domingo, 30 de outubro de 2011

ONG diz que milícias líbias estão 'aterrorizando' simpatizantes de Kadafi



A ONG Human Rights Watch (HRW) denunciou neste domingo (30/10) que milícias rebeldes líbias da cidade de Misrata estão "aterrorizando" moradores da localidade de Tawerga, que foram acusados de serem simpatizantes do ex-líder líbio Muamar Kadafi.
 
A ONG, com sede em Nova York, afirmou em comunicado que Tawerga, que tem cerca de 30 mil habitantes, está totalmente despovoada e que dirigentes milicianos de Misrata intimidaram os moradores para que não retornassem.
 
Segundo testemunhos de 61 pessoas que viviam na localidade os milicianos de Misrata atiraram, bateram, abusaram, torturaram e prenderam moradores de Tawerga, muitos também tiveram suas casas saqueadas e queimadas.
 
Para a diretora da HRW no Oriente Médio e Norte da África, Sarah Leah Whison, "a vingança contra os moradores de Tawerga, além das acusações contra eles, abala o objetivo da revolução líbia".
 
A ONG exigiu que o CNT (Conselho Nacional de Transição), a autoridade máxima política do país, que controle sob um comando comum os mais de 100 grupos armados de Misrata e exija responsabilidades por seus atos.
 
As autoridades locais e diversas pessoas acusam os moradores de Tawerga de ter cometido crimes junto com as forças aliadas a Kadafi, que usaram o local como base para os ataques a Misrata durante o cerco que impuseram a essa cidade líbia entre março e agosto, esclarece a HRW.
 
A ONG, que possui diversos testemunhos de abusos e torturas, dentro e fora dos centros de detenção de Misrata, destaca que o vice-presidente do Conselho da cidade, Sedik Bashir Bady, teria pedido aos combatentes e aos guardas das prisões que respeitem os detidos, o que não foi cumprido.
 
Execuções
 
A HRW lançou uma série de recomendações para pôr fim a esses incidentes. Dentre as medidas, a ONG pede a condenação e punição dos abusos contra os moradores do local, a unificação das brigadas, a transferência dos prisioneiros de Tawerga para outros centros do país e o restabelecimento do sistema judiciário.
 
Esta não é a primeira acusação da HRW contra as milícias de Misrata. Em 24 de outubro, a HRW denunciou que 53 supostos simpatizantes de Kadafi foram executados por combatentes de Misrata em um hotel de Sirte, cidade natal e último reduto de Muammar Kadafi, preso e assassinado pelos rebeldes no último dia 20.
 
Estas denúncias, junto com os vídeos divulgados sobre as torturas às quais Kadafi foi submetido após sua detenção, prejudicaram a imagem da rebelião popular contra o regime do líder líbio, que começou de forma pacífica em fevereiro e acabou se transformando em um conflito armado. 

Receita para derrubar ministro



Uma semana das mais movimentadas aconteceu nestas plagas. No sábado, por exemplo, os brasileiros ficaram sabendo que Lula está com câncer na laringe e já começou a especulação sobre as perspectivas de participação política do ex-presidente, que continua bastante influente. Aguarde-se o desenrolar dos acontecimentos.
O blog Brasil reproduziu documentos do site WikiLeaks revelando  que o global William Waack, figura também de proa no famigerado Instituto Millenium, é informante do governo estadunidense. O texto assinala que Waack foi indicado por membros do governo dos EUA para “sustentar posições na mídia brasileira afinadas com as grandes linhas da política externa americana”. Diogo Mainardi também aparece na lista de informantes dos EUA, da mesma forma que o colunista da Folha de S. Paulo, Fernando Rodrigues.
A TV Globo em nota oficial negou a denúncia contra Waack   classificando-a de “absurda”. Mas desmentidos da Globo têm pouco valor, até porque a prática informativa da Vênus Platinada fala mais do que qualquer desmentido.
No Ministério dos Esportes saiu o seis para entrar o meia dúzia, ou seja, Aldo Rebelo no lugar de Orlando Silva e com a agravante de que o novo titular da Pasta vem sendo acusado pelos movimentos sociais de como relator do Código Florestal favorecer o pessoal do agronegócio.
Para ter uma ideia de quanto Rebelo é cultuado pelos grandes proprietários de terra basta mencionar o comentário da senadora Kátia Abreu, também dirigente do Conselho Nacional de Agricultura quando soube que o deputado do PC do B tinha sido nomeado para ficar no lugar do camarada Orlando Silva: “Aldo Rebelo faz parte de um time do bem! Parabéns ao governo pela escolha”. É o caso de perguntar: quem escala este time mencionado pela porta-voz do agronegócio?  
A novela dos Esportes possibilitou à oposição de direita colocar as mangas de fora e procurar desgastar o governo Dilma Rousseff.  Convenhamos, é de uma hipocrisia sem tamanho o deputado Antonio Carlos Magalhães e o senador Álvaro Dias se proclamarem arautos da moralidade, quando se sabe que os respectivos partidos que eles integram quando controlavam o governo federal não primavam propriamente por práticas cristalinas, haja vista as privatizações das estatais.   
ACM aparece quase diariamente nas telas da Globo vociferando contra o governo federal e pregando a moralidade. Álvaro Dias, uma figura vinculada ao que há de pior em matéria de reacionarismo no Estado do Paraná, não faz por menos. Como tanto o Partido Democratas, a denominação atual do PFL, o que é uma piada, como o PSDB estão completamente sem bandeiras, qualquer tipo de denúncia serve, mesmo as surgidas a partir da revista Veja, uma publicação que prima pela manipulação da informação e pela falta de credibilidade.
No fundo, bem lá no fundo, Dem e PSDB continuam inconformados pelo fato de com o terceiro mandato presidencial consecutivo encontrarem-se afastados do controle do Estado e consequentemente sem possibilidade de abocanhar os cargos para os correligionários.
A Revista Veja agora também vinculada a capitais sul-africanos que apoiavam o apartheid, é linha auxiliar dos partidos de direita que já estão de olho no embate eleitoral em 2014 quando Dilma Rousseff completará os quatro anos de mandato. A Editora Abril também perdeu vantagens com o governo federal na área do livro didático. Em compensação, no Estado de São Paulo, governado pelo PSDB desde muito tempo, a história é bem outra. Ou seja, ganham muitos milhões de reais com os livros, mas praticamente ninguém contesta o fato. 
No caso de Orlando Silva, a primeira matéria que apareceu na mídia foi via Veja, completamente sem provas e que aqueceu os anais oposicionistas. O tal PM, de nome João Dias,  ficou de comparecer na Câmara dos Deputados para fazer mais denúncias, mas na última hora acabou não indo, isso depois de um grande empenho da oposição para que acontecesse o depoimento.  
Enquanto a Polícia Federal continua a aguardar provas concretas sobre a participação de Orlando Silva no esquema de corrupção com as ONGs, a Folha de S. Paulo apareceu com matéria tentando agora envolver um irmão de Aldo Rebelo nas denúncias sobre falcatruas no Ministério dos Esportes. Soa realmente estranho o fato de a denúncia, com base apenas no depoimento do PM delator, também sem provas, só aparecer depois da nomeação de Aldo Rebelo.
Também soa estranha a condenação de antemão de um acusado de corrupção, como o ex-ministro Orlando Silva, só pelo fato do Supremo Tribunal Federal (STF) passar a cuidar das denúncias. Isso não significa que já houve a condenação, como quer fazer crer a mídia de mercado. Açodamento dessa natureza acaba desembocando no fascismo.   
Depois do episódio que culminou com a demissão de Orlando Silva, já se pode pensar em um trabalho jornalístico mais aprofundado. Sugestão de título: Receita para demitir um ministro. Começa com matéria na Veja, fazendo dobradinha com a Época, desmentidos daqui e dali, repercussão nos espaços midiáticos das Organizações Globo, do Fantástico ao Jornal Nacional, e demais órgãos da imprensa conservadora, sobretudo as revistas semanais, até alcançar o desgaste político do denunciado.  
Somam-se a isso as convocações dos mesmos meios de comunicação de mercado em conjunto com as Federações de Indústrias do Rio e São Paulo para atos públicos de combate à corrupção, inclusive com vassouras verde amarelas distribuídas a granel, e o jogo está feito.   
Mas informações sobre o quanto o Brasil vem gastando com a dívida pública, nem pensar. Afinal, tudo que compromete o modelo econômico e a estratégia de favorecimento ao capital financeiro, a mídia de mercado silenciará totalmente e se voltará para o varejo, de forma a produzir matérias para iludir incautos. Para se ter uma ideia dos gastos mencionados, no ano passado corresponde a 45% do orçamento brasileiro, que foi de 1,414 trilhão de reais. Então, só para o pagamento dos juros e amortizações o total é de 635 bilhões de reais, o que corresponde a quase R$ 2 bilhões diários.

O Globo torce e distorce...até no futebol



O tempo passa, o tempo voa e as organizações Globo  não perdem o vício da parcialidade em seu noticiário, agravado pela informação deturpada.  Até nas páginas  esportivas encontramos tal deformação. 
Quer ver um exemplo?   Na última quinta-feira, um dia depois dos jogos das equipes cariocas na Copa Sul-Americana, que eliminou da competição Flamengo e Botafogo, e classificou o Vasco,  mandava o jornalismo honesto e imparcial que se desse o devido destaque à vitória do Vasco, único vencedor e o último time do Rio na competição, sobretudo porque reverteu um placar negativo de 3 a 1, quando enfrentou o Aurora,  na Bolivia,  no primeiro jogo, para uma vitória por 8 a 3, no jogo de volta, em São Januário.
Só o fato de uma vitória por placar dessa magnitude já mereceria o devido registro, mas o Globo Online ignorou solenemente e optou por destacar em manchete que  a Copa Sul-Americana não desperta interesse, e o subtítulo em letras pequeninas: “Vasco é o único brasileiro ainda na competição”.
Quando você clica para ler a matéria, a nova manchete é ainda mais perversa: “Eliminação de Fla e Botafogo com reservas em campo mostra que Sul-Americana ainda não pegou no Brasil”.
Perceberam a má-fé?  Bastou o Flamengo, time sabidamente do coração do fundador do jornal, Roberto Marinho, e dos herdeiros do império, para que a competição fosse relegada ao lixo, algo de somenos importância.
Além de maldosa, a manchete induz o leitor a acreditar que o Flamengo foi eliminado porque escalou uma equipe reserva, o que é no mínimo uma meia verdade.  Qualquer torcedor que acompanha o noticiário esportivo sabe que o Flamengo tomou uma lavada de quatro a zero, do Universidad do Chile,jogando em casa, com seu principal jogador em campo, Ronaldinho, o famoso R10 das baladas cariocas.
Ora, tendo levado uma surra em casa do Universidad do Chile, o time nem em sonhos teria como reverter esse placar lá em Santiago.  Daí a opção pela escalação de jogadores reservas.   Estratégia, aliás,  utilizada por todas as equipes, inclusive o vitorioso Vasco, fato que passou despercebido pelos autores da matéria.
A matéria  tenta desavergonhadamente justificar a eliminação do Flamengo com argumentos e informações deturpadas.  Além disso, usa a tática traiçoeira de desqualificar a competição, como na história da raposa e as uvas.  E já determinou que ela  não interessa aos clubes brasileiros, como se vê pelo tom afirmativo da pergunta que submete à opinião dos leitores: “por que a Copa Sul-Americana ainda não pegou entre os clubes brasileiros?”. 
Não pegou porque o Flamengo foi eliminado, responderam centenas de leitores nos comentários sobre a matéria, que não estão mais disponíveis na página online do jornal. Claro, o torcedor não é trouxa e odeia esse partidarismo clubístico do jornal dos Marinho.
Está certo que se queira criticar o calendário da Copa Sul-Americana, cujos jogos coincidem com a reta final do Brasileirão, mas tentar justificar a eliminação do “time da casa” e desmerecer a vitória de outro desqualificando a competição não é um jornalismo ético... nem honesto.
E aí a gente fica sempre com aquela dúvida:  se no noticiário esportivo, o Globo torce e distorce informações, de acordo com seu interesse,   o que será que ocorre no noticiário político e econômico?   Respostas para a seção de cartas do jornal.
PS. Não encontrei ilustração ligando o Globo ao Flamengo, só a com o logotipo da TV Globo. Mas acho que o leitor entenderá que não faz diferença.

A cara do Brasil



Francisco Viana e Katia Guzzo
De São Paulo
 
Estudantes da USP e policiais militares durante confronto na semana passada 
(Foto: Tiago Queiroz/Agência Estado)
A ocupação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, que ganha manchetes dos jornais, lembra mais do que os tempos da ditadura militar, com as tropas de choque sitiando e agredindo estudantes. É demonstração prática da escalada conservadora no Brasil. De um lado e de outro, uma expressão libertária da juventude que traz em si o espírito renovador de diferentes épocas. Foi o que aconteceu em 68 com a rebeldia contra os militares, é o que acontece hoje com a rebeldia contra uma sociedade ainda atávica que teima em adiar seu encontro com a liberdade real, preferindo cultivar, ainda, a liberdade feita apenas pelas palavras.
Quem são os conservadores que estão despindo as máscaras, como é comum no clímax das antigas e recorrentes tragédias gregas? A Polícia Militar, que se revela despreparada para cumprir suas funções no regime democrático? O reitor João Grandino Rodas, que liberou o campus para a ação policial? O Governador Geraldo Alkmin que se curva à ação policial e ao autoritarismo do reitor? Na realidade, o conservadorismo é generalizado. O que muda é a hierarquia. Em pleno século XXI, policiais ocupando um campus universitário, prendendo estudantes por porte de maconha - isto é, não separando o usuário do traficante - e entrando em confrontos com jovens estudantes ,é sob qualquer ângulo que se avalie, um anacronismo.
Anacronismo? Sim. É a palavra que melhor traduz algo que se encontra radicalmente fora de época. Tem que ser revisto. Isto para não dizer, também, que se trata de uma violência. Inadmissível como toda violência.
A Polícia Militar, de todos os responsáveis, é a que menos responsabilidade tem pelo episódio. Cumpre ordens. Erra, por não tomar a iniciativa de se educar para a democracia e ter cuidado com a própria imagem. Erra, por reprimir jovens estudantes em lugar de procurar proteger o cidadão e zelar pela sua segurança. Erra ,por não verificar que usuário não é criminoso. Mas, na essência, os dois grandes responsáveis são o Governador e o Reitor. O Reitor, porque se revela um conservador que vem transformando a USP, antes uma Universidade viva e libertária, num centro sem expressão. No currículo de Rodas, existe o emblemático título, nunca antes outorgado a um Reitor, de "persona non grata",concedido pela Congregação da Tradicional Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, que foi por ele dirigida. Aliás, todas as vezes que o Reitor Rodas se defronta com manifestações de natureza democrática real, costuma chamar a polícia. Foi o recurso usado contra os estudantes da UNE e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Para ele, a autonomia universitária é, de fato, caso de polícia.
O Governador Alkmin dispensa apresentações. É um desses ,que se fazem passar por liberal, mas no momento em que as crises surgem não hesita em recorrer à força. Ou, em outras palavras, busca justificá-la como meio para garantir a ordem pública. Foi o que fez nesse episódio de ocupação da USP.
Voltando ao ponto inicial, a ocupação da USP. Certamente, é uma acontecimento velho, de roupa nova ,que vem mostrar como ainda precisamos espanar as teias do atraso.
Em linhas gerais, a ocupação da USP ocorre num momento em que os movimentos reivindicatórios se alastram pelos Estados Unidos, Europa e em especial no Mundo Árabe. Há crescente insatisfação no mundo contra uma ética em que se anuncia uma coisa e se faz outra, contra governantes que escondem suas verdadeiras faces sob o véu de discursos dignificantes e tomam atitudes contrárias ao que afirmam.
Esta é a origem da corrupção. Na raiz latina, a palavra corrupção significa desvio de finalidades ou não cumprimento daquilo que é prometido.
O movimento da USP ganha dimensões bem maiores do que um movimento estudantil. Tende a transbordar para múltiplos campos sociais, tende a ganhar significação política. Certamente, o Reitor João Grandino Rodas não deverá resistir muito tempo no cargo. E se resistir será crescentemente criticado pelos seus pares. O primeiro passo seria a saída da Polícia Militar do campus. Os policiais, com o episódio, nada dignificante, perdem a autoridade. O Reitor sabe que polícia e Universidade não podem conviver. A memória de governantes que reprimem estudantes, como aqueles que reprimem trabalhadores, permanecerá para sempre manchada. A notícia da rebelião na USP já se encontra nas redes sociais e corre o mundo em tempo real.
Ao Reitor Rodas, que não disputa cargos eleitorais, certamente tal episódio parece não ter importância. Segundo ele, a presença de policiais no campus é correta e assim vai permanecer. Pode-se dizer o mesmo do Governador Alkmin? Ele declara que sim aos jornais. Reafirma a visão do Reitor. Na prática, a resposta , baseada na razão dos fatos, deveria ser não. Como ele disputa cargos eleitorais, deveria saber: os resultados negativos virão com o tempo. É preciso, evidentemente, se preocupar com o presente. Mas jamais ,o governante poderá perder a perspectiva de futuro. Sobretudo se for um estadista, o que deveria ser necessariamente parte do perfil de um governante do maior estado do País.
Nada poderá interromper a marcha do cidadão brasileiro para conquistar a liberdade - o direito de mobilização. Mas o que é a liberdade? Estamos cansados de falar em liberdade de expressão, mas no quê ela deveria implicar? Atitude, ação, resposta.
Apesar das greves e passeatas, de movimentos contra corrupção e de gestos de protestos, ainda estamos distantes de transformar a indignação em atitudes políticas de massa. O futuro imediato vai colher o que vem sendo agora semeado na USP e nas diferentes manifestações de brasileiros indignados.
Francisco Viana é jornalista, mestre em filosofia política pela PUC-SP, consultor de empresas e autor do livro Hermes, a divina arte da comunicação. É diretor da Consultoria Hermes Comunicação estratégica (e-mail: viana@hermescomunicacao.com.br)

Fale com Francisco Viana: francisco_viana@terra.com.br

Ditador da Síria, que massacra seu povo, ameaça Ocidente



Ditador da Síria, que massacra seu povo, ameaça OcidenteFoto: Divulgação

BASHAR ASSAD, DA SÍRIA, AVISA QUE PODE DESENCADEAR TERREMNOTO NO ORIENTE MÉDIO SE HOUVER INTERVENÇÃO EXTERNA EM SEU PAÍS

Por Agência Estado
30 de Outubro de 2011 às 13:32Agência Estado
O presidente da Síria, Bashar al-Assad, alertou hoje contra a intervenção do Ocidente no país, onde um levante popular já dura sete meses. Segundo Assad, uma interferência externa desencadearia um "terremoto" que "queimaria toda a região".
Os comentários de Assad, publicados em uma entrevista para o jornal britânico Sunday Telegraph, são uma resposta a uma série de pedidos de seus opositores para a imposição de uma zona de exclusão aérea no país. Confrontos entre as forças de segurança e manifestantes armados deixaram pelo menos 30 soldados mortos ontem.
"A Síria agora é o centro da região. É a linha divisória e se vocês brincarem com o solo vão causar um terremoto", disse Assad. "Vocês querem ver outro Afeganistão, ou dezenas de Afeganistãos?".
Em outra entrevista, veiculada hoje pela emissora estatal de televisão da Rússia, Channel One, Assad elogiou o veto russo de uma resolução apresentada pela Europa no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que visava impor sanções contra a Síria. Ele disse que o país vai continuar contando com o apoio russo. "Nós estamos confiando na Rússia como um país com o qual temos fortes laços históricos".
Os comentários do presidente sírio parecem refletir a crescente preocupação do seu regime com uma possível intervenção estrangeira, após a recente morte do ditador líbio Muamar Kadafi que foi derrubado por uma revolução popular que contou com o apoio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Os líderes da oposição síria não convocaram um levante armado, como o que ocorreu na Líbia, e a maior parte é contra uma interferência externa. Além disso, os Estados Unidos e seus aliados não parecem muito dispostos a intervir em outro conflito interno árabe. Mas com o impasse na revolta, alguns manifestantes sírios começaram a solicitar uma zona de exclusão aérea, temendo que o governo possa usar sua força aérea agora que os desertores do exército estão se tornando mais ativos na luta contra as forças de segurança.
O Observatório Sírio para Direitos Humanos, que tem sede em Londres, disse que um conflito na noite de ontem na cidade de Homs entre soldados e homens armados supostamente desertores do exército deixou pelo menos 20 soldados mortos e 53 feridos. Além disso, homens armados teriam emboscado um ônibus que transportava oficiais das forças de segurança, na província de Idlib, matando pelos menos dez agentes. Um dos rebeldes também teria sido morto.
A Associated Press não pôde verificar os números informados pelos ativistas. A Síria baniu a maior parte da imprensa estrangeira e restringiu a cobertura local, tornando impossível uma confirmação independente dos eventos. A agência estatal de notícias SANA disse que sete membros da polícia e do exército, que foram mortos em Homs e nos subúrbios de Damasco, foram enterrados hoje.
Em uma demonstração de apoio ao governo de Assad, milhares de sírios carregando fotos do presidente e bandeiras do país se reuniram hoje em uma praça na cidade de Sweida, cerca de 110 quilômetros ao sul de Damasco, perto da fronteira com a Jordânia. As informações são da Associated Press.

A depravação da América


O Sítio Icó é Notícia traz um ótimo artigo deJohn Kozy* (via Carta Maior), que trata da atual cultura americana em que predomina o capital em detrimento do valores morais. Leia:
Foi-se o tempo em que a ética protestante definia o caráter dos Estados Unidos. Ela foi usada como fator responsável pelo sucesso do capitalismo na Europa do Norte e na América, pelos sociólogos, mas a ética protestante e o capitalismo são incompatíveis, e o capitalismo, em última análise, faz com que a ética protestante seja abandonada.

Há um novo ethos que emergiu, e as elites governamentais não o entendem. Trata-se do etos da “grande oportunidade”, do “prêmio”, da “próxima grande ideia”. A marcha lenta e deliberada em direção ao sucesso é hoje uma condenação do destino. Junto à próxima grande ideia comercial está o novo modelo do "sonho americano". Tudo o que importa é o dinheiro. Dada essa atitude, poucos na América expressam preocupações morais. A riqueza é só o que se tem em vista; vale inclusive nos destruir para alcançá-la. E se não chegamos lá ainda, certamente em breve chegaremos.
Eu suspeito que a maior parte das pessoas gostaria de acreditar que sociedades, não importa as bases de suas origens, tornam-se melhores com o tempo. Infelizmente a história desmente essa noção; frequentemente as sociedades se tornam piores com o tempo. Os Estados Unidos da América não é exceção. O país não foi benigno em sua origem e agora declina, tornando-se uma região de depravação raramente superada pelas piores nações da história.

Embora seja impossível encontrar números que provem que a moralidade na América declinou, evidências cotidianas estão onde quer que se veja. Quase todo mundo pode citar situações nas quais o bem estar das pessoas foi sacrificado pelo bem das instituições públicas ou privadas, mas parece impossível citar um só exemplo de instituição pública ou privada que tenha sido sacrificada em nome do povo.

Se a moralidade tem a ver com o modo como as pessoas são tratadas, pode-se perguntar legitimamente onde a moralidade desempenha um papel no que está se passando nos EUA? A resposta parece ser: “Em lugar nenhum!” Então, o que tem aconteceu nos EUA para se ter a atual epidemia de afirmações de que a moralidade na América colapsou?

Bem, a cultura mudou drasticamente nos últimos cinquenta anos. Foi isso o que aconteceu. Houve um tempo em que a "América", o "caráter americano", era definido em termos do que se chamava de Ética Protestante. O sociólogo Max Weber atribuiu o sucesso do capitalismo a isso. Infelizmente, Max foi negligente; ele estava errado, completamente errado. O capitalismo e a ética protestante são inconsistentes entre si. Nenhum dos dois pode ser responsável pelo outro.

A ética protestante (ou puritana) está baseada na noção de que o trabalho duro e a ascese são duas consequências importantes para ser eleito pela graça da cristandade. Se uma pessoa trabalha duro e é frugal, ele ou ela é considerado como digno de ser salvo. Esses atributos benéficos, acreditava-se, fizeram dos estadunidenses o povo mais trabalhador do que os de quaisquer outras sociedades (mesmo que as sociedades protestantes europeias fossem consideradas parecidas e as católicas do sul da Europa fossem consideradas preguiçosas).

Alguns de nós afirmam agora que estamos testemunhando o declínio e a queda da ética protestante nas sociedades ocidentais. Como a ética protestante tem uma raiz religiosa, o declínio é frequentemente atribuído a um crescimento do secularismo. Mas isto seria mais facilmente verificável na Europa do que na América, onde o fundamentalismo protestante ainda tem muitos seguidores. Então deve haver alguma outra explicação para o declínio. Mesmo que o crescimento do secularismo tenha levado muita gente a dizer que ele destruiu os valores religiosos juntamente aos valores morais que a religião ensina, há uma outra explicação.

No século XVII, a economia colonial da América era agrária. Trabalho duro e ascese combinam perfeitamente com essa economia. Mas a América não é mais agrária. A economia dos EUA hoje é definida como capitalismo industrial. Economias agrárias raramente produzem mais do que é consumido, mas economias industriais o fazem diariamente. Assim, para se manter a economia industrial funcionando, o consumo deve não apenas ser contínuo, como continuamente crescente.

Eu duvido que haja um leitor que não tenha escutado que 70% da economia dos EUA resulta do consumo. Mas 70% de um é 0,7, ou de dois é 1,4, de três, 2,1, etc. À medida que economia cresce de um a dois pontos do PIB, o consumo deve crescer de 0,7 para 1,4 pontos. Mas o aumento crescente do consumo não é compatível com a ascese. Uma economia industrialrequer gente para gastar e gastar, enquanto a ascese requer gente para economizar e economizar. A economia americana destruiu a ética protestante e as perspectivas religiosas nas quais foi fundada. O consumo conspícuo substituiu o trabalho duro e a poupança.

No seu A Riqueza das Nações, Adam Smith afirma que o capitalismo beneficia a todos, desde que cada um aja em benefício dos outros. Agora estão nos dizendo que “economizar mais e cortar gastos pode ser um bom plano para lidar com a recessão. Mas se todo mundo proceder assim isso só vai tornar as coisas piores....aquilo de que a economia mais precisa é de consumidores
gastando livremente”. A grande recessão atingiu Adam Smith na sua cabeça, mas o economista admitiria isso. “Um ambiente em que todos e cada um quer economizar não pode levar ao crescimento. A produção necessita ser vendida e para isso você precisa de consumidores”.

Poupar é (presumivelmente) bom para indivíduos, mas ruim para a economia, a qual requer gasto contínuo crescente. Se um economista tivesse dito isso na minha frente, eu teria lhe dito que isso significa claramente que há algo fundamentalmente errado com a natureza da economia, que isso significa que a economia não existe para prover as necessidades das pessoas, mas que as pessoas existem apenas para satisfazer as necessidades da economia. Embora não pareça isso, uma economia assim escraviza o povo a quem diz servir. Então, de fato, o capitalismo industrial perpetrou a escravidão; ele tem reescravizado aqueles que um dia emancipou.

Quando o consumo substituiu a poupança na psique americana, o resto de moralidade afundou junto na depravação. A necessidade de vender requer marketing, o que nada mais é que a mentira das mentiras. Afinal de contas, toda empresa é fundada no que disse o livro de Edward L. Bernays, de 1928: Propaganda. A cultura americana tem sido inundada por um tsunami de mentiras. O marketing se tornou a atividade predominante da cultura. Ninguém pode se isolar disso. É uma coisa seguida por pessoas de negócios, políticos e pela mídia. Ninguém pode ter certeza de estarem lhe contando a verdade a respeito de alguém. Nenhum código moral pode sobreviver numa cultura de desonestidade, e de resto, ninguém pode!

Tendo subvertido a ética protestante, a economia destruiu toda ética que a América um dia promoveu. O país tornou-se uma sociedade sem um etos, uma sociedade sem propósito humano. Os americanos se tornaram cordeiros sacrificáveis para o bem das máquinas. Então, um novo etos emergiu do caos, um etos que a elite governamental desconhece completamente.

Diz-se frequentemente que Washington perdeu o contato com as pessoas que governa, que não entende mais seu próprio povo ou como sua cultura comum funciona. Washington e a elite do país não entendem isso, mas a cultura não valoriza mais o certo sobre o errado ou o trabalho duro e a ascese sobre a preguiça e a extravagância. Hoje os americanos estão buscando a “grande oportunidade”, o “prêmio”, a “próxima grande ideia”. O Sonho Americano foi hoje reduzido ao “acertar em cheio!”. A longa e deliberada estrada para o sucesso é uma condenação. Vejam American Idol, The X-Factor e America’s Got Talent e testemunhe a horda que se apresenta para os auditórios. Essas pessoas, em sua maior parte, não trabalharam duro em nada na vida. Contem o número de pessoas que regularmente apostam na loteria. Esse tipo de aposta não requer trabalho algum. Tudo o que essas pessoas querem é acertar em cheio. E quem é nosso homem de negócios mais exaltado? O empreendedor!

Empreendedores são, na sua maior parte, fogo de palha, mesmo que haja exceções notáveis. O problema com o empreendedorismo, no entanto, é a alta conta em que passou a ser tomado. Mas o único valor ligado a ele é a quantidade de dinheiro que os empreendedores têm feito. Raramente ouvimos alguma coisa a respeito do modo nefasto como esse dinheiro foi feito. Bill Gates e Mark Zuckerberg, por exemplo, dificilmente representam imagens de pessoas com moralidade exemplar, mas na economia sem escrúpulos morais, ninguém se importa; tudo o que importa é o dinheiro.

Dada essa atitude, por que alguém, nessa sociedade, expressaria preocupações morais? Poucos na América o fazem. Assim, enquanto a elite americana fala na necessidade de produzir força de trabalho sustentável para as necessidades de sua indústria, as pessoas não querem nada disso.

A elite frequentemente lastima a falência do sistema educacional americano e tem tentado melhorá-lo sem sucesso, por várias décadas. Mas se alguém presta atenção no atual estado de coisas na América, vê que a maior parte dos empreendedores de sucesso são pessoas que abandonaram faculdades. Como se pode convencer a juventude de que a educação universitária é um empreendimento que vale a pena? Assim como Bill Gates, Steve Jobs e Mark Zuckerberg mostraram, aprender a desenhar um software não requer graduação universitária. Nem ganhar na loteria ou vencer o American Idol. Fazer parte da Liga Nacional de Futebol pode requerer algum tempo na universidade, mas não a graduação. Todo o empreendedorismo requer uma nova ideia mercantil.

Entretenimento e esportes, loterias e programas de jogos e disputas, produtos de consumo de que as pessoas não tiveram necessidade por milhões de anos são agora as coisas que formam a cultura americana. Mas não são coisas, são lixo; não podem formar a base de uma sociedade humana estável e próspera. Esta é uma cultura governada meramente por um atributo: a riqueza, bem ou mal havida!

A capacidade humana de autoengano é sem limites. Os estadunidenses vêm se enganando com a crença de que a riqueza agregada, a soma total de riquezas, em vez de como ela é distribuída, dá certo. Não importa como foi obtida ou o que foi feito para se obter tal riqueza. A riqueza agregada é a única coisa que se tem em vista; é algo pelo que vale à pena destruir a nós mesmos. E mesmo que não o tenhamos alcançado ainda, em breve certamente o conseguiremos.

A história descreve muitas nações que se tornaram depravadas. Nenhuma delas jamais se reformou. Nenhum garoto bonito pode ser convocado para desfazer a catástrofe do Toque de Midas. O dinheiro, afinal de contas, não é uma coisa de que os humanos precisem para sobreviver, e se o dinheiro não é usado para produzir e distribuir as coisas necessárias, a sobrevivência humana é impossível, não importa o quanto de riqueza seja agregada ou acumulada.

*John Kozy é professor aposentado de filosofia e lógica que escreve sobre assuntos econômicos, sociais e políticos. Depois de ter servido na Guerra da Coréia, passou 20 anos como professor universitário e outros 20 trabalhando como escritor. Publicou um livro de lógica formal, artigo acadêmicos. Sua página pessoal é http://www.jkozy.com onde pode ser contatado.