quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Na íntegra - Processo da Operação Shaolin no STJ




A Revista Quidnovi vem publicando uma série de reportagens trazendo a luz a operação Shaolin que investiga fraudes no Ministério dos Esportes, desvio de verbas para ONGS e até assassinatos. O  processo revela o envolvimento do então Ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz, o atual Ministro Orlando Silva, o Secretário de saúde do DF Rafael Barbosa, o soldado quatro estrelas, João Dias Ferreira entre outros que desviaram milhões dos cofres públicos. Agora, as 15:17 horas desta quarta-feira, o Quidnovi mostra em primeira mão, com exclusividade, o processo, na íntegra que está no STJ nas mãos do Ministro César Asfor Rocha.CLIQUE AQUI  para acessar o processo. Para mais informações veja o apenso,CLICANDO AQUI.
  


PROCESSO DA 10a VARA APONTA AGNELO COMO CHEFE DAS FRAUDES DAS ONGs



Uma nuvem de fumaça cobriu Brasília neste mês de outubro de 2011. A Capital Federal ficou negra com os escândalos envolvendo o ministro do Esporte, Orlando Silva, e o governador do DF, Agnelo Queiroz, que antecedeu Orlando no Ministério. O PC do B se viu misturado numa confusão de operação de Caixa 2, que veio à baila e culminou com a demissão de Orlando Silva, nesta quarta-feira, 26, à noite, depois que as denúncias do soldado 4 estrelas, João Dias Ferreiras, filiado ao PC do B, veiculadas na imprensa, obrigaram o Supremo Tribunal Federal a tomar uma posição drástica no caso, chamando pra si o processo que corre na 12ª Vara de Justiça, sobre o escândalo das ONGs no Programa Segundo Tempo do Ministério do Esporte.

O mais importante nisso tudo, é que toda esta fumaça esconde o verdadeiro processo que incrimina o governador do DF, Agnelo Queiroz, e o ex-ministro Orlando Silva. Na 10ª Vara de Justiça, repousa o processo rumoroso, que está guardado a sete chaves desde a Campanha Política de 2010, por pressão do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. O processo, revelado hoje pelo Quidnovi, é de conhecimento da presidente Dilma Housseff, desde setembro quando foi retirado por 24 horas da 10ª Vara, pela AGU – Advocacia Geral da União, tempo suficiente, para ser totalmente copiado e enviado ao GSI – Gabinete de Segurança e Informação da Presidência da República. Este sim, foi o verdadeiro estopim da demissão de Orlando. No processo estão vídeos e escutas telefônicas, nas quais o governador Agnelo aparece tratando de notas fiscais e montagem de OGNs com um novo personagem, apresentado agora pelo Quidnovi: o professor Roldão Sales de Lima. Agnelo conversa com Roldão e João Dias explicando como deve ser feita a operação casada das notas fiscais e recebimentos do Ministério do Esporte.

Com este farto material, a presidente Dilma sabe exatamente que Agnelo Queiroz é o chefe de toda a Operação de Caixa 2 do Ministério do Esporte e Orlando Silva deu continuidade ao esquema, juntamente com o atual secretário de Saúde do DF, Rafael Barbosa, e o soldado João Dias.

Trata-se de uma das mais fantásticas operações de tentativa de transferência de Caixa 2 do PC do B para os cofres do PT, para que Agnelo se cacifasse no novo partido, mostrando “serviço” para o ex-presidente Lula. Só que Agnelo, acabou transferindo “caixa” para seu cofre particular e deixou o todo esquema embaralhado.

Neste episódio, a Revista Eletrônica Quidnovi esteve sempre à frente de toda imprensa revelando, com exclusividade no início de outubro, que a presidente Dilma Housseff estava muito bem informada dos processos envolvendo, em escândalos de corrupção e violência sexual contra adolescentes, os dirigentes do Ministério do Esporte desde o governo Lula: Orlando Silva e Agnelo Queiroz. O Quidnovi informou aos leitores em primeira mão que Dilma estava preocupada com o clima instalado na Capital de República e, antes de viajar para o exterior, chamou o líder do PC do B deputado Aldo Rebelo, no Palácio do Planalto, e, tendo como testemunhas, a ministra das Relações Institucionais, Idely Salvati, e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, quis saber a posição de Aldo sobre seu camarada Orlando. Aldo foi obrigado a abandonar Orlando e retomar as rédeas do Ministério do Esporte, que é o único no Governo Dilma, nas mãos do PC do B.
No início da noite desta 4ª feira, Orlando Silva deixou o cargo e mais uma vez Dilma confirma o que o Quidnovi revelou no início do mês, antes da viagem da presidente à Africa: a simpatia da chefe de Estado em ter Aldo Rebelo à frente dos Esportes. Aldo Rebelo assume o Ministério na próxima 2ª feira.

Toda a história do soldado 4 estrelas João Dias Ferreira, revelada com exclusividade pelo Quidnovi no início do mês só veio à tona, na grande imprensa, através de matéria da Revista Veja, uma semana depois, repetindo exatamente o que o nosso site contou aos leitores e acabou como bomba na mídia nacional e internacional, uma vez que o Ministério do Esporte está no centro das atenções por conta da Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Agora o Quidnovi faz novas revelações, mais uma vez com exclusividade, de como a presidente  Dilma Housseff  teve acesso a todas as informações do processo das ONGs que tramita na Justiça, que levou a queda de Orlando Silva e tem na cabeça da operação o governador do DF, Agnelo Queiroz, atual petista, e ex-dirigente do PC do B, quando estava à frente dos Esportes.

Desde o início o governador Agnelo tentou derrubar o processo, falando com João Dias e o professor Roldão para interferirem como podiam. Agnelo mandou recados ao delegado do DECO - Giancarlos Zulianni Junior para impedir que  as investigações continuassem. O governador do DF entrou com processo contra Giancarlos Zulianni, alegando que houve divulgação das informações. Mas não conseguiu parar o processo, porque a procuradora da República Rachel Branquinho investigou e despachou dizendo que não houve nenhuma falha nas investigações. A título de informação, a procuradora Rachel foi aquela que intimou o presidente Lula a se posicionar no caso do Mensalão do PT.

 Agora, a ministra Carmem Lúcia, do STF, devolve o processo da 12ª Vara de Justiça para o STJ, pois com a queda de Orlando Silva o assunto sai da alçada do Supremo e cai para a Justiça comum.  Resta saber, se o verdadeiro processo que incrimina Agnelo, aquele que está parado na  10ª Vara vai começar a se mexer. A decisão cabe ao ministro do STJ, Cesar Asfor Rocha.
 
Veja abaixo  a tramitação do processo da 10a Vara que a presidente Dilma tem em mãos, que incrimina o governador do DF, Agnelo Queiroz, e que o quidnovi revela com exclusividade
 
 
  

EXCLUSIVO: Cadáver da Operação Shaolin assombra Palácio do Planalto e Governador do DF Agnelo Queiroz



   

Por Mino Pedrosa
Um processo explosivo que está na Justiça Federal tem em seu conteúdo ligações perigosas entre o Palácio do Planalto, o governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz, o secretário da Presidência da República Gilberto Carvalho e a ex ministra da Casa Civil Erenice Guerra envolvidos no desvio de milhões de reais dos cofres públicos através de ONGs especialmente criadas para esses expedientes.
 
Vera Lúcia e o amigo presidente Lula
 
Luiz Carlos Coelho de Medeiros e sua irmã Vera Lúcia Coelho de Medeiros faziam o trabalho de acompanhamento de emendas parlamentares destinadas às ONGs montadas para desviar milhões em verbas públicas. O presidente Lula determinou a nomeação de Vera Lúcia para a Casa Civil, subordinada diretamente a Erenice Guerra, na época secretária executiva no Palácio do Planalto.
 
Os irmãos Coelho de Medeiros: operadores do esquema das ONGs na Esplanada dos Ministérios
 
O descontingenciamento ficava sob a responsabilidade de Erenice Guerra e Vera Lúcia, que se gaba de desfrutar uma intimidade com o presidente Lula. Dalí as emendas eram liberadas e encaminhadas para Agnelo que ocupava a pasta dos Esportes. Agnelo tinha como um dos coordenadores da operação, na Esplanada dos Ministérios, Luiz Carlos Medeiros, que fazia a verba chegar às mãos dos dirigentes das ONGs, que no final da história retornavam com parte do dinheiro para o então ministro, segundo depoimentos de dois integrantes do bando que saqueava os cofres públicos.
 
Tudo isso parece estar sob controle de Gilberto Carvalho na Justiça. Mas os dirigentes que operavam para Agnelo estão tirando noites de sono do governador.
 
O processo que está sob sigilo na Justiça relata uma história triste e capaz de revoltar qualquer pessoa de bem. Uma delegada da cidade–satélite de Sobradinho, no entorno de Brasília, recebeu denúncia de abuso sexual de menores adolescentes. A partir daí iniciou investigação com escutas telefônicas, autorizadas pela Justiça, e coleta de informações de orgias organizadas por empresários. O que a delegada não esperava era deparar-se com um escândalo nacional que passava pelo Palácio do Planalto, Ministério dos Esportes e pelo Governo do Distrito Federal.
 
A delegada que queria desvendar um crime local de abuso sexual, confrontou-se com informações que fugiam de sua competência. Foi então obrigada a enviar o inquérito para a DECO – Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado, da Polícia Civil do DF, sob a batuta do delegado Jean Carlo. Aí, começa uma profunda investigação que resultou em ameaças e assassinatos colocando duas testemunhas sob proteção da Polícia Federal.
 
Jean Carlo escalou dois agentes de sua confiança para infiltrar no bando. Tudo era gravado, filmado, documentado e passado para um grupo de inteligência da Operação batizada de Kung-Fu. O delegado Jean Carlo,  tinha o controle absoluto de tudo, mas não poderia contar com a descoberta da verdadeira identidade de um de seus agentes infiltrados no bando: Luiz Carlos , o Clark, que foi assassinado durante a Operação.
 
 
O carro do agente Clark na emboscada
 
 
A morte de Clark aconteceu em outubro de 2009. Como o agente trabalhava infiltrado, na Operação Kung-Fu, odiretor-geral da Polícia Civil, Cléber Monteiro, esteve no local do crime e deu declaração de que o policial poderia ter sido vítima de latrocínio (roubo seguido de morte). Mas o corpo de Clark foi encontrado entre os dois bancos da frente do carro da Polícia Civil descaracterizado, um Clio prata placa JFT 7515-DF, numa estrada de terra atrás do Condomínio RK, próximo à DF-001 e do Centro de Imagens e Informações Geográficas do Exército (CIGEx), em Sobradinho.
 
O corpo do agente estava sobre a marcha, com a cabeça voltada para o banco de trás. Além disso, havia uma marca de tiro no peito e quatro cápsulas de bala no chão do carro. Clark foi encontrado com uma arma na mão e estava com o pulso quebrado, o que foi omitido pela perícia no laudo final.
Michael, a testemunha
 
O depoimento da testemunha Michael Vieira da Silva chamou a atenção dos investigadores. O ex-integrante do bando das ONGs, disse que ele próprio teria sido vitima de João Dias, um dos dirigentes da ONG Instituto Novo Horizonte e soldado da PM lutador especialista em artes marciais. João Dias desfruta de um padrão de vida incompatível com o que possa receber em sua função pública: confortável mansão, carros importados e um temperamento capaz de intimidar qualquer pessoa que queira ter vida longa.
 
Mansão do soldado da PM João Dias
 
Segundo Michael, João Dias o forçou a fazer um depoimento, por escrito, retirando o nome de Agnelo da trama. João, através de um golpe marcial, quebrou o pulso da testemunha tal qual o do agente Clark encontrado morto. Todas essas informações estão à disposição da Justiça nos depoimentos de Michael.
 
Michael Vieira da Silva contou que outro colaborador do delegado Jean Carlo, Geraldo Nascimento de Andrade, também estava marcado para morrer. O delegado Jean Carlo decidiu resgatar o agente infiltrado e Geraldo, ex-integrante do bando cooptado pela polícia, e colocá-los sob o Programa de Proteção a Testemunha.  Geraldo, ex-participante da ONG cooptado pela polícia, foi informado pela esposa de um dos integrantes do bando que sua fotografia já estava nas mãos de matadores contratados para fazer o “serviço”.
 
A esta altura, Operação Kung – Fu se transforma em Shaolin e sai da Polícia Civil do DF e vai para a Justiça Federal. Lá permanece na mesa do juiz substituto da 10ª Vara enquanto durou a campanha para o Governo do DF.
 
Toledo e João Dias
 
Joaquim Roriz, candidato que disputava com Agnelo Queiroz a vaga no Palácio do Buriti, colocou o depoimento de Michael em seu horário eleitoral na TV. Em contrapartida entra em cena a história contada pela Revista Quidnovi na semana passada sob o título VOZ DE PRISÃO.
 
Mais uma vez João Dias,pesadelo de Agnelo, é um dos protagonistas da história. Até chegar ao corre corre na padaria no Sudoeste, bairro nobre de Brasília, muita coisa havia acontecido e está vindo à tona agora.
 
Marcelo Toledo e o doleiro Fayed chamaram João Dias para se juntar ao grupo que tentava conseguir a alto custo a Secretaria de Segurança Pública, o DF- Trans e a Seguradora do BRB.
 
Foi oferecido para João, a Seguradora do BRB que poderia gerar de R$ 1 milhão a R$ 1,5 milhões ao mês para o esquema. João topou o negócio, mas por pouco tempo. Numa conversa com Miguel Lucena, presidente da Codeplan, foi prometido uma posição melhor dentro do Governo. Miguel pretendia assumir a Secretaria de Segurança Pública e deixar a Codeplan nas mãos de João Dias.
 
Lucena levou João Dias para enfrentar Toledo e Fayed, que tinham nas mãos gravações comprometedoras de caixa 2 na campanha de Agnelo. O delegado Lucena traçou o plano com João para dar voz de prisão ao doleiro e a Toledo por tentativa de extorsão. Chamou Fayed para tomar um vinho na Padaria Pães & Vinhos, no Sudoeste, enquanto João Dias ficou do lado de fora aguardando o momento de entrar em cena.
 
Em paralelo, Toledo telefona para Lucena e começa uma discussão. Em seguida, Toledo chega a padaria a fim de colocar um ponto final na tão esperada resposta de Agnelo.  O que Toledo não sabe é que a Seguradora do BRB não pode ser dada a ele, nem por Agnelo, porque está nas mãos do vice Tadeu Filipelli e do grão mestre da maçonaria da Loja Grande Oriente do Brasil, Jaffé Torres. Lucena começa a discutir e o resultado foi parar na 3ª DP. Lá, João Dias demonstrava prestígio com o governador. Exigia que fosse feito um Boletim de Ocorrência colocando Agnelo e Lucena como vitimas de extorsão.
 
 
João falava alto e ditava as regras. Mas o delegado Onofre de Moraes não podia fazer o BO porque não estavam na Delegacia nem Lucena nem Agnelo. João Dias então deixa a delegacia dizendo que daria o prazo de uma semana para tudo ficar resolvido. E garantia ter Agnelo em suas mãos.
 
Agora, Onofre, está investigando o caso em sigilo e deve colocar no inquérito o depoimento de todos os personagens.
No final da tarde desta 2ª feira, o governador de Brasília Agnelo Queiroz, durante a inauguração de uma pequena reforma no Hospital da Ceilândia, mostrou-se descontrolado. Xingou os pacientes que cobravam mais atenção da área da Saúde. Disse que os pacientes eram mercenários. O motivo desse descontrole poderia até ser a questão do Sistema de Saúde do DF que está falido. Mas, na verdade, o que incomoda Agnelo é o rumoroso processo que tramita na justiça federal, e que agora poderá vir à tona.
 
Hoje Agnelo deverá ter uma nova dor de cabeça. Conforme revelou o Quidnovi, na semana passada, o governador continua nomeando todas as pessoas envolvidas em escândalos que possam derrubá-lo da cadeira do Buriti. Segundo o Diário Oficial do DF de 13 de janeiro de 2011, Vera Lúcia foi nomeada para um CNE 07 , como assessora especial da Secretaria de Estado e desenvolvimento Urbano e Habitacional. No DODF de 10 de março de 2011, Vera Lúcia foi remanejada para um cargo de natureza especial com CNE 05. Ela agora é Ouvidora da Secretaria de Transparência e Controle do GDF. Ou seja, escuta as denúncias contra o Governo para que possam ser apuradas.
 
Agnelo Queiroz, governado do DF
  

UNE leva R$ 30 mi, mas não reergue sede histórica

Por Agência Estado

02 de Novembro de 2011 às 18:19Agência Estado
Comandada por dirigentes ligados ao PC do B desde que voltou à atividade formal, em 1979, a União Nacional dos Estudantes (UNE) ainda não tirou do papel o prédio de 12 andares que promete construir em um dos melhores pontos da Praia do Flamengo (zona sul) com os R$ 44,6 milhões a que tem direito como indenização pelos danos sofridos durante o regime militar. Embora a União tenha pago R$ 30 milhões aos estudantes em dezembro passado, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou do lançamento da pedra fundamental da obra, o terreno continua intacto. Os outros R$ 14,6 milhões estão prometidos pela presidente Dilma Rousseff desde o início do ano, mas ainda não foram liberados.
Além dos R$ 30 milhões da indenização, a UNE recebeu, durante os dois mandatos de Lula, R$ 12,8 milhões da União, graças a convênios com instituições federais, inclusive o Ministério do Esporte, entregue ao PC do B desde o início do governo petista. O valor é 11,6 vezes maior que o R$ 1,1 milhão liberado nos dois governos do tucano Fernando Henrique Cardoso. Houve repasses apenas em 1995, de R$ 100 mil, e em 2002, de R$ 1 milhão.
Levantamento do site Contas Abertas, com base no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), mostra que os convênios da UNE com o Ministério do Esporte renderam repasses de quase R$ 450 mil, em 2004 e em 2009. O convênio de 2009, no valor de R$ 250 mil, prevê "capacitação de gestores de esporte e de lazer". O de 2004 somou R$ 199,6 mil, para "promoções de eventos de esporte educacional".
O Ministério que fez os maiores repasses à UNE foi o da Cultura, somando R$ 8,5 milhões. Um dos maiores convênios, de 2009, no valor de R$ 1,459 milhão, concedeu "apoio financeiro ao projeto 'atividades culturais e artísticas da UNE'". No mesmo ano, foram repassados R$ 786,5 mil para "realização de shows de música popular brasileira e debates nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro". O Ministério da Saúde, somente em 2008, repassou R$ 2 8 milhões para programa de "apoio à educação de trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS)", segundo o Contas Abertas.
Por causa dos altos valores repassados à UNE nos últimos anos, o procurador Marinus Marsico, representante do Ministério Público no Tribunal de Contas da União (TCU), pediu aos ministérios informações e cópias das prestações de contas dos universitários. Segundo a assessoria de imprensa do TCU, os esclarecimentos das instituições federais serão analisados quando o procurador voltar de férias, na próxima semana. Marinus Marsico poderá pedir mais informações, apresentar um pedido de investigação ao TCU ou encerrar o procedimento, se entender que as prestações de contas foram satisfatórias.
Em resposta às perguntas encaminhadas pelo Estado, a direção da UNE detalhou vários convênios firmados com o governo Lula, como os programas Roda a Rede e Sempre Jovem e Sexagenária, com o Ministério da Cultura, a Caravana de Saúde, Educação e Cultura, com o Ministério da Saúde, e atividades esportivas na 6ª Bienal de Arte e Cultura da UNE, em Salvador, em 2009, com o Ministério do Esporte. "Todos os convênios são públicos e estão disponíveis para consulta pública. Todos os recursos foram utilizados na realização de atividades que a UNE organiza, como congressos e bienais de cultura", diz a nota. Segundo a assessoria de imprensa, os estudantes não receberam até agora nenhuma notificação ou pedido de informações do TCU.
A UNE nega que os altos valores dos convênios nos últimos anos tenham ligação com a chegada de um aliado ao poder. "Não existe essa relação. Tivemos convênios também com o governo anterior", diz. A nota insiste que "não existe ligação ou vínculo da UNE com partidos políticos" e lembra que tem "filiados a todos os partidos, inclusive PSDB e DEM, e também aqueles que não possuem nenhum tipo de filiação".
Segundo a direção da UNE, as obras na Praia do Flamengo começarão no primeiro semestre de 2012. "Pelas dimensões de um projeto do porte da nova sede da UNE, os prazos estão dentro de nossa expectativa", diz direção da UNE. O orçamento final, informa, ainda não foi calculado.
Em 2010, o único repasse federal registrado no Siafi foi a indenização de R$ 30 milhões que, segundo a UNE, serão usados na construção do edifício da Praia do Flamengo. O projeto foi um presente do arquiteto Oscar Niemeyer, histórico militante comunista que completa 104 anos em dezembro. O prédio terá ainda um museu, um centro cultural e um teatro sob a administração dos estudantes.
O mais provável é que a UNE e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) ocupem dois pavimentos e os demais sejam alugados. A estimativa no mercado imobiliário é que o aluguel dos dez andares renda pelo menos R$ 3 milhões anuais. Até agora, no entanto, o que existe é apenas o terreno vazio e um enorme cartaz em homenagem ao ex-dirigente da UNE Honestino Guimarães, desaparecido durante a ditadura. O casarão que ocupava o terreno funcionou como sede da UNE até 1964, quando foi incendiado, logo depois do golpe militar. Em 1980, os restos do casarão foram demolidos pela ditadura. Há mais de vinte anos a UNE se instalou na sede da Vila Mariana, em São Paulo.
Responsável pelo projeto técnico da obra, já concluído, o arquiteto João Niemeyer, sobrinho de Oscar, disse que em poucos dias deverá ser emitida a licença de obra definitiva pela prefeitura, e as obras poderão começar assim que a UNE der o sinal verde.

Trituração de Marta gira máquina da eleição em SP



Trituração de Marta gira máquina da eleição em SPFoto: Felipe L. Gonçalves/Edição/247

COM FERNANDO HADDAD, PT TENDE A FAZER CAMPANHA MAIS DÓCIL AO PREFEITO KASSAB; RETRIBUIÇÃO PODE SER ESCOLHA DE HENRIQUE MEIRELLES PELO PSD; TUCANOS DE GERALDO ALCKMIN TÊM EM JOSÉ ANÍBAL NOME PARA ALIANÇA; RUIM PARA SERRA, BOM PARA LULA

02 de Novembro de 2011 às 18:20
Marco Damiani, 247 – O diálogo frio e curto entre a presidente Dilma Rousseff e a senadora Marta Suplicy, na ala internacional do aeroporto de Congonhas, na noite da segunda-feira 31, selou um destino e fez girar a roda de engrenagens e encaixes que move a sucessão municipal de São Paulo. Um movimento está ligado a outro. Nenhum gesto é independente.
Ao lançar Marta no triturador de candidaturas, a presidente Dilma, sincronizada com o ex Lula, tirou da disputa ninguém menos do que favorita nas pesquisas. Trinta por cento do eleitorado, arredondando, estão, ao menos temporariamente, órfãos. Não há, afinal, a menor garantia de que Marta irá amassar barro na periferia da capital paulista, onde fica a maior parte de seu contingente eleitoral, em favor do ministro da Educação, Fernando Haddad. Sinais dessa pré-indisposição dificilmente serão disfarçados nesta quinta-feira 3, quando a senadora estará diante da imprensa para dizer, com um mínimo de boa vontade, que atenderá ao “apelo” de Dilma e irá retornar, feliz e sem compensações, à atividade parlamentar.
Igualmente é uma incógnita o sentimento com que as bases do PT irão acolher Haddad como seu futuro candidato. Por ordem de Lula, os chefes da legenda engoliram suas preferências e decidiram seguir, cegamente, na direção apontada pelo líder agora acamado. De saída, só quem ganha com Haddad candidato é a presidente Dilma, que se livra de maneira natural e sem traumas de um ministro que a mídia considera ‘bem trapalhão’, em razão de derrapadas como as do Enem neste e nos últimos anos.
Dilma também ganha com a atmosfera bem mais calma que a eleição promete ter sem Marta por perto. A senadora, todos sabem, é mulher de posições e opiniões fortes, que já se controlava, seguindo a política de alianças da presidente, para evitar críticas rasgadas à gestão do prefeito Gilberto Kassab. Com Haddad pelo PT, o discurso de palanque tende a ser bem menos belicoso, centrado em propostas mais técnicas para a administração da cidade do que em estocadas políticas nos pontos fracos de Kassab.
O vácuo deixado pela supressão praticada contra Marta acelera o rodopio das articulações entre o PSD de Kassab e o PSDB do govenador Geraldo Alckmin. Trabalhando com o cenário Haddad, os dois chefes podem examinar com mais otimismo a possibilidade de uma aliança para 2012. E esta aliança pode até contemplar os interesses de Lula e Dilma.
O pré-candidato Henrique Meirelles, que assinou ficha no partido do prefeito só depois de confabular com o ex-presidente Lula, para quem presidiu o Banco Central por oito anos, ganha vantagem no novo cenário. Ao trocar Marta por Haddad, Lula sabe que facilitou a vida de Kassab, que poderá retribuir, em sinal de fidelidade ao seu compromisso de boa convivência com a presidente Dilma. Perde força, por esta ótica, o vice-governador Guilherme Afif, que por muitos é visto como nome de Kassab para fechar com os tucanos. No novo quadro, Meirelles pode se tornar palatável ao PSDB, bastando aceitar, por exemplo, um vice como o deputado José Aníbal, que trabalha para ganhar as prévias dentro de seu partido. Secretário de Alckmin, ele pertence ao grupo que historicamente foi vítima das maquinações do ex-governador José Serra. E só quem quer uma eleição de radicalizações é Serra, isolado em seu discurso de levar os tucanos à crítica mais ácida à administração do PT. A hora do troco de Aníbal sobre Serra pode estar se aproximando. Contra o desejo do ex-governador de tornar a eleição paulistana um acalorado debate sobre o governo Dilma, ante-sala da eleição presidencial de 2014, Aníbal entraria para o grupo de bombeiros que farão uma campanha eleitoral menos agressiva. Um quadro geral que interessa, em muito, para quem é governo hoje: Dilma, Alckmin e Kassab. A eleição de São Paulo se tornaria, assim, uma disputa em que nenhum deles sairia derrotado.

'Crime de imprensa', um livro sobre grandes jornais



'Crime de imprensa', um livro sobre grandes jornaisFoto: Divulgação

MYLTON SEVERIANO E PALMÉRIO DÓRIA ASSINAM O PRIMEIRO LIVRO A TRATAR DA PARTICIPAÇÃO DOS GRANDES JORNAIS NAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2010, E, SEGUNDO OS PRÓPRIOS AUTORES, DEVIDO AO TEOR DA OBRA, VOCÊ NÃO DEVE OUVIR FALAR MUITO SOBRE ESSE LIVRO NOS JORNALÕES

02 de Novembro de 2011 às 14:05
Rodolfo Borges_247 – A bala de prata da eleição de 2010 foi uma bolinha de papel. Uma bolinha de papel que surpreendentemente acertou a cabeça do então candidato José Serra com o peso de dois quilos – pelo menos de acordo com as primeiras notícias veiculadas pelos principais jornais do país. É com essa história que os jornalistas Palmério Dória e Mylton Severiano abrem “Crime de Imprensa”, o primeiro livro a tratar das eleições de 2010 sob a ótica do jornalismo. E, pelo tom satírico dado pelos autores ao assunto, a avaliação não é lá muito lisonjeira.
Palmério e Mylton, jornalistas com história e passagem pelos maiores veículos de imprensa do país, prometem um “retrato da mídia brasileira murdoquizada”, mains interessada em negócios do que em notícias, e reconhecem, em tom de desafio, que não devem conseguir uma única resenha sobre o livro nos grandes jornais. “'Honoráveis Bandidos' não teve nenhuma, não vejo por que esse teria”, disse Palmério ao Brasil 247, referindo-se ao livro lançado em 2009 pela dupla e que traça outro retrato – o do Brasil na era Sarney –, sem mostrar muita preocupação. “O livro (Honoráveis Bandidos) frequentava os jornais pela lista dos mais vendidos”, brinca o jornalista.
Crime de Imprensa ficou pronto na última sexta-feira (28/10) e começa a ser distribuído nesta semana pelas livrarias do país (também pode ser comprado pelo site da editora, Plena Editorial), mas quase não sai. Os autores receberam negativas de três editoras – uma delas nem quis sentar para conversar depois de conhecer o assunto – e já se preparavam para lançar apenas a versão digital do livro quando a Plena Editorial comprou a briga. “Nossa ideia é lançar o livro nas próximas semanas, com atenção especial para a estudantada”, diz Palmério, que promete mais do que um mero relato sobre o desempenho dos grandes noticiários nas eleições de 2010.
As análises dos autores sobre o último pleito surgem situadas numa perspectiva histórica que recupera a participação da imprensa na política brasileira desde 1954, “o 1964 que não deu certo”, lembra Palmério, em referência à tensão política que resultou no suicídio de Getúlio Vargas – os protagonistas dos jornais da época eram Carlos Lacerda e Samuel Wainer. O tom histórico é reforçado pelo prefácio do livro, assinado por Lima Barreto, em texto recuperado que mostra como a imprensa nacional vem se comportando de forma parecida há algum tempo. Mino Carta reforça o time e dá o mote do livro em citação estampada na capa: “Na maioria dos casos a mídia é ponta-de-lança para grandes negócios”.
Blogs
Para os autores do livro, a grande diferença entre os dias de hoje e as décadas passadas é a existência da “blogosfera”, que possibilita a circulação de opiniões e versões divergentes do noticiado pelos grandes jornais. Com visões tão críticas sobre grupos e famílias tão poderosas – um terceiro livro está em produção, mas é sigiloso, para que os afetados não tentem evitar sua publicação –, uma pergunta se impõe: como é que os autores se sustentam? “A gente sobrevive. Aliás, acho que o melhor termo para nos definir é esse: sobreviventes”, define Palmério, que publica “Crime de Imprensa”, também, para provar que ainda há espaço para as grandes reportagens. Nem que seja fora dos grandes jornais.

Sob pressão de Lula e Dilma, Marta desiste da corrida à prefeitura


BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Isolada no PT e sob pressão do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff, a senadora Marta Suplicy desistiu de disputar a indicação para concorrer à Prefeitura de São Paulo em 2012.

A decisão abre caminho para o partido confirmar a candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad. Ele foi lançado por Lula e tem apoio de Dilma e da cúpula petista.
Marta acertou a saída em conversa reservada com a presidente na base aérea de Congonhas, na segunda-feira, antes de ela visitar Lula no hospital Sírio-Libanês.

O encontro foi divulgado ontem (1º) pela ministra Helena Chagas (Comunicação Social) na chegada da comitiva presidencial a Cannes, na França, para a cúpula do G20.

Segundo o relato dela, Dilma disse que Marta foi "a melhor prefeita que São Paulo teve", mas não deveria se candidatar de novo porque agora sua presença no Senado seria "mais importante".

Ficou combinado que a senadora ficaria responsável por anunciar publicamente a sua resposta. Ela convocou jornalistas para uma entrevista na quinta-feira (3), depois do feriado de Finados.

Em seu jantar de aniversário, na quinta-feira passada, Lula disse a aliados que procuraria a ex-prefeita para uma conversa definitiva. A descoberta de que ele tem câncer na laringe obrigou Dilma a assumir a tarefa.

Aliados de Marta e fontes do Planalto confirmaram à Folha que ela vai se retirar. Ontem à noite, seus apoiadores se reuniriam para decidir se declaram apoio a Haddad logo ou se esperam que ele seja oficializado candidato.
Editoria de Arte/Folhapress

PRÉVIAS
A direção do PT agora tentará evitar a realização de prévias, marcadas para 27 de novembro. Os outros três pré-candidatos (os deputados Jilmar Tatto e Carlos Zarattini e o senador Eduardo Suplicy) são azarões, mas podem forçar uma eleição interna.

Abandonada por ex-aliados e sem apoio de nenhum dos 11 vereadores petistas em São Paulo, Marta já havia sinalizado que sairia, mas precisava de um discurso para justificar o recuo após desafiar a autoridade de Lula.

No PT, fala-se em "saída honrosa", mas sem prêmio de consolação. Dilma descartou oferecer um ministério à ex-prefeita, dizendo que não misturaria questões de governo com assuntos eleitorais.

Na base aérea, ela se limitou a dizer à aliada que sua permanência no Senado será essencial para ajudar o governo em votações importantes.

O presidente do PT, Rui Falcão, afirmou que o pedido da presidente tem "muito impacto" e que Marta continuará a ter "papel importante" no Senado. "Ela poderá inclusive participar de campanhas do PT nacionalmente."

Falcão afirmou que Haddad ainda pode ser obrigado a disputar prévias, mas deu como certa a sua vitória no partido. "Tudo indica que ele será o nosso candidato."

Outro dirigente disse que o câncer de Lula não apressou a saída de Marta. Se insistisse nas prévias, ela teria até a próxima segunda-feira para se inscrever. Depois disso, o custo político de uma desistência seria ainda maior.
Colaborou NATUZA NERY, de Brasília

Conselho da EBC diz estranhar acusações de ex-diretora



Conselho da EBC diz estranhar acusações de ex-diretoraFoto: ANDRE DUSEK/AGÊNCIA ESTADO

CONSELHO CURADOR DIVULGOU NOTA EM QUE DIZ “ESTRANHAR” ESSA POSTURA E DEFENDE O SECRETÁRIO EXECUTIVO DO COLEGIADO, CRITICADO POR TEREZA EM SEU BLOG PESSOAL E EM ENTREVISTA COLETIVA

Por Agência Estado
01 de Novembro de 2011 às 20:48Agência Estado
Responsabilizado pela jornalista Tereza Cruvinel por sua saída da presidência da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), o Conselho Curador divulgou hoje nota em que diz “estranhar” essa postura e defende o secretário executivo do colegiado, criticado por Tereza em seu blog pessoal e em entrevista coletiva.
“A Presidência do Conselho Curador da EBC manifesta seu estranhamento com relação às recentes declarações da ex-diretora-presidente da EBC envolvendo o Conselho Curador da instituição e seu secretário executivo, uma vez que a decisão a respeito da renovação ou não do mandato da atual gestão é da competência exclusiva da Presidência da República”, diz a nota. Ontem, Tereza atribuiu sua saída a uma “questão de (disputa de) poder” e que “começaram a falar até em impeachment”.
No texto, o conselho “reitera sua ampla confiança no secretário executivo do Conselho Curador, Diogo Moyses, que nos últimos dois anos exerceu suas funções com profissionalismo, dedicação e elevado espírito público”. Por fim, o colegiado “reafirma o compromisso inarredável com sua missão institucional de defesa dos princípios da comunicação pública, estando sempre aberto ao diálogo com os dirigentes da instituição e com todos os setores da sociedade”.
Em carta aos conselheiros, Moyses rebate as acusações feitas por Tereza, mas diz compreender “de forma sincera as dificuldades enfrentadas neste momento e, portanto, as declarações intempestivas contra o Conselho Curador e secundariamente contra este secretário”. “Não poderia deixar de registrar o meu profundo repúdio à acusação da qual foi vítima, qual seja, a de plantar, a pedido de conselheiros não nomeados, notícias na imprensa sobre visões deste Conselho em relação ao processo sucessório”.

Nina Crintzs: Eu, o SUS, a ironia e o mau gosto


Há seis anos atrás eu tive uma dor no olho. Só que a dor no olho era, na verdade, no nervo ótico, que faz parte do sistema nervoso. O meu nervo ótico estava inflamado, e era uma inflamação característica de um processo desmielinizante. Mais tarde eu descobri que a mielina é uma camada de gordura que envolve as células nervosas e que é responsável por passar os estímulos elétricos de uma célula para a outra. Eu descobri também que esta inflamação era causada pelo meu próprio sistema imunológico que, inexplicavelmente, passou a identificar a mielina como um corpo estranho e começou a atacá-la. Em poucas palavras: eu descobri, em detalhes, como se dá uma doença-auto imune no sistema nervoso central. Esta, específica, chama-se Esclerose Múltipla. É o que eu tenho. Há seis anos.
Os médicos sabem tudo sobre o coração e quase nada sobre o cérebro – na minha humilde opinião. Ninguém sabe dizer porque a Esclerose Múltipla se manifesta. Não é uma doença genética. Não tem a ver com estilo de vida, hábitos, vícios. Sabe-se, por mera observação estatística, que mulheres jovens e caucasianas estão mais propensas a desenvolver a doença. Eu tinha 26 anos. Right on target.
Mil médicos diferentes passaram pela minha vida desde então. Uma via crucis de perguntas sem respostas. O plano de saúde, caro, pago religiosamente desde sempre, não cobria os especialistas mais especialistas que os outros. Fui em todos – TODOS – os neurologistas famosos – sim, porque tem disso, médico famoso – e, um por um, eles viam meus exames, confirmavam o diagnóstico, discutiam os mesmos tratamentos e confirmavam que cura, não tem.
Minha mãe é uma heroína – mãos dadas comigo o tempo todo, segurando para não chorar. Ela mesma mais destruída do que eu. E os médicos famosos viam os resultados das ressonâncias magnéticas feitas com prata contra seus quadros de luz – mas não olhavam para mim. Alguns dos exames são medievais: agulhas espetadas pelo corpo, eletrodos no córtex cerebral, “estímulos” elétricos para ver se a partes do corpo respondem. Partes do corpo. Pastas e mais pastas sobre mesas com tampos de vidro. Colunas, crânio, córneas. Nos meus olhos, mesmo, ninguém olhava.
O diagnóstico de uma doença grave e incurável é um abismo no qual você é empurrado sem aviso. E sem pára-quedas. E se você tá esperando um “mas” aqui, sinto lhe informar, não tem. Não no meu caso. Não teve revelação divina. Não teve fé súbita em alguma coisa maior. Não teve uma compreensão mais apurada das dores do mundo. O que dá, assim, de cara, é raiva. Porque a vida já caminha na beirada do insuportável sem essa foice tão perto do pescoço. Porque já é suficientemente difícil estar vivo sem esta sentença de morte lenta e degradante. Dá vontade de acreditar em Deus, sim, mas só se for para encher Ele de porrada.
O problema é que uma raiva desse tamanho cansa, e o tempo passa. A minha doença não me define, porque eu não deixo. Ela gostaria muitíssimo de fazê-lo, mas eu não deixo. Fiz um combinado comigo mesma: essa merda vai ter 30% da atenção que ela demanda. Não mais do que isso. E segue o baile. Mas segue diferente, confesso. Segue com menos energia e mais remédios. Segue com dias bons e dias ruins – e inescapáveis internações hospitalares.
A neurologista que me acompanha foi escolhida a dedo: ela tem exatamente a minha idade, olha nos meus olhos durante as minhas consultas, só ri das minhas piadas boas e já me respondeu “eu não sei” mais de uma vez. Eu acho genial um médico que diz “eu não sei, vou pesquisar”. Eu não troco a minha neurologista por figurão nenhum.
O meu tratamento custaria algo em torno de R$12.000,00 por mês. Isso mesmo: 12 mil reais. “Custaria” porque eu recebo os remédios pelo SUS. Sabe o SUS?! O Sistema Único de Saúde? Aquele lugar nefasto para onde as pessoas econômica e socialmente privilegiadas estão fazendo piada e mandando o ex-presidente Lula ir se tratar do recém descoberto câncer?
Pois é, o Brasil é o único país do mundo que distribui gratuitamente o tratamento que eu faço para Esclerose Múltipla. Atenção: o ÚNICO. Se isso implica em uma carga tributária pesada, eu pago o imposto. Eu e as outras 30.000 pessoas que têm o mesmo problema que eu. É pouca gente? Não vale a pena? Todos os remédios para doenças incuráveis no Brasil são distribuídos pelo SUS. E não, corrupção não é exclusividade do Brasil.
O maior especialista em Esclerose Múltipla do Brasil atende no HC, que é do SUS, num ambulatório especial para a doença. De graça, ou melhor, pago pelos impostos que a gente reclama em pagar. Uma vez a cada seis meses, eu me consulto com ele. É no HC que eu pego minhas receitas – para o tratamento propriamente dito e para os remédios que uso para lidar com os efeitos colaterais desse tratamento, que também me são entregues pelo SUS. O que me custaria fácil uns outros R$2.000,00.
Eu acredito em poucas coisas nessa vida. Tenho certeza de que o mundo não é justo, mas é irônico. E também sei que só o humor salva. Mas a única pessoa que pode fazer piada com a minha desgraça sou eu – e faço com regularidade. Afinal, uma doença auto-imune é o cúmulo da auto-sabotagem.
Mas attention shoppers: fazer piada com a tragédia alheia não é humor, é mau gosto. É, talvez, falha de caráter. E falar do que não se conhece é coisa de gente burra. Se você nunca pisou no SUS – se a TV Globo é a referência mais próxima que você tem da saúde pública nacional, talvez esse não seja exatamente o melhor assunto para o seu, digamos, “humor”.
Quem me conhece sabe que eu não voto – não voto nem justifico. Pago lá minha multa de três reais e tals depois de cada eleição porque me nego a ser obrigada a votar. O sistema público de saúde está longe de ser o ideal. E eu adoraria não saber tanto dele quanto sei. O mundo, meus amigos, é mesmo uma merda. Mas nós estamos todos juntos nele, não tem jeito. E é bom lembrar: a ironia é uma certeza. Não comemora a desgraça do amiguinho, não.