sábado, 3 de dezembro de 2011

Relatora do caso Lupi cobra respeito ao 'jogo democrático'


Autora do relatório de seis páginas que concluiu que o ministro Carlos Lupi deve ser exonerado, a professora da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia Marília Muricy, cobra da presidente Dilma respeito às "regras do jogo democrático".
A recomendação pela exoneração de Lupi foi decidida unanimemente pela Comissão de Ética da Presidência da República, anteontem.

Folha - A sra. produziu um relatório duro a respeito da conduta do ministro e, no entanto, a presidente, pelo menos ainda, não seguiu a decisão da comissão.
Marília Muricy - Eu não chamaria meu relatório de duro, eu o chamaria de preciso e rigorosamente fundamentado na legislação ética.
O relatório é baseado em matérias de jornal e revistas. Isso não afeta a precisão dele?
Absolutamente não. É preciso que a sociedade compreenda que os juízos éticos são diferentes das razões jurídicas. Não se trata de nenhum tribunal de exceção.
A sra. considera que o seu relatório foi precipitado?
Não. O que aconteceu é que o ministro Lupi apresentou, em sua defesa, alegações vazias de qualquer elemento comprobatório. Não requereu em nenhum momento produção de provas e não apresentou testemunhas.
O que diferencia esse caso de processos mais demorados, como os de Antonio Palocci e Erenice Guerra?
Nos casos anteriores, houve requerimento de apresentação de provas. Isso foi solicitado pelos investigados.
Como relatora, a sra. não achou que seria interessante pedir dados complementares aos órgãos de controle?
Não, porque nós não estamos aplicando ao ministro nenhuma sanção de exoneração. Nós só sugerimos.
E o que a sra. espera que a presidente faça?
Eu espero que ela aja como sempre agiu, observando as regras do jogo democrático.

Belo Monte e as idiossincrasias de um procurador: A lei que lei?


Procurador orienta índios contra usina de Belo Monte




Hoje na FolhaNuma série de seis vídeos gravados em aldeias da etnia Xikrin, da Terra Indígena Trincheira Bacajá, no Pará, o procurador da República Felício Pontes orienta os índios a exigir mais dinheiro da Norte Energia, empresa responsável pela construção da usina de Belo Monte, informa reportagem de Agnaldo Brito publicada na Folha deste sábado.

íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL (empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha).

Pontes é o procurador que mais combate o projeto. Ele participa das 13 ações contra Belo Monte que tramitam na Justiça paraense.

O vídeo, captado e produzido pela jornalista Rebecca Sommer, foi gravado entre os dias 13 e 14 de outubro, numa das aldeias da terra indígena Tricheira Bacajá, no Xingu.

Veja trechos do vídeo:


O material chegou a ser disponibilizado por quatro dias (de 17 a 21 de novembro) no Youtube. A Folha apurou que o material foi sacado da web após pedido do Ministério Público Federal do Pará.

O procurador admitiu à reportagem que pediu a retirada dos vídeos e alegou que o fez em razão de a jornalista não ter autorização para divulgação. Mesmo assim, disse que tinha conhecimento da produção do filme. A equipe de filmagem pernoitou na aldeia com o procurador.

Pontes diz em vários trechos da gravação que a Terra Indígena deve "lutar contra a barragem", mas, caso não seja possível interromper a construção da usina, os indígenas devem se articular e exigir mais dinheiro para compensar impactos ambientais e minimizar os efeitos que o projeto terá sobre o modo de vida da etnia.

Leia mais na edição da Folha deste sábado, que já está nas bancas.

Viúva de milionário da Mega Sena é absolvida; MP recorre




Viúva de milionário da Mega Sena é absolvida; MP recorreFoto: Divulgação

A CABELEIREIRA ADRIANA FERREIRA DE ALMEIDA É APONTADA COMO MANDANTE DO ASSASSINATO DE RENNÉ SENNA, EM JANEIRO DE 2007; O MINISTÉRIO PÚBLICO RECORREU DA ABSOLVIÇÃO

Por Agência Estado
03 de Dezembro de 2011 às 13:34Agência Estado
O Conselho de Sentença do Tribunal do Júri de Rio Bonito absolveu na madrugada deste sábado, 3, a cabeleireira Adriana Ferreira de Almeida, apontada como mandante do assassinato de Renné Senna, executado com cinco tiros em janeiro de 2007, dois anos depois de ganhar R$ 52 milhões na Mega-Sena. A sentença foi lida pela juíza da 2ª Vara de Rio Bonito, Roberta dos Santos Braga Costa.
A promotora de Justiça Priscila Naegele pediu a absolvição, por falta de provas, dos outros três acusados que estavam sendo julgados: Janaína Silva de Oliveira da Costa, Ronaldo Amaral de Oliveira e Marco Antônio Vicente, que também foram absolvidos pelo Conselho de Sentença. O julgamento dos quatro réus durou cinco dias e foram ouvidas 17 testemunhas.
Os outros réus do processo, Anderson Silva de Souza e Ednei Gonçalves Pereira, já haviam julgados e foram sido condenados, em 2009, a 18 anos de prisão pelo assassinato de Renné. Apenas os ex-seguranças da vítima, Anderson Silva de Souza e Ednei Gonçalves Pereira, condenados em 2009 a 18 anos de prisão, cumprem pena pelo crime.
O Ministério Público do Rio recorreu contra a absolvição. O prazo mínimo para um novo julgamento é de três meses. Na avaliação dos promotores do MP do Rio, o Júri não levou em consideração investigações concluídas, que constavam no processo como as ligações telefônicas de Adriana para o ex-segurança Anderson Souza, já condenado pelo crime, que comprovariam que ela foi a mandante do assassinato. A defesa da viúva classificou a atuação da acusação como "covarde, infantil, preconceituosa e sem provas".
"Estou absolutamente convencida da participação de Adriana, mas o Tribunal do Júri é isto. A sociedade é que decide. A decisão é soberana, mas não é absoluta", afirmou a promotora Priscilla Naegele Vaz. A única filha do milionário, Renata Senna, não compareceu ao último dia de julgamento. O advogado dela, Marcus Rangoni, confirmou que o MP do Rio entrou com recurso logo no final do julgamento e disse que a absolvição revoltou a família da filha da vítima, que também deseja recorrer contra a decisão.
Adriana foi absolvida após cinco dias de julgamento e de prestar depoimento por mais de seis horas. Ela admitiu que teve um caso fora do casamento com um motorista de van, com quem passou o Réveillon de 2007. A viúva disse que a relação extraconjugal aconteceu, porque o marido sofria de disfunção erétil. Ao ouvir a sentença, Adriana chorou. Ela deixou o fórum no carro de seu advogado de defesa e sob a escolta de uma equipe da Polícia Militar, por volta de 2h45, sem falar com os jornalistas.
A defesa da viúva tentou colocar a culpa do crime em Renata, a única filha de René Sena, que disputa na Justiça com a viúva a herança do pai, hoje bloqueada pela Justiça. O advogado Jackson Costa alegou que o ex-lavrador desconfiava da paternidade e teria gasto R$ 380 mil em um exame de DNA. No entanto, os advogados da filha do milionário negam e informam que um exame no laboratório da Universidade Federal do Rio de Janeiro já comprovou que o milionário era o pai de Renata.
Absolvida, a viúva passa a ter o direito de lutar pela metade da fortuna deixada pelo marido hoje estimada em R$ 100 milhões. No testamento, o milionário deixou metade do patrimônio para a viúva. Apontada pela polícia como mandante do crime, se condenada, Adriana teria o acesso definitivamente interditado aos bens da vítima. Todo o patrimônio ficará interditado pela Justiça até o fim do processo criminal sobre a morte do milionário.
A tendência é que Adriana inicie uma batalha na área cível pelos bens do marido e Renata tente se manter como a única herdeira do pai. Entre os bens de René estariam contas bancárias, propriedades e veículos. Apenas a fazenda em Rio Bonito estaria avaliada em R$ 9 milhões. Entre os imóveis está uma cobertura em Arraial do Cabo (Região dos Lagos), que Adriana comprou por R$ 300 mil, em janeiro de 2007, poucos dias antes da morte de René. Ao comprar o apartamento, ela declarou que era solteira.

Foto inédita mostra Dilma em interrogatório em 1970


Da Época


ÉPOCA publica na edição desta semana uma imagem da presidente Dilma Rousseff aos 22 anos, na sede da Auditoria Militar do Rio de Janeiro 

A RÉ DILMA Dilma na sede da Auditoria Militar no Rio de Janeiro, em novembro  de 1970. Ao fundo, os oficiais que a interrogavam sobre sua participação na luta armada escondem o rosto com a mão (Foto: Reprodução que consta no processo da Justiça Militar)
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A vida quer coragem (Editora Primeiro Plano), do jornalista Ricardo Amaral, chega às livrarias na primeira quinzena de dezembro. A foto abaixo, inédita, está no livro que conta a trajetória de Dilma Rousseff da guerrilha ao Planalto. Amaral, que foi assessor da Casa Civil e da campanha presidencial, desencavou a imagem no processo contra Dilma na Justiça Militar. A foto foi tirada em novembro de 1970, quando a hoje presidente da República tinha 22 anos. Após 22 dias de tortura, ela respondia a um interrogatório na sede da Auditoria Militar do Rio de Janeiro.

Braço direito de Serra é denunciado por formação de quadrilha



Braço direito de Serra é denunciado por formação de quadrilhaFoto: DIVULGAÇÃO

FOLHA DE S. PAULO NOTÍCIA INDICIAMENTO DE JOÃO FAUSTINO, MAS OMITE QUE ELE FOI SUBCHEFE DA CASA CIVIL E COORDENOU A CAMPANHA TUCANA À PRESIDÊNCIA EM 2010

03 de Dezembro de 2011 às 08:34
247 – Reportagem deste sábado da Folha de S. Paulo noticia que João Faustino, ex-subchefe da Casa Civil do governo José Serra, foi indiciado por formação de quadrilha por participar das supostas fraudes da inspeção veicular no Rio Grande do Norte. O esquema teria sido montado pela empresa Controlar, criada pelo empreiteiro Carlos Suarez, ex-sócio da OAS. A Folha, no entanto, não menciona os laços de João Faustino com José Serra e com o senador Aloysio Nunes Ferreira. Leia, abaixo, a reportagem:
O Ministério Público do Rio Grande do Norte denunciou ontem 34 pessoas sob a acusação de participar de fraudes na implantação da inspeção veicular no Estado.
Entre os denunciados estão os ex-governadores do Estado Wilma de Faria e Iberê Ferreira, ambos do PSB, o suplente de senador João Faustino (PSDB) e o diretor-presidente da Controlar, consórcio responsável pela inspeção veicular em São Paulo, Harald Peter Zwetkoff.
Os ex-governadores e o suplente foram denunciados sob acusação de envolvimento em crimes de formação de quadrilha, peculato, corrupção passiva, tráfico de influência e fraude em licitação.
Zwetkoff é acusado de formação de quadrilha, peculato e fraude em licitação. Troca de e-mails obtidas com autorização judicial revelam que ele repassou ao consórcio Inspar, do RN, as bases usadas em São Paulo para a implantação da inspeção.
Segundo a Promotoria, com as informações, o grupo fraudou a licitação, que renderia até R$ 1 bilhão em 20 anos. O consórcio pretendia implantar o esquema em outros dez Estados.
Além denunciar as 34 pessoas, os promotores apresentaram à Justiça mais dez pedidos de prisão preventiva. A suposta fraude já havia levado 13 pessoas à prisão. Ontem, cinco foram soltas. Entre eles, está João Faustino.
Os acusados também foram flagrados em escutas telefônicas, supostamente negociando acordos ilegais.
As informações foram posteriormente cruzadas com dados bancários, obtidos com ordem judicial. A promotoria apura ligações entre essas negociações e doações de campanha feitas em Estados de interesse do grupo.
OUTRO LADO
Zwetkoff, não se manifestou ontem sobre a decisão da Promotoria do Rio Grande do Norte, de denunciá-lo à Justiça por envolvimento em fraudes no serviço de inspeção veicular no Estado.
A Folha ligou para seu celular às 19h (20h em Brasília) e uma pessoa que se identificou como sendo Roberto, amigo do presidente da Controlar, disse que Zwetkoff estava em reunião e não poderia atender o telefone.
Roberto quis saber os motivos da ligação e, em seguida afirmou que, se possível, Zwetkoff telefonaria mais tarde, o que não ocorreu até o fechamento desta edição.
A assessoria da ex-governadora Wilma de Faria (PSB) disse que ela estava em Brasília e não comentaria o caso.Dias atrás, Faria divulgou nota negando seu envolvimento em irregularidades.
Iberê Ferreira e João Faustino não foram encontrados.

A mulher que destruiu a vida de Marcos Valério




A mulher que destruiu a vida de Marcos ValérioFoto: LÚCIO TÁVORA/ AGÊNCIA ESTADO

ÀS VÉSPERAS DO JULGAMENTO DO MENSALÃO, SEU GRANDE OPERADOR ESTÁ PRESO. A RESPONSÁVEL POR TUDO ISSO SE CHAMA FERNANDA KARINA, SUA SECRETÁRIA QUE ENTREGOU O CAMINHO DAS PEDRAS

03 de Dezembro de 2011 às 07:07
Leonardo Attuch_247 – “Follow the money”, ensinam os norte-americanos. “Cherchez la femme!”, retrucam os franceses. Qual será a melhor forma de investigar um escândalo? Seguir o rastro do dinheiro ou procurar uma mulher que seja capaz de desvendar o mistério. Talvez os dois caminhos sejam necessários.
No caso de Marcos Valério de Souza, havia uma mulher no seu caminho. E ela se chamava Fernanda Karina. Era sua secretária. Sem FK, o escândalo do Mensalão teria sido abafado. E Roberto Jefferson, que denunciou o esquema, entraria para a história como um Alfredo Nascimento ou um Carlos Lupi da era Lula – aquele aliado indesejável que acaba sendo expelido da base de apoio do governo, a partir de denúncias colocadas na imprensa.
A revista Veja reivindica para si a paternidade do escândalo do Mensalão, com a reportagem sobre Maurício Marinho, o ex-funcionário dos Correios que recebeu uma propina filmada dentro da estatal. Mas quem conhece os meandros do jornalismo e do poder sabe bem que aquela foi uma reportagem a favor do Palácio do Planalto e não contra – como têm sido, aliás, várias das denúncias atuais de Veja contra ministros do governo Dilma. Ao PT de Lula, interessava expelir um aliado indesejável (Roberto Jefferson), como ao PT de Dilma também interessa expurgar nomes pesadões como Carlos Lupi. O que muitos chamam de “PIG”, ou imprensa golpista, nada mais é do que um departamento dos palácios interessados em fritar seus próprios auxiliares.
Feitiço contra o feiticeiro
No caso do Mensalão, no entanto, fez-se um erro de cálculo. Imaginava-se, no PT, que Roberto Jefferson não reagiria da forma como reagiu, concedendo duas entrevistas bombásticas à jornalista Renata Lo Prete, da Folha de S. Paulo. Na primeira, ele denunciou a existência do Mensalão. Na segunda, afirmou que o operador do esquema se chamava Marcos Valério de Souza.
Naquele momento, ainda era possível, para o PT, estancar a crise. Roberto Jefferson era tratado como um personagem sem credibilidade. Um denunciante sem provas. E Marcos Valério, embora detentor de fartas contas de publicidade do governo federal, era ainda um ilustre desconhecido.
O que mudou o curso dos acontecimentos foi a entrevista de Fernanda Karina, ex-secretária de Marcos Valério, à revista Istoé Dinheiro. Foi Fernanda quem revelou os vínculos entre Valério, o PT e os verdadeiros financiadores do Mensalão – os bancos mineiros Rural e BMG. A partir daquele momento, a crise ganhou impulso, a CPI foi instalada e o final da história será decidido pelo Supremo Tribunal Federal no início de 2012.
Repetição de 2005
Quais terão sido as razões de Fernanda Karina para denunciar seu ex-patrão?
Mistérios insondáveis, que geram crises políticas de onde menos se espera. E que revelam ainda que o feitiço, muitas vezes, também pode virar contra o feiticeiro.
O que se vê hoje, no Brasil, é uma repetição de 2005. Naquele momento, o PT, surfando na popularidade do ex-presidente Lula, acreditava que seria possível enquadrar e emparedar os aliados. Veio o Mensalão.
Hoje, Dilma Rousseff faz o mesmo com a sua base de apoio no Congresso. O que virá?

Crise atinge Traffic, do poderoso J. Hawilla




Crise atinge Traffic, do poderoso J. HawillaFoto: Divulgação

DONA DE PASSES DE JOGADORES DE FUTEBOL COMO RONALDINHO GAÚCHO, EMPRESA ENFRENTA PROBLEMAS; PRESIDENTE EXECUTIVO FOI DEMITIDO, MAIS CORTES PREVISTOS; DIFICULDADE COM BANCOS

03 de Dezembro de 2011 às 08:49
A empresa Traffic, de J.Hawilla, segundo homem mais poderoso do futebol brasileiro (o primeiro é Ricardo Teixeira, presidente da CBF), passa por um período delicado e promove grande reestruturação interna, inclusive com muitas demissões, até mesmo – para o espanto de alguns – do presidente Júlio Mariz, braço direito na condução dos negócios do dia a dia.
Ex-funcionários relatam que a empresa de marketing esportivo não estaria conseguindo obter os vultosos empréstimos bancários com os quais está acostumada (altos executivos de alguns bancos privados dizem que estão cansados com a forma pedinte de Hawilla), o que poderia lhe dar um certo fôlego, depois de uma série de investidas que ainda não apresentaram o rendimento projetado.
Aos poucos, a Traffic deverá se livrar de jogadores (hoje há 90 no total) e voltar a se concentrar em venda de placas nos estádios. Há quem acredite também que o insucesso da Rede Bom Dia de jornais (pertencente a Hawilla) – que controla os periódicos Diário de S.Paulo, Bom Dia Jundiaí, Bom Dia Bauru, Bom Dia Rio Preto, Bom Dia Fernandópolis, Bom Dia Marília e Bom Dia Catanduva – teria contribuído para a grave crise financeira que assola o grupo.
Além dos jornais, o dirigente é dono da TV TEM (afiliada da Rede Globo) e da produtora de conteúdo TV 7. Em tempo: a Traffic deve mais de R$ 2,5 milhões a Ronaldinho Gaúcho, e a dívida com o craque rubro-negro não deve ser paga esse ano.
Matéria publicada originalmente no portal Panorama Mercantil.

Silvio Santos desviou recursos do Panamericano



Silvio Santos desviou recursos do PanamericanoFoto: Divulgação

PF COMPROVA QUE DINHEIRO PAGO PELA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL FOI USADO PARA PAGAR DÍVIDAS DO DONO DO SBT; DIRIGENTES DO BANCO ESTATAL TERÃO QUE SE EXPLICAR NA CÂMARA; NOVO DONO, ANDRÉ ESTEVES, FICOU COM BANCO QUE JÁ PRECISA DE MAIS RECURSOS

03 de Dezembro de 2011 às 08:23
247 – Uma reportagem da revista Época deste fim de semana lança ainda mais dúvidas sobre o caso Panamericano, banco que pertencia a Sílvio Santos e foi vendido primeiro à Caixa Econômica Federal e depois ao BTG Pactual, de André Esteves – em ambos os casos, após forte pressão política. Documentos da Polícia Federal comprovariam que o dinheiro pago pela Caixa não teria sido para capitalizar o banco, mas sim para quitar dívidas pessoais de Silvio Santos. Para explicar o que realmente aconteceu, já foram convocados a explicar o caso, pela Comissão de Finanças da Câmara dos Deputados, os vice-presidentes Marcio Percival e Marcos Vasconcelos. Leia, abaixo, a reportagem sobre o desvio de recursos do Panamericano:
Em janeiro deste ano, logo depois de concluir a venda de sua parte no Banco PanAmericano, o apresentador Silvio Santos fez seu resumo particular do caso: disse que não teve “nem lucro nem prejuízo” com o escândalo que revelou um rombo de R$ 4,3 bilhões escondido em balanços maquiados. O desfecho neutro do caso certamente não se aplica à Caixa Econômica Federal, banco público que meses antes de o escândalo vir à tona pagou R$ 739 milhões por 36% das ações do PanAmericano, com base em uma contabilidade que não informava o prejuízo bilionário.
Quanto a Silvio Santos, se não lucrou com o episódio, certamente foi beneficiado, ao aproveitar o negócio com a Caixa para pagar dívidas milionárias de suas empresas. Essa é a conclusão que se pode extrair de documentos a que ÉPOCA teve acesso e que constam das apurações sobre o caso feitas pela Polícia Federal, pelo Banco Central e por uma auditoria interna do PanAmericano.
Até pouco tempo atrás não se sabia o destino da bolada paga pela Caixa ao banco de Silvio Santos. Em setembro, ele foi indagado pela Polícia Federal se os recursos foram para o PanAmericano. “Respondeu que acredita que sim”, registrou o escrivão. Três dias depois, a mesma pergunta foi repetida a seu irmão, Henrique Abravanel, sócio minoritário da holding e ex-integrante do Conselho de Administração do PanAmericano. A resposta: “Tem certeza que os valores foram aportados no banco”.
As declarações dos irmãos estão tão erradas quanto os demonstrativos de contabilidade maquiados. Elas foram desmentidas em depoimento prestado no início de outubro por um personagem-chave das tratativas com a Caixa. Trata-se de Wadico Waldir Bucchi, presidente do Banco Central entre 1989 e 1990 e representante oficial de Silvio Santos na negociação. Ele afirmou ao delegado Milton Fornazari Júnior que a holding do empresário não transferiu ao PanAmericano o dinheiro recebido no negócio. A maior parte dos valores, disse ele, foi usada para pagar dívidas do Baú da Felicidade e da construtora Sisan, que na época faziam parte do Grupo Silvio Santos – o Baú foi vendido em junho deste ano para o Magazine Luiza. Alberto Toron, advogado de Silvio e de seu irmão, diz que o uso do pagamento da Caixa foi feito de forma transparente e negou qualquer ilegalidade no uso dos recursos para saldar dívidas do grupo.
Um documento que integra a investigação do Banco Central sobre o caso corrobora as afirmações de Bucchi e mostra com precisão o destino dos recursos. Um total de R$ 129 milhões foi para o bolso dos acionistas da holding – Silvio Santos é o majoritário. Outra fatia (R$ 277 milhões) foi paga diretamente ao Bradesco e ao Itaú para quitar dívidas do conglomerado do empresário com os dois bancos, como previa o contrato assinado com a Caixa. Outros R$ 226 milhões foram transferidos para o Baú da Felicidade pagar suas dívidas. Quantias menos vultosas, com a mesma finalidade, foram destinadas à Sisan e à Jequiti Cosméticos, também de Silvio. A Jequiti e o Baú, com o SBT, foram citados no depoimento de Henrique Abravanel como empresas do grupo que davam prejuízo.
O uso do PanAmericano para o pagamento de dívidas do Grupo Silvio Santos se explica porque, segundo os balanços fraudados, o banco salvava a contabilidade do conglomerado. “O lucro dissimulado do Banco PanAmericano era altíssimo e influía no resultado geral do grupo Silvio Santos, o que refletia no bônus distribuído a todos os diretores do Banco PanAmericano”, disse Silvio à Polícia Federal. O bônus a que ele se refere era uma forte preocupação dos diretores do banco, como mostram e-mails captados pelas investigações. Num deles, menos de um mês antes de o contrato com a Caixa ser assinado, o então presidente do banco, Rafael Palladino, narra a Luiz Sandoval, na ocasião presidente do grupo, a “última pendência” que conseguira resolver antes de vender parte do banco: o pagamento de bônus aos executivos do banco.
Diz que chegou a um acordo pelo qual, após a venda, seria mantida por dois anos a fórmula usada no Grupo Silvio Santos. Mas pede que o pagamento dos anos anteriores seja feito de imediato, para não prejudicar a venda. “Você dando o.k., comunicarei a eles e fechamos o negócio, pois esta é a última pendência que ainda não conseguimos resolver”, diz. Conclui reclamando dos “caras” da Caixa: “Muito chatos”, “se atêm a tudo que é picuinha”, “não enchergando (sic) um palmo à frente do nariz as oportunidades que temos juntos”.
Stoliar afirmou ter dito a Silvio Santos que “amigos” os ajudariam a vender ações do banco à Caixa Econômica
O pagamento do bônus – calculado com base num resultado inflado – é um dos indícios que podem provar que executivos do PanAmericano se beneficiaram da fraude no balanço contábil. Por enquanto, nove pessoas já foram indiciadas pela Polícia Federal nas investigações sobre o caso, incluindo os dirigentes do banco. Não há nenhuma acusação a Silvio Santos ou a seus parentes. Ele também não tem mais relação com o banco desde janeiro, quando vendeu sua parte ao BTG Pactual.
Na transação, além de se livrar de um banco quebrado, ele preservou suas empresas, que deixaram de garantir o empréstimo feito pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito) quando se pensava que o buraco era de “apenas” R$ 2,5 bilhões. O FGC reúne recursos de bancos privados, que servem como uma espécie de “seguro” para evitar falências que desestabilizem o sistema financeiro.
Embora não conste da lista de indiciados pela Polícia Federal, o nome de Henrique Abravanel apareceu em um relatório de inteligência financeira feito pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), ligado ao Ministério da Fazenda. O conselho é comunicado pelos bancos sempre que alguma transação financeira envolve pelo menos R$ 100 mil em espécie, regular ou não.