terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Gilberto Maringoni: Internautas driblam a censura privata



A mídia não sabe o que fazer com “A privataria tucana”
Um curioso espírito de ordem unida baixou sobre a Rede Globo, a Editora Abril, a Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e outros. Ninguém fura o bloqueio da mudez, numa sinistra brincadeira de “vaca amarela” entre senhores e senhoras respeitáveis. Como ficarão as listas dos mais vendidos, escancaradas por jornais e revistas? Ignorarão o fato de o livro ter esgotado 15 mil exemplares em 48 horas?
Há uma batata quente na agenda nacional. A mídia e o PSDB ainda não sabem o que fazer com A privataria tucana, de Amaury Ribeiro Jr. A cúpula do PT também ignora solenemente o assunto, assim como suas principais lideranças. O presidente da legenda, Rui Falcão, vai mais longe: abriu processo contra o autor da obra, por se sentir atingido em uma história na qual teria passado informações à revista Veja. O objetivo seria alimentar intrigas internas, durante a campanha presidencial de 2010. A frente mídia-PSDB-PT pareceria surreal meses atrás.
Três parlamentares petistas, no entanto, usaram a tribuna da Câmara, nesta segunda, para falar do livro. São eles Paulo Pimenta (RS), Claudio Puty (PA) e Amaury Teixeira (BA). O delegado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) começa a colher assinaturas para a constituição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre os temas denunciados no livro. Já o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) indagou: “Nenhum jornalão comentou o procuradíssimo livro A privataria tucana. Reportagens sobre corrupção têm critérios seletivos?”
O silêncio dos coniventes
O silêncio maior, evidentemente, fica com os meios de comunicação. Desde o início da semana passada, quando a obra foi para as livrarias, um manto de silêncio se abateu sobre jornais, revistas e TVs, com a honrosa exceção de CartaCapital.
As grandes empresas de mídia adoram posar de campeãs da liberdade de expressão. Acusam seus adversários – aqueles que se batem por uma regulamentação da atividade de comunicação no Brasil – de desejarem a volta da censura ao Brasil.
O mutismo sobre o lançamento mais importante do ano deve ser chamado de que? De liberdade de decidir o que ocultar? De excesso de cuidado na edição?
Um curioso espírito de ordem unida baixou sobre a Rede Globo, a Editora Abril, a Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e outros. Ninguém fura o bloqueio da mudez, numa sinistra brincadeira de “vaca amarela” entre senhores e senhoras respeitáveis. Que acordo foi selado entre os grandes meios para que uma das grandes pautas do ano fosse um não tema, um não-fato, algo inexistente para grande parte do público?
Comissão da verdade
Privatização é um tema sensível em toda a América Latina. No Brasil, uma pesquisa de 2007, realizada pelo jornal O Estado de S. Paulo e pelo Instituto Ipsos detectou que 62% da população era contra a venda de patrimônio público. Nas eleições de 2006, o assunto foi decisivo para a vitória de Lula (PT) sobre Geraldo Alckmin (PSDB).
Que a imprensa discorde do conteúdo do livro, apesar da farta documentação, tudo bem. Mas a obra é, em si, um fato jornalístico. Revela as vísceras de um processo que está a merecer também uma comissão da verdade, para que o país tome ciência das reais motivações de um dos maiores processos de transferência patrimonial da História.
Como ficarão as listas dos mais vendidos, escancaradas por jornais e revistas? Ignorarão o fato de o livro ter esgotado 15 mil exemplares em 48 horas?
O expediente não é inédito. Há 12 anos, outra investigação sobre o mesmo tema – o clássico O Brasil privatizado, de Aloysio Biondi – alcançou a formidável marca de 170 mil exemplares vendidos. Nenhuma lista publicou o feito. O pretexto: foram vendas diretas, feitas por sindicatos e entidades populares, através de livreiros autônomos. O que valeria na contagem seriam livrarias comerciais.
E agora? A privataria tucana faz ótima carreira nas grandes livrarias e magazines virtuais.

Deu no New York Times
O cartunista Henfil (1944-1988) costumava dizer, nos anos 1970, que só se poderia ter certeza de algo que saísse no New York Times. Notícias sobre prisões, torturas, crise econômica no Brasil não eram estampadas pela mídia local, submetida a rígida censura. Mas dava no NYT. Aliás, esse era o título de seu único longa metragem, Tanga: deu no New York Times, de 1987. Era a história de um ditador caribenho que tomava conhecimento dos fatos do mundo através do único exemplar do jornal enviado ao seu país. As informações eram sonegadas ao restante da população.
Hoje quem sonega informação no Brasil é a própria grande mídia, numa espécie de censura privada. O título do filme do Henfil poderia ser atualizado para “Deu na internet”. As redes virtuais furaram um bloqueio que parecia inexpugnável. E deixam a mídia bem mal na foto…
Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista, é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de “A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez” (Editora Fundação Perseu Abramo).
PS do Viomundo: Pedimos aos leitores que indiquem links de pronunciamentos de parlamentares sobre o livro, se e quando acontecerem. Obrigado.

Brizola Neto discursa na câmara sobre livro Privataria Tucana e pede CPI



Precisamos agir em todas as frentes para quebrar o silêncio da mídia em torno do escândalo das privatizações e fiz uma pequena parte disso hoje, no plenário da Câmara, que você pode assistir aí em cima.
Estou trabalhando para coletar assinaturas para o pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), protocolado pelo deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP). Os navegantes da internet, segmento que, por conta do boicote midiático, são os mais bem informados sobre o que está se passando podem ajudar, escrevendo e-mails para seus deputados e pedindo que assinem a CPI.
Precisamos saber o que se passou e, sobretudo, fechar os ralos que continuam existindo para “esquentar” dinheiro, que usam empresas-fantasmas, de paraísos fiscais e do exterior em geral para injetar no país grandes somas de dinheiro em outras empresas nebulosas aqui dentro.

CPI da Privataria já pegou... PIG usa lei do silêncio nas redações igual traficantes faziam no Complexo do Alemão



Além das redes sociais, a Privataria Tucana (livro-reportagem com provas da roubalheira na privataria comandada por José Serra no governo FHC) já bombou hoje na Câmara.

O deputado Protógenes (PCdoB/SP) protocolou pedido de CPI.

O deputado federal Brizola Neto (PDT-RJ) discursou na Tribuna da Câmara dos Deputados para cobrar atitude diante das revelações do livro do jornalista Amaury Ribeiro Junior e a CPI.

O PSOL apoia a CPI e o líder Ivan Valente disse que convidará o autor do livro para falar na Câmara.

Enquanto isso nas redações de Globo, Folha, Estadão e Veja reina a lei do silêncio semelhante àquela que traficantes de drogas impunham em morros do Rio de Janeiro aos moradores, antes da entrada da polícia.

Do jeito que a coisa anda, a Polícia Federal vai ter que instalar uma espécie de UPP dentro das redações para libertar a liberdade de expressão e informação do jugo dos barões da mídia demo-tucana

'Lixo', diz Serra. Aécio emenda: 'literatura menor'



'Lixo', diz Serra. Aécio emenda: 'literatura menor'Foto: ED FERREIRA/AGÊNCIA ESTADO

QUESTIONADO SOBRE O LIVRO PUBLICADO PELO JORNALISTA AMAURY RIBEIRO JÚNIOR, EX-GOVERNADOR FOI TAXATIVO: "VOU COMENTAR O QUE SOBRE LIXO? LIXO É LIXO"; SENADOR CONCORDA, MAS, SEGUNDO AUTOR, OBRA NASCEU DE ENCOMENDA FEITA POR AÉCIO CONTRA SERRA

Por Agência Estado
13 de Dezembro de 2011 às 20:39Agência Estado
O ex-governador José Serra (PSDB-SP) chamou de "lixo" o livro "Privataria Tucana" do jornalista Amaury Ribeiro Júnior. Na publicação, o repórter fala de um suposto esquema de corrupção no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que envolveria Serra, que ocupou a Pasta do Planejamento. "Vou comentar o que sobre lixo? Lixo é lixo", afirmou Serra ao ser questionado sobre a publicação.
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) também classificou a publicação como "literatura menor". Os dois participaram hoje da inauguração de uma sala da liderança tucana na Câmara batizada de Artur da Távola.
Amaury Ribeiro Júnior foi acusado no ano passado durante a campanha eleitoral de ter encomendado a quebra de sigilo fiscal de pessoas ligadas ao PSDB. Tiveram o sigilo violado o vice-presidente do partido, Eduardo Jorge Caldas Pereira, a filha de Serra, Verônica, entre outros. O jornalista negociou participação na pré-campanha da presidente Dilma Rousseff. Amaury afirmou, à época, que estava buscando informações para seu livro e negou a prática de ilegalidade.
Relembre matérias publicadas pelo 247 antes do lançamento do livro:
Guerra Aécio/Serra abriu a caixa preta da "privataria"
Livro “A Privataria Tucana” nasceu do pedido de Aécio Neves para que o jornal Estado de Minas investigasse o rival José Serra; escrito pelo jornalista investigativo Amaury Ribeiro Júnior, o livro revela como o ex-governador paulista, seus operadores, seu genro e até sua própria filha enriqueceram com a venda de estatais09 de Dezembro de 2011 às 16:53
247 – O livro mais anunciado, comentado e aguardado por aqueles que se intitulam “blogueiros sujos” está nas livrarias. Escrito pelo jornalista Amaury Ribeiro Júnior, a obra “A Privataria Tucana” vem sendo anunciada desde a campanha presidencial de 2010, quando Amaury se tornou personagem da história, ao ser acusado de quebrar o sigilo fiscal de Verônica Serra, filha do então candidato José Serra. O episódio fez com que Fernando Pimentel, hoje em seu inferno astral, perdesse espaço na campanha para os paulistas liderados por Rui Falcão e Antonio Palocci. Amaury submergiu e se dedicou a concluir seu livro, lançado nesta sexta-feira pela Geração Editorial, do jornalista Luiz Fernando Emediato. É um trabalho que traz revelações importantes sobre a era das privatizações, expõe de forma clara o tráfico de influência comandado por Serra e seus operadores, especialmente o tesoureiro Ricardo Sérgio de Oliveira, e revela ainda como
uma guerra interna no ninho tucano deu origem a toda essa história. Ex-repórter do Estado de Minas, que lutava para emplacar Aécio Neves como presidenciável, Amaury recebeu a encomenda de investigar a vida de José Serra. O resultado são as 343 páginas de “A Privataria Tucana”.
Em 2009, Aécio e Serra disputavam a indicação tucana para concorrer à presidência. O mineiro defendia prévias e o paulista se colocava como “o primeiro da fila”. Amaury, que vivia em Belo Horizonte, foi chamado por seus patrões para a missão quando o Estado de S. Paulo publicou um texto intitulado “Pó pará, governador?”, um tanto estranho para os padrões austeros da família Mesquita, pois, já no título, insinuava que Aécio seria um cocainômano – e que, portanto, não poderia sonhar com a presidência. A partir daí, veio a resposta mineira. Segundo Álvaro Teixeira da Costa, dono do Estado de Minas, São Paulo não deveria mexer com Minas, pois os mineiros também saberiam lutar.
Amaury recebeu a encomenda e disse aos patrões que a fragilidade de Serra residia nas privatizações. E assim começou a investigá-lo, bem como a seus principais operadores: Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-diretor do Banco do Brasil, e Grégorio Marin Preciado, casado com sua prima. No meio do caminho, Amaury descobriu as contas usadas por Ricardo Sérgio, Gregório e até pela filha de Serra, Verônica, e por seu genro, Alexandre Bourgeois.
Eis algumas das revelações do livro:
• Carlos Jereissati, dono da Oi, usou sua empresa Inifinity Trading, sediada em paraísos fiscais, para pagar propina a Ricardo Sérgio de Oliveira, na empresa Franton Enterprises.
• A propina pela compra da Oi, segundo o autor do livro, seria próxima a R$ 90 milhões. Jereissati e seus parceiros chegaram ao leilão sem recursos e foram socorridos por fundos de pensão, comandados por Ricardo Sérgio de Oliveira e seu braço direito João Bosco Madeiro.
• Ricardo Sérgio de Oliveira, que era chamado de “Mr. Big” e se tornou amigo de Serra por intermédio de Clóvis Carvalho, comprou prédios inteiros em Belo Horizonte, que depois foram também vendidos a fundos de pensão estatais. O livro traz documentos e procurações usadas por Ricardo Sérgio e seus laranjas.
• Na privatização da Vale, vencida por Benjamin Steinbruch com recursos dos fundos de pensão, num consórcio organizado por Miguel Ethel e José Brafman, a propina teria sido de R$ 15 milhões.
• Gregório Marin Preciado, “primo” de Serra, organizou o consórcio Guaraniana, que, também com dinheiro dos fundos de pensão, comprou várias distribuidoras de energia no Nordeste, hoje pertencentes ao grupo espanhol Iberdrola.
• Preciado e Ricardo Sérgio jogavam juntos. Boa parte dos depósitos recebeidos pela Franton Enterprises, de Ricardo Sérgio, eram feitos pelo “primo” de Serra. As movimentações da dupla, documentadas no livro de Amaury, somam mais de US$ 20 milhões. Preciado e Serra também aparecem como sócios num terreno em São Paulo. Também na era Serra, o Banco do Brasil teria reduzido uma dívida de R$ 448 milhões de Preciado para míseros R$ 4,1 milhões.
• O livro também aborda a sociedade entre a empresa Decidir.com, de Verônica Serra, filha do ex-governador tucano, com o grupo Opportunity, de Daniel Dantas. A Decidir.com, voltada para leilões na internet, recebeu cerca de R$ 10 milhões em investimentos, mas nunca apresentou resultados. Em abril de 2002, a empresa foi dissolvida.
• Tanto Verônica Serra como Ricardo Sérgio de Oliveira utilizaram a mesma empresa, a Citco, para abrir suas contas no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas.
Além disso, o livro também revela como Serra teria usado o governo de São Paulo para contratar a empresa Fence e espionar adversários políticos – era essa, aliás, uma das encomendas iniciais do Estado de Minas: descobrir por quem Aécio vinha sendo seguido em suas constantes noitadas cariocas. Por último, depois de se dedicar à guerra interna dos tucanos, Amaury escreveu sobre a guerra interna do PT, na campanha de Dilma, entre os grupos de Fernando Pimentel e Antônio Palocci.
O que talvez comprove que PT e PSDB têm muito mais semelhanças do que diferenças. Uma boa sugestão para o répórter seria um lviro sobre a "privataria" petista, com recursos do BNDES, dos fundos de pensão e até do FGTS.
Veronica Serra é ré por quebra de sigilo financeiro
Filha do eterno presidenciável tucano responde a processo, em segredo de Justiça; o genro, Alexandre Bourgeios, também foi executado por dívidas fiscais não pagas; origem da fortuna do casal, que gere fundos em Trancoso, é mal explicada09 de Dezembro de 2011 às 12:42
247 – 2003.61.81.000370-5. Este é o número do processo judicial, que corre em segredo de Justiça, contra Veronica Allende Serra. Filha do ex-governador paulista e eterno presidenciável tucano José Serra, ela foi indiciada pelo crime de quebra de sigilo financeiro. Isso porque sua empresa de internet, a Decidir.com, já extinta, teve acesso a todos os dados de milhões de brasileiros, depois de um convênio firmado com o Banco do Brasil, no apagar das luzes do governo FHC.
Verônica é o ponto frágil das pretensões políticas de José Serra. Ex-funcionária da Editora Abril, na revista Exame, como assistente da área comercial, sua vida começou a mudar quando ela ganhou uma bolsa na Universidade de Harvard, paga pelos donos da Ambev. Lá, ela conheceu o futuro marido, Alexandre Bourgeois. Na era da internet, Verônica também abriu a empresa Decidir.com, de leilões eletrônicos, que recebeu R$ 10 milhões em investimentos do grupo Opportunity. Seus negócios, no entanto, jamais prosperaram. Ela e o marido, no entanto, se tornaram prósperos administradores de um fundo de investimentos sediado em Trancoso, na Bahia – isso mesmo, por incrível que pareça, talvez seja o único fundo de investimentos com sede num local feito para não se trabalhar.
Estas são algumas das revelações do livro “A privataria tucana”, que chega nesta sexta-feira às livrarias. Lançado pela Geração Editorial e escrito pelo repórter investigativo Amaury Ribeiro Júnior, o livro traz documentos que comprovam o inquérito em que Verônica Serra consta como indiciada. É também uma espécie de vendeta pessoal de Amaury, que, na campanha presidencial de 2010, foi acusado de tentar comprar dados sigilosos dos familiares de Serra – o jornalista sempre se defendeu argumentando que buscava informações públicas, arquivadas na Junta Comercial, e muitos desses dados são publicados no seu livro.
Execução fiscal
2004.61.82.061807-5. Eis agora o número do processo de execução fiscal movido pelo INSS contra a empresa Iconexa e seu sócio majoritário Alexandre Bourgeois. Genro do presidenciável tucano e gestor de fundos em Trancoso, ele deixou uma dívida de R$ 309,3 mil, mas a execução não prosperou porque Bourgeois não possui bens em seu nome. Nem mesmo no Detran, o que indica que o genro de Serra não tem nem automóveis.
O livro de Amaury Ribeiro Júnior aponta ainda como a privatização foi comandada por dois nomes muito próximos a Serra: Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-diretor do Banco do Brasil, e Gregório Marin Preciado, “primo” do tucano (Leia mais a respeito aqui). Ao todo, os movimentações financeiras em paraísos fiscais, documentadas, somam mais de U$S 20 milhões e atingem heróis da “privataria” tucana, mas também petista, como Carlos Jereissati, dono da Oi.

Amaury Ribeiro Jr: O primo mais esperto de José Serra



O primo mais esperto de José Serra, capítulo 8 de A privataria tucana, de Amaury Ribeiro Jr., publicado com autorização da Geração Editorial
O primo mais esperto de José Serra
O perdão de uma dívida milionária no Banco do Brasil.
E o apoio do BB para estrear na privataria
Preciado vai à luta e compra três estatais sob FHC.
Com a bênção de Ricardo Sérgio e o dinheiro da Previ.
Altos negócios com um paraíso natural na Bahia
A trajetória do empresário espanhol naturalizado brasileiro Gregório Marin Preciado, 67 anos, e um exemplo de como laços de família funcionam como chaves para abrir muitas portas, escancarar novas oportunidades e levar vantagem sem fazer muita força. Desde que passou a integrar o clã dos Serra, os horizontes do primo Preciado expandiram‑se consideravelmente.
Casado com uma prima em primeiro grau do ex‑governador de São Paulo, Preciado arrebatou vantagens bancárias distantes das que arrebatariam mortais comuns, brasileiros ou espanhois. Ou você, leitor, obteria, munido somente de sua integridade e seus belos olhos, um abatimento de seu débito com o Banco do Brasil de R$ 448 milhões para irrisórios R$ 4,1 milhões? (30) Uma redução amiga de 109 vezes o valor da pendencia, decididamente, nao e para qualquer bico. Mas para bico de tucano, com certeza e…
A chave mágica gira pela primeira vez para o contraparente de José Serra em 1983. Catapultado pelo apoio do poderoso primo, Preciado toma assento no Conselho de Administracao do Banco do Estado de São Paulo (Banespa), então o banco público estadual. O governador era Franco Montoro e Serra, seu secretário de planejamento. Os tucanos ainda nao eram tucanos e abrigavam‑se no ninho do PMDB, de onde logo bateriam asas, acusando a velha legenda de antro de fisiologismo, pecha que a história, essa matrona sarcástica, cobraria do proprio PSDB um pouco adiante. O primo de Serra permanecera no Conselho de 1983 a 1987.
Mas é com os cofres do Banco do Brasil que o primo do peito irá se encontrar. Em agosto de 1993, Preciado toma um emprestimo equivalente a US$ 2,5 milhões na agência Rudge Ramos, em São Bernardo do Campo (SP). O financiamento, em nome das empresas Gremafer Comercial e Importadora Ltda. e Aceto Vidros e Cristais Ltda.(31) que, na época, tinham vários títulos protestados na praça, demora a ser liberado. Quando ocorre a liberação, as duas empresas de Preciado, atoladas em dívidas, não conseguem pagá‑lo. No ano seguinte, acontece a primeira renegociação. Mas não é honrada. Apenas a Aceto paga uma parcela — referente a outubro de 1994 — do seu débito.
Corre o ano de 1994 e Preciado está mordendo a lona. Já deve aproximadamente R$ 20 milhões, que não pode pagar ao Banco do Brasil. Mas pode doar, por meio das endividadas Gremafer e Aceto, a bolada de R$ 87.442,82 para a campanha do primo Serra ao Senado. O BB ajuda a bancar as investidas empresariais de Preciado e este ajuda a bancar a candidatura do primo. O depósito consta da
prestação de contas do candidato a Justiça Eleitoral.
O tempo passa e o banco público nao vê a cor do seu dinheiro. Enquanto isso, a Gremafer vende R$ 1,7 milhão em imoveis. Mesmo assim, por bizarro que possa parecer, Preciado emplaca um segundo
empréstimo no BB. Em novembro de 1995 — com FHC presidente e Serra senador — o inadimplente Preciado extrai não apenas um financiamento de montante ainda superior ao primeiro: US$
2,8 milhões. De lambuja, uma nova e camarada renegociação permitiu‑lhe abater R$ 17 milhões do passivo anterior! Aliás, depois disso, a Gremafer vendeu mais R$ 2,2 milhões em imóveis. Para o BB rumariam apenas R$ 160 mil.
“Totalmente exótico”, registrou o Ministério Público Federal na ação cautelar de improbidade que moveu contra Preciado e duas dezenas de pessoas físicas e jurídicas em 2004. Mais do que exótico,
ilegal. Dirigentes do BB “estão envolvidos num complexo de relações espúrias, mesclando negócios públicos com conexões políticas com altos funcionários do governo”, acentuou a ação. “A renovação
sucessiva de operações sem liquidez, com garantias inidôneas e insuficientes, configura ato de improbidade”, agregou.
Perdoado e ainda agraciado com crédito farto, o primo de Serra, novamente, não salda sua dívida. Documentos do BB, citados pelo MPF, sinalizam que Preciado, em vez de pagar o devido e sanar suas
empresas, teria aplicado os recursos em negocios pessoais, entre eles a lavanderia Mr. Clean e as empresas Petrolast, Gamesa do Brasil, Iscar, Porto Marin, além da fábrica de ferramentas Fhusa,
esta na Espanha. E na aquisição de imóveis.
Em 1998, quando o poderoso diretor da area internacional, Ricardo Sergio de Oliveira, mandava e desmandava no BB, a generosa direção do banco perdoou mais uma fatia substancial da dívida do apreciado primo. Apesar do passado e do passivo de mau pagador. De uma só tacada, desbastaram‑se R$ 57 milhões da frondosa dívida. Nada mau. Preciado devia, então, R$ 61,3 milhões e passou a dever R$ 4,1 milhões. O MPF reparou que o próprio Preciado, em nota a imprensa, calculou sua dívida total
— turbinada pela inadimplência e a elevada taxa de juros — em US$ 140 milhões (R$ 448 milhões ao cambio da época). O primo do hoje candidato tucano a Presidencia da Republica ainda culpou
“as draconianas regras do sistema bancario”, as quais identificou como “perseguição”.
Devendo milhões ao Banco do Brasil, com suas empresas arruinadas ou a beira da bancarrota, Gregório Marin Preciado é uma carta fora do baralho. Certo? Nada disso. Acontece que o empreendedor,
primo e sócio de Serra, não é homem de se intimidar com pouca coisa. Quando se abriu a porteira dourada dos grandes negócios das privatizações na Era FHC, Preciado, num estalar de dedos, transmutou‑se em player global para jogar o jogo pesado da privataria. E foi as compras. Representante da empresa Iberdrola, da Espanha, montou o consórcio Guaraniana, que adquiriu três estatais
de energia elétrica: a Coelba, da Bahia; a Cosern, do Rio Grande do Norte; e a Celpe, de Pernambuco.
Parece mágica, mas não é. É algo bem mais soturno, movido não pela mão invisível do mercado, mas pela mão onipresente do ex‑tesoureiro de Serra e de FHC, Ricardo Sérgio de Oliveira que, no exercício desmesurado do seu cargo, obrigou o Banco do Brasil e a Previ, a caixa de previdência dos funcionários do BB, dois lugares onde dava as cartas e jogava de mao, a entrar na dança de Preciado. Seu poder chegou a tal exacerbaçao, que o BB associou‑se a uma empresa representada por um notório e contumaz devedor do banco. Ricardo Sérgio operava diretamente no BB, atuando na Previ por intermédio do diretor, Joao Bosco Madeiro da Costa. Ex‑assessor de Ricardo Sérgio no banco, Madeiro da Costa desfrutava de tal intimidade com o ex‑chefe, que os dois se tratavam por “boneca”. Foi Ricardo Sérgio quem indicou Madeiro da Costa para a Previ, que cumpriu fielmente as ordens recebidas. E a Previ realizou um negócio fabuloso, digno de constar em um manual da estupidez negocial.
Na composição do consórcio, a Previ entrou com 49% do seu capital, cabendo a Iberdrola, 39%; e ao BB, 12%. Na hora do desembolso, tocou a Iberdrola participar com R$ 1,6 bilhão; e o banco público, com R$ 500 milhões. E a Previ? Bem, a Previ depositou R$ 2 bilhões, de forma que entrou com a maior de todas as somas e, mesmo assim, não detinha o controle acionário do empreendimento. Pagou para o sócio comandar! Um case emblematico de como o dinheiro público pode servir de alavanca para alienar patrimônio público em favor de interesses privados.
Investigar este submundo onde a política serve como gazua para o enriquecimento privado nunca foi fácil. Preciado, por exemplo, deveria comparecer a CPI do Banespa (2002) para esclarecer suas relacoes com Vladimir Antonio Rioli, José Serra e Ricardo Sérgio de Oliveira. O PSDB, porém, travou sua convocação, mesmo contra a vontade do presidente da CPI, Luis Antonio Fleury (PMDB) e do aliado dos tucanos e relator da comissão  Robson Tuma (PFL).
Preciado é o caminho para chegar até Serra e, assim, o “Espanhol” precisa de proteção. Porque protegê‑lo significa impedir que toda a história desabe no colo dos caciques da sigla.
A vida é dura, mas Preciado não pode se queixar. Se o Banco do Brasil levou a pior na convivência com ele, o primo de Serra vai bem obrigado. Continua sendo dono da Aceto e da Gremafer.É também o proprietário da Porto Marin Empreendimentos Imobiliários.
Hoje, é dono de uma mansao de US$ 1 milhão em Trancoso, paradisíaco recanto do Sul da Bahia. É o mesmo oásis que a familia Serra busca para recuperar‑se da árdua labuta para ganhar o pão de cada dia. Neste santuario da elite paulistana, como a empresária Eliana Tranchesi, dona da butique Daslu; e de vips globais, caso da top model Naomi Campbell; foi que José Serra passou o réveillon de 2010. Em Trancoso, Serra costumava hospedar‑se com o primo. Daquela vez, porem, quem o recebeu, durante oito dias, foi a filha Verônica, proprietária de outra mansão.
Não se sabe se Serra trocou alguma ideia com o primo Preciado, mas o certo é que o “Espanhol” continua na ativa. Na Bahia, ele retornou ao noticiário enrolado na apropriação conturbada da ilha
do Urubu, outro éden baiano, situada nas imediações de Trancoso.
Preciado e a ilha juntam‑se por meio de uma decisão tomada pelo então governador baiano, Paulo Souto (DEM), em 2006, no apagar das luzes de seu governo. Não seria a primeira vez que uma iniciativa de Souto favoreceria o primo de Serra. Em 1997, o senador pefelista Antonio Carlos Magalhaes luzia como o grande oligarca e centro do poder do Estado e fizera Souto, um de seus pupilos, sentar‑se no trono baiano.
Como vender patrimônio público no Brasil da década de 1990 era um imperativo da mudernidade, Souto levou a leilão a Companhia Eletrica da Bahia, a Coelba, negociada por R$ 1,7 bilhão. Do outro lado do balcão estava justamente Preciado, como representante da multinacional Iberdrola no consórcio
Guaraniana. A venda da estatal para o consórcio do primo de Serra foi saudada pelo então ministro de Minas e Energia de FHC, Raimundo Brito, como “um sucesso” e “um prêmio“ ao governo baiano que “vem administrando a empresa com seriedade e responsabilidade publica e empresarial”.
affaire “ilha do Urubu” é diferente, mas também envolve concessão generosa de propriedade pública que, ao fim e ao cabo, favorece o parente do ex‑governador paulista. Derrotado pelo petista Jacques Wagner nas eleições de 2006 e esvaziando suas gavetas no Palácio de Ondina, Souto foi à forra contra a Bahia e os eleitores e despachou um saco de bondades custeadas pelos cofres estaduais, que incluiu a outorga a particulares de 17 propriedades rurais, 12 imóveis e 1.042 veículos do Estado. E o que revelou denúncia do deputado Emiliano Jose (PT/BA), ampliada na imprensa.(32) Das terras outorgadas, uma foi a ilha do Urubu, considerada uma das áreas mais valorizadas do litoral do Atlântico.
Aconteceu assim: Souto doou a ilha a cinco integrantes da família Martins — Maria Antonia, Benedita, Ivete, Joel e Angelina — que a reivindicavam havia 30 anos. Pescadores e pequenos comerciantes,
os Martins habitavam a ilha desde o começo do século passado. Os cinco aquinhoados só poderiam vender a ilha cinco anos apos recebê‑la em doação. No entanto, quatro meses apos, Preciado tomou posse das terras pela pechincha de R$ 270 mil.
Ate então, a relação entre Preciado e os Martins fora tumultuada. É que o Espanhol tambem invocava a condicao de proprietário da ilha obtendo, inclusive, da Justiça baiana, um mandado de reintegração
de posse. O oficial de Justica Dilson Jose Ferreira de Azevedo deu um testemunho eloquente sobre os metodos de convencimento aplicados pelos prepostos do primo de Serra.
Azevedo contou que, chegando a ilha, no dia 26 de outubro de 2006, encontrou apenas um casal de velhos — Maria Antonia e Joel Martins — à sombra de uma arvore. Os dois foram oficiados sem
qualquer atrito. Entretanto, com a presença de empregados de Preciado, deflagraram‑se as hostilidades. Nas palavras do oficial de Justiça a Vara Civel e Comercial da Comarca de Porto Seguro, os capangas dos autores (além de Preciado, a mulher dele, Vicência Talan Marin) “procederam a derrubada e queima do barraco ali existente”. Transcorridos dois meses, “Maria e Joel venderiam a mesma terra a quem lhes havia derrubado e incendiado a casa”.(33)
Em 2008, Preciado negociou seus direitos possessórios sobre 112 hectares da ilha para a empresa Bella Vista Empreendimentos Imobiliários. A Bella Vista e controlada pela Dovyalis Participações S.A, presidida pelo especulador belga Philippe Ghislain Meeus. Preciado, que adquiriu as terras por R$ 270 mil, vendeu‑as por R$ 5 milhoes a Meeus. Hoje, este pedaço de terra, supostamente o mais valioso da orla sul‑americana, valeria dez vezes mais. Preciado passou adiante a ilha, mas permaneceria proprietário de mais de 160 hectares na valorizadíssima regiao de Porto Seguro.
O lance final de Souto ao deixar o governo gerou uma disputa feroz. A comecar pelo fato de que, além dos cinco Martins beneficiados, muitos outros membros da mesma família apresentavam‑se
como posseiros no lugar, alguns deles desde a década de 1930. A confusão aumentou com o ingresso de um novo elemento na briga: os indios Pataxó. Com faixas com dizeres como “Nós sómos os donos da ilha do Urubu”, um grupo de pataxós, chefiados pelo cacique Arakati, realizou um protesto no local e fez uma ocupação simbólica em fevereiro de 2010. Arakati afirma defender os direitos das índias Iracema e Vandelita Alves Martins, filhas do pataxó Aloisio Martins que, em 1964, teria recebido 56 hectares da fazenda Rio Verde — ilha do Urubu — da prefeitura  de Porto Seguro.
No comeco de 2010, um parecer da Procuradoria Geral do Estado declarou nula a doação da terra. Foi uma resposta à ação  popular movida contra Souto que tramita na 8a. Vara da Fazenda Pública, do Tribunal da Justiça da Bahia, e que acabou aplainando o caminho do primo de Serra. A iniciativa da ação foi do advogado Rubens Freiberger, em nome das duas índias.
Atribulações jurídicas à parte, a ilha parece estar em perigo. Em maio de 2010, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) multou duas vezes a empresa Trancoso Bio Resort Agropecuária Ltda. sob acusação de crime ambiental. A Bella Vista tambem foi penalizada. As duas empresas são vinculadas ao milionário Meeus.
A exemplo de Ricardo Sérgio, além da lavanderia do Banestado, do MTB Bank e da Beacon Hill, o Espanholnão teve nenhuma dificuldade em aprender a fórmula das poções milagrosas para arrecadar dinheiro em operações tecnicamente implausíveis. No final da decada de 1990, Preciado descobriu que o Socimer International Bank — mal‑afamada instituição financeira de capital espanhol — estava atuando clandestinamente no país. Na ocasião, o banco havia mergulhado em um escandalo que causou
US$ 200 milhões de prejuízos a cerca de cinco mil clientes. Grosso modo, o Socimer captava dinheiro de pequenos investidores sob o pretexto de aplicar em tíitulos na dívida de países emergentes
como o Brasil e o Chile. Seria uma transação corriqueira, se os títulos realmente tivessem sido comprados e todo o ervanário não tivesse desaparecido.
Em 2002, ao vasculhar processos judiciais e fazer um levantamento na Junta Comercial de São Paulo,(34) descobri que o Socimer, mesmo liquidado, estava atuando como instituição financeira em
território brasileiro sem a autorizaçao do Banco Central. Embora sua subsidiária no pais, a Socimer do Brasil, pudesse apenas, legalmente, comercializar produtos de importação e exportação, o banco
efetuava empréstimos e ajudava empresas e empresários a repatriar valores. Em 15 de outubro de 1997, por exemplo, o banco foi fiador de operacao no montante de R$ 2 milhões em que o liquidado Milbanco repassou os créditos de seus correntistas ao Banco Industrial do Brasil. Obtidos durante uma busca de quase dois meses nos cartórios e na Justiça de São Paulo, os documentos revelam que as operações do Socimer eram feitas por meio de contratos particulares a margem das leis financeiras.
A papelada mostra que, no mesmo ano, Preciado recorreu ao mesmo banco para trazer US$ 1,3 milhão das Bahamas, outro paraíso fiscal do Caribe, por meio de uma simulação de empréstimo. Na ocasião, os representantes do banco no pais admitiram ao autor que não tinham autorização para realizar esse tipo de transacao. Só que, ao contrário do que aconteceu com os correntistas que faliram ao comprar a papelada fantasma do banco, a tentativa de aplicar golpe no Brasil — pelo menos com Preciado
— não deu certo. O Socimer teve de ingressar com um processo de execução na Justiça de São Paulo para receber a bolada trazida do Caribe. Foi graças ao processo, em fase de conclusão, que o
autor teve acesso aos detalhes da transação. Mais uma vez as ligações entre o ex‑tesoureiro de campanha do PSDB e Preciado vem à tona. Nos autos do processo, Preciado confessa possuir dívida
de R$ 82 mil com Ronaldo de Souza — ex‑sócio e testa de ferro já falecido de Ricardo Sérgio. A justificativa alegada para a dívida é a aquisição de um terreno.
Disposto a provar que todas as denúncias são somente intrigas da oposição, Preciado está publicando suas memórias sob o título Vida Aberta. Veiculadas em capítulos, desde o começo de 2010 no
site da familia,(35) a narrativa aborda a trajetória de Preciado e de sua família no Brasil. Preciado conta, por exemplo, que o pai dele, Gregorio Marin Burdio, perseguido pelo ditador Francisco Franco,
teve de abandonar Zaragoza, na Espanha, em meados do século passado. Foi assim que começou a história dos Marin Preciado em solo brasileiro. Os laços de amizade com Jose Serra, reforçados na década de 1960 em Sao Paulo, são também tratados detalhadamente. “Aos 20 anos, retomei meus laços de amizade com a familia Serra e Talan, que conhecera no Mercado Central e reencontrei Bidu (Vicência Talan Marin), paixão e amor à primeira vista. Minha esposa há 43 anos e prima‑irmã, por parte de mãe, de Jose Serra.” O Espanhol volta a falar de Serra ao retratar a história do exílio do ex‑governador
durante o regime militar.
“Naquela época do nosso namoro (entre Preciado e Bidu), entre 1963 e 1964, Serra era presidente da União Nacional dos Estudantes. Discursos incendiários, Joao Goulart, Revolução Militar, exílio.
Primeiro para a Bolívia. Me lembro da ida com o meu sogro, Pedro Talan, a embaixada da Bolívia no Rio de Janeiro, despedida para o exílio numa noite típica de São Paulo em um hotelzinho pequeno, em frente ao aeroporto de Congonhas.”
De acordo com o Espanhol, a proximidade com Serra o teria levado a participar da fundacao do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e da campanha em favor da redemocratização. Garante que teria ajudado a viabilizar a ideia de Alexandre Dupas de fazer o placar das Diretas Já, (36) além de angariar recursos para a publicação do livro A transição democrática que deu certo. As constantes
viagens de Preciado ao exterior, onde Serra estava exilado, acabaram estreitando os laços entre os dois. “Encontrei‑o em Nova York, na Ithaca Cornell University. Conheci brasileiros exilados, alguns
hoje expoentes na política. Serra voltou do exílio sozinho. Monica e filhos ficaram nos Estados Unidos e ele morou em minha casa durante quase um ano. Nesse período, em inumeráveis reuniões noturnas, nasceu o germe da transiçao, da volta a democracia, comecou‑se a organizar‑se o MDB com Ulysses Guimaraes, FHC, Franco Montoro e Jose Gregori.”
Preciado justifica que só foi nomeado conselheiro do Banespa, durante o governo Franco Montoro, devido à influência de peixes graúdos do então MDB. Diz ter sido indicado para o cargo por
Ulysses Guimarães e pelo próprio Montoro. O nome de Serra não é citado. “Ganhamos as eleições em São Paulo e participei ativamente de quase todas as campanhas. Graças a essas amizades, os
saudosos Franco Montoro e Ulysses Guimaraes me indicaram para o Conselho de Administração do Banespa. Luiz Carlos Bresser Pereira aprovou meu histórico e indicaçao. Permaneci nos dois primeiros
anos, ao longo do mandato de Bresser como presidente do banco. Quando Fernando Milliet assumiu o cargo, fui confirmado ao cargo para mais dois anos por minha conduta ilibada.”
Em outubro de 2010, o blog deu um tempo para as memórias. E concentrou‑se nas notícias da festa de 90 anos da sogra de Espanhol, Tereza Chirica Talan. A festa reuniu cerca de 80 parentes das famílias
Serra e Preciado, no Ópera Bar, tradicional casa noturna no bairro de Pinheiros, Zona Oeste da Capital paulista. Em plena campanha presidencial, Serra não pode comparecer. Em dezembro, Preciado reuniu novamente a família, desta vez para comemorar o aniversário, tambem de 90 anos da mãe, Assuncion Preciado Graciano, em Santo André na região do Grande ABC. Ao discursar, Preciado não conseguiu segurar a emoção. Antigos aliados do senador Antonio Carlos Magalhãs, que nunca morreu de amores por Serra, os adversários baianos de Preciado ironizam. Dizem que o Espanhol, hoje totalmente livre de dívidas, também costuma se emocionar em festas ao lembrar do apoio que sempre recebeu no
país. “Viva el Brasil”, costuma brindar Preciado. “Viva la privatizacion”, emendam seus inimigos.
(30) A dívida de Preciado com o Banco do Brasil foi estimada em US$ 140 milhoes, segundo declarou
o próprio devedor. Esta quantia foi convertida em reais tendo‑se como base a cotação cambial do
período de aproximadamente R$ 3,20 por um dólar. O caso foi revelado em 2002 pelo jornalista
Fernando Rodrigues, da Folha de S. Paulo.
(31) Gremafer Comercial e Importadora Ltda., de São Bernardo do Campo (SP), e Aceto Vidros e
Cristais Ltda., de São Paulo (SP). A Gremafer trabalhava com a importacao de ferramentas.
(32) “Ilha do Urubu, o paraiso traido”, materia de Leandro Fortes em Carta Capital, edição de 05/11/2009.
(33) Idem.
(34) “O paraiso fiscal e aqui”. Amaury Ribeiro Jr. em IstoÉ, edicao de 18/09/ 2002.
(35) gregoriomarinpreciado.blogspot.com.
(36) O painel expunha a populacao o nome dos parlamentares que votavam a favor e contra as Diretas Ja.