segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Vídeo: o misterioso adiamento do mensalão mineiro


Em duas sessões do ano passado, ministros ensaiaram julgar destino do processo cível do valerioduto tucano. Ação saiu de pauta sem qualquer esclarecimento, ninguém sabe explicar por quê

Um mistério ronda o Supremo Tribunal Federal (STF). Em maio do ano passado, o então presidente da corte, Carlos Ayres Britto, chegou a chamar o julgamento da ação cível, aquela que permite a recuperação de recursos desviados, do mensalão mineiro, também conhecido como valerioduto tucano. Por algum motivo, que nem Ayres Britto nem os demais ministros sabem explicar, o processo saiu da pauta. E não voltou mais. Esta foi a primeira denúncia envolvendo o esquema de caixa dois do empresário Marcos Valério Fernandes com políticos a chegar ao Supremo, ainda em 2003, dois anos antes, portanto, das primeiras acusações que abalaram o governo petista, como revelou a Revista Congresso em Foco. Enquanto a ação cível contra os tucanos não sai da gaveta, o Supremo já condenou 25 réus envolvidos no esquema de desvio de dinheiro montado pelo PT e analisa agora os respectivos recursos.

Exclusivo: veja vídeo em que valerioduto tucano é adiado duas vezes pelo STF
O Congresso em Foco teve acesso à íntegra da transmissão das duas sessões em que o Supremo ensaiou julgar o mensalão mineiro – de acordo com o Ministério Público, um esquema de desvio de dinheiro do governo tucano de Minas Gerais em benefício da campanha eleitoral do hoje deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e do atual senador Clésio Andrade (PR-MG), que disputaram o governo estadual em 1998. Mas o que teria acontecido entre uma sessão e outra?

Produzido pelo site com base em imagens da TV Justiça, o vídeo acima mostra a tentativa do então presidente e relator do caso, ministro Carlos Ayres Britto, de levar a julgamento uma questão técnica para destravar o andamento da denúncia do Ministério Público, proposta em 2003 pelo então procurador-geral da República, Cláudio Fonteles.

Apesar de pautado duas vezes em maio de 2012, a última antes do intervalo para um lanche, o caso não foi julgado até hoje. Duas semanas depois, em 6 de junho de 2012, o STF definiria o calendário do mensalão do PT. Ayres Britto disse que esse calendário contribuiu para adiar o valerioduto do PSDB. “Qual foi a intercorrência? O mensalão. Fizemos uma pauta temática para ganhar um pouco de tempo enquanto não viesse o julgamento do mensalão”, disse ele.

Ouvidos pela reportagem nas últimas semanas, os ministros disseram não se lembrar de eventuais conversas no cafezinho que teriam tirado o mensalão mineiro de pauta pela segunda vez.




Joaquim: “Por que não julgar o mensalão mineiro?”

Ministros em falta

O objetivo do julgamento do mensalão mineiro nem era o conteúdo da denúncia da primeira versão do valerioduto, mas apenas julgar se um caso de improbidade administrativa como aquele deveria ser analisado pela Justiça de primeira instância de Minas Gerais ou pelo próprio STF. Em 2005, o Supremo já havia decidido, na ação direta de inconstitucionalidade (Adin) 2797, que situações de improbidade deveriam ser analisadas nos estados, sem direito a foro privilegiado para deputados e senadores. Mas Eduardo Azeredo e Ruy Lage, outro réu no mensalão do PSDB, recorreram para manter o caso no Supremo.

Em 16 de maio de 2012, os ministros tinham acabado de julgar justamente recurso sobre a Adin 2797, cujas decisões determinaram que casos de improbidade deveriam correr nos estados, sem foro especial.
Ao anunciar o julgamento do recurso no mensalão mineiro cível (petição PET 3067), Ayres Britto, relator do caso, informa que o ministro Gilmar Mendes havia pedido o adiamento do caso. O motivo era a ausência de Dias Toffoli e Celso de Mello no plenário. Pela mesma lógica, também seria adiado um outro processo semelhante (PET 3030), que decidiria se mantinha no Supremo ou mandava para a primeira instância de Rondônia uma ação de improbidade contra políticos locais.

“Por que não julgar?”

Inicialmente, Joaquim Barbosa e Marco Aurélio questionam o motivo de adiar o mensalão mineiro e o outro processo. O atual presidente do STF lembra que, pouco antes, haviam acabado de julgar uma Adin sobre o mesmo tema com a ausência de ministros.

“Se nós julgamos o mais importante, por que não podemos julgar o agravo regimental [no mensalão mineiro]?”, questionou Joaquim. “É consequência do que ficou acertado ainda há pouco”, continuou.



Ricardo Lewandowski é um dos que defendem o adiamento para a semana seguinte, quando o plenário estivesse completo. Ayres Britto se diz, então, pronto para julgar o valerioduto do PSDB, mas consulta o plenário. Joaquim Barbosa desiste da tese e apoia a postergação do caso, mas Marco Aurélio mantém-se contra. “Há quórum até para matéria de maior envergadura [Adin]”, reclamou. O caso é adiado para 23 de maio de 2012.

Voto longo

Naquela data, os ministros julgam o outro caso de improbidade administrativa, a PET 3030. Como era de se esperar, mandam o processo para a primeira instância de origem. Chega a vez de julgar a PET 3067 e Ayres Britto anuncia seu voto. “Mas é um voto longo. Faço o pregão propriamente dito quando do retorno”, disse ele. Os ministros vão para o lanche.

Entretanto, o presidente volta do intervalo e não chama o processo. Procurado pela Revista Congresso em Foco, o hoje ex-ministro diz que provavelmente não teve condições de pautar o processo na volta do intervalo. “É porque eu não obtive condições de colocar [em votação]”. “Sou uma pessoa atenciosa, eu converso com os ministros, ninguém vai me negar essa qualidade de buscar a todo instante o consenso”, disse ele.

O voto de Britto fora feito em 2005, determinando a remessa da papelada do mensalão mineiro para a Justiça de primeira instância de Minas Gerais. O ex-ministro é um conhecido opositor do foro privilegiado. O caso agora está com o ministro Roberto Barroso, que ainda não estudou o processo porque, segundo sua assessoria, está concentrado nos embargos de declaração do mensalão do PT.

Os mensalões

No caso do PT, o Supremo condenou réus por esquema que desviou dinheiro público e privado para a compra de apoio político de deputados durante o primeiro mandato do ex-presidente Lula por meio do empresário Marcos Valério e dos bancos Rural e BMG entre 2002 e 2004. O esquema, segundo a PGR e o STF, era chefiado pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.

No caso do PSDB, o Ministério Público abriu três ações no STF por esquema de desvio de dinheiro do governo de Minas Gerais em benefício da campanha eleitoral do hoje deputado Eduardo Azeredo e do atual senador Clésio Andrade, que disputaram o governo estadual em 1998. Os valores foram repassados, segundo a denúncia, por patrocínios operados pela agência de publicidade de Marcos Valério.

http://www.youtube.com/watch?v=kXLOjEzlCiU

http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/video-o-misterioso-adiamento-do-mensalao-mineiro/

A vilania de Merval e Sardenberg

Davis Sena Filho
DAVIS SENA FILHO 
Os dois, como estivessem a fazer uma comédia pastelão, divertiram-se com a tragédia alheia, com a dor de quem se defende de punições que certamente vão lhes levar à cadeia
A vilania está presente na humanidade. Sem sombra de dúvida. Em algumas pessoas a perversidade é marcada em suas almas como a tatuagem marca a pele. Se comportar como biltre em público é sinal que tal pessoa renunciou de vez a compostura, e, por seu turno, o sentimento de pudor deixou de ser importante para os valores e princípios do ser vivente que substituiu a prudência pela imprudência e o respeito pelo escárnio.
 
Há muito tempo os jornalistas Merval Pereira e Carlos Alberto Sardenberg militam como políticos nos diversos meios de comunicação privados. Eles pertencem a um sistema de imprensa de mercado que combate sistematicamente e de forma intransigente os políticos, partidos e governos que os seus patrões, no caso os irmãos Marinho, são inquestionavelmente inimigos, e que, se pudessem, derrubariam, sem titubear, os governantes trabalhistas que assumiram o poder da República desde o ano de 2003.
 
Merval Pereira, juntamente com o diretor-geral de Jornalismo e Esportes da TV Globo, Ali Kamel, abriu mão de ser um analista ou comentarista político e passou a fazer política, com a autorização de seus patrões, no decorrer desses 11 anos em que o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma Rousseff administram o Brasil e paulatinamente tentam modificar o panorama de miséria material e violência social que aflige há séculos parcela enorme da população brasileira.
 
Com canais abertos com juízes do STF, Merval Pereira se tornou portador de recados de alguns magistrados, aposentados ou não, que lhes passam informações de coxia e, por intermédio delas, cobra, sem ter autoridade e conhecimento para isso, a prisão de pessoas que ele chama, propositalmente, de mensaleiros, a fim de desqualificá-los perante a sociedade e, consequentemente, tentar fazer com o público acredite piamente em sua opinião publicada ou irradiada pela CBN e Globo News.
 
Merval deve se considerar o 12º juiz do Supremo Tribunal Federal. Com trânsito junto a juízes e ex-juízes conservadores, a exemplo de Gilmar Mendes, Cézar Peluso, Ayres Britto, Luiz Fux, Ellen Grace, Joaquim Barbosa e Marco Aurélio de Mello, o colunista de O Globo deita e rola e manda recados e, irresponsavelmente, cobra prisões dos políticos do PT, bem como comemora o possível cárcere daqueles que ele e seus patrões consideram como inimigos políticos, a serem derrotados, humilhados e presos, se possível em Guantánamo, com as cabeças encapuzadas e os punhos e os tornozelos algemados com grossas correntes.
 
Este é o Merval Pereira, aquele que faz aposta ao vivo com o jornalista ultradireitista da CBN, Carlos Alberto Sardenberg. Os dois, como estivessem a fazer uma comédia pastelão, divertiram-se com a tragédia alheia, com a dor de quem se defende de punições que certamente vão lhes levar à cadeia. Políticos históricos, que há 40 anos enfrentam uma das piores e mais cruéis elites econômicas e políticas do planeta.
 
A burguesia violenta, privatista e individualista, rentista e consumista, de passado escravocrata e que sempre foi cúmplice, sabotadora e criminosamente golpista, a exemplo de 1932, 1938, 1945, 1955, 1964 e 2005, judicializou a política e criminalizou o PT, partido forjado nas lutas populares, de essência socialista e trabalhista e que mudou as condições de vida do povo brasileiro para muito melhor e em apenas dez anos, como demonstram, irrefutavelmente, os números e índices governamentais e acadêmicos.
 
Por isto e por causa disto, surgem figuras moralmente dantescas e politicamente andrajosas, como, por exemplo, o Carlos Alberto Sardenberg, porta-voz dos interesses de banqueiros nas Organizações(?) Globo e irmão de Rubens Sardenberg, economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), instituição que tem grande interesse na manutenção de juros altos no Brasil e que atualmente, por intermédio do Itaú-Unibanco, tenta vencer uma queda de braço com o Governo trabalhista de Dilma Rousseff, que já deixou claro aos banqueiros que elevar ou baixar os juros é uma política de estado e não, como acontecia no passado, uma ação meramente monetária e financeira para atender aos interesses de uma classe banqueira apátrida, alienígena e que não tem nenhum compromisso com o desenvolvimento social de qualquer povo ou país.
 
O jornalista neoliberal e adversário das políticas públicas desenvolvimentistas na verdade critica a estabilidade do poder de compra do real e, por conseguinte, dos cidadãos e consumidores brasileiros, porque não quer um sistema financeiro sólido e eficiente e que rejeita há 11 anos a jogatina do mercado bancário e financeiro que levou o Brasil e todos os países da América Latina à insolvência e à total dependência de recursos financeiros oriundos de bancos internacionais e cobrados com juros escorchantes.
 
Sardenberg é irmão de banqueiro. Como tal, sua relação familiar denota um conflito de interesse em sua posição como jornalista de economia, o que é comprovado através de suas intervenções como comentarista e colunista que, recorrentemente, pede (quase exige) a elevação dos juros, além de defender o que é indefensável, justificar o que é injustificável, que é apregoar a efetivação do estado mínimo, a regulação do mercado pelo mercado sem a intervenção quando necessária do Governo, e cortar os investimentos sociais e estruturais.
 
Esta é a cabeça de Sardenberg e do partido que ele e o Merval Pereira apoiam, o PSDB, agremiação conservadora que vendeu o patrimônio público do Brasil e mesmo assim teve de ir pedir esmolas ao FMI três vezes, de joelhos e com o pires nas mãos. O Sardenberg e o Merval que defendem, diuturnamente, um Brasil atrelado e subserviente aos interesses dos Estados Unidos, pois colonizados e portadores lamentavelmente orgulhosos de um inenarrável, pois inacreditável complexo de vira-lata.
 
Pouco antes de a crise mundial explodir em 2008 e derreter as economias dos países que esses jornalistas colonizados tanto admiram como macacos de auditório, um deles, que é o Sardenberg, disse: “A economia mundial segue em marcha de sólido crescimento. Sólido porque não é nenhuma bolha financeira”. Meses depois veio o tsunami que levou à bancarrota as economias “sólidas” de Sardenberg e fez com que cidadãos e empresários de inúmeras nacionalidades se suicidassem. É mole ou quer mais?
 
Esse é o jornalismo de esgoto elaborado e calculado por jornalistas como Carlos Alberto Sardenberg e Merval Pereira, este o 12º juiz do STF e que, debochadamente, apostou, em viva voz na CBN, quando seriam presos os “mensaleiros” e quantos irão para a cadeia. A conversa entre ambos é de uma desfaçatez que deixaria a pessoa mais insensata ou sem noção negativamente admirada com tanta leviandade e infâmia a serem irradiadas de uma só vez. Isto acontece porque eles não fazem jornalismo e, sim, política.
 
Os dois sequazes dos políticos petistas julgados e condenados pelo “mensalão”, que é o mentirão, pois o tempo vai cuidar de dar transparência à verdade desse julgamento tendencioso e seletivo, comportaram-se como torcedores em estádio e mais uma vez, de maneira arrogante e pérfida, apostaram jantar e vinhos e ainda consideraram realizar uma enquete para que os ouvintes da CBN escolhessem a marca do vinho a ser paga pelo perdedor da aposta.
 
A dupla dinâmica do mau jornalismo trata a vida de pessoas que estão a se defender politicamente com uma insanidade que deixaria um cidadão com problemas psicológicos graves estupefato e realmente surpreso com tanta mediocridade de jornalistas que são considerados importantes pelo establishment, mas que na verdade são dois capatazes a serviço do sistema de capitais, dos seus patrões e de tudo aquilo que não condiz com o jornalismo, que é buscar a verdade, defender a sociedade e lutar pelos que podem menos. Merval Pereira e Carlos Alberto Sardenberg são as antíteses do que é ser razoável, prudente e ajuizado. O dom do escárnio e da vilania. É isso aí.
 
http://www.brasil247.com/pt/247/poder/112732/A-vilania-de-Merval-e-Sardenberg.htm

Médicos cubanos: avança a integração da América Latina




Existem hoje trabalhando no Brasil cerca de 70 mil engenheiros estrangeiros. Nenhuma gritaria foi feita. Mas, quando se trata de salvar vidas, acendem-se todas as fogueiras do inferno da nova inquisição

“O que brilha com luz própria , ninguém pode apagar

Seu brilho pode alcançar a escuridão de outras costas

Que pagará este pesar do tempo que se perdeu....

Das vidas que nos custou e das que nos podem custar..

O pagará a unidade dos povos em questão....

E a quem negar esta razão, a história condenará...”



Canción por La Unidad Latinoamericana

Pablo Milanez



Não faltaram emoção, lágrimas e dignidade na chegada dos 176 médicos cubanos, que desembarcaram neste sábado à noite em Brasília, para um trabalho indispensável em municípios brasileiros, mais de 700, ainda sem qualquer assistência médica. Quando aqueles cidadãos cubanos, muitos deles negros, muitas mulheres, com bandeirolas brasileiras e cubanas nas mãos, pisaram o solo brasileiro, ali estava o retrato do enorme progresso social, educacional e sanitário alcançado pela Revolução Cubana. Mas, também, uma prova concreta de que a integração da América Latina está avançando; não é só comércio, é também saúde. O Brasil coopera com Cuba na construção do Complexo Portuário de Mariel - sua mais importante obra de infra-estrutura atualmente - e Cuba coopera com o Brasil preenchendo uma lacuna imensa, a falta de médicos.

A campanha conservadora contra a integração latino-americana sofrerá um revés tremendo quando o programa Mais Médicos , começar a apresentar seus efeitos concretos. Esses resultados terão a força para revelar o teor medieval das críticas feitas pelas representações médicas e pela mídia teleguiada pelos publicidade da indústria farmacêutica.

Volumosa desinformação

Tendo em vista o volume de desinformação que circulou contra a vinda de médicos estrangeiros, mas contra os médicos cubanos em especial, é obrigatório travar a batalha das idéias, primeiramente, em defesa da Revolução Cubana como uma conquista de toda a humanidade. Cercada, sabotada, agredida, a Revolução Cubana, que antes de 1959, possuía os mais tenebrosos indicadores sociais, analfabetismo massivo, mortalidade infantil indecente, desemprego e atraso social generalizado, consegue libertar-se da condição de colônia, e, mesmo sem ter uma base industrial como a brasileira, por exemplo, e passa a exportar médicos, professores, vacinas, desportistas.Exporta, principalmente, exemplos!

Esse salto histórico da Revolução Cubana deixa desconcertada a crítica, seja emanada pela mídia colonizada pelas lucrativas transnacionais fabricantes de fármacos ou equipamentos hospitalares, seja a crítica oligarquia difundida pelas representações médicas. Os que questionam a qualidade da formação profissional dos médicos cubanos são desafiados a responder por que a mortalidade infantil em Cuba é das mais baixas do mundo, sendo inferior, inclusive, àquela registrada no Estado de Washington, nos EUA?

Cuba e a libertação africana

Vale lembrar que Cuba possuía, antes de 1959, pouco mais de 6 mil médicos, dos quais, a metade deixou o país porque não queria perder privilégios, nem concordava com a socialização da saúde. Apenas cinco décadas depois, é esta mesma Cuba que tem capacidade de exportar milhares de médicos para socorrer o povo brasileiro de uma indigência grave construída por um sistema de saúde ainda determinado pelos poderosos interesses das indústrias hospitalar, farmacêutica e de equipamentos, privilegiando a noção de uma medicina como um negócio, uma atividade empresarial a mais, não como um direito, como determina nossa constituição.

Já em 1963, quando a Revolução na Argélia precisou, iniciou-se a prática de cubana de enviar brigadas médicos aos povos irmãos. Ensanguentada pela herança da dominação francesa, a Revolução Argelina encontrou em Cuba a fraternidade concreta, quando ainda não havia na Ilha um contingente médico tão numeroso como o existente atualmente. Predominou sempre na Revolução Cubana a idéia de que em matéria de solidariedade internacional comparte-se o que se tem, não o que lhe sobra. Foi exatamente ali na Argélia que se estabeleceram laços indestrutíveis entre a Revolução Cubana e os diversos movimentos de libertação da África. A partir daí, Cuba participou com brigadas militares e médicas em diversos processos de libertação nacional do continente. De tal sorte que, em 1966, a primeira campanha de vacinação contra a poliomielite realizada no Congo, foi organizada por médicos cubanos! Os CRMs conhecem esta informação? Sabem que a poliomielite foi erradicada em Cuba décadas antes do Brasil fazê-lo?

Será que o Revalida capaz de avaliar a dimensão libertadora da medicina cubana?

Quando Angola foi invadida por tropas do exército racista da África do Sul, baseado nas supremas leis do internacionalismo proletário, Agostinho Neto, presidente angolano, também médico e poeta, solicita a Fidel Castro ajuda militar para garantir a soberania da nação africana. Uma das mais monumentais obras de solidariedade foi realizada por Cuba que, ao todo, enviou a Angola, cerca de 400 mil homens e mulheres para, ao lado dos angolanos e namíbios, expulsar as tropas imperialistas sul-africanas tanto de Angola como da Namíbia. E sob a ameaça de uma bomba atômica, que Israel ofereceu à África do Sul, argumentando que as tropas cubanas tinham que ser dizimadas porque pretendiam chegar até Pretória..... Na heróica Batalha de Cuito Cuanavale - que todos os jornalistas, historiadores, militantes deveriam conhecer a fundo - lá estavam as tropas cubanas, mas lá estavam também as brigadas médicas de Cuba, que se espalharam por várias pontos de Angola. A vitória de Angola e da Namíbia contra a invasão da África do Sul, foi também a derrota do regime do Apartheid. Citemos Mandela: “ A Batalha de Cuito Cuanavale foi o começo do fim do Apartheid. Devemos o fim do Apartheid a Cuba!”.

Qual exame Revalida será capaz de dimensionar adequadamente o desempenho de um médico cubano em Cuito Cuanavala, com sua maleta de instrumentos numa das mãos e na outra uma metralhadora, livrando a humanidade da crueldade do Apartheid? Como dimensionar o bem que o fim do Apartheid, com a decisiva participação cubana, proporcionou para a saúde social da História da Humanidade?

As crianças de Chernobyl em Cuba

O sentido de solidariedade internacionalista está tão plasmado na sociedade cubana que, quando aquele terrível acidente ocorreu na Usina Nuclear de Chernobyl, em 1986, o estado cubano recebeu, das organizações dos Pioneiros - que congregam crianças e adolescentes cubanos - a proposta de oferecer tratamento médico às crianças contaminadas pela radioatividade vazada no desastre. Um documentário realizado pelo extinto Programa Estação Ciência, dirigido pelo jornalista Hélio Doyle, exibido com freqüência TV Cidade Livre de Brasília, registra como Cuba compartilhou seus recursos médicos e hospitalares, mas, sobretudo, sua fraterna solidariedade com cerca de 3 mil crianças russas que foram levadas para tratamento na Ilha, nas instalações dos Pioneiros, em Tarará. Destaque-se, primeiramente, que a idéia partiu dos Pioneiros. Segundo, que Cuba não se colocava na condição de doadora, mas apenas cumprindo um dever solidário. Lembravam que o povo soviético havia sido solidário com Cuba quando os EUA iniciaram o bloqueio contra a Ilha cortando a cota de petróleo e do açúcar, suspendendo o comércio bilateral, na década de 60. A URSS passou a comprar todo o açúcar cubano, pelo dobro do preço do mercado internacional, e a abastecer Cuba de petróleo, pela metade do preço de mercado mundial. São páginas escritas, em uma outra lógica, solidária, fraterna, socialista. É de se imaginar o quanto os dirigentes das representações médicas brasileiras poderiam aprender com aquelas crianças cubanas que ofertaram tratamento às 3 mil crianças russas, um contingente menor que o de médicos cubanos que virão para o Brasil?

Impublicável

A cooperação entre Brasil e Cuba em matéria de saúde não está iniciando-se agora. Durante o governo Sarney, recém re-estabelecidas as relações bilaterais, em 1986, foram as vacinas cubanas contra a meningite que permitiram ao nosso país enfrentar aquele surto. Na época, a mídia teleguiada também fez uma sórdida campanha contra o governo Sarney, primeiro por reatar as relações, mas também por comprar grandes lotes da vacina desenvolvimento pela avançada ciência de Cuba. De modo venenoso, tentou-se desqualificar as vacinas, afirmando serem de qualidade duvidosa, tal como agora atacam a medicina cubana. Na época, foram as vacinas cubanas que permitiram controlar aquele surto e salvar vidas. Mas, também trouxeram, por meio do exemplo, a possibilidade de que aprendêssemos um pouco dos valores e das conquistas de uma revolução. Afinal, por que um país com poucos recursos, com uma base industrial muito mais reduzida, conseguia não apenas elevar vertiginosamente o padrão de saúde de seu povo, mas, também desenvolver uma tecnologia com capacidade para produzir e exportar vacinas, enquanto o Brasil, com uma indústria muito mais expandida, capaz de produzir carros, navios e aviões, não tinha capacidade para defender seu próprio povo de um surto de meningite? São sagradas as prioridades de uma revolução. E é por isso, que, ainda hoje, a sexta maior economia do mundo, se vê na obrigação de recorrer a Cuba para não permitir a continuidade de um crime social configurado na não prestação de atendimento médico a milhões de brasileiros.

Mais recentemente, quando a Organização Mundial da Saúde convocou a indústria farmacêutica internacional a produzir vacinas para combater um tenebroso surto de febre amarela que se espalhou pela África, obteve como resposta desta indústria o mais sonoro e insensível NÃO. Os preços que a OMS podia pagar pelas vacinas não eram, segundo as transnacionais farmacêuticas, apetitosos. Milhões de vidas africanas passaram correr risco, não fosse a cooperação entre dois laboratórios estatais, o Instituto Bio Manguinhos, brasileiro, e o Instituto Finley, cubano. Essa cooperação permitiu a produção, até o momento, de 19 milhões de doses da vacina que a África necessitava, a um preço 90 por cento menor que o preço do mercado internacional. Onde foi publicada esta informação?

Apenas na Telesur e na imprensa cubana. A ditadura dos anúncios da indústria farmacêutica, que dita a linha editorial da mídia brasileira em relação ao programa Mais Médicos e à cooperação da Medicina de Cuba, simplesmente impediu que o grande público brasileiro tomasse conhecimento desta importantíssima cooperação estatal brasileiro-cubana.

Os médicos cubanos e o furacão Katrina

Para dimensionar a inqualificável onda de insultos que os médicos cubanos vêm recebendo aqui na mídia oligárquica, lembremos um fato também sonegado por esta mesma mídia, o que revela suas dificuldades monumentais para o exercício do jornalismo como missão pública. Quando ocorre o trágico furacão Katrina, que devasta Nova Orleans, deixando uma população negra e pobre ao abandono, dada a incapacidade e o desinteresse do governo dos EUA naquela oportunidade, em prestar-lhe socorro, também foi Cuba que colocou à disposição do governo estadunidense - malgrado toda a hostilidade ilegal deste para com a Ilha - um contingente de 1300 médicos , postados no Aeroporto de Havana, com capacidade de chegar prestar ajuda à população afetada pelo furacão. Aguardavam apenas autorização para o embarque, e em questão de 3 horas de vôo estariam em Nova Orleans salvando vidas. Esta autorização nunca chegou da Casa Branca. A resposta animalesca do presidente George Bush foi um sonoro NÃO à oferta de Cuba, o que tampouco foi divulgado pela mídia oligárquica, provavelmente para protegê-lo do vexame de ver difundido seu tosco caráter, que tal recusa representava. Os Eua estão sempre prontos para enviar militares e mercenários pelo mundo. Mas, são incapazes de prestar ajuda ao seu próprio povo, e também arrogantes o suficiente para permitir uma ajuda de Cuba à população pobre e negra afetada pelo furacão.

Uma Escola de Medicina para outros povos

Também não circulam informações aqui de que Cuba, após o furacão Mity, que devastou a America Central e parte do Caribe, decide montar uma Escola Latino-americana de Medicina, que, em pouco mais de 10 anos de funcionamento, já formou mais de 10 mil médicos estrangeiros, gratuitamente. Entre eles, 500 jovens negros e pobres dos EUA, moradores dos bairros do Harlem e do Brooklin. Eles me revelaram que se tivessem continuado a viver ali, eram fortes candidatos a serem presa fácil do narcotráfico. Frisavam que, estar ali em Cuba, formando-se em medicina, gratuitamente, era uma possibilidade que a maior potência capitalista do mundo não lhes oferecia. Há, estudando na ELAM, cerca de uma centena de jovens do MST, filhos de assentados da reforma agrária. Isto significa que Cuba compartilha com vários países do mundo seus modestos recursos. Também estudam lá cerca de 600 jovens do Timor Leste, sendo que existem 40 médicos cubanos trabalhando já agora no Timor. O tipo de exame Revalida seria capaz de dimensionar esta solidariedade cubana com a saúde dos povos?

Ampliar a integração em outras áreas

Também não se divulgou por aqui, que Cuba montou três Faculdades de Medicina na África, (Eritreia, Gambia e Guiné Equatorial), em pleno funcionamento, com professores cubanos. Toda esta campanha de insultos contra Cuba e os médicos cubanos, abre uma boa possibilidade para discutir e conhecer mais a fundo todas estas conquistas da Revolução Cubana, mas, especialmente, para que as forcas progressistas reflitam sobre quantas outras possibilidades de cooperação existem entre Brasil e Cuba, em muitas outras áreas.

Mas, serve também para reavaliar a posição de certos parlamentares médicos da esquerda no Brasil que se opõe, inexplicavelmente, ao Programa Mais Médicos, alguns chegando, ao absurdo de terem apresentado projetos de lei proibindo, pelo prazo de 10 anos, a abertura de qualquer novo curso de medicina no Brasil.

Qualificar o debate sobre a integração

Enfim, um debate democrático e qualificado em torno do programa Mais Médicos, da presença de médicos cubanos aqui no Brasil e em mais de 70 países, e também, sobre as conquistas da Revolução Cubana, deve ser organizado pelos partidos e sindicatos, pelo movimento estudantil, pelos movimentos sociais, pela Solidariedade a Cuba, pelas TVs e rádios comunitárias, como forma de impulsionar a integração da America Latina, que, neste episódio, está demonstrando o quanto pode ser útil à população mais pobre. A TV Brasil pode cumprir uma função muito útil, pode divulgar documentários já existentes sobre o trabalho de médicos em regiões inóspitas e adversas em diversos países.

É preciso expandir esta integração, avançar pela educação, pela informação, não havendo justificativas para que o Brasil ainda não esteja conectado com a Telessur, por exemplo, que divulgado amplo material jornalístico informando que 3 milhões e meio de cidadãos latino-americanos já foram salvos da cegueira graças a Operação Milagro, pela qual médicos cubanos e venezuelanos realizam, gratuitamente, cirurgias de cataratas em vários países da região. Enquanto o povo argentino, por exemplo, já pode sintonizar gratuitamente a Telesur e informar-se de tudo isto, o povo brasileiro está impedido, praticamente, de receber informações que revelam o andamento da integração da America Latina. Mas, com a chegada dos médicos cubanos, a integração será cada vez mais pauta da agenda do debate político nacional e receberá , certamente, um impulso político e social, notável, pois o povo brasileiro, saberá , com nobreza e humanismo, valorizar e apoiar o programa Mais Médicos. Alias, é exatamente isto o que tanto apavora a medicina capitalista.

Há 70 mil engenheiros estrangeiros no Brasil hoje!

Segundo dados recentes do Ministério do Trabalho, existem hoje trabalhando no Brasil cerca de 70 mil engenheiros estrangeiros. Nenhuma gritaria foi feita. Neste caso, trata-se de petróleo e outros projetos, muito lucrativos para as multinacionais. Mas, quando se trata de salvar vidas, acendem-se todas as fogueiras do inferno da nova inquisição contra uma cooperação que é lógica e indispensável, solidária e humanitária. Por que é aceitável a importação de telefones, equipamentos médicos, remédios, cosméticos, roupas, caviar, bebidas, vacinas e não se aceita a cooperação de médicos de Cuba, sendo este o único pais em condições objetivas de apresentar-se prontamente e de maneira eficaz com profissionais experimentados. Será que as representações médicas brasileiras possuem sequer uma remota idéia de que estão proferindo insultos a esta bela história da medicina socialista de Cuba?

Quem pagará a conta da demora?

A presidenta Dilma tem inteira razão em convocar os Médicos Cubanos, algo que já poderia ter sido feito há mais tempo, amenizando a dor e o sofrimento de milhões de brasileiros abandonados por um sistema de saúde e por uma mentalidade de parcelas das representações médicas que, por mais absurdo que pareça, ainda tentam justificar este abandono. Aliás, com a determinação da presidenta Dilma está absolutamente revelada a importância da integração da América Latina, não havendo justificativas para que esta modalidade de integração nas esferas sociais, não avance também para outras áreas, como a educação, por exemplo. Foi exatamente com o método cubano denominado “Yo, si, puedo”, que Venezuela, Bolívia, Equador são países declarados pela UNESCO como “Territórios Livres do Analfabetismo”, sempre com a participação direta de professores cubanos. Muito em breve, será a Nicarágua, que vai recuperar aquele galardão, que já havia conquistado durante a Revolução Sandinista, mas depois perdeu, na era neoliberal. Por quanto tempo o Brasil terá apenas projetos pilotos, em apenas 3 cidades, com o método de alfabetização cubano, que, aliás, já tem absoluta comprovação e reconhecimento mundiais? Que espera a sexta economia do mundo em convocar ainda mais a cooperação cubana para erradicar o analfabetismo? Quem pagará a conta desta injustificável demora?

Termino com a declaração da Dra Milagro Cárdenas Lopes, cubana, negra, 61 anos “Somos médicos por vocação, não nos interessa um salário, fazemos por amor”, afirmou. Em seguida, dirigiu-se com seus companheiros para os ônibus organizados pelo Exército Brasileiro, que cuida de seu alojamento. Sinal de que a integração está escrevendo uma nova página na história da América Latina.

http://www.brasil247.com/pt/247/mundo/112822/Médicos-cubanos-avança-a-integração-da-América-Latina.htm