política? Não há uma certa hipocrisia no ar, de alguns que levantam a bandeira?


Hage: Sem dúvida, mas não posso generalizar. Na Câmara tem 500 parlamentares, no Senado tem 80. Mas tem um grupo que realmente quer, eu não duvido da honestidade de propósitos destes parlamentares que estão na Frente. Agora, saber se eles têm força para levar a alguma conseuquência concreta é outra coisa. Adere a estes movimentos outro tipo de parlamentar que não tem absolutamente nada a ver com essa seriedade de propósito, que adere apenas de forma oportunista para criticar o governo. A gente vê certas figuas dos partidos de oposição que chega a ser uma piada aparecer para defender combate à corrupção.

O que achou de manifestações contra a corrupção do 7 de setembro?

Hage: Achei tímidas, ainda pouco representativas, mas muito bem vindas, por menores que sejam. Ainda que haja quem tente manipulá-las. Não é porque um parlamentar do PSDB, do DEM ou do PPS pretendeu utilizar aquele movimento para criticar o governo, que eu vou ser contra o movimento. De forma nenhuma. O movimento é muito bem vindo. E, quanto mais movimento contra a corrupção, melhor. Isso interessa ao governo, é bom para o governo - desde que se trate de um governo, como o nosso, que está realmente interessado em combater a corrupção, com todas as sua limitações, óbvias, naturais, inevitáveis, mas está empenhando. Essa é a posiçao inequívoca da presidenta Dilma Rousseff. De modo que, sendo assim, todos os movimentos que vêm nessa direçao, eu os encaro como movimentos de apoio ao governo.

A marcha dos zumbis


 

Se a expansão dos chamados emergentes continuar, e a renda per capita atingir os quase 38 mil dólares dos norteamericanos, o PIB global teria que sair dos US$ 70 trilhões para o patamar de US$ 420 trilhões. O custo para o mundo seria multiplicado por seis, com todas as conseqüências imagináveis. O atual padrão de consumo no planeta quer levar as compras à eternidade, mesmo sabendo com antecedência, que esta marcha pode ser a dos zumbis, fantasmas que vagam pela noite morta, quando o Planeta não suportar mais o peso do modelo. O artigo é de Najar Tubino.

Fantasmas que vagam pela noite morta (crença afro-brasileira)
É uma visão futurista. Milhões de zumbis vagando pelo planeta, a procura de suas mercadorias e marcas preferidas. A temperatura já subiu mais de 1 grau, estamos chegando no ano 2050. A população beira os 9 bilhões. O último bilhão todo integrado à classe média, inclui brasileiros, chineses, indianos, indonésios, africanos. Talvez isso aconteça em 2030, se considerarmos a visão dos executivos de empresas globais como Coca-cola ou McDonald’s. Mesmo o gigante financeiro Goldman Sachs, prevê que mais de 600 milhões de pessoas dos chamados países emergentes atingirão a classe média nos próximos 20 anos. Aliás, a China será a maior economia do mundo com PIB de 70 trilhões de dólares, seguida pelos Estados Unidos, com 40 trilhões, depois a Índia, seguida pelos cinco maiores europeus juntos, e em 5º lugar, o Brasil.

A preocupação de muitos estudiosos, pesquisadores e cientistas é sobre o impacto deste crescimento nas condições já degradas de Planeta. Mas essa não é a realidade da elite econômica deste mesmo Planeta. O que pensam os 1.011 bilionários da lista da Forbes, de 2010, encabeçada pelo mexicano Carlos Slim, dono da telefonia na América Latina (276 milhões de clientes), mas com negócios em petróleo, imobiliárias, turismo, resumindo: representa 40% da Bolsa de Valores do México, país com 112 milhões de habitantes, 50% na linha de pobreza. Certamente, em como manter o crescimento econômico indefinidamente, como pregam os clássicos da economia ortodoxa. Crescimento ao infinito, para um planeta fisicamente finito.

Número de milionários aumenta
As pesquisas divergem em detalhes, mas todas realizadas sobre a divisão da riqueza no mundo, apontam para menos de l% da população com 40% dos ativos. O estudo da Boston Consulting Group, de Nova York, registrou em 2010 de US$121,8 trilhões em ativos globais sob gestão, um crescimento de 8%, na comparação com o ano anterior. O número de famílias estava em 12,5 milhões, com um aumento liderado por Cingapura, uma ilha com 5 milhões de habitantes, mas o maior percentual de milionários do mundo. Seguida por Suíça, Qatar e Arábia Saudita, que registra o maior número de arquimilionários - possuem mais de 100 milhões de dólares investidos.

A definição de milionários na pesquisa envolveu 62 países, de pessoas com mais de 1 milhão de dólares, fora o patrimônio, investido em algum mercado. São 120 empresas globais administrando os investimentos dos milionários. Com um detalhe importante: US$7,8 trilhões investidos fora do país de origem. Quase a mesma cifra que está depositada nos bancos da Praça de Genebra(Suíça), que é de US$6,8 trilhões. Apesar da fama, a Suíça detém apenas 23% do mercado de fortunas “offshore”(fora de origem), no mundo.

Mais um número que auxilia na compreensão dos caminhos impostos ao Planeta nas últimas décadas, desde os chamados “30 gloriosos”, período entre 1950-1980, de grande crescimento econômico e riqueza na Europa e Estados Unidos. Trata-se de um levantamento realizado por Simon Johnson, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internaciona(FMI). Entre os anos 2000-2008, algumas pessoas no comando das 14 principais instituições financeiras do mundo, receberam em dinheiro (salário, bonificações e valor das ações vendidas) em torno de US$2,6 bilhões. Desse total US$2 bilhões foram recebidos pelas 5 mais bem pagas e também foram as peças principais na criação das estruturas de ativos de alto risco que levaram o sistema à beira do abismo. São elas: Sandy Weil, desenvolveu o Citigroup, que implodiu logo após sua saída; Hank Paulson, expandiu o Goldman Sachs, fez lobby para garantir mais alavancagem dos bancos, depois virou Secretário do Tesouro e ajudou a salvar os bancos; Angelo Mozilo, desenvolveu a Country Wide, peça central na concessão irresponsável de hipotecas; Dick Fuld, comandou o Lehman Brothers até a falência e Jimmy Cayune, comandou o Bear Stearns até a falência.

Os prejuízos públicos em comparação aos ganhos deles, ressalta Simon Johnson, foram gigantescos: 8 milhões de empregos nos Estados Unidos e cerca de US$ 6 trilhões, contando apenas o aumento das dívidas do governo federal americano.

Era do hiperconsumo
Esse modelo, agora, implantado nos países emergentes, já proporcionou uma nova vida para 447 mil milionários na China. Ou 126 mil famílias com disponibilidade de investir mais de 1 milhão de dólares na Índia. A classe média indiana será formada por 583 milhões de pessoas até 2030. Cerca de quase outro 500 milhões continuarão na linha da pobreza, conforme pesquisa do Banco Mundial – seria o terceiro maior país em termos populacionais, porém os números não traduzem a expressão do capitalismo desregulado, atualmente em voga na economia mundial. O que expressa um novo sentido às massas, segundo a visão do filósofo francês, Gilles Lipovetsky, um estudioso do consumismo, é a vontade de comprar, o “acesso democrático às marcas globais”

- A felicidade é o valor central, o grande ideal celebrado sem tréguas pela civilização consumista. Cada vez mais mercado, cada vez mais estimulações, viver melhor, cada vez mais indivíduo, cada vez mais exigência de felicidade”.

Vivemos a era do hiperconsumo, o reinado da mercadoria efêmera, o ápice do hedonismo, a vontade individual de viver, sem horizontes. Tudo isso multiplicado por cada membro da família, como a época é de “cada um com seus objetos”. Aumentou ainda mais com a expansão dos equipamentos eletrônicos, celulares e similares. A era do hiperconsumidor e do pluriequipamento. Mais de 5 bilhões de celulares, cerca de 245 milhões de computadores vendidos anualmente no mundo, 20 mil aviões e 10 mil navios circulando pelo globo, com 3 bilhões de passageiros aéreos. Além de 62 milhões de carros, já passamos de 1 bilhão em termos mundiais, 50 milhões de toneladas de papel, 240 milhões de toneladas de plástico e mais de 1 bilhão de toneladas de aço.

O mundo precisa de crescimento e o consumo das famílias é o motor que movimenta a economia. No caso dos Estados Unidos 70%. Mesmo assim, somando todo o consumo da Ásia, com mais de 2 bilhões de habitantes, ele atinge apenas 40% do consumo dos pouco mais de 310 milhões de estadunidenses.

Ocidentalização do mundo
Traçar um modelo de consumidor mundial é um dos objetivos deste texto, embasado em informações dos jornais de economia dos últimos dois anos. A versão é global porque as marcas são globais. Toda segunda-feira, Bob Macdonald, executivo-chefe da Procter & Gamble, formado na Academia Militar de West Point, se reúne com membros da sua equipe, na frente de um mapa mundi digital. Capaz de identificar a situação dos 250 principais produtos da corporação nos 50 maiores mercados disputados por eles.

Marcas que estão no avião do Faustão, na promoção da Rede Globo: fraldas Pampers, Gillet, Ariel, Pantene. São marcas bilionárias, puxadas pelas fraldas que vende US$8,8 bilhões no Planeta. O xampu divulgado por Gisele Bunchen (Pantene), rende US$3,1 bilhões. A P&G como é reconhecida fatura US$79 bilhões e tem 4,2 bilhões de clientes. Aumentou de tamanho em 2007 com a compra da Gillete por US$56 bilhões, representa 10% do seu faturamento

Até 2015 espera atingir 5 bilhões de clientes. Aposta nos emergentes. Quer os indianos consumindo Mach 3 (lâmina de barbear), ao invés de fazer a barba na rua, um costume tradicional na Índia. Os africanos devem usar produtos de higiene ocidentais. Os brasileiros mais pasta de dente, e os americanos mais branqueadores para os dentes. Em termos de faturamento, a rede de supermercados Walmart é a maior com 4,6 mil lojas espalhadas por vários continentes e US$420 bilhões em vendas. O último lance foi a compra de uma rede de supermercados na África do Sul.

As lanchonetes Mcdonald’s são 32 mil no mundo, sendo 1.300 na China e mais de 200 na Índia, que inclui cidades pequenas no interior, onde o aluguel é mais barato, e eles vendem o Mc Aloo Tikki, com ervilhas e purê de batata. Tudo pela ocidentalização global, como destaca o economista francês Daniel Cohen no livro, “A Prosperidade do Vício”.

- A elite mundial busca apenas um objetivo: tornar o modelo único, incluir costumes culturais, comida e bens duráveis.

É claro que o momento é de balanço no capitalismo desregulado, compensado pelo crescimento nos países que também procuram um lugar ao sol. Serão responsáveis pelo crescimento nos próximos anos. Um outro economista, também já foi chefe do FMI, Joseph Stiglitz, em seu livro, “O Mundo em Queda Livre”, onde aborda a crise de 2008, quando a banca internacional quase despencou precipício abaixo, traz uma informação importante. A renda dos americanos médios tem caído desde o ano 2000, em torno de 4% (está em torno de 38 mil dólares). O modelo implantado nos “30 gloriosos” de compras ilimitadas, baseada no crédito imobiliário, ou seja, minha casa vale tanto, posso pegar outro tanto emprestado. Furou, naufragou.

- Os americanos, diz ele, não podem mais viver neste modelo no século XXI. O consumo terá que ser reduzido em 10%, pelo menos.

Ou seja, a economia dos Estados Unidos vai continuar patinando por muito tempo, e nunca mais será a mesma. O problema como acentua o cronista do jornal The New York Times, Thomas Friedman, no livro “Quente, Plano e Lotado...” "é que surgiram muitos outros americanos e o Planeta não tem recursos suficientes para sustentar o modelo".

Vinho francês com gelo
Friedman na verdade não está somente preocupado com o mundo, mas com a perda da liderança dos Estados Unidos que deveriam “liderar a revolução verde”. Mas esse ainda é um detalhe. Afinal, todos têm direito ao crescimento e, por conseqüência, ao resto do pacote, que inclui modelos de todos os tipos: roupas, sapatos, malas, perfumes, carros, relógios, iates, vinhos, uísque, apartamentos (que agora estão com os preços reduzidos na Europa e nos EUA). As empresas globais mudam de foco. Os lucros não crescem no território de origem, então vamos onde ele está. As griffes famosas, Louis Vuitton, do conglomerado LVMH, do bilionário francês Bernard Arnaut (4 na lista da Forbes com 40 bilhões de dólares de patrimônio líquido, também é acionista do Carrefour), Gucci, do outro conglomerado francês PPR, e montadoras como a Mercedez Bens, a maior em vendas de carros de luxo, já se instalaram na China. A Mercedez transferiu o centro de criação do Japão para Pequim. O luxo é um mercado de US$238 bilhões, em termos globais.

Os chineses gastaram US$114 milhões em vinhos da região de Bordeaux, em 2010. Um banqueiro brasileiro jura que já viu chineses em Xangai tomando vinho francês caríssimo com gelo e emborcando uma taça, como se fosse “baijuu”, a cachaça nativa feita de arroz ou sorgo. Simples questão de adaptação. Afinal de contas, quem pagou US$232 mil em Hong Kong num leilão da Sotheby’s em 2010, por uma garrafa do Chateau Lafite, safra 1869, não está nem aí para parâmetros de preços ou convenções ocidentais Por sinal, os chineses milionários, onde já foi criada a categoria dos “princelings” (princepezinhos nascidos na era atual), acostumados a gastar US$1 mil numa garrafa de uísque escocês, também são apaixonados por relógios. Mantém a média de 4 Cartier por proprietário.

Um joalheiro privado de São Paulo, da Griftin, não atende ao público, tem uma definição psicológica para o caso:

- O desejo das pessoas é algo muito interessante. O desejo de comprar era irresistível para o dono desse relógio, que custa duas centenas de milhar de dólares, explica ele ao repórter do jornal Valor (ainda estava com a proteção na pulseira). Depois de satisfeito esse desejo, o objeto quase que perdeu totalmente o valor para ele”.

Pré-histórico do turboconsumidor
As compras podem ser impulsivas, principalmente depois que o império da publicidade se instalou no Planeta. Assim como o luxo se tornou um mercado bilionário, a publicidade abocanhou US$447 bilhões em 2010, 39,2% para a televisão, segundo os dados do Grupo Publicis, o terceiro maior do mundo que acabou de comprar a agência de publicidade DPZ, de São Paulo. O filósofo, Gilles Lipovetsky, diz que a publicidade nasceu em 1880, nos Estados Unidos – em 1882 a Coca-cola gastou 11 mil dólares para divulgar seu produto. Em 1929 foram quase US$4 milhões. As mercadorias, até então, eram vendidas anonimamente e a granel, na maioria dos casos. Sem embalagem, sem marca, em mercados localizados. Somente a partir de 1930 surgiram os supermercados. Embora ainda no final do século XIX, na França, surgissem os grandes magazines, como Le Bon Marché (1865).

Eram templos deslumbrantes, de luzes e cores, onde a mercadoria estava disponível diretamente aos consumidores, sem intermediários. A sensação de comprar e gastar já se tornava estimulante, sensual e gratificante. Segundo Gilles, o consumidor moderno começou o “shopping”, a olhar vitrines, nesta época. Nasceu o pré-histórico do turboconsumidor dos tempos atuais. Marca, embalagem, distribuição, mais a publicidade instauraram o que desde 1920 se decidiu chamar de “sociedade do consumo”, hoje, extrapolada ao máximo. A publicidade não vende mais uma mercadoria, vende uma visão do mundo, uma necessidade psicológica, uma vontade de viver ou de quase sucumbir, no caso daqueles que não tem a disponibilidade financeira para comprar, de fato, grande parte da população do mundo. Onde 1 bilhão moram em favelas, segundo a ONU, e 2 bilhões não tem acesso a água.

No caso do Brasil temos mais 35 milhões na classe média, mas 8 milhões não tem banheiro, e 40 milhões não tem água tratada em casa, conforme o IBGE. Sem contar os 14 milhões de analfabetos.

600 fábricas terceirizadasEntretanto, o modelo de consumismo está implantado e só cresce. A Coca-cola tem como objetivo em 2020 vender 30 bilhões de litros na China, onde detém 15% do mercado, é a líder no segmento dos refrigerantes. Os chineses tomam apenas 34 garrafas pequenas por ano, muito longe do líder, os mexicanos, que consomem 674. O Brasil é o quarto com 229 garrafas. A Nike, por exemplo, com suas 600 fábricas terceirizadas, em 48 países, montou seus centros de treinamento no Vietnã e Sry Lanka, depois de sucessivas denúncias de exploração de mão de obra infantil. Continuará sua expansão no modelo aprimorado de marca globalizada sem dispor de uma única fábrica própria, mas tendo 800 mil trabalhadores na confecção dos seus cobiçados tênis. Foram alvo das revoltas na Grã-Bretanha, recentemente.

Também pode ser o mercado de diamantes, que já movimentou US$65 bilhões, mas registrou queda depois da crise financeira, quando mais de mil joalherias fecharam as portas nos Estados Unidos – 40% do mercado, onde os noivos obrigatoriamente compram anéis de diamantes na consumação do compromisso. Voltou a crescer em 2010, porém as marcas globais que dominam o mercado, como a Tiffanys tiveram que entrar no negócio da mineração. A empresa abriu uma lapidadora de diamantes em Botsuana para diminuir os custos.

Quem está preocupado com a redução do faturamento (US$720 bilhões no mundo) são os executivos da indústria farmacêutica, não pela redução no número de doenças, pela quebra de patentes e venda de genéricos. Um Planeta degradado enfrenta cada vez mais o aumento de doenças, seja pelo crescimento da obesidade, já atinge 1,6 bilhão de pessoas no mundo, conforme dados da Organização Mundial de Saúde, sendo 400milhões de obesos, seja pelos efeitos da mudança climática, secas e inundações, que desorganizam os sistemas vivo.

PIB mundial vezes 6
Daniel Cohen fez uma conta futura sobre o crescimento do Planeta em 2050. Se a expansão dos emergentes continuar, e a renda per capita atingir os quase 38 mil dólares dos norteamericanos (dados de 2005), o PIB global teria que sair dos US$70 trilhões para o patamar de US$420 trilhões. O custo para o mundo seria multiplicado por seis, com todas as conseqüências imagináveis. Por exemplo, a Siemens, multinacional alemã, especializada em energia e saúde, faturamento de US$70 bilhões prevê para 2025 cerca de 29 megacidades com mais de 10 milhões de habitantes – atualmente são 21. Como definiu o presidente da empresa, Peter Loscher “serão imensas manchas humanas, com muitos problemas para resolver. As cidades no Planeta ocupam apenas l% da área e consomem 80% da energia.

Na contramão, o Relatório Repensando a Pobreza, divulgado pela ONU, no ano passado, apontava:

- Mais de 80% da população mundial vive em países onde os diferenciais de renda estão se ampliando. Os 40% mais pobres na população mundial reponde por apenas 5% da renda mundial, enquanto os 20% mais ricos representam 75%. Para os pobres do mundo, o lema negócios como sempre jamais foi uma opção aceitável”.

Ao mesmo tempo, em Dubai, o xeque Al Maktoum pretendia criar uma opção de investimento para ricos globais, lançou centenas de projetos imobiliários (mais de 400 cancelados no pós crise), mas um, mundialmente conhecido: o Burj Khalifa, o edifício mais alto com 834 metros. É preciso esclarecer que o nome oficial do prédio era Burj Dubai. Mas surgiu uma conta urgente do emirado para pagar no valor de US$10 bilhões, e o Khalifa de Abhu Dabi pagou e trocaram o nome do prédio, afinal o patrocinador pagou a conta. Símbolo do poder global envolve 1.044 apartamentos, 160 para um hotel com quartos projetados por Georgio Armani, piscinas, uma mesquita, a mais alta do mundo, em seus 200 andares de opulência.

Não por muito tempo. Na Arábia Saudita, a construtora da família Bin Laden e o príncipe Al Waleed, considerado o árabe mais rico (US$20 bilhões de patrimônio líquido), tem 7% da News Corp., de Rupert Murdoch é um grande acionista do Citigroup, quer construir um novo edifício, que será o maior do maior do mundo, com um quilômetro de altura. O recorde anterior estava em Taipei, na Ásia, um predinho de menos de 500 metros.

Modelos extravagantes
Modelos extravagantes imobiliários são uma febre entre os ricos e os muito ricos no Planeta. E atraem emergentes. O Aman Resort, considerado um projeto para os muito ricos (850 apartamentos no mundo, em formato de bangalôs, choupanas ou vilas de arrozeiros na Tailândia), mandou um executivo ao Brasil para vender “villas”, no arquipélago de Turks & Caicos, território britânico no Caribe, que custam entre US$ 9 e 16 milhões, de 4 a 5 quartos, chef de cozinha exclusivo, carrinho de golfe, assessoras para marcar mergulhos e etc. Adrian Zecha, um indonésio, começou o negócio em Cingapura, maior acionista do Aman, diz que se interessou pelo Brasil, quando viu brasileiros pagando diárias entre US$5 e 10 mil em seus resorts.

Não chega nem perto dos US$100 milhões que o bilionários russo Yuri Milner pagou por uma mansão de estilo francês no Vale do Silício (Califórnia), novo recorde de valor para uma casa nos Estados Unidos. O ucraniano Rinat Akhmetov comprou dois dos mais caros apartamentos já vendidos em Londres por US$222,5 milhões. Em Paris, uma princesa do Golfo Pérsico gastou US$96,5 milhões em 2010 por uma mansão com pátio , jardim e capela, na margem esquerda do rio Sena. Como escreveu o comentarista do The Wall Street Journal: “são os estrangeiros milionários aproveitando a queda nos preços dos imóveis dos países ricos”.

A incorporadora e corretora Fortune International investiu no Brasil para vender o edifício de 50 andares, Jade Ocean, com piscinas infinity, cinema prive, área para crianças com mobília Philipe Starck, coberturas duplex custam entre US$2,9 e 5 milhões – 85% dos apartamentos vendidos a estrangeiros.

A vida é uma festa
Também podemos relacionar, não com tanta extravagância, os mais de US$5,9 bilhões que os brasileiros gastaram em 2010 nos Estados Unidos, 423 mil visitaram Nova York, onde gastaram quase 6 mil dólares por cabeça, ocupando a quarta posição entre os turistas globais. Duas coisas chamam a atenção no modelo mundial de consumo. A extravagância registrada pelos emergentes, como bem definiu o executivo do grupo Publicis, recentemente, em visita ao Brasil, Maurice Levy:

- Nesses países temos, normalmente, duas situações distintas. Uma parte da população ainda vive abaixo da linha de pobreza. Mas a fatia que integrou a classe média tem como modelo de consumo o ocidental: eles querem tudo rápido, as últimas marcas, o que está mais na moda, os carros e os relógios mais luxuosos. Nesse caso é uma oportunidade para os anunciantes que é preciso aproveitar”.

E a outra: a mediocridade de copiar tudo dos países ricos e de sua elite. Em Xangai, por exemplo, a Diageo, maior na venda de destilados do mundo (dona da marca de uísque Johnny Walker) reformou um palacete colonial com paredes de cevada e garrafas de uísque. Gastou US$3,2 milhões. Para ensinar os novos bebedores, e também aos barzeiros, como se deve beber o precioso líquido. Incluir chá verde pode. Na China o consumo maior é The Johnny Walker, a garrafa custa 3 mil dólares.Na Índia, a empresa dona da marca Contreau (conglomerado PPR), patrocina eventos sociais, com integrantes da elite de Nova Déli, para divulgar suas bebidas. Um desses promotores, Vikrant Nath, diz que a vida é uma festa, ao receber 25 prósperos profissionais, todos vestidos a moda ocidental, conforme relato da Associated Press, interessados em bebidas finas.

- Queremos saber sobre a boa vida e aprender a receber as pessoas – diz a esposa Akka, na entrada da casa de três andares. Isso inclui aprender mais sobre as grifes de luxo, que são vendidas na Índia. O número de indianos com patrimônio de US$l milhão para investir cresceu 51%, depois da crise de 2008, segundo levantamento da Merryl Linch. São 126 mil pessoas. O produtor Nath faz entre 15 e 20 eventos por mês. A Índia, ainda segundo a agência de notícias é a maior fabricante de bebidas alcoólicas da Ásia produzidas ilegalmente, são 700 milhões de caixas. E uma percentagem de 5% da população (60 milhões de pessoas) são consideradas alcoólatras.

Última tentativa: testosterona
Boomers são os nascidos do pós-guerra, na década de 1950, nos Estados Unidos. Muitos enriqueceram e ficaram conhecidos por seus gastos. Comenta-se que sustentaram as vendas de Mercedez Bens e BMW antes da crise (ma Mercedez vendeu 245 mil carros até 2007). Viraram modelo para os emergentes. Embora um tanto envelhecidos ainda sustentam os gastos de novidades nos Estados Unidos. Nesse caso, da indústria farmacêutica. A última moda da indústria antienvelhecimento é a venda de produtos a base de testosterona (hormônio masculino). As vendas desse segmento chegam a US$80 bilhões. Surgiram problemas com algumas embalagens, como cremes, podem colar em outras pessoas ou diluir na água. É a última tentativa de manter de pé os 70% do consumo, já que a dívida das famílias estadunidenses é quase tão grande quanto a dívida do país – mais de US$13 trilhões.

Os consumidores dos EUA recebiam até 2007, mais de 6 bilhões de cartões de crédito pelo correio.O número caiu para 1,4 bilhão depois da crise. Um dos quatro bancões (Bofa, Citi, Goldman, JP Morgan) anunciava na televisão: “aprovado ao nascer”. Na era do neuromarketing, quando as glândulas sudoríparas dos humanos são monitoradas, e suas áreas cerebrais fotografadas, os consumidores são enquadrados por categorias desde o nascimento: bebê, infantil, pré-adolescente, adolescente, jovem adulto e sênior. Nada escapa. Como acentua Gilles Lipovetsky, no livro “A Felicidade Paradoxal”:

- Enquanto a vida cotidiana for dominada por esse sistema de referência a menos que se enfrente um cataclisma ecológico ou econômico, a sociedade de hiperconsumo prossegue em sua trajetória... antropólogos analisarão no futuro a civilização esclarecida em que o homo sapiens prestava culto a um deus tão derrisório quanto fascinante: a mercadoria efêmera”.

Não deixa de ter razão. A velocidade do crescimento dos shopping no Brasil, futura quinta economia, é impressionante. Em 2008, eram 377. Em 2011, serão 422. Em Porto Velho, capital de Rondônia, onde duas hidrelétricas serão inauguradas a partir do próximo ano colocaram tapete vermelho na inauguração. Tem mais 30 projetos em lançamento no Brasil. Custa em média R$200 milhões a construção de um shopping.

Marcha rumo à felicidade
A China pretende adquirir 200 milhões de carros até 2020, em 2010 produziram 18 milhões. A história universal tem um sentido, diz Gilles Lipovetsky, ela não é mais que o progresso rumo ao infinito da humanidade, a marcha desta rumo à felicidade mais completa.

Cada um escolhe a marcha que acha mais provável. Eric Hobsbawn, historiador inglês, no final de “A Era dos Extremos”, onde analisou os acontecimentos do século XX, incluindo as duas guerras mundiais (50 milhões de mortos) ”se a humanidade repetir o que já fez nos séculos passados e no presente, só tem um futuro: a escuridão”.

Em 1970, quando a NASA lançou o projeto da Estação Espacial Internacional, os cientistas e políticos da época falavam do futuro da humanidade. Em breve os foguetes viajariam rapidamente ao espaço, por preços baratos. A Estação Espacial seria a plataforma para alcançar outros planetas. Quarenta anos depois, ao finalizar o programa do ônibus espacial – 202 bilhões de dólares de custo -, sem contar os US$100 bilhões da própria Estação, o que temos? Cadê os outros planetas. A facilidade da tecnologia que nos levaria ao infinito espacial?

A viagem, agora, custará ao governo dos EUA, nas cápsulas russas da nave Soyus, US$43 milhões por astronauta. A NASA agendou 45 assentos até 2016. O ônibus lançou o telescópio Hubble, que nos deu imagens belíssimas do Universo. Na Estação, experiências importantes, sem gravidade, são praticadas. E o resto? Essa prepotência da tecnologia, o domínio da técnica sobre tudo, se compara a arrogância da economia ortodoxa, responsável pela sustentação desse sistema no Planeta. Quer levar as compras à eternidade, mesmo sabendo com antecedência, que esta marcha pode ser a dos zumbis, fantasmas que vagam pela noite morta, quando o Planeta não suportar mais o peso do modelo.

(*) Najar Tubino é jornalista com mais de 30 anos de carreira. Nos últimos anos tem se dedicado à temática ambiental. É autor do livro O Equilíbrio, publicado em 2005. E-mail: najartubino@yahoo.com.br

América Latina, mundo de droga

 

Estudo da Comissão Mundial para Políticas Antidrogas mostra que "guerra às drogas" iniciada há quatro décadas pelo então presidente dos EUA, Richard Nixon, é um fracasso rotundo, contundente e irremediável. Bilhões de dólares e milhares de vidas mais tarde, a produção, o comércio e o uso das drogas ilegais continua crescendo a todo vapor. O maior mercado consumidor é os Estados Unidos, que consome anualmente cerca de 165 toneladas de cocaína. A América Latina entra com a produção e os mortos. O artigo é de Eric Nepomuceno.

Um estudo recente realizado pela Comissão Mundial para Políticas Antidrogas, que conta com o aval da ONU, chegou a uma conclusão óbvia, mas nem por isso menos eloqüente: o que o mundo anda fazendo para combater o uso de drogas ilegais, a tal "guerra às drogas" iniciada há quatro décadas pelo presidente norte-americano Richard Nixon, é um fracasso rotundo, contundente e irremediável. E a razão de terem chegado a essa conclusão é simples: bilhões de dólares e milhares de vidas mais tarde, a produção, o comércio e o uso das drogas ilegais continua crescendo a todo vapor. Aliás, cresce tanto que hoje em dia cocaína e heroína custam muito menos do que custavam há vinte anos.

Calcula-se que existam no mundo 270 milhões de usuários de drogas. Um Brasil e meio. Uma população 27 vezes maior que a de Portugal, quatro vezes e meia maior que a da França, seis vezes maior que a colombiana. Enfim, um número de pessoas que, reunidas, formaria o quarto país mais populoso do mundo.

O maior mercado consumidor é os Estados Unidos, que consome anualmente, segundo os cálculos mais fiáveis, cerca de 165 toneladas de cocaína. Em segundo lugar, mas avançando rapidamente, vem a Europa, que consome cerca de 124 toneladas anuais. Esses dois mercados são abastecidos basicamente pela produção latino-americana de cocaína, mais especificamente da região andina, ou seja, Bolívia, Peru, Colômbia e, em medida quase insignificante, Equador. A maior parte do que chega aos Estados Unidos passa pelo México, onde, aliás, se consome 17 toneladas anuais, deixando o Canadá, com suas 14 toneladas, para trás.

Para a Europa, outras rotas são mais utilizadas, levando a cocaína latino-americana via África do Sul e, em muito menor medida, através do Brasil.
Para a América Latina, esse mundo de droga produzida e negociada tornou-se um problema que em alguns países ameaça escapar de controle. Sabe-se bem da convulsão enfrentada pelo México, fala-se de como a Colômbia pouco a pouco procura voltar aos eixos, mas pouco ou nada se fala do que acontece nos países da América Central. Lá, pelo menos três países – El Salvador, Honduras e Guatemala – que mal se recompõem do flagelo de prolongadas guerras civis correm o gravíssimo risco de se tornarem vítimas terminais do crime organizado pelo narcotráfico.

Se economias aparentemente prósperas, se países que vivem tempos de bonança, enfrentam a ameaça de poderes paralelos formados pelos grandes cartéis de drogas, o que dizer de países pequenos, que mal cicatrizam as chagas de um passado recente? Vale recordar um estudo do Banco Mundial, indicando que, na América Central, o custo do crime e da violência corresponde a 8% do PIB da região.

Muito se menciona a Colômbia como exemplo bem sucedido da luta contra o tráfico de drogas. Um exame mais sereno e meticuloso mostra que a realidade não é bem essa. Diminuiu, e muito, a violência, é verdade. Mata-se e morre-se hoje menos do que há dez ou quinze anos. O volume de drogas exportadas, porém, permaneceu praticamente inalterado. Uma série de fatores que são impossíveis de se reproduzir em outros países funcionou na Colômbia, que, além de drogas, exportou o caos – basta ver o que acontecia há dez ou quinze anos no México e na América Central, e o que acontece agora. Ou seja, cura-se aqui enquanto feridas são abertas ali e acolá.

Resta ver, além do mais, que medidas os Estados Unidos pretendem tomar para impedir o fluxo de armas para os países exportadores de drogas. De cada dez armas aprendidas no México, sete saíram dos Estados Unidos. O governo colombiano detectou e apreendeu vários carregamentos de armas de pequeno calibre – revólveres, pistolas – despachados dos Estados Unidos pelo correio.

A questão é vasta e profunda, mas até agora não conseguiu levar a trilha alguma que seja capaz de encaminhar, se não para uma solução, ao menos para um paliativo eficaz. E nesse mercado em franca expansão, nessa festança macabra, enquanto norte-americanos e europeus continuam pondo os usuários, os latino-americanos continuam pondo as drogas e os mortos. Na Colômbia, perdeu-se a conta. No México, pelo menos 42 mil nos últimos cinco anos, e caminha-se rápido para a marca dos 50 mil.

Na América Latina, os produtores e exportadores de drogas são empresários bem sucedidos, sem dúvida. Lucram cada vez mais, e mostram que sabem defender seus interesses, não importa ao custo de quantas vidas.

Pena que esses latino-americanos, empreendedores bem sucedidos, tenham preferido manter seus negócios em nossas comarcas. Bem que poderiam seguir o exemplo dos plantadores de maconha na Califórnia. Lá, os empreendedores locais conseguiram um feito notável: hoje em dia, a maconha é o mais bem sucedido cultivo em todo o estado. Rende cerca de 14 bilhões de dólares por ano. Plantam, processam, comercializam – e nenhum latino-americano morre por causa deles.

Combate à miséria inclui mais 1,2 mi de crianças no Bolsa Família


 

Programa de combate à pobreza extrema amplia oficialmente pagamento de transferência de renda a famílias com filhos de até 15 anos. São mais 1,2 milhão de crianças cujos pais serão beneficiados. Aumento de jovens no Bolsa Família também resulta da incorporação de 180 mil famílias ao programa, efeito da "busca ativa" do governo por miseráveis excluídos do pagamento.

BRASÍLIA - Os pais de 1,2 milhão de crianças que vivem em situação de extrema pobreza passam a ser atendidos, a partir desta segunda-feira (19/9), com pagamentos extras de benefícios do Bolsa Família. A ampliação da cobertura, anunciada pelo ministério do Desenvolvimento Social, eleva para 22,6 milhões o total de crianças incluídas no programa oficial de transferência de renda.

Com 40% de participação dentro do grupo de 16 milhões de brasileiros miseráveis (renda mensal até R$ 70), a juventude é um dos focos do programa de erradicação da pobreza extrema lançado pelo governo em junho. “Essa medida terá grande impacto para melhorar a situação dessas crianças”, afirmou a ministra de Desenvolvimento social e Combate à Fome, Tereza Campello, em entrevista coletiva.

Segundo ela, o acréscimo de crianças beneficiadas pelo programa se deve a duas alterações implantadas no programa de transferência de renda, destinadas a garantir o cumprimento das metas do Plano Brasil Sem Miséria.

A primeira delas foi inclusão de 180 mil novas famílias no cadastro do bolsa família, decorrente do esforço de "busca ativa" de miseráveis de fora do Bolsa Família. O governo calcula que 800 mil famílias pelo Brasil estão fora, mas deveriam estar dentro dos pagamentos.

Com o acréscimo de 180 mil famílias, o programa de transferência de renda atenderá um total de 13,18 milhões. Até o final deste ano, o governo planeja incluir outras 320 famílias.

A segunda mudança amplia de três para cinco o limite de benefícios variáveis por família. Até agora, o limite era para até três crianças e dois adolescentes. Com esta mudança, uma família numerosa que viva na extrema pobreza poderá receber um valor máximo de R$ 306, se tiver cinco ou mais crianças e dois ou mais adolescentes. “Cerca de 7,5 mil famílias, ou 0,06% do total beneficiado pelo programa, receberá o novo teto”, explicou o secretário Nacional de Renda de Cidadania, Tiago Falcão.

De acordo com a ministra, o maior número de famílias beneficiadas pela medida está na região Norte, onde o aumento as taxas de natalidade são maiores, com a média de 2,4 filhos por famílias, contra os 2,1 filhos por família da média nacional. Sua equipe estima, também, que a inovação em causará grande impacto no nordeste, onde concentra-se 60% das famílias atendidas pelo programa.

Ela acrescenta também que os pagamentos serão automáticos. “As famílias não precisam se cadastrar nem requerer mais benefícios. Como temos a relação com número e idade dos filhos de cada uma, o repasse será automático a partir de hoje”, disse.

Retorno garantido
Uma terceira alteração do PBF apresentada pela ministra é a instituição do retorno garantido. A partir de hoje, o beneficiário que se desligar voluntariamente poderá retornar imediatamente ao programa, sem a necessidade de novo cadastramento, em um prazo de até 36 meses.

“De acordo com nossos cadastros, 72% dos adultos tendidos pelo PBF trabalham, mas são vínculos precários, frágeis, vulneráveis ou informais. A medida visa a garantir que eles não percam o acesso à renda com as flutuações do mercado de trabalho e funciona como medida complementar às ações de inserção produtiva que estão sendo desenvolvidas pelo Brasil Sem Miséria”, explicou Tereza Campello.

O benefício básico pago às famílias que vivem na extrema pobreza é de R$ 70 por mês, acrescido do variável, de R$ 32 por até 5 crianças, e do Variável Jovem, de RR$ 38 para até dois jovens por família. A inclusão das 180 mil famílias no cadastro custará aos cofres públicos R$ 21,5 milhões por mês, ou R$ 258 milhões ao ano. Já a ampliação de 3 para 5 crianças beneficiadas por família impactará em R$ 384 milhões por mês e R$ 500 milhões por ano.

Leia Mais:

Plano anti-miséria quer achar 800 mil famílias fora do Bolsa Família

Ex-ministro volta ameaçar governo com CPI da Corrupção



KÁTIA BRASILDE MANAUS

O senador Alfredo Nascimento (PR-AM), ex-ministro dos Transportes, apareceu nesta segunda-feira em um programa de uma TV e voltou a ameaçar o Palácio do Planalto com adesão à CPI da Corrupção caso o governo não conclua investigação sobre as supostas irregularidades que resultaram em sua demissão há dois meses.

"Me disseram os ministros Ideli [Salvati, Relações Institucionais] e Gilberto [Carvalho, Secretaria-Geral da Presidência] que a presidente Dilma gostaria que o PR voltasse à base (...). Só voltamos depois que governo diga quem é do partido que tem nome sujo", disse o senador.


"Nós vamos entrar num processo eleitoral a partir do próximo ano. Ou o governo diz isso, ou serei a primeira pessoa, e não fiz isso ainda para não parecer revanchista, a subir à tribuna do Senado e assinar a CPI para investigar o Ministério dos Transportes", disse Nascimento.

Nascimento pediu demissão em julho, após a divulgação de um suposto esquema de cobrança de propinas em obras federais envolvendo assessores diretos da pasta.

No programa "Ponto Crítico", da TV A Crítica (Record), o ex-ministro foi entrevistado por cerca de 20 minutos.

Sobre as denúncias de supostas irregularidades nos Transportes, Nascimento disse que o primeiro relatório da CGU (Controladoria-Geral da União) não esclareceu o suposto envolvimento de integrantes de sua ex-equipe no ministério em casos de corrupção.

"O primeiro relatório da CGU não dá nome a ninguém, e o nosso partido continua entendendo o seguinte: é preciso que se dê nomes a quem praticou o malfeito", disse.

Mais uma denúncia inepta do MP que quando chegar ao STJ será estraçalhada.



Procuradoria denuncia ex-governador de MT por improbidade

RODRIGO VARGAS
DE CUIABÁ

O Ministério Público Federal de Mato Grosso denunciou sob acusação de improbidade administrativa o senador Blairo Maggi (PR) por supostas irregularidades na contratação de uma empresa da área de saúde em seu primeiro mandato como governador de Mato Grosso.

Segundo a Procuradoria, o TCU (Tribunal de Contas da União) identificou um sobrepreço de 32,74% nos valores de produtos e serviços pagos à Home Care Medical Ltda entre outubro de 2003 e outubro de 2004. O prejuízo, em valores atualizados, foi de quase R$ 10 milhões.

"Não houve pesquisa de preços antes da contratação da empresa; a razão apontada para a dispensa da licitação (situação de emergência) não foi comprovada; foram constatados indícios de que a escolha da empresa foi direcionada", enumerou o MPF, em nota à imprensa.

Foram denunciados, ainda, o desembargador Marcos Machado, secretário de Saúde à época da contratação, e os empresários Renato Júnior e José Cavichioli, da Home Care.
A empresa alvo da ação, afirma a Procuradoria, foi contratada com dispensa de licitação para fornecer medicamentos e gerenciar os estoques do "almoxarifado farmacêutico" --um serviço, de acordo com a denúncia, "que era função básica do Estado".

"No cumprimento do acordo foram encontradas outras irregularidades. Dentre elas destacam-se notas fiscais sem carimbo de inspeção sanitária, fornecimento ao Estado dos mesmos medicamentos com preços diferentes (...) e a cobrança de preços acima dos de mercado", diz a nota.

À ocasião, a Secretaria de Saúde afirmou que a dispensa de licitação era em razão da "difícil e complexa situação de abastecimento das Unidades de Saúde mantidas pelo Estado".

"Contudo, após análise dos órgãos de controle, não ficou comprovada a situação de emergência citada pelo secretário-adjunto para dispensar a licitação, uma vez que a SES já havia realizado no mesmo mês um pregão para aquisição de medicamentos de alto custo."

Os valores supostamente recebidos a mais pela Home Care atingiram, segundo o TCU, a cifra de R$ 4.264.224,50 --valor que, atualizado e com juros de mora, chegaria hoje a R$ 9.838.128,80.

A Folha entrou em contato com a assessoria do senador Blairo Maggi, mas não obteve resposta. A assessoria do Tribunal de Justiça não respondeu ao pedido de contato com o desembargador Marcos Machado. Não foi possível contato com a Home Care.

Gabrielli janta a Folha (*). Me dá um dá lá …

Rennó, Gabrielli e a petroquímica: um dá lá e outro toma cá

Na aula magna que pronunciou na Escola de Magistratura do Tribunal Regional Federal da Terceira Região, quando denunciou o preconceito de classe na imprensa e na Justiça, Caco Barcelos condenou o que chama de “jornalismo declaratório”.

É o jornalismo brasileiro, em geral: que sai por aí a publicar declarações sem checar ou aprofundar o conteúdo da declaração.

O máximo que faz é confrontar uma declaração com outra.

E se as duas forem inverdades, a imprensa da “declaração” cria uma polêmica de mentiras.

Esse é o território do PiG (**).

A obra prima desse chamado “jornalismo” escrito é a entrevista.

E no jornalismo declaratório do PiG, a entrevista não tem a função de ilustrar e informar o leitor.

Tem duas funções.

Revelar a agressividade do repórter – os patrões adoram …

E desmanchar o entrevistado.

Isso, no caso de o entrevistado ser do Governo.

Se for da Oposição, a posição muda.

A entrevista se transforma numa “entrevista púlpito” – oferecer um púlpito à Oposição para expor suas “verdades”.

Na página A14 da Folha (*) desta segunda feira, há uma entrevista do primeiro tipo com José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobrás.

O objetivo era mostrar a patriótica agressividade de dois (dois !) entrevistadores e desmanchar a Petrobrás.

(Um dos repórteres foi “enviado especial” a Brasília – sic.)

Como se sabe, desde que o dr. Getulio sancionou a Lei 2004 que fundou a Petrobrás o PiG (**) tenta afundá-la.

Como o Fernando Henrique afundou a P-36.

Gabrielli janta a questão do preço da gasolina.

(Faz parte da ideologia do PiG (**) sustentar, sempre, que o preço da gasolina está baixo para a inflação não estourar e isso vai afundar a Petrobrás. Não vai.)

Gabrielli janta também a questão da relação com Dilma.

Faz parte da ideologia do PiG (**) sustentar que a Presidenta grita com Gabrielli.

Gabrielli jantou a Folha (*) quando disse que a Petrobrás foi a empresa petrolífera que mais se valorizou nos últimos dez e cinco anos.

O mais interessante da entrevista a Folha não destaca.

É quando Gabrielli explica que o sombrio Governo Cerra/FHC proibiu a Petrobrás de entrar no mercado de petroquímica.

O sombrio Governo Cerra/FHC não deixou a Petrobrás entrar na petroquímica – o setor mais dinâmico do negocio do petróleo – até 2003.

FHC revelou a mesma visão estratégica que fez impedir a construção de escolas técnicas.

(Esses tucanos de São Paulo não passariam de Resende, não fosse o PiG (**).)

Ao comprar 39% da Braskem, a Petrobrás finalmente entrou na Petroquímica.

(Quando trabalhava no Jornal da Band, este ansioso blogueiro denunciou uma pirueta que o Governo Cerra/FGC ia produzir.

Tratava-se de a Odebrecht, dona da Braskem, comprar a Petrobrás com financiamento da Petrobrás.

Isso mesmo, amigo navegante.

A Petrobrás dava dinheiro à Odebrecht para a Odebrecht comprar a Petrobrás.

Essa obra prima passou a ser chamada de “Petrobrecht” no Jornal da Band.

Que à pirueta deu implacável cobertura.

O presidente da Petrobrás Joel Rennó não conseguiu fechar o negocio da “Petrobrecht”.

Em compensação, poupou os cofres de Petrobrás do patrocínio que conferia ao Jornal da Band.)

O saldo da entrevista da Folha (*) é registrar a destreza de Gabrielli ao enfrentar uma tentativa de desmanche.

A Folha veio de “toma lá” e o Gabrielli devolveu um “dá cá”.


Paulo Henrique Amorim


(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

PT quer CPI para investigar espionagem no governo de SP


Saiu no iG:

 


Central de espionagem política na Polícia Civil foi revelada pelo iG em série de reportagens


Ricardo Galhardo, iG São Paulo


O deputado estadual Simão Pedro (PT-SP) está coletando assinaturas para criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembléia Legislativa de São Paulo (Alesp) com o objetivo de investigar suposta espionagem política feita por órgãos do governo estadual.


O requerimento de duas páginas é embasado em dois casos noticiados pela imprensa. O primeiro deles é a revelação de que o extinto Departamento de Comunicação Social da Polícia Civil espionou políticos, partidos e movimentos sociais no período pós-ditadura militar, entre 1983 e 1999. A existência da central de espionagem política na Polícia Civil foi revelada pelo iG em uma série de reportagens publicada entre julho e agosto.


Entre outros fatos a série mostra que o PT foi alvo de arapongagem da Polícia Civil durante todo o primeiro mandato do governador tucano Mário Covas, morto em 2001.


O segundo fato que embasa o pedido de CPI é a contratação sem licitação da Fence, empresa de segurança pertencente ao coronel da reserva Enio Fontenelle, ex-diretor do Serviço Nacional de Informação (SNI) durante a ditadura militar.


A Fence foi contratada pela Prodesp (empresa estatal de processamento de dados) ainda na gestão do ex-governador José Serra (PSDB) para fazer varreduras nas linhas telefônicas de todos os setores do governo estadual. O contrato foi prorrogado duas vezes e finalmente rompido depois que o caso veio à tona.


Serra já havia contratado os serviços de Fontenelle sem licitação quando era ministro da Saúde. Na época, integrantes do PFL (hoje DEM) acusaram a empresa de ser responsável pelos grampos que levaram à descoberta de R$ 1,3 milhão em espécie na sede da empresa Lunus, pertencente a Jorge Murad, marido da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, em 2002. O caso jogou por terra a pré-candidatura de Roseana à presidência.


Enquanto coleta assinaturas, o deputado petista negocia com o governo a convocação de diretores da Prodesp. “Há uma forte suspeita sobre a existência de um esquema de espionagem política que pode envolver adversários do governo”, disse Simão Pedro.


Em 16 anos de governo tucano em São Paulo a oposição nunca conseguiu aprovar uma CPI na Alesp cujo alvo fosse a administração estadual. A esperança agora é a adesão de um grupo de deputados governistas que estão migrando para o PSD, partido do prefeito Gilberto Kassab (ex-DEM), que deve integrar a base de apoio do governo Dilma Rousseff.


O possível envolvimento de Serra, aliado de Kassab, no entanto, é visto como um entrave. Tanto o governo quanto a Fence negam que os contratos tenham como objetivo a espionagem.


Além da espionagem feita pela Polícia Civil, o requerimento de CPI cita outras duas reportagens do iG. Uma delas relata suspeitas de monitoramento do secretário de Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto. A outra é uma nota da coluna Poder on line que relata uma conversa entre Kassab e o deputado Gabriel Chalita na qual o prefeito teria dito que “tá tudo grampeado”.

Em marcha, operação para tirar Chalita do páreo


Em marcha, operação para tirar Chalita do páreo
 
Foto: NIELS ANDREAS/AGÊNCIA ESTADO


Candidato do PMDB vem sendo assediado com promessa de ministério em Brasília para pular fora da disputa na capital paulista; uma das possibilidades é o ministério da Educação, de Fernando Haddad, pré-candidato do PT; será que ele desiste?



19 de Setembro de 2011 às 13:12
247 - Está em curso uma operação para facilitar a ascensão de Fernando Haddad, ministro da Educação e pré-candidato de Lula à prefeitura de São Paulo. E ela passa pela reforma ministerial que a presidente Dilma deve realizar em dezembro, com a saída dos ministros que devem ser candidatos às eleições municipais. O grande nome dessa reforma seria o de Gabriel Chalita, que desistiria da disputa em São Paulo, para assumir um ministério de peso na máquina federal, como o da Educação, hoje ocupado por Haddad, que deve sair. Assim, seria possível reproduzir, no plano municipal, a aliança realizada entre PT e PMDB, que venceu as últimas eleições presidenciais.

Falta, no entanto, convencer Chalita e o próprio PMDB. Segundo deputado federal mais votado nas últimas eleições, ele acredita que tem chances reais de vencer a disputa. Sua aposta: indo para o segundo turno contra um candidato do PT, teria o apoio do governador paulista Geraldo Alckmin, de quem é amigo. O PMDB, por sua vez, considera estratégica a eleição de Chalita em São Paulo, para que o partido se posicione com força para a disputa de 2014. Há quem avalie, entretanto, que a demissão de Wagner Rossi, da Agricultura, enfraquece a candidatura de Chalita, por reduzir suas condições de financiamento.

Outra peça importante a ser removida, na operação pró-Haddad, é Marta Suplicy, que lidera as pesquisas de opinião em São Paulo, com 30% das intenções de voto. E isso também passaria pela reforma ministerial de Dilma. Fala-se que Marta poderia assumir o das Cidades, hoje ocupado pelo encrencado Mario Negromonte, do PP. Oficialmente, Marta e Chalita prometem ir até o fim. Mas, em política, nada é definitivo.

Leia, abaixo, entrevista recente de Chalita concedida ao 247:

247 – Pré-candidato à prefeitura de São Paulo, o deputado federal Gabriel Chalita, recém-filiado ao PMDB, concedeu entrevista exclusiva ao Brasil 247. Nela, defendeu escola em tempo integral na rede pública e disse que irá buscar o apoio tanto do PT como do PSDB. Leia mais:

Brasil 247 - O senhor é candidato à prefeitura de São Paulo?

Gabriel Chalita - Sou pré-candidato. As candidaturas serão homologadas no ano que vem. Mas seria uma honra disputar as eleições e apresentar um projeto para a cidade. Acredito que o maior desafio de um prefeito é o de melhorar a vida das pessoas, gerando oportunidades.

247 - Quais as principais bandeiras?

Chalita – Modernizar São Paulo. Esse processo se inicia com uma educação de qualidade, passa por serviços públicos que resolvam a imensa demanda da população e por projetos que solucionem os nossos maiores problemas, como trânsito, segurança (em parceria com o Estado), emprego, áreas de lazer etc. A mobilidade urbana é um grande desafio. Em pouco tempo, não teremos mais condições de transitar nesta cidade. É necessário um olhar integrado para o transporte público e para a as alternativas, já implantadas em outros países, de melhoria do fluxo de automóveis.

247 – Isso atrairia mais turistas?

Chalita – Claro. São Paulo tem também uma vocação turística que precisa ser intensificada. Um dos projetos é criar uma broadway paulistana. São Paulo carece de uma política cultural. A cultura, além de desenvolver a sensibilidade, gera emprego e renda. Revitalizar o centro de São Paulo também é outro projeto que vai dar à nossa cidade uma nova imagem. Uma cidade com o poder econômico de São Paulo não pode conviver com uma cracolândia. Precisamos investir no turismo e nos espaços de convivência da nossa população. As pessoas buscam São Paulo sonhando com oportunidades. Aqui, vêm para trabalhar, fazer tratamento de saúde, participar de eventos de negócios, divertir-se etc. E, aqui, devem ser acolhidas.

247 - É possível implantar escolas em tempo integral em toda a cidade?

Chalita – Essa será uma das principais bandeiras. Basta olhar para os outros países e ver o que a educação foi capaz de gerar, inclusive em termos financeiros. São Paulo vergonhosamente deixa mais de 100 mil crianças em filas de espera nas creches, além das que não têm espaço para a pré-escola. A educação em tempo integral vai mudar a história da nossa cidade. Seremos um modelo para o Brasil de cuidado e respeito com as nossas crianças e adolescentes.

247 - Acredita que conseguirá romper a polarização entre PT e PSDB?

Chalita – Todos os partidos têm direito de ter candidatura própria. Espero que, nas eleições do próximo ano, tenhamos a oportunidade de discutir projetos para São Paulo. Isso é fundamental. As pessoas querem saber quem tem o melhor projeto e as melhores condições para executá-lo. Tenho amigos nos dois partidos e tenho respeito por eles, mas tenho a certeza de que teremos as melhores propostas para a nossa cidade.

247 - O deputado Cândido Vaccarezza, líder do governo na Câmara, estava presente à filiação. O PT pode vir a apoiá-lo?

Chalita – Acho difícil o PT não ter candidatura própria em São Paulo. De qualquer forma, há muito tempo até as eleições. Tempo para conversas, para amadurecimento de ideias e possibilidades.
247 - Como encara a oposição interna no PMDB, liderada por Paulo Skaf?

Chalita – Não há oposição interna no PMDB. Estamos unidos. O Michel Temer é um grande líder. Tivemos diversas reuniões com ele, com outras lideranças nacionais e com o deputado Baleia Rossi, que é uma jovem revelação da política e que preside o PMDB no Estado. Vamos unir todos os movimentos internos do partido: juventude, mulheres, sindicatos, empresários etc. E buscar atrair pessoas que estão distantes da política. Esse é o nosso desafio. Atrair novas lideranças. É preciso mostrar que, na política, o pior caminho é a omissão. Participando, somos capazes de melhorar a política e, consequentemente, a gestão das cidades, dos estados e do nosso país.

Chamada de 'atriz pornô', Xuxa processa americanos


Chamada de 'atriz pornô', Xuxa processa americanos
 
Foto: DIVULGAÇÃO



Descrita por cinema de Los Angeles, que organizou o festival Xuxa-Palloza apenas com filmes dela, de “linda atriz pornô que invadiu a tevê infantil”, ela ficou fula; advogados brigam forte com organizadores da festinha para os cinéfilos



19 de Setembro de 2011 às 18:55

247 – Uma sinopse feita pelo cinema americano “The Cine Family”, um dos mais populares de Los Angeles, vem tirando o sono da apresentadora Xuxa Meneghel. A discórdia começou no último sábado, 17, quando o site do local divulgou uma amostra de filmes da Rainha dos Baixinhos. O evento recebeu o nome de Xuxa-Palooza, em referência ao festival musical de Lollapalooza, que apresenta bandas de vários estilos musicais no mesmo evento.

Ao divulgar o primeiro longa da amostra, o site descreveu a apresentadora como uma linda atriz pornô brasileira, que invadiu a televisão infantil com uma atitude sexy. Na descrição do polêmico Amor Estranho Amor, é feito um retrato da brasileira como um ícone sexy do show bizz nacional. O longa, lançado em 1982, mostra Xuxa aos 16 anos protagonizando cenas de sexo com um garoto de 12 anos.

Após ter se consolidado como ícone infantil, Xuxa, através de liminar judicial, mandou recolher todas as fitas originais de locadoras e lojas do país, o que não impediu de haver muitas cópias piratas ainda soltas pela internet. O filme foi lançado em DVD nos Estados Unidos, em 2005. A produtora americana não vendeu os direitos à Xuxa, que chegou a iniciar uma ação na justiça americana, em 1993, mas perdeu. Além de ligar o nome da apresentadora com pornografia, a tradução do site alterou a descrição do filme “Super Xuxa Contra o Baixo Astral”. Na sinopse, o longa tornou-se “Super Xuxa contra o Satanás”.

Segundo a coluna da jornalista Fabíola Reipert, do portal R7, a apresentadora não gostou da descrição feita pelo site e acionou seus advogados para entrar com um novo processo contra a exibição do polêmico filme. Xuxa e seus funcionários estão revoltados com a associação e pretendem retirar a página e o vídeo com a descrição do ar.

Clique aqui e assista ao vídeo publicado no site do cinema.

Corregedor da PF acusado de 580 atos sem licitação


Foto: FABIO MOTTA/Agência Estado

 

Valdinho Jacinto Caetano (à esq.) pode ter batido o recorde de 1,6 compra sem concorrência por dia, quando era superintendente no Rio; denúncia é da Federação dos Policiais Federais, presidida por Marcos Winck ; A guerra está aberta!; Por Claudio Júlio Tognolli


19 de Setembro de 2011 às 17:29


Claudio Julio Tognolli_247 - Nesta semana, a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), maior entidade de classe da PF, vai encaminhar ao Tribunal de Contas da União (TCU) dossiê com denúncias sobre a gestão do ex-superintendente regional da Polícia Federal no Rio de Janeiro e atual corregedor-geral da PF, delegado Valdinho Jacinto Caetano. A Fenapef sustenta que obteve documentos, relativos aos exercícios financeiros de 2007 e 2008, a revelar que o gestor praticou 580 atos de dispensa de licitação. Na média, foi dispensada 1,6 licitação, por dia, no período, diz a Fenapef.

Segundo a entidade, “na gestão do delegado Valdinho no comando da Superintendência do Rio de Janeiro uma única empresa de materiais de construção foi beneficiada por 13 processos com dispensa de licitação, num valor total de cerca de R$ 70 mil. Outra empresa fornecedora de material elétrico foi beneficiada com a dispensa de sete licitações, em 2008, no valor de mais de R$ 40 mil”. As dispensas ocorreram durante a obra de reforma da sede da Superintendência da PF no Rio, prossegue o documento.

“Na opinião de dois especialistas ouvidos pela Fenapef, ambos com larga experiência em licitações, as duas contratações podem configurar fracionamento da despesa em licitação, o que é expressamente vedado por lei”, sustenta a entidade.

Para a Fenapef, “vários julgados do próprio TCU definem a fragmentação de despesas como aquisições freqüentes dos mesmos produtos ou pela contratação sistemática de serviços da mesma natureza em contratos diferentes, porém homogêneos, cujos valores totais ultrapassem os limites previstos para a dispensa de licitação. Os valores estão previstos na Lei nº 8.666/1993, que instituiu normas para licitações e contratos da Administração Pública”.

A Federação lembra que, para o professor Marçal Justen Filho, autor de dez livros sobre direito administrativo, citado em acórdãos do TCU, é válido (às vezes, obrigatório) promover fracionamento de contratações. “Não se admite, porém, diz a denúncia, que o fracionamento conduza à dispensa de licitação. É inadmissível que se promova dispensa de licitação fundando-se no valor de contratação que não é isolada”.

Os policiais federais, por meio da Federação, prosseguem: “Outro caso que chama a atenção, do ponto de vista da gestão pública, foi a contratação de uma empresa de prestação de serviços de digitação, com dispensa de licitação. Uma das dispensas pelo valor que ultrapassa R$ 1,6 milhão e a outra no valor de R$ 139 mil. A mesma empresa foi considerada inidônea no início de 2009 para prestar serviços ao poder público, conforme documentação da Controladoria Geral da União”.

Na avaliação do diretor de Relações de Trabalho da Fenapef, Francisco Carlos Sabino, as duas dispensas revelam a falta de zelo com o dinheiro público e possíveis atos de improbidade administrativa. "Cabe ao MPF e ao Departamento investigarem a denúncia".

Os policiais federais vão adiante: “Outro exemplo de descontrole nas compras feitas na superintendência da PF no Rio, que também será levado ao conhecimento do TCU, é a compra de um produto singelo: tonner para recarga de cartuchos de impressora. O ex-superintendente Jacinto autorizou a aquisição do produto ao preço de R$ 280,00. A mesma mercadoria foi vendida a outro órgão público, meses depois, por menos da metade do valor, a R$ 134,00”.

A Federação Nacional dos Policiais Federais diz que também vai encaminhar pedido de providências ao diretor-geral do DPF, Leandro Daiello Coimbra, “para que afaste o corregedor-geral de suas funções, até a apuração completa dos fatos seja concluída. Este é o procedimento usual adotado pela instituição, em relação a qualquer servidor, quando há notícia de possíveis irregularidades”.

O presidente da Fenapef, Marcos Vinício Wink, informa que a entidade também vai encaminhar representação ao diretor-geral da PF, pedindo a instauração de procedimento administrativo disciplinar, para apuração dos fatos e, caso seja comprovada alguma irregularidade, os responsáveis sejam punidos.

“Os policiais federais esperam que tais fatos sejam apurados com rigor, imparcialidade e transparência, na forma da lei, observados os princípios de ampla defesa e do contraditório. Não deve pairar dúvidas sobre a estrita legalidade e moralidade dos atos de dirigentes da PF, cuja conduta deve servir de exemplo no trato com a coisa pública", diz Wink.

Em NY, Dilma diz que saúde é prioridade e defende acesso a medicamentos

YARA AQUINODA AGÊNCIA BRASIL

Ao discursar pela primeira vez na viagem que faz esta semana a Nova York, a presidenta Dilma Rousseff disse hoje (19) que a saúde da mulher é prioridade de seu governo. Acrescentou que está fortemente empenhada na redução de problemas que afetam esse segmento da população, como o câncer de mama e o de colo de útero, além da mortalidade infantil e deixou claro que defende o livre acesso a medicamentos.


Ela citou medidas que estão sendo adotadas para reduzir esses problemas. "Estamos facilitando o acesso aos exames preventivos, melhorando a qualidade das mamografias e ampliando o tratamento para as vítimas de câncer", disse em discurso na Reunião de Alto Nível sobre Doenças Crônicas não Transmissíveis, da Organização da Nações Unidas (ONU), em Nova York.
Roberto Stuckert Filho/PR
Presidenta Dilma participa da Abertura da Reunião de Alto Nível sobre Doenças Crônicas Não-Transmissíveis na sede da ONU

Presidenta Dilma participa da Abertura da Reunião de Alto Nível sobre Doenças Crônicas Não-Transmissíveis na ONU
Dilma ressaltou que a defesa do acesso a medicamentos e a promoção e prevenção à saúde devem caminhar juntas. Ela citou dados que mostram que no Brasil 72% das causas não violentas de óbito entre pessoas com menos de 70 anos ocorrem em função das chamadas crônicas não transmissíveis, como hipertensão, diabetes e câncer. Lembrou que uma das primeira medidas de seu governo foi garantir o acesso gratuito a medicamentos para diabetes e hipertensão.

"O Brasil defende o acesso aos medicamentos como parte do direito humano à saúde. Sabemos que é elemento estratégico para a inclusão social, a busca da equidade e o fortalecimento dos sistemas públicos de saúde", explicou.

A presidenta ressaltou que o Brasil está intensificando o combate aos fatores de risco com maior influência no aparecimento das doenças crônicas não transmissíveis como o tabagismo, o uso abusivo de álcool, a inatividade física e a alimentação não saudável. "Outra iniciativa do meu governo foi a assinatura de acordos com a indústria alimentar para a eliminação das gorduras trans e a redução do sódio. Queremos avançar ainda mais no combate ao tabagismo, com a implementação plena dos artigos da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco".

Dilma disse esperar que as discussões na ONU produzam passos decisivos na redução das doenças crônicas não transmissíveis, sobretudo entre a parcela mais pobre da população. "A incidência desproporcional dessas doenças entre os mais pobres demonstra a necessidade de repostas integrais aos nossos problemas. É fundamental que haja coordenação entre as políticas de saúde e aquelas destinadas a lidar com os determinantes socioeconômicos dessas enfermidades", concluiu.

Na parte da tarde, Dilma se reúne com Michelle Bachellet, ex-presidenta do Chile e chefe da agência da Organização das Nações Unidas para a Mulher. Em pauta, os esforços conjuntos que podem ser desenvolvidos para incentivar a participação das mulheres em ações políticas e institucionais no mundo.

A cura pelo sangramento

 



por PAUL KRUGMAN, no New York Times, em 18.09.2011

Os médicos chegaram a acreditar que pela retirada do sangue dos pacientes poderiam purgar os “humores” diabólicos que, pensavam eles, eram causadores das doenças. Na realidade, é claro, tudo o que o sangramento fazia era tornar o paciente mais fraco e com maior chance de sucumbir.

Felizmente, os médicos já não acreditam que sangrar os doentes vai torná-los saudáveis. Infelizmente, muitos dos que fazem a política econômica ainda acreditam. E o sangramento econômico não está apenas inflingindo vastas dores; está começando a solapar nossas perspectivas econômicas de longo prazo.

Algumas informações: no último ano e meio, o discurso político, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, tem sido dominado por pedidos de austeridade fiscal. Ao cortar os gastos e reduzir os déficits, nos disseram, as nações poderiam restaurar a confiança e promover o renascimento econômico.
E a austeridade tem sido real. Na Europa, nações com problemas como a Grécia e a Irlanda, impuseram cortes selvagens, enquanto nações mais fortes impuseram programas mais suaves de austeridade. Nos Estados Unidos, o modesto estímulo federal de 2009 se extinguiu, enquanto governos estaduais e locais cortaram seus orçamentos, de forma que no conjunto tivemos de fato um movimento em direção à austeridade não muito diferente do da Europa.

O estranho, no entanto, é que a confiança na economia não aumentou. De tal forma que empresas e consumidores parecem muito mais preocupados com a falta de clientes e de empregos, respectivamente, do que se sentem seguros com o rigor fiscal de seus governos. E o crescimento parece que se afoga, enquanto o desemprego permanece desastrosamente alto dos dois lados do Atlântico.

Mas, dizem os apologistas dos resultados ruins obtidos até agora, não deveríamos focar no longo prazo em vez do curto prazo? Na verdade, não: a economia precisa de ajuda real agora, não de recompensas hipotéticas dentro de uma década. De qualquer forma, dados começam a emergir sugerindo que os problemas de “curto prazo” da economia — agora em seu quarto ano e tornados piores pelo foco em austeridade — estão custando também às perspectivas de longo prazo.
Considerem, em particular, o que está acontecendo com a base manufatureira dos Estados Unidos. Em tempos normais, a capacidade industrial cresce de 2 a 3 por cento todo ano. Mas, diante de uma economia persistentemente fraca, a indústria tem reduzido, não aumentado, sua capacidade de produção. Agora, de acordo com estimativas do Banco Central [dos Estados Unidos], a capacidade está quase 5 por cento menor do que era em dezembro de 2007.

O que isso significa é que, quando a economia real finalmente se recuperar, vai enfrentar falta de capacidade e gargalos de produção muito mais cedo do que deveria. Ou seja, a economia fraca, que é parcialmente resultante dos cortes no orçamento, está causando danos futuros, além dos presentes.
Além disso, o declínio na capacidade de produção é apenas a primeira das más notícias. Cortes similares vão provavelmente acontecer no setor de serviços — na verdade, já podem estar em andamento. E com o desemprego de longo prazo em seu ponto mais alto desde a Grande Depressão, existe o risco real de que os desempregados vão ser considerados como não-empregáveis.
Ah, e o forte dos cortes em gastos públicos está sendo feito na educação. De alguma forma, demitir centenas de milhares de professores não parece ser uma boa forma de garantir o futuro.

Na verdade, quando você combina os crescentes indícios de que a austeridade fiscal está reduzindo nossas perspectivas de futuro, com as taxas de juro bem baixas nos papéis da dívida dos Estados Unidos, é difícil evitar uma conclusão surpreendente: a austeridade pode ser contraproducente mesmo do ponto-de-vista puramente fiscal, já que crescimento menor no futuro significa menor arrecadação.
O que deveria estar acontecendo? A resposta é que precisamos de um grande empurrão para fazer a economia se mover, não em uma data futura, mas agora. No presente, precisamos de mais, não de menos gastos governamentais, apoiados por políticas agressivamente expansivas do Banco Central e de suas contrapartes fora dos Estados Unidos. E não são apenas economistas teimosos que estão dizendo isso; empresários como Eric Schmidt, do Google, estão dizendo a mesma coisa, e o mercado de ações, ao comprar dívida dos Estados Unidos a juros tão baixos, está para todos os efeitos pedindo uma política mais expansiva [do Banco Central].

Para ser justo, alguns formuladores da política parecem entender isso. O novo plano de emprego do presidente Obama é um passo no caminho certo, enquanto alguns membros do Banco Central americano e do Banco da Inglaterra — mas, infelizmente, não do Banco Central Europeu — têm sugerido políticas muito mais orientadas para o crescimento.

No entanto, realmente precisamos é convencer um número substancial de pessoas com poder político e influência de que elas gastaram o último ano e meio seguindo na direção errada, e que elas precisam fazer um giro de 180 graus.

Não vai ser fácil. Mas, até que se faça o giro, o sangramento — que está tornando nossa economia mais fraca agora, colocando o futuro, ao mesmo tempo, em risco — vai continuar.

Os vampiros, as remessas de lucro e a tragédia da desnacionalização




Por Mauro Santayana, em seu blog
A informação de que as remessas de lucros e dividendos por parte de multinacionais – especialmente do setor financeiro e de telecomunicações – atingiram mais de 34 bilhões de dólares nos últimos 12 meses dá uma idéia da sangria com a qual estamos alimentando – com a nossa força de trabalho e de consumo – nossas ex-metrópoles coloniais, cada vez mais parecidas com um bando decrépito de vampiros lutando para não voltar ao pó.

Essa soma, de 34 bilhões de dólares, representa mais de 60% do total do déficit em conta corrente, que deve passar de 50 bilhões de dólares neste ano, apesar do aumento – que mais uma vez colocou em xeque as agourentas “previsões” dos “agentes” do “mercado” – de mais de 70% no superávit comercial deste ano.

Um caudaloso amazonas de dinheiro, que está indo para o exterior, todos os anos, em troca de absolutamente nada.

De lá, como nos tempos das caravelas, as naus só tem trazido duas coisas:
Espelhinhos, em forma de press-releases, que depois são publicados aqui pelos mesmos enganadores que continuam defendendo, na mídia, que fizemos um excelente negócio entregando para os estrangeiros nossas empresas estratégicas e nosso mercado interno nos anos 90.

E centenas de “técnicos” e “executivos”, que estão invadindo, todas as semanas, nosso mercado de trabalho – ao ritmo de mais de 50 mil licenças expedidas pelas autoridades nos últimos meses – vindos de países em crise que, como é o caso da Espanha, estão com uma taxa de desemprego de mais de 20%.

Isso quer dizer que, enquanto o Brasil luta, desesperadamente, para desvalorizar o real e aumentar as exportações, minadas por um dólar artificialmente baixo, nosso dinheiro vai para o ralo, para salvar da quebra empresas incompetentes de países idem, que só conseguiram aportar aqui nos anos 90, graças a dinheiro subsidiado da União Européia e a financiamentos – pasmem – do próprio BNDES.

Para citar apenas um caso – de uma empresa não necessariamente européia, mas de um país que está hoje com uma dívida de mais de 4 trilhões de dólares, por estar sustentando duas guerras perdidas – a American Southern Energy comprou a Eletropaulo, que tinha centenas de milhões de reais em caixa, com financiamento a juros subsidiados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
Não satisfeita de botar a mão nesse dinheiro, e de não investir o que devia na expansão da infra-estrutura da empresa, a AES atrasou várias prestações durante o Governo Fernando Henrique Cardoso, a ponto do Governo Lula ter sido obrigado a entrar na justiça em Nova Iorque para recuperar ao menos parte do prejuízo, conseguindo fazer isso com a constituição da Brasiliana, holding que reúne os ativos desse grupo no Brasil, e da qual o BNDES teve de ficar sócio.

E o que ganhamos com o maior processo de esquartejamento, desmonte e desnacionalização da economia brasileira em 500 anos de história, feito a toque de caixa e vendido como a grande panacéia para a situação do país naquele momento?

A dívida líquida praticamente dobrou em oito anos. O dólar estava a quase quatro reais em 2002. No mesmo ano, o salário mínimo valia cerca de 80 dólares. Um saco de arroz chegava a custar 12 reais no supermercado da esquina. A SELIC estava em quase 25% ao ano. Devíamos 40 bilhões de dólares ao FMI. Nossas reservas internacionais líquidas eram de menos de 20 bilhões de dólares. E isso sem contar a dívida externa do setor privado e o que devíamos ao Clube de Paris.

Para completar o descalabro, pagamos, hoje, graças a essas competentes privatizações, as mais altas tarifas do mundo em telefonia celular e internet, segundo pesquisa feita em 187 países pela União Internacional de Telecomunicações.

Agora, cada vez que um brasileiro que cai no conto das multinacionais compra um chip da Vivo, da OI, da TIM ou da Claro, paga uma conta de luz – dependendo da distribuidora – ou faz uma operação bancária com o Santander, estamos mandando esse dinheiro para uma viagem sem volta, com passagem só de ida, para países que na época não tinham nenhuma empresa que pudesse se comparar à Telebras, e que, como desenvolvedores de tecnologia de telefonia celular, eram excelentes produtores bacalhau e azeitonas.

Povos que ostentam uma renda per capita 3 ou 4 vezes maior do que a nossa – o que muitos brasileiros acham uma grande vantagem – mas que tem uma dívida per capita 4 ou 5 vezes superior à sua renda.
Controlados por governos tão competentes e avançados na administração de sua economia que estão agora, com a discutível exceção do México, literalmente quebrados, e dependendo, para continuar em pé, do nosso dinheiro e dos nossos mercados.

E agora, o que fazer para sair dessa armadilha?

Como desmontar mais essa bomba-relógio financeira – a outra é a dos juros – que montaram para nós, alegre e despreocupadamente, nos últimos anos do século passado?

Fazer uma campanha na internet para que os brasileiros consumam com um mínimo de consciência e boicotem produtos e serviços das empresas multinacionais que estão sangrando o país ?

Exigir que parte dessa fabulosa quantia fique no Brasil, onde poderia, não fosse a criminosa irresponsabilidade de quem vendeu a nação a preço de banana, estar gerando renda e emprego para milhões de brasileiros?

Por muito menos, quando se falou em taxar a remessa de lucros das multinacionais, os Estados Unidos promoveram e financiaram o Golpe Militar de 1964.

Criar grandes estatais brasileiras para conquistar ao menos uma parcela desse mercado e segurar parte desse dinheiro dentro do Brasil?

Isso seria um deus nos acuda! Basta ver a reação hidrófoba com que foi brindado o governo quando se falou em colocar a Telebras para trabalhar direto com o público na prestação de serviços de banda larga.

Emprestar dinheiro do BNDES para as empresas de capital nacional, para diminuir o tamanho da sangria?

Isso também não pode, como se viu no caso da OI. Atrapalha a “livre” concorrência. Para os “agentes” do “mercado”, o normal é o BNDES fazer o contrário: emprestar dinheiro para grupos estrangeiros comprarem nossas empresas dentro do Brasil.

O Governo, como sempre acontece, vai ser acusado de estar re-estatizando a economia e interferindo no mercado, como se, no mundo em que a China está prestes a dominar, as maiores empresas não fossem estatais, e cada país não defendesse, descaradamente, os interesses de seus grupos e marcas em seus mercados internos ou no exterior.

Como a questão é urgente – a Nação não agüenta um rombo maior do que esse no balanço de conta corrente no ano que vem – sugiro o caminho mais curto e mais contundente.

Se não for possível aplicar várias dessas saídas ao mesmo tempo, aproveitar a baixa das bolsas para a compra direta de participação nessas empresas, dentro ou fora do Brasil, usando recursos do fundo soberano ou das reservas internacionais, para recuperar ao menos uma parcela dos gigantescos recursos que estão nos seqüestrando, à base de quase 100 milhões de dólares a cada dia.

Não podemos continuar tirando dinheiro do bolso de milhões de brasileiros para sustentar, em Madrid ou Barcelona, a boa vida dos acionistas da Vivo ou as estripulias e as fraudes do Sr. Emilio Botin.