segunda-feira, 21 de maio de 2012

A fobia, nossa velha companheira


A fobia, nossa velha companheiraFoto: Divulgação

TREMORES, SUOR FRIO, TAQUICARDIA, SUFOCAÇÃO E, POR FIM, UMA PARALISIA TOTAL: É A ESCALADA DAS FOBIAS, UMA SÍNDROME QUE VAI DO MEDO AO PÂNICO. ELAS PODEM ARRUINAR A NOSSA VIDA. COM UM POUCO DE CORAGEM E MUITA LUTA, TODAS TÊM CURA

13 de Maio de 2012 às 19:36
Milhões de pessoas em todo o mundo sofrem hoje de um mal para o qual, desde a infância, damos muito pouca ou nenhuma importância. Só há pouco tempo é aceita como uma doença e seus números a situam entre as que mais afligem a humanidade. É o medo, sua versão mais branda, e o pânico, a mais devastadora. Fobia é a palavra que define todas as suas formas.
Seus sintomas são bem conhecidos pelas vítimas: tremores, suor frio, taquicardia, sufocação e, no fim, uma paralisia total que pode ou não acontecer, e quando acontece o medo se transforma em pânico. Não tem hora para acontecer. Pode atacar mesmo quando a pessoa está dormindo, e destrói sua vida. Quando a fobia se estabelece, o prazer de viver desaparece.
A doença é cruel. Muitas pessoas, mesmo da própria família, riem ou zombam do sofrimento do outro. Se é homem, taxam-no de efeminado e outros adjetivos pouco edificantes; se é mulher, dizem que é uma criancice, um resquício de seu comportamento infantil. O doente sofre e ainda é humilhado. Muitos sofrem em silêncio, tanto quanto puderem, para não serem novamente molestados.
Mas a fobia tem tratamento, ainda que o medo não desapareça por completo. Aliás, fobias todos nós podemos ter. Elas só viram um problema quando seu impacto sobre o dia-a-dia se torna insuportável no trabalho, na família ou mesmo na rua. Há doentes que não conseguem andar numa calçada vazia ou descer uma escada sozinhos. Outros não podem ver aranhas, baratas e outros bichos.


O tratamento mais recomendado para todas as formas de fobias é a terapia cognitivo-comportamental. Nos Estados Unidos, aproximadamente 13 milhões de pessoas procuram anualmente os consultórios especializados nessa terapia. Na população em geral, estima-se que uma em cada dez pessoas sofra de fobias. Menos da metade procura tratamento.
A definição clínica para fobia é que se trata de "um medo persistente e intenso, sem motivo e excessivo, desencadeado pela presença ou antecipação de confronto com um objeto ou situação específica". O objeto ou situação servem apenas como um estímulo para o surto, que pode tomar a forma de um ataque de pânico. O doente sabe o que vai acontecer e, quando pode, evita o encontro com o objeto ou situação que disparam o processo. Mas mesmo conseguindo evitar o surto, há ansiedade e angústia.
A terapia cognitivo-comportamental é a mais eficaz na maioria dos casos. Suas técnicas evoluem rapidamente e há muita comunicação entre os psicólogos, garantindo que se mantenham sempre atualizados. Numa das técnicas mais utilizadas, a pessoa é colocada em contato virtual com o objeto que a oprime. Uma aranha, por exemplo. Ou com a situação que a ameaça: uma escada que precisa descer.
As imagens aparecem num visor eletrônico com monitor tridimensional, colocado sobre a cabeça do paciente. Sensores medem batimentos cardíacos, temperatura, respiração, contrações musculares, alterações cerebrais e outras perturbações, enquanto as imagens estão passando. O objetivo é "familiarizar" o paciente com os objetos e situações.

Antes, o psicólogo faz uma entrevista para saber como está o relacionamento familiar e profissional do paciente. Ele quer saber quando o problema começou, como aconteceu, o que o precedeu, como é a angústia que ele sente, se tem cansaço, insônia, depressão ou tristeza, se tem crises de angústia, se tem frequentemente ideias mórbidas, se pensa continuamente na morte. No decorrer do tratamento vai perguntar as mesmas coisas, mas com a intenção de saber se o paciente ainda sente os mesmos problemas que relatou.
O medo da morte é o sentimento mais forte durante as sessões. Quando o paciente é colocado numa situação em que uma enorme aranha negra anda sobre seu braço virtual, sua primeira reação é de desespero e grande agitação psíquica e motriz. O terapeuta comemora quando chega o dia em que o paciente mostra apenas ligeiras alterações quando a aranha "passeia" novamente sobre seu braço.
Descer uma escada é extremamente penoso para um paciente com esse tipo de fobia. Ele mal consegue descer os primeiros degraus e, em seguida, não consegue mais andar. Agarra-se ao corrimão como se fosse a corda que o mantém suspenso sobre o precipício. No final do tratamento, não descerá a escada virtual correndo, mas chegará até embaixo sem precisar da "corda".
Mas o "milagre" não aconteceu só porque o doente repetiu inúmeras vezes no monitor a situação de surto. Nas entrevistas, o terapeuta descobriu suas maiores fraquezas e trabalhou para reduzi-las ou eliminá-las. Conta ao paciente tudo que já sabe sobre ele, fala claramente de suas fobias e de suas suposições sobre suas causas e origens. Se já identificou o problema, diz o que é e quantas sessões serão necessárias para resolvêlo. A ideia é pôr tudo às claras, dissipando todas as sombras que possam existir na mente do paciente sobre suas perturbações. Quando tudo estiver claro, isto é, desdramatizado, o medo desaparece - como quando se acende a luz do quarto.
O paciente tem sua primeira melhora só de saber que a fobia é conhecida, o processo é sabido e o número de sessões é estabelecido. É como o cerco ao inimigo no campo aberto, do qual não escapará. O paciente se torna agente de sua própria cura. As sessões com o monitor têm, então, somente o papel de dessensibilizar o paciente.
O primeiro combate é à angústia, que advém, falando genericamente, do medo da derrota - medo de perder, de errar. O terapeuta colocará o paciente em situações em que ele passa da derrota à vitória e, no final, ele mesmo concluirá que nunca foi realmente derrotado, mas acossado por algo que não o perturbará mais. Ambos elaboram uma lista de situações angustiantes, das piores às menores, e a luta começa.

O terapeuta pede que sua paciente imagine, por exemplo, que está só em casa com seu gato, confortavelmente instalados no sofá da sala, a lareira acesa e o frio e a chuva rolando lá fora. É noite e começa a trovejar. Em breve, relâmpagos jogam clarões pela sala e a luz se apaga em todo o bairro. Estrondos estremecem a casa e cai a tempestade. A angústia é crescente e de 20 em 20 segundos o terapeuta pede à paciente que relaxe com exercícios de respiração abdominal até que ela imagine o máximo da angústia: seu gato com o pelo todo eriçado, o corpo curvado para cima, miando desesperadamente a cada raio que risca a noite, a casa mergulhada na escuridão, tomada por sombras assustadoras.
Essa paciente sofria de alergia ao pólen e a pelos de gato, embora amasse as flores e seu gato. A cena - ou teatro - se desenvolveu em sete sessões semanais, com doses crescentes de angústia. Após cada sessão, ela saía do consultório com um dever de casa: dar uma nota de zero a dez às situações angustiantes que encontrasse no seu dia-a-dia. No final das sete semanas, as notas estavam todas baixas. O teatro cumpriu a função de representar suas angústias - a solidão, o medo da morte, a impotência diante de forças maiores do que ela, o pavor de ser atacada sexualmente. E de desdramatizá- las, pois ao fim de cada ato eram analisadas, explicadas, esmiuçadas, viradas do avesso pelo terapeuta, na parte cognitiva do tratamento.
As fobias remontam às nossas estruturas psíquicas. A maior parte vem de nossos instintos ancestrais de sobrevivência. O medo de forças poderosas que nos ameaçam vem quase sempre dos ataques que nossos ancestrais sofreram de predadores colossais, num ambiente hostil. Estes sentimentos se ligam frequentemente à escuridão, ao vazio, a lugares desconhecidos. Nossos esquemas de perigo são inatos, transmitidos por "memória coletiva", como dizem os etnólogos. Mas em muitas pessoas, não se sabe por quê, esses esquemas - anacrônicos com o desenvolvimento da civilização - estão ainda ativos e fortes.
Coisas corriqueiras que se dizem às crianças, como "cuidado, você vai cair", carregadas de medo ou angústia, podem realimentar fobias ancestrais. Os pais trancarem a casa cedo da noite sem necessidade, comentando que "há assaltantes à solta por aí", também remetem nossas crianças a medos ancestrais. Canções de ninar, aparentemente inocentes, induzem as crianças a ter medo de tudo para que durmam logo, refugiando-se no sono para não morrerem de medo.
São maldades socialmente aceitas e que retroalimentam nossos esquemas de defesa inconscientes. Há, enfim, um matagal de causas possíveis e impossíveis de determinar. Melhor é animar o paciente a cada passo, elogia-lo por suas conquistas, incentiva-lo a seguir em frente porque vai sair dessa por suas próprias forças. E nos momentos de surto, lá fora na vida, o esforço é físico mesmo: a respiração de baixo para cima, enchendo os pulmões pela energia muscular do abdome conjugada com a dos pulmões. Fazemos, assim, sugestiva e verdadeiramente, a união do inferior com o superior. E desse modo, não sem luta e coragem, se vence o medo.

Doutor cão, doutora gata



Doutor cão, doutora gataFoto: Divulgação

SE VOCÊ ACHA QUE A COMPANHIA DE CÃES E GATOS NÃO FAZ BEM ÀS CRIANÇAS, PODE MUDAR DE IDEIA: ESTUDOS RECENTES, CONFIRMADOS POR EVIDÊNCIAS CLÍNICAS, DEMONSTRAM QUE ESSES ANIMAIS NÃO APENAS NÃO SÃO PERIGOSOS PARA A SAÚDE DELAS, MAS INCLUSIVE PODEM PREVENIR ALGUMAS DOENÇAS E CURAR OUTRAS

16 de Maio de 2012 às 14:14
Comecemos pelas alergias: os resultados de uma pesquisa levada a cabo pelo Department of Public Health Sciences, do Henry Ford Hospital de Detroit (EUA), confirmam que as crianças que conviveram com um cão ou um gato durante o seu primeiro ano de vida correm a metade do risco de desenvolver alergias ao pelo canino ou felino com respeito àquelas que não conviveram com esses bichos.
Os animais domésticos também constituem uma panaceia contra a asma, moléstia cada vez mais difusa entre as crianças. Segundo estudo feito pela American Society of Microbiology, nossas casas são demasiado limpas, quase assépticas, e exatamente por isso as crianças não desenvolvem anticorpos o suficiente, tornando-se rapidamente alérgicas. Cães e gatos por sua vez seriam suficientemente "empoeirados" para ensinar o sistema imunológico ainda imaturo dos pequenos a limitar as reações alérgicas.
Também para a prevenção dos eczemas das crianças alérgicas (em estudo feito pela Universidade de Cincinnati, EUA, e do Cincinnati Children's Hospital Medical Center) a presença de um cão (mas neste caso não a de um gato) faz a diferença: quem cresce sem um desses amigos de quatro patas tem um risco quatro vezes mais elevado de desenvolver essa patologia.
Não é tudo: os cães agora entram em hospitais para curar crianças internadas. Isso acontece nas seções de pediatria de alguns hospitais napolitanos, nos quais, desde 2007, a Associação Aitaca promove o encontro dos pequenos doentes com alguns cães, fazendo-os brincar juntos. Analisando as reações das mais de mil crianças envolvidas, ficou evidente que todas tiveram uma melhora das capacidades relacionais e interativas. O estudo, publicado na revista "Medicina e bambino" (Medicina e criança) demonstrou que, sobretudo no caso de crianças com distúrbios de comportamento, ocorreu um incremento das capacidades linguísticas e relacionais nos pacientes com déficit de atenção e hiperatividade. Houve aumento da atenção no caso dos primeiros, e redução da hiperatividade no caso dos segundos.

Física quântica explica vida após a morte



Física quântica explica vida após a morteFoto: Divulgação

RENOMADO PROFESSOR DE FÍSICA DA UNIVERSIDADE DE OREGON, PESQUISADOR DO INSTITUTE OF NOETIC SCIENCES, ASSÍDUO VISITANTE DO BRASIL, O INDIANO AMIT GOSWAMI MOSTRA POR QUE A REENCARNAÇÃO É UM FENÔMENO QUE MERECE SER INVESTIGADO PELA CIÊNCIA

16 de Maio de 2012 às 09:11
Por Amit Goswami - No fim do século 19, os teosofistas, sob a liderança de Madame Helena Blavatsky, redescobriram para o Ocidente algumas antigas verdades orientais. A verdade da ontologia perene – de que a consciência é a base de todo o ser – era clara para eles. Eles reconheciam também dois princípios cosmológicos. Um é o princípio da repetição para o cosmo inteiro – a ideia de que o universo se expande a partir de um big-bang, depois se retrai num big-crunch e em seguida se expande outra vez, esticando e encolhendo de modo cíclico. O segundo princípio era a ideia de reencarnação – a ideia de que existe uma outra vida antes desta e haverá outra depois da morte; nós já estivemos aqui antes e vamos renascer muitas outras vezes.
Para a mentalidade moderna, a reencarnação parece um tanto absurda. Sob implacável pressão da ciência materialista, nós nos identificamos quase totalmente com o corpo físico, de modo que a ideia de que uma parte de nós sobrevive à morte do corpo físico é difícil de engolir. Ainda mais difícil é imaginar um renascimento dessa parte num novo corpo físico. A imagem de uma alma deixando o corpo que morre e entrando num feto prestes a nascer parece particularmente incômoda, porque pressupõe uma alma existindo independentemente do corpo. E nós tentamos com tanto afinco erradicar o dualismo de nossa visão de mundo!
Mas o nosso monismo (1) não precisa ser um monismo fundamentado na matéria. Se, em vez da matéria, a consciência for a base de todo o ser, a primeira dificuldade – aceitar que uma parte de nós sobrevive à morte – é consideravelmente mitigada, pois pelo menos a consciência sobrevive à morte do corpo físico.
Além disso, quando aprendemos que a nova ciência precisa incluir os corpos vital e mental e o intelecto para captar o sentido do que acontece no nível material da realidade, e que o corpo físico é uma espécie de computador (quântico) no qual as funções vitais e mentais estão programadas num software fácil de usar, até mesmo a aceitação da ideia de algo como uma alma se torna fácil. Não, isso não requer dualismo. Nenhum de nossos corpos – o físico, o vital, o mental ou o intelecto – é uma substância sólida, ao estilo newtoniano clássico; eles são, em vez disso, possibilidades quânticas na consciência. A consciência simultaneamente provoca colapsos de possibilidades paralelas desses mundos para compor sua própria experiência de cada momento.
Dos quatro corpos, apenas o corpo físico é localizado, estrutural e também materialmente; é por essa razão que é chamado de corpo grosseiro. Nossos corpos vital e mental são inteiramente funcionais, criados por condicionamento. Nós desenvolvemos propensões a determinadas confluências de funções vitais e mentais no processo de formação das representações no físico. Esses padrões de hábito se constituem de memória quântica – o condicionamento das probabilidades quânticas associadas às funções matemáticas de onda quântica desses corpos. É uma boa descrição científica de uma parte de nós que sobreviveria à morte: o corpo sutil – o conglomerado dos corpos vital, mental e temático –, no qual a memória das propensões passadas (que os hindus denominam carma) é transportada pela matemática quântica modificada dos corpos vital e mental. Podemos chamar esse conglomerado de mônada quântica. (Além dos corpos grosseiro e sutil, existe um terceiro, o corpo causal, constituído do corpo de beatitude do modelo panchakosha, o qual, é claro, sobrevive à morte, porque é a base do ser. Para onde mais ele iria?)
Com isso, a reencarnação é elevada à categoria de fenômeno merecedor de investigação científica, pois a melhor prova científica da existência do corpo sutil, com seus componentes vital e mental, seria um indício de sua sobrevivência e reencarnação. (2)
A mônada quântica sobrevivente, de acordo com o nosso modelo, conserva a memória quântica dos padrões de hábito e das propensões das vidas passadas. E existem amplos dados em apoio à ideia de que as propensões sem dúvida sobrevivem e reencarnam. No entanto, todas as narrativas que acumulamos durante a nossa existência, toda a nossa história pessoal, morrem, de modo geral, com o corpo físico, com o cérebro; essas histórias não são transportadas pelas mônadas quânticas. Mesmo assim, existem dados que mostram que algumas pessoas, especialmente crianças, são capazes de lembrar-se de histórias de vidas passadas, frequentemente com um nível de detalhe surpreendente. Qual é a explicação para essa memória reencarnacional? A não-localidade quântica através do tempo e do espaço esclareceria isso.
Acredito que todas as reencarnações de uma dada mônada quântica são conectadas não-localmente através do tempo e do espaço, correlacionadas em virtude de uma intenção consciente. Pouco antes do momento da morte, quando entramos num estado que os budistas tibetanos denominam bardo (transição), nossa identidade-ego cede consideravelmente; e, quando mergulhamos no eu quântico, tomamos conhecimento de uma janela não-local de recordações – passadas, presentes e futuras. Quando agonizamos, somos capazes de travar uma relação não-local com a nossa próxima encarnação, ainda sendo gestada, de modo que todas as histórias que recordamos se tornam parte das histórias dessa encarnação, agregando-se a suas recordações de infância. Essas recordações podem ser evocadas, mais tarde, sob hipnose. E, em alguns casos, as crianças conseguem evocar espontaneamente essas histórias de suas vidas passadas.
Como a mônada quântica sabe onde deve renascer? Se as diferentes encarnações físicas são correlacionadas pela não-localidade quântica e pela intenção consciente, seria a nossa intenção (no momento da morte, por exemplo) que transporta a nossa mônada quântica de um corpo encarnado para outro.
Indícios de sobrevivência e reencarnação
Existem três tipos de indícios em favor da teoria da sobrevivência e reencarnação do corpo sutil:
• Experiências relativas ao estado alterado de consciência no momento da morte
• Dados sobre reencarnação
• Dados sobre seres desencarnados
Uma espécie de indício vem do limiar da morte, a experiência de morte. As experiências de visões comunicadas psiquicamente a parentes e amigos por pessoas à beira da morte vêm sendo registradas desde 1889, quando Henry Sidgwick e seus colaboradores iniciaram cinco anos de compilação de um Censo das Alucinações, sob os auspícios da British Society for Psychical Research. Sidgwick descobriu que um número significativo das alucinações relatadas envolvia pessoas que estavam morrendo a uma distância considerável do indivíduo que alucinava, e ocorria num prazo de 12 horas da morte.
Mais conhecidas, evidentemente, são as experiências de quase-morte (EQMs), nas quais o indivíduo sobrevive e se recorda de sua experiência. Nas EQMs, nós encontramos uma confirmação de algumas das crenças religiosas de diversas culturas; quem teve a experiência frequentemente descreve uma passagem por um túnel que leva a um outro mundo, guiada, muitas vezes, por uma conhecida figura espiritual da tradição da pessoa ou por um parente morto.
Tanto nas visões no leito de morte quanto nas experiências de quase-morte, o indivíduo parece transcender a situação de morrer, que, afinal, é frequentemente dolorosa e desconcertante. O indivíduo parece experimentar um domínio de consciência “feliz”, diferente do domínio físico da experiência comum.
A felicidade ou a paz comunicadas telepaticamente nas visões no leito de morte sugerem que a experiência da morte é um profundo encontro com a consciência não-local e com seus diversos arquétipos. Na comunicação telepática de uma experiência alucinatória, a identificação com o corpo que está padecendo e morrendo ainda é claramente muito forte. Mas a subsequente libertação dessa identificação permite uma comunicação integral da felicidade da consciência do eu quântico, que está além da identidade-ego.
Que as experiências de quase-morte são encontros com a consciência não-local e seus arquétipos é algo confirmado por dados diretos. Uma nova dimensão da pesquisa sobre a EQM demonstra que uma EQM pode levar a uma profunda transformação no modo de vida do sobrevivente da experiência. Muitos deles, por exemplo, deixam de sentir o medo da morte que assombra a maior parte da humanidade.
Qual é a explicação para a imagética específica descrita pelos que passaram pela EQM? As imagens vistas – personagens espirituais, parentes próximos como os pais ou os irmãos – são claramente arquetípicas. Podemos aprender alguma coisa comparando as experiências dos indivíduos com sonhos, uma vez que o estado que eles experimentam é semelhante ao estado onírico: sua identificação com o corpo se reduz e o ego deixa de ficar monitorando e controlando.
Dados sobre reencarnação
Os indícios em favor da memória reencarnacional são obtidos principalmente a partir dos relatos de crianças que se lembram de suas vidas passadas com detalhes passíveis de comprovação. O psiquiatra Ian Stevenson acumulou uma base de dados de cerca de duas mil recordações reencarnacionais comprovadas. Em alguns casos, ele chegou a levar as crianças aos lugares das vidas passadas de que se lembravam para comprovar suas histórias. Mesmo sem jamais terem estado nesses lugares, as crianças os reconheciam e conseguiam identificar as casas em que tinham vivido. Às vezes reconheciam até mesmo membros de suas famílias anteriores. Em um caso, a criança lembrou-se de onde havia algum dinheiro escondido, e, de fato, encontrou-se dinheiro ali. Os detalhes sobre esses dados podem ser encontrados nos livros e artigos de Stevenson. Um dos modos de se comprovar nosso modelo atual – de que a memorização reencarnacional ocorre numa idade muito precoce, por meio de uma comunicação não-local com o eu à beira da morte da vida anterior – seria verificar se os adultos são capazes de se lembrar de experiências de vidas passadas, quando submetidos à regressão à infância.
Dados sobre entidades desencarnadas
Até aqui, falamos sobre dados que envolvem experiências de pessoas na realidade manifesta. Mas existem outros dados, muito controversos, a respeito da sobrevivência depois da morte nos quais uma pessoa viva (normalmente um médium ou canalizador em estado de transe) alega se comunicar com uma pessoa, e falar por ela, que já morreu há algum tempo e aparentemente habita um domínio além do tempo e do espaço. Isso sugere não apenas a sobrevivência da consciência depois da morte como também a existência de uma mônada quântica sem corpo físico.
Como um médium se comunica com uma mônada quântica desencarnada? A consciência não é capaz de provocar o colapso de ondas de possibilidade numa mônada quântica isolada, mas, se a mônada quântica desencarnada entrar em correlação com um ser material vivo (o médium), o colapso pode ocorrer. Os canalizadores são as pessoas que possuem um talento especial e disposição para atuar nessa qualidade.
O fenômeno da escrita automática também pode ser explicado em termos de canalização. As ideias criativas e as verdades espirituais estão disponíveis para todos, mas o acesso a elas requer uma mente preparada. Como o profeta Maomé foi capaz de escrever o Corão, mesmo sendo praticamente analfabeto? O arcanjo Gabriel – uma mônada quântica – emprestou a Maomé, por assim dizer, uma mente. A experiência também transformou Maomé.
Anjos e devas
Em todas as culturas existem concepções de seres correspondentes ao que, no cristianismo, se denomina anjos. Os devas são os anjos do hinduísmo. Em geral, os anjos, ou devas, pertencem ao reino transcendente e arquetípico do corpo temático, o que Platão chamava de reino das ideias, e são desprovidos de forma. São os contextos aos quais nós damos forma em nossos atos criativos. Mas, na literatura, e mesmo nos tempos modernos, também existem anjos percebidos pelas pessoas como auxiliadores (como Gabriel, que auxiliou Maomé). Na linguagem de nosso modelo, esse tipo de anjo poderia ser uma mônada quântica desencarnada cuja participação no ciclo de nascimento e renascimento já terminou.
Notas
(1) De acordo com o Dicionário Houaiss da língua portuguesa, o monismo é uma “concepção que remonta ao eleatismo grego (antigo sistema filosófico da escola de Eleia, que só admitia duas espécies de conhecimentos: os que provêm dos sentidos e são apenas ilusão, e os que provêm do raciocínio e são os únicos verdadeiros) segundo a qual a realidade é constituída por um princípio único, um fundamento elementar, sendo os múltiplos seres redutíveis em última instância a essa unidade”. (N. da R.)
(2) Saliente-se que F. A. Wolf (1996) elaborou um modelo de sobrevivência depois da morte dentro do próprio paradigma materialista. Em sua teoria, no entanto, há várias hipóteses que talvez não sejam viáveis; seu modelo de sobrevivência, por exemplo, é válido somente se o universo vier a terminar num big-crunch.
Serviço
Este artigo é um excerto do capítulo “A Ciência e o Espírito da Reencarnação” do livro “A janela visionária – Um guia para a iluminação por um físico quântico”, de Amit Goswami, publicado no Brasil pela Editora Cultrix.

Gravidade, uma força cheia de mistério



Gravidade, uma força cheia de mistérioFoto: Divulgação

COMPROVAR A EXISTÊNCIA DAS ONDAS GRAVITACIONAIS ABRIRÁ NOVA E SURPREENDENTE JANELA PARA O UNIVERSO E LEVARÁ O HOMEM A REALIDADES E CONQUISTAS QUE, ATÉ HOJE, SEQUER OUSOU INTUIR

21 de Maio de 2012 às 20:02
De todas as forças do universo, a gravidade é a que se estuda há mais tempo e, paradoxalmente, a menos conhecida. Qualquer aluno que tenha estudado um pouco de física lembra-se da lenda sobre Galileu soltando bolas de chumbo, madeira e papel do alto da torre de Pisa, na Itália, na tentativa de entender como agia essa força estranha que atrai as coisas em direção à terra. Bem antes, Aristóteles havia proposto que isso ocorria por ser a Terra o centro do Universo, o lugar onde, pela própria natureza, as coisas deveriam estar. Quando surgiu o heliocentrismo, com Copérnico, o enfoque mudou e tornou-se necessária a revisão das leis sobre a queda dos corpos. Mais tarde, novas observações e teorias levaram às lei da gravitação universal formulada por Isaac Newton.
O próximo grande passo foi dado por Albert Einstein em 1916, portanto há menos de um século, com sua Teoria Geral da Relatividade, trabalho pelo qual recebeu o Nobel de Física em 1921. As ondas gravitacionais são filhas naturais da Teoria da Gravitação proposta por Einstein, mas só existem no papel. De onde vêm, qual a sua importância são perguntas ainda sem resposta comprovável, já que nunca foram detectadas.
Segundo Einstein, planetas e estrelas curvam o espaço à sua volta pelo simples fato de estarem ali presentes - por seguirem a curvatura do espaço é que corpos celestes giram, gravitam em torno uns dos outros, como a terra ao redor do sol e a lua em volta da terra. Imagine então a ocorrência de um evento violento, como a explosão de uma estrela massiva que chegou ao fim da vida — uma supernova. Ou a fusão de duas estrelas de nêutrons, astros particularmente densos, ou de dois buracos negros com seu poder esmagador. Acontecimentos dessa magnitude provocam poderosas acelerações da matéria que interferem no campo gravitacional em volta. São como uma pedra jogada na água: formam ondulações, deformando o espaço. Se o pensamento é correto, poderemos detectar essas ondas no momento em que atingem a terra após terem viajado até nós à velocidade da luz.
Durante muito tempo astrônomos duvidaram da existência das ondas gravitacionais. Mas, desde a década de 1960 físicos se empenham em provar que elas existem, confiando em que a Teoria Geral da Relatividade esteja correta, já que só tem colecionado acertos. Sua comprovação seria como abrir uma porta especial para o conhecimento do universo, que tem sido estudado por radiações eletromagnéticas, ou luz, com bandas de radiação diferentes como de rádio, raios gama, raios X, ultravioletas e vermelhos. Ocorre que radiações eletromagnéticas não são suficientemente seguras para nos dar determinadas informações. É o caso de eventos em buracos negros, pois eles não deixam a luz escapar. Já as ondas gravitacionais cruzam o espaço sem sofrer alterações e podem chegar até nós com dados desconhecidos sobre fenômenos do universo. Os mais otimistas antevêem até a possibilidade de observar um "fóssil", a desconhecida radiação gravitacional gerada pelo o Big Bang. Estaríamos inaugurando um novo tipo de astronomia, como nunca antes se imaginou.
Extrema sensibilidade
As ondas gravitacionais, muito mais fracas que as eletromagnéticas, são dificílimas de detectar. O instrumental utilizado para isso é de extrema sensibilidade e qualquer evento, como o som de um avião nos arredores, pode produzir sinais capazes de confundir os pesquisadores. O problema é que tudo, ou quase, é mais forte que uma onda gravitacional. O Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro Laser (LIGO), o mais recente aparelho americano de captação de ondas gravitacionais, juntou-se aos europeus Virgo (franco-italiano) e GEO (alemão), bem como aos observatórios espaciais LISA e Lagos, num esforço de observação. Espera-se ampliar a chance de detecção, que hoje não passa de apenas uma por ano.
Virgo, construído na cidade italiana de Cascina, na Toscana, perto de Pisa, onde Galileu fez suas experiências sobre gravidade, é um imenso interferômetro de ondas gravitacionais. Tem produzido dados de qualidade comparáveis aos de LIGO e GEO. O observatório é formado por um laser cujo facho de luz se divide e percorre os dois gigantescos braços de Virgo, de 3 km de comprimento, colocados em ângulo reto. No interior dos túneis abrigados nos braços de Virgo, em um ambiente próximo ao vácuo, os raios lasers alinhados, de alta potência, são refletidos por múltiplos espelhos e percorrem incessantemente os espaços, indo e voltando. O objetivo dos físicos é detectar uma ínfima defasagem entre os laseres, o que indicaria uma variação no comprimento dos braços, já que, teoricamente, a passagem de ondas gravitacionais deve alongar um dos braços e contrair o outro. Tal acontecimento indicaria que alguma onda gravitacional estaria atravessando o dispositivo. Espera-se que o sistema acuse o evento com uma precisão de um bilionésimo de átomo.
Um longo caminho
A construção de Virgo, no coração da Toscana, exigiu cuidados especiais. É das áreas mais planas da Itália, o que é bom. Mas há o inconveniente da instabilidade do solo, como resultado da retirada constante de água destinada à agricultura. Basta lembrar a torre de Pisa para se ter uma idéia.
Os túneis de Virgo deslocam-se até 1 milímetro por mês em alguns pontos, exigindo fiscalização regular e a compensação imediata de qualquer desvio. Os espelhos foram fabricados em Lyon, num laboratório especialmente criado para isso, e sua reflectividade é das maiores do mundo —cerca de 99,995%— e seus defeitos não excedem alguns átomos. Cada túnel é protegido por um sistema de isolamento sísmico superespecial, que preserva os espelhos dos movimentos do solo e de grande parte das vibrações ambientais. A aparelhagem é tão sensível, que pode mesmo parar de funcionar se houver fortes vibrações. É tão complicado, que os dirigentes até pensam em suspender a vigia noturna, feita de carro, para não perturbar o sistema. Ruídos e vibrações afetam a pesquisa e torna-se muito difícil isolar um sinal que pode ser significativo da grande quantidade de sinais parasitas. Seria como tentar ouvir um sussurro perto de uma banda estridente.
Na sala de controle, técnicos monitoram os acontecimentos nas telas dos computadores. Atualmente, a chance de detectar uma onda gravitacional é rara: apenas um ao ano. E detectar algo que possivelmente seja um evento dessa natureza deve ser confirmado com análises do CD de dados, cujos resultados poderão demorar meses a sair. Acontecimentos de vulto podem ser mais fáceis de registrar. O jeito é esperar pela oportunidade de ocorrer uma fusão de estrelas de neutrons bem próxima da Terra, com sinal muito forte, e avaliar o que será registrado nas horas seguintes. Tudo fica ainda mais difícil, como os físicos já observaram, aperfeiçoando seus modelos teóricos, porque estrelas agonizantes enviam bem menos ondas gravitacionais do que pensavam. Eles reconhecem que estão longe de surpreender uma supernova em vias de explodir, perto ou longe da nossa Via Láctea.
É de se louvar esse esforço técnico-científico, diante da possibilidade de ampliar e modificar o conhecimento atual muito além do sonhado. Trata-se não apenas de ver os astros, como na astronomia ótica, ou de entendê-los, como na radioastronomia. A astronomia gravitacional colocará em nossas mãos a inimaginável beleza de "sentir" os astros, como se ganhássemos, assim, uma percepção extra. É esperar para ver!

Consulta rápida
Lei da gravitação universal – Diz que dois objetos se atraem gravitacionalmente por meio de uma força que é proporcional à massa de cada um deles e inversamente proporcional ao quadrado da distância que os separa.
Teoria Geral da Relatividade – É a teoria do espaço-tempo. Diz que as forças gravitacionais decorrem da curvatura do espaço-tempo ocasionada pela presença de massas. O espaço-tempo é plano onde não há forças gravitacionais e nele os corpos se movem em linha reta.
Espaço-tempo – Conceito elaborado por Einstein dentro da Teoria Geral da Relatividade. É o tecido do universo, em que o espaço tridimensional e o tempo formam um todo de quatro dimensões. O tempo não flui mais sempre de modo uniforme, como se imaginava. A matéria pode atuar sobre ele.
Onda gravitacional – É a que transmite energia por meio de deformações no espaço-tempo. A Teoria Geral da relatividade diz que corpos massivos em aceleração podem causar o fenômeno, que se propaga à velocidade da luz.
Ano-luz – É a unidade de distância igual a 9,467305 x 10¹² km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
Sinais – Joseph Taylor e Russel Hulse, astrofísicos americanos, observaram indícios da existência de ondas gravitacionais estudando a movimentação de duas estrelas de nêutrons que apresentavam desaceleração correspondente ao que, teoricamente, deviam perder com a emissão de ondas gravitacionais. Receberam o Nobel de Física em 1993.
Interferometria – Ciência e técnica da sobreposição de duas ou mais ondas, cujo resultado é uma nova e diferente onda. É usada em diferentes campos, como astronomia, oceanografia, sismologia, metrologia ótica, fibras óticas e mecânica quântica

Sexigenários: tudo em cima aos sessenta e tantos



Sexigenários: tudo em cima aos sessenta e tantosFoto: Divulgação

VELHICE NÃO É DOENÇA. HOJE, COM A NOTÁVEL ELEVAÇÃO DA IDADE MEDIA DE VIDA – FENÔMENO QUE NÃO ACONTECE APENAS NO BRASIL, MAS TEM DIMENSÃO MUNDIAL – HOMENS E MULHERES COM MAIS DE SESSENTA ANOS TRABALHAM, TRANSAM E SE DIVERTEM, CONSERVANDO BELEZA E JUVENTUDE. É A REVOLUÇÃO DOS SESSENTÕES

21 de Maio de 2012 às 19:29
Por Fabíola Musarra
Você ainda é daqueles que acreditam que quando chegar aos 60 anos vai sair de cena, pendurar as chuteiras, terminar os dias sozinho, doente, abandonado num asilo, sem dinheiro e sem perspectivas de dias melhores? Está enganado. Esse tipo de pensamento está mudando. Encarar a velhice como um mal é o mesmo que achar que a criança é um doente. Hoje, as pessoas da terceira (ou da melhor) idade namoram, transam, viajam, passeiam, estudam e trabalham. Fazendo exercícios físicos, tendo boa nutrição e bom relacionamento pessoal, elas têm grande potencial para ser muito ativas socialmente. Assim, o grande objetivo da geriatria e da gerontologia modernas é evitar que o idoso seja excluído da sociedade - por meio da prevenção de doenças -, ou reincluílo nela a partir de adaptações em sua condição de vida. Wilson Jacob Filho, professor titular da disciplina de geriatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), afirma que o idoso deve realizar uma atividade que lhe seja prazerosa, mas com moderação.
As mulheres da Associação de Voluntárias do Hospital das Clínicas (HC), em São Paulo, são prova de uma terceira idade ativa e benéfica. Vestidas de cor-de-rosa, com energia e carinho de sobra, elas costuram, fazem artesanato, dão aulas e visitam os pacientes do HC. "Fazemos algo que a família do paciente não pode fazer: conversamos com ele, levamos revistas, verificamos se precisa de algum material de higiene", conta Maria Belkiss, 70 anos, presidente da entidade. As voluntárias se dizem gratificadas com o trabalho, pois o carinho é retribuído. Maria Rosa Stavale, 62 anos, sente que, mais do que ajudar os pacientes, está se ajudando espiritualmente. A troca de afeto e o bom relacionamento fortalecem essas mulheres no quesito envelhecimento.
Com esse tipo de atitude, não é de se espantar que atualmente as pessoas com mais de 60 anos representem cerca de 12% da população, segundo informações colhidas por recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mais do que números, o envelhecimento da população vem modificando o perfil da sociedade, os hábitos de consumo e do mercado e, num futuro nem tão distante assim, certamente provocará transformações radicais nas políticas públicas da saúde e da previdência social.
O governo, os empresários, o mercado e a sociedade em geral, porém, não perceberam a dimensão e as implicações que envolvem a questão do envelhecimento populacional. Por enquanto, a faixa etária que mais cresce no Brasil é a dos 50 anos. Em pouquíssimo tempo, os potenciais consumidores serão os sessentões. O fenômeno é irreversível, mas as empresas ainda não descobriram esse atrativo filão do mercado. Quer exemplos? Veja os rótulos das embalagens e suas minúsculas letras, impossíveis de serem lidas por quem usa óculos. Nos supermercados, muitos produtos ficam em prateleiras altas, mas poderiam perfeitamente estar dispostos em lugares mais baixos, facilitando a vida daqueles que já passaram da meia-idade.
De fato, o mercado não está mesmo sintonizado com essa nova realidade. Em 2003, uma pesquisa inédita realizada pelo GFK, a quarta maior empresa nacional de pesquisas do País, revelava que os idosos naquela época já movimentavam R$ 90 bilhões por ano, o que os transformava em consumidores em potencial. Juntos, os brasileiros com mais de 60 anos formavam um grupo de 17,7 milhões de consumidores (14,5% da população adulta), um total então maior que a população do Chile, de 16 milhões, sendo a maioria mulheres, com uma renda que somava R$ 7,5 bilhões ao mês. Também eram essas pessoas que tinham (e ainda têm) o poder de decisão de compra na família, pois eram as responsáveis pela manutenção de 25% dos lares do País, o equivalente a 47 milhões de domicílios. Apenas 15% delas não tinham renda alguma.
Essas e outras informações integram o perfil da terceira idade do Panorama da Maturidade, um estudo que demorou dois anos para ser concluído e para o qual foram ouvidos 1,8 mil homens e mulheres com mais de 60 anos nas grandes regiões metropolitanas brasileiras, além de Goiânia e Brasília. Desenvolvido com o objetivo de conhecer as características de comportamento, educação, saúde, alimentação, moradia, transporte, cultura, lazer, consumo e gastos dessa camada da população, o estudo definiu as características pessoais e de estilo de vida dos idosos, uma parcela social que até então nunca havia sido mapeada no Brasil. "As conclusões envolvendo análise e números ainda agora são um prato cheio de informações para quem deseja planejar estratégias de marketing para esse público e para as atuais gerações de jovens, que brevemente integrarão essa parcela da população", diz o sociólogo Mário Mattos, diretor de marketing da empresa.
Embora tenha detectado a existência de um mercado potencial de produtos específicos para a terceira idade e a necessidade de readaptar os produtos e serviços existentes para melhor atendê-la, as empresas ainda têm ações muito tímidas direcionadas a esse tipo de consumidor. "Para muitas empresas, isso é algo que só vai acontecer no futuro, mas a verdade é que hoje esse segmento já tem uma renda bem significativa e demandas específicas a serem atendidas", prossegue Mattos. Ele observa que este é o segmento que percentualmente mais cresce na população e que a tendência é que cresça cada vez mais e com mais renda, já que a atual juventude se planeja mais para o envelhecimento. "As próximas gerações que atingirem a terceira idade provavelmente terão uma situação bem melhor do que a geração atual."
O estudo do IBGE também já sinaliza a necessidade de mudanças nos sistemas previdenciário e de saúde: em 2000, 30% dos brasileiros tinham de 0 a 14 anos, e os com mais de 65 representavam 5% dos habitantes do País. Em 2007, o número de crianças e adolescentes de até 14 anos de idade caiu para 25,4%, enquanto as pessoas com 60 anos ou mais totalizavam quase 20 milhões da população. Com o significativo crescimento do número de pessoas idosas (portanto, de aposentados) em relação às pessoas em atividade, fica evidente a necessidade de se repensar as políticas públicas.
O técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar), Frederico Melo, explica que dois fatores contribuíram para o envelhecimento populacional: as pessoas estão vivendo mais tempo (aumento da longevidade) e tendo menor número de filhos (queda da taxa de fecundidade). "Até a década de 60, as mulheres tinham cerca de 6 filhos, contra 2,89 nos anos 90 e 2,39 em 2000. Em 2007, essa média foi de 1,95 filho por mulher, e a tendência é de continuar caindo", prevê. "Se essa projeção se confirmar, não ocorrerá sequer a reposição das gerações. Com menos crianças nascendo, o País já está tendo menos jovens. Paralelamente, há o aumento da proporção de pessoas com mais idade", analisa Melo.
Em sua opinião, esse envelhecimento da população traz alguns desafios, como o aumento do número de aposentados, que fará com que mais pessoas passem a depender dos recursos do INSS. "Considerando-se as características do mercado de trabalho - alta proporção de ocupação intermitente (normalmente o trabalhador não fica 35 anos em uma mesma empresa) e informal -, pode-se supor que as pessoas que não conseguirem se aposentar passarão a depender dos benefícios da assistência social. Também o sistema de saúde terá de se adequar para atender esse maior contingente de pessoas idosas", afirma.
Segundo Melo, para manter a população mais idosa, o governo, nos próximos anos, terá de tornar a economia do País mais produtiva e estimular o crescimento econômico, o que implica investir fortemente na educação e na melhor capacitação profissional, formando trabalhadores com melhor nível de escolaridade e mais qualificados. "O problema todo é que o Brasil está vivendo uma situação do Primeiro Mundo (na Europa, o envelhecimento populacional já é uma realidade), sem ter solucionado os problemas básicos dos países em desenvolvimento, como os da educação, saúde, habitação, desigualdade de renda, entre outros."
Como envelhecer bem
Existem três pilares para se ter uma velhice de qualidade. O primeiro é ser fisicamente ativo. Wilson Jacob Filho, professor titular da disciplina de geriatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, destaca que o músculo de um idoso treinado é tão eficaz quanto um músculo de um jovem sedentário.
O principal desafio agora é praticar atividades físicas, já que a criança prefere jogar videogame, o adolescente só se dedica aos estudos e o adulto, a trabalhar (geralmente em escritório). O segundo pilar diz respeito à nutrição. Nela não deve faltar - nem figurar em excesso - proteínas, gorduras e vitaminas. Cada fase da vida possui uma dieta diferente, como a do bebê, que precisa comer papinha. O terceiro pilar, e talvez o mais importante, é o relacionamento - conosco e com o meio. Investir na saúde mental para que a pessoa tenha uma autoestima alta. Quando envelhecemos, precisamos de um suporte na família, no ambiente de trabalho, na roda de amigos.
O importante é estabelecer uma união saudável, de forma que o idoso se mostre acolhedor ao jovem e vice-versa. "É claro que o governo precisa urgentemente reformar a previdência, mas isso só será possível com a implementação de um projeto macroeconômico de crescimento que traga para o mercado formal 50% de nossa economia, pois hoje metade dela está na informalidade, segundo dados do IBGE", afirma Roberto Mohamed, advogado especializado em Previdência e fundos de pensão. Enquanto isso não acontece, o especialista acredita que a melhor saída para quem deseja ter uma velhice mais tranquila é a previdência privada. "O envelhecimento da população não constitui problema para o sistema privado, pois ele independe do número de participantes ativos. Cada um contribui para a constituição de sua própria reserva e, ao final do pagamento, passa a receber os dividendos dessa aplicação."
Ao contrário dos anos 70, quando a falência dos sistemas de previdência privada, os chamados Montepios (Capemi, Delfim e outros), transformou a poupança dos participantes em pó, hoje o sistema de fundos administrados por grandes bancos e seguradoras segue outro modelo, com fiscalização rigorosa e absoluta transparência, no qual o participante pode acompanhar a evolução de seu fundo pela internet. Esse sistema, uma forma de poupança programada de longo prazo, com taxa de administração, é fiscalizado de perto pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), órgão vinculado ao Ministério da Fazenda. "O risco que se corre nesse sistema é completamente diferente do modelo estatal, pois está sujeito às variações do mercado financeiro e não do envelhecimento da população", observa o advogado.
Mohamed explica que o chamado capital especulativo que corre o mundo é formado pelos ativos dos grandes fundos de pensão norte-americanos e europeus, prova de que o sistema é sadio, mas que também está sujeito às perdas como as que vêm ocorrendo hoje nas bolsas. Apesar do risco, ele acha que o sistema de previdência privada é a saída para quem busca segurança na velhice. No entanto, quem pretende recorrer a essa alternativa deve tomar alguns cuidados: pesquisar as taxas de administração de vários fundos antes de decidir. "A menor taxa não é necessariamente o melhor negócio. Também uma taxa superior a 10% é perigosa, pois, com rendimentos garantidos de 12% ao ano, fica difícil acreditar no crescimento de um fundo com uma taxa dessas," exemplifica.
Outra preocupação que se deve ter é quanto ao perfil do fundo. Atualmente, os bancos oferecem as opções de carteiras moderadas, conservadoras e agressivas. "Estas últimas não servem ao propósito de garantir a aposentadoria de alguém", orienta o profissional, acrescentando que o ideal é não ter apenas um plano de previdência, mas diversificar o pagamento em pelo menos dois bancos, pois se um deles apresentar problemas, o outro ainda garante a renda. "Vale lembrar que, caso ocorra algum problema, é muito mais fácil agir contra fundos de pensão do que contra o INSS", afirma o especialista.
Também a advogada Luciana Dias Prado, do escritório Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados, é favorável aos planos de previdência privada. Até porque o sistema de previdência pública, que é o INSS, já enfrenta dificuldades há anos por ser um regime financeiro de repartição simples, mas complicado de administrar, no qual as pessoas produtivas pagam para aquelas que se aposentam. Para ela, a tendência é o sistema de aposentadoria do INSS ficar cada vez mais precário porque a população ativa está diminuindo ao mesmo tempo que, com o aumento da expectativa de vida do brasileiro, cresce o número de pessoas que estão recebendo o benefício.
A seu ver, o cenário dos fundos de pensão e dos planos administrados pelas empresas abertas e as seguradoras é mais otimista, porque tem um regime financeiro diferente: cada pessoa contribui, monta uma conta para ela num fundo específico e vai pagando ao longo de seu tempo de contribuição. Ao término, começa a receber o benefício. Como esse regime é de capitalização, a perspectiva é a de que em poucos anos muito mais pessoas migrem para ele, justamente em função da provável falência do sistema público. "Quanto mais cedo o jovem começar a contribuir com uma previdência privada, melhor, pois ela lhe assegurará uma velhice mais serena."