sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A serviço da treva


Mino Carta

Âncora do Jornal Nacional da Globo, William Bonner espera ser assistido por um cidadão o mais possível parecido com Homer Simpson, aquele beócio americano. Arrisco-me a crer que Pedro Bial, âncora do Big Brother, espere a audiência da classe média nativa. Ou por outra, ele apostaria desabridamente no Brasil, ao contrário do colega do JN. Se assim for, receio que não se engane.
É que a Globo procura. Achou Daniel, que tem o mérito de ser contra as cotas. Foto: Frederico Rozário/TV Globo
Houve nos últimos tempos progressos em termos de inclusão social de sorte a sugerir aos sedentos por frases feitas o surgimento de uma “nova classe média”. Não ouso aconselhar-me com meus carentes botões a respeito da validade dos critérios pelos quais alguém saído da pobreza se torna pequeno burguês. Tanto eles quanto eu sabemos que para atingir certos níveis no Brasil de hoje basta alcançar uma renda familiar de cerca de 3 mil reais, ou possuir celular e microcomputador.
Tampouco pergunto aos botões o que há de “médio” neste gênero de situações econômicas entre quem ganha salário mínimo, e até menos, e, digamos, os donos de apartamentos de mil metros quadrados de construção, e mais ainda. Poupo-os e poupo-me. Que venha a inclusão, e que se aprofunde, mas est modus in rebus. Se, de um lado, o desequilíbrio social ainda é espantoso, do outro cabe discutir o que significa exatamente figurar nesta ou naquela classe. Quer dizer, que implicações acarreta, ou deveria acarretar.
Aí está uma das peculiaridades do País, a par do egoísmo feroz da chamada elite, da ausência de um verdadeiro Estado de Bem-Estar Social etc. etc. Insisto em um tema recorrente neste espaço, o fato de que os efeitos da revolução burguesa de 1789 não transpuseram a barreira dos Pireneus e não chegaram até nós. E não chegou à percepção de consequências de outros momentos históricos também importantes. Por exemplo. Alastrou-se a crença no irremediável fracasso do dito socialismo real. Ocorre, porém, que a presença do império soviético condicionou o mundo décadas a fio, fortaleceu a esquerda ocidental e gerou mudanças profundas e benéficas, sublinho benéficas, em matéria de inclusão social. No período, muitos anéis desprenderam-se de inúmeros dedos graúdos.

A ampliação da nossa “classe média”, ou seja, a razoável multiplicação dos consumidores, é benfazeja do ponto de vista estritamente econômico, mas cultural não é, pelo menos por enquanto, ao contrário do que se deu nos países europeus e nos Estados Unidos depois da Revolução Francesa. De vários ângulos, ainda estacionamos na Idade Média e não nos faltam os castelões e os servos da gleba, e quem se julga cidadão acredita nos editoriais dos jornalões, nas invenções de Veja, no noticiário do Jornal Nacional. Ah, sim, muitos assistem aoBig Brother.
Estes não sabem da sua própria terra e dos seus patrícios, neste país de uma classe média que não está no meio e passivamente digere versões e encenações midiáticas. Desde as colunas sociais há mais de um século extintas pela imprensa do mundo contemporâneo até programas como Mulheres Ricas, da TV Bandeirantes. Ali as damas protagonistas substituíram a Coca e o Guaraná pelo champanhe Cristal. Quanto ao Big Brother, é de fonte excelente a informação de que a produção queria um “negro bem-sucedido”, crítico das cotas previstas pelas políticas de ação afirmativa contra o racismo. Submetido no ar a uma veloz sabatina no dia da estreia, Daniel Echaniz, o negro desejado, declarou-se contrário às cotas e ganhou as palmas febris dos parceiros brancos e do âncora Pedro Bial.
 A Globo, em todas as suas manifestações, condena as cotas e não hesita em estender sua oposição às telenovelas e até ao Big Brother. E não é que este Daniel, talvez negro da alma branca, é expulso do programa do nosso inefável Bial? Por não ter cumprido algum procedimento-padrão, como a emissora comunica, de fato acusado de estuprar supostamente uma colega de aventura global, como a concorrência divulga. Há quem se preocupe com a legislação que no Brasil contempla o específico tema do estupro. Convém, contudo, atentar também para outro aspecto.
A questão das cotas é coisa séria, e quem gostaria de saber mais a respeito, inteire-se com proveito dos trabalhos da GEMAA, coordenados pelo professor João Feres Jr., da Universidade do Estado do Rio de Janeiro: o site deste Grupo de Estudos oferece conteúdo sobre políticas de ação afirmativa contra o racismo. Seria lamentável se Daniel tivesse cometido o crime hediondo. Ainda assim, o programa é altamente representativo do nível cultural da velha e da nova classe média, e nem se fale dos nababos. Já a organização do nosso colega Roberto Marinho e seu Grande Irmão não são menos representativos de uma mídia a serviço da treva

Por que a empregada sumiu



O trabalho de doméstica como existe hoje vai acabar. A transição será difícil. Mas as famílias brasileiras – todas – deveriam celebrar a mudança

MARCOS CORONATO E MARCELO MOURA COM BRUNO SEGADILHA, FELIPE PONTES E NATÁLIA SPINACÉ

Algumas horas do início de 2012, a advogada paulistana Silvia Hauschild, mãe de dois filhos, se preparava para a ceia de Ano-Novo, tranquila. Ela confiava na ajuda que receberia de uma diarista, mas estava errada: sem nenhum aviso, a empregada faltou. “Tínhamos convidados para a ceia e para um churrasco no dia 1º e, de repente, fiquei na mão”, diz Silvia. O imprevisto que aconteceu com a advogada na entrada de 2012 poderia ser explicado apenas como um acidente de percurso, mas não. Ele faz parte de um quadro muito maior, que marca a entrada do mercado de trabalho brasileiro no século XXI: o sumiço das empregadas domésticas como existem hoje. A mãe da advogada, de sólida classe média, tinha empregadas em casa noite e dia. Silvia tem uma empregada que não dorme em casa e sabe que não pode contar indefinidamente com ela. Nos próximos anos, essa personagem, que já foi onipresente nas casas brasileiras de maior renda, vai simplesmente deixar de existir, ao menos da forma como a conhecemos. O fenômeno não ocorrerá de forma rápida nem será o mesmo em todas as regiões do país, mas já está em curso em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte ou Porto Alegre e é inevitável que se espalhe. Por causa dele, os lares brasileiros terão de mudar.
- (Foto: Filipe Redondo/ÉPOCA)

saiba mais
Essa mudança gigantesca está sendo movida por três fatores simultâneos: a melhor distribuição de renda regional, o crescimento da economia e a escolarização da população, que está causando uma espécie de revolução cultural. A questão regional é fácil de entender. Com o aumento de renda no Nordeste, secou a fonte de fornecimento de empregadas baratas. As meninas que antes vinham trabalhar em casas de família no Sudeste podem, agora, trabalhar com famílias de classe média de sua região ou arrumar outro tipo de emprego, sem migrar. O crescimento da economia, por sua vez, fez com que as moças que trabalham de empregada no Sudeste tenham alternativas de emprego e carreira. Podem escolher entre o trabalho doméstico e as atividades que pagam melhor ou oferecem mais horizontes. Por fim, a revolução cultural: tendo ido à escola, as jovens brasileiras simplesmente não querem mais trabalhar na casa dos outros, um fenômeno que já ocorreu em outros países. O trabalho doméstico carrega um estigma social e uma intrínseca falta de expectativas profissionais, problemas difíceis de compensar com mero aumento de salário. Quem pode escolher prefere não trabalhar na casa alheia, mesmo que seja para ganhar menos.
- (Foto: Reprodução)
A transformação demorou a chegar. O Brasil se acostumou à abundância de trabalho doméstico ao longo de quase 200 anos. Mesmo antes da abolição da escravidão, em 1888, moças de todas as raças migravam do campo para as cidades, a fim de trabalhar para famílias mais ricas, escapar da pobreza e aumentar a chance de encontrar um bom marido. Eram enredadas em relações de caráter dúbio, meio de trabalho, meio familiar, num novelo de padrinhos, madrinhas, agregados e favores. As moças recebiam normalmente abrigo e comida em troca de dar “ajuda” nos trabalhos da casa, como explica a economista Hildete Pereira de Melo, da Universidade Federal Fluminense (UFF), que há 20 anos estuda a evolução do emprego doméstico na história do Brasil. A “ajuda” virou trabalho remunerado na segunda metade do século XX. Mas esse mercado continuou dependente dos bolsões de pobreza, da desigualdade de renda entre regiões e do número de adultos sem instrução. Juntas, essas peças garantiram, até recentemente, uma oferta constante de pessoas dispostas a migrar para as capitais, morar na casa alheia e trabalhar por salários muito baixos, pequenos o bastante para caber no bolso da classe média tradicional. Mas o arranjo faz com que a economia funcione abaixo do grau de eficiência com que poderia. Uma parcela grande demais de mulheres (17% das que trabalham) se dedica ao serviço doméstico remunerado. Ele pode parecer precioso para quem conta com uma empregada eficiente e de confiança, mas produz pouco para a sociedade, não incentiva o estudo (também por causa das jornadas de trabalho imprevisíveis) e tolera a informalidade – não paga impostos nem forma poupança para a aposentadoria de quem trabalha. Trata-se de uma estrutura danosa para a economia. Nos últimos anos, ela começou a ruir.

Crenças exterminadoras



Brânquias de arraia para curar câncer e chifre de rinoceronte para 

combater ressaca são crendices asiáticas que colocam em risco a 

sobrevivência de algumas das mais belas espécies animais

André Julião
img.jpg
FÉ CEGA
Apesar de não haver comprovação científica, asiáticos retalham arraias
crentes de que as brânquias do animal reforçam o sistema imunológico
Os rinocerontes torcem para que o Vietnã adote uma rigorosa lei seca. Isso porque os moradores do país acreditam que o chifre do bicho em pó é um eficiente remédio contra a ressaca. Crenças desse tipo são responsáveis pela ameaça de extinção de diversas espécies animais e têm um novo alvo: as arraias gigantes. Na semana passada, as organizações Shark Savers e WildAid divulgaram um relatório em que alertam para o risco de duas espécies desse animal desaparecerem. A pesca foi intensificada nos últimos dez anos para a comercialização das brânquias – estruturas responsáveis pela filtragem da água – que, secas, podem valer até US$ 500 por quilo. Apesar de não haver nenhuma comprovação científica dos benefícios de ingerir essas partes, alguns asiáticos acreditam que comê-las fortalece o sistema imunológico, melhora a circulação, e trata dores de garganta, catapora, problemas de rim, câncer e ajuda até casais com problemas de fertilidade.

Curiosamente, a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) não reconhece nenhum valor farmacológico nas brânquias de arraia. “Entrevistamos praticantes e eles não conseguiram localizar nenhuma referência nos textos mais usados da medicina oriental. Alguns admitiram que esse ingrediente não tem efeito algum”, disse à ISTOÉ Michael Skoletsky, diretor-executivo da Shark Savers. A explicação para a demanda maior pode estar numa tática comum em qualquer mercado. “Todo consumidor sabe que a efetividade do marketing pode superar a do produto”, diz Skoletsky. Ele acredita que falsas afirmações de que a ingestão das brânquias fortalece o sistema imunológico uniram-se ao temor por epidemias, como as gripes suína e aviária. O resultado foi o surgimento de uma “necessidade” pelo produto.

Animais de diversas partes do mundo estão à beira da extinção por conta da crença de cura dos asiáticos. Entre eles estão os tigres-de-bengala, que têm seus ossos e testículos reduzidos a pó. Ursos são mantidos em cativeiro para a retirada da bile, líquido produzido pelo fígado, que, alguns asiáticos acreditam, teria o poder de curar uma série de doenças. E os chifres de rinoceronte, além de considerados suvenires caros, são usados como se fossem capazes de dar fim a males que vão da ressaca ao câncer. Essa parte do animal é composta de queratina, mesmo elemento que compõe cabelos e unhas – ou seja, não traz nenhum benefício à saúde. A crescente demanda fez com que 2011 tenha sido o ano com o recorde de matança de rinocerontes na África do Sul – 448. Em 2007, foram 13. “Certamente, o aumento da riqueza no Vietnã e na China tem um papel importante nesse quadro”, disse à ISTOÉ Richard Thomas, porta-voz da organização Traffic, que monitora o mercado de animais selvagens. É mais um exemplo de que inteligência e bom-senso são duas coisas que o dinheiro ainda não consegue comprar.
img1.jpg

Crenças exterminadoras



Brânquias de arraia para curar câncer e chifre de rinoceronte para 

combater ressaca são crendices asiáticas que colocam em risco a 

sobrevivência de algumas das mais belas espécies animais

André Julião
img.jpg
FÉ CEGA
Apesar de não haver comprovação científica, asiáticos retalham arraias
crentes de que as brânquias do animal reforçam o sistema imunológico
Os rinocerontes torcem para que o Vietnã adote uma rigorosa lei seca. Isso porque os moradores do país acreditam que o chifre do bicho em pó é um eficiente remédio contra a ressaca. Crenças desse tipo são responsáveis pela ameaça de extinção de diversas espécies animais e têm um novo alvo: as arraias gigantes. Na semana passada, as organizações Shark Savers e WildAid divulgaram um relatório em que alertam para o risco de duas espécies desse animal desaparecerem. A pesca foi intensificada nos últimos dez anos para a comercialização das brânquias – estruturas responsáveis pela filtragem da água – que, secas, podem valer até US$ 500 por quilo. Apesar de não haver nenhuma comprovação científica dos benefícios de ingerir essas partes, alguns asiáticos acreditam que comê-las fortalece o sistema imunológico, melhora a circulação, e trata dores de garganta, catapora, problemas de rim, câncer e ajuda até casais com problemas de fertilidade.

Curiosamente, a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) não reconhece nenhum valor farmacológico nas brânquias de arraia. “Entrevistamos praticantes e eles não conseguiram localizar nenhuma referência nos textos mais usados da medicina oriental. Alguns admitiram que esse ingrediente não tem efeito algum”, disse à ISTOÉ Michael Skoletsky, diretor-executivo da Shark Savers. A explicação para a demanda maior pode estar numa tática comum em qualquer mercado. “Todo consumidor sabe que a efetividade do marketing pode superar a do produto”, diz Skoletsky. Ele acredita que falsas afirmações de que a ingestão das brânquias fortalece o sistema imunológico uniram-se ao temor por epidemias, como as gripes suína e aviária. O resultado foi o surgimento de uma “necessidade” pelo produto.

Animais de diversas partes do mundo estão à beira da extinção por conta da crença de cura dos asiáticos. Entre eles estão os tigres-de-bengala, que têm seus ossos e testículos reduzidos a pó. Ursos são mantidos em cativeiro para a retirada da bile, líquido produzido pelo fígado, que, alguns asiáticos acreditam, teria o poder de curar uma série de doenças. E os chifres de rinoceronte, além de considerados suvenires caros, são usados como se fossem capazes de dar fim a males que vão da ressaca ao câncer. Essa parte do animal é composta de queratina, mesmo elemento que compõe cabelos e unhas – ou seja, não traz nenhum benefício à saúde. A crescente demanda fez com que 2011 tenha sido o ano com o recorde de matança de rinocerontes na África do Sul – 448. Em 2007, foram 13. “Certamente, o aumento da riqueza no Vietnã e na China tem um papel importante nesse quadro”, disse à ISTOÉ Richard Thomas, porta-voz da organização Traffic, que monitora o mercado de animais selvagens. É mais um exemplo de que inteligência e bom-senso são duas coisas que o dinheiro ainda não consegue comprar.
img1.jpg

Mais um golpe contra o câncer



Na esteira do sucesso de terapias individualizadas, duas novas 

drogas chegam ao País para mudar a forma de controlar tumores

Monique Oliveira
chamada.jpg
O Brasil entrou em 2012 com boas notícias na luta contra o câncer. Este ano o País começa a usar dois novos medicamentos que prometem melhorar muito a qualidade de vida dos doentes. Um deles é o vemurafenibe, contra o melanoma (tipo mais agressivo de câncer de pele). O outro é o crizotinibe, que combate o câncer de pulmão, apontado como a principal causa da morte entre homens no mundo. “São medicamentos que irão realmente mudar o paradigma do tratamento do câncer”, diz o pesquisador Carlos Gil, coordenador de pesquisa clínica do Instituto Nacional do Câncer (Inca). “Ao contrário de outros remédios, essas substâncias foram feitas a partir de testes que identificaram a mutação genética específica associada ao problema”, diz. “Elas combatem essa alteração. Não é um tiro no escuro”, explica. 

Os medicamentos já estão em uso nos Estados Unidos. E os resultados são impressionantes. Um estudo feito em 30 países com a participação de 160 centros de pesquisa comparou o impacto do tratamento quimioterápico do melanoma ao desempenho obtido com o uso do vemurafenibe em pacientes que nunca tinham experimentado nenhum outro tipo de terapia. O vemurafenibe reduziu o tamanho do tumor, em média, em 48,4%. Bem mais do que a diminuição de 5,5% obtida com a quimioterapia. Outro fato relevante e que tem chamado a atenção da comunidade médica é o tumor ter desaparecido por completo em pelo menos seis dos 675 voluntários do estudo. É essencial, porém, fazer duas ponderações. A primeira é que o novo remédio produz efeitos apenas nos pacientes que possuem uma determinada mutação, a V600E, localizada no gene BRAF. Estima-se que metade das pessoas com melanoma tenha essa mutação. “O remédio é uma esperança dentre outras que estão para se tornar realidade”, diz Antonio Carlos Buzaid, chefe-geral do centro de oncologia do Hospital São José, do grupo Beneficência Portuguesa, em São Paulo. Além disso, ainda que o tumor tenha desaparecido, os oncologistas só falam em cura cinco anos após o final do tratamento, quando têm certeza de que a doença não voltou. A nova droga contra o melanoma foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na última semana de dezembro.
img.jpg
LUTA
Em maio de 2010, o vendedor paulistano Rodrigo Pasquinelli, 29 anos,
descobriu que tinha um melanoma. Após fazer um
exame específico para saber se possuía a mutação do gene BRAF,
ele começou a usar um dos medicamentos em teste.

“A droga eliminou minha dor no braço e diminuiu o tumor.”
O outro remédio, o crizotinibe, com­bate uma mutação do gene ALK que está relacionada ao câncer de pulmão. O tumor associado a essa alteração genética atinge 3% a 5% dos pacientes e afeta, em geral, não fumantes. Dentre esse reduzido grupo, só 15% respondiam ao tratamento padrão com quimioterapia. Com a nova droga, 64% dos pacientes tiveram redução no tamanho do tumor. O medicamento também conteve o avanço da doença em 90% deles. Esses resultados levaram o FDA, órgão americano responsável pela liberação de remédios, a aprovar o remédio ainda na fase II do estudo (em que se avalia a eficácia, sem comparar a droga a outras alternativas de tratamento). No Brasil, nove cidades realizam testes para avaliar a eficácia e segurança do crizotinibe em um número maior de pacientes (fase III). É uma exigência da Anvisa para aprovar o uso do medicamento no País.

A nova opção terapêutica não representa a cura do câncer de pulmão. “Ainda teremos de mapear muitas mutações que podem ocorrer de forma simultânea nos tumores”, disse à ISTOÉ Ross Camidge, diretor do programa de câncer de pulmão do Hospital Universitário da Universidade de Colorado, nos Estados Unidos. “Não chegamos à cura, mas encontramos uma maneira de melhorar a qualidade de vida desses pacientes, sem tantos efeitos colaterais.”
img1.jpg
ARMAS 
O médico Buzaid comemora a chegada de mais uma opção
A partir dos anos 1970, quando a ciência declarou guerra ao câncer, já se sabia que a batalha seria dura. Desde então, houve vitórias importantes. Entre elas, a descoberta de que os tumores estão ligados a mutações genéticas específicas. Com o Projeto Genoma, foi possível desenvolver exames de alta precisão capazes de prever quais mutações ocorrem no nosso DNA para que as células se multipliquem de forma desordenada, gerando tumores. Foi com base nessa descoberta que os cientistas chegaram a esses dois novos remédios.
g.jpg
g1.jpg