sábado, 19 de maio de 2012

Pinherinho: A vida depois da desocupação



Quatro meses depois da desastrada operação da PM, as famílias

desalojadas ainda não conseguiram retomar a rotina. Mobílias

destruídas, crianças sem pais e sem escola formam o triste

mosaico de sonhos despedaçados

Rachel Costa
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“A gente sabe que casa para todo mundo o governo não tem condição de dar. Desse então 
o terreno e a gente construía a casa”

Tanice Rosemere dos Santos, 44 anos, salgadeira, vivia na rua 2, 
bloco C, casa 41 de Pinheirinho desde 2003 e hoje mora no Rio Comprido
Para entrar na casa de Tanice Rosemere dos Santos, 44 anos, no bairro de Rio Comprido, periferia de São José dos Campos, interior de São Paulo, não é preciso bater. No barracão onde ela mora com a filha Isabelle, de 1 ano e 2 meses, uma colcha de xadrez azul e verde faz as vezes de porta. Rompido o portão improvisado, chega-se ao primeiro cômodo, um espaço de não mais de 10 m², misto de sala e cozinha, com fogão antigo, botijão de gás, geladeira, máquina de lavar quebrada, um sofá velho de dois lugares, uma cadeira e uma televisão de 20 polegadas. Logo após há o banheiro e o único quarto da casa, um ambiente escuro, sem janelas. A cama de casal divide espaço com o berço de Isabelle e uma dúzia de caixas usadas como armário, abrigando o que sobrou da residência anterior, bem mais espaçosa, com dois quartos, sala, banheiro, cozinha e quintal. Não foi tempestade nem avalanche o que dizimou o lar de Tanice. Ela era uma das cerca de seis mil pessoas que viviam na ocupação de Pinheirinho, também em São José dos Campos, e tiveram de abandonar suas casas às pressas no dia 22 de janeiro, um domingo, durante o processo de reintegração de posse do terreno (leia quadro acima) feito por dois mil homens armados da Polícia Militar. Três dias depois da retirada, tratores da prefeitura passaram pelo local e destruíram tudo. Desde as casas, incluindo parte do que havia dentro delas, até as hortas caseiras dos moradores. Hoje a área de 1,3 milhão de metros quadrados se resume a um monte de entulho e as 1,7 mil famílias que viviam no local não conseguiram, assim como Tanice, reconstruir suas vidas em uma moradia digna.

A operação de retirada das famílias de Pinheirinho tal qual foi feita tem sido muito criticada. “Há uma equipe de juristas trabalhando para finalizar o texto da denúncia que será encaminhado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos”, fala o defensor público Jairo Salvador, que acompanha o caso. Quando a polícia bateu à porta de Tanice, por exemplo, só houve tempo para ela pegar a pasta com documentos, um punhado de roupas para Isabelle, o carrinho e a banheira da bebê e a cachorra vira-lata Kelly. “Ainda levei muito. Teve gente que não conseguiu tirar nem os documentos”, diz. Desde então, ela iniciou uma romaria em busca de um novo lar. Já passou por abrigo, cortiço e agora está em um barracão numa área desocupada pela Defesa Civil em 2011, após um deslizamento. Ali estão algumas das famílias de Pinheirinho, o que vem sendo investigado pela Defensoria Pública. Há uma denúncia de que a própria prefeitura teria levado cerca de 20 famílias para essa área de risco. O poder público nega. Em meio à polêmica, resta a incerteza para quem está lá, pois há uma liminar pedindo a reintegração do local.
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RISCO 
Sem ter para onde ir, vários ex-moradores de Pinheirinho estão em
área desapropriada pela Defesa Civil após deslizamento em 2011
Refazer a casa é um exercício diário de ignorar as perdas e lutar para ter de volta o que foi perdido. Todos os meses, o boleto das prestações a vencer lembra Tanice do guarda-roupas, da cômoda e da máquina de lavar que ela havia acabado de comprar e ainda lhe custam R$ 230 mensais. Ela já não tem mais nenhum dos bens, mas deve ainda oito parcelas à loja. Além deles, se foram as duas batedeiras profissionais, os bicos de confeitar, as formas, o liquidificador e os vasilhames que usava para cozinhar. Tanice é salgadeira e doceira profissional e vivia da renda dos seus quitutes. Sem o equipamento, improvisa tecendo encomendas de crochê e com o auxílio-moradia de R$ 500 – pago a 1.630 famílias de Pinheirinho, de acordo com a Prefeitura. Para trabalhar fora, precisaria deixar Isabelle em uma creche, mas, mesmo com o papel assinado pela assistente social, ela não consegue vaga. Desde que perdeu a casa, Tanice gasta seus dias tentando resolver problemas. Do lar em Pinheirinho, restou só um cartão com o número 633, etiqueta dada pela polícia durante a desocupação e que lhe valeria o direito de recuperar todos os bens que estavam dentro do imóvel, o que nunca aconteceu. “Pus essa casa de pé com o dinheiro do meu trabalho. A gente sabe que casa para todo mundo o governo não tem condição de dar. Desse então o terreno e a gente construía.”

Não só bens materiais foram perdidos com a remoção. O convívio social também foi reduzido a frangalhos. O êxodo forçado fez os moradores se espalharem por mais de uma dezena de bairros de São José dos Campos. “Quando falamos em direito à moradia, não estamos dizendo apenas da casa. Ela é uma espécie de porta de entrada para os outros direitos, como educação, saúde, trabalho, privacidade”, afirma Raquel Rolnik, relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o direito à moradia adequada. Ouvir os relatos dos retirados de Pinheirinho é atestar que nada disso foi levado em conta durante a operação policial. Há 620 processos de ex-moradores correndo na Justiça – reclamando desde a perda do mobiliário, até a morte de animais de estimação e denúncias de violência policial. “Eles não podiam ter feito a remoção de uma hora para a outra”, critica Raquel, que, como relatora da ONU, enviou uma carta ao governo brasileiro pedindo ao poder público federal que se posicione sobre o assunto.
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A história da família de Tanice ilustra bem o impacto da reintegração de posse na vida dos ex-moradores. Enquanto viveu em Pinheirinho, ela e a irmã Tânia Rosilene Martins, 48 anos, eram vizinhas. Agora cada uma está em um canto da periferia de São José dos Campos, distantes 20 quilômetros. “Ligo para a Tanice todos os dias”, diz Tânia. Além da irmã, Tânia teve de se separar da filha do meio, Gisele, 26 anos, grávida e que foi morar com a avó paterna. Restou só a filha mais nova, Tainara, de 11 anos. As duas vivem em uma espécie de cortiço onde pagam R$ 400 de aluguel mais R$ 40 por pessoa para custear água e luz. O valor dá direito a menos de 30 m² de um espaço precário. “Tem goteiras na sala e no quarto. Quando a gente liga o chuveiro, cai a luz”, afirma Tânia. 

A grande alegria de Tânia atualmente é ter novamente Elisângela Silva, 39 anos, morando ao seu lado. “Pulei quando a vi chegando aqui”, diz, relembrando o dia em que se deparou com a ex-vizinha de porta subindo as escadas do cortiço. A mesma reação teve Iane, filha mais velha de Elisângela e amiga de Tainara. “Estava com medo de chegar aqui e não ter ninguém da minha idade”, conta ela, que tem 11 anos, assim como a filha de Tânia. Foi uma dor a menos reencontrar a amiga de Pinheirinho. “Na escola nova já tinha sido muito difícil fazer amizades”, diz a menina, que teve de ser transferida. Iane foi uma das crianças que presenciaram a desocupação. Ela se lembra do policial mandando a família sair e da angústia de não conseguir fazer caber seus pertences na sacolinha em que pôs tudo o que pôde nos 15 minutos de prazo para desocupar a casa onde viveu por cinco anos. Sobre as coisas que perdeu e sente falta, é singela: sente saudade das amigas que nunca mais viu e queria de volta o diploma de participação nas oficinas do Proerd, programa de resistência às drogas da Polícia Militar.
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Mesmo após quatro meses da retirada das famílias de Pinheirinho, muitos moradores ainda batalham para ter de volta os bens recolhidos pela prefeitura antes da passagem dos tratores. Uma delas é a costureira Sônia Maria da Silva, 43 anos. Depois da saída forçada, ela voltou por três dias consecutivos à área para tentar pegar sua mobília. Não conseguiu e recebeu a informação de que suas coisas seriam enviadas para um galpão, à beira da rodovia Presidente Dutra. Desde então, realiza com frequência um cansativo périplo até o local na esperança de reaver seus bens. Nas mãos, leva sempre o cartão em que se vê impresso “718”, número colocado pelos policias na sua casa. “Já paguei carreto duas vezes para pegar minhas coisas, R$ 100 cada, e até agora não consegui tirar nada”, afirma Sônia, que desistiu de chamar o caminhão e agora vai sozinha ao galpão. Lá, a cena se repete semanalmente: ninguém vem atendê-la. Enquanto não consegue refazer o lar, a costureira deixa a filha Giselia, 8 anos, e a sobrinha Raíssa, 12, com a irmã, em São Paulo. “Minha filha chora até hoje e pede para voltar. Na cabeça dela, a casa ainda existe.” Mas Pinheirinho não passa de um retrato desbotado estampado nas camisas de protesto de seus ex-moradores.

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Como o crime organizado corrompeu o Vaticano



Mafioso sepultado ao lado do corpo de papas lavava dinheiro  

com auxiliares de João Paulo II e é acusado de sequestrar e   


matar a mando de um cardeal

Flávio Costa
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INVESTIGAÇÃO 
Corpo do criminoso Enrico De Pedis, chefe de uma das quadrilhas mais
poderosas de Roma, é retirado da Basílica de Santo Apolinário
O desaparecimento da adolescente Emanuela Orlandi, ocorrido há quase três décadas, está obrigando a Itália a desenterrar a incômoda relação entre o crime organizado e a Santa Sé. O caso lança luz sobre a história da Banda della Magliana, quadrilha que comandou, durante duas décadas (1970-1990), o crime organizado de Roma por meio de uma intrincada rede que envolvia tráfico de drogas, prostituição, sequestros, homicídios e atentados políticos. O lucro das atividades ilegais era lavado em bancos ligados à Santa Madre Igreja. O desenrolar desse novelo promíscuo começou, na semana passada, com a exumação do corpo de Enrico ‘Renatino’ De Pedis, ex-capo da Magliana, enterrado “com honras de benfeitor dos pobres” na Basílica de Santo Apolinário, ao lado de papas e cardeais. A retirada do cadáver da sacrossanta sepultura vem no bojo da investigação da polícia e do Ministério Público da Itália sobre o paradeiro de Emanuela. Filha de um alto funcionário do Vaticano, a garota teria sido sequestrada pelo gângster, a mando do controverso cardeal americano Paul Marcinkus (1922-2006), conhecido em vida como o “banqueiro de Deus”, e assessor direto do papa João Paulo II.
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Em 22 de junho de 1983, Emanuela, então com 15 anos, desapareceu após sair de uma aula de música, na praça Navona, a poucos metros da igreja que abrigaria anos depois os restos mortais de Enrico De Pedis – assassinado a tiros em 1990, em uma emboscada. O terceiro protagonista dessa história, o arcebispo Marcinkus, foi o pivô do maior escândalo financeiro do Vaticano: a quebra do banco Ambrosiano, então maior entidade privada do país, no início dos anos 1980. À época, o religioso presidia o Instituto para as Obras da Religião (IOR), o chamado Banco do Vaticano, que possuía 16% do capital do Ambrosiano. A Justiça italiana descobriu um complexo esquema de corrupção, que incluía pagamentos ilegais e desvio dos fundos para enriquecimento particular. Há provas, ainda, de que a Magliana injetava dinheiro no banco controlado pela Igreja Católica. Marcinkus foi afastado de Roma e morreu no ostracismo em Phoenix (EUA).

A trama que liga os destinos da adolescente, do mafioso e do cardeal começou a ser desvendada somente em julho de 2005, por meio de um telefonema anônimo ao programa de TV RAI-3 “Chi l’ha visto?” (Quem a viu?): “Se quer saber mais sobre Emanuela, olhe no túmulo de De Pedis...”, dizia a voz masculina, nunca identificada. Para espanto geral, a polícia descobriu que o criminoso estava enterrado na Basílica de Santo Apolinário. Um documento oficial do Vaticano afirmava que o criminoso, responsável por diversos assassinatos, realizou “contribuições particulares para jovens, interessado, sobretudo, em sua formação cristã e humana”. Descobriu-se também que ele pagou pela sepultura um milhão de liras (450 mil euros) ao cardeal Ugo Poletti, então vigário-geral de Roma.

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PERDA 
Pietro Orlandi espera há 29 anos pelo esclarecimento do sumiço da irmã Emanuela: 

“Ela sofreu uma injustiça que não lhe permitiu viver a vida”
Os investigadores italianos chegaram à figura da prostituta Sabrina Minardi. Ex-amante de Enrico De Pedis, Sabrina afirmou, em juízo, que Emanuela Orlandi foi assassinada por ele e seu corpo foi envolto em um saco e jogado em uma betoneira em Torvaianica, uma província de Roma. Sabrina declarou, ainda, que o sequestro da adolescente foi executado por ordem do arcebispo Paul Marcinkus “como se quisessem dar uma mensagem para alguém acima deles”. O pai da garota, Ercole Orlandi, teve acesso a papéis comprometedores sobre a relação entre o crime organizado e a Igreja. Por sua vez, o criminoso queria reaver o dinheiro investido por sua gangue nos bancos papais. “São acusações infames, sem provas, sobre o monsenhor Marcinkus, morto há vários anos e impossibilitado de se defender”, afirmou o Vaticano, após a divulgação do depoimento de Sabrina.

Começou-se então a se especular que os restos mortais da adolescente estavam escondidos junto à cripta do criminoso. Só agora, porém, anos depois do depoimento de Sabrina, o Ministério Público italiano conseguiu a autorização para abrir a sepultura. A identificação foi confirmada, por meio da verificação das impressões digitais, graças ao alto nível de preservação do cadáver, guardado em três caixões de zinco, cobre e madeira, e envolto em um sarcófago de mármore. Outras dezenas de caixas com ossos encontrados nas proximidades do caixão serão periciadas. Por enquanto, nada foi encontrado que possa esclarecer o que aconteceu a Emanuela. Após os exames finais, o corpo de De Pedis será enterrado em um cemitério comum de Roma. A família de Emanuela espera, um dia, ter a mesma oportunidade. 
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Doutor cão


O melhor amigo do homem ganha novas funções para ajudar

 a proteger a saúde humana


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TESTE 
Os animais são treinados a detectar tumores pelo cheiro das amostras
Cachorros costumam ser aliados da boa saúde humana. São companheiros na caminhada, reduzem o estresse, diminuem a depressão. Agora, um canil na Inglaterra está começando a treinar cães para identificar tumores pelo cheiro. O trabalho está sendo feito no Medical Detection Dogs, um serviço filantrópico que trabalha em parceria com universidades e institutos de saúde britânicos. Atualmente, há seis cachorros em estágio avançado de treinamento, o que significa dizer que já são capazes de detectar com sucesso a presença de determinados tipos de câncer.

A ideia de usar os animais partiu da pesquisadora Claire Guest, hoje coordenadora do centro. Ela foi uma das responsáveis por um dos primeiros estudos sobre a capacidade de os cachorros usarem o olfato para encontrar tumores. A pesquisa dela foi publicada em 2004 no jornal científico “British Medical Journal”. De lá para cá, outras pesquisas foram realizadas.
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AVISO 
Billy alerta Beth quando as taxas de açúcar no sangue da garota estão baixas
Uma das mais recentes foi conduzida por cientistas alemães e publicada no “European Respiratory Journal”. Os cães – labradores e pastores australianos – acertaram na identificação de tumor de pulmão em 71% das vezes. Não se sabe ao certo como os animais fazem essa detecção. Uma das hipóteses seria a de que os tumores teriam em sua composição substâncias químicas voláteis, identificáveis pelo olfato extremamente apurado dos cachorros.

O treinamento para chegar a esse estágio é longo. Antes, eles passam pelo menos um ano sendo ensinados a obedecer a comandos. “Sem isso não conseguimos avanços”, explicou à ISTOÉ Anna Webb, integrante do centro. Depois, são treinados a reconhecer o cheiro de amostras extraídas de pacientes enviadas por hospitais. A cada acerto, ganham uma recompensa. O objetivo final é descobrir de que maneira os animais fazem a identificação e usar as informações para a criação do que os cientistas chamam de “nariz eletrônico”. “Esse aparelho seria usado para detectar tumores em amostras de urina”, disse Anna.

No centro, também há cães sendo treinados para acompanhar diabéticos. Nesse caso, os animais aprendem a detectar uma crise hipoglicêmica (queda da taxa de açúcar no sangue) pouco antes de ela ocorrer. O labrador Billy hoje anda o tempo todo com a adolescente Beth Jeans. Portadora de diabetes tipo 1, ela também apresenta doença celíaca (intolerância ao glúten), o que torna o controle dos níveis de glicose ainda mais difícil. Sempre que detecta a manifestação de uma crise, o labrador lambe a mão da dona ou choraminga.“Uma vez ele me alertou quando tomava banho de banheira”, lembra a garota. “Era uma situação perigosa. Se tivesse desmaiado, poderia ter me afogado. Com ele, me sinto mais segura.”  


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O fardo da felicidade


Pesquisas mostram como a busca incessante por ser feliz e a 

negação do sofrimento podem tornar as pessoas cada vez mais 

angustiadas


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CERTEZA 
Ser alegre o tempo todo nunca foi uma meta para Jeanne. 
Adepta do zenbudismo, para ela o fundamental
é manter o equilíbrio quando o humor oscila
Depois de devorar mais de 30 livros de autoajuda, a webdesigner Mariana Frioli, 28 anos, chegou a duas conclusões a respeito de sua busca por felicidade. A primeira, de que seria inviável ser feliz 100% do tempo, como sugeriam os títulos. A segunda, de que faltava à maioria das obras esse alerta. “Quase tudo que li apresentava um mundo perfeito, que não correspondia à realidade e onde parecia ser possível ser boa em tudo o que se faz e feliz o tempo todo”, diz. Depois dessa imersão, a webdesigner decidiu aposentar a coleção na estante e resolver por si só os momentos difíceis, sem fugir deles. Nem todos, porém, conseguem fazer como Mariana e tirar da cabeça a obsessão pelo bem estar incessante. “É emblemático esse dogma contemporâneo de que pessoas de sucesso são aquelas que, independentemente de suas perdas, dores e fracassos, se mantêm, aparentemente, inabaláveis e demonstrando que a felicidade é sua companheira permanente”, afirma a consultora Lêda Dutra, que estuda os valores humanísticos no mundo dos negócios. Como a pesquisadora, vários estudiosos engrossam o coro contra a tirania da felicidade. O xis da questão, bem definido pelo filósofo Pascal Bruckner, autor de “A Euforia Perpétua” (Difel), é que não ser feliz se tornou imoral hoje em dia. “Em vez de admitirmos que a felicidade é um evento indireto que nos chega ou não por meio de objetivos secundários, nós a consideramos um objetivo acessível imediatamente, por meio de receitas”, escreveu Bruckner.

Tanta ânsia por uma alegria constante e eterna tem seus efeitos colaterais. O gerente administrativo Celso Riquena, 44 anos, bem sabe disso. “Li livros de autoajuda para tentar ser mais feliz, mas, em um determinado momento, percebi que o efeito dessa busca era contrário: estava mais infeliz”, afirma. O sentimento que Riquena experimentou é comum entre quem elege a felicidade como objetivo de vida, diz a pesquisadora June Gruber, do departamento de psicologia da Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Ela é coautora do artigo “O lado negro da felicidade?”, uma revisão científica sobre o tema, publicada no ano passado. “Pessoas que valorizam demais ser feliz podem acabar sendo menos felizes que as demais”, disse à ISTOÉ. “Isso porque, se geram muitas expectativas, acabam se desapontando quando não conseguem atingir a felicidade idealizada.” As mais suscetíveis são justamente as pessoas emocionalmente vulneráveis – com tendência à ansiedade ou à depressão. Nessas, pensar demais sobre o assunto pode acabar agravando o quadro mental, conforme apontou um estudo guiado pela psicóloga Tamlin Conner, da Universidade de Otago, na Nova Zelândia. Para chegar à conclusão, a cientista examinou 162 voluntários durante duas semanas. No período, eles deveriam reportar diariamente como estavam se sentindo. “Eles já estavam experimentando menos felicidade e a necessidade de reportar isso com frequência lhes reforçava o sentimento”, disse Conner à ISTOÉ.
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Outro lado cruel do fetiche por ser feliz é não conseguir enxergar as sutis nuances do que significa felicidade para cada um. A administradora Claudia Cerullo, 42 anos, é exemplo disso. Ela é cotidianamente contestada por sua decisão de viver sozinha. “Já ouvi várias vezes ‘coitadinha da Claudia, não tem namorado’”, diz. “Mas eu não quero me casar, sempre quis morar sozinha.” Some-se a essa perda da singularidade das formas de se viver a felicidade um sintoma ainda mais grave: a recusa ao sofrimento. “A dor não tem sentido nesse contexto em que é obrigatório ser feliz. Ela não é vista como oportunidade de se repensar o que se quer na vida”, diz o filósofo Paulo Vaz, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Encarar a dor pode parecer um caminho difícil, mas aprender a lidar com esse sentimento torna mais fácil encarar as oscilações de humor cotidianas. “Aprendi que, do mesmo modo como os momentos felizes passam, os ruins também acabam”, afirma a farmacêutica Jeanne Pilli, 46 anos. Adepta do zenbudismo, ela busca em algumas ferramentas, como a meditação, meios para enfrentar com mais serenidade as inevitáveis situações de angústia e sofrimento do dia a dia. “A tristeza faz parte da vida”, avalia Araceli Albino, coordenadora do Núcleo Brasileiro de Pesquisas Psicanalíticas e presidente do Sindicato dos Psicanalistas de São Paulo “Quem fica triste é porque foi afetado pelo amor, sentimento que humaniza o homem.” Parece que muita gente esqueceu disso.  
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MUDANÇA 
Depois de ler cerca de 30 livros para aprender a ser mais feliz,
Mariana descobriu que não existe fórmula mágica

Caos nos trilhos


Acidente no metrô de São Paulo, aliado às panes diárias e à 

superlotação, expõe as péssimas condições do transporte 

ferroviário do País


Paula Rocha e Michel Alecrim
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LOTAÇÃO
Plataforma de embarque do metrô paulistano em horário 
de pico: muitos passageiros para poucos trens
O Brasil assistiu perplexo, na quarta-feira 16, a cenas de confusão e desespero no metrô de São Paulo. Por volta das 10 horas, um trem lotado de passageiros colidiu com outra composição parada nos trilhos da linha 3 – Vermelha, a mais movimentada da cidade. Com o impacto, pessoas rolaram e caíram no chão, e ao menos 49 se feriram. Além da inesperada colisão, os passageiros ainda tiveram de lidar com a falta de informações por parte da administração do metrô. O episódio, que isolado seria apenas uma lamentável ocorrência, passa a integrar a vertiginosa estatística de panes e falhas no sistema de transporte sobre trilhos no País. Somente na capital paulista foi registrada, em média, mais de uma falha por semana no metrô, nos primeiros meses de 2012, segundo dados oficiais. Na cidade do Rio de Janeiro, o problema se repete. Só em 2011 foram ao menos 84 incidentes, somando trens e metrô (leia quadro na pág. 84). Diante de tantos transtornos, os brasileiros se perguntam: até quando teremos de contar com uma malha ferroviária insuficiente e ultrapassada?
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CHOQUE 
A colisão entre dois trens deixou ao menos 49 pessoas feridas na
linha 3 – Vermelha do metrô de São Paulo: falha no sistema
Intervalos demorados, vagões super lotados e falta de mais estações são velhos conhecidos de quem depende do transporte público sobre trilhos no País. Nos últimos anos, porém, a frequência de ocorrências que atrasam e atrapalham a vida dos cidadãos tem aumentado no embalo do crescimento do número de usuários. Em março, o sistema de trens de passageiros da região metropolitana de São Paulo atingiu seu recorde: 7,1 milhões de pessoas transportadas por dia. O crescimento da demanda, no entanto, não se reverteu em maiores investimentos. De acordo com dados do Sistema de Informações Gerenciais da Execução Orçamentária (Sigeo) do Estado de São Paulo, o orçamento para o metrô paulista sofreu uma redução de 20% entre 2010 e 2011, passando de R$ 637 milhões para R$ 512 milhões. O mesmo ocorreu com a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), que registrou as maiores reduções nas linhas 9 – Esmeralda e 7 – Rubi, justamente onde ocorreram frequentes panes elétricas. Em sua defesa, a CPTM alegou que não houve redução do orçamento, mas uma “contenção de investimentos até que os recursos da arrecadação entrassem em caixa”.
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No Rio de Janeiro, passageiros também são obrigados a enfrentar uma rotina de caos. A superlotação é o maior problema daqueles que saem do subúrbio da capital ou de municípios da região metropolitana em direção, principalmente, ao centro ou à zona sul cariocas. Por conta da falta de investimentos nas últimas décadas, que fez com que a frota tenha mudado muito pouco, também são constantes as falhas técnicas. Para completar o quadro, os passageiros ainda são maltratados. Na estação de trem de Madureira, na zona norte, em 2009, passageiros foram espancados por seguranças da empresa Supervia. Como o número de usuários nas composições era tão grande que impedia o fechamento das portas, os funcionários partiram para a brutalidade. Imagens de agentes “chicoteando” usuários com cordões chocaram o País na época.

Sobre o acidente da quarta-feira 16, o presidente do metrô de São Paulo, Peter Walker, declarou que a colisão foi resultado de uma falha no sistema de controle eletrônico dos trens. “O operador disse que recebeu a mensagem ‘linha livre, continue’, então continuou”, disse Walker. Já para o presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Altino de Melo Prazeres Júnior, o incidente prova que o sistema ferroviário precisa passar por uma revisão. “O sucateamento do sistema é o responsável por esse acidente e por vários outros”, afirmou. “É preciso contratar mais funcionários, modernizar os equipamentos e aumentar a malha.” A entidade ainda declarou que fará greve na quarta-feira 24, por reajuste salarial, a exemplo da paralisação que afetou milhares de pessoas nas cidades de Belo Horizonte (MG), Recife (PE), Maceió (AL), João Pessoa (PB) e Natal (RN), na semana passada. Para o engenheiro Telmo Porto, professor da Escola Politécnica (Poli) da USP (Universidade de São Paulo), a solução para o transporte sobre trilhos no Brasil é uma só: construir mais quilômetros de linhas. “Fórmula mágica não existe. Mas pelo menos uma coisa é reconfortante: pior do que está não fica”, diz Porto. Mais do que isso, os brasileiros esperam que melhore.
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Record perde R$ 100 mi e divide Igreja Universal



Record perde R$ 100 mi e divide Igreja UniversalFoto: Montagem/247

PREJUÍZO PROJETADO PARA ESTE ANO SE SOMA A PERDAS DE R$ 60 MILHÕES EM 2011; CORRENTE DA IGREJA UNIVERSAL DEFENDE FIM DE GASTOS COM JORNALISMO E ENTRETENIMENTO PARA FORMAR GRADE AINDA MAIS RELIGIOSA; DIRETOR ARTÍSTICO HONORILTON GONÇALVES É CONTRA; DE QUE LADO EDIR MACEDO VAI FICAR?

19 de Maio de 2012 às 16:15
247 – A julgar pelas projeções de forte prejuízo financeiro na sua TV Record, as preces por lucro do líder da Igreja Universal, Edir Macedo, ou não estão sendo feitas, ou vêm sendo em vão. Informação da coluna Radar, do jornalista Lauro Jardim, dá conta de que o 'bispo' foi comunicado sobre uma perda projetada em R$ 100 milhões para a emissora em 2012. O buraco  é 66% maior que o aberto no ano passado,  quando a Record entrou no vermelho em R$ 60 milhões. E isso com a Igreja tendo injetado cerca de R$ 500 milhões por meio da compra de horários noturnos para a transmissão de programas religiosos.
O pagamento de US$ 60 milhões pelo direito de transmitir com exclusividade as Olimpíadas de Londres pesou no resultado negativo da emissora, assim como o envio de cerca de 300 profissionais à capital britânica para a cobertura.
Acredita-se que o prejuízo deve reativar a luta interna existente na Igreja em torno da administração da Record. Uma corrente defende que a emissora assuma uma programação ainda mais religiosa, retrocedendo em relação a programas de entretenimento e cunho jornalístico. Sustentam que os gastos são altos. Essa corrente tende a se fortalecer nesse momento em que, além do prejuízo, a Record amarga uma de suas piores fases em relação à audiência. No horário nobre, a emissora do 'bispo' perdeu 12% de audiência em abril comparado com o mesmo período do ano passado.
A manutenção da atual grade de programação é defendida pelo grupo que tem como líder o atual diretor artístico, Honorilton Gonçalves. Para ele, a Record deve continuar investindo numa guerra direta contra a Rede Globo, apesar dos custos a serem enfrentados.
Entre as duas alas, Macedo, agora, tem novos elementos para pensar no que fazer. Mais precisamente,  100 milhões de reais em elementos.

Novas gravações complicam jornalista da revista Veja


Do R7

Áudio aponta que Policarpo Júnior sabia dos negócios de Cachoeira com a Delta
Novos áudios da Operação Monte Carlo que vazaram na internet complicam ainda mais a situação do jornalista da revista Veja Policarpo Júnior, gravado pela Polícia Federal em ligações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira e citado pelo grupo do contraventor em dezenas de diálogos.

A gravação das conversas, publicada pelo site Carta Maior, é de 10 de maio de 2011. Em diferentes trechos, Cachoeira conversa com o ex-diretor da Delta no Centro-Oeste Cláudio Abreu, deixando claro que Policarpo sabia da ligação do contraventor com a Delta. Mas, segundo Cachoeira, Policarpo não iria divulgar nada porque a intenção era mostrar outra questão ligada à empresa. emumdEm um dos trechos, Cachoeira diz que Policarpo não os "colocaria em roubada" e que ele "sabia de tudo" sobre a relação de Cláudio Abreu, a Delta e o bicheiro.

— O Policarpo é o seguinte: ele não alivia nada, mas também não te põe em roubada, entendeu? Eu falei, eu sei, ó: “Inclusive vou te apresentar depois, Policarpo, o Cláudio, eu sou amigo”, eu falei que era amigo do cê de infância. E ele: “Então, ele trabalha na sua empresa”, falou assim, “vai me contar que você tem ligação com ele”. Ele [Policarpo] sabia de tudo. “Eu não vou esconder nada de você não, Policarpo, o Cláudio é meu irmão, rapaz”.
Ouça o áudio da conversa entre Cachoeira e Abreu
O jornalista não teria interesse em publicar essa informação. A intenção dele seria mostrar que o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu havia ajudado a Delta a “entrar em Brasília” durante a gestão do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda.
Policarpo teria ficado sabendo por uma fonte fora do grupo de Cachoeira que houve uma reunião em Itajubá (MG) e estaria atrás de um flagrante da entrega de "dinheiro vivo". O bicheiro, entretanto, negou que tenha ocorrido essa reunião e desmentiu a informação.

No final de semana anterior, a revista Veja publicou a reportagem “O segredo do sucesso”, em que vinculava o crescimento da empresa Delta à consultoria de José Dirceu.

Segundo Cachoeira, no diálogo gravado pela PF, Policarpo o consultava porque confiava nele.

— Aquela hora eu tava com Policarpo, rapaz. Antes do almoço ele me chamou para conversar. Mil e uma pergunta, perguntou se a Delta tinha gravação, defendi pra caralho vocês, viu. [...] O Policarpo, ele confia muito em mim, viu? Vô ter que mostrar a mensagem que ele mandou antes, 10 horas da manhã para me encontrar aqui em Brasília, eu tava aqui fui me encontrar com ele.

Mesmo diante da resposta de que Cachoeira teria defendido a empresa, Cláudio Abreu pergunta:
— O cara vai aliviar pra cima da gente? 
O bicheiro então confirma que "a história" que Policarpo queria era outra e pede que o ex-diretor da Delta esqueça o assunto.

— Não, não fala que eu te falei tá? Mas a história tá em cima de Itajubá, tá na reunião, que aquilo lá já deu, esquece, ô, Claudio, esquece, falei mil e uma coisa.

Procurada pela reportagem do R7, a revista Veja disse que não vai comentar o assunto.
Depoimento

Na última reunião da CPI, na quinta-feira (17), mesmo com apoio do senador Fernando Collor (PTB-AL) e de parte da bancada do PT, os parlamentares desistiram de pedir à PF as gravações telefônicas das conversas entre Cachoeira e o jornalista Policarpo Junior, diretor da sucursal da revista Veja e um dos redatores-chefes da publicação.

Diante da forte reação da oposição e de parlamentares da base aliada, a comissão preferiu apoiar uma proposta para pedir à PF o repasse, ordenado por nome, de todos os grampos telefônicos feitos nas operações Vegas e Monte Carlo.
Em termos práticos, a decisão não muda em nada a intenção de acesso às conversas do jornalista.
Para justificar o envio das conversas entre o contraventor e o jornalista, Collor disse, no início dos debates, que é preciso analisar os trechos dos diálogos para verificar se fica comprovado "um conluio mancomunado entre Policarpo Júnior e Carlinhos Cachoeira".

O líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), insistiu na aprovação do pedido de Collor com o argumento de que "nenhuma profissão pode cometer crimes".

— Esse jornalista teve uma relação de 10 anos com esse criminoso.

O delegado da Polícia Federal Matheus Mella Rodrigues, responsável pela Operação Monte Carlo, disse em depoimento à CPI, que o jornalista Policarpo Júnior sabia das ligações entre Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). A informação foi publicada pela revista Carta Capital.
Mesmo assim, Veja mostrava para seus leitores Demóstenes como referência de ética no Senado.

Ayres Britto: Constituição proíbe cartelização da mídia



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O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Carlos Ayres ambiciona a unanimidade, a radicalidade, a plenitude - palavras que, como poeta, gosta de exercitar.
Nas discussões da Lei de Imprensa, é o que o leva a discorrer sobre os dois ângulos básicos – os direitos fundamentais e as responsabilidades inerentes – e permitir ao interlocutor utilizar o que bem lhe aprouver. Parece não se importar muito com o resultado final da explanação: a maneira como seu discurso chega à opinião pública.
Nos últimos meses são recorrentes entrevistas onde trata o direito de imprensa como valor absoluto – superior a todos os demais, inclusive os direitos individuais.
Na entrevista que me deu, explica que sempre expõe os dois ângulos da questão. Mas a “grande mídia” só divulga um deles. Ora, se a palavra do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) chega a todo o poder judiciário através de suas entrevistas na mídia, porque permite que as entrevistas sejam sempre instrumentalizadas?
Em uma hora e meia de almoço agradável em Brasília, Ayres expôs seus pontos de vista sobre a Lei de imprensa e sobre as mudanças na mídia - que ele taxa como mudanças de ruptura, devido ao advento da Internet.
Cabe ao STF zelar pela Constituição e Ayres Britto é fundamentalmente um constitucionalista. Então, sua visão sobre a liberdade de imprensa corresponde ao que entende que a Constituição reza, além da análise comparada com o direito em países de democracia madura.
Diz Ayres Britto que o país atravessa momentos de ruptura em todas as áreas. E que o STF está atento a essas mudanças, tomando a dianteira de uma série de bandeiras modernizantes, como a morte dos anencéfalos, o casamento homossexual e assim por diante. É fato.
Diz também que a imprensa atravessa o mais importante momento da sua história, a grande ruptura com a democratização dos meios de comunicação, através da Internet.
Feito o preâmbulo, expõe seu raciocínio sobre a liberdade de imprensa.

Liberdade de imprensa como direito absoluto

A Constituição estabeleceu o essencial e o lateral para a liberdade de imprensa.
O essencial, a radicalidade – diz Ayres – é que sob qualquer forma a liberdade de imprensa não poderá sofrer nenhuma restrição, “observado o disposto nesta Constituição” – ou seja, a liberdade de imprensa sujeita-se diretamente à Constituição, não às leis. O parágrafo 1o já é definitivo: “Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir em embaraço à plena liberdade de informação jornalística”.
Significa que, sob nenhuma hipótese, haverá censura prévia, veto à manifestação do pensamento, criação, expressão e informação. E a Constituição chamou a si esse dispositivo, tirando do campo das leis. Ponto.
Há dois blocos de direitos fundamentais, diz ele: um constituído pelos bens jurídicos - intimidade, vida privada, honra e imagem; bloco de bens de personalidades. O segundo bloco é a  manifestação do pensamento, criação, expressão e criação. Os dois blocos tendem ao tensionamento, diz Ayres.
A Constituição fez sua opção: no limite, no entrechoque, vou preferir a liberdade de imprensa. Depois, vou cobrar no plano das consequências: direito de resposta, indenização, injúria, calúnia, difamação.
É como se Constituição dissesse: eu vou pré-excluir a apreciação do juiz em relação aos dois blocos.
Os limites à liberdade absoluta
Publicada a notícia, entra-se no campo das responsabilidades. É aí que se definem os limites ao poder absoluto da mídia.
Respeitado o sigilo de fonte, a Constituição prevê o direito de resposta, proíbe o anonimato, criminaliza os excessos que caracterizam calúnia, injúria e difamação, diz Ayres Britto.
A questão é que em todas as manifestações públicas de Ayres, há a defesa intransigente da liberdade de imprensa como valor absoluto, e nenhuma das responsabilidades inerentes ao exercício desse poder.
Diz Ayres Brito:
-       Sempre atendo ao convite da grande imprensa para falar sobre o tema. Mas nunca deixo de dizer que ela pratique a mesma democracia que exige externamente. Só que, quando faço advertências, a imprensa não publica.
Há poucos dias Ayres falou em São Paulo a convite do Ives Gandra da Silva Martins. Segundo suas palavras, sua mensagem foi a seguinte:
-       Ninguém é ingênuo para ignorar que a imprensa é constitutiva de um grande poder social. Como dizia Montesquieu, quem detém poder tende a abusar dele e só esbarra quando encontra limites externos. Disse com todas as letras:  é preciso que discutamos sobre o poder social da liberdade da imprensa na perspectiva do controle. E que não pode ser  controle estatal.
Divulgou-se apenas o direito absoluto, não a necessidade de formas de controle social.
-       Quando faço advertências, a imprensa não publica. O que me cabe é explicar o voto, e o voto tem dois lados. Imprensa só coloca o lado que interessa.

Cartéis e monopólios

A palavra do presidente do STF chega a todo o poder judiciário através das entrevistas que ele dá – muito mais do que das súmulas, de alcance restrito.  Se a imprensa divulga apenas parte do discurso, há algo de errado.
Ayres Brito concorda.
-       A Constituição é cautelosa. No parágrafo 5o diz que os meios de comunicação não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio. A Constituição proíbe oligopólio e monopólio.
Ora, então tem-se uma situação de fato que conflita com o disposto no espírito que rege a liberdade de imprensa.
Explico meu caso: meses e meses sofrendo toda sorte de abusos da revista Veja, de colunas difamatórias na revista a toda sorte de difamação nos blogs. Quando recorro ao Direito de Resposta, a juíza Luciana Novakoski Ferreira postergou por três anos o julgamento, alegando que a revogação da Lei de Imprensa acabou com o Direito de Resposta.
Ayres Britto é taxativo: não acabou.
Na semana passada ele anunciou a criação de um fórum no âmbito do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) visando impedir que juízes de primeira instância sobreponham os direitos individuais, os chamados bens jurídicos, ao primado da liberdade de expressão.
Ayres Britto diz que houve má interpretação sobre esse fórum. Sua intenção será estudar as relações entre poder judiciário e liberdade de imprensa, mas tematicamente. Não lhe cabe, nem é da função do CNJ, entrar no mérito das decisões judiciais.
Em anexo, dois votos do Ministro, um sobre a Lei de Imprensa, outro sobre o humor na política.

R$ 20 mi para irrigar cachoeira de Marconi



R$ 20 mi para irrigar cachoeira de MarconiFoto: Andre Borges/Folhapress

CARLINHOS CACHOEIRA PRODUZIU OUTRA CACHOEIRA EM GOIÁS: A QUE DESÁGUA NOS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO DO ESTADO JUNTO COM FARTA MENSAGEM DE ELOGIOS AO GOVERNADOR. É DINHEIRO QUE NÃO ACABA MAIS...

19 de Maio de 2012 às 12:27
Goiás 247 – A imagem é inevitável. Cai do alto para o chão seco dos veículos de comunicação de Goiás dinheiro farto do Estado. A origem é a cachoeira de bondades que quer vender o governador Marconi Perillo para tentar diminuir o impacto das suas ligações perigosas com a outra, a cachoeira que o afoga em questionamentos e mata aos poucos sua vida politica: a que tem origem em Carlos Augusto Ramos, o contraventor.
Nesta sexta, a força das cachoeiras, cada uma por seu lado, resultaram em aporte de R$ 20,5 milhões em propaganda. Nas últimas semanas, o governo já vinha gastando, a se considerar a presença maciça do governador na mídia goiana. Agora, vai aos píncaros, como relata o jornalista Josias de Souza em sua coluna.

19/05/2012 - 4:38
Com prestígio em baixa, Perillo tira R 20 mi de fundo desenvolvimento e repassa à publicidade
Às voltas com o Cachoeiragate, o governador tucano de Goiás, Marconi Perillo, decidiu reforçar o caixa da Agência Goiana de Comunicação, autarquia vinculada à Casa Civil. Transferiu R$ 20,5 milhões de um fundo de investimentos para a área de “divulgação e veiculação das ações governamentais.”
A migração da verba foi formalizada por meio de dois decretos (141 e 142). Assinados por Perillo em 14 de maio, foram publicados no Diário Oficial do Estado no dia 17, quinta-feira (confira aqui). Nove dias antes, o jornal ‘O Popular’ veiculara pesquisa que atribuíra à gestão de Perillo um índice de desaprovação de 48,9%.
Num dos decretos do governador, foram transferidos para as arcas da agência que cuida da publicidade oficial R$ 5,5 milhões. Noutro, mais R$ 15 milhões. Nos dois casos, as verbas foram subtraídas do Fundes (Fundo de Fomento ao Desenvovimento Econômico e Social de Goiás).
Entre a assinatura e a publicação dos decretos, Perillo anunciou, em 15 de maio, a destinação de R$ 18 milhões para reformar as 120 escolas de tempo integral de Goiás. Quer dizer: aplicou em estabelecimentos nos quais estudam 17 mil alunos R$ 2,5 milhões a menos do que o montante que tonificará a publicidade.
A movimentação de Perillo dá ideia do grau de preocupação do governador com a erosão que o Cachoeiragate provoca na sua imagem. Há três dias, o governador esteve em Brasília. Longe dos refletores, participou de uma reunião na casa do senador e presidenciável do PSDB Aécio Neves (MG).
Nesse encontro, um grupo seleto de congressistas tucanos mastigou pão de queijo e digeriu explicações de Perillo. O governador reconheceu que as notícias que o vinculam a Carlinhos Cachoeira têm efeitos corrosivos, especialmente junto ao eleitorado de Goiás.
Além do anfitrião Aécio, ouviram Perillo o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE); os líderes da legenda no Senado, Alvaro Dias (PR), e na Câmara, Bruno Araújo (PE); os senadores Aloysio Nunes (SP) e Cássio Cunha Lima (PB); e os dois representantes tucanos de Goiás no Senado: Cyro Nogueira e Lúcia Vânia.
Nas páginas dos inquéritos da Vegas e da Monte Carlo, as duas operações deflagradas pela Polícia Federal contra a quadrilha de Cachoeira, abundam indícios de que o contraventor infiltrara-se na gestão de Perillo. O governador não negou o inegável. Mas atribuiu a infiltração ao senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO).
Na versão de Perillo, Demóstenes dispunha de uma cota de nomeações no seu governo. Segundo disse, a exemplo “do Brasil todo”, também ele ignorava que o senador mantivesse relações umbilicais com Cachoeira.
A nenhum dos tucanos presentes ocorreu perguntar a Perillo se a cota de Demóstenes incluía também a chefe de gabinete do governador, Eliane Gonçalves Pinheiro. Uma personagem afastada da sala ao lado da de Perillo depois que vieram à luz os grampos que revelaram diálogos dela com prepostos de Cachoeira.
Nas escutas telefônicas colecionadas pela PF, o nome de Perillo pinga dos lábios de Cachoeira e de integrantes do seu bando 237 vezes. Num dos grampos, soa a voz do próprio governador. Ele parabeniza o contraventor pela passagem do aniversário. Liguei porque o Demóstenes pediu, disse Perillo aos tucanos.
Em outro de seus achados, a PF descobriu que uma casa vendida por Perillo no elegante condomínio de Alphaville, em Goiânia, foi paga com três chegues assinados por Leonardo Almeida Ramos, um sobrinho de Cachoeira. O contraventor morava no imóvel. Foi lá que a PF o prendeu, em 29 de fevereiro.
No encontro do pão de queijo, Perillo disse que não sabia que Cachoeira estava por trás da compra da casa. Alegou que detalhes como a titularidade dos cheques escaparam-lhe porque não cuidou diretamente da transação. De resto, afirmou que, se quisesse fazer um negócio escuso, a casa não constaria de sua declaração de bens e os cheques não teriam ido parar na sua conta. Os tucanos deram-lhe crédito.
Perillo reiterou que está disposto a depor na CPI do Cachoeira. Mas ponderou que não gostaria de atravessar o escândalo como único governador a passar pela comissão. Deseja que sejam convocados também os governadores do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e do Rio, Sérgio Cabral (PMDB).
Capitaneado pelo PT, o bloco governista da CPI opera para evitar que o desejo de Perillo seja atendido. A votação dos requerimentos de convocação dos governadores foi adiada para o mês que vem. O petismo imagina que, até lá, vai ficar claro que apenas apenas o depoimento de Perillo encontra amparo nos fatos.

Os bons companheiros: Serra, Kassab, Aref e… Paulo Preto



Em 2005, o então vice-prefeito, Gilberto Kassab, indicou ao então prefeito José Serra, o nome de Hussain Aref Saab para chefiar o APROV (Departamento de Aprovação das Edificações), na Secretaria Municipal de Habitação. A indicação foi aprovada mesmo depois de Aref ter sido indicado no relatório final numa CPI, realizada pela Câmara Municipal, como suspeito de irregularidade em 71 processos de regularização de antenas de celulares, instaladas entre 1999 e 2002.
E mesmo depois de o Ministério Público tê-lo indiciado com a acusação de que, ao não analisar os pedidos de alvará em 90 dias, teria permitido que essas antenas fossem ligadas sem autorização e de forma irregular.
Coincidentemente, ou não, nos anos que Aref esteve no comando do APROV, São Paulo viveu uma “explosão” imobiliária. Tanto no que diz respeito as operações urbanas, que sob o pretexto de reurbanizar áreas degradadas beneficiam o mercado imobiliário, como também com a multiplicação de grandes empreendimentos na cidade.
Por confiar plenamente no “companheiro”, Serra e Kassab não perceberam que os fatos que se seguem aconteciam bem abaixo dos seus narizes, como se costuma dizer no populacho.
Em 2010, um grupo empresarial transferiu 6 apartamentos, na região do Parque Ibirapuera, para o nome da SB4, empresa de Hussain Aref Saab. A Servcenter, que integra o grupo empresarial, registrou o repasse dos imóveis para Aref em novembro de 2010 como pagamento por “prestação de serviços de assessoria empresarial”. Depois da transferência, empresas do mesmo grupo conseguiram liberações de alvarás na prefeitura. Um mês depois, o centro de convenções do WTC, do mesmo grupo, obteve a renovação de seu alvará de funcionamento na marginal Pinheiros –o processo estava parado há mais de um ano. Já em fevereiro de 2011, outra empresa do grupo, a Servlease, obteve o alvará de reforma de um salão de eventos nos Jardins. A aprovação saiu em cerca de um mês, quando o procedimento “normal” é muito mais demorado.
O empresário Gilberto Bousquet Bomeny, responsável pelo grupo que “pagou” a empresa de Aref com seis apartamentos, nega qualquer irregularidade. Por meio de sua assessoria de imprensa, alega que “a transação imobiliária feita não tem vínculos com o que está sendo noticiado pela imprensa”.
Ou seja, o fato de Aref ser do Aprov não é indício de nada, mesmo ele tendo recebido seis apartamentos do WTC que conseguiu sucesso na aprovação dos seus empreendimentos. Por outro lado, o fato de o ex-ministro José Dirceu ter recebido 20 mil reais de por uma consultoria para a Construtora Delta quer dizer muita coisa. Claro, evidente, uma coisa é uma coisa e outra é outra.
Além disso, documentos obtidos pelo jornal Estado de S. Paulo mostram que a construção de seis torres em uma área contaminada por produtos químicos na Granja Julieta, área nobre na zona sul, foi autorizada contrariando um ofício do Departamento de Controle Ambiental da Prefeitura, órgão ligado à Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, que alertava que o alvará foi emitido sem a aprovação das autoridades ambientais.
Além do problema da contaminação, após moradores da região entrarem com ação civil pública contra a obra, o MP alertou Aref que o empreendimento seria construído em um terreno de 10 mil m2  previsto para virar parque linear e onde existia um córrego.
O engenheiro agrônomo Eduardo Pereira Lustosa, perito do MP, enviou ofício alertando para a suspeita de que a Esser Empreendimentos, responsável pela obra, teria aterrado o córrego Maria Joaquina para erguer as torres. Todos estes pareceres oficiais foram ignorados e o alvará foi emitido.
Em 2004, a então diretora do APROV, Paula Maria Motta Lara, paralisou a construção de um edifício de 9 andares no Morumbi. Um laudo do Instituto Geológico mostrava que o terreno estava em uma APP (Área de Preservação Permanente) porque parte era em área de Mata Atlântica. Ao assumir a direção do APROV, em 2005, quando Serra assume a prefeitura, Aref libera o alvará e a construção retomada.
Mas a lambança não para por aí. A SB4 Patrimonial, empresa que administra os bens de Aref, afinal um funcionário público precisa de uma empresa para administrar seus bens, comprou, em 2009, por R$ 50 mil um apartamento na Rua Coriolano, na Lapa. O imóvel havia sido vendido, por R$ 141 mil, um mês antes, ao engenheiro Eduardo Midega pela construtora SBTEC Engenharia e Instalações.
Um mês após Aref comprar o imóvel na Lapa por 1/3 do valor que ele havia sido negociado um mês antes, o vendedor, Eduardo Midega, conseguiu o Habite-se para um empreendimento na região da Raposo Tavares.
Como diretor do Aprov, como já disse lá em na parte superior deste texto, Aref tinha vaga de suplente nas reuniões do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio (Conpresp) e não raro substituía o secretário municipal de Habitação, Ricardo Pereira Leite. O Conpresp estava debatendo no último período a revisão da Resolução 06, de 1997, que definiu o limite máximo para construção de prédios em volta do Parque Ibirapuera a até dez metros de altura. Caso essa proposta de revisão fosse aprovada, seria permitida a construção de edifícios com até 54 metros de altura na região. O que evidentemente levaria a algumas construtoras a ganhar muito, mas muito dinheiro. E só Aref sabia disso. Serra e Kassab, não. Mas o SPressoSP sabia.
A votação estava prevista para acontecer no último dia 10 de abril, mas foi adiada. O motivo do adiamento foi o pedido de vista do processo feito por um conselheiro. Quatro dias depois, Aref foi exonerado do cargo de diretor da APROV porque o prefeito percebeu que o mar de lama contra ele estava insuportável. E que o Ministério Público ou a PF em breve levariam seu assessor às barras do tribunal.
Ainda há mais lama nessa história, como  a compra de um imóvel, em 2008, por Aref, por R$ 242 mil do empresário David Carlos Antonio. O mesmo apartamento havia comprador três anos antes por R$ 1,2 milhões. David, que na época tinha um processo de anistia encalhado na prefeitura havia cinco anos, viu o mesmo voltar a tramitar 4 meses depois da negociação. E recerbeu o alvará da Aprov um ano depois.
Mas Kassab nem desconfiava de nada. Muito menos Serra. Aliás, Serra é um gestor que confia plenamente nos seus assessores. Foi assim com Paulo Preto. E também com Aref. Ninguém pode negar que ele é um bom companheiro. Ninguém pode negar…