segunda-feira, 2 de abril de 2012

O céu era o limite para a quadrilha, diz senador


Uma semana após encaminhar uma representação ao Conselho de Ética do Senado para investigar Demóstenes Torres (DEM-GO) por quebra de decoro parlamentar, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) afirmou nesta segunda-feira que apenas uma CPI será suficiente para analisar o alcance dos tentáculos da rede criminosa supostamente montada pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira.
O senador Radolfe Rodrigues (à dir.), ao lado do presidente do PSOL, Ivan Valente. Foto: Agência Brasil
Em entrevista a CartaCapital, Randolfe  disse ter lido as novas revelações sobre o esquema divulgadas no fim de semana – entreos quais a reportagem de Leandro Fortes que mostra interferência de Cachoeira no primeiro escalão do governo Marconi Perillo, em Goiás – e concluído que Demóstenes era apenas “um dos muitos personagens dessa novela”.
“É uma coisa que necessita de investigação. Era um esquema suprapartidário, com relações por todos os lados”, disse.
Ao ser questionado sobre as ligações do bicheiro com jornalistas em Brasília, o senador afirmou: “Ele (Cachoeira) montou uma rede de conluio e conspiração entre vários partidos, e misturou a coisa pública e privada.”
Em conversas interceptadas pela Polícia Federal, Cachoeira se gabava de ter sido fonte de “todos os furos” dados pelo diretor da sucursal da Veja em Brasília, Policarpo Jr (leia maisAQUI).
“A contravenção do jogo era apenas mais uma das ações criminosas, pelo que está sendo revelado pelas revistas do final de semana. O próximo negócio seria fraudar licitações públicas na Copa do Mundo. Pelo que estou vendo, só o céu era o limite.”
Sobre a situação do colega do DEM, que já admitiu estar “morto politicamente”, Randolfe comentou: “Está consolidada uma derrota para o País. A figura do senador inspirava a todos do Senado, independentemente do lado político. É uma derrota quando alguém é cooptado para o outro lado, e da pior forma.”
Além da representação no Conselho de Ética do Senado, Demóstenes, que pode anunciar sua saída do DEM ainda nesta semana – ele já deixou a liderança do partido na Casa – é alvo também de um pedido de abertura de inquérito apresentado pela Procuradoria Geral da República ao Supremo Tribunal Federal.

‘Quem não deve não teme’


“Corra às bancas para adquirir a CartaCapital. Mas não em Goiás, de onde sumiu… Tem matéria que expõe relações suspeitas do governador Marconi”.
O alerta é do deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ). Foi distribuído a seus 22,5 mil seguidores no Twitter após saber que a edição número 691 da revista havia supostamente desaparecido das bancas no estado (Leia mais AQUI). A reportagem de capa, assinada por Leandro Fortes, mostra como o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, influenciava a montagem do governo Marconi Perillo (PSDB) em Goiás.
Com medo de quê?

Anunciado por leitores, o suposto boicote lembra uma prática comum na Bahia dos tempos de Antonio Carlos Magalhães – ou em lugares onde edições de jornais e revistas desapareciam conforme contrariavam os interesses dos mandatários locais. Como os tempos são outros,CartaCapitaldisponibiliza a íntegra da reportagem em seu site (leia clicando AQUI), para que nem em Goiás nem no Japão os leitores sejam privados da informação.
A reação na internet à notícia foi quase imediata.
“Sumir com revista de bancas de jornais, por matéria que incomoda –aconteceu hoje em Goiás com a CartaCapital – é ação fascista”, prossegue o deputado.
O deputado integra a Frente de Combate à Corrupção – grupo de parlamentares que pede informações e documentos sobre o possível envolvimento de deputados federais nas ações investigadas pela Operação Monte Carlo, da Polícia Federal.
O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) disse a CartaCapital que também foi procurador no fim de semana por leitores se queixando do suposto sumiço das revistas.
Segundo ele, se o boicote for confirmado, será a prova de que “quem deve teme”. “Esse filme eu já assisti no Amapá: de vez em quando, sai uma matéria em publicação nacional, e os áulicos assessores que eram atingidom providenciavam a aquisição.”
Para o senador, a medida é antiga e “burra”. “Com a internet livre, só conseguiram despertar ainda mais interesse na matéria. Eu mesmo acabo de dar uma entrevista para uma rádio de Goiás.”
Pouco antes, em seu  Twitter, Ranfolfe escreveu: “Atenção povo de Goiás: estou com a revista@cartacapital nas mãos… Entendi porque os “homi” mandaram tirar das bancas ontem…”
Randolfe é um dos autores do pedido de investigação sobre o colega Demóstenes Torres (DEM-GO) – que, segundo o senador do Amapá, tem relacionamentos “amplos, gerais e irrestritos” com os a suposta quadrilha.
O PSOL apresentou na quarta-feira 28 uma representação no Conselho de Ética do Senado contra Demóstenes. No dia seguinte, na Câmara, o PSOL assinou um ofício solicitando ao presidente da Casa, deputado Marco Maia (PT-RS), que pedisse ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, todas as informações referentes às investigações.
Ciro Gomes, ex-ministro da Integração Nacional e novo colunista de site de CartaCapital, também comentou o episódio: “Para PFL (hoje DEM), PSDB e PPS fazer denúncia moralista só funciona na crença, amplamente presumida por eles, de que a mídia os protegerá. Na medida em que a média começa a não ser mais o bloco oligárquico e nepotista que é a mídia brasileira, eles vão ter que recorrer a esses métodos do coronelismo do século XVIII e XIX.”
Outro deputado da frente, Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), também repercutiu a notícia no microblog: “Não adianta boicotar: a notícia chega.”
O suposto sumiço das revistas em Goiás também causou reação do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ): “Soube agora que há carro sem placa recolhendo a @cartacapitaldas bancas. A capa da revista é sobre os tentáculos do Cachoeira no poder.”
O deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) também ironizou a situação via Twitter: “Alô, Mino Carta, mande um estoque extra da CartaCapital pra Goiânia, tem gente comprando todas as edições pra coleção particular.”
Diante das suspeitas, o governador tucano, provavelmente já sabendo do teor das acusações, afirmou pelo Twitter na sexta-feira 30: “Quero tranquilizar todos os goianos que acreditam neste governo: nossas ações e atitudes são todas republicanas, transparentes e honestas.”

DEM abre processo para expulsar senador Demóstenes Torres



  • Lula Marques/Folha imagem
    O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) é alvo de investigação por envolvimento com Carlinhos Cachoeira
    O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) é alvo de investigação por envolvimento com Carlinhos Cachoeira
A cúpula do Democratas decidiu nesta segunda-feira (2) abrir processo para expulsar o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), investigado por suas ligações com o empresário do ramo de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
O parlamentar informou que ainda não leu todo o processo enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) e, por esta razão, não compareceu à reunião marcada para hoje na qual daria sua defesa sobre o caso.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), afirmou que Demóstenes tinha até esta noite para apresentar sua primeira defesa e que a abertura do processo de expulsão não o impede de fazê-lo mais adiante. Também estiveram presentes no encontro o líder do partido na Câmara, ACM Neto (BA), e outros parlamentares.
Com a abertura de processo, a Executiva Nacional do partido deve agora se reunir para votar se o parlamentar será expulso ou não --não foi divulgada uma data para a reunião. 
“Nosso partido não corrobora com falta de decoro e os indícios que há até agora caminham nessa direção. Eu entendo que o senador não tenha tido tempo de ler todo o processo, mas não podemos ficar apenas esperando. O Democratas não transige com atos graves como os que parecem ter sido cometidos”, afirmou Agripino após a reunião.
Já ACM Neto disse que o processo não é uma condenação antecipada. “Existem indícios suficientes para abertura do processo, não é uma condenação antecipada, ainda queremos ouvi-lo, mas a sociedade precisa de uma resposta.”

Entenda

A relação entre Demóstenes e Carlinhos Cachoeira começou a ser divulgada pela imprensa dias após a deflagração da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que resultou na prisão de Cachoeira e mais 34 pessoas no final de fevereiro. Inicialmente, Demóstenes foi acusado de receber presentes caros de Cachoeira em seu casamento, mas negou conhecer as atividades ilegais do empresário.
Vazamento de interceptações telefônicas colhidas pela Polícia Federal mostraram, no entanto, que além de conhecer a atuação de Cachoeira, Demóstenes também participava do esquema, interferindo a favor do empresário em assuntos políticos e obtendo em troca o repasse de dinheiro resultante da exploração do jogo ilegal em Goiás.
Com as acusações, Demóstenes se recolheu em seu gabinete. Em seu microblog Twitter, o senador disse que não integrava nenhuma "organização ilegal". O senador deixou a liderança do DEM no Senado no último dia 27, sendo substituído pelo presidente da legenda, Agripino Maia (RN).
Na semana passada, o STF autorizou a abertura de inquérito para investigar a participação do senador no esquema. O relator do processo, ministro Ricardo Lewandowski, determinou a quebra de sigilo bancário e pediu levantamento das emendas parlamentares do político.
Também na semana passada, o PSOL protocolou uma representação por quebra de decoro parlamentar contra o senador no Conselho de Ética. Com o risco de ser cassado, o senadorestuda a hipótese de renunciar ao mandato, mas retarda sua decisão por receio de perder a prerrogativa de foro privilegiado –renunciando à cadeira no Senado, o inquérito não seria mais julgado pelo STF.

Defesa fala em escutas ilegais

O advogado de Demóstenes afirmou que vai entrar com uma reclamação no STF na próxima segunda-feira (9) contestando o fato de a Justiça Federal de Goiás não ter pedido autorização à Suprema Corte para continuar as investigações envolvendo seu cliente e o empresário Carlinhos Cachoeira.
Segundo o advogado Antonio Carlos de Almeira Castro, o Ministério Público Federal e a Justiça Federal de Goiás deveriam ter pedido autorização ao Supremo para fazer as gravações telefônicas da Operação Monte Carlo porque Demóstenes tem foro privilegiado por ser parlamentar.
“Vou fazer uma reclamação contra o Ministério Público e o juiz do Tribunal de Goiás pela ilegalidade que cometeram. É para anular o inquérito”, disse o defensor. 
(Com agência Brasil)

Protógenes: Há risco de que as CPIs fiquem para depois das eleições



Há duas CPIs com alto potencial de influir nas eleições municipais deste ano, a da Privataria Tucana e a do Carlinhos Cachoeira. Mas, em função das normas regimentais da casa, apenas uma poderá sair ainda este ano. E a negociação será feita entre as bancadas. “Há, sim, o risco de que fique tudo para depois das eleições”, afirma o deputado Protógenes Queirós (PCdoB-SP), autor dos pedidos de instalação das CPIs.
Najla Passos, em Carta Maior
Brasília – Duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) com alto potencial de influir nas eleições municipais deste ano, a da Privataria Tucana e a do Carlinhos Cachoeira, continuam paradas na Câmara dos Deputados, aguardando decisão de instalação exclusiva do presidente da casa, deputado Marco Maia (PT-RS). Mas, em função das normas regimentais, apenas uma poderá sair ainda este ano. E a negociação será feita entre as bancadas.
De acordo com o deputado Protógenes Queirós (PCdoB-SP), autor dos pedidos de abertura das duas CPIs, ambos atenderam aos requisitos formais da casa, como o quórum mínimo necessário de assinaturas, que é de 171 deputados. Entretanto, como o presidente já instalou três outras CPIs em 2012 e há uma quarta na lista, haverá espaço para apenas mais uma delas neste ano legislativo. “Pelas normas da Câmara, só podem ser instaladas cinco CPIs por ano”, explica.
A decisão sobre qual delas deve ter prioridade é controversa e pode ficar nas mãos de interesses partidários e pressões sociais diversas. “São escândalos de grande envergadura, pois batem nas estruturas dos poderes da República e na política partidária”, justifica Protógenes, que defende a urgência de ambas. O deputado admite, porém, que as negociações com os colegas de parlamento serão difíceis. “Há, sim, o risco de que fique tudo para depois das eleições”, afirma.
Segundo ele, a CPI da Privataria Tucana investigará denúncias de desvios de recursos durante privatizações ocorridas no governo Fernando Henrique Cardoso, tendo como principal alvo o ex-ministro tucano e atual candidato à Prefeitura de São Paulo, José Serra. A base das acusações é o livro A Privataria Tucana, de autoria do jornalista Amaury Ribeiro Jr.
“Já havia uma articulação dos deputados para dar início à CPI da Privataria, mas a candidatura de José Serra às eleições municipais de São Paulo embaralhou o cenário. Eu, particularmente, acho que uma coisa independe da outra, mas muitos partidos que assinam o pedido temem a acusação de uso político da CPI”, explica o deputado.
Para ele, José Serra não deveria sequer sair candidato, já que “será investigado por fatos muito graves”.
O temor de uso político pode prejudicar também a abertura da CPI do Cachoeira, que investigará um dos maiores escândalos da atualidade: o envolvimento de parlamentares com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso pela Polícia Federal em fevereiro, sob a acusação de comandar uma quadrilha especializada em jogos ilegais, com ramificações na máquina do estado e na imprensa.
A cada dia surgem novas revelações sobre o envolvimento de parlamentares com o bicheiro. As mais contundentes delas são sobre a participação do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) no esquema. Demóstenes é acusado, inclusive, de usar seu mandato parlamentar a serviço do crime organizado e já está sendo investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF)
O deputado federal e ator Stepan Necessian (PPS-RJ) se licenciou do partido após a divulgação das notícias de que teria recebido cerca de R$ 175 mil de Cachoeira. Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça apontam, ainda, as ligações do contraventor com os deputados Carlos Leréia (PSDB-GO) e Sandes Júnior (PP-GO).
“As relações do Congresso com o crime organizado são muito ruins para o país, porque fragilizam o Estado brasileiro. Nós [parlamentares] não podemos ficar omissos e esperar que a solução venha via burocracia judicial. Apurar quem são os parlamentares envolvidos e quais eram suas participações no esquema criminoso é nossa obrigação moral”, acrescenta.

Demóstenes ganha novo prazo: 12h desta terça



Demóstenes ganha novo prazo: 12h desta terçaFoto: Lula Marques/Folhapress

DEMÓSTENES TORRES (DEM-GO) DISSE AO DEPUTADO RONALDO CAIADO (DEM-GO) QUE NÃO ESTÁ PRONTO PARA TER UMA “CONVERSA DEFINITIVA” COM PRESIDENTE DE SEU PARTIDO, SENADOR AGRIPINO MAIA (RN); MEDO, AGORA, SENADOR?

02 de Abril de 2012 às 18:31
247 – O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) ganhou mais algumas horas para preparar sua explicação aos colegas de partido. O amigo de Carlinhos Cachoeira, que deveria ter prestado esclarecimentos ao DEM até as 18h desta segunda-feira, terá até as 12h de amanhã para se explicar. Se não o fizer, o DEM vai reunir sua Executiva para analisar uma proposta de processo disciplinar que pode resultar em sua expulsão.
Coube ao deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO) tentar convencer Demóstenes, numa conversa a dois, a levar suas eventuais explicações para as ligações com o contraventor Carlinhos Cachoeira, descobertas pela Operação Monte Carlo. Mas a conversa não conseguiu convencer o senador a prestar os esclarecimentos ainda nesta segunda-feira. A recusa já está se refletindo nos ânimos dos líderes do DEM, que podem apressar o processo de afastamento, primeiro, e, em seguida, de expulsão do senador.

O vermelho, o azul e a transparência



O vermelho, o azul e a transparênciaFoto: Edição/247

AFINAL, POR QUE REINALDO AZEVEDO SE INCOMODA TANTO COM O 247?; LEIA A NOVA RESPOSTA DE LEONARDO ATTUCH AOS ATAQUES DO BLOGUEIRO

02 de Abril de 2012 às 14:04
Leonardo Attuch _247 - Reinaldo Azevedo não é jornalista. Nunca foi. Parece incapaz de diferenciar o que é opinião e o que é notícia. No 247, como em qualquer jornal, a opinião dos colunistas representa a opinião dos próprios e não os torna nossos sócios nem parceiros, como ele pretende fazer crer aos seus leitores. Aqui, ao contrário de espaços dogmáticos e fechados, como é o blog do próprio Reinaldo, cabem todos, sem distinção partidária. Todos são bem-vindos e têm direito à palavra, inclusive nos comentários. Mesmo quando nós somos o alvo.
No novo ataque que faz ao 247, o blogueiro da Abril tenta também vincular nossas posições a patrocínios públicos. Outra mentira. Reinaldo chega até a tratar, maliciosamente, uma empresa privada, a Caixa Seguros, como pública. Assim como Veja e qualquer outra publicação da Abril, o 247 trabalha com anunciantes públicos e privados. E, ao contrário do que muitos pensam, nenhuma publicação foi tão servil ao governo Dilma em seu primeiro ano como Veja. Através dela, a presidente pôde conduzir sua faxina e trocar todos os ministros que lhe incomodavam. Antes de ser PIG, Veja foi um instrumento palaciano.
Nos nossos modelos de negócio, a diferença é uma só: o conteúdo deles é pago; o nosso, gratuito. De resto, não há nada que qualquer pessoa esclarecida sobre a atividade dos meios de comunicação não saiba. No nosso caso, a publicidade é, sim, a fonte de receitas para uma empresa que tem crescido de forma consistente e planejar ter jornais com a bandeira 247 em todos os estados do País.
Este crescimento, aparentemente, incomoda. E revela muito sobre as transformações da mídia no Brasil, onde a força da internet é crescente. Não gostamos de alimentar a presunção, mas nossos leitores sabem que tivemos um papel decisivo na divulgação dos fatos relacionados à Operação Monte Carlo. Não fôssemos nós, como têm dito muitos leitores, a chamada grande mídia teria varrido o caso para debaixo do tapete. Mergulharam nele, com três semanas de atraso, quando perceberam que era inevitável. E que Demóstenes Torres era um fósforo queimado da "ética".
Ao contrário de outros veículos também cobrimos fatos relacionados à mídia. E isso parece incomodar muito Reinaldo Azevedo. Quando Fabio Barbosa se tornou presidente do grupo Abril, avisamos que seu discurso ético era incompatível com a presença de Mario Sabino, ex-redator-chefe de Veja e amigo pessoal de Reinaldo, na publicação. Também criticamos abertamente o uso de câmeras clandestinas no hotel Naoum em Brasília pela revista Veja. E, da mesma forma, avaliamos que a revista ainda não prestou explicações adequadas sobre uma relação tão próxima com um bicheiro, que pretendia legalizar o jogo em todo o País.
Reinaldo argumenta que, com as reportagens produzidas pelos arapongas de Carlos Cachoeira, o Brasil economizou alguns milhões. Se é assim, que ele seja solto, condecorado e ganhe o comando da Polícia Federal.
De resto, Reinaldo também revelou uma nova faceta de seu caráter: a de tornar públicas mensagens que eram privadas. Se achava que isso nos constrangeria, perdeu. O ego do blogueiro parece ser tão inflado que o faz transformar em "fãzaço" quem se dirige a ele numa mensagem eletrônica, chamando-o de "Caro Reinaldo". Acorda, querido. Não somos e nunca fomos seus fãs. Você, assim como seus patrões, é apenas um personagem relevante das relações entre mídia e poder no Brasil. Um assunto que vamos continuar cobrindo. E se quiser avançar fundo sobre o que fazemos, sinta-se à vontade. Nada aqui nos envergonha. Ao contrário.
Por fim, Reinaldo gosta de brincar com seu vermelho e azul, cores que talvez não tenham sido escolhidas por acaso e que representam a camisa-de-força mental do blogueiro. O vermelho, em geral, é a opinião errada de um petralha, e o azul a correção com o inseticida de Reinaldo. Nós preferimos a transparência. Se tiver qualquer dúvida sobre o que fazemos, escreva para contato@brasil247.com.br. No caso recente, que envolve Veja e Cachoeira, tentamos entrar em contato com Policarpo Júnior, redator-chefe da revista, Eurípedes Alcântara, diretor de redação, e Fabio Barbosa, presidente da Abril. Todos silenciaram.
Leia, abaixo, a nova crítica de Reinaldo Azevedo ao247:
02/04/2012 às 7:33
Apenas um homem honrado e livre — entre Delúbio e Dirceu
Há tempos venho sendo atacado com incrível virulência por um rapaz chamado Leonardo Attuch, que se dizia um “fãzaço” meu até outro dia. Ele comanda um site chamado “247″, do qual, acreditem, não sou leitor. Fico sabendo das agressões porque leitores sempre enviam links ou trechos — alguns deles, acredito, vindos de lá. Não dava bola a suas estripulias circenses porque sabia que, entre outras coisas, ele esperava ansiosamente uma resposta minha para ganhar visibilidade. Num texto escrito anteontem, este notável estilista da língua, do decoro e do confronto superior de ideias me acusou de “não debater e argumentar”, mas de “latir e rosnar”. E publicou uma foto minha entre dois cachorros, demonstrando o que entende por “debate e argumento”. Até outro dia, ele me xingava com patrocínio da Caixa Econômica Federal — parece que o do Banco do Brasil não rolou… No momento, ele me xinga com o apoio do governo do Distrito Federal, daquele patriota do petismo chamado Agnelo Queiroz. Ontem, atendi à expectativa de Attuch e lhe dei uma resposta. Resisti à metáfora zoológica. O texto está aqui.
Publiquei cinco de uma longa lista de e-mails que este rapaz me enviou ao longo do tempo, até 2011. Era um grande admirador do “caro Reinaldo”, como ele me chamava. E demonstrava estar bastante preocupado com a perseguição à imprensa livre, com a “chavização” do Brasil, com a satanização do Judiciário empreendida pelos petistas etc. Até o dia em que passou a me atacar, assim, do nada! O que havia mudado? O governador do DF, diga-se, é uma das personagens da investigação da Operação Monte Carlo. Parece que ele não contou isso a seus leitores.
Attuch decidiu me ofender afirmando que lato e rosno. Eu apenas o relato chamando-o de companheiro de colunismo de José Dirceu! Ontem, no entanto, leitores me alertaram para outro colunista da página — eu, de fato, ignorava. Já falo a respeito. Attuch decidiu responder a meu texto. Sei que estou tornando sua página um pouco mais conhecida. Não me importo. Quem, desconhecendo-a, for visitá-la e se encantar com o que lá vai merece mesmo ler aquilo. Reproduzo a sua resposta em vermelho e comenta-a em azul. Ele não se anime muito porque tenho mais o que fazer.
*Reinaldo Azevedo não é um homem livre. Num texto publicado nesta manhã, em que ataca a mim e ao 247, ele revela ser escravo de seus preconceitos. E o que aponta como principal virtude, a suposta “coerência”, é também seu principal defeito. No mundo maniqueísta de Reinaldo, petistas serão sempre “petralhas”. E tucanos ou demistas serão homens honrados até o dia em que se revela a desonra.
Leonardo não tem medo do ridículo. É seu traço mais corajoso. Como ele sabe, jamais havia citado a sua página aqui e não “decidi” atacar ninguém. Respondi, e de maneira muito educada, a uma agressão. Suponho que não será Attuch um bom professor de liberdade. Numa homenagem a Millôr Fernandes, afirmo que não receberei lições, nessa área, de quem se mostra “livre como um táxi”. Attuch mente sobre o significado da palavra “petralha” e mente sobre os meus textos, como sabem os leitores. Os arquivos estão aí. Defendi, por exemplo, que o PSDB punisse exemplarmente o senador Eduardo Azeredo (MG) por conta do que ficou conhecido como “mensalão de Minas”. Com José Roberto Arruda, expulso do DEM, não foi diferente. Attuch, o que me cobria de elogios até outro dia e se mostrava crítico feroz dos petistas, só consegue sustentar a sua tese negando a realidade. Quando à palavra “desonra”, já, já…
No 247, ao contrário, cultua-se a liberdade. E, se aqui escreve um José Dirceu, como ele condena, também há espaço para representantes de todos os campos políticos, como Arthur Virgílio, César Maia, Walter Feldman, Jarbas Vasconcelos e Gabriel Chalita, entre tantos outros, como também haveria para o próprio Demóstenes Torres, caso este quisesse se defender no nosso portal. Um espaço que, ao contrário do blog de Reinaldo, é democrático e plural.
Ele esqueceu de incluir outro escriba em seu site: Delúbio Soares. Isto mesmo: este grande pluralista tem, entre seus colunistas, dois nomes processados pelo STF: um é acusado pela Procuradoria Geral da República de ser o “chefe da quadrilha” do mensalão. O outro era seu operador. De fato, sou escravo da minha coerência — e raramente um amigo me elogiou com tanta precisão. Attuch é funcionário de um estranho tipo de pluralidade, que acolhe tipos como essa dupla. No meu blog, com efeito, não há espaço para eles. Para o meu gosto, mas isto é com a Justiça, estariam em outro lugar. O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), por exemplo, um homem honrado, não deixa de ser a virtude servida de bandeja ao vício.
Em companhia de Dirceu e Delúbio, Attuch tem a coragem de acusar a “desonra” alheia.
Que haja leitores que caiam nessa conversa, eis a verdadeira diversidade do mundo. Por que o superpoderoso José Dirceu, que tem o seu site, feito por uma equipe contratada para esse fim (dinheiro não falta ao “consultor de empresa privada”), precisa do “247″, de Attuch? Já tem o seu próprio “288″… Transformá-lo em colunista, reitero, é um caso de “171″. Quanto a Delúbio… Uau! O grande feito jornalístico de Attuch foi descobrir que este senhor tinha algo a dizer. Na CPI do Mensalão, se bem se lembram, ele só tartamudeava… Mas eu entendo: Delúbio, como foi amplamente noticiado na imprensa nacional, compra até a indicação de paraninfo de formandos universitários. Eles o convidam para o discurso, e o mensaleiro paga o baile. Não estou metaforizando, não! É assim mesmo.
Na sua crítica, Reinaldo resgata emails pessoais antigos que trocamos, como se isso fosse gerar algum desconforto e constrangimento. Ao contrário. Do nosso ponto de vista, é possível sim concordar com Reinaldo em alguns pontos, e discordar em outros. Assim como também é possível concordar e discordar, pontualmente, de Luís Nassif, Paulo Henrique Amorim e de qualquer cidadão. Enquanto alguns colunistas preferem atirar pedras uns aos outros, como se fizessem parte de duas torcidas organizadas - PIGs versus JEGs -, nós preferimos pensar por conta própria.
Não, senhor! Eram (e são) e-mails, tanto os que publiquei como os que não publiquei, que traduziam uma visão de mundo, uma leitura do processo político, uma abordagem do que está em curso. Antigos? Numa homenagem a Chico Anysio, observo que não são de 1927, do tempo de Pantaleão… 2009, 2010, 2011. Outro dia, Attuch!!! Sim, eu lhe enviei algumas poucas respostas, que também tenho guardadas. Se quiser, pode publicá-las. Leonardo provará ao menos uma coisa que disse a meu respeito, agora que decidiu não gostar mais de mim: sou escravo da minha coerência. E ele? Em 21 de dezembro de 2008, por exemplo, escreveu:
Caro Reinaldo,
Fique atento ao Roda Viva de amanhã. Seja você o ombudsman do programa.
Quanto ao editorial da Folha, foi bom, mas podia ser mais literal, dizendo na última linha quem comprou quem. Para a petralhada, meia palavra só não basta.
Sobre o áudio do grampo, é só colocar uma perguntinha aos blogueiros de aluguel: por que eles nunca pedem o áudio da reunião dos delegados com o Humberto Braz (que, aliás, jamais apareceu). Simplesmente porque ele evidenciaria uma armação (flagrante forjado onde se pede dinheiro e não se oferece).
No mais, feliz Natal e um próspero e combativo 2009.
abs
Leonardo
Não sei se era apenas para demonstrar, mais uma vez, apreço por mim, mas notem que ele incorporou a seu vocabulário a palavra “petralhada”… Agora ele acha isso muito feio… Sem essa! Não são e-mails que tratam de questões pessoais — que não me dou a esses desfrutes. Ninguém jamais recebeu ou receberá mensagens minhas tratando de questões existenciais. Nem faço nem ouço confidências com ou de amigos. Se querem falar comigo, os temas são aqueles que dizem respeito a questões públicas.
Não se iludam. A suposta coerência de Reinaldo nada tem ver com liberdade intelectual. É apenas a camisa-de-força de um jornalista que decidiu ter lado. E que no caso em que foi objeto de nossa crítica, o das relações perigosas entre Veja e Carlos Cachoeira, ainda não apresentou argumentos consistentes. Apenas rosnou.
Attuch como juiz de “liberdade intelectual” é uma piada! Alguém que encerra um artigo afirmando que o outro “não apresenta argumentos consistentes”, mas “rosna”, convenham, está se definindo. O caso a que ele alude — e no qual insiste, agora com seus novos amigos — é só uma pilantragem, já está demonstrado, para tentar livrar a cara da turma do mensalão.
Eu rosno? Ok, farei uma concessão ao estilo zoológico do ex-admirador do “caro Reinaldo”. Posso rosnar, sim, mas não fico de quatro para Delúbio Soares e José Dirceu. Eu jamais os convidaria para paraninfo e para pagar as minhas cervejas.
PS - Em tempo: a presidente Dilma Rousseff já demitiu seis ministros sob suspeita de corrupção. Attuch tem outros potenciais colunistas. Afinal, ele é um homem livre.
PS2 - Sim, leitor, agora chega, que tenho mais o que fazer. A menos, claro!, que considere necessário.
Por Reinaldo Azevedo