sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

É um conforto poder ser tutelado


                                             *José Luiz Tejon Megido

Não gosto de escrever na primeira pessoa, mas preciso. Primeiro porque no momento vale minha experiência de vida, não que ela seja o máximo e deva ser seguida, mas é minha.

Durante esse tempo percebi que as pessoas que foram tuteladas por outra ou por uma espécie de governo, tendem a se acostumarem nessa zona de conforto.

É um conforto poder ser tutelado, como o índio por exemplo. Nós os vemos como crianças e dedicamos uma atenção diferente, não os tratamos como iguais, mas como tutelados. Os índios têm direito à terra, a manter seus costumes, andarem pelados, como se estivessem entre o animal irracional e o homem. Esta é a visão do tutor. O tutor se beneficia disto.

Muitas pessoas acreditam piamente que o Governo deve dar a elas condição de vida digna, bons hospitais, boas escolas, transporte de primeira, enfim, como num filme americano da década de 50 e 60, com seus bairros de casas sem cerca e papais “sabe tudo”. E essa é a visão que o tutor quer que elas tenham, que elas jamais entendam que eles estão lá para fazerem isso porque lá foram colocados. Não fazem mais que a obrigação.

O tutelado mor é aquele que não se vê dentro de uma realidade, mas se vê na realidade aparente, se deixa hipnotizar pelas aparências e não vai fundo em nada, dentro de sua ótica o dever de fazer é de terceiros. O tutelado é aquele que estaciona seu carro em vaga de deficiente, porque é só por um instante, mas chega as vias de fato quando alguém estaciona na frente de sua garagem.   O tutor promete sempre que dele cuidará, e ele não se cuida. Há quem faça isso por ele. O tutelado não sabe dividir tarefas em sociedade, a função dele é a de desfrutar. O tutelado se espelha no tutor com tal sanha que o imita. O tutor adora, manipula, manobra a herança. O tutelado não distingue governos municipais dos estaduais e do federal. O tutelado responsabiliza o que não se parece com ele. Se o problema é o lixo da rua, ele culpa o Presidente da República, ou “esse povo”, como se ele não fosse desse povo. O tutelado é um ser criado pelo tutor. Para o bel prazer de tutelar.

Não conheço um só homem de sucesso, que seja exemplo de vida, que possa ser admirado por todos, que tenha sido tutelado.

Todos meus ídolos foram forjados na luta.

Não suporto ver alguém reclamar de uma situação e não perceber nela uma solução, uma atitude. A vida tem feito me distanciar delas. O tutelado não tem senso crítico, é um crítico mordaz, incapaz de julgar com leveza e discernimento. Sempre é parcial. Mesmo diante do sucesso de alguém, ele vê surgir em seus pensamentos e palavras o escárnio.

Aquele que foi forjado na luta segue em frente. Indiferente e ideologicamente determinado.
Estou cansado de ver índio pedindo terra, andando pintado diante das câmeras e depois usando relógio à prova d’água e calça jeans. Estou cansado de americano bonzinho, tutelado por brancos imbecis, sendo conduzidos para a guerra, morrendo inertes sem noção do fato que os levou à luta. Viva Mohamed Ali.

Estou cansado de grileiros, aqui ou no Paraguai, passando por vitimas, dando a mais cretina desculpa de que geram empregos e pagam impostos. Como se a prioridade fosse o Estado e não o povo. Como se pagar imposto fosse o máximo e não obrigação. Viva Fidel.

Estou cansado de ver meu povo evoluindo e tendo acesso a educação e a um eletrodoméstico melhor, à casa própria e alguém sempre querendo que um governante dê soluções para 502 anos de tutela política e desmandos, em apenas quatro anos, ou oito, sendo que o que mais temem é a saída da zona de conforto, é que seja mostrada a todos a covardia inata destes marionetes. Os tutores estão pouco a pouco caindo. Meu País está mais justo. E está assim graças a um descriminado, a um “Zé Ninguém” que saiu das fábricas dos tutores, que se determinou. Viva Lula.

Meu País está melhor graças à mulher torturada, na ditadura deste País ou na ditadura de costumes de uma sociedade machista.

Viva Dilma.

Viva Paulo Freire, viva João Carlos Martins, viva Gilberto Gil e tantos outros.

Mas, viva principalmente aquele que se emancipou e partiu para os prazeres da dor de lutar e perder, lutar e perder...até vencer. Vencer como ser humano. Quebrar os grilhões da tutela.
Dedico essa crônica a José Luiz Tejon Megido, o homem que veio do fogo.

Por Airton Baptista.  
   
*José Luiz Tejon é escritor e palestrante. Homem de rara fibra. Um brasileiro. 

Por que é tão mais barato?



Os produtos nos Estados Unidos custam até três vezes menos do 

que no Brasil. A combinação de dólar barato, imposto alto e 

custos elevados leva o consumidor brasileiro a torrar bilhões no 

Exterior em vez de gastar aqui e impulsionar a economia nacional

Renata Agostini, de Nova York, Adriana Nicacio e João Loes
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NA TIMES SQUARE
Marco Coutinho e a família em Nova York: giro por oito
cidades americanas e mala cheia na volta ao Brasil
O empresário Ivan Carlos Zanchi, 38 anos, e a dentista Vanessa Zanchi, 34, estão juntos há 17 anos. Mas somente no ano passado fizeram a primeira viagem internacional em família. Com o dólar barato, escolheram os Estados Unidos como destino. Em novembro, levaram a filha Laura, 12 anos, para conhecer os parques da Disney, em Orlando. Ivan esticou a viagem sozinho por conta do trabalho e de um curso de inglês. Em janeiro, Vanessa foi encontrá-lo para mais uns dias de férias em Nova York. O casal havia reservado R$ 12 mil para as compras da viagem. Com os preços tão mais em conta nos EUA, estouraram o orçamento: gastaram cerca de R$ 30 mil. Nas malas, perfumes, roupas, relógios, bolsas, brinquedos, artigos para casa, dois notebooks, um iPad e três iPhones 4S. “Quando você chega e vê aquele mar de ofertas percebe que é hora de aproveitar. Até compra coisas que não precisa mesmo”, admite Ivan. “Mas o tempo todo vem a lembrança de como o Brasil está caro.”

Qualquer brasileiro que desembarca nos EUA se impressiona com a diferença de preços. O mesmo item no Brasil custa duas, três vezes mais do que nas lojas de Nova York, Miami ou Los Angeles. O abismo é tão grande que, em algumas ocasiões, vale a pena ir até os EUA comprá-lo. Um dos modelos de sapato masculino da Salvatore Ferragamo, por exemplo, custa no Shopping Iguatemi, em São Paulo, R$ 2.990. Com esse dinheiro, é possível adquirir uma passagem para Miami e ainda trazer o calçado. Isso explica por que os brasileiros despejaram US$ 21,2 bilhões em compras no Exterior no ano passado, quase o triplo do gasto de 2007. Estima-se que 60 mil toneladas de roupas, acessórios e calçados entraram em solo nacional nas malas dos turistas. A questão de fundo é: por que é tudo tão caro no Brasil? Mais: o que é preciso fazer para que esse dinheiro seja gasto no País, movimente a economia nacional e gere empregos no comércio?
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TUDO DE FORA
Raphael Pazos viaja uma vez por ano para os EUA. Lá, comprou o
enxoval da filha e uma bicicleta, além de eletrônicos e roupas
A resposta não é simples, há um conjunto de fatores envolvidos. “A principal influência, sem dúvida, é a taxa de câmbio”, diz Túlio Maciel, chefe do departamento econômico do Banco Central. Mas não é a única explicação. Especialistas ouvidos por ISTOÉ listam outras cinco causas para os preços elevados no Brasil: impostos, logística, custo administrativo, volume de vendas e margem de lucro do varejista. São questões que o País precisa enfrentar sob pena de ver a classe média transferir de vez suas compras para os Estados Unidos, que, atolados pela crise financeira, estão de portas abertas e tapete vermelho estendido para os brazucas. 

Lá, o consumidor brasileiro é fenômeno novo, mas crescente. A uma curta distância da Times Square, está localizada a única loja da Asics no país. Líder em vendas de tênis de corrida nos EUA, a marca comercializa seus produtos em grandes lojas de departamentos ou redes de itens esportivos. Mesmo um pouco afastada do centro nervoso das compras, é um termômetro do apetite nacional pelas pechinchas americanas e da importância desse mercado consumidor. Na época das férias de fim de ano, por exemplo, os brasileiros representam até 70% das vendas. “Ao contrário de nossos outros clientes, eles nunca compram apenas um tênis”, diz Karim Eldib, gerente da loja. “Chegam com uma lista que, geralmente, inclui pares para eles e para familiares e amigos.” Com o objetivo de atender essa clientela, quatro dos 12 funcionários estão tendo aulas de português e nas paredes há bilhetes com o significado em inglês de palavras como “grande”, “pequeno”, “número” e “errado”, além de um dicionário inglês-português estar sempre à disposição. “Esse público é uma novidade e as empresas na cidade estão pensando agora em como explorá-lo”, diz Tiffany Towsend, vice-presidente da NYC and Company, empresa de turismo municipal. A Macy’s, gigante das lojas de departamentos e adorada pelos brasileiros, vai promover o País por dois meses a partir de 16 de maio.

Quem viaja com frequência aos EUA se acostuma até com a garantia dada aos produtos. O administrador Raphael Pazos, 37 anos, vai uma vez por ano para alguma cidade americana. Nas viagens, já comprou de bicicleta a terno, passando pelo enxoval da filha recém-nascida. Uma câmera fotográfica adquirida em 2010 deu um pequeno problema. Ele a levou na viagem do ano passado e, mesmo sem nota fiscal, recebeu crédito equivalente ao valor do produto para gastar onde tinha comprado a máquina. “Eles não pediram nota, não me perguntaram nada. Pediram desculpas, me deram o vale e estava tudo resolvido”, conta Pazos. “Se fosse aqui no Rio de Janeiro, ia ser uma dor de cabeça.”

No Brasil, além de não ser tratado com a mesma deferência, o consumidor só tem como opção os preços altos. Os impostos estão no cerne da questão. “Os tributos aqui são muito mais elevados do que nos EUA e são repassados até chegar ao consumidor final, que não tem para quem repassar”, diz João Eloi, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). No ano passado, o total de tributos cobrados no País alcançou o recorde de 35,1% do PIB. A carga de impostos em um tênis importado, por exemplo, chega a 60%. Em um aparelho celular, 40%. “A diferença é grande em tudo, mas em eletrônicos é brutal”, diz o empresário Marco Coutinho que fez um périplo por oito cidades americanas com a mulher e as duas enteadas. Na bagagem, dois iPhones 4S, um iPod e um iPad, além de roupas, perfumes, relógios, bolsas e itens de maquiagem. “Dá para comprar cinco vestidos nos EUA pelo preço de um no Brasil”, compara a pediatra Gláucia Rodrigues, mulher de Marco. Mais de um terço dos gastos da família na viagem foi com compras.

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BÊ-Á-BÁ
Karim Eldib, gerente da Asics em Nova York: funcionários aprendem
português para atender brasileiros, que chegam a ser 70% dos clientes
A logística é outro fator que encarece os produtos em solo nacional. Pagam-se R$ 9 mil para transportar um contêiner, com capacidade de 25 mil quilos, do porto de Paranaguá (PR) para o Rio de Janeiro. Dos EUA para o Brasil, esse valor não chega a R$ 3 mil. Em termos globais, o País gasta 34% a mais com frete do que os Estados Unidos, além de ter um sistema alfandegário mais burocrático e ineficiente. No ano passado, os gastos com logística alcançaram 11% do PIB brasileiro. 

Características do mercado varejista nacional atual também contribuem para encarecer o produto final. O volume comercializado por ponto de venda é pequeno, se comparado ao gigante americano. Isso faz com que os custos unitários de administração desses itens sejam mais altos. Além disso, grifes boas buscam localização valorizada, o que custa caro. “Falam dos royalties das marcas, mas é uma merreca. A verdade é que manter uma loja no Brasil é muito caro”, diz o advogado Eduardo Machado, especialista em propriedade intelectual e que tem grandes shoppings centers como clientes. Em São Paulo, as luvas de uma loja de 40 m2 em um shopping custam entre R$ 400 mil e R$ 1 milhão. Por fim, tem a margem de lucro do varejista. Com a demanda interna aquecida, ele se sente à vontade para colocar os preços lá em cima. 

Para reverter esse quadro, é preciso retomar a competitividade brasileira e reduzir os tributos. “Estamos desalinhados com o mundo e desindustrializados, com juros e impostos altos e custos logísticos e de mão de obra nas alturas”, avalia Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção (Abit). “Só uma indústria brasileira forte derrubará os preços dos importados”, diz Carlos Thadeu de Freitas, ex-presidente do BC e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio. “Hoje o brasileiro viaja para comprar. Essa é a regra e nada vai mudar a curto prazo. Por isso é preciso simplificar os impostos.”
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ALÉM DO ORÇAMENTO
Ivan e Vanessa Zanchi gastaram R$ 30 mil em compras
na temporada de férias, trabalho e estudos nos EUA
Enquanto os governos e o Legislativo não acordam para essa realidade, cada vez mais brasileiros farão as malas para ir às compras – que hoje incluem todo tipo de artefato. A carioca Fátima Bahia, dona de uma clínica de estética, já foi cerca de 40 vezes para os EUA, onde adquiriu 90% de suas roupas. Na próxima viagem, marcada para abril, além dos usuais cremes, xampus, suplementos vitamínicos, bolsas e sapatos, ela planeja trazer um par de ventiladores de teto para sua casa. Em Nova York, Fátima contrata os serviços da VIP Driver, empresa especializada em levar os turistas brasileiros aos outlets e shoppings da região. Assim, encontrou bolsas Fendi por metade do preço e sapatos Christian Louboutin por R$ 1,4 mil, uma pechincha se comparados aos R$ 4,5 mil cobrados aqui. “Me acostumei a ponto de praticamente não comprar no Brasil”, diz a empresária, que certa vez voltou dos EUA com seis malas de 32 quilos cada uma. Sorte de Sérgio Castro, dono da VIP Driver, cuja lista de clientes só faz crescer. “O brasileiro vem com mala e quer voltar com contêiner”, resume ele.

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Voo desastroso



Uso de material inadequado e um cabo frágil com sinais de

desgaste que sustentava os atores Danielle Winits e Thiago

Fragoso sobre a plateia foram a provável causa do acidente

durante musical

Michel Alecrim e Wilson Aquino
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CHOQUE
Com a boca bastante inchada, Danielle Winits prestou depoimento na
quarta-feira 1º. Sobre o colega Thiago Fragoso, disse ter sido “um herói”
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Atrás de praticamente todo desastre tem uma soma de culpados. A queda livre dos atores Danielle Winits e Thiago Fragoso sobre a plateia do musical “Xanadu”, que atingiu três espectadoras, no teatro carioca Oi Casagrande, no sábado 28, confirma a regra. Desobediência à lei, erro no cálculo, negligência e uso de material inadequado são os motivos mais prováveis para explicar por que os quatro cabos que sustentavam os dois atores no ar se romperam enquanto eles simulavam um voo durante o espetáculo. Romper um cabo pode até ser considerado normal. Mas quatro ao mesmo tempo e no mesmo lugar? De imediato, se cogitou a possibilidade de sabotagem, já afastada das investigações policiais. A perícia levará duas semanas para apresentar o laudo definitivo. Porém, especialistas que analisam as circunstâncias, levando em conta os dados técnicos, concluem que não há mistérios para o acidente que deixou cinco feridos. “A causa principal foi a falta de um cabo de segurança complementar”, afirmou o vice-presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio (Crea-RJ), Jacques Sherique, explicando que esse cabo, normalmente preso às costas dos atores, garantiria que eles não caíssem em caso de falha do sistema. “Isso é obrigatório em todas as montagens, seja na Broadway, seja no Cirque du Soleil ou em qualquer outro lugar” afirmou.

Mas a questão nuclear é por que houve o rompimento dos cabos. Fontes da polícia ouvidas por ISTOÉ disseram que eles apresentavam sinais de desgaste e não eram adequados para a carga de peso por serem fabricados com fibra de carbono. A empresa responsável pela montagem do equipamento, a paulista SET Cavalheiro FX, ratificou que esse era o produto sintético usado na fabricação, mas argumentou que a tecnologia, de uma fabricante inglesa, seria cinco vezes mais resistente do que os cabos de aço usuais, suportando 500 quilos cada um. O especialista Sherique contesta. “Na engenharia mecânica, se atribui um coeficiente de segurança cinco vezes maior que o peso a ser deslocado para compensar os possíveis solavancos, que são o esforço adicional do cabo. Portanto, cada um deveria ter a resistência mínima de mil quilos.” Para chegar a esse número, ele somou os pesos de Danielle (em torno de 60 quilos) e Fragoso (cerca de 90 quilos) mais os acessórios que eles usavam, concluindo que a carga suspensa era de 200 quilos. Segundo o professor de física Ângelo de Araújo, os corpos em queda livre levaram um segundo para cair sobre a plateia numa alta velocidade de impacto, em torno de 36 km/h. “O choque da pancada é equivalente a um peso de uma tonelada e meia.”
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INSEGURANÇA 
Se houvesse um cabo de segurança preso às costas dos
atores, não teria havido a queda, dizem especialistas
Foi esse peso todo que desabou sobre a plateia e atingiu três senhoras que estavam sentadas na sétima fileira, a G, nas cadeiras pares 8, 10 e 12. Pelas descrições, os atores não caíram em cima das pessoas, eles teriam atingido as espectadoras, mas seus corpos foram arremessados no corredor que separa as fileiras. O ferimento mais grave se deu com a aposentada Marina Silva Beckman, 73 anos, que fraturou a terceira vértebra cervical e ficou internada até a quinta-feira 2. A amiga Helena Maria Sampaio Maciel, também de 73 anos, teve uma lesão na perna direita. “Foi tudo muito rápido. A Marina, ao meu lado, gritou que algo muito pesado caíra em seu pescoço. Quando olhei, era o Thiago. Ele estava imóvel no chão. E a Danielle, gritando de dor”, diz Helena. O caso mais grave é o do ator, que fraturou cinco costelas e teve o diafragma perfurado. Em cirurgia que demorou cinco horas, na quarta-feira 1º, foram retirados fragmentos de ossos alojados no pulmão. Fragoso continuava internado até a sexta-feira 3, sem previsão de alta.

Danielle, que caiu sobre Thiago, sofreu um corte no lábio inferior e ainda tem dificuldade para falar. Ainda assim, prestou depoimento à Polícia Civil na quarta-feira 1º. Através do Twitter, a atriz disse que está acompanhando a recuperação do colega e que ele foi um herói. Antes, na segunda-feira 30, chegou a declarar, sobre o momento do acidente: “Ouvi um pequeno estalo, a princípio num dos fios. Depois ouvi a corda de novo, como se estivesse desfiando.” O diretor do espetáculo, Miguel Falabella, disse estar estupefato. “Contratei uma empresa que era a melhor do ramo. Não ia expor meus colegas a um risco. Já cortei essa cena, não terá mais voo.” O espetáculo está previsto para voltar a ser apresentado na quinta-feira 9, com Danielle e o ator substituto Danilo Timm.
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"A Marina, ao meu lado, gritou que algo muito pesado
caíra em seu pescoço. Quando olhei, era o Thiago"
Helena Maria Sampaio Maciel, que teve uma lesão na perna
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TRANSTORNO
As sessões foram canceladas desde o acidente e estavam
previstas para retomar no dia 9, sem o casal principal de atores
O acidente ocorreu num dos pontos altos do espetáculo: Sonny, personagem de Fragoso, e Kira, papel de Danielle, sobrevoam o céu, apaixonados, ao som de uma música romântica. “Foi tudo de repente. Ouvi um estalo. Vi o cabo se rompendo e os dois despencando”, contou a atriz Gottsha Gottlieb, que cantava no palco na hora da queda. “Minha preocupação era saber como os dois estavam. Quando ouvi o Thiago gritar um palavrão, notei que ele estava vivo. Mas a Danielle ficou em silêncio”, disse ela. O referido palavrão foi ouvido também pela psicóloga Lúcia Carvalho, que estava na fila M: “Ele gritou ‘puta que pariu’.” O musical “Xanadu” é inspirado no filme homônimo de 1980, com Olivia Newton John no papel principal. Estreou na Broadway em 2007, onde teve cerca de 500 apresentações. Sem incidentes e sem a cena do voo.
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Os psicopatas corporativos



Ambiciosos e egoístas, fazem tudo para crescer nas empresas, 

gerando consequências como assédio moral e até desfalques

Débora Rubin
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PERIGO 
Cerca de 10% da população adulta que trabalha apresentam traços de psicopatia
Num dado momento de sua vida, a radialista carioca Elisa Silva, 22 anos, chegou a achar que o normal era ter chefe louco. Afinal, logo nos primeiros empregos, ela teve experiências traumatizantes. O primeiro superior, um tipo elogiado pelo “sangue-frio” e por ter feito o corte necessário de pessoal que a rádio precisava, recusava sistematicamente suas ideias. Quando Elisa não conseguia cumprir determinada tarefa, ele questionava se ela queria ser demitida. O segundo era mais incisivo. Craque em fazer piadinhas de cunho sexual, perguntou-lhe certa vez: “Por que você não vem de minissaia para conquistar seus colegas?” A radialista reclamou à diretoria e o chefe tomou uma advertência, mas continua até hoje no emprego por ser amigo do patrão. Quem saiu foi Elisa, que, antes de desistir da profissão, finalmente arranjou um trabalho livre de psicopatas.

Se você nunca viveu uma situação semelhante às de Elisa, certamente conhece alguém que já passou por isso. Estima-se que 1% da população adulta que trabalha é formada pelos chamados psicopatas corporativos, profissionais que não medem esforços para crescer e são capazes de ferir psicologicamente (quando não fisicamente) colegas de trabalho para conseguir o que almejam. Um estudo feito pelos pesquisadores americanos Paul Babiak e Robert Hare, dois experts no tema, afirma que cerca de 10% da população apresenta traços de psicopatia suficientes para ter impacto negativo em seus companheiros. Como o psicopata social, que se deleita com o sofrimento de suas vítimas, o corporativo não é louco, mas é essencialmente mau. “Ele está ciente dos efeitos que seu comportamento tem nas pessoas ao seu redor, mas simplesmente não se importa”, diz o psicólogo australiano John Clarke, autor do livro “Trabalhando com Monstros – Como Identificar Psicopatas no Trabalho e se Proteger Deles” (Editora Fundamento).
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OMISSÃO
Segundo o coach Robson Castro, muitas empresas fecham os olhos para esses tiranos
Segundo Clarke, não é tão simples assim identificá-los de imediato. Isso porque eles são muito hábeis em conquistar e manipular colegas e chefes. “Ele faz o outro pensar que é muito eficiente, mas é craque em responder sem responder e passar, de forma inteligente, as tarefas para os outros”, complementa a psicóloga Marisa de Abreu. As consequências nas vítimas vão desde o desânimo de ir trabalhar até casos mais sérios, como a síndrome do pânico e a depressão. Para as corporações, o psicopata pode gerar desfalques milionários.

As empresas, embora cientes de tais profissionais e preocupadas com os casos de assédio moral e bullying, ainda são campos férteis para os psicopatas. De acordo com o coach Robson Castro, diretor da Agnis Recursos Humanos, isso acontece porque muitas caem na tentação de incentivar qualquer comportamento para atingir seu fim maior: o lucro. Outra razão apontada por Castro é o fato de as corporações não comunicarem a razão da saída do profissional psicopata para não manchar sua imagem, facilitando, assim, sua reinserção no mercado. Por fim, muitos ainda querem contratar o que o coach chama de “high-potentials”, donos de currículos impecáveis, formados nas melhores universidades e com promessas de uma carreira meteórica. “As que buscam os profissionais perfeitos devem ter cuidado redobrado para não ter um batalhão de psicopatas corporativos roendo as paredes da organização”, aconselha. Evitar a contratação do psicopata do trabalho é, no final das contas, a forma mais eficiente de evitá-lo.
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