quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

CPI da Privataria dará entrada na 3ª; autor quer negociar no recesso



Com número mínimo de assinaturas obtido, deputado Protógenes Queiroz (PCdoB) já traça planos para CPI da Privataria Tucana. Eleito para grupo de plantonistas do recesso, quer definição de membros e relator em janeiro. Se CPI sair, será única consequência até agora. Ministério Público não abriu inquérito nem foi instado a fazê-lo. Assessoria da PF diz desconhecer eventual apuração.

BRASÍLIA – A proposta de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Privataria Tucana, para investigar fraudes em privatizações do governo Fernando Henrique, já reúne o número mínimo de assinaturas de deputados e será protocolada na mesa diretora da Câmara na próxima terça-feira (15). 

Às 18h desta quinta-feira (15), o proponente da CPI, Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), dizia ter 173 assinaturas, duas a mais do que o necessário. Inclusive de deputados do PSDB, principal implicado nos fatos motivadores da CPI, nas figuras do ex-presidente FHC e do ex-ministro José Serra, e do DEM, aliado histórico dos tucanos e participante do mesmo ex-governo.

Segundo Protógenes, teriam assinado deputados como Fernando Francischini (PSDB-PR), que também é delegado da Polícia Federal (PF), Antonio Imbassahy (PSDB-BA), Luiz Carlos (PSDB-AP) e Onix Lorenzoni (DEM-RS).

Para Protógenes, o combustível da CPI é a internet, que deu ampla repercussão ao lançamento do livro. “Houve um impulso muito grande na CPI pelas redes sociais”, disse.

Confiante de que nenhum dos parlamentares que endossaram a proposta vai retirar a assinatura, exatamente por causa da pressão das redes sociais, e de que o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), não vai engavetá-la, Protógenes já traça planos para que o assunto não esfrie durante o recesso do Congresso, que deve começar dia 22. 

Escolhido como integrante da futura comissão representativa, uma espécie de equipe de parlamentares de plantão no recesso, Protógenes disse àCarta Maior que vai trabalhar para que o grupo se reúna ainda em janeiro, para definir os membros e o relator da CPI. 

Outras consequências

Nesta quinta-feira (15), Protógenes tentou, sem sucesso, levar o debate da Privataria para dentro da Câmara dos Deputados, mas fracassou. Membro da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), ele apresentou pedido para chamar o autor do livro A Privataria Tucana, Amaury Ribeiro Jr., para dar um depoimento. Seria uma forma de ajudar a aumentar o convencimento quanto à necessidade de uma CPI.

Um deputado tucano, Luiz Carlos, que segundo Protógenes assinou o pedido de CPI, agiu para impedir o convite. E, com o apoio, por omissão, da maioria da CCJ, conseguiu. “Já há um pedido de CPI, [a audiência pública]estaria ocupando um tempo precioso da CCJ”, disse Campos. Para ele, a discussão será "mais profícua" com a CPI.

A possível instalação da CPI, se ocorrer mesmo, será resultado dos esforços individuais de alguns poucos parlamentares, como Protógenes e Brizola Neto (PDT-RJ), que ajudou a coletar assinaturas. Até agora, os partidos, do ponto de vista institucional, se omitiram. 

No PT, talvez o partido com maior interesse teórico em guerrear com os tucanos, os líderes na Câmara, Paulo Teixeira (SP), e no Senado, Humberto Costa (PE), fizeram discursos na tribuna a favor de investigações, mas a cúpula do partido até agora não se manifestou.

O líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN), disse que o partido não vai “embarcar” na CPI, que seria uma briga entre petistas e tucanos.

Fora do Congresso, a denúncia também não produziu consequências. Até a noite desta quinta-feira, uma semana depois da notícia de que o livro seria lançado, o Ministério Público Federal não tinha aberto inquérito por iniciativa interna de algum procurador, nem sido provocado a fazê-lo por alguém de fora, segundo a assessoria de imprensa da instituição.

Na Polícia Federal, a assessoria de imprensa informou desconhecer o teor completo do livro e, portanto, não teria como saber se existe algum inquérito instaurado – e, mesmo que soubesse, disse, não poderia informar, por razões de sigilo funcional e de presunção de inocência.

Uma porção do Brasil torce pelo fracasso de João Gilberto



Claudio Leal
A crônica dos ingressos "encalhados" da turnê 80 Anos, Uma Vida Bossa Nova, de João Gilberto, revela uma estranha incompatibilidade do maior artista popular brasileiro com seu País. Bem explicado, com uma porção cavalgadura do Brasil. Sabe-se que, por conta de uma gripe e de transtornos na produção, seus espetáculos foram adiados até o cancelamento final.
Como comprovam pencas de reportagens e comentários nas redes sociais, João Gilberto precisava fracassar. O confinamento, o desprezo à ordem das celebridades, a essencialização de uma arte e o radical sacerdócio, em mais de 50 anos de carreira, tornaram-no um inimigo da previsibilidade do show businesse dos fervores justiceiros do jornalismo. João Gilberto precisa fracassar para que prevaleça alguma lógica, por vezes chamada de "respeito ao público". O que não parece faltar em suas criações rítmicas.
Em setembro, dois dias depois do início da vendagem dos ingressos da turnê (iam de R$ 500 a R$1.400), em quatro capitais brasileiras, trovejaram as primeiras reportagens sobre o "encalhe" e a "frustração" dos produtores.
Não se conhece, na imprensa brasileira, semelhante preocupação com o desempenho da bilheteria de qualquer outro artista popular vivo. E o fluxo de suspeitas sobre a viabilidade dos shows não cessou, seguindo a antiga tendência de folclorização, agora verificada no escárnio à sua gripe; meses antes, na torcida por seu despejo de um apartamento no Leblon, onde se negava a receber os operários de Madame Proprietária. Nem Roberto Carlos, hen-hen-hen, resistiria a tamanha urucubaca.
O próprio ato de falar de João Gilberto, sem apelar para o folclore, virou uma ofensa a certa nacionalidade ferida por sua recusa minimalista ao convencional. Acredita-se que, além de uma forma nova de tocar violão, ele inventou a excentricidade. O irascível Frank Sinatra, a quem se permitia ficar gripado, ao menos literariamente, não era dos mais dispostos a afagar a vizinhança, salvo algumas companhias mafiosas. Fosse brasileiro, mereceria uma permanente avacalhação.
No lançamento do seu último disco, Chico Buarque ridicularizou a contento o ódio dos comentários anônimos na internet. Algumas mensagens ofensivas a João Gilberto, dirigidas a esta redação, não deixam de impressionar pelo tom dos relinchos:
1. "Não sei porque idolatram tanto esse cidadão, uma voz irritante, cheio de chiliques, se acha o ser supremo da MPB e nem é, realmente lamentável que esse pais de ignorantes ainda pague rios de dinheiro para alguém desse tipo, para mim ele nunca contribuiu em nada nessa vida, não faz a menor falta para ninguém, e agora mais um titulo para ele: CALOTEIRO. Não paga aluguel e não quer deixar o imóvel, um lixo esse homem".
2. "Esse João Gilberto é o maior enganador que eu já vi na vida... não canta nada, não toca nada, é um chato de galocha e ainda fica todo mundo endeusando ele... Ahhh...vai te catar!".
3. "Galera, não sei pq acham esse cara um artista... Sério, sempre que o vejo cantar me dá vontade de arrancar o violão da mão dele e arrebentá-lo na cabeça".
4. "Quem disse para o João Gilberto que ele canta e compõe? Acho que ele paga para ser gravado e visto".
5. "A bossa nova foi criada para aqueles que não sabiam cantar. Enchem muito a bola desse individuo que se acha um Deus."
Afinal, que mal João Gilberto faz ao Brasil?
Somente em 2011, recebeu propostas de shows em oito países, da Rússia à Argentina. Chato. Na última turnê brasileira, o guitarrista inglês Eric Clapton revelou que sonhava em tocar com... João Gilberto. "Ele é fantástico. Mas também sei o quanto é difícil de ser encontrado", tietou. Que chato. Dúzias de artistas internacionais, como Frank Sinatra, já pediram para encontrá-lo. Ciceroneados no Brasil pelo romancista Jorge Amado, em 1960, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir não tiveram a sorte de ouvi-lo na primeira encarnação. João não foi. E não deve ter havido outra chance, pois o casal não dava pelota para a vida póstuma.
Madonna, que costuma cobrar ingressos baratos, transmitiu o recado de que desejaria cantar "Garota de Ipanema" acompanhada do violão daquele brasileiro chato. Ela ficou vidrada em um disco: "João". Em 1994, no Rio de Janeiro, o cantor norte-americano Tony Bennett, certamente desavisado do refinamento da hidrofobia anti-João Gilberto, confessou: "Adoraria que ele participasse do meu show". "O comportamento intimista de João Gilberto foi fundamental para a divulgação da Bossa Nova no mundo", acrescentou Bennett.
Em 2008, no Carnegie Hall, em Nova Iorque, um público de 2.800 pessoas o aplaudiu de pé, antes do início do show e de ouvir sequer um "boa noite". Bem chato. Em 2004, João Gilberto não parou de reclamar das falhas técnicas do som desse mesmo templo da música americana, onde houve o histórico concerto da Bossa Nova, quatro décadas antes. "Somebody come for help!", implorava o cantor. Milhares de chatos aplaudiram o profissionalismo do chato-rei. Onde eles estavam com a peruca?
Falando na lendária sessão bossanovista de 1962, no Carnegie Hall, um trecho de "Chega de Saudade", de Ruy Castro, demonstra o quanto o baiano de Juazeiro chateava alguns dos maiores talentos do jazz: "O encerramento em grande estilo estaria a cargo - que dúvida! - de João Gilberto. Afinal, era para ouvi-lo que estavam na plateia nomes ilustres como Tony Bennett, Peggy Lee, Dizzy Gillespie, Miles Davis, Gerry Mulligan, Erroll Garner e Herbie Mann".
Ainda hoje, fora do Brasil, os Estados Unidos são a maior fonte de rendimento dos direitos autorais de João Gilberto. Em todo o planeta, dos elevadores aos restaurantes, da trilha do filme "Prenda-me Se For Capaz" (de Steven Spielberg) à da série "Sex and the City", suas canções são ouvidas por quem possui sensibilidade e alguma medida de poesia. Produtor musical do álbum "João, voz e violão", Caetano Veloso - e muitos de seus pares - o estima como "o maior artista da música popular brasileira de todos os tempos". Para matar você aí de raiva, ou de amor, Miles Davis definiu: "Ele pode até ler jornal que soa bem."
Estranhamente, esse gênio celebrado por bípedes do mundo inteiro não frequenta as listas dos músicos mais tocados nas rádios brasileiras. O mundo deve estar errado - e o Brasil, certíssimo. Os espectadores do Credicard Hall, em São Paulo, que o vaiaram em 1999 pelas mesmas queixas técnicas, devem achar o Carnegie Hall um reduto de implicantes.
Por mais que seja atraente falar do "suicídio" do gato de João Gilberto (e não se deve perder o humor), não faltam perspectivas menos folclóricas para abordar a sua obra. Esta semana, depois de uma refrega judicial de 14 anos, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) acolheu, por maioria, o pedido de indenização de João Gilberto contra a gravadora britânica EMI, reconhecendo os danos morais provocados pelos erros na remasterização de seus discos.
Os álbuns clássicos "Chega de Saudade" (1959), "O Amor, o Sorriso e a Flor" (1960) e "João Gilberto" (1961) continuam fora do mercado fonográfico. Alguém aí falou em "respeito ao público"? Em 1992, à revelia do autor, a EMI reuniu os três bolachões e o EP "Orfeu da Conceição" num único CD, "O Mito". Apesar de sua relevância para a música brasileira, o julgamento do STJ ganhou uma repercussão discreta. A briga ainda deve durar, mas já percorreu boa parte do percurso jurídico.
João Gilberto nunca deixou de traduzir o Brasil, de modernizá-lo em suas recriações musicais, solitariamente entregue a um projeto irrealizado de País. Que não abra a porta, é outra história. Maravilhosa história.
Vaia de bêbado não vale.

Protógenes diz ter 173 assinaturas para CPI da 'Privataria'





O deputado Delegado Protógenes (PC do B-SP) afirmou nesta quinta-feira ter conseguido 173 assinaturas para abrir uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) com a intenção de investigar as acusações feitas pelo livro "A Privataria Tucana".
O livro, escrito pelo jornalista Amaury Ribeiro Jr., acusa o ex-governador José Serra de receber propinas de empresários que participaram das privatizações conduzidas pelo governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).



"A perspectiva é chegar a mais de 250 assinaturas", disse Protógenes, que vai protocolar o pedido de abertura de CPI na próxima terça-feira.

Para abrir uma comissão na Câmara dos Deputados são necessárias 171 assinaturas.
Segundo o deputado, assinaram o requerimento deputados governistas --entre eles a "metade da bancada do PT"-- e da oposição --PSDB, DEM e PPS.

"Eles pediram para não divulgar o nome. E quem já colocou a assinatura recebeu pressão para tirar, mas não vai tirar", afirmou Protógenes.

De acordo com ele, a CPI não pretende fazer uma revisão das privatizações feitas no governo FHC. "Ela vai fazer uma investigação dos possíveis ilícitos e irregularidades cometidos na década de 90."

O deputado pedirá ainda uma audiência pública com o jornalista na próxima semana.
"Tem investigações policiais que possivelmente vão ser desarquivadas", afirmou o delegado licenciado da Polícia Federal, em referência à Operação Satiagraha.
O deputado disse ainda considerar "sensata" a decisão do líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), e do líder do PT na Câmara, deputado Paulo Teixeira (PT-SP), de não assinarem o pedido.


A vitória parcial é dos “doidos” e “sujos”: CPI da Privataria Tucana vem aí!


por Rodrigo Vianna

A “Folha” levou uma semana para falar no livro de Amaury. Talvez esperasse as orientações do “comitê central”. As orientações parecem ter chegado sem muita clareza. O jornal da família Frias, num texto opaco que nenhum jornalista teve coragem de assinar, levanta suspeita não contra Serra e sua turma de especialistas em “offshore” – mas contra o premiado repórter Amaury Ribeiro Jr.

A “Folha” não se preocupou com a “ficha” do Bob Jefferson antes de noticiar o chamado “Mensalão”. O que importava ali era a denúncia. Bob falou e a mídia correu para “provar” o roteiro que ele indicou (sem nenhuma prova, diga-se). Havia verdades na fala de Bob, mas tambem alguns exageros. O “Mensalão” propriamente dito (que a Globo tentou transforma no “maior escândalo da história”) não existia no sentido de um pagamento mensal a deputados governistas. Mas havia, sim, um esquema subterrâneo, que o PT parece ter herdado dos tucanos de Minas. 

Da mesma forma, a “Folha” não se preocupou em saber se o homem que denunciava o Ministro Orlando Silva era ou não um bandido. Valiam as acusações, sem provas. O roteiro estava pronto. O ministro que provasse a inocência.

Com Amaury e a Privataria Tucana, há provas aos montes. Há documentos no livro. Mais de cem páginas. E há o currículo de um repórter premiado. Mas a “Folha” faz o papel de advogada do diabo. Quem seria o “coiso ruim” que a “Folha” quer defender?

Outro dado curioso. Lula foi ao poder e jamais investigou as privatizações. Havia um acordo tácito (e tático) para não promover caça às bruxas. Na Argentina, no México, na Bolívia, a turma dos privatas foi demolida. Aqui no Brasil, eles dão consultoria e palestras. Coisas do Brasil. Feito a jabuticaba.

Dez anos depois, a história das privatizações ressurge, pelo esforço e a coragem de um jornalista que alguns consideram “doido”, por mexer com “gente tão poderosa”. Amaury tem aquele jeito afobado, e o olhar injetado que só os sujeitos determinados costumam mostrar. Agora, querem desqualificá-lo. Covardia inútil.

Até porque um outro sujeito chamado de “doido”, o delegado e deputado federal Protógenes, botou o livro debaixo do braço e saiu coletando assinaturas para a CPI da Privataria. Nessa quinta-feira, dia 15 de dezembro, 


A CPI da Privataria vem aí. Contra a vontade de Otavinho, Ali Kamel, Civita e dos colunistas histéricos que servem a essa gente. Meia dúzia de blogueiros sujos (obrigado, Serra) avisou o público: há um livro sobre as privatizações na praça. A brava “CartaCapital” – de Mino Carta, Sergio Lirio e Leandro Fortes – publicou 12 páginas sobre o livro. E os leitores nas redes sociais espalharam a notícia.

Verdade que setores da grande imprensa furaram o bloqueio – a notícia saiu na Record, Record News, Gazeta, Portal Terra… Mas e na Globo e na CBN que convocam “marchas contra a corrupção”? Silêncio dos cemitérios sicilianos.

Não importa. O barulho foi feito pelos blogs, pelas redes sociais e pelos poucos jornalistas que não se renderam ao esquemão do PIG. É uma turma que colegas mais bem estabelecidos costumam chamar de “gente doida da internet”.

Pois bem. A conexão dos “doidos” e “sujos” ganhou o primeiro round nesse episódio da Privataria. Como já havia ganho no caso da bolinha de papel em 2010.

Vejam bem. Não foi o PT, nem a máquina petista (parte dela, aliás, sai mal do livro - por conta do acordo na CPI do Banestado, e da guerra interna no comitê petista em 2010 narrada por Amaury) que fez barulho. Não. Foi a turma aqui da internet.

O Serra levou outra bolinha na testa. Essa deve ter doído de verdade. Serra chamou o livro de “lixo”. De fato, as operações narradas por Amaury cheiram mal. A Privataria cheira mal. E o livro é pesado, recheado de documentos.

Será que Kamel convocará o perito Molina para provar que o livro não existe? O problema será convencer os leitores dos blogs e os quase 200 deputados que já assinaram o pedido da CPI. A primeira – em muitos anos - que pode vir sem ter sido precedida de campanha movida pela velha mídia.

Essa CPI, se vingar (e ainda há armadilhas no caminho), virá contra a velha mídia. Será a vitória dos sujos e doidos contra o bloco dos hipócritas.

Vídeo Serra e a Privataria Tucana






Matéria da Folha sobre Privataria absolve Agnelo e ministros


Com toda certeza, os grandes meios de comunicação que ainda não noticiaram ou meramente comentaram a Privataria Tucana devem estar julgando que teria sido melhor a Folha de São Paulo não ter publicado nada sobre o caso a ter publicado o que publicou em sua edição de quinta-feira 15 de dezembro de 2011.
Apesar do constrangimento que causa a “distração” desses órgãos de imprensa que se recusam a divulgar um caso que teriam publicado desde o primeiro instante se fosse sobre outro partido que não o PSDB, já que até as imprensas paraguaia e americana já publicaram matéria sobre o tema enquanto que a maioria da imprensa pátria finge que não sabe e que não viu, essa emenda saiu bem pior do que o soneto.
O que a Folha publicou não foi exatamente uma matéria jornalística, pois seu caráter, indubitavelmente, é de defesa do principal acusado pelo livro do jornalista Amaury Ribeiro, José Serra, ainda que, ironicamente, o livro não contenha acusações diretas a ele e sim, tão-somente, a seus parentes, os quais, do dia para a noite, apareceram como donos de empresas com capital social de milhões de reais.
Antes de prosseguir, a reprodução da matéria do jornal paulista:
Texto e infográfico da matéria da Folha, como se vê, dedicam-se à defesa do acusado pelo livro-bomba, além da defesa que ele mesmo faz de si. Ao se defender, porém, Serra veste a carapuça das denúncias apesar de só envolverem os seus parentes. E faz isso porque se tais denúncias se comprovarem não haverá quem o leve a sério caso diga que “não sabia”.
Mas tratemos do que diz a Folha, já que o conteúdo “requentado” e “sem novidades” ao qual a matéria do jornal alude já está gerando desdobramentos no poder Legislativo e no Judiciário, além de matérias arrasadoras na blogosfera.
O infográfico da matéria é ainda mais parcial do que o texto – ou, pelo menos, mais explícito na parcialidade – porque providenciou uma desculpa para cada acusação a Serra que a mesma matéria diz não existir, como se fosse possível parentes próximos de um político dessa envergadura aparecerem com milhões de reais nas próprias contas, do dia para a noite, sem que ele soubesse.
O leitor poderá se surpreender com a proposta que este blog quer lhe fazer no sentido de que, só de brincadeirinha, dê algum crédito à matéria do jornal da família Frias, aceitando a sua tese sob razão que não é totalmente desprovida de sentido.
Apesar do tom exageradamente favorável ao acusado – devido ao contexto das acusações contidas no livro sobre a Privataria Tucana –, a matéria da Folha lhe concede benefício da dúvida que o jornal, ao lado de veículos como O Globo, Veja ou  Estadão – só para ficarmos na imprensa escrita –, não dão a quem sofre acusações análogas à de Serra e não é tucano.
Matéria do Estadão publicada na última quarta-feira, por exemplo, “denuncia” ligação do governador de Brasília, Agnelo Queiroz, com “laranjas”. E quem seriam tais “laranjas”? Eis a cereja do bolo: são tão parentes do governador petista quanto os acusados pelo livro sobre a Privataria são parentes do ex-governador tucano.
Veja, abaixo, a matéria do outro grande jornal paulista. Este comentário é retomado em seguida.
Reflitamos. Se se admitir esse nível de exigência da Folha para levar em conta uma acusação contra políticos, os ministros do governo Dilma que caíram sob esse tipo de acusação feita de ilações e suposições que o jornal não admite contra Serra, também deveriam ser beneficiados.
Se não se aceita suposição de que Serra sabia que a filha, do dia para a noite, ficou milionária e de que ele, que então estava na linha de frente do processo de privatização do patrimônio público brasileiro, deu uma mãozinha a ela com os poderes que sua posição lhe concedia, por que se deve aceitar suposições de que Antonio Palocci, por exemplo, enriqueceu por algum motivo escuso que ninguém, até hoje, disse qual foi?
Devido ao “princípio civilizatório” de presunção da inocência e do cuidado que se deve ter com a honra alheia, até se pode dar ao ex-governador tucano o benefício da dúvida sobre se ele “sabia” ou “não sabia”. O que não dá para aceitar é que qualquer suposição contra um lado seja considerada prova e contra o outro seja considerada como o que é, suposição.
Mas isso é a imprensa. O problema, o grande problema, o descomunal problema, enfim, o problema inaceitável é se a Justiça agir como a imprensa. Aí será preciso parar este país até que se chegue a um acordo sobre que tipo de democracia é essa em que estamos vivendo, na qual alguns, em tal situação, serão “mais iguais” do que outros perante a lei.
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Ombudsman da Folha critica matéria sobre Privataria
Eu e outros blogueiros recebemos por e-mail vazamento de crítica interna que a ombudsman da Folha, Suzana Singer, escreveu hoje sobre a matéria que este post comenta. Veja, abaixo
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ANTES TARDE DO QUE NUNCA
por Suzana Singer
Ainda bem que a Folha deu a notícia sobre o livro “A Privataria Tucana” (A11). A matéria está correta, com o destaque devido, mas o jornal deveria continuar no assunto, porque há mais pautas no livro.
Exemplo: por que Verônica Serra e o marido têm offshores? Não deveríamos investigar e questioná-los? É já publicamos que Alexandre Bourgeois, marido de Verônica, foi condenado por dever ao INSS? É verdade que as declarações que ela deu na época das eleições, sobre a sociedade com a irmã de Daniel Dantas, eram mentirosas? Fomos muito rigorosos com o caso Lulinha, por exemplo.
Outra frente é a o tal QG de dossiês anti-Serra na época da eleição presidencial, que a Folha deu com bastante destaque. O livro conta coisas de arrepiar a respeito de Rui Falcão. Ao mesmo tempo, sua versão de roubo dos seus arquivos parece inverossímel. Seria bom investigar, já que ele faz acusações graves contra a imprensa, especialmente “Veja” e “Folha”.
Teria sido bom editar um “acervo Folha conta a história da privatização” para lembrar ao leitor que o jornal foi muito duro com o governo FHC. É um erro subestimar a capacidade da internet -e da Record- de disseminar a tese do “PIG”. E também seria bom esclarecer, com mais detalhes, o que é novidade no livro sobre esse período.
O Painel do Leitor só deu hoje uma carta cobrando a cobertura do livro. Eu recebi 141 mensagens. Quem escreveu hoje criticou a matéria publicada por:
1) ter um viés de defesa dos tucanos;
2) não ter apresentado Amaury Ribeiro Jr. devidamente e não tê-lo ouvido;
3) exigir provas que são impossíveis (ligação das transações financeiras entre Dantas e Ricardo Sérgio e as privatizações);
4) não ter esse grau de exigência em outras denúncias, entre as mais recentes, as que derrubaram o ministro do Esporte (cadê o vídeo que mostra dinheiro sendo entregue na garagem?);
5) não ter citado que o livro está sendo bem vendido

A indignação “slow motion” de FHC e Guerra



É esta a publicação "suja" e "assina moral" que o PSDB vai processar?
Vocês sabem que o sentimento de dignidade é uma coisa que só lentamente se desenvolve, não é?
Você é xingado no trânsito, segue o seu caminho sem dizer nada.
Chega em casa, dorme, acorda, segue sua vida normal.
Daí a cinco dias, perguntam a você o que achou daquele xingamento, ali, em plena rua, com todo mundo vendo e ouvindo – mesmo não tendo saído no jornal – e você reage assim: ” o que é que eu vou dizer daquilo? É lixo, só lixo”.
No dia seguinte, seu padrinho e o presidente de seu partido, que viviam saudando as denúncias de corrupção quando envolviam outros, soltam notas oficiais parecidinhas,  quase ao mesmo tempo e cheias de expressões idênticas.
Pois, nesta época de Natal, quando os pensamentos se elevam, creia o leitor  na sinceridade das notas divulgadas hoje no Blog do Noblat, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo presidente do PSDB, Sérgio Guerra – aquele a quem o Lula chamou de… esqueci .
FHC fala em “assassinatos morais de inocentes”. Guerra, que as denúncias são feitas por quem tem “imunidade parlamentar”.
Senhores, recordem-se que aquilo que é dito no livro de Amaury Ribeiro está já foi publicado, em grande parte, pela revista preferida do tucanato, a Veja, dez anos atrás.  O que Amaury fez, e fez muito bem, foi reunir os documentos e sistematizar o “modus operandi” do esquema.
Ou será que Guerra e FHC vão processar a Veja, junto com Amaury?  Se eu fosse advogado dele e receber um processo, peço para incluir a Veja como ré e os ex-ministros Paulo Renato e Luiz Carlos Mendonça de Barros (que o velho Brizola, distraído como era, dia Mendonça da Lama” ).
Mas devemos ser generosos e acreditar. Quem sabe os sentimentos de honra e de dignidade de FHC e Guerra esteja tão soterrado pelo que fizeram nos últimos 20 anos que, para chegarem à tona, demorem mesmo assim a emergir.
É Natal, sejamos crédulos.

Privataria: como identificar um tucano



O ansioso blogueiro entra na livraria do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.

Vai direto à estante principal e vê uma pilha, já reduzida, do livro do Amaury.

Pergunta a um vendedor :

- Como está vendendo o livro sobre a roubalheira dos tucanos ?

- Muito.

- Voces ainda tem uns ai na pilha, comentei.

- Acho que nós somos os únicos que ainda tem alguma coisa  pra vender.

- Tem muito tucano comprando ?, perguntei, assim como quem não quer nada.

- Muito, ele respondeu, de pronto .

- E como é  que voce sabe que o cara é tucano ?

- Pela arrogância.

Pano rapido.

Paulo Henrique  Amorim