É interessante registrar. As campanhas correram com normalidade. Nenhum sinal mais ostensivo de violência. Existiu o respeito mínimo exigido entre os candidatos.
 
A partir destas colocações, o panorama político é de exemplar respeitabilidade. Parece ser assim, se lhe parece. O cenário se torna mais complexo quando se examina atos originários do Judiciário.
 
O Supremo Tribunal Federal colocou em pauta de seus trabalhos o processo correspondente ao “mensalão” exatamente no mês das eleições. Claro que a Justiça não pode se ater aos problemas oriundos dos partidos.
 
A Justiça está acima das vicissitudes do cotidiano. Como ente isento não se prende aos fatos que, em outras esferas, se mostram de importância fundamental.
 
Estes registros, porém, se impõem. O julgamento do “mensalão” incidiu exatamente sobre o período eleitoral em seu ápice. Foi um verdadeiro turbilhão de más notícias envolvendo o Partido dos Trabalhadores.
 
Apesar desta realidade, constata-se que esta agremiação, cujo presidente de honra é Luiz Inácio Lula da Silva, não teve perdas significativas em razão de sua exposição negativa pela mídia, particularmente a eletrônica.
 
Cabem, aqui, algumas divagações. As conclusões só podem ser atingidas mediante profundos estudos multidisciplinares. A sociologia e a psicologia social, entre outras disciplinas, precisam ser utilizadas para se alcançarem respostas.
 
O “mensalão”, forma de alguém obter vantagens mediante o uso de entidades públicas e privadas, indica uma fragilidade ética de seus operadores e dos receptores dos benefícios ilegais.
 
Esta assertiva foi repetida à exaustão pelos meios de comunicação. Jornais televisivos dedicaram, diariamente, em cadeia nacional, dezenas de minutos de seu tempo para expor didaticamente o “mensalão”.
 
Tudo foi em vão. A sociedade, em sua grande maioria, não se preocupou com o tema. Votou livremente de acordo com sua convicção. Não se sensibilizou com a oratória moralista.
 
Aqui a preocupação. Estarão os brasileiros afastados dos valores éticos? Ou os eleitores consideraram-se manipulados pelos mecanismos de informação?
 
 Se a segunda hipótese for a verdadeira, atingiu-se um sofisticado grau de qualificação política por parte do eleitorado. Separa o joio do trigo de acordo com sua vontade.
 
Ouve, mas age de conformidade com sua própria consciência. Não aceita intromissões indevidas em suas maneiras de pensar e atuar. Recolhe opiniões. Ouve, mas decide de acordo com seu próprio pensamento.
 
A outra face do acontecimento eleitoral aponta para outra vertente. Esta mais complexa. O brasileiro médio não se debruça sobre os problemas éticos?
 
Encontra-se o eleitor alheio ao que se dá no interior dos partidos, dos parlamentos e dos Executivos. Se isto for verdade, é grave. Não basta a transparência.
 
O “mensalão” foi o tema mais exposto pela televisão pública – TV Justiça – e pelos veículos privados. Publicidade absoluta. Esta, contudo, não alterou a vontade do eleitor.
 
Estes assuntos – ética, transparência, meios de comunicação, julgamentos no decorrer da campanha eleitoral – precisam ser abordados em profundidade. 
 
Espera-se que as universidades e os pesquisadores acadêmicos possam, em breve, dizer o que aconteceu. Ou a sociedade é altamente politizada e não se deixa envolver. Ou então é apática.
 
A resposta, neste dia seguinte ao pleito e seus resultado, cabe a cada eleitor. Só quem depositou seu voto pode responder. O resto é mero jogo de adivinhação.
 
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