terça-feira, 1 de maio de 2012

Se partidos aliados ajudarem, imprensa e procurador prestarão contas na CPMI



PT quer investigar organização criminosa e isso inclui envolvimento da Veja no esquema de Carlinhos Cachoeira (foto) e o cochilo do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, no andamento das investigações da Operação Monte Cassino, da Polícia Federal, concluído em 2009. E governo promete não interferir nos trabalhos para poupar ou para livrar investigados. A reportagem é de Maria Inês Nassif e Najla Passos.

Se depender do PT, o jornalista Policarpo Júnior, a revista Veja, a editora Abril e quantos mais profissionais de imprensa comprovadamente tiverem atuado em conjunto com a organização do bicheiro Carlinhos Cachoeira serão chamados, a seu tempo, para depor na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que, nessa semana, começa a revirar o esquema que envolvia o contraventor, o senador Demóstenes Torres (GO-sem partido), o governador Marconi Perillo (PSDB-GO) e outros políticos, e tinha tentáculos em governos estaduais, em obras públicas federais e até no Poder Judiciário. 

Não existem, contudo, garantias de que os demais partidos da base parlamentar do governo tomarão o mesmo rumo. E nem a certeza de que os integrantes da comissão resistirão aos holofotes das televisões e a embarcar na agenda que interessa à oposição e aos demais envolvidos no inquérito da PF: concentrar os trabalhos unicamente nas atividades de Cachoeira, Perillo e Torres, e eleger a construtora Delta como única algoz dos crimes cometidos.

Também não deverá ser poupado o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que engavetou, em 2009, os autos da Operação Las Vegas, feita pela Polícia Federal, que já tinha elementos suficientes para justificar juridicamente a investigação do senador Demóstenes e as relações de Cachoeira com diversas instâncias do poder público. “É insustentável o argumento do procurador, de que aguardava o resultado da Operação Monte Carlo, que só começou em 2011”, disse um membro do PT que tem uma posição de destaque na política nacional. “Este é um caso de aparelhamento da estrutura do Estado pelo crime organizado”, concluiu a fonte.

O partido também não tem a intenção de recuar para poupar o governador do DF, Agnelo Queiroz, se for efetivamente comprovada a sua participação no esquema: o que está em jogo vale mais do que um político vindo do PCdoB apenas para disputar a eleição do DF, sem vínculos orgânicos com o PT. E o Palácio do Planalto não pretende mover uma palha para interferir nos trabalhos dos parlamentares – isto quer dizer que qualquer pressão dos envolvidos sobre o Executivo será considerada como um “erro de endereço”.

“O que a CPMI se propõe a investigar é uma rede de negócios montada a partir de tráfico de influência. Seria justo julgar apenas um membro do Legislativo por esses crimes¿”, indaga o líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA). Por falta de confiança nos aliados, todavia, a ideia é não forçar depoimentos nem acusar culpas “a partir de notícias”. “Essa comissão é diferente das outras: já existe um vasto inquérito feito pela Polícia Federal”, explica Pinheiro. Os fatos fatalmente virão a público, na medida em que os autos do inquérito forem se abrindo aos membros da comissão. As convocações serão feitas conforme surgirem, de forma a não expor antecipadamente os integrantes da CPMI à pressão dos meios de comunicação.

Teoricamente, existiriam condições objetivas para levar com êxito essa estratégia na CPMI: a base governista tem maioria e vários integrantes foram vítimas diretas do esquema de escuta montado por Cachoeira, da ofensiva raivosa do senador Demóstenes Torres, ou de ambos. Na última semana, por exemplo, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, não cansava de repetir o seu lado de história para os demais colegas, em plenário, e para integrantes do governo Dilma. 

Em 2007, em meio a um escândalo que envolvia a sua vida pessoal, Calheiros, então presidente da Câmara, conseguiu reverter, no Senado, uma tendência contrária à sua cassação pelo plenário da Casa. Na véspera da votação, a revista Veja publicou escutas e a versão da ida de um assessor do presidente do Senado a Goiás, para levantar algumas informações de interesse partidário. 

A Veja reportou e vendeu a versão de que, na viagem, o objetivo de Francisco Escórcio era colher informações sobre o senador Demóstenes Torres – Renan, segundo a revista, estaria fazendo isso com vários senadores, para chantageá-los em plenário e obrigá-los a votar contra a sua cassação. Vários senadores, que já haviam fechado com Calheiros, mudaram o voto, argumentando que não poderia parecer à opinião pública que estariam se curvando a um esquema de chantagem. Para salvar o mandato, o senador alagoano abriu mão da Presidência do Senado.

Ainda que outros senadores do PMDB tenham razões e ressentimentos contra o esquema Cachoeira – existe a suspeita, por exemplo, de que foi o mesmo esquema de arapongagem do contraventor que provocou o caso Lunus, que acabou com a candidatura de Roseana Sarney à Presidência da República, em 2006 --, os parceiros petistas não confiam inteiramente na disposição de seus pares de comprar uma briga com a imprensa. Existem muitos interesses envolvidos, e essa pode ser uma chance de recomposição desses setores políticos com a mídia tradicional.

De qualquer forma, para o PT a CPMI é a porta de acesso aos autos não apenas da Operação Monte Cassino, objeto dos vazamentos que implicaram Demóstenes e Perillo no esquema Cachoeira, mas na Operação Las Vegas, que foi entregue pela PF ao procurador-geral da República em 2009, e da qual pouco se sabe. Seguramente, as informações dessa operação que antecedeu a Monte Cassino trazem o tamanho da omissão do procurador-geral da República. Ao que tudo indica, o resultado das investigações concluídas em 2009 já davam elementos suficientes para fechar o cerco em torno de Demóstenes e Perillo. Gurgel, o procurador, no mínimo beneficiou-os com a “cochilada”. Existe potencial para que os autos da primeira operação atinjam um número maior de pessoas, mas Gurgel pode ser um alvo unânime dos parlamentares. “Tem muita gente se perguntando por que o procurador foi tão rápido em processos que os envolviam, e tão lento nos que diziam respeito a Demóstenes”, disse uma fonte do PT.

Embora uma vastidão de interesses e ressentimentos seja um potencial mobilizador dessa CPI, a ação de parlamentares aliados, mesmo os da esquerda, relativizam essa possibilidade. Na semana passada, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) articulava às claras uma solução jurídica para impedir a convocação de jornalistas e empresas de comunicação. Invocou o artigo 207 do Código Penal, que proíbe a tomada de depoimentos das pessoas protegidas por segredo profissional. “Não se chama um padre para depor”, argumentava Teixeira. “Os jornalistas podem alegar essas razões para não depor, mas isso não impede que sejam chamadas”, contrapôs o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), também membro da comissão. A outra forma de concentrar excessivamente as investigações da CPI na Construtora Delta, do esquema de Cachoeira, foi um acordo feito entre oposição e chamados “independentes” de “seguir o dinheiro”, também uma proposta de Teixeira. As relações do esquema Cachoeira com a Veja, na opinião de parlamentares ouvidos pela Carta Maior não necessariamente envolveram dinheiro, embora obrigatoriamente tenham envolvido tráfico de influência, o que configura crime da mesma forma.

Cachoeira, o governador paralelo de Goiás



Cachoeira, o governador paralelo de GoiásFoto: Divulgação

CONTRAVENTOR PAGAVA SALÁRIO EXTRA DE ATÉ R$ 15 MIL A SECRETÁRIOS DO GOVERNO MARCONI PERILLO E HOUVE AMEAÇA DE PARALISAÇÃO QUANDO OS PAGAMENTOS FORAM INTERROMPIDOS; DINHEIRO VINHA DA CONSTRUTORA DELTA

01 de Maio de 2012 às 14:14
247 – Oficialmente, o governador de Goiás se chama Marconi Perillo. Foi eleito em 2010, pelo PSDB, e ocupa seu terceiro mandato à frente do Palácio das Esmeraldas.
Os documentos da Polícia Federal, no entanto, revelam que havia um governo paralelo em Goiás. E ele era comandado por Carlos Cachoeira.
De acordo com as investigações, o bicheiro e sócio da Construtora Delta pagava um salário adicional a alguns colaboradores de Marconi Perillo. Entre eles, Edivaldo Cardoso, que se afastou da presidência do Detran/GO, e João Furtado de Mendonça Neto, que continua à frente da secretaria de Segurança Pública.
De acordo com a PF, o ganho extra de Edivaldo seria de R$ 15 mil mensais; o de Neto, de R$ 10 mil. A origem dos recursos seria a construtora Delta.
As informações fazem parte do anexo 4 do inquérito tornado público pelo Brasil 247 (acesse a íntegra clicando aqui). Estão na página 133 e são chocantes. Na conversa, de 15 de julho do ano passado, Edivaldo Cardoso relata a Carlos Cachoeira que os negócios da Delta estão travados porque teria havido atraso nos pagamentos.
De acordo com a interpretação da Polícia Federal, o secretário de Segurança Pública de Goiás pretendia receber seus atrasados dos meses de abril e maio do ano passado (leia aqui a transcrição completa). Caso contrário, deixaria de atender a Delta, que, no governo Perillo, saltou do zero para contratos de mais de R$ 450 milhões.

O conto do espanto



DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo
Quanto mais informações vão sendo reveladas a respeito dos serviços prestados por Demóstenes Torres às organizações Cachoeira de armações ilimitadas, mais esquisito parece o fato de que ele tenha durante tanto tempo podido atuar como o sujeito oculto na defesa dos interesses do contraventor Carlos Augusto Ramos sem despertar suspeitas.
Que o senador tenha conseguido enganar a plateia e parte considerável do elenco da República com o personagem que encarnava em público, compreende-se. Dificilmente alguém que age com tanto vigor e destemor é alvo de desconfiança.
Sempre existe o risco de ser confrontado por um adversário no meio de um discurso, levar um troco na base do bateu levou. Eleito senador pela primeira vez em 2002, notabilizou-se por bater. Nunca levou e, entretanto, vê-se agora como era vulnerável.
Os grampos da Operação Monte Carlo revelaram as conversas com o contraventor, mas suas atividades como praticamente um procurador do bicheiro eram exercidas com boa dose de desinibição.
Pelo divulgado até agora, movimentava-se para todo lado, falava com muita gente, pedia, solicitava, defendia interdição de depoimentos no Congresso e até um episódio em tese menor - o pedido de emprego no governo de Minas Gerais para uma prima de Cachoeira - não se coadunava com a atitude de um defensor intransigente dos pressupostos constitucionais de impessoalidade, probidade e transparência na administração pública.
A julgar pelo conteúdo das conversas telefônicas - e, note-se, não são conhecidas as do senador com personagens outros que não o contraventor - Demóstenes Torres fazia lobby por Cachoeira nos três Poderes, abria portas para negócios comerciais para além da Região Centro-Oeste, interferia na transferência de policiais presos, obtinha informações de bastidores na Polícia Federal e no Ministério Público, atuava aqui e ali como facilitador para a construtora Delta, circulava com desenvoltura entre deputados, senadores, governadores, magistrados.
Será possível que só ao amigo bicheiro revelasse seu lado eticamente permissivo? Apenas ao telefone com Cachoeira deixava-se desvendar? Nas abordagens em prol do contraventor não precisava "abrir" aos interlocutores a natureza dos pleitos pretendidos?
Fica cada vez mais inverossímil a possibilidade de que o senador tenha atuado nesse diapasão por tanto tempo sem que ninguém, entre as pessoas experimentadas com quem o senador convivia, tivesse notado algo de anormal ou de inadequado no comportamento dele.
Mais não seja pela discrepância entre o discurso e as ações. O mais provável, chega-se à conclusão por pura lógica, é que a surpresa manifestada na dimensão de unanimidade não seja de verdade tão unânime assim.
Pelo visto, boa parte dos que se mostraram surpresos depois da eclosão do escândalo considerava perfeitamente normal o uso privado que o senador dava a seu mandato e talvez até admirasse sua capacidade de mimetização.
Só uma hipótese não é crível: a de que o senador tenha enganado completamente a todos os ditos tão espantados.
Contenção. Noves fora o imprevisto absoluto, as versões de que Carlos Augusto Ramos poderia queimar caravelas na CPI guardam mais relação com prevenção de danos do que com chances reais de o bicheiro representar o papel de homem-bomba.
O advogado dele, Márcio Thomaz Bastos, não é exatamente um construtor de explosivos. Ao contrário: como ministro da Justiça do primeiro governo Lula e depois como conselheiro desarmou vários deles.
Cacoete. Publicamente a presidente Dilma Rousseff não fala no assunto, muito menos teria condições de fazer algo parecido. Privada e ideologicamente, no entanto, deixa muito claro que viu com bons olhos na nacionalização da petroleira espanhola YPF pela colega argentina Cristina Kirchner.

De dom Pedro ao Cachoeira


Wálter Maierovitch

Jogo do bicho


historiografia nos revela que o imperador dom Pedro II havia ficado frustrado pela falta de empolgação da população com o recém-inaugurado jardim zoológico. Para atrair visitantes, o imperador apostou então todas as fichas no projeto do mineiro João Batista Viana Drummond, que já havia administrado a Estrada de Ferro Pedro II. O projeto Drummond, implantado em 1880, teve pleno êxito, com os visitantes a apostar nos bichos do zoológico, ou melhor, em 25 grupos de animais e em combinações a alcançar o número 100. Logo cedo, à entrada do jardim zoológico, colocava-se uma caixa com um bilhete numerado dentro. Então, a caixa ia para o alto de um poste. No fim da tarde, abria-se a mesma para divulgação do número e o vencedor apresentava o seu bilhete comprado para levar um prêmio em dinheiro.
Drummond, que virou barão só em agosto de 1888, povoou de humanos o zoológico do imperador. Na República, o seu invento, popularizado pelo nome de jogo do bicho, sustentou, embora proibido em 1890, o carnaval carioca. Mais ainda, a jogatina alimentou o caixa 2 de políticos, corrompeu policiais, deu apoio à ditadura (à época, os bicheiros tinham credibilidade e voz junto aos cidadãos) e completou a aposentadoria de velhinhos colocados nas ruas como apontadores dos jogos. Fora isso, a jogatina com banqueiro garantiu impunidade ao reformado capitão-bicheiro Guimarães, do serviço secreto do Exército e um dos torturadores do regime militar.
Longo enredo. À sombra do imperador, o executivo mineiro Drummond inventou o jogo. Sem prever os ilícitos cometidos por Castor de Andrade e Carlinhos Cachoeira. Fotos: Milton Michida/AE e Gustavo Miranda/Ag. O Globo
O grande expoente da contravenção, que deu um upgrade nas ilicitudes em termos de controle, modernidade e transnacionalidade, foi Castor de Andrade, um advogado sem nunca ter frequentado aulas na faculdade e que herdou as bancas de jogo da mãe, Carmem de Andrade, a primeira mulher a comandar essa modalidade contravencional no planeta. Castor importou ocapo-mafiaAntonino Salamone, contemplado com a cidadania brasileira, num jogo de troca-troca e cartas marcadas por ato do ministro Armando Falcão, da pasta da Justiça. Falcão, de triste memória, desconsiderou as condenações de Salamone, foragido da Justiça italiana e sentenciado por associação à máfia e por ter integrado a cúpula de governo da Cosa Nostra siciliana. Com a orientação de Salamone, Castor criou no Rio de Janeiro a cúpula dos bicheiros, que, à força, deliberava sobre a repartição de territórios, acabava com as guerras entre contraventores e impunha uma férrea hierarquia. Tudo no interesse da difusão da jogatina, incluída a cooptação de políticos e financiamentos de campanhas.
Decano dos bicheiros, falecido em 1997, Castor percebeu os problemas que viriam com a Lei Pelé, destinada a abrir as portas do Brasil para as internacionais criminosas, sob o falso manto de incentivo ao esporte. A Lei Pelé possibilitou ao italiano Fausto Pellegrinetti, lavador de dinheiro da máfia e dos cartéis colombianos de cocaína pós-Pablo Escobar, introduzir no Brasil os jogos de azar com máquinas eletrônicas. Os componentes eletrônicos eram adquiridos na Espanha e aqui montados. Pellegrinetti despachou para o Brasil, a fim de acertar com a cúpula dos bicheiros do Rio e com Ivo Noal, o mandachuva paulista da contravenção, o mafioso Lillo Lauricella, que aqui se estabeleceu sem ser incomodado pela polícia.
Passado. O mafioso Lauricella (à dir.) passeia no Parque Lage, Rio, 13 anos atrás. Preso na Itália em 2000, foi ele quem revelou os acordos com os bicheiros
Preso na Itália pela chamadaOperazione Malocchio (Operação Mau-olhado), iniciada em 1995 pela Direção Antimáfia dirigida pelo coronel Angiolo Pellegrini, o mafioso Lauricella revelou, em juízo, o acordo celebrado com os bicheiros brasileiros. Numa das interceptações telefônicas entre Lauricella e Pellegrinetti foi dito que a Lei Pelé havia pegado o Brasil de surpresa, sem empresários com capital suficiente para a aquisição de máquinas a serem espalhadas pelo território nacional.
Para lavar o dinheiro dos cartéis colombianos da cocaína, Pellegrinetti escolheu o Brasil, a República Dominicana, onde lavava o dinheiro em flores exóticas e frutas, e a Rússia, com placas de alumínio. Por aqui, Pellegrinetti, com capital da cocaína colombiana, disseminou no Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás, Minas e Ceará máquinas de jogos eletrônicos de azar. Numa primeira leva, foram 35 mil máquinas eletrônicas, todas com componentes da empresa espanhola Recreativos Franco, cujo dono foi preso nos EUA. Em São Paulo, a família Ortiz, cujo inquérito foi arquivado em face de aceita a explicação de que não sabia tratar com criminosos internacionais, dividia com Ivo Noal a exploração da jogatina, apoiada na Lei Pelé.
Com o sucesso da Operazione Malocchio, quebrou-se a conexão brasileira operada por Fausto Pellegrinetti, internacionalmente um dos maiores lavadores e recicladores de capitais do crime organizado transnacional. Abriu-se espaço, então, para velhos (a juíza Denise Frossard condenou 14 deles) e novos empresários da jogatina substituírem os mafiosos: Lauricella virou colaborador de Justiça e, dois anos depois e com outra identidade, acabou metralhado depois de deixar um dos seus cassinos abertos na Venezuela, naquilo que foi considerado um acerto de contas por ter delatado. Na noite do assassinato, Lauricella portava uma mala com vultosa renda do cassino, que permaneceu intacta, ao lado do corpo.
Carlos Augusto Ramos, vulgo Carlinhos Cachoeira, é um dos filhotes da Operazione Malocchioe da incúria de algumas autoridades brasileiras, a começar pelo então ministro da Justiça, o atual senador Renan Calheiros. Com técnica mafiosa, Cachoeira montou uma holding criminal e recicla dinheiro lavado em atividades formalmente lícitas, por meio de inúmeras empresas, de remédios a automóveis.
Só para lembrar, CartaCapital, em três edições, denunciou o esquema da jogatina eletrônica de azar no Brasil, as suas ramificações internacionais e, por aqui, a lavagem de dinheiro escancarada do tráfico internacional de drogas proibidas. CartaCapital entrevistou o responsável pela Operazione Malocchio sobre a conexão criminal Itália-Brasil. Do lado italiano foram todos definitivamente condenados. No Brasil, o inquérito foi arquivado a pedido de um membro do Ministério Público Federal. Com o arquivamento, a conexão brasileira foi apagada, como se nunca tivesse existido. Com o “apagão”, os Carlinhos Cachoeiras acabaram “vitaminados” e posaram à sombra de políticos e os da velha–guarda do bicho, como Anísio Abraão, Capitão Guimarães, Turcão etc.

Preconceito no Judiciário





Edgard Catoria


O site de CartaCapital postou em 11 de abril um texto em que eu levantava questão sobre eventual preconceito racial no Poder Judiciário, em entrevista com a juíza Ivone Caetano, da Vara da Infância, da Juventude e do Idoso da Comarca do Rio de Janeiro.
Em certo trecho da matéria, ela, que é negra, contou que no início de sua carreira, depois de fazer nove concursos para um cargo público do judiciário, uma funcionária do lugar, com ar consternado e solidário, aconselhou-a a parar de tentar, porque alí as pessoas não queriam negros.
Por isso ela desistiu de sua meta, prestou concurso para juíza e, aprovada, galgou todas as etapas para chegar ao cargo importante que ocupa hoje.
No final da matéria, eu perguntava se hoje, depois de quatro décadas, ainda existiria este tipo de preconceito dentro do judiciário.
Algum magistrado, no entanto, respondeu minha questão postando um texto na Lista da ABM – Associação dos Magistrados Brasileiros – que vem a ser caixa postal eletrônica dos associados.
Em destaque, sem fazer qualquer revisão, reproduzo o texto distribuído aos senhores juízes e desembargadores de todo o país:
Como vai o julgamento das cotas raciais?
SE QUEREM INCLUIR NEGROS,POR QUÊ NÃO SE INCLUIR ANOEZINHOS,INDIOS,PORTADORES DE URRICE,GAGUINHOS,BICHAS,LESBICAS,CALHORDAS,SINDROME DE DOWN,PORTADORES DE DEFEITOS NA COLUNA,PARAPLÉGICOS,ABOBADOS,BÊBADOS, VICIADOS EM CRACK. PELES VERMELHAS, AMARELOS , LEPROSOS, ETC.. SÓ OS “COLORED” ISTO QUE É DISCRIMINAÇÃO. POR QUÊ SÓ BLACK IS BEAUTIFUL… TÁ NA CARA QUE É A MAIORIA VOTANTE DO PAÍS. ETA GOVERNO POPULISTA…. QUE SE ENSEJEM COLÉGIOS PÚBLICOS, EMPREGOS, AUXILIO ALIMENTAÇÃO, PASSE ESCOLAR, LIVROS E MATERIAL ESCOLAR GRATUITOS E TUDO SERIA RESOLVIDO. ASSIM TODOS (BRANCOS E NÃO BRANCOS) TERIAM A MESMA CHANCE DE INGRESSAREM EM FACULDADES, DEPENDENDO DO ESFÔRÇO DE CADA UM. CHEGA DE PRIVILÉGIOS
Qualquer magistrado inscrito na “lista” poderá conferir e se deleitar com essa pérola postada por um de seus colegas.Ou seja, este é o texto real, preconceituoso e discriminatório do e-mail, num ambiente restrito de uma associação de magistrados, o que se leva à presunção de que os participantes sejam, pelo menos, JUIZES, pertencentes a uma classe que deveria pautar-se pela Justiça e por uma conduta ao menos equilibrada. Mas, como tudo no Brasil, a cabeça de alguns doutores da lei não é bem assim.
Resumo da história: não é concebível que uma lista deste nível contemple pessoa que exponha seu caráter de forma tão violenta e desequilibrada.
Como diria minha avó Manoelinha, “o negócio é mesmo ir se queixar ao bispo”.O site de CartaCapital postou em 11 de abril um texto em que eu levantava questão sobre eventual preconceito racial no Poder Judiciário, em entrevista com a juíza Ivone Caetano, da Vara da Infância, da Juventude e do Idoso da Comarca do Rio de Janeiro.
Em certo trecho da matéria, ela, que é negra, contou que no início de sua carreira, depois de fazer nove concursos para um cargo público do judiciário, uma funcionária do lugar, com ar consternado e solidário, aconselhou-a a parar de tentar, porque alí as pessoas não queriam negros.
Por isso ela desistiu de sua meta, prestou concurso para juíza e, aprovada, galgou todas as etapas para chegar ao cargo importante que ocupa hoje.
No final da matéria, eu perguntava se hoje, depois de quatro décadas, ainda existiria este tipo de preconceito dentro do judiciário.
Algum magistrado, no entanto, respondeu minha questão postando um texto na Lista da ABM – Associação dos Magistrados Brasileiros – que vem a ser caixa postal eletrônica dos associados.
Em destaque, sem fazer qualquer revisão, reproduzo o texto distribuído aos senhores juízes e desembargadores de todo o país:
Como vai o julgamento das cotas raciais?
SE QUEREM INCLUIR NEGROS,POR QUÊ NÃO SE INCLUIR ANOEZINHOS,INDIOS,PORTADORES DE URRICE,GAGUINHOS,BICHAS,LESBICAS,CALHORDAS,SINDROME DE DOWN,PORTADORES DE DEFEITOS NA COLUNA,PARAPLÉGICOS,ABOBADOS,BÊBADOS, VICIADOS EM CRACK. PELES VERMELHAS, AMARELOS , LEPROSOS, ETC.. SÓ OS “COLORED” ISTO QUE É DISCRIMINAÇÃO. POR QUÊ SÓ BLACK IS BEAUTIFUL… TÁ NA CARA QUE É A MAIORIA VOTANTE DO PAÍS. ETA GOVERNO POPULISTA…. QUE SE ENSEJEM COLÉGIOS PÚBLICOS, EMPREGOS, AUXILIO ALIMENTAÇÃO, PASSE ESCOLAR, LIVROS E MATERIAL ESCOLAR GRATUITOS E TUDO SERIA RESOLVIDO. ASSIM TODOS (BRANCOS E NÃO BRANCOS) TERIAM A MESMA CHANCE DE INGRESSAREM EM FACULDADES, DEPENDENDO DO ESFÔRÇO DE CADA UM. CHEGA DE PRIVILÉGIOS
Qualquer magistrado inscrito na “lista” poderá conferir e se deleitar com essa pérola postada por um de seus colegas.Ou seja, este é o texto real, preconceituoso e discriminatório do e-mail, num ambiente restrito de uma associação de magistrados, o que se leva à presunção de que os participantes sejam, pelo menos, JUIZES, pertencentes a uma classe que deveria pautar-se pela Justiça e por uma conduta ao menos equilibrada. Mas, como tudo no Brasil, a cabeça de alguns doutores da lei não é bem assim.
Resumo da história: não é concebível que uma lista deste nível contemple pessoa que exponha seu caráter de forma tão violenta e desequilibrada.
Como diria minha avó Manoelinha, “o negócio é mesmo ir se queixar ao bispo”.

O “Ermitão” derrotou Marconi



GRAÇAS A ALCIDES RODRIGUES, O GOVERNADOR DE GOIÁS ESTÁ NA LAMA POLITICAMENTE

30 de Abril de 2012 às 10:40

Alexandre Braga

A crise política que assola o Palácio das Esmeraldas, no governo Marconi Perillo do PSDB, não deve acabar tão cedo se o tucano não “Pedir para sair” como gritou os milhares de jovens do Movimento Fora Marconi, nas ruas de Goiânia. A CPMI deve colocá-lo para fora do palácio ou em 2014 o povo goiano se encarregará de fazer nas eleições. Mas diante todas as denúncias contra o atual governo, como podemos analisar a queda tão repentina de quem sonhava ser reeleito em 2014? Quem foi culpado pela derrocada do menino de Palmeiras?
Desde 1998, quando Marconi derrotou Iris Rezende pela primeira vez, o tucano sempre tripudiou sobre o dono do PMDB de Goiás. Com a máquina estadual nas mãos, atropelou Iris, Maguito e ainda elegeu seu sucessor Alcides Rodrigues. Durante todo esse tempo, Marconi sempre deus as cartas, mas em seu caminho estava Alcides Rodrigues, que logo de cara deu um chega pra lá no tucano.
Isso causou um imenso abalo no ego de Marconi Perillo, que não aceitava de maneira alguma que o seu vice, na época governador, não obedecesse cegamente suas ordens. Foi assim o início da queda marconista, porque desde então o PMDB, pior inimigo dele, nunca tinha abalado o poderio do tucano. O rompimento de Alcides e Marconi foi fundamental para a situação que o inquilino do Palácio das Esmeraldas chegasse ao fundo do poço atualmente.
Mas como assim o Alcides derrotou Marconi? O Plano era perfeito, Alcides foi eleito com apoio de Marconi, assumiria todas as orgias feitas com a viúva nos primeiros governos marconistas. E estenderia um tapete vermelho para a volta de Marconi em 2010. Só que para o bem de Goiás, Alcides não topou a parada. Mostrou para Goiás o rombo que Marconi fez nas contas do Estado e apoiou as candidaturas de Vanderlan e Iris no segundo turno.
Com esse chega pra lá de Alcides, pra não se ver por baixo e continuar achando que era o imperador de Goiás, Marconi foi obrigado a vender a alma pro diabo (ops Cachoeira), fazendo uma campanha milionária nunca vista antes na história da política goiana. Hoje está explicado como Marconi venceu as máquinas dos governos: federal, estadual, da capital e das maiores cidades do Estado. Ele não tinha as máquinas governamentais, mas máquinas do Cachoeira. A vitória de 2010, por pouco mais de 200 mil votos, foi uma vitória do Cachoeira. Como ele mesmo disse: “Eu coloquei o Marconi lá”.
Então graças ao “Ermitão” (apelido pejorativo que os marconistas deram para o ex-governador Alcides Rodrigues) Marconi Perillo está na lama politicamente e isso não tem nada a ver com vingança do presidente Lula e outras lorotas que os tucanos tentam explicar a grana do Cachoeira na campanha. Alcides Rodrigues sim fez o primeiro Fora Marconi, ao proibir que o tucano continuasse a orgia com viúva. Graças a esse ato de Alcides, o povo goiano conheceu Marconi Perillo como o pior governador a história do Estado de Goiás. 
Alexandre Braga é jornalista