segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Presidente da OAB nacional recebe do governo do Pará sem trabalhar


Ação pede retorno de licença remunerada paga pelo Pará por 13 anos
ELVIRA LOBATO
DO RIO
O presidente nacional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Ophir Filgueiras Cavalcante Júnior, é acusado de receber licença remunerada indevida de R$ 20 mil mensais do Estado do Pará.
A ação civil pública foi proposta na semana passada por dois advogados paraenses em meio a uma crise entre a OAB nacional e a seccional do Pará, que está sob intervenção.
Um dos autores da ação, Eduardo Imbiriba de Castro, é conselheiro da seccional.
Segundo os acusadores, Ophir Cavalcante, que é paraense, está em licença remunerada do Estado há 13 anos -o que não seria permitido pela legislação estadual-, mas advoga para clientes privados e empresas estatais.
Eles querem que Cavalcante devolva ao Estado os benefícios acumulados, que somariam cerca de R$ 1,5 milhão.
Cavalcante é procurador do Estado do Pará. De acordo com os autores da ação, ele tirou a primeira licença remunerada em fevereiro de 1998 para ser vice-presidente da OAB-PA.
Em 2001, elegeu-se presidente da seccional, e a Procuradoria prorrogou o benefício por mais três anos. Reeleito em 2004, a licença remunerada foi renovada.
O fato se repetiu em 2007, quando Cavalcante se elegeu diretor do Conselho Federal da OAB, e outra vez em 2010, quando se tornou presidente nacional da entidade.
Segundo os autores da ação, a lei autoriza o benefício para mandatos em sindicatos, associações de classe, federações e confederações. Alegam que a OAB não é órgão de representação classista dos procuradores. Além disso, a lei só permitiria uma prorrogação do benefício.
INTERVENÇÃO
Em 23 de outubro, o Conselho Federal da OAB afastou o presidente e os quatro membros da diretoria da seccional do Pará após acusações sobre a venda irregular de terreno da OAB em Altamira.

A intimidação de Waack e da Globo


Autor: 
 
Para quem pegou o programa pela metade convém retomá-lo. Há quase 2 meses atrás o Blog"Brasil que Vai!", de minha autoria, reproduziu notícias que circulavam pela rede dando conta da existência de documentos do Wikileaks que associavam o jornalista Wliam Waack com o governo americano.
Antes desse texto, um primeiro foi publicado  que apontava o surgimento da TV Globo como resultado, por um lado, da iniciativa do governo militar que se instalou no país com o golpe de 1964 e, por outro lado, do acordo firmado entre o jornal da família Marinho e o grupo americano Time – Life  em 1965 na cidade de Nova Iorque.
O texto encerrava-se com a afirmação opinativa de que muito embora fossem conhecidas as ligações da TV Globo com grupos americanos, desconhecia-se o fato de que essas relações se estendessem ao governo daquele país e que muito menos tivessem continuidade até os dias de hoje, como faziam supor  os documentos trazidos a público pelo Wikileaks.
Esse texto permaneceu postado sem que suscitasse maiores controvérsias.  Até que pouco tempo depois a mídia anunciasse o encerramento das atividades do site, o que fez o Blog publicar novo texto lembrando a existência dos documentos relacionados às atividades do jornalista.
O assunto ganhou então súbita divulgação, vindo a ser repercutido pelos principais sites noticiosos do País e do exterior como o americano Huffington Post.
Essa repercussão apenas foi possível porque o site R7 de Edir Macedo, com sua mais que conhecida indisposição com relação à TV Globo, fez publicar matéria que citava o Blog como fonte da informação e reproduzia à sua conveniência trechos do texto nele postado.
 Foi o bastante para que um tema amanhecido ganhasse fóruns de novidade e viesse a dar ensejo como que a um escândalo nacional.
Confirma a exegese simplória do que pode ser denominado o “episódio Waack” a matéria do site Observatório da Imprensa, subscrita pelas representantes “Organização Pública” de jornalismo investigativo, responsável pela divulgação dos documentos do Wikileaks.
Nesse artigo, as jornalistas Marina Amaral e Natália Viana,  a par de buscar banir quaisquer suspeitas dobre as atividades Wiliam Waack, manifestam elas mesmas surpresa com a repercussão do assunto.
Na defesa do colega jornalista, Marina e Natália, colocam na berlinda os ex-ministros Nelson Jobim e José Dirceu não deixando dúvidas sobre a opinião de que sobre esses sim deveria recair a condenação dos leitores e internautas. Inferem que por serem homens de Estado deveriam pautar suas condutas por maior recato nas interações com governos estrangeiros.
Usam em favor do jornalista a imagem do mecânico com mãos sujas de graxa para insinuarem que era da natureza do trabalho de Waack falar sobre aquilo que seria seu ofício, informar.
Arrolam testemunha o ex- presidente do Instituto Fernando Henrique Cardoso, Sérgio Fausto, e criam uma distinção retórica (que dá título ao artigo) entre “interlocutor” e “informante” para fazer crer que Waack seria uma espécie de consultor esporádico do governo americano e não fonte permanente de informação.
 Enfim, uma dedicada peça de defesa ao colega de profissão cujos malabarismos conceituais dispensam consideração.
Chegam até a deslocar o foco da celeuma para uma questão conexa que pouca relação com o que está em discussão: cabe a um jornalista com posições políticas definidas, moderar debates políticos ocultando suas opções partidárias, perguntam elas? Pergunta irrelevante tendo em vista que as posições políticas manifestas por Waack nos programas que comanda coincidem em gênero e grau com as da emissora para a qual trabalha. O que pensa ou o que não pensa o jornalista soa nesse sentido secundário.
É todo o contexto que deve ser considerado. A impropriedade de que um jornalista que conduz dois programas de grande penetração na TV brasileira, freqüente colóquios com representantes de governo estrangeiro e interfira com seus posicionamentos na disposição de multinacionais estrangeiras em contribuírem com uma ou outra das candidaturas concorrentes em pleitos nacionais, como o de 2010 que levou a desafeta do jornalista Dilma Russef à presidência da República.
Se contatos com governos estrangeiros mantiveram também agentes ou ex-agentes do Estado, agiram eles sim de acordo com a natureza de suas atividades.
Se exorbitaram no que lhes era dado falar, cabia ao governo demiti-los. O que, de um modo ou outro, parece ter ocorrido. Mas que sanção sofreu Waack ao criar condições políticas favoráveis a uma única candidatura? Qual a extensão e a natureza desses contatos?
Evidente que essas dúvidas não podem ser esclarecidas pelo libelo de defesa que fazem as colegas jornalistas de Waack. Em última instância, apenas os Órgãos de Segurança brasileiros poderão esclarecê-las.
Que fique claro para Waack: não foi o inofensivo Blog de um cidadão sem filiação partidária que expôs o jornalista, mas os documentos do Wikileaks e o enfoque que pretenderam dar o grandes adversários da emissora  para que trabalha.
Quer prender, quer arrebentar quem expressa livremente suas opiniões para salvaguardar seu pretenso direito de fazer um jornalismo questionável em termos dos interesses nacionais? Que o faça! Mas qualquer um também terá o direito de pedir que se o investigue pela dúvida de extrapolar seu papel de informar àqueles, que a princípio, seria pago para informar.

Tucanos sem ziriguidum



Cynara Menezes


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O senador Aloysio Nunes Ferreira lamenta a ausênsia de um “samba-enredo” ao PSDB. Foto:Sergio Amaral
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O tucano aloysio Nunes Ferreira é da oposição, mas é um político tão cordial que os petistas nem o “trollam” (provocam) no Twitter, a rede social onde volta e meia o senador é quem trolla… o seu próprio partido. Nos últimos meses, Ferreira tem utilizado a internet para se queixar da falta de empenho do PSDB em se reorganizar. “Cada um vive isolado no seu mundo”, critica o senador paulista, que recebeu CartaCapital em seu gabinete em Brasília.
CartaCapital: Outro dia o senhor causou gargalhadas ao falar que o PSDB estava unido numa votação. Tem muita desunião dentro de seu partido?
Aloysio Nunes Ferreira: Não, existe falta de união (risos). Falta um samba-enredo, uma narrativa da nossa história e da história dos nossos adversários que seja compartilhada por todos e pelo eleitorado. Que a nossa visão dos problemas seja reconhecida, que empolgue as pessoas e que possamos repetir, cantar exaustivamente. Um pouco como o PT fez quando estava na oposição. Isso nos falta.
CC: Acaba de acontecer um encontro do PSDB no Rio de Janeiro e o senhor não compareceu. Por quê?
ANF: Essa reunião estava marcada para a última semana de outubro. Foi adiada em razão da agenda de Fernando Henrique e eu já tinha outro compromisso. Vou nas próximas.
CC: O ex-presidente FHC lançou um documento no qual diz que o PSDB precisava se aproximar do povo e nesse encontro criou o slogan Yes We Care para o partido. O povo vai entender?
ANF: Acho que não… Mas as pessoas que estavam lá entenderam. Agora, considere isso uma boutade do Fernando Henrique. Essas reuniões são eventos culturais, importantes para discutir ideias, ouvir pessoas- de fora. Mas não é esse tipo de encontro que vai formular a linha do partido.
CC: Quando o senhor se queixa no Twitter significa que está desprestigiado?
ANF: Não, ao contrário. Estou feliz como nunca na minha condição de senador. O que sinto falta é um ambiente de maior discussão política. Quando reclamei da ausência de reuniões da comissão -executiva me referi a isso.
CC: As decisões estão sendo tomadas individualmente, é isso?
ANF: Exatamente. Cada um vive isolado no seu mundo, no seu segmento. Eu aqui na minha bancada, os deputados federais na bancada deles. Falta uma dinâmica unitária mais forte no partido. Não é uma crítica pessoal ao presidente do partido, Sérgio Guerra. Mas faltam mecanismos coletivos de tomada de decisão, uma rede de comunicação mais sólida com os militantes, não temos usado com eficiência as redes sociais. É cada um cuidando do seu Twitter, do seu blog, do seu Facebook, do seu site. Falta unir isso.
CC: O senhor cogitaria ir para o PSD?
ANF: Não, estou bem no PSDB. Não vou sair de jeito nenhum.
CC: É a favor que o PSDB seja vice do PSD de Gilberto Kassab na próxima eleição para prefeito?
ANF: Temos um eleitorado comum e temos realizações comuns. O candidato do Kassab, provavelmente, será o vice-governador do Geraldo Alckmin (Afif Domingos). Não vejo muito sentido em se fazer campanha contra o vice do Alckmin. O eleitorado não vai entender, assim como quando Alckmin se lançou a -prefeito (em 2000). Ele não foi para o segundo turno porque o eleitorado não entendeu. Temos de ficar juntos. Quem vai estar na cabeça ou não tem de ver mais adiante.
CC: Recentemente o senhor fez troça do PSD, comparando-o a um confeiteiro machadiano que queria agradar a todos, monarquistas e republicanos, oposicionistas e governistas. Falta uma cara ao PSD?
ANF: Ah, falta. O PSD cresceu nos interstícios da política regional. É muito mais um partido do governismo regional do que federal. A estratégia do Kassab, inteligente, foi somar com os governadores. A tal ponto que o vice-governador do Jaques Wagner (PT) hoje é do PSD… Acho que o objetivo do Kassab é, com base nessa aliança com governadores, ter uma bancada numerosa e, a partir daí, se firmar no primeiro plano da política nacional. O Fernando Henrique falou que o PMDB era um partido-ônibus. O PSD é um partido-van, que vai para tudo quanto é lugar, é menor, mais ágil. Pode dar certo.
CC: Desde o governo Lula se fala que quem faz oposição no Brasil é a mídia. Os partidos de oposição sempre estarão a reboque?
ANF: A imprensa tem mecanismos de investigação próprios. Eu não criaria um departamento de espionagem e contraespionagem no PSDB para fuçar a vida dos outros, esquadrinhar. O que temos de fazer é repercutir e bater o bumbo. Muito. Quando você bate, junta no antagonismo as motivações mais diversas.
CC: Isso o senhor acha que a oposição está fazendo bem.
ANF: Sim. Acontece que o palco em que isso se dá, nosso terreno de luta, é basicamente o Congresso Nacional. E o Congresso não está exatamente em odor de santidade perante a opinião pública. É um mau momento, mas não se pode arrefecer.
CC: O senhor, como ex-guerrilheiro, não ficou frustrado com a Comissão da Verdade tal como foi aprovada e da qual foi relator no Senado?
ANF: Não. A Comissão está na medida certa para o que tem de fazer. Ela não vai rever a anistia. A anistia está incorporada ao sistema político brasileiro, já produziu seus efeitos. Não fosse ela eu não estaria aqui. Foi resultado da peculiaridade do processo de transição da ditadura no Brasil, que foi negociado. Uma boa parte do inconformismo vem de que as pessoas acham que precisa rever a Lei da Anistia. Não é minha posição. Agora, a comissão vai se legitimar pelos resultados que puder obter e pelo apoio que tiver do governo. E não tenho dúvidas de que a presidenta dará todo apoio. Mas ela tem de ter foco, deve se concentrar no Estado de exceção, da vigência do AI-5 (1968-1978).
CC: Poderão ocorrer punições?
ANF: A comissão chegará à definição da autoria. Quem fez? Não poderá prender quem matou Rubens Paiva, mas poderá e deverá identificar quem o matou, em que circunstância, onde está seu corpo. Se o Poder Judiciário poderá ser acionado apesar da anistia? No meu entender, sim. O sistema internacional de defesa dos direitos humanos, especialmente a Corte Interamericana, numa decisão recente considerou imprescritíveis determinados crimes. Essa questão poderá ser levantada perante o Judiciário.
CC: E do lado de quem atuou na luta armada, poderá haver punições?
ANF: Tudo aquilo que ocorreu por parte das pessoas que participaram da luta armada já foi apurado, inclusive com uso de tortura. Houve casos atrozes, sim. Bomba contra o quartel do Segundo Exército que matou o pobre do recruta que estava ali policiando, o membro da PM que foi morto no Vale do Ribeira após ter sido feito prisioneiro pela guerrilha da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária). Isso é uma barbaridade, a própria lei de guerra condena a execução de prisioneiros. São fatos trágicos que desmerecem o movimento, mas que não podem ser comparados com os crimes da ditadura, resultantes de uma política de Estado, uma ordem para exterminar os adversários. Foram martirizados pela ditadura não apenas quem recorreu às armas, mas os que pregavam a via pacífica também.

E o pregador era também um pecador



E o pregador era também um pecadorFoto: Antônio Cruz/ABr/Agência Brasil

OPHIR CAVALCANTE, PRESIDENTE DA OAB E PORTA-VOZ DE TODOS OS MOVIMENTOS CONTRA A CORRUPÇÃO, RECEBEU R$ 1,5 MILHÃO SEM TRABALHAR

14 de Novembro de 2011 às 09:45
247 – Uma velha máxima da filosofia ensina: “Perdoa-se o pecador; o pregador, jamais”. Hoje, atingido por ela foi o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante. Reportagem da jornalista Elvira Lobato, da Folha de São Paulo, revela que ele vem recebendo um salário de R$ 20 mil mensais sem trabalhar. É sua licença remunerada, como procurador do Pará – como todos sabem, um dos estados com mais problemas sociais no País. Somando tudo, Ophir já embolsou R$ 1,5 milhão.
Ophir é também daquelas fontes recorrentes da imprensa, quando há a necessidade de encontrar alguém que vocalize a indignação do povo brasileiro contra a corrupção. Uma marcha contra a corrupção? Um ministro enrolado? Um movimento da elite como o “Cansei”? Bom, nesses casos, “liga pro Ophir”, é o que se diz nas redações.
Na história da humanidade, muitos pregadores têm sido pegos como pecadores. É o caso, por exemplo, de Elliot Spitzer, ex-procurador de Nova York que denunciava a corrupção em Wall Street e tinha uma queda especial por prostitutas pagas com recursos públicos. Ou do ex-procurador Luiz Francisco de Souza, que denunciou Deus e o mundo, e depois caiu em desgraça quando se descobriu que algumas de suas petições eram escritas em escritórios de advocacia.
De acordo com Ophir, seus vencimentos são legais e permitidos pela lei. Mas o fato, agora, é um só: o presidente da OAB perdeu toda a legitimidade para agir como o porta-voz do Cansei. Perdoa-se o pecador, Ophir. O pregador, jamais.

A dura vida dos ateus em um Brasil cada vez mais evangélico.





A parábola do taxista e a intolerância. Reflexão a partir de uma conversa no trânsito de São Paulo. A expansão da fé evangélica está mudando “o homem cordial”?
iálogo aconteceu entre uma jornalista e um taxista na última sexta-feira. Ela entrou no táxi do ponto do Shopping Villa Lobos, em São Paulo, por volta das 19h30. Como estava escuro demais para ler o jornal, como ela sempre faz, puxou conversa com o motorista de táxi, como ela nunca faz. Falaram do trânsito (inevitável em São Paulo) que, naquela sexta-feira chuvosa e às vésperas de um feriadão, contra todos os prognósticos, estava bom. Depois, outro taxista emparelhou o carro na Pedroso de Moraes para pedir um “Bom Ar” emprestado ao colega, porque tinha carregado um passageiro “com cheiro de jaula”. Continuaram, e ela comentou que trabalharia no feriado. Ele perguntou o que ela fazia. “Sou jornalista”, ela disse. E ele: “Eu quero muito melhorar o meu português. Estudei, mas escrevo tudo errado”. Ele era jovem, menos de 30 anos. “O melhor jeito de melhorar o português é lendo”, ela sugeriu. “Eu estou lendo mais agora, já li quatro livros neste ano. Para quem não lia nada...”, ele contou. “O importante é ler o que você gosta”, ela estimulou. “O que eu quero agora é ler a Bíblia”. Foi neste ponto que o diálogo conquistou o direito a seguir com travessões.
 - Você é evangélico? – ela perguntou.
 - Sou! – ele respondeu, animado.
 - De que igreja?
 - Tenho ido na Novidade de Vida. Mas já fui na Bola de Neve.
- Da Novidade de Vida eu nunca tinha ouvido falar, mas já li matérias sobre a Bola de Neve. É bacana a Novidade de Vida?
- Tou gostando muito. A Bola de Neve também é bem legal. De vez em quando eu vou lá.
- Legal.
- De que religião você é?
- Eu não tenho religião. Sou ateia.
- Deus me livre! Vai lá na Bola de Neve.
- Não, eu não sou religiosa. Sou ateia.
- Deus me livre!
- Engraçado isso. Eu respeito a sua escolha, mas você não respeita a minha.
- (riso nervoso).
- Eu sou uma pessoa decente, honesta, trato as pessoas com respeito, trabalho duro e tento fazer a minha parte para o mundo ser um lugar melhor. Por que eu seria pior por não ter uma fé?
- Por que as boas ações não salvam.
- Não?
- Só Jesus salva. Se você não aceitar Jesus, não será salva.
- Mas eu não quero ser salva.
- Deus me livre!
- Eu não acredito em salvação. Acredito em viver cada dia da melhor forma possível.
- Acho que você é espírita.
- Não, já disse a você. Sou ateia.
- É que Jesus não te pegou ainda. Mas ele vai pegar.
- Olha, sinceramente, acho difícil que Jesus vá me pegar. Mas sabe o que eu acho curioso? Que eu não queira tirar a sua fé, mas você queira tirar a minha não fé. Eu não acho que você seja pior do que eu por ser evangélico, mas você parece achar que é melhor do que eu porque é evangélico. Não era Jesus que pregava a tolerância?
- É, talvez seja melhor a gente mudar de assunto...
O taxista estava confuso. A passageira era ateia, mas parecia do bem. Era tranquila, doce e divertida. Mas ele fora doutrinado para acreditar que um ateu é uma espécie de Satanás. Como resolver esse impasse? (Talvez ele tenha lembrado, naquele momento, que o pastor avisara que o diabo assumia formas muito sedutoras para roubar a alma dos crentes. Mas, como não dá para ler pensamentos, só é possível afirmar que o taxista parecia viver um embate interno: ele não conseguia se convencer de que a mulher que agora falava sobre o cartão do banco que tinha perdido era a personificação do mal.)
Chegaram ao destino depois de mais algumas conversas corriqueiras. Ao se despedir, ela agradeceu a corrida e desejou a ele um bom fim de semana e uma boa noite. Ele retribuiu. E então, não conseguiu conter-se:
- Veja se aparece lá na igreja! – gritou, quando ela abria a porta.
- Veja se vira ateu! – ela retribuiu, bem humorada, antes de fechá-la.
Ainda deu tempo de ouvir uma risada nervosa.  
A parábola do taxista me faz pensar em como a vida dos ateus poderá ser dura num Brasil cada vez mais evangélico – ou cada vez mais neopentecostal, já que é esta a característica das igrejas evangélicas que mais crescem. O catolicismo – no mundo contemporâneo, bem sublinhado – mantém uma relação de tolerância com o ateísmo. Por várias razões. Entre elas, a de que é possível ser católico – e não praticante. O fato de você não frequentar a igreja nem pagar o dízimo não chama maior atenção no Brasil católico nem condena ninguém ao inferno. Outra razão importante é que o catolicismo está disseminado na cultura, entrelaçado a uma forma de ver o mundo que influencia inclusive os ateus. Ser ateu num país de maioria católica nunca ameaçou a convivência entre os vizinhos. Ou entre taxistas e passageiros.
Já com os evangélicos neopentecostais, caso das inúmeras igrejas que se multiplicam com nomes cada vez mais imaginativos pelas esquinas das grandes e das pequenas cidades, pelos sertões e pela floresta amazônica, o caso é diferente. E não faço aqui nenhum juízo de valor sobre a fé católica ou a dos neopentecostais. Cada um tem o direito de professar a fé que quiser – assim como a sua não fé. Meu interesse é tentar compreender como essa porção cada vez mais numerosa do país está mudando o modo de ver o mundo e o modo de se relacionar com a cultura. Está mudando a forma de ser brasileiro.
Por que os ateus são uma ameaça às novas denominações evangélicas? Porque as neopentecostais – e não falo aqui nenhuma novidade – são constituídas no modo capitalista. Regidas, portanto, pelas leis de mercado. Por isso, nessas novas igrejas, não há como ser um evangélico não praticante. É possível, como o taxista exemplifica muito bem, pular de uma para outra, como um consumidor diante de vitrines que tentam seduzi-lo a entrar na loja pelo brilho de suas ofertas. Essa dificuldade de “fidelizar um fiel”, ao gerir a igreja como um modelo de negócio, obriga as neopentecostais a uma disputa de mercado cada vez mais agressiva e também a buscar fatias ainda inexploradas. É preciso que os fiéis estejam dentro das igrejas – e elas estão sempre de portas abertas – para consumir um dos muitos produtos milagrosos ou para serem consumidos por doações em dinheiro ou em espécie. O templo é um shopping da fé, com as vantagens e as desvantagens que isso implica.
É também por essa razão que a Igreja Católica, que em períodos de sua longa história atraiu fiéis com ossos de santos e passes para o céu, vive hoje o dilema de ser ameaçada pela vulgaridade das relações capitalistas numa fé de mercado. Dilema que procura resolver de uma maneira bastante inteligente, ao manter a salvo a tradição que tem lhe garantido poder e influência há dois mil anos, mas ao mesmo tempo estimular sua versão de mercado, encarnada pelos carismáticos. Como uma espécie de vanguarda, que contém o avanço das tropas “inimigas” lá na frente sem comprometer a integridade do exército que se mantém mais atrás, padres pop star como Marcelo Rossi e movimentos como a Canção Nova têm sido estratégicos para reduzir a sangria de fiéis para as neopentecostais. Não fosse esse tipo de abordagem mais agressiva e possivelmente já existiria uma porção ainda maior de evangélicos no país.
Tudo indica que a parábola do taxista se tornará cada vez mais frequente nas ruas do Brasil – em novas e ferozes versões. Afinal, não há nada mais ameaçador para o mercado do que quem está fora do mercado por convicção. E quem está fora do mercado da fé? Os ateus. É possível convencer um católico, um espírita ou um umbandista a mudar de religião. Mas é bem mais difícil – quando não impossível – converter um ateu. Para quem não acredita na existência de Deus, qualquer produto religioso, seja ele material, como um travesseiro que cura doenças, ou subjetivo, como o conforto da vida eterna, não tem qualquer apelo. Seria como vender gelo para um esquimó.
Tenho muitos amigos ateus. E eles me contam que têm evitado se apresentar dessa maneira porque a reação é cada vez mais hostil. Por enquanto, a reação é como a do taxista: “Deus me livre!”. Mas percebem que o cerco se aperta e, a qualquer momento, temem que alguém possa empunhar um punhado de dentes de alho diante deles ou iniciar um exorcismo ali mesmo, no sinal fechado ou na padaria da esquina. Acuados, têm preferido declarar-se “agnósticos”. Com sorte, parte dos crentes pode ficar em dúvida e pensar que é alguma igreja nova.
Já conhecia a “Bola de Neve” (ou “Bola de Neve Church, para os íntimos”, como diz o seu site), mas nunca tinha ouvido falar da “Novidade de Vida”. Busquei o site da igreja na internet. Na página de abertura, me deparei com uma preleção intitulada: “O perigo da tolerância”. O texto fala sobre as famílias, afirma que Deus não é tolerante e incita os fiéis a não tolerar o que não venha de Deus. Tolerar “coisas erradas” é o mesmo que “criar demônios de estimação”. Entre as muitas frases exemplares, uma se destaca: “Hoje em dia, o mal da sociedade tem sido a Tolerância (em negrito e em maiúscula)”. Deus me livre!, um ateu talvez tenha vontade de dizer. Mas nem esse conforto lhe resta.
Ainda que o crescimento evangélico no Brasil venha sendo investigado tanto pela academia como pelo jornalismo, é pouco para a profundidade das mudanças que tem trazido à vida cotidiana do país. As transformações no modo de ser brasileiro talvez sejam maiores do que possa parecer à primeira vista. Talvez estejam alterando o “homem cordial” – não no sentido estrito conferido por Sérgio Buarque de Holanda, mas no sentido atribuído pelo senso comum.
Me arriscaria a dizer que a liberdade de credo – e, portanto, também de não credo – determinada pela Constituição está sendo solapada na prática do dia a dia. Não deixa de ser curioso que, no século XXI, ser ateu volte a ter um conteúdo revolucionário. Mas, depois que Sarah Sheeva, uma das filhas de Pepeu Gomes e Baby do Brasil, passou a pastorear mulheres virgens – ou com vontade de voltar a ser – em busca de príncipes encantados, na “Igreja Celular Internacional”, nada mais me surpreende.
Se Deus existe, que nos livre de sermos obrigados a acreditar nele. 
(Eliane Brum escreve às segundas-feiras)

Globo exalta "dono da bola" e pai do Mensalão



Globo exalta Foto: Divulgação

CAPA DA REVISTA ÉPOCA NEGÓCIOS É DEDICADA AO BANQUEIRO RICARDO GUIMARÃES, DO BMG, QUE FOI O MAIOR FINANCIADOR DO MENSALÃO; NA LÓGICA DA IMPRENSA BRASILEIRA, TODOS OS CORRUPTOS DEVEM SER PUNIDOS; JÁ OS CORRUPTORES...

14 de Novembro de 2011 às 16:17
247 – Aguarda-se, para o início de 2012, o julgamento do maior escândalo de corrupção de todos os tempos no País: o “Mensalão”, que eclodiu em 2005, depois que o ex-deputado Roberto Jefferson denunciou um esquema de compra de deputados operado pelo ex-publicitário Marcos Valério de Souza. À época, uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, instalada no Congresso Nacional, descobriu a origem dos recursos. Eram empréstimos concedidos pelos bancos Rural e BMG, ambos sediados em Minas Gerais – a maior parte dos recursos veio do BMG, que irrigou os cofres do Partido dos Trabalhadores com R$ 44 milhões. O Rural pretendia obter facilidades do Banco Central para adquirir o Banco Mercantil de Pernambuco. O BMG, por sua vez, não apenas pretendia, como obteve facilidades para operar, com exclusividade, operações de crédito consignado para pensionistas do INSS e do setor público.
Como consequência do escândalo, foram denunciados 40 políticos envolvidos no esquema. Numa outra ação paralela, também foram denunciados os financiadores do Mensalão. Entre eles, o banqueiro Ricardo Annes Guimarães, presidente do BMG, e vários diretores do banco, como Marcio Alaor de Araújo e o próprio pai de Ricardo, Flávio Pentagna Guimarães. Eles foram denunciados por gestão fraudulenta porque, nos empréstimos concedidos ao PT, não teriam sido observadas normas internas do Banco Central, nem as normas internas do próprio banco.
No entanto, para as Organizações Globo, o banqueiro Ricardo Guimarães, já está reabilitado. Ele é a capa da edição deste mês da revista Época Negócios, que o apresenta como “O Dono do Futebol”, uma vez que o BMG patrocina equipes como Vasco, Flamengo, São Paulo, Santos, Palmeiras, Atlético, Coritiba e Cruzeiro – coincidência ou não, o Brasileirão, sustentado por patrocínios como o do BMG, é um dos melhores negócios da Globo.
O Mensalão não existiu?
Da leitura da reportagem de Época Negócios, depreende-se que o Mensalão não existiu. Não há uma única referência da revista ao esquema de compra de parlamentares financiado com empréstimos concedidos pelo BMG, banco que hoje responde por 10% do volume de crédito a pessoas físicas no Brasil.
Há apenas uma aspa, na boca do próprio Ricardo Guimarães, no fim da reportagem, sobre o caso, quando ele contesta que o BMG tenha tido qualquer exclusividade na concessão de crédito consignado. Eis o trecho.
“Nunca foi dada exclusividade alguma ao BMG”, diz Ricardo Guimarães. “Essa é uma história fictícia que surgiu junto com a acusação de que o banco fazia parte do mensalão. Não é nem uma história – é uma estória. O que houve é que nós apenas nos interessamos pelo produto, que tinha um spread menor. E trabalhamos com afinco para promovê-lo.”
Fica, então, combinado assim.
O Mensalão não foi uma história.
Foi uma estória.
E o BMG não tem nada a ver com isso.
Curioso é que as Organizações Globo, sempre tão dispostas a atacar corruptos, como em capas recentes da revista Época, não tenham o mesmo afinco quando se trata de investigar corruptores.

Dez ideias estúpidas que renderam milhões



Por muito estapafúrdias que possam parecer, há ideias que mudaram a vida dos seus criadores.


 as boas e as más
D.R.14/11/2011 | 12:18 | Dinheiro Vivo 
Por cada dez ou cem ideias consideradas demasiado estúpidas para o mundo dos negócios, há uma que vinga. Contra todas a probabilidades, acabam por se transformar em sucessos esmagadores, permtindo aos seus criadores rir por último. Aqui fica o top ten das ideias mais insólitas, mas que renderam uma fortuna.

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1. A pedra de estimação. A infância de muita gente nos anos de 1970 não seria a mesma sem uma pedra de estimação. Não precisa de ser alimentada, de beber água, nem passeada de manhã e à noite. Mas haverá mesmo alguém disponível a pagar por isto? Gary Dahl, um executivo de publicidade, pensou que sim e comprou um monte de pedras num armazém de construção. Embalou-as em caixas de cartão com buracos (para que as pedras pudessem respirar) e vendeu-as como “animais” de estimação. Resultado? Foram a grande sensação do Natal de 1975 e a empresa Rock Bottom Productions, de Gary Dahl, encontrava dólares por debaixo de cada calhau.
2. Uma homepage a valer um milhão. O pixel é a mais pequena unidade de um ecrã. Em 2005, um estudante teve a ideia de vender anúncios na net por 10 pixels, da mesma forma que os cartazes são vendidos por metro quadrado. Com uma diferença: um monitor LCD tem cerca de 1024 pixels. Isto significa que comprar um espaço do tamanho de um avatar custa bom dinheiro. Mas a ideia pegou e em menos de um ano, o website composto inteiramente por anúncios, e que parece um quilt feito por um cego, já tinha dado um lucro de 1,037 milhões de euros.
3. Cartuchos sagrados. Para ninguém correr o risco de excomunhão, não se trata de cartuchos para impressores abençoadas pelo Papa e vendidos no eBay. Mas anda lá perto. O padre Bernard McCoy viu-se sem tinta na impressora e pôs-se à procura de alternativas a um preço razoável. Como não encontrou nada que lhe agradasse, fez o que qualquer padre faria: começou um negócio para encher cartuchos vazios. Em 2002, nos intervalos dos ensaios de canto gregoriano, conseguiu um lucro de dois mil dólares. Três anos depois, já facturava 2,5 milhões!
4. Atracção “positiva”. Esta ideia não é nada estúpida, apenas surpreendente. Há coisas que, regra geral, não lembram ao Diabo, mas acontecem. Um site na internet para encontros positivos. HIV positivos, melhor dizendo. Explicando melhor esta suprema estupidez, Paul Graves e Brandon Koechlin iniciaram o PositivesDating.com em 2005. Promove encontros exclusivamente entre membros que sejam HIV positivos. Já tem mais de 50 mil membros…
5. Osso da sorte de plástico. Há quem acredite que determinado tipo de ossos (do frango, por exemplo) podem trazer sorte. Vai daí, para estarem sempre à mão de qualquer desafortunado, Ken Ahroni fundou a Lucky Wishbone Co., para servir o mundo da exigente procura de ossos da sorte. Feitos em plastico, são produzidos 30 mil por dia, a 3 dólares cada um…
6. Doggles. É seguramente um dos negócios mais estúpidos alguma vez iniciado. Mas o boom da indústria de acessórios para animais de estimação chegou mesmo a este ponto. Para cães a quem o sol incomoda, os Doggles são a resposta. São basicamente uns óculos-de-sol, mas já chegaram à CNN e à National Geographic, e no Facebook multiplicam-se imagens de canitos com lunetas. O lucro dos Doggles são quase tão obscenos como a ideia. Contam-se na casa dos milhões.
7. Cartas de exercício. Há baralhos com mulheres nuas, baralhos com pinturas famosas, baralhos com os mais procurados no Iraque. Porque não um baralho de cartas com imagens de exercício físico para motivar os mais preguiçosos e sedentários? Se bem o pensou, melhor o executou Phil Black, um instrutor de fitness. A vender cada baralho a 18,95 dólares, já acumulou uma fortuna de 4,7 milhões de dólares.
8. Férias de trabalho. A maior parte das pessoas aproveita as férias para fugir ao trabalho. A Vocation Vacations pensou na minoria que pensa diferente. Basicamente, cria programas ocupacionais para as férias, num trabalho diferente do habitual do cliente. Pode até ser o seu trabalho de sonhos. Sempre quis apanhar legumes a sério em vez de andar a fazê-lo pelo Farmville? E ser coveiro num cemitério? É só escolher. E é mais um negócio muito lucrativo.
9. Correio do Pai Natal. Há quem diga que o Natal está demasiado comercial, em especial o Pai Natal, que entre patrocínios a uma chuva de marcas e o exclusivo com um refrigerante, vai tendo cada vez menos tempo para atender às solicitações. Solução? Umendereço postal registado no Pólo Norte, que cobra a cada pai 10 dólares para enviar as cartas das inocentes crianças para o homem das barbas. Mas haverá alguém que cai nisto? A resposta é 200 mil pais. Desde o seu lançamento, o SantaMail já angariou cerca de 2 milhões de dólares. O destino final das cartas é desconhecido.
10. Aquários sem peixes. Mais sofisticado que as pedras de estimação dos anos 1970, este é deste século. Chama-se EcosphereClosedEcosystem e também não precisa de comida, água ou banho. Cada globo de vidro tem um ecossistema auto-sustentável, em que a luz solar é preponderante. Com algas. E é isto. Outro sucesso.
Moral da História: Os mercados são imprevisíveis. O que achamos hoje absolutamente despropositado pode, daqui a um ano, ser um best-seller. Pode ser a novidade do produto, ser divertido ou simplesmente estúpido. Seja qual for o caso, lembre-se que há sempre espaço para uma ideia original, que lhe pode abrir as portas do sucesso. E garantir-lhe um lugar nesta lista!

Record entra na briga de Macedo e ataca igrejas neopentecostais


RICARDO FELTRIN
EDITOR E COLUNISTA DO F5
O programa "Domingo Espetacular", da Record, entrou ontem na "guerra" declarada por seu proprietário, Edir Macedo, às novas correntes pentecostais. O ataque foi contra as igrejas e congregações que admitem ou pregam o chamado "cair no espírito".

Trata-se de uma prática em que o pastor ou líder religioso toca o corpo do fiel, e este tem uma espécie de "desmaio", que é chamado também de "Desmaio do Espírito Santo". A prática já fora atacada diretamente por Macedo em um programa da IurdTV em setembro. Na época, o alvo foi a cantora Ana Paula Valadão, da banda gospel Diante do Trono.
Rafael Andrade/Folhapress
Edir Macedo durante culto na praia de Botafogo, rio
Edir Macedo durante culto na praia de Botafogo, rio
O bispo se referia ao encontro da banda e da vocalista com um pastor, no qual a cantora desmaiou após ter sua cabeça tocada pelo religioso. Comandada por Romualdo Panceiro, considerado por Macedo como seu herdeiro espiritual, Ana Paula virou alvo de chacota nos programas da IurdTV
A reportagem de ontem do "DE" durou cerca de 40 minutos. A Record infiltrou produtores e repórteres com câmeras escondidas em cultos. Um dos produtores da emissora foi tocado por um pastor "do desmaio" por vários minutos, mas o produtor não desmaiou. O pastor desistiu.
"Comandados por um líder religioso, os fiéis ficam imóveis, caem e se debatem, em transe, no chão; muitas vezes, todos ao mesmo tempo. O Domingo Espetacular investigou o fenômeno e entrevistou ex-fiéis, psicólogos e neurologistas", disse a locução do "Domingo Espetacular" na abertura da reportagem.
A reportagem revoltou outros líderes religiosos, inclusive aqueles que não professam da prática do "cair no espírito", como Silas Malafaia. A ira se propagou pela internet. A hashtag #vergonharecord chegou ao ranking de mais postadas (trend topics).
Diferentemente do que o bispo Macedo e a produção do programa afirmam, não são apenas evangélicos que praticam o "cair no espírito". Há padres que têm feito o mesmo em igrejas católicas.
Motivos
A pergunta é: por que Macedo iniciou a briga com outros evangélicos? Uma das hipóteses é que ele teme que essas correntes e linhas tirem ainda mais fiéis da Igreja Universal.
Bandas como Diante do Trono e outras de estilo gospel, que comandam núcleos e congregações, já vinham sendo alvo de Macedo, que as vê como ameaça ao seu "rebanho". A expansão de mais uma denominação, a do "desmaio no espírito", pode ter agravado esse temor. Daí o ataque na forma de jornalismo.
Ricardo Feltrin, 48, está no Grupo Folha desde 91. Exerceu os cargos de repórter, colunista, editor e secretário de redação, entre outros. É atualmente editor e colunista do F5, site de entretenimento da Folha, e também colunista do UOL, onde apresenta o programa Ooops! às terças.