quinta-feira, 18 de julho de 2013

A corrupção no Denarc e o alerta de Abadia

Da Carta Capital

Alckmin descartou alerta de Abadia

por Wálter Maierovitch

Em 2008, o traficante colombiano alertou que, para combater o tráfico, São Paulo deveria fechar o Denarc. O tucano não ouviu e, agora, a porta está arrombada

Quando policiais de um órgão repressivo de ponta, como o Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico (Denarc) de São Paulo, mudam de lado e se associam ao crime organizado para vender informações, extorquir bandidos associados ao PCC e  facilitar tráfico de drogas proibidas, fica claro, ao comum do povo, que o crime organizado é sempre mais forte do que o Estado.

Isso acaba de acontecer em São Paulo, com 13 policiais sob suspeita: dois delegados do Denarc e cinco investigadores estão presos.

Surpresa? Claro que não. Basta puxar pela memória. Um poderoso operador do mega-cartel colombiano do Vale Norte, Juan Carlos Abadia, disse em 2008, depois de preso por pressão da DEA, o departamento anti-narcotráfico dos Estados Unidos, que se o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) desejasse efetivamente reprimir o narcotráfico deveria fechar o Denarc. Durante anos, Abadia operou a partir de São Paulo sem nunca ter sido molestado pelas polícias de São Paulo. E ele acabou sendo entregue para os EUA sem revelar nomes dos policiais que corrompia.

Numa ação conjunta do Ministério Público e da Corregedoria de São Paulo ocorrida na segunda-feira 15 chegou-se à mesma conclusão que Abadia. E com a porta arrombada, o governo Alckmin promete restruturações, sem dizer o que será feito.

Pior, repetiu-se um fato que os brasileiros estão fartos de saber, ou seja, o traficante Andinho (preso em 2002) continua, do interior de presídio dito de segurança máxima ou de farsa máxima, a comandar sua organização criminosa e a corromper policiais. Os de segunda, segundo o MP, recebiam cerca de 600 mil reais por ano do PCC e do bando de Andinho. Antes de ser dinamitado pela Máfia siciliana, o magistrado Giovanni Falcone destacava que a delinquência organizada, ao contrário da delinquência comum, precisa grudar parasitariamente no Estado. Isso para desfrutar de proteção, de informações e, assim, poder expandir a sua rede criminosa.

No caso de segunda-feira, o crime organizado paulista contava com o manto protetor de policiais.
E atenção, atenção: Enquanto não se desfalcar o caixa, o patrimônio de um PCC, e não se  isolar e cortar o cordão umbilical do preso com a sua organização, nada se vai conseguir.

Por outro lado, as polícias precisam contar com um sistema eficiente para detectar enriquecimentos sem causa dos seus agentes. Sistema capaz de buscar os sinais de patologia a indicar corrupção. Afinal, como diz a sabedoria portuguesa, “quem cabritos possui e cabras não tem, de algum lugar os cabritos provêm”.
O episódio repressivo de segunda-feira, infelizmente, representa uma gota de água no oceano. O tráfico de drogas aumenta no mundo. Em cada 20 pessoas, uma faz uso de droga proibida que é traficada por redes criminais transnacionais.

As polícias no mundo só conseguem apreender 5% do que é ofertado no mercado. E o tráfico movimenta cerca de 300 bilhões de dólares por ano e, para tanto, usa o sistema bancário.

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-corrupcao-no-denarc-e-o-alerta-de-abadia

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Os outros nomes da UDN




Mais uma vez os golpistas se reúnem. Quando um governo começa a distribuir renda, como no sistema escandinavo, a fim de sustentar um tímido “welfare state”, como faz Lula com o Bolsa-Família, contra ele se reúnem bacharéis e banqueiros, políticos, jornalistas e inocentes úteis.


BRASÍLIA - Sexta-feira (21), em Diamantina, o governador Aécio Neves fez o elogio de Juscelino, ao transferir para aquela cidade as solenidades comemorativas de 21 de abril. Para que ficasse bem nítida a intenção, Aécio convidou a filha de Juscelino, Maristela Kubitschek Lopes, para ser a Oradora Oficial da cerimônia. Esse elogio a Juscelino seria impensável, durante os últimos anos de sua vida. Oficialmente, Juscelino era um “morto civil”. Durante o seu governo, no qual rompera os cânones do imobilismo, o presidente fora acusado de corrupção e de ofender a família brasileira com seus amores, reais ou fictícios. O político mineiro, ao candidatar-se para suceder Vargas, e eleger-se em 3 de outubro de 1955 e a empossar–se em 31 de janeiro do ano seguinte – herdara todo o ódio que a União Democrática Nacional endereçara a Vargas. O partido constituía o velho resíduo do bacharelismo nacional, de origem oligárquica, que perdera sua posição hegemônica na sociedade, a partir da Revolução de 30.

A política deixara de ser assunto restrito (ou quase restrito) aos advogados. Novas forças surgiam, em conseqüência da ação modernizadora de Vargas, e a UDN não podia admiti-las. O último grande ato de poder dos udenistas fora a Constituição de 1946, na qual, a pretexto de salvaguardar a ordem jurídica, os advogados exageraram em suas idéias “soi-disant” liberais, mas mantiveram para a classe dominante as posições angulares do poder. E como não podiam deixar de fazer, inscreveram na Lei Fundamental seus próprios privilégios corporativos.

O médico Juscelino, que fora telegrafista e oficial da Força Pública de Minas, provinha da “low middle class”, filho de uma professora e de um caixeiro-viajante morto aos 33 anos. Não pertencia, pela atividade, nem pela formação, ao setor da sociedade tradicionalmente ligado à velha aristocracia remanescente do Império. No governo, fora o preenchimento de cargos que exigiam conhecimento jurídico, Juscelino buscou realizadores, preferindo a presença de engenheiros e pragmáticos. Isso exacerbou o ódio da UDN. Seus líderes eram quase todos bacharéis – com a notória exceção do jornalista Carlos Lacerda. O temor de perder seu poder na sociedade nacional se expressava no ódio contra a coligação PSD-PTB, aliança das classes médias urbanas com os trabalhadores e os empresários nacionalistas – a chamada burguesia nacional. Tratava-se de um movimento de forças modernizadoras. O bacharelismo delirante desses líderes mereceu de Afonso Arinos filho, então jovem diplomata - que rompera com Lacerda - a ferina observação de que “a UDN pensa que o povo come hábeas corpus”. A UDN, que não podia confessar que combatia Juscelino por estar rompendo o poder das oligarquias, acusava, pela imprensa, o presidente de ser o “Pé de Valsa”, o corrupto e corruptor, o irresponsável construtor de Brasília, o esbanjador dos recursos públicos.

Quando, enfim, os bacharéis mais reacionários ocuparam o poder com os militares, coube-lhes encontrar as fórmulas jurídicas para defender o estupro do Estado de Direito. Totalitários por sua natureza, Carlos Medeiros da Silva e Francisco Campos, antigo fundador da corporação fascista “Legião de Outubro”, e redator solitário da Constituição de 1937, redigiram o Ato Institucional, em que se valiam do argumento absoluto da força. Em sua visão do Direito, a Revolução (na verdade apenas um golpe militar clássico) se legitimava por si mesma, ou seja, pela sua vitória sem combate. Outros juristas, como Gama e Silva e Alfredo Buzaid dariam seu aval à Ditadura. Esses fatos servem para realçar a corajosa resistência democrática de tantos outros grandes advogados, alguns até mesmo de origem oligárquica, como Victor Nunes Leal e Evandro Lins e Silva, perseguidos sistematicamente pelo Poder. A partir de certo momento, os advogados, em sua maioria, decidiram partir para a resistência. A bomba contra a OAB atesta essa bravura.

O “corrupto” Juscelino sofreu todas as perseguições conhecidas. Foi humilhado por um interrogatório movido por oficiais inferiores. Reproduzia-se, de alguma forma, o que pretenderam os golpistas contra Getúlio, ao instaurar Inquérito Policial Militar em uma dependência da Força Aérea: a fim de o interrogar, julgar e condenar o Presidente - também sob o pretexto da corrupção – com o aplauso da UDN dos bacharéis. Getúlio os venceu, ao denunciá-los em sua Carta Testamento e na corajosa decisão de deixar a vida. E tanto os venceu que seu sucessor, Juscelino, retomou seu Projeto Nacional.

Hoje, o cerco é contra o presidente Lula. A imprensa, de modo geral, se soma aos bacharéis da velha UDN, que trocou de nome, mas não de alma. O desvario da chamada “opinião publicada” chega aos limites da insânia: o Procurador Geral da República entrou no clima geral. Na realidade – e se trata também de um crime, que deve ser combatido – houve o uso de recursos do chamado Caixa Dois. Esse é um velho mal do sistema político brasileiro e de outros sistemas (o caso norte-americano é exemplar). Se formos andar para trás, chegaremos a Mauá e ao financiamento que sempre fez aos candidatos da Monarquia, da qual – não obstante seus conhecidos méritos – foi sócio privilegiado.

A oposição tem várias faces, e uma muito nítida, a de Tartufo. Se seus líderes, que dominam a maioria do Parlamento, estivessem interessados em moralizar o processo eleitoral, teriam proibido taxativamente o uso de caixa-dois e das doações clandestinas às campanhas e teria imposto um teto às doações registradas. Como no velho exemplo de Lampedusa, mudou-se tudo, para tudo continuar no mesmo. E para confirmar essa postura, o Senador Artur Virgílio reconhece ( uma vez que os tucanos foram apanhados com o bico na gamela) que o uso do caixa-dois é corriqueiro nas campanhas eleitorais.

Mais uma vez – e vale voltar à Carta-Testamento de Vargas -, os golpistas se reúnem. Eles só admitem crescimento econômico para o próprio desfrute. Quando um governo começa a distribuir renda, como no sistema escandinavo, a fim de sustentar um tímido “welfare state”, como faz Lula com o Bolsa-Família, contra ele se reúnem bacharéis e banqueiros, políticos, jornalistas e inocentes úteis.

 

A diferença é que, desta vez, não podem contar com os quartéis. Os militares se encontram vacinados contra a interferência no processo político, e se preocupam muito mais com a defesa da soberania nacional sobre o território brasileiro. Dessa forma, podem esquecer o apelo ao golpe, seja parlamentar, com o pretendido impeachment, seja por outros meios, como a infiltração de agentes provocadores nos movimentos populares, como já está ocorrendo.

O DESABAMENTO
O Sr. Geraldo Alckmin está sem sorte. Como se não bastassem os seus recentes percalços, sabe-se agora que a Nossa Caixa acolhera, em sua direção, “consultores” acusados de cometer atos ilícitos na administração financeira federal, durante o governo do Sr. Fernando Henrique Cardoso. A explicação da direção do banco estadual é mais grave do que a denúncia: tais consultores eram “informais”, e nada recebiam da Caixa. De duas, duas: recebiam seu dinheiro de terceiros e usurpavam função pública, desde que a Caixa é uma autarquia do governo de São Paulo.

Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.

http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3048

As bombas de Miguel, o carioca que revelou o processo contra a Globo na Receita


Quem é, o que faz e o que toma o autor do blog O Cafezinho.

Ele


Miguel do Rosário, autor do blog O Cafezinho, acha que a Globo deveria lhe pagar. Para ser seu ombdusman. “Eu gosto de escrever sobre os editoriais do Globo. Todo parágrafo tem uma quantidade enorme de distorções, mentiras e manipulações”, diz ele.

Miguel e eu fazíamos parte de uma bancada virtual numa entrevista para a TVT. O programa, chamado Clique Ligue, trazia um debate sobre o jornalismo digital e o impacto das novas mídias. Seu microfone não funcionava direito. A voz desaparecia. Mas ele não precisa de microfone. Miguel tem uma voz na Internet. Com a decisão do Ministério Público do Distrito Federal de abrir uma investigação sobre a sonegação de que a Globo é acusada, isso ficou claro.

Miguel foi quem primeiro publicou cópias do processo da Receita que cobrava a hoje notória dívida de 600 milhões de reais. Como ele as conseguiu? No caso desse escândalo, segundo ele, o imbroglio é cinematográfico e surreal.

Resumindo: existe uma quadrilha especializada em subtrair esses processos. A funcionária Cristina Maris Meinick Ribeiro faria parte desse grupo. Eles teriam pedido 15 milhões de reais para passar o resultado do furto a um “cliente”. Houve um encontro, que acabou mal sucedido. Os papéis teriam ido parar nas mãos do motorista do bando. Dele para uma outra pessoa, que os ofereceu a Miguel.

“O cara me conhecia pelo Cafezinho e fez o contato. Ele pensou em dar para uma revista ou jornal, mas achava, com razão, que a coisa seria abafada por causa do pacto de silêncio da mídia. Se tivesse publicado ali, não teria o mesmo efeito. A imprensa denuncia o governo o tempo inteiro. Mas a imprensa não denuncia a imprensa”.

Na sequencia do furo, o advogado Edu Goldenberg encontrou a ação que pedia a prisão de Cristina Maris. De acordo com Miguel, ela é casada e mora em Copacabana com a mãe. “O marido achou que eles iam ganha uma grana com isso. Cristina é mequetrefe no esquema. Tem cara de que é coisa bem maior”, afirma. “Minha fonte sabia que eu fazia parte de uma rede, que não estava sozinho. Tenho a blogosfera do meu lado”.

O nome do blog não é à toa. Miguel é especialista na, como diria um crítico gastronômico entojado, infusão rubiácea. Seu pai, José Barbosa do Rosário trabalhou na Globo por 15 anos nessa área. Montou uma revista e, depois, uma newsletter sobre o assunto. Os negócios iam bem até que, ironicamente, a Internet surgiu com milhares de páginas dedicadas a café. O velho morreu em 2001 e Miguel deu continuidade por um tempo. “Até que cansei de rever aquelas caras de sempre desse mercado. Mantive o nome, mas resolvei escrever sobre política”.

Aos 38 anos, ele não militou na mídia tradicional. Já tinha visto o que chama de “proletarização” da profissão. Mora na Lapa com a mulher. Afirma que tem mais “bombas” nas mãos (acabou de publicar um post segundo o qual Joaquim Barbosa teria recebido 700 mil reais da UERJ sem trabalhar). “Eu não sou fixado em denúncias. As coisas chegam até mim. Hoje essa matéria da Globo é de domínio público e está sendo acompanhada por jornalistas mais experientes do que eu”.

Um aviso importante: “Compre sempre o café mais suave no supermercado. A torração é mais leve e as qualidades são preservadas. O melhor lugar pra tomar, aqui no Rio, é o Armazem do Café, em Ipanema”.

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/as-bombas-de-miguel-o-carioca-que-revelou-o-processo-contra-a-globo-na-receita/

terça-feira, 16 de julho de 2013

Telebras brilha e ganha força diante da espionagem dos EUA


Antes mesmo de vir à tona o escândalo de espionagem nas redes de comunicações pelo governo dos EUA, denunciado pelo ex-consultor de inteligência estadunidense Edward Snowden, o Exército Brasileiro e a Presidência da República já haviam contratado os serviços da Telebras para cuidar das suas comunicações.

Agora a empresa torna-se mais do que uma opção de mercado, uma necessidade estratégica para todo o Brasil e a América do Sul. Quem tem informações sensíveis e não quer ser bisbilhotado fatalmente procurará a Telebras como fator de segurança. A integração de uma rede de telecomunicações própria dos países sul americanos também ganha prioridade.

A empresa e a política industrial do Ministério das Comunicações de fazer encomendas de equipamentos sob controle tecnológico nacional, acabou se tornando uma vantagem competitiva em relação às teles privadas que contratam equipamentos e serviços vindos de qualquer lugar do mundo, como caixas pretas, ficando completamente vulnerável à espionagem.

A Telebras emitiu uma nota que acaba explicando com clareza cristalina os motivos do Exército Brasileiro e da Presidência República já terem contratado os serviços da empresa:
A Telebras construiu uma rede de fibra óptica segura contra invasões, sejam de captura de dados para espionagem, como as denúncias recentes veiculadas pela imprensa, ou mesmo de ataques de hackers. Para garantir essa segurança, a empresa trabalha apenas com equipamentos desenvolvidos no Brasil e que não se submetem às leis de outros países, com acompanhamento direto de engenheiros da própria Telebras, o que permite um tráfego seguro de dados pela rede que atende diretamente o governo federal e também a empresas privadas que contratam os serviços da estatal...
(...)
A rede de fibra óptica de alta definição da Telebras tem 25 mil km de extensão e interliga todas as regiões do País, conectando as administrações federal, estaduais e municipais e seus serviços públicos, além de atender a iniciativa privada e promover a inclusão digital das camadas mais pobres da população brasileira, por meio do Programa Nacional de Banda Larga (PNBL) do governo federal. “Garantimos total sigilo de comunicação em nossa rede, com tráfego de dados de forma segura”, afirma o presidente da empresa, Caio Bonilha.
(...)
A Telebras também lidera o projeto de formação de um anel óptico entre os países sul-americanos. O primeiro ponto da interconexão foi estabelecido no mês passado entre o Brasil e o Uruguai, em Santana do Livramento (RS), por meio das operadoras Telebras e Antel (uruguaia). Essa rede permitirá um tráfego seguro de dados entre os governos destes países. A próxima conexão deverá ser com a Argentina, por meio da operadora Arsat.
(...)
Outro projeto estratégico da Telebras é a compra e lançamento do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), projeto conjunto com os ministérios das Comunicações, da Defesa e de Ciência, Tecnologia e Inovação. Para isso, a Telebras se associou à Embraer e criou a empresa Visiona Tecnologia Espacial S.A.
Quando o governo Lula resolver recriar a Telebras, o PSDB e o DEM reagiram com ferocidade, chegando a recorrer ao STF contra a reativação da empresa. Imaginou-se no início tratar-se apenas de lobismo neoliberal a favor das teles privadas. Mas agora, será que não havia também pressões externas, já que o PSDB tem verdadeira adoração por obedecer aos EUA?
 
http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com.br/2013/07/telebras-brilha-e-ganha-forca-diante-da.html?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed:+blogspot/Eemp+%28Os+Amigos+do+Presidente+Lula%29

Greenwald: Grande mídia dos EUA é escudo e megafone do poder




por Heloisa Villela, de Nova York, especial para o Viomundo

Glenn Greenwald é o jornalista que está contando ao mundo como funciona o sistema de monitoramento de conversas telefônicas e eletrônicas da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos.
Foi ele quem entrevistou, em Hong Kong, o ex-funcionário terceirizado da NSA, Edward Snowden. Na última semana, Greenwald participou, via Skype, da Conferência Socialista em Chicago como convidado especial. Do Rio de Janeiro, onde mora, ele denunciou a conivência da grande mídia norte-americana com o poder e descreveu a impressionante tranquilidade e paz de Snowden ao tomar a decisão de denunciar o sistema de vigilância mundial que o governo estadunidense montou, mesmo sabendo que terá que fugir do império o resto da vida — ou passará os muitos anos que tem pela frente na cadeia. Snowden tem apenas 29 anos.

Greenwald, sempre irônico, disse que acaba de receber o melhor prêmio de jornalismo com o qual poderia sonhar. O blog dele no jornal britânico The Guardian foi bloqueado em todas as instalações do exército norte-americano no mundo. “Vou plastificar, emoldurar e botar na parede”, disse. Relembrou o discurso feito pelo veterano jornalista David Halberstam, em 2005, na Universidade de Columbia.

Quando lhe perguntaram qual foi o momento mais gratificante da carreira ele não pestanejou: contou que quando era correspondente do New York Times no Vietnã cansou de testemunhar o que se passava nas ruas e ouvir versões absurdas nas coletivas das forças armadas. Questionava os oficiais agressivamente, apontava as mentiras que estavam contando, até as Forças Armadas pedirem ao NYT que Halberstam fosse retirado do posto. Um orgulho!

Para Greenwald, esse é um bom termômetro. Quando um jornalista consegue irritar o poder tanto assim, é porque está fazendo um bom trabalho. Em compensação, relatou, Bill Keller, que foi editor executivo do New York Times durante o governo George W. Bush deu entrevista à BBC e tentou mostrar a grande diferença entre o jornal e o Wikileaks, já que os dois publicaram documentos repassados por Bradley Manning. O Wikileaks, disse Keller, publica tudo o que quer, enquanto o NYT foi ouvir o governo Obama para saber o que deveria ou não publicar e obedeceu direitinho as orientações. Para Keller, o bom comportamento é motivo de orgulho e sinônimo de responsabilidade.



[Gostou do conteúdo? Ajude Heloisa Villela a fazer um documentário sobre a CIA e o golpe no Brasil]

A relação de Greenwald com a grande mídia americana piorou nas últimas semanas, depois que ele aceitou ser entrevistado pelo programa Meet the Press, que vai ao ar domingo de manhã. O apresentador David Gregory, já quase no fim da entrevista, perguntou a Greenwald se ele não deveria ser preso e processado pela lei de espionagem, já que revelou documentos secretos da NSA. Como uma pessoa que se diz jornalista pode pedir a prisão de um jornalista por ele ter feito o trabalho que deve fazer?, pergunta Greenwald. Ele mesmo responde. Explica que a grande imprensa norte-americana vaza todo tipo de informação o tempo todo. Mas somente as informações que interessam ao governo.
Deu um exemplo.

– Noventa segundos antes de pedir a minha prisão, tivemos uma discussão sobre a decisão da justiça em um processo de 2011, que considerou ilegais várias práticas da NSA. Falei com base nos documentos que tenho. E ele disse, não, a maneira com que você  está descrevendo essa opinião está errada. Uma pessoa do governo me disse que a decisão não concluiu que o governo fez algo errado ou ilegal. O governo apenas pediu permissão para fazer certas coisas, que a justiça não permitiu. Essa alegação [de Gregory] é totalmente falsa. Sei porque li os documentos ao invés de ouvir o que representantes do governo sopraram no meu ouvido.  Mas, noventa segundos depois, ele pediu que eu fosse processado por divulgar informações secetas, quando ele mesmo tinha acabado de revelar o conteúdo de um documento secreto, descrito a ele por alguém do governo.

Ou seja, conclui Greenwald, vazamento de informação que contraria as vontades do governo deve ser punido, enquanto o que obedece à política do estado é recompensado com dinheiro, privilégio e acesso. A chamada grande imprensa dos Estados Unidos, segundo Greenwald, funciona como escudo e megafone do poder. Sai na frente para destruir quem desvia da rota, tentando desacreditar e até mesmo levantar o passado dos que divergem. Acusam até por suposto desequilíbrio mental. O chamado character assassination. Assassinato de caráter.

No fim da palestra, o jornalista destacou a coragem de Edward Snowden. Tão novo, ele sabia que estava arriscando a vida em nome de denunciar um sistema mundial de monitoramento que, acredita, deve ser desmontado o quanto antes. “A coragem é contagiosa”, disse Greenwald. “Ela afeta quem está à sua volta e essas pessoas afetam outras. Nunca podemos duvidar da capacidade que um indivíduo tem de mudar o mundo”.

http://www.viomundo.com.br/denuncias/greenwald-um-bilhao-de-ligacoes-de-celular-por-dia.html

segunda-feira, 15 de julho de 2013

O incrível “pânico espontâneo” de beneficiários do Bolsa Família







A conclusão da investigação da Polícia Federal sobre o pânico que engolfou ao menos 12 Estados do Norte e do Nordeste durante dois dias de maio (18 e 19) devido a boato de que o programa Bolsa Família iria acabar insere-se naquela categoria de coisas de todo tipo que costumam ser comparadas à jabuticaba, que, apesar de também dar na Bolívia, no Paraguai, em Honduras e em El Salvador, dizem que só dá aqui.
A ser verdadeira conclusão como essa da investigação da PF, de que tudo ocorreu “espontaneamente”, o mundo está diante de um dos maiores fenômenos sociais da história. E de um dos grandes mistérios da humanidade.

Senão, vejamos. Trecho da nota oficial da Polícia Federal em que anuncia a conclusão de sua “investigação” sobre um caso que já pertence ao realismo fantástico, afirma que “A PF constatou aumento anormal no volume de saques nas cidades de Ipu (CE) e Cajazeiras (PB) já nas primeiras horas do sábado, dia 18/5. Essas duas cidades apresentaram, proporcionalmente, o maior número de saques dos benefícios no final de semana. A partir das 11 hs da manhã do mesmo dia, verificou-se aumento incomum nas demais cidades que sofreram grande procura nas agências bancárias

A versão que está prevalecendo na mídia para esse fenômeno, apesar de a PF não ter apontado causa outra para o pânico continental que se estabeleceu no Brasil, é a seguinte: no dia 17 de maio (sexta-feira), a Caixa liberou pagamentos do Bolsa Família antes do que deveria. Pessoas dessas cidadezinhas do Nordeste que encontraram o pagamento antecipado por terem ido sacar o benefício antes da hora – sabe-se lá por que – elaboraram as teorias de que a antecipação se deveu a “abono” que o governo estaria pagando pelo dia das mães – o que jamais ocorrera em outros anos – ou de que o programa iria ser extinto e aquele era o último pagamento, por isso fora antecipado.

A criatividade dessas poucas pessoas de duas cidades minúsculas de regiões ermas do país fez explodir nelas a corrida às agências da Caixa já “nas primeiras horas” de sábado, dia 18. Digamos que isso ocorreu por volta das seis da manhã, ao alvorecer, já que ninguém vai a agências bancárias fazer saques em caixas eletrônicas durante a madrugada, enquanto ainda está escuro, até por questão de segurança.

Entre as 6 e as 11 horas de sábado 18 de maio, segundo a PF, em todas as outras cidades de 12 Estados – uma região de dimensão literalmente continental – os saques começaram a ocorrer em progressão geométrica.

Todavia, a investigação da PF não explica como se deu a disseminação desse boato por região tão grande e tão rapidamente. Muito pelo contrário: nega que a internet tenha sido usada para difundi-lo. Outro trecho da nota do órgão, reproduzido logo abaixo, diz exatamente isso.

Foi analisada a possível utilização de redes sociais para propagação dos boatos. Foi identificada uma postagem em uma rede social feita pela filha de uma beneficiária da cidade de Cajazeiras informando sobre o saque antecipado de sua mãe. Essa foi a primeira menção na internet a respeito do assunto. No entanto, a postagem desta informação não foi a origem dos boatos. Assim sendo, a internet e as redes sociais apenas reproduziram notícias veiculadas pela imprensa sobre os tumultos em agências bancárias

Se não houve concurso da internet para espalhar o boato, como é possível que tenha se espalhado por região tão grande e em questão de horas? A PF não diz se foi por telefone, pombo-correio, tambores, código Morse, telepatia ou sabe-se lá mais o quê.

A nota da PF diz que, para chegar à conclusão sobre “pânico espontâneo”, sua investigação identificou e entrevistou “180 beneficiários do Bolsa Família nos estados de Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio de Janeiro”.

E que, “Entre esses beneficiários, constam os primeiros sacadores das cidades de Ipu e Cajazeiras, além daqueles que foram às agências bancárias a partir das 11hs do dia 18/5 nas demais cidades
Por fim, a nota informa que “Também foram ouvidos 64 gerentes da Caixa Econômica Federal nas localidades onde ocorreu o maior volume de saques”.

A investigação da Polícia Federal durou sessenta dias. As entrevistas de beneficiários e gerentes da Caixa que diz ter feito ocorreram à média de quatro por dia. Alguns diriam que se tratou de uma investigação “Tabajara”, tanto pelo contingente reduzido de pessoas ouvidas em uma região continental em que multidões se desesperaram, depredaram etc. quanto pelo ritmo de trabalho.

A nota da PF em que ela informa que esse episódio impressionante ocorreu por geração espontânea, aliás, não atribui tudo o que ocorreu à antecipação do pagamento do benefício. Apenas diz que os boatos ocorreram sem uma causa só, sendo a antecipação um dos prováveis fatores.

Então, além de essa investigação Tabajara não explicar como o boato se disseminou – se foi por alguns dos meios tecnológicos ou paranormais acima descritos ou pelo que quer que seja –, ainda não diz por que uma hipótese surgida da cabeça de um grupo provavelmente microscópico de pessoas ganhou uma publicidade tão potente.

Para disseminar qualquer ideia por uma região tão grande e tão rapidamente, talvez só fosse possível fazê-lo usando a televisão e o rádio. E seria altamente questionável dizer que a internet, sozinha, conseguiria espalhar o boato tão rápido por uma população empobrecida e entre a qual a inclusão digital deve ser baixíssima.

Até se pode entender a investigação da Polícia Federal não ter sido boa. As polícias brasileiras são mais famosas pela truculência e pela corrupção do que pela capacidade investigativa, que ainda costuma se resumir a torturar suspeitos de crimes para que “deem o serviço” que policiais não querem ou não sabem fazer. O que não se entende é todos ficarem satisfeitos com explicações tão ruins.

http://www.blogdacidadania.com.br/2013/07/o-incrivel-panico-espontaneo-de-beneficiarios-do-bolsa-familia-2/

A PM em xeque




por Márcio Zonta, no Brasil de Fato


Foto: Marcelo Camargo / ABr

O homem tem 34 anos, aproximadamente um metro e oitenta e cinco de altura, braços largos e musculosos e algumas cicatrizes na face. “São marcas das batalhas”, diz. De tez morena, feição séria, voz rouca, cabeça raspada e barba feita, tem um ar de guerrilheiro combatente. Filho de um pedreiro e de uma costureira é o sétimo irmão dentre oito. O bater dos pés no chão constantemente demonstra impaciência e certo nervosismo.

Suas primeiras palavras explicam muito de sua profissão: “Não, não existe essa de ir para rua para enxergar cidadão em manifestação, e pior ainda em favela, é tudo vagabundo, ou como gosta de falar uns coronéis, uns chefes mais antigos, é subversivo, então temos que ir para cima”.

A descrição do homem acima e o sequente relato pertencem a *Robson, um soldado da Polícia Militar do Estado de São Paulo, que aceitou conversar com a reportagem do Brasil de Fato, sob a condição de sigilo de sua identidade. O PM está há dez anos na instituição e atua numa das periferias da cidade, no extremo sul.

A clareza com que Robson explicita a violência, característica central das ações da PM brasileira, ilustra as cenas de truculência desmedida da corporação contra os manifestantes dos diversos protestos que eclodiram pelo país no mês de junho, episódios que trouxeram o tema da desmilitarização da Polícia Militar à tona nas últimas semanas.

A violência reservada geralmente aos espaços periféricos das grandes cidades, onde costuma ser letal, atingiu manifestantes de diferentes classes sociais, feriu jornalistas que cobriam as passeatas, além de pessoas que transitavam pelas avenidas nos dias das mobilizações.

Em Belém (PA), a gari Cleonice Vieira de Moraes, de 51 anos, sentiu um mal estar após a explosão de uma bomba de efeito moral ao seu lado. Hipertensa, entrou em óbito. Em São Paulo (SP), um dos casos que ganhou mais notoriedade na mídia foi o da repórter da Folha de S. Paulo Giuliana Vallone, ao ser atingida por uma bala de borracha no olho, quando trabalhava num dia de manifestação contra o aumento da passagem.

Para especialistas no assunto, se antes a bruta repressão policial contra pobres não incomodava a grande parcela da sociedade, no atual momento em que essa violência se expandiu, o modo de atuar da PM ganha novos críticos.

“Agora é o grande momento de colocar em pauta a desmilitarização. A PM sempre foi violenta contra os pobres e ninguém nunca se preocupou. Se aprece uma jornalista de um grande jornal com o olho todo detonado, uma violência extremamente grave e que evidentemente não está legitimada, isso choca muito mais que 20 morrendo na favela.”, enfatiza o professor de direito penal da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Túlio Viana.

Por que a desmilitarização?

A desmilitarização, entretanto, sugere uma série de questões que geralmente estão ocultas aos olhos da população. Ademais, o “despreparo” policial, sempre citado quando a polícia atua de maneira violenta, seria outro mito a derrubar.

“Quando a gente fala em desmilitarização da polícia, muita gente não entende o que estamos querendo dizer. Acha que a gente quer que a polícia ande desarmada. Outros pensam que o problema é a farda. Não tem nada disso. O problema do militarismo é que a sua lógica é de treinar soldados para a guerra”, elucida Viana.

A fala do policial militar Robson e as afirmações de Viana acima são reforçadas pelo exemplo do episódio mais recente ocorrido na favela da Maré, no Rio de Janeiro, no dia 24 de junho, quando 13 moradores da comunidade foram mortos numa ação dos homens do Batalhão de Operações Especiais (BOPE).
“Eles entraram justamente na hora que todo mundo chegava do trabalho e foi um fuzuê danado. Eu consegui chegar à minha casa e me tranquei, porque não tem bala perdida, é só bala achada.”, diz um morador da Maré que não quer se identificar.

A empregada doméstica Marinalva, que também viveu momentos de terror naquela noite na Maré, descreve sobre as horas quase intermináveis de tensão, quando homens do BOPE invadiram sua casa: “Arrombaram minha porta e entraram na minha residência, agrediram por diversas horas meu marido e meu filho e a todo instante nos ameaçavam de morte, falavam mal a gente de bandido e vagabundo e gritavam perguntando sobre armas, drogas e o que fazíamos da vida”.


Linha de ação

Com uma forma de atuação delineada nos tempos da ditadura civil-militar brasileira, a PM tem um treinamento específico para combater os “inimigos” nas ruas.

“O problema de a Polícia Militar ter sido forjada na ditadura incide sobre sua filosofia de atuação. Enquanto outras polícias do mundo são treinadas para abordar o sujeito, fazer averiguação e liberá-lo, ou se cometeu um delito enviá-lo para outras instâncias, como julgamento, no Brasil é diferente: a ordem é aniquilar o inimigo, que nesse caso é o povo”, esclarece Viana.

Para isso, o fator preponderante da violência policial passa pela formação dos soldados, colocando-os contra seus interesses de classe e os subordinando totalmente aos seus comandantes para efetuar qualquer ordem solicitada.

“É pobre combatendo pobre. O soldado, o cabo, está na ponta de todos os interesses do Estado e também privado, por isso, a morte e a lesão ao inimigo é só mais uma ferramenta de coerção a ser utilizada pelo militarismo”, observa o professor de direito penal da UFMG.

Diante disso,o PM Robson revela as humilhações e as práticas violentas sofridas nos cursos de formação e posteriormente nos batalhões pelos soldados, além do direcionamento ideológico receitado na instituição.
“O soldado é tratado como um bicho, um animal, às vezes como um lixo, isso antes e depois da sua formação; tem sempre que baixar a cabeça para tudo e fazer sempre direitinho. Quando sai para rua não pode vacilar” diz o soldado.

É sobre um clima de pressão que o “resultado” tem que aparecer. “Quando vamos para uma missão que tem que tirar as famílias que invadiram um terreno na cidade de São Paulo, por exemplo, é muito estresse, porque temos que cumprir a tarefa, seja da maneira que for”, expõe.

Por onde começar?

O especialista em segurança pública Guaracy Mingardi salienta que a desmilitarização da PM no Brasil levaria anos por conta das mudanças jurídicas e ideológicas que implicam o processo. Para mudar uma polícia do status militar para civil, seria necessária uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) e posteriormente submetida à votação em diversas esferas do governo.

No entanto, ações de cunho imediato poderiam alterar o panorama das corporações militares atuais, sobretudo no que diz respeito aos velhos laços adquiridos na ditadura civil-militar brasileira que perduram até hoje.

“O primeiro passo seria extinguir a Inspetoria Geral da Polícia Militar (IGPM), subordinadas às Forças Armadas, que pode mandar nas ações da PM quando quiser. Para acabar com esse elo, basta uma lei ordinária, não precisaríamos alterar a Constituição”, explica Guaracy.

A IGPM foi instaurada por um decreto de lei nos anos de chumbo no Brasil, no final da década de 1960 para inspecionar a Polícia Militar. Pela nova Constituição Brasileira, de 1988, o órgão não é mencionado, mas como não foi proibido, segue regendo normalmente até os dias atuais.

Segundo Guaracy, outro ponto importante a ser modificado é o regimento interno da PM. “Acabado com a influência da IGPM, teríamos que dar fim às regras militares pesadas e humilhantes que influenciam no ímpeto violento dos soldados nas ruas. Mas, claro, com a existência de uma hierarquia como todo órgão público. Para isso, também não precisaríamos de mutações constitucionais”, diz.

Por fim, outra mudança na PM, que transformaria profundamente seu modo de atuar, corresponde ao fim do tribunal militar. “Você igualar os direitos de um policial no mesmo patamar que de um civil, sem que ele seja julgado pelos seus próprios pares, mas sim como qualquer outro cidadão. Isso traz muitos efeitos benéficos”, expõe o especialista em segurança pública.

Dessa forma, para Guaracy, uma coisa é certa: “Você não pode começar a mirar a mudança da PM somente a partir da Constituição, já podemos começar a fazer agora”, convoca.

*nome fictício

http://www.rodrigovianna.com.br/geral/a-pm-em-xeque.html

Os hitlernautas brasileiros


Mauro Santayana 15 de julho de 2013
 
Os ultradireitistas mostraram a cara nos protestos de junho e podem ser mais perigosos do que imaginamos.

Carecas brasileiros e a saudação nazista: convém não facilitar

Carecas brasileiros e a saudação nazista: convém não facilitar

Para quem acha que Dani Shwery, Thismir Maia e Carla Dauden são o máximo que a direita “espontânea” conseguiu preparar para mobilizar seus simpatizantes – no contexto do quadro reivindicatório das manifestações de junho – podemos dizer que entre os servidores do Google e da Microsoft e os mouses dos internautas comuns há muito mais coisas que a nossa vã filosofia possa imaginar.

Uma delas, ficou comprovado, é a espionagem norte-americana na rede, denunciada pelo agora foragido Edward Snowden.

O súbito aparecimento do fenômeno dos hitlernautas é outra – e esse é um fato que merece ser analisado.
O hitlernauta, não é, na verdade, uma nova espécie no ciberespaço brasileiro. Ele sempre existiu, embora não fosse conhecido por esse nome.

A questão é que, antes, os hitlernautas só podiam ser encontrados no seu habitat natural, em reservas quase sempre protegidas, e normalmente produzidas e consultadas apenas por eles mesmos.
Encontravam-se, assim, ao abrigo do navegante comum, como nos sites neonazistas, integralistas, da extrema-direita católica, ou que correspondem, no Brasil, a “espelhos” de certas “organizações” fascistas internacionais.

Nesses espaços, eles ficaram, por anos, alimentando suas frustrações, preparando-se para sair à luz do dia tão logo houvesse uma ocasião mais segura para se apresentarem ao mundo.

A oportunidade surgiu no âmbito das passeatas de junho.

Afinal, nessas manifestações, cada um podia carregar a mensagem que desejasse – desde que não fosse símbolo de partidos políticos.

Os hitlernautas, além de aparentemente apartidários, são, principalmente, antipartidários. Assim, resolveram engrossar, a seu modo, a procissão, mesmo sem conseguir indicar, com clareza, rumo ou andor que lhes valesse.

É fácil reconhecer o hitlernauta. Nas ruas, é o “careca”; o de cara coberta por um lenço; pela máscara de um movimento “anarquista”; o que leva coquetel molotov de casa; joga pedra na polícia; agride violentamente o militante do PSDB ou do PSTU que estiver carregando uma bandeira; quebra prédios públicos; arranca semáforos; saqueia lojas; põe fogo em carros da imprensa ou invade o Itamaraty.
Na internet, o hitlernauta é ainda mais fácil de ser identificado.

É aquele sujeito que acredita (piamente?) que estamos vivendo a penúltima etapa da execução de um Golpe Comunista no Brasil. E que o Fórum de São Paulo é uma espécie de conclave secreto, destinado a dominar o mundo via implantação, no continente, de uma União das Repúblicas Socialistas da América do Sul.
O hitlernauta é o “anônimo” que nos comentários, na internet, tenta convencer os interlocutores, de que as urnas eletrônicas são manipuladas; de que não existe oposição no Brasil, porque o PSDB é uma linha auxiliar do PT na implantação do stalinismo por aqui; que FHC é fabianista, logo, uma espécie de socialista a serviço da entrega do Brasil aos vermelhos; que a ONU é parte de uma conspiração mundial, e o único jeito de consertar o país é acabar com o voto universal, fechar o Congresso, dissolver os partidos, prender, matar, arrebentar e torturar, por meio de um novo golpe militar.

No dia 10 de julho, os hitlernautas saíram às ruas, sozinhos, pela primeira vez. Segundo o portal Terra, fecharam a rua Pamplona, até a esquina com a Consolação, com a Marcha das Famílias contra o Comunismo, convocada nas últimas duas semanas pela internet.

O portal IG calculou, em cerca de 100 pessoas, o grupo que se reuniu no vão do MASP e marchou, com bandeiras, pedindo intervenção militar, até as imediações do Comando Militar do Sudeste.

No Rio, a convocação conseguiu juntar, frente à Candelária, trinta e poucos manifestantes, em cena em que se viam mais bandeiras e cartazes sobre as escadas do que pessoas para empunhá-los.

Ao ver a foto da “manifestação”, muita gente os ridicularizou na internet.

Os primeiros desfiles das SA na República de Weimar também não reuniam mais que 30 pessoas, que carregavam as mesmas suásticas hoje tatuadas na pele dos skinheads presentes à Marcha das famílias contra o Comunismo, em São Paulo, no dia 10.

As pessoas normais, ao vê-los desfilando nos parques com os seus ridículos uniformes, acharam, na década de 30, que os nazistas eram um bando de palhaços.

Eles eram palhaços, mas palhaços que provocaram a maior carnificina da História.

Sob seus olhos frios, seus gritos carregados de ódio, milhões de inocentes foram torturados, levados às câmaras de gás, e incinerados, em Auschwitz, Maidanek, Birkenau, Dachau, Sachsenhausen – e em dezenas de outros campos de extermínio montados por ordem de Hitler.
Os hitlernautas não devem ser subestimados.


http://www.diariodocentrodomundo.com.br/os-hitlernautas-brasileiros/

O casamento de Dona Baratinha, segundo Hildegard Angel


Diario do Centro do Mundo 15 de julho de 2013
 
O ministro Gilmar Mendes foi padrinho do casal Francisco Feitosa e Beatriz Barata, neta do “rei dos ônibus” do Rio.

Beatriz e Jacob

Beatriz e Jacob Barata

Publicado originalmente no blog da Hildegard Angel.

Tendo o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e sra., como padrinhos, e como convidados os colecionadores de arte Sergio e Hecilda Fadel, que recentemente receberam a presidenta Dilma Rousseff para jantar em casa, no Rio, e cuja filha é casada com o filho do ministro Edison Lobão, das Minas e Energia, além do colunista social de Fortaleza, Lalá Medeiros, casaram-se ontem, com festa que varou madrugada, no Copacabana Palace, Beatriz Barata, neta do maior empresário de ônibus do Rio de Janeiro, Jacob Barata, e Francisco Feitosa Filho, cujo pai é o dono da maior empresa do ramo no Ceará.
Acompanhar, via mídias sociais e MSMs recebidos, o protesto indignado contra este casamento diante da Igreja N. Sra. do Monte do Carmo e da festa no Copacabana Palace, me fez sentir clima de Revolução Francesa, correndo um frio na espinha, um presságio ruim. E me veio à mente a princesa de Lamballe, melhor amiga de Maria Antonieta, com a cabeça espetada na ponta de uma lança, pela multidão que invadiu as Tulherias.

Estávamos numa madrugada de 14 de Julho, mesma data da Revolução Francesa, e toda aquela manifestação, que ontem começou alegre, até divertida, berrando bordões bem humorados, outros de gosto duvidoso, teve consequências desastrosas, com cabeça ensanguentada, decisões equivocadas, batalhão de choque, bombas de gás lacrimogênio, balas de borracha e gás de pimenta, às 3,30h, 4h da manhã, diante de nosso Palácio de Versailles, emblema máximo do luxo, da riqueza e da sofisticação do país: o Hotel Copacabana Palace!

Vou omitir palavrões, baixarias e violências. Se é que já não transcrevi demais disso.

A horas tantas, chegou ao hotel a diretora-geral, Andréa Natal, que por força do cargo mora no Copa. Entrou pela porta lateral da Pérgola, junto ao Edifício Chopin. Aflita, vendo aquela multidão e a gritaria, parou para discutir com os manifestantes, iniciando rápido, bate-boca, logo sustado pelos seguranças, que a transportaram para dentro.

No interior do hotel mais lindo do Brasil, tudo eram maravilhas. No Golden Room, a apoteose do deslumbramento. O decorador Antonio Neves da Rocha plantou no meio do salão uma árvore frondosa, com os galhos alastrando-se por toda a área do teto, de onde pendiam fios com lampadário e buquês de flores. O chão coberto com grama. E a iluminação causava a sensação de se estar numa floresta-lounge, com estofados pretos.

Ali foi o show de Latino, que para entrar só conseguiu pela porta de serviço da Rodolfo Dantas, a da cozinha, driblando os manifestantes. Depois do bundalelê do Latino, houve ali a dança, com o DJ Papagaio e sandálias Havaiana vermelhas para todos os 1050 convidados que compareceram. Foram expedidos 1200 convites. Havia lugares sentados para todos, absolutamente todos.

manifestante

No Salão Nobre, aquele comprido que sucede ao Golden Room, Neves da Rocha cobriu toda a parede de janelões que dá pra piscina com imenso painel único de Debret (ou seria Rugendas?) com super-mega-imensa-paisagem do Rio de Janeiro, abrangendo nossas montanhas, o mar, a Baía, florestas, do teto ao chão, criando visão fantástica.

Completavam o ambiente lustres enormes cobertos com heras, toalhas de damasco verde musgo cobriam as mesas até o piso.

O mesmo décor de toalhas musgo de damasco se repetia nos salões da frente e nas duas varandas, que foram cobertas e fechadas com paredes de muro inglês, com heras, e os mesmos lustres espetaculares. Cadeiras de medalhão suntuosas. Muito bonito.

Entre os três salões da frente, o do meio foi destinado a ser apenas o Salão dos Doces, com bem-casados da Elvira Bona, doces de Christiana Guinle, chocolates de Fabiana D’Angelo. Chá, café, brownies. O Céu, a Terra e o Mar também…

O champagne era Veuve Clicquot. Uísque Black Label. Aqueles coquetéis de sempre, Bellini, Marguerita etc. Vários bares de caipirinha, saquê etc. O bolo de Regina Rodrigues era um acontecimento, com vários andares, todo branco.

Buffet do Copacabana Palace, muito bem servido e elogiado. Na verdade, eram vários buffets, distribuídos por todos os salões e varandas. Mesas de frios. Pratos quentes. O cerimonial foi de Ricardo Stambowsky. As fotos, de Ribinhas.

Flores de Raimundo Basílio. Não houve exagero de flores, o verde deu o tom. Uma decoração em que prevaleceram o equilíbrio e a elegância. Luxo sem excessos.

Todo esse décor serviu de cenário à mais fantástica coleção de vestidos jamais reunida numa festa no Rio de Janeiro. Esta a opinião que ouvi de vários que lá estiveram, quer como convidados, quer prestando serviço ao evento. Um especialista em moda, que pediu para não ser identificado, falou: “Nunca vi tantos vestidos deslumbrantes como nessa festa. E de gente que ninguém conhece”. Acredita-se que a grande maioria das mulheres com essas roupas sensacionais, vestidos de alta costura, grandes marcas, fosse de convidadas do Ceará, que ocuparam vários apartamentos no hotel. O Copa bombou na festa e na ocupação.

Não apenas os vestidos eram extraordinários. As joias eram também fantásticas. A começar pelas da noiva, usando riviera de brilhantes fantástica no pescoço, dois enormes brilhantes nas orelhas e uma coroinha de ouro e grandes brilhantes, na cabeça, sempre usada pelas noivas da família. O vestido de Beatriz Barata foi obra da estilista Stela Fischer.

Tudo isso foi coordenado pela avó, Glória Barata, que durante a festa várias vezes se lembrou do filho assassinado naquela época da onda de sequestros no Rio de Janeiro. A família pagou o resgate, mesmo assim o jovem não foi poupado. Ela ainda guarda um grande sofrimento. Dona Glória é uma mulher sofrida e amável. Todos os que trabalham com ela e sua família a estimam.

Enquanto o minueto social seguia harmonioso, farfalhante e cintilante, entre as mesas de toalhas verde musgo adamascadas dos salões, no entorno do hotel, a contradança era outra.

Não têm pão? Comam bem-casados! Da varanda, convidados rebatiam as provocações verbais atirando bem-casados na “plebe” (bem à la Maria Antonieta, que ofereceu bolinhos, lembram?) e remetiam aviõezinhos de notas de R$ 20 (aí, a inspiração já era mais próxima, à la Silvio Santos).

Num crescendo dos protestos, bate panelas, mensagens de Face e Twitter, imagens postadas, provocações, bordões, os ânimos foram se acirrando e não houve nada que se tentasse para apaziguá-los. Ao contrário.
Na portaria do hotel da Av. Copacabana, o motorista de um dos convidados arrancou o celular da repórter “Ninja”, que, como Ninja, deu um salto e conseguiu recuperá-lo, botando o elemento pra correr. Ela recorreu a um policial, que a tratou com impertinência, parecendo alcoolizado. Tudo isso registrado pela câmera Ninja. E a rede social participando, reagindo, se indignando.

Em seguida, correm todos para a Atlântica, prosseguem a gritaria. Uma convidada insiste em deixar o hotel, é impedida e inicia uma briga, quando um convidado, lá da varanda, atira um cinzeiro de vidro na cabeça de um manifestante, que se fere muito.

Vendo aquela imagem ensanguentada na tela da internet, a galera começa a postar desacatos enfurecidamente. A repórter corre para buscar socorro na ambulância de plantão diante do hotel (é lei quando se trata de evento com mais de 600) e o paramédico. Mas o médico não está, “foi lá dentro”. O rapaz machucado tenta entrar no hotel para ser socorrido. Os seguranças e porteiros impedem sua entrada. Está aí cometido o grande erro da noite!

O Copa, neste momento, rompe sua tradição histórica de cordialidade com a população carioca e de diplomacia e assume uma postura hostil.

A multidão na rua se enfurece. A multidão virtual também e passa a convocar o envio geral de comentários negativos à página do hotel na internet. Uma guerra aberta contra o maior tesouro da hotelaria brasileira! Eu, confesso, quase choro. Adoro o Copa. O Copa é o Rio, nossa memória, nossa História.

protesto

Mais uns 10, 15 minutos, e chega ao local uma advogada dizendo-se da OAB, localiza uma testemunha da agressão, consegue recolher a “arma do crime”, fragmentos do cinzeiro que atingiu o rapaz, leva os dois para a delegacia, onde faz o registro da ocorrência: “tentativa de homicídio”. A vítima leva seis pontos na cabeça.

A garotada agitada continua nos impropérios, constrangimentos e panelaço, e eis que, quase quatro da manhã… chega o BOPE, marcando sua forte presença de sempre, soltando bombas de gás lacrimogênio, atirando com balas de borracha e, para completar a apoteose da alvorada dessa Bastilha carioca, espargindo spray de pimenta a torto e à direita.

Nessa altura, a multidão de manifestantes, que às três e meia da manhã já estava reduzida a uma centena, ficou ainda menor. Eram apenas uns 50 mais experientes, já com suas máscaras anti-spray nos rostos.
Enfim, os últimos convidados, que aguardavam no foyer do hotel pela oportunidade de deixar a festa, conseguem partir. Vão deixando o casamento Barata e tossem, viram os olhos, engasgam com o spray de pimenta. Os manifestantes de máscara anti-spray gozam, a repórter estica o microfone: “Tá gostando, cara?”.

Foi um acontecimento totalmente atípico, inédito. Já houve manifestações de protesto em casamentos de políticos e pessoas importantes. Como no da filha do senador Álvaro Pacheco, décadas atrás, tendo José Sarney, presidente da República, como padrinho, na Igreja do Largo de São Francisco.
Mas nada, jamais, em tempo algum, se comparou à ferocidade do acontecimento irado deste 14 de Julho carioca, em nosso Versailles, o Copa, que, ainda bem, nada teve de noite de Tulherias nem de cabeça espetada em ponta de lança.

Aliviada, vejo que meu frio na espinha não passou do frio de fato dessa noite de inverno carioca. O pressentimento era fajuto. O estrago se limitou a seis pontos na testa de um manifestante, que o responsável pelo estrago há de assumir e, se não assumir, os promotores da festa ou o próprio hotel há de tentar corrigir o ato infeliz de alguma forma.

Apesar de dizerem que cristal trincado não tem recuperação, acredito que o Copa tem credibilidade para se reabilitar aos olhos dos cariocas. Foi apenas um mau momento, espero…

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-casamento-de-dona-baratinha-segundo-hildegard-angel/

Sem médico não pode haver saúde



Tem gente que acha que, ao defender a contratação de médicos estrangeiros para atuar em localidades remotas, onde não aparecem médicos brasileiros interessados, a gente está contra os médicos brasileiros.
Alguns, nos comentários, acham que há uma carga de preconceito contra eles, o que é inteiramente falso.
Tenho tentado sustentar essa discussão à base de fatos e números, mas ela foi personalizada
Por isso, quero contar a vocês que tenho dois grandes amigos médicos, a quem admiro profundamente e a quem devo os ótimos cuidados que meus filhos mais velhos tiveram.

Ambos têm mais de trinta anos de profissão. Ambos, professores universitários.

Deles, vi e ouvi coisas admiráveis.

Inclusive e sobretudo vários “não sei, vou investigar isso melhor”.

Nunca tiveram consultório, até para poderem dizer isso, o que não é “recomendável” dizer a um paciente que paga e quer levar um diagnóstico e uma receita como produto, o que nem sempre é possível, prudente e acertado ali, naqueles 20 minutos de uma consulta.

Um deles, o mais “durão”, certa vez vi chorar. Um paciente, humilde operário de uma empreiteira brasileira que fora trabalhar na África, acabara de morrer. Embora o exame feito tivesse dado negativo para malária, ele insistira com um colega que tratasse o homem para malária, o que não foi feito. Havia um hospital, havia estrutura para exames laboratoriais mas o pobre cidadão, como se diz na linguagem médica, “evoluiu para o óbito”.

Do outro, que trabalhava em um hospital para portadores de HIV/Aids, disse-me uma vez: Fernando, muitas vezes só o que temos a fazer é dar a estas pessoas o direito de morrer em uma cama limpa e recebendo atenção. Naquele hospital, precário, havia uma médica, cujo marido, professor de meus filhos, teve meningite. Embora o hospital fosse referência para esta doença, ele foi transferido para um hospital de altíssimo padrão, na Zona Sul carioca. O homem morreu.

Quando meu filho mais novo ardia em febre há uma semana, para meu desespero, um destes meus amigos, resolveu em 15 minutos o que fazia, durante uma semana,  uma das melhores clínicas pediátricas do Rio, na Lagoa Rodrigo de Freitas, bater cabeça com a falta de diagnóstico, apesar dos múltiplos exames  laboratoriais realizados.

Ele olhou, olhou, me disse “peraí”, subiu pachorrentamente a escada de sua casa e  trouxe um livro já meio desbeiçado para  me mostrar:

- Acho que seu filho está com uma doença que é meio “fora de moda”, a roséola.

- Rubéola?

- Não, roséola, que o pessoal chamava antigamente de “sexta doença” e a gente chama hoje de exantema súbito. Liga pra mim amanhã e me diz se ele não amanheceu com as costas cheias de pintas.
Batata, como os velhos feito eu dizem.

Eu próprio, por razões pessoais e também familiares, nos últimos anos, percorro dezenas de consultórios médicos, a grande maioria particulares. Entrei e saí de tubos das mais variadas espécies.
Nada, porém, me foi tão importante quanto o atendimento que tive em consultórios onde pouco havia senão um estetoscópio, um aparelho de pressão e uma balança.

Minto, havia mais: havia um médico.

Claro que é preciso que haja unidades de saúde, aparelhos, equipamentos, hospitais, laboratórios. Claro que deve haver para o povão tudo o que está à disposição de quem pode pagar um bom plano de saúde. Claro que isso não é a realidade de grande parte de nossas unidades  de atendimento.
Mas nada disso adianta se não houver um médico, e é isso o que não existe em quase 800 municípios brasileiros.

Um médico, um simples e providencial médico, que possa olhar para um cidadão brasileiro, para uma criança que arde em febre, avaliar, medicar e se mais for preciso, encaminhar para onde haja mais recursos.
Que esses brasileiros, iguais a mim e a você, tenham direito a procurar um médico, nas situações mais graves ou quando passam mal, simplesmente.

Por quanto tempo o mais urgente, tranquilizador e, às vezes, salvador foi um médico, com uma “estrutura de atendimento” que cabia numa valise preta?

Não estamos todos de acordo que o mais importante para a saúde é que haja atenção primária e ninguém pode pensar que ela pode existir sem médico, embora exista sem hospitais.

Não vimos manifestações vigorosas quando um médica de um serviço público de saúde emergencial – o SAMU –  ”batia” o ponto por outros cinco médicos usando “dedinhos de silicone”. Claro que ela não representa a categoria valorosa dos profissionais de saúde. Mas o mesmo Conselho Regional de Medicina, três meses depois, sequer suspendeu aqueles profissionais que faltaram à ética e à população carente. Seus registros, basta consultar o site do Cremesp, estão lá, ativinhos da silva xavier.

Quem não valoriza os médicos não somos aqueles que queremos e exigimos – tanto quanto exigimos hospitais “padrão Fifa” – de que se dê um jeito, urgente, que haja médico para todos os brasileiros.
Porque achamos que médico é tão importante, é tão bom, é tão vital, que todo mundo tem direito a um, seja nos Jardins paulistanos, seja num vilarejo do Pará.

Por: Fernando Brito
http://www.tijolaco.com.br/index.php/sem-medico-nao-pode-haver-saude/

Ideia de 'governar para todos' está esgotada


Análise/João Sicsú


Os novos tempos exigem uma economia política que tenha lado. O lado da classe trabalhadora



A sociedade brasileira entrou nos anos 2000 adormecida pelo neoliberalismo do salve-se quem puder e anestesiada pelas precárias condições econômicas. Grande parte da população tentava apenas sobreviver depois do desastre das administrações neoliberais (1990-2002) de Collor, Itamar e FHC. Faltavam empregos, renda, investimento, produção, crédito e consumo.

Os governos Lula e Dilma conseguiram reduzir a taxa de desemprego, elevar o salário mínimo, distribuir renda, ampliar o crédito e criaram um enorme mercado de consumo de massas. Um mercado onde mais de 120 milhões de brasileiros podem consumir de forma regular.

Muito foi feito nos últimos dez anos em quase todas as áreas, mas a única política que foi capaz de atingir seus objetivos de forma plena foi a política macroeconômica. A inflação foi mantida sob controle, as contas públicas estão organizadas e seus resultados sociais são extraordinários. O desalentado se motivou e encontrou emprego. O desempregado ganhou uma carteira de trabalho assinada. O trabalhador virou consumidor. O crédito chegou às mãos do consumidor e das empresas.

O trabalhador brasileiro típico é aquele que ganha até três salários mínimos. Casado com uma trabalhadora, ganham juntos entre  1,5 mil e 3 mil por mês. Moram nas grandes regiões metropolitanas em bairros e localidades pobres e degradadas. Nas idas e vindas do trabalho, nos passeios de domingo, descobriram que existem regiões seguras, com iluminação, varrição, coleta de lixo, saneamento, transporte fácil, habitadas por gente com saúde e estudo. Existem, portanto, pessoas que vivem plenamente a cidade onde moram.
As famílias de trabalhadores passaram, então, a desejar viver. Pensaram que podem ser mais que rudes trabalhadores que têm direito ao consumo. Desejam alcançar o patamar de famílias com pleno direito à cidade. Afinal, já estavam sobrevivendo com segurança tendo emprego, salário e consumo.

Esta é a mudança de pauta, o desejo de viver, que já estava nítida antes das manifestações de junho. Mas, o governo continuava fazendo a velha economia política do governar “para todos” que objetivava crescimento econômico com distribuição de renda. Tentava fazer mais do mesmo.

A economia política do governar “para todos” é um conjunto de políticas que convergem classes sociais distintas para objetivos comuns: lucros, investimentos, produção, salários e consumo, tudo em ascensão, compuseram o ciclo econômico do período 2004-2010. Gerar empregos, distribuir renda com crescimento e ampliar o crédito e o consumo não ferem interesses.

Na nova situação econômica e social do país, a diferença é que a realização por parte do governo de uma pauta voltada para a satisfação da vida, uma pauta que vai além da sobrevivência, não é mais possível com uma economia política voltada “para todos”.

Para solucionar o problema crítico dos transportes urbanos, interesses das máfias empresariais necessariamente devem ser contrariados (e das montadoras multinacionais de veículos também). Para solucionar o problema da saúde pública, interesses corporativos e econômicos internacionais devem ser enfrentados. Para fazer uma reforma política que impeça o poder econômico de financiar partidos e campanhas, será necessário se opor a grandes empresas, bancos e seus representantes no parlamento. Para promover um financiamento justo dos serviços públicos, será necessária uma reforma tributária que enfrente os interesses dos detentores de grandes riquezas, fortunas, heranças e rendas.

Deram excelentes resultados a economia política do governar “para todos” do decênio 2003-2012. Mas os tempos mudaram - ou evoluíram. Os novos tempos exigem uma economia política que tenha lado. Uma economia política que esteja voltada para a nova pauta da classe trabalhadora será uma economia política que provocará enfrentamento de ideias, mudanças de alianças na sociedade e recomposição da base de apoio ao governo no Congresso, que necessariamente se estreitará.

Esse é o xadrez político atual. Há duas opções para o governo: tentar manter a economia política do governar “para todos” ou enfrentar o foco da questão social dirigindo as baterias políticas contra ideias, instituições, empresas e partidos que estão no campo adversário.

No momento, o governo está entre as duas opções: quer atender a nova pauta, mas quer reduzir o enfretamento se utilizando de desonerações tributárias e fazendo concessões políticas (por exemplo, os médicos cubanos foram esquecidos).

A conjuntura é histórica: é hora de escolher com quem governar e para quem governar. Não é possível mais governar “para todos”, ainda mais na era dos pibinhos. Também não será possível permanecer entre duas opções irreconciliáveis. Tal caminho será considerado muito limitado por uma classe trabalhadora que está exigente. É hora de o governo fazer escolhas. Os trabalhadores já fizeram as suas.

http://www.cartacapital.com.br/economia/ideia-de-governar-para-todos-esta-esgotada-8125.html

Medicina é a carreira que tem o melhor desempenho trabalhista no Brasil

Presidente do Ipea diz que é favorável à contratação de médicos estrangeiros



Carolina Sarres
Repórter da Agência Brasil


Brasília – O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e atual ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, Marcelo Neri, disse, hoje (3), que é favorável à vinda de médicos estrangeiros ao Brasil por causa da escassez dos profissionais no país. O Ipea divulgou nesta quarta-feira um estudo informando que medicina é a carreira que tem o melhor desempenho trabalhista no Brasil, com base em quatro critérios: salários, jornada de trabalho, cobertura previdenciária e facilidade de se conseguir emprego.

De acordo com o estudo, o salário médio dos médicos é o mais alto do mercado de trabalho (R$ 8,4 mil). Outro dado que torna o curso atraente para o estudante é a facilidade de emprego. Segundo técnicos do Ipea, os dados levantados com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, entre 2009 e 2012, mostram que a medicina é a carreira em que mais facilmente se é empregado : pelo menos 97% dos formandos encontram trabalho, diz o estudo.

“Das carreiras analisadas, medicina é a que tem mais escassez de mão de obra. Quando esses dados são analisados geograficamente, percebe-se que, em alguns lugares, a presença de médicos é um quinto em relação à de outros lugares”, explicou Neri, ainda que a medicina não tenha sido o alvo do estudo divulgado hoje, que avaliou a situação de diversas profissões. Sobre a situação dos médicos, Neri ressaltou que os dados não são novos e já haviam sido demonstrados pela última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), em 2010.

Dados do Ministério da Saúde mostram que, no Brasil, há 1,8 médico para cada mil habitantes. Na Argentina, a proporção é 3,2 médicos para mil habitantes e, em países como Espanha e Portugal, essa relação é quatro médicos.


O governo tem justificado a vinda de médicos do exterior com o argumento de que há escassez de profissionais na área de saúde. O Conselho Federal de Medicina (CFM), no entanto, diz que há médicos em número suficiente para atender à demanda brasileira e pede plano de carreira federal para atrair os profissionais às áreas carentes do Brasil.

De acordo com Marcelo Neri, os dados que colocam a medicina como a carreira com mais vantagens trabalhistas – altos salários, cobertura previdenciária e fácil empregabilidade, que compensam a extensa jornada de trabalho -, mostram que o mercado vem reconhecendo a importância da profissão, por meio da valorização da carreira, expressa pelas melhores condições oferecidas. Situações em que são verificados baixos salários, segundo ele, são exemplos de situações escondidas por médias.




 

Padilha: O Brasil tem metade dos médicos da Argentina


Médico brasileiro conhece o paciente aos pedaços

"Nós queremos que cada médico formado tenha a oportunidade de fazer uma especialidade médica no nosso País. "

Saúde se faz mais perto de onde as pessoas vivem, moram. É lá que você permite um cuidado continuado à pessoa, inclusive fora do ambiente hospitalar”, foi o que disse nessa segunda-feira (15), o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em entrevista exclusiva ao Conversa Afiada, por telefone.


O ministro se disse absolutamente concentrado nas medidas do Pacto Nacional da Saúde, em especial no programa “Mais Médicos” que, segundo ele, será decisivo na consolidação do Sistema Único de Saúde, o SUS, que completou 25 anos.


O ministro Padilha rebateu as críticas sobre as diretrizes do programa, sobretudo no que diz respeito ao foco principal da proposta que é aumentar o número de médicos por habitantes.


O projeto que prevê a contratação de médicos para o interior do País, com a vinda de médicos estrangeiros quando necessário, tem causado polêmica na área médica.


Médicos e as associações de classe têm criticado o foco do programa, uma vez que entendem que o problema da saúde pública no Brasil não é a falta de médicos e, sim, a falta de estrutura, de leitos e hospitais.


Para Padilha, a política adequada para a saúde não é uma escolha entre mais médicos ou mais hospitais: “precisamos agir em todas as áreas ao mesmo tempo, e agora”, diz o ministro.


A íntegra da entrevista em áudio e texto:



1 – PHA: Ministro, como o senhor reage às críticas de médicos famosos, como, por exemplo, o Dr. Drauzio Varela – que inclusive tem uma participação na televisão muito conhecida – que diz que antes de mandar médicos é preciso construir hospitais. Como o senhor reage a isso?


Ministro Padilha: Eu estou convencido de que nós temos que agir com tudo ao mesmo tempo, e agora.


O programa ”Mais Médicos” tem como sua primeira ação um forte investimento em infraestrutura.


E não só em hospitais, mas em unidades de saúde, unidades fluviais de saúde na região amazônica, porque nós temos que tirar da mentalidade do SUS de que saúde só se faz dentro de hospital.


Saúde se faz mais perto de onde as pessoas vivem, moram. É lá que você permite um cuidado continuado à pessoa, inclusive fora do ambiente hospitalar.


Então, a primeira ação é ter mais estrutura sim: nas unidades de saúde, nas unidades fluviais na amazônia, unidades básicas.


São 20 mil unidades básicas sendo ampliadas, reformadas e construídas em todo o País.


Também precisamos – e o ”Mais Médicos” tem isso – de mais recursos e melhor funcionamento dessas unidades. A garantia de medicamentos, de insumos, de tratamento e o combate de qualquer tipo de desperdício nos recursos da saúde.


Combinado isso, nós precisamos de um profissional nessas unidades saúde. Nós já temos várias unidades que já foram montadas, ficaram prontas, o que falta para funcionar nessas unidades é um profissional da saúde.


Aliás, um estudo que foi feito recentemente mostra que nos últimos 5 anos, aumentou em 40% a quantidade de equipamentos. Aumentou em mais de 17% o número de leitos e estrutura hospital e aumentou apenas 14% o número de médicos no nosso país.


Nós precisamos agir em três dimensões: mais e melhores unidades de saúde. Melhor gestão e garantia de recursos na saúde e mais médicos, porque não se faz saúde sem médicos.



2 – PHA: Quantos hospitais o senhor calcula que estão sem médicos hoje no Brasil?


Min. Padilha: Não só pensando nos hospitais, mas pensando nas unidades básicas de saúde.


O Ministério da Saúde fez uma pesquisa detalhada com hospitais públicos e privados brasileiros e constatou que 70% deles tem dificuldade para contratar e fixar pediatras.


Quase 60% deles tem dificuldade em fixar Anestesiologia.


Nós estamos expandindo 80 novos centros de tratamento para o câncer no Brasil, e o principal gargalo para fazê-los funcionar será termos médicos oncologistas especializados em tratamentos do câncer.


Então, quando estamos falando de hospitais, é muito importante também aumentar o número de especialistas no nosso país.


Por isso, que uma das ações do “Mais Médicos” é abertura de 12 mil novas vagas de residência médica.


Isso é dobrar o número de vagas para residência médica que nós temos hoje, mas queremos ampliar para as especialidades que nós mais precisamos. A abertura de novas vagas em residência, quais especialidades a serem valorizadas, tem de seguir as necessidades de saúde do País. Não pode ter nenhum outro interesse além das necessidades do País.


Então o País precisa formar mais anestesiologia, mais neurocirurgião, mais pediatras, mais médicos para o tratamento do câncer…


Nós queremos que cada médico formado tenha a oportunidade de fazer uma especialidade médica no nosso País.



3 – PHA: O senhor fala frequentemente que existe uma especialização precoce na formação de médicos no Brasil. O que é isso e como combatê-la?


Min. Padilha: Esse é um fator decisivo para a formação dos médicos, não podemos perder essa oportunidade para fazer a mesma mudança nas escolas médicas que os países europeus como a Inglaterra, Bélgica, Suécia, Espanha e Portugal já fizeram. O que é isso?


Hoje o médico se forma sem ter a oportunidade de acompanhar uma mulher gestante desde o pré-natal até o momento do parto, ou do nascimento dessa criança até os primeiros anos de desenvolvimento dessa criança.


Todos os médicos que se formam não tiveram essa experiência.


Nenhum médico que se forma hoje tem a experiência, durante o curso de medicina, de acompanhar um mesmo paciente diabético, hipertenso por um ano.


Nenhum deles teve a oportunidade de acompanhar um paciente que foi diagnosticado com depressão, começou o tratamento, quais foram as respostas a esse tratamento.


Ou seja, a formação do estudante de medicina hoje – e isso não é culpa do estudante, é como foi estruturada a escola médica – é de conhecer os pacientes aos pedaços, a partir das especialidades médicas em hospitais de alta complexidade.


Por isso que é muito importante a ideia dos dois anos no SUS, na atenção primaria, no médico da família e na urgência e emergência no final da formação do médico.


Porque ele vai fazer o estudante – que já tem um conjunto de conhecimentos e experiência acumulada – fique dois anos, com supervisão, na medicina da família, na urgência e emergência, acompanhado já com responsabilidades, e com isso, sair um médico mais experiente e mais bem formado para o conjunto da população.


Essa mudança já está na Medida Provisória, e tem agora seis meses de debate no Conselho Nacional de Educação com as entidades médicas, na Associação de Urgência Médica, para detalhar como vai ser esses dois anos na atenção básica e na urgência e emergência.



4 – PHA: Eu vou fazer uma afirmação e vou pedir para o senhor julgar se ela é correta, incorreta ou quase correta: o sonho de todo estudante de Medicina no Brasil é sair da faculdade e ir trabalhar no Sírio Libanês.


Min. Padilha: Eu acho que é incorreta. Não é o sonho de todo não.


Agora, eu acho que o sonho é ir trabalhar em um hospital de qualidade, no padrão de qualidade como o do Sírio Libanês, do Albert Einstein.


E o nosso sonho, e o nosso trabalho tem que ser oferecer à população brasileira, na rede pública de saúde, hospitais da mesma qualidade que os melhores hospitais privados do País.


Não à toa, nós conseguimos fazer isso em algumas coisas. Por exemplo, o Brasil é recordista mundial em número de transplantes totalmente gratuitos. Não existe procedimento mais complexo, que exija um hospital de melhor qualidade, com mais estrutura do que o transplante público.


Então eu acredito sim, e o meu sonho como ministro e como médico – porque eu estou ministro, mas sou médico – que é possível ter uma saúde pública com a mesma qualidade de hospitais como o Sírio e o Einstein.


5 – PHA: Qual a relação das políticas anunciadas no programa “Mais Médicos” e as manifestações que aconteceram recentemente? Foi uma resposta as manifestações?


Min. Padilha: Não, não foi uma resposta porque nós já vinhamos trabalhando há um ano, um ano e meio, discutindo consultando experiência internacionais.


Acho que isso é uma resposta aos 25 anos do SUS. Nós estamos em um momento histórico, que países como Inglaterra; Canadá; Espanha, também tiveram que enfrentar para consolidar sistemais nacionais, universais, públicos e gratuitos.


Você precisa sim definir quantos médicos você quer ter, como distribuí-los, quais as especialidades médicas nós precisamos ter.


Agora, acredito que as manifestações trouxeram a pauta sobre a importância da qualidade nos serviços públicos. E não é possível fazer serviço público na área de saúde com qualidade sem médicos, sem estrutura e sem recursos. E o programa “Mais Médicos” procura atacar as três frentes.


6 – PHA: O programa “Mais Médicos” ajuda sua candidatura a governador de São Paulo?


Min. Padilha: Eu acho, Paulo Henrique, que quem está pensando em 2014 hoje agora está fora da casinha, como diz o povo.


O programa “Mais Médicos” tem uma importância tão grande que eu estou absolutamente focado nele, só penso nele. E estou muito animado pelo fato da presidente ter tido a coragem de pautar esse tema no País.


Eu sei que uma parte da polêmica, uma parte das reações é também porque, durante muitos anos, se tentou consolidar uma imagem de que o País tinha muitos médicos.


E quando o ministério da Saúde vem e compara que o Brasil tem 1.8 médicos por mil habitantes e a Argentina tem mais de 3 médicos por mil habitantes, Espanha e Portugal tem 4 médicos por mil habitantes, nós sabemos que nós estamos pondo o dedo em uma ferida, que tem polêmica, que tem debate, mas que é importante sim fazê-lo para a consolidação do SUS.  





http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2013/07/15/padilha-o-brasil-tem-metade-dos-medicos-da-argentina/

A bomba semiótica da Polícia Federal




Novamente a Semiótica é convocada para desmontar outra “bomba semiótica” que detonou na mídia nesses últimos dias. E dessa vez uma bomba plantada pela própria Polícia Federal: investigações do órgão concluíram que o boato que levou ao pânico beneficiários do “Bolsa Família” em 12 estados foi “espontâneo”, não havendo, portanto, causa intencional. Conclusão tão irracional, retoricamente saturada e cientificamente sem sentido que entra na categoria das “bombas semióticas”: artifícios letais camuflados de informação, mas que escondem construções de sentido arbitrárias e, nesse caso, com uma novidade: se o fenômeno aconteceu porque aconteceu, então os fenômenos da comunicação entram no terreno da tautologia e da magia.

A Polícia Federal deu uma histórica contribuição científica que será o divisor de águas dos estudos no campo da Comunicação. O relatório final das investigações sobre o boato que provocou grandes filas e tumultos em agências da Caixa Econômica Federal e casas lotéricas em 12 estados em um final de semana de maio encerrou o caso da seguinte maneira: “foi espontâneo, não havendo como afirmar que apenas uma pessoa ou grupo tenha causado. Conclui-se, assim, pela inexistência de elementos que possam configurar crime ou contravenção penal”.

Essa conclusão de “investigação de campo” é “revolucionária” por que: (a) insere na Comunicação um elemento tautológico (o boato aconteceu porque aconteceu!). Em outras palavras, a Polícia Federal insere um elemento animista e mágico nos fenômenos de comunicação: o mundo é animado por forças que estabelecem bizarras contiguidades entre fatos aparentemente aleatórios; (b) rompe com um princípio básico da ontologia da Comunicação: a intencionalidade. O que define o fenômeno comunicacional é a intencionalidade do emissor (por que ele comunica? Qual sua intenção ou finalidade?) e a decisão do receptor - aceitar ou não o “jogo” proposto pelo emissor.

Dessa forma, a conclusão da Polícia Federal sobre a “espontaneidade” do fenômeno do boato o tiraria o fenômeno comunicacional do campo humano e cultural para ser transferido para o reino da natureza e da magia!

Deixando de lado as ironias, a conclusão da Polícia Federal para o caso é mais uma dessas “bombas semióticas” que estão explodindo na mídia nos últimos meses, tornando cada vez mais pesada a atmosfera política atual. É uma conclusão tão irracional, retoricamente saturada e cientificamente sem sentido que entra na categoria das “bombas semióticas”: artifícios letais camuflados de informação, mas que escondem construções de sentido arbitrárias e, nesse caso uma novidade, um sentido até mágico.

Portanto, cabe a nós desmontarmos mais essa bomba semiótica. Como sempre, uma engenharia reversa feita a posteriori porque a bomba já foi plantada e detonada nas grandes mídias.

Orson Welles: o pai de todos os boatos


O boato está totalmente identificado com um espaço acústico ressonante. Diferente de veículos como a TV e o Cinema que estimulam o espaço visual, o rádio estimula o aspecto sensorial da ressonância: cria um ambiente plástico marcado pela simultaneidade, invisibilidade, envolvimento, inclusão e integração.

Não é por acaso que o pai de todos os boatos midiáticos foi a transmissão radiofônica de “Guerra dos Mundos” em 1938 pela rádio CBS em Nova York. Dirigido pelo ator e, então, futuro diretor de cinema Orson Welles, foi uma adaptação feita pelo “Mercury Theater on the Air” do livro “War of the Worlds” do escritor inglês H.G. Wells. Usando técnicas do programa de notícias “March of the Time” da mesma CBS associando-as à linguagem de dramatização de rádio-teatro, Welles conseguiu confundir muitos ouvintes que começaram a acreditar que estava em curso uma invasão marciana nos EUA.

Depoimentos como esse publicado no jornal “Herald Examiner” apresenta como foi a dinâmica da disseminação do boato:
Samuel Tishman de 100 Riverside Drive foi um da multidão que fugiu para as ruas depois de ouvir parte do programa de rádio. Ele declarou que centenas evacuaram suas casas temendo que a cidade estivesse sendo bombardeada. “Eu cheguei em casa por volta das 9:15 da noite quando recebi um telefonema do meu sobrinho que estava louco de medo. Contou-me que a cidade estava sofrendo bombardeios aéreos e que todos estavam sendo aconselhados a abandonarem os prédios. Eu liguei o rádio e ouvi a transmissão, confirmando o que meu sobrinho havia dito, agarrei meu chapéu e sobretudo e alguns pertences pessoais e corri para o elevador. Quando cheguei nas ruas vi centenas de pessoas correndo desorientadas em pânico. Muitos de nós correram em direção da Broadway” (“Radio Fake Scares Nation”, Herald Examiner, Chicago, 31/10/1938).

A dinâmica do boato


Nesse episódio seminal encontramos os primeiros elementos que envolvem a disseminação do boato:

(a) É necessário um meio “físico” condutor, uma atmosfera semioticamente carregada. Estudos posteriores revelaram que muitas pessoas presumiram que eram nazistas, e não marcianos, que invadiam os EUA. Era o momento da Segunda Guerra Mundial e para o imaginário paranoico do momento, nazis, alemães e marcianos eram significações muito próximas.

(b) Houve o elemento da intencionalidade. Logicamente, Orson Welles declarou para a FCC (Federal Communications Commission  que apurou as responsabilidades do evento) em Washington que jamais lhe passou pela cabeça que as pessoas acreditariam em um história tão absurda. Mas a sua experimentação estética inédita (a fusão da linguagem ficcional com a documental e jornalística, hoje comum em qualquer telejornal) foi o fator causal e, portanto, intencional.

(c) Mais tarde em 1947 Gordon Allport e Leo Postman publicaram “A Psicologia do Rumor” onde apontam dois fatores que estão presentes no episódio da “Guerra dos Mundos”: importância e ambiguidade. Primeiro, a notícia deve ser “importante” no sentido de poder ser atribuída a ela pelo receptor uma novidade que resulte em seu próprio interesse – “o que ganho ou perco com isso?”. Essa importância será multiplicada pelo fator ambiguidade: o ineditismo deve ser tão inusitado que deixe uma dúvida: é verdade ou mentira?

(d) Esse fator ambiguidade corresponderia à típica comunicação dominada pelo que a Semiótica chama de signos indiciais. Como um sinal ou fragmento que aponta para a existência de um objeto ou evento, o índice possui uma natureza ambígua porque a sua compreensão é subjetiva e perceptiva. Ele aponta para um referente, mas a princípio nada sabemos sobre sua intensidade e qualidade: a fumaça aponta para a existência do fogo, mas pouco informa sobre a extensão ou natureza. Assim como no boato o “me disseram” ou “dizem” aponta para a existência de algo ambíguo que dependerá da decisão do receptor.

Encontramos aqui a outra ponta da dinâmica do boato: se de um lado temos a intencionalidade do emissor, do outro temos a decisão do receptor: ele poderá ampliar ou não a intensidade e qualidade do evento indiciado. Como bem documentou os estudos empíricos da Mass Communication Research de Paul Lazarsfeld na década de 1940, há o fator latente da memória seletiva no processo da comunicação – o receptor somente entende o que quer entender, ouve o que quer ouvir. Isto é, a predisposição (política, ideológica, emocional etc.) é que define a decisão do receptor em selecionar determinados fragmentos de um discurso para reforçar algo que ele já pensa.

Se o receptor está sintonizado com uma atmosfera semioticamente carregada (paranoia, insegurança, ignorância, informações desconexas etc.), as decisões dos receptores começam a apontar para uma direção que supostamente o índice indicaria.

Propaganda versus boato

                
             Nos ambientes atuais de comunicação e informação em tempo real, as mídias visuais como TV e Cinema progressivamente são incorporadas pelo espaço acústico ressonante das redes sociais, Internet e dispositivos de comunicação em tempo real. Por isso, a propaganda tradicional torna-se cada vez mais limitada e pontual já que ela é produto da cultura visual cuja natureza é assertiva e sem ambiguidades: toda imagem é afirmativa. A retórica visual cercada pelo discurso (textos publicitários, jingles, slogans etc.) composta por signos icônicos e simbólicos são unívocas, devem apontar sempre para uma afirmação, uma declaração, uma convocação, um comando.

                Ao contrário, no espaço acústico ressonante dominado por índices (emoticons, boatos, signos não verbais como entonações, gestos, conotações etc.) a ambiguidade torna-se o fator potencializador de novidades, notícias e eventos.

                Se esse novo espaço ressonante que incorpora o visual é marcado por conceitos como intencionalidade, decisões, importância e ambiguidade, de forma alguma sua dinâmica pode ser considerada “espontânea”, mas humana e cultural porque produz significações linguísticas arbitrárias. Ou seja, está dentro dos fenômenos políticos e comunicacionais.

                Se a revolução copernicana que a Polícia Federal pretende for verdadeira, então teremos que inscrever esses fenômenos no reino natural. Quem sabe, as instituições públicas ou privadas ao invés de contratarem estudiosos de comunicação, deveriam a partir de agora terem em seus quadros meteorologistas para preverem as variações atmosféricas que propiciam boatos: prever as frentes frias, quentes ou oclusas que moveriam os humores da chamada “opinião pública”.
 
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