segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Para derrotar Dilma em 2014, oposições planejam impor o caos no país






Há um fato com o qual praticamente todos os analistas políticos concordam: em uma disputa limpa haverá poucas chances de candidatos da oposição derrotarem a presidente Dilma Rousseff na eleição presidencial do ano que vem. Essa chance só se materializará se a sensação de bem-estar gerada por emprego e renda em alta for anulada.

Mas como anular uma realidade que se faz sentir na veia da maioria dos cidadãos brasileiros, uma maioria hoje inserida na classe média baixa e que, agora, vê filhos se tornando os primeiros universitários da família, que está comprando o primeiro automóvel, que está reformando ou comprando imóveis, que vem tendo sucessivos aumentos de salários?

Em primeiro lugar, os que pretendem tirar o PT do poder após dez longos anos de hegemonia política desse partido sonham com uma ampla frente das oposições de esquerda e direita ao governo Dilma. PSDB, DEM, PSB, PSOL e PSTU vêm mantendo diálogo por meio de interpostas pessoas, acertando pontos mínimos de convergência e uma estratégia comum.

Uma frente formal que reúna partidos aparentemente tão diferentes não é viável. Pegaria mal tanto para o lado esquerdo quanto para o direito. Mas a aliança pode se dar no discurso e nas táticas que serão usadas para tentar anular o bom e velho “feel good factor”, ou “fator sentir-se bem”, em tradução livre.

Mas como fazer o cidadão esquecer que hoje qualquer um consegue emprego em um país em que a escassez de emprego sempre foi tão grande que as empresas pagavam salários de fome até para engenheiros formados? Como fazer o cidadão esquecer do automóvel que agora tem na garagem ou do filho que será o primeiro membro da família a se formar?

Durante as manifestações de rua que se abateram sobre o país ao longo do mês de junho ficou provado que é possível hipnotizar um país inteiro. Diante de um mundo perplexo, o país que mais tem avançado na distribuição de renda, na redução da pobreza, na geração de empregos, no aumento do poder de compra dos salários e que tem resistido à maior crise econômica em cerca de um século parecia um dos países árabes em que ditaduras cruéis foram derrubadas por grandes protestos daqueles povos famintos e sem perspectivas.

A espantosa queda de aprovação de Dilma em um espaço de míseros 30 dias mostrou ser possível, sim, fazer um país esquecer tudo o que conquistou graças aos que o governaram nos últimos dez anos.

Em tese, portanto, bastaria reeditar as tais “jornadas de junho” para derrotar a atual presidente. Os partidos que detêm “tecnologia” para colocar massas nas ruas – PSOL e PSTU, que se valem de todo tipo de gente para inflar protestos, inclusive de neonazistas, punks, skinheads e assemelhados – fariam todo o trabalho e aos partidos de direita bastaria apontar a “insatisfação do país” com “esse governo”.

Enquanto a oposição de esquerda enche as ruas com militantes de esquerda e psicopatas de direita para forjar “insatisfação generalizada”, a de direita usaria os grupos de mídia que a apoiam para desacreditar o Brasil no exterior com olhos na possibilidade (real) de uma reviravolta na crise internacional que tiraria os países ricos da linha de tiro e colocaria países em desenvolvimento.
Recentemente, o colunista da Folha de São Paulo Demétrio Magnoli citou uma “tempestade perfeita” que despencaria sobre o Brasil no ano que vem e que anularia o “feel good factor”.

Em tese, a “tempestade perfeita” de Magnoli consistiria em os Estados Unidos subirem as taxas de juros, hoje praticamente zeradas com vistas a estimular o crescimento de uma economia doente. Com esse aumento de remuneração do capital nos EUA, haveria uma fuga de dólares do Brasil e, com menos dólares na praça, o real se desvalorizaria, gerando inflação.

Enquanto os black blocs estivessem apavorando e espantando turistas e fazendo o Brasil passar vexame em plena Copa do Mundo, possivelmente afetando a moral da Seleção, que completaria a tragédia jogando mal e perdendo a Copa “em casa”, os preços estariam explodindo, os empresários entrariam em pânico e, nesse momento, a mídia ainda trataria de expor algum dos escândalos de última hora que sempre explodem contra governos petistas em períodos eleitorais.

Contudo, o que o novo colunista da Folha e os que endossam sua teoria da “tempestade perfeita” não avaliam é que o Brasil resistiu aos solavancos da economia internacional ao longo de toda a década passada. Devido às imensas possibilidades de investimento em nosso país, pode não haver fuga relevante de dólares mesmo que os EUA aumentem os juros.

Além disso, mesmo que diminua o fluxo de dólares para o Brasil, os níveis de investimento irão aumentar ao longo do ano que vem, sobretudo por conta dos investimentos no campo de petróleo de Libra, recém-leiloado.

O que preocupa é que no próprio PT há gente disposta a se unir à oposição pela esquerda. Recentemente, um dos candidatos a presidente do partido propôs que seja “sacrificada” a reeleição de Dilma em troca de se “fazer a reforma agrária”, provavelmente achando que é possível reverter 500 anos de concentração de propriedade da terra ao longo de 2014. E ignorando que a volta da direita ao poder reverteria qualquer conquista.

Contudo, apesar de até o próprio PT abrigar uma oposição de esquerda ao governo federal em seus quadros, de a oposição em outros partidos de esquerda só pensar em vingança contra os grupos de centro-esquerda que hoje dominam o partido do governo e que expulsaram os que fundaram PSOL, PSTU etc., e de haver risco, sim, de os EUA aumentarem os juros, o governo ainda tem bala na agulha.

Apesar da estrondosa queda de popularidade de Dilma advinda das “jornadas de junho”, a continuidade da instalação de programas sociais e de medidas econômicas que beneficiam a maioria reverteu aquela queda.

Assim como o Minha Casa, Minha Vida, como a redução das contas de Luz ou como a queda dos juros liderada pelos bancos oficiais, o governo continuou implantando programas que beneficiam as massas, sendo o Mais Médicos o último programa dessa série. Com isso, reverteu-se a queda de popularidade de Dilma, que já desponta como favorita em 2014.

Está posto, então, o quadro político para o ano que vem. Mais uma vez, haverá disputa entre a razão e a emoção, como em 2002, 2006 e 2010.

Em 2002, Lula venceu graças à racionalidade: após FHC se reeleger em 1998 prometendo não desvalorizar o real, no primeiro mês de seu segundo governo ele violou a promessa. O povo foi racional tirando do poder um partido que o enganou, o PSDB.

Em 2006, Lula se reelegeu contra a comoção que tentaram instalar no país contra a “corrupção” do PT no âmbito do escândalo do mensalão. Mais uma vez prevaleceu a racionalidade. A sociedade preferiu os avanços que já sentia no cotidiano ao discurso moralista que tentava transformar Lula em um corrupto mesmo sem nenhuma prova contra ele.

Em 2010, Lula elegeu Dilma com base no imenso bem-estar social que seu governo gerou ao país. Salários crescendo, empregos surgindo em toda parte, pobreza e desigualdade despencando e o protagonismo internacional do Brasil derrotaram o fundamentalismo religioso e a rede de intrigas aos quais José Serra se agarrou para tentar derrotar a adversária

A racionalidade vem derrotando a catarse há mais de uma década, portanto. Mas essa racionalidade foi rompida em junho graças a um espetáculo pirotécnico que os oposicionistas da situação e da oposição conseguiram montar – uns por falta de visão e outros por má fé mesmo.

O que resta saber, portanto, é se após a sociedade despertar da catarse junina ela poderá ser drogada de novo. Será que o povo aprendeu alguma coisa após ver toda aquela pantomima não resultar em absolutamente nada? Será que a desmoralização da tática de quebra-quebra fará o povo resistir à droga político-ideológica que tentarão lhe inocular?

Façam suas apostas.

http://www.blogdacidadania.com.br/2013/11/para-derrotar-dilma-em-2014-oposicoes-planejam-impor-o-caos-no-pais/

Omissão inconcebível

José  Dirceu
JOSÉ DIRCEU 
É óbvio que a "falha administrativa" alegada por De Grandis não se sustenta e que estamos diante de mais um flagrante exemplo da seletividade do Ministério Público na hora de investigar

Seria irônico, se não fosse uma tragédia, o fato de o procurador da República Rodrigo De Grandis ter aberto mão do poder de investigação que ele e seus pares do Ministério Público tanto reivindicam, justamente na hora de apurar as denúncias de corrupção em contratos de energia e transporte sobre trilhos firmados nas gestões tucanas de Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, em São Paulo.
Como é de conhecimento público, o caso, que se arrasta há mais de 15 anos, começou a ser investigado pela Justiça suíça e voltou à tona depois que a multinacional alemã Siemens delatou ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) a formação de um conluio da qual ela própria, a francesa Alstom e outras empresas estrangeiras participaram para fraudar diversas licitações do Metrô e da CPTM. O caso envolve a denúncia de pagamento de propina a políticos tucanos e funcionários públicos e pode ter gerado prejuízos bilionários aos cofres públicos paulistas.

Na semana passada, as autoridades brasileiras foram informadas de que, por falta de apoio do Brasil, o Ministério Público suíço, que vem pedindo cooperação à nossa promotoria desde 2010, decidiu arquivar parte das suas investigações. Em uma de suas solicitações, feita em fevereiro de 2011, a Suíça pediu ao procurador De Grandis, responsável pelas investigações sobre os negócios da Alstom no Brasil, que interrogasse quatro suspeitos do caso, analisasse sua movimentação financeira e fizesse buscas na casa de João Roberto Zaniboni, ex-diretor da CPTM, acusado de receber US$ 836 mil da Alstom na Suíça.

O procurador, na única vez em que se manifestou sobre o ocorrido, disse que sempre cooperou e só teria deixado de responder a um pedido feito em 2011, o qual teria ido parar em uma "pasta errada". Mas reportagem feita pela revista IstoÉ, a única publicação de grande circulação que tem dado ampla cobertura ao escândalo, afirma que o promotor engavetou não um, mas oito ofícios do Ministério da Justiça com pedidos de cooperação feitos pelas autoridades suíças ao Ministério Público brasileiro.
A matéria da IstoÉ relata que, ao longo de dois anos e meio, De Grandis foi contatado também por e-mail e telefone e o último dos ofícios que chegou a sua mesa, há poucas semanas, revela que ele "nunca" retornou às comunicações do Ministério da Justiça.

É óbvio que a "falha administrativa" alegada por De Grandis não se sustenta e que estamos diante de mais um flagrante exemplo da seletividade do Ministério Público na hora de investigar. O mais grave é que não se trata de um caso isolado. A cumplicidade do Ministério Público Federal e Estadual com os governos tucanos não tem precedente na história do país e precisa ser investigada e denunciada.
Vale lembrar que foi parar nas mãos do mesmo De Grandis o primeiro inquérito sobre o caso Alstom, concluído pela Polícia Federal em agosto do ano passado, após quatro anos de exaustivas investigações, indiciando por corrupção passiva o vereador Andrea Matarazzo, que foi secretário estadual de Energia no governo Mário Covas. Passado mais de um ano, o procurador não apresentou sua denúncia, sob a justificativa de que a peça policial era pouco fundamentada. E, somente depois de muita pressão, solicitou à Justiça Federal a quebra do sigilo de 11 acusados no caso.

Mais curioso é que essa "distração" não costuma ser a marca do procurador quando se trata de investigar pessoas ligadas a outros partidos.

A omissão do procurador no caso Alstom agora será alvo do procurador-geral, Rodrigo Janot, e da Corregedoria do Conselho Nacional do Ministério Público, que abriu uma queixa disciplinar contra ele. É fundamental que se investiguem suas motivações nesta omissão inconcebível. Não se pode aceitar que, por conta do silêncio cúmplice de De Grandis, as investigações sobre um esquema de corrupção tão prolongado —e cuja dimensão total ainda não se conhece— sejam prejudicadas.
Afinal, somos ou não somos os principais interessados em esclarecer o caso? Não é isso que o governador Geraldo Alckmin, com ar indignado, vive dizendo? Se os governos tucanos foram vítimas de armação das multinacionais, como alegam, por que não cobram do Ministério Público rigor nas apurações? Como se vê, quando se trata deste assunto, sobram mais perguntas do que respostas. E, perigosamente, há muita gente sem interesse em respondê-las.

http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/120252/Omiss%C3%A3o-inconceb%C3%ADvel.htm

Deficientes cívicos

Lelê  Teles
LELÊ TELES 
A Folha faz um resumo do que pensa uma parcela da sociedade brasileira. Não são contra cotas, são contra cotas para negros. São contra qualquer conquista social para a população negra
Nessa terça-feira, 06, a presidenta Dilma Rousseff assinou um projeto de lei que reserva 20% das vagas em concursos públicos para negros.

Nos jornalões, a grita foi geral.

A Folha afirmou em editorial que “se opõe à utilização da cor da pele como critério para o que quer que seja. Apoia, entretanto, que se usem categorias sociais para definir a alocação de determinados recursos públicos, como lugares em universidades. A maior proporção de negros e pardos entre os mais pobres garante que a cota social beneficiará esses grupos, sem a necessidade de o Estado incidir numa classificação racial dos cidadãos, que mais reforça do que dissolve barreiras”.

A Folha faz um resumo do que pensa uma parcela da sociedade brasileira. Não são contra cotas, são contra cotas para negros. 

São contra qualquer conquista social para a população negra. E para defenderem seu discurso segregador usam o termo racismo, racialismo e discriminação como forma de condenar propostas que visam justamente eliminar essa chaga que contamina o tecido social brasileiro.

A Folha, por exemplo, se diz a favor de cotas sociais porque “a maior proporção de negros e pardos entre os mais pobres garante que a cota social beneficiará esses grupos.”

Mas o diabo é que não se trata somente de beneficiar “esses grupos”. Trata-se de beneficiar a sociedade como um todo, uma vez que é saudável que uma nação encare de frente suas contradições.

Em '68 foi implantada no Brasil a Lei do Boi (Lei nº 5.465, de 3 de julho de 1968) , que era um sistema de cotas para brancos, uma vez que servia para assegurar vagas em universidade federais e escolas agrícolas para filhos de fazendeiros. A lei só foi revogada 17 anos depois, pelo presidente José Sarney. Onde estavam os que atacam as cotas para negros?

Se fizermos como quer a Folha e permitirmos simplesmente que se ofereçam cotas para os pretos que são pobres, vamos deixar de fazer um pergunta incômoda: por que eles são pobres? 

Ora, porque são pretos e pardos, porque são negros. É disso que se está falando e é isso que certos setores da mídia velha querem calar.

É uma questão ideológica, é um discurso articulado por articulistas de direita para municiar os tais leitores/eleitores de direita identificados em recente pesquisa.

É preciso ficar evidente que os negros se integraram à sociedade brasileira como deficientes cívicos. Libertos da condição de escravos, passaram à experiência da subcidadania, uma vez que a liberdade não existia para quem não tinha acesso à escolas e a empregos dignos.

A liberdade precisa ser entendida como um conjunto de experiências vividas”, diz a historiadora Marília Ariza em sua dissertação de mestrado O ofício da liberdade: contratos de locação de serviços e trabalhadores libertados em São Paulo e Campinas (1830 – 1888). E reforça, “mesmo para aqueles que se tornavam formalmente livres, seu universo de expectativas e direitos era muito desigual quando comparado a outros setores da população”.

E ainda o é. E é isso que se quer eliminar.

Quando se instituiu, por força da lei, a cota eleitoral de gênero, obrigando cada partido ou coligação a preencher o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo, ninguém chiou. Cotas para mulheres é justo, não é machismo e nem feminismo. 

Agora que se propõe cotas raciais para o congresso aí ouve-se a chiadeira, “onde vamos parar?”, pergunta Constantino, articulista da revistaveja. “Queremos um país todo segregado por raça? Isso apenas fomenta o racismo!”, exclamou o economista. 

Por que o estado não pode criar leis compensatórias para os negros? Porque isso ofende a constituição, é contra a igualdade... Mas esse argumento só é utilizado quando os beneficiários são negros.

Acaba de completar 22 anos a Lei 8.213 de 24 de julho 1991. Ali está escrito que toda empresa com 100 ou mais funcionários deve destinar de 2% a 5% (dependendo do total de empregados) dos postos de trabalho a pessoas com alguma deficiência. Não houve grita, não houve editoriais condenatórios.

E as cotas para deficientes não foi só para o serviço privado. A Lei n. 8.112/90, garantiu reservas de até 20% de vagas no serviço público para pessoas com deficiência. Isso se mostrou salutar para estimular “esses grupos”, segundo o Ministério da Educação (MEC), entre 2003 e 2011, o número de estudantes deficientes saltou de 5 mil para 23 mil. Estão se qualificando para o mercado de trabalho porque foram estimulados.

Mas um canalha poderia fazer a seguinte pergunta: por que oferecer cotas para um cadeirante se na hora de fazer as provas estaremos todos sentados, onde a desvantagem dele?
Mas esse tipo de raciocínio canhestro é utilizado sempre quando falta argumentos para os que querem os negros em seu devido lugar: tomando todos os dias sua cota de tapas da polícia, sua cota de humilhação e desprezo, ou de costas, tomando sua cota de tiro na nuca.

O DEM entrou no STF contra as cotas para negros no ensino superior público, mas a suprema corte decidiu no ano passado, e por unanimidade, a constitucionalidade do sistema de cotas raciais em universidades. Derrotado, o DEM mudou o discurso, hoje ACM Neto tem uma negra como vice e se diz a favor das políticas compensatórias para a população negra.

Isso deixa claro que o sistema de cotas educa e faz as pessoas reverem suas convicções. Negros e negras passaram a figurar em comerciais de TV, em telenovelas, em jornais e tais porque os negros saíram à luta. Querem calá-los com esse discurso de que sofrem discriminação social e não de cor.
Falácia, todos nos lembramos do caso do garoto etíope adotado por um casal de espanhóis que foi expulso de um restaurante em São Paulo, em janeiro de 2012. O proprietário pediu desculpas e disse que “confundiu a criança com um menino de rua”. Mas era um menino de classe média, vestido com uma camisa oficial do Barcelona, tênis novos, onde menino de rua?

Um ano depois, em janeiro de 2013, outro garoto negro, de 7 anos de idade, foi expulso de uma concessionária BMW no Rio de Janeiro onde estava com os pais que são brancos. O funcionário justificou sua ação dizendo que o fez "porque eles pedem dinheiro, incomodam os clientes. Tem que tirar esses meninos da loja." O diabo é que esse também era um garoto de classe média, bem vestido e tais.

Como se vê, o preconceito nesses dois casos não foi de classe, concessionárias de carros importados e restaurantes chiques não são locais para negros. 
Ah, mas serão, e cada vez mais, é só darem a eles oportunidades, cidadania. E as cotas servem a esse propósito também.

No mês da consciência negra esse é um bom debate. Não queremos esclarecer nada, o que nós queremos é escurecer. Dizem que é difícil definir quem é negro no Brasil, porque aqui todos temos o sangue negro, veja você.

Mas isso evidentemente é uma mentira, todos temos o sangue vermelho e racismo é o que a gente sente na pele.

http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/120198/Deficientes-c%C3%ADvicos.htm

Caso Siemens: o Judiciário usado como bravata pinóquio-chuchu

Jean Menezes de Aguiar
JEAN MENEZES DE AGUIAR
Do mesmo jeito que não existe cartel de um só, não existe licitação comprometendo apenas empresas e não o poder público

O governador de São Paulo, que somente em épocas de eleição se mostra popular e democraticamente acessível, oferecendo-se mundanamente como Geraldo, quando pegado de surpresa pela confissão da Siemens, partiu para o ataque. Bravático, mas partiu. Ajuizou austera ação judicial visando a cobrar prejuízos financeiros do estado. À Siemens, já em maio de 2013, descoberta, não restou outra opção senão um acordo com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). A empresa poderá com isto salvar um bom naco de imagem. Mas deixou o rei [Geraldo] nu.

As investigações sobre o cartel – a pior infração à ordem econômica que existe -, envolvendo um propinoduto bilionário, dizem, extrapola as fronteiras brasileiras. Isto serve, também, para dar credibilidade extra à coisa. Não pelo complexo tupiniquinizado de que as investigações brazucas não prestem. Mas pela desconfiança obrigatória que se deve ter quando se fala em investigar políticos e partidos políticos.

A Suíça, por razões próprias, investiga a multinacional francesa Alstom, suspeita de assento privilegiado no cartel brasileiro que envolveria funcionários oficiais verde e amarelo. Outro problema, paralelo, é saber se esses serão investigados a fundo. Do mesmo jeito que não existe cartel de um só, não existe licitação comprometendo apenas empresas e não o poder público.

Com o cenário político desgastado não só no plano doméstico, mas internacional, o governo estadual paulista e a respectiva candidatura a presidente tucano passaram a se ver seriamente ameaçados. A solução encontrada para o escândalo São Paulo foi a lide. Uma ação judicial, no caso, cala-boca. Enfia-se a bucha no Poder Judiciário, que é outra cepa de oficialidade, diversa do Executivo, e se ele ou absolver ou levar 20 anos para resolver a culpa o peso sai das costas do Executivo. Bingo. Descobriram a póuvora, com u.

O que o jornal Folha de São Paulo alardeia, de que "Justiça obriga Alkmin a refazer ação contra cartel" talvez nem seja o mais grave. No Código de Processo Civil, artigo 284, há a regular possibilidade de o juiz mandar o autor emendar a petição inicial. Não há melindres com isso, ainda que alguns achem vergonhoso ou magoante. Já o instituto invocado pela juíza para trazer outros eventuais envolvidos se chama "litisconsórcio necessário".

O problema da ação judicial talvez não seja eventual defeito processual. Mesmo o de se tentar a esdruxularia do cartel de um só infrator, comparado pela Folha a quadrilha de um só bandido. Defeito se corrige.

Talvez o grande problema de tudo seja a própria existência da ação judicial. O açodamento no seu ajuizamento, como todos têm falado, não se deveu a uma busca preocupada do governo pela reparação. As empresas, além de sólidas, não vão fugir do paraíso brasileiro. O açodamento foi a tentativa política de calar a boca da opinião pública, ainda sob a velhaca intuição conservadora de que ela possa ser imbecil e crédula. Algo como o velho "o povo não sabe votar".

Paralelamente, para piorar as coisas para o Executivo paulista, alguém do Ministério Público percebeu a manobra e considerou a ação açodada. A juíza também. Há disposição expressa no Código citado, artigo 17, sobre litigância de má-fé. Se a suspeita que pairou se confirmar, de que a ação proposta poderia ter sido proposta para obtenção de objetivo ilegal, o estado pode ser condenado por má-fé. O problema é que quem pagaria a conta não é o "gênio" que inventou a ação. Mas toda a sociedade.

Do blog Observatório Geral

O Papa quer ouvir seu rebanho


Francisco protagoniza mais uma iniciativa inédita na Igreja Católica: elimina intermediários e envia questionário que pergunta aos fiéis o que eles pensam sobre casamento gay e casais em segunda união, entre outros temas

por João Loes


Anotícia causou estranhamento até entre os mais experientes estudiosos da Igreja Católica. No início do mês, começaram a circular informações de que o Vaticano havia enviado às conferências episcopais de todo o mundo um questionário a ser respondido pelo maior número possível de fiéis. E o que começou como rumor logo se confirmou. Nas 38 perguntas do documento, todas focadas na família, estão questões que tratam de temas como a união entre pessoas do mesmo sexo, a vida de casais em segundo casamento, a coabitação antes do matrimônio e o uso de métodos contraceptivos, entre outros. Reunidas, as respostas serão remetidas à Roma para servirem de base para as discussões da Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos de 2014, em outubro, que terá como tema “Os desafios pastorais da família, no contexto da evangelização”. “O papa Francisco quer conhecer a realidade concreta das famílias – as que estão bem e as que estão mal”, disse dom Vicenzo Paglia, arcebispo italiano e presidente do Pontifício Conselho para a Família, durante viagem pelo Brasil, na semana passada.

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VOX POPULI
Francisco no meio da multidão, na Praça de São Pedro:
o papa não quer discussões teóricas, prefere ouvir os anseios
da comunidade católica, para aflição de muitos padres e bispos

Não é sempre que o Vaticano dá ouvidos, de maneira tão direta, aos seus fiéis. Segundo especialistas, desde a criação do Sínodo dos Bispos, no final do Concílio Vaticano II, em 1965, essa é a primeira vez que isso acontece. Em outras ocasiões, para saber o que pensavam os fiéis, a Igreja costumava contar com levantamentos feitos por padres e bispos, que invariavelmente filtravam a realidade, mesmo que inconscientemente. “Deve ter muito religioso assustado, não só com as perguntas do questionário, mas com o fato de que o papa espera ouvir os fiéis sem intermediários”, afirma Fernando Altemeyer, professor do departamento de teologia e ciências da religião da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Para Altemeyer, o questionário é importante por explicitar o que ele entende como uma grande mudança na forma de agir da Igreja.

Até o fim do papado de Bento XVI, quando o Vaticano decidia fazer um comentário sobre a vida dos católicos, um intelectual, geralmente com profundo saber teológico e doutrinário, redigia um documento recheado de elucubrações teóricas e o apresentava à Santa Sé, que o avaliava, editava e, então, o submetia aos fiéis. Pouco importava se o conteúdo do que fora escrito estivesse em absoluta dissonância com a realidade da vida da comunidade. O papa, em sua infalibilidade (dogma promulgado no Concílio Vaticano I, 1869-1870), sabia o que era melhor para seu rebanho, mesmo conhecendo pouco dele. Com o anúncio do Censo de Francisco, esse modus operandi dá sinais de que pode estar mudando. “É a retomada de um método de trabalho consagrado no mesmo concílio que criou o Sínodo dos Bispos – o de primeiro ver, para depois julgar e só então agir”, diz Altemeyer. “Vivíamos um tempo em que só se julgava e agia.”

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FAMÍLIA
Católicas praticantes, Cristiana Serra e Juliana Luvizaro têm
muitas esperanças na igreja de Francisco, mais colegiada
e menos monárquica, para a comunidade gay

Era de se esperar que, para os católicos gays, por exemplo, a notícia de um questionário que parece querer ver e entender esse grupo antes de julgá-lo fosse recebida com alegria. Mas, ainda que comemorada, a inclusão de uniões entre parceiros do mesmo sexo como tema no questionário de Francisco é vista com cautela. “Nossa experiência com a igreja nos faz agir como gatos escaldados”, diz a psicóloga carioca Cristiana Serra, 38 anos, gay, católica e membro do grupo “Diversidade Católica”, que trabalha para dar subsídios teológicos que ajudem a conciliar homossexualidade e fé. Cristiana diz que vê, no interesse de Francisco em fazer uma igreja mais colegiada e menos monárquica, um caminho para mudanças positivas para a comunidade católica gay. Mas supor que a opinião dos fiéis terá força para mudar alguma coisa já é um pouco demais. Sua mulher, porém, parece mais otimista. “Sou apaixonada pelo papa Francisco”, diz a confeiteira carioca Juliana Luvizaro, 33 anos, há cinco casada com Cristiana. “Ele entende a força e a centralidade da mensagem de amor do Novo Testamento, além de aceitar que esse amor nem sempre se manifesta dentro das expectativas da sociedade”, diz.

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Quem também conta com o amor como grande aliado para enfrentar a dura realidade de viver uma vida conjugal irregular aos olhos da igreja são os casais em segunda união. Unidos pelo matrimônio, divorciados civilmente e, posteriormente, em nova união, eles ficam proibidos de receber qualquer sacramento, inclusive a penitência, ou confissão, e a eucaristia. No questionário de Francisco, nada menos que cinco perguntas são dedicadas à exploração da realidade de quem vive nessa condição. “Sofro por não poder receber os sacramentos, mas sigo a determinação da Igreja e fico feliz por respeitar a doutrina”, diz Cecília di Ciero de Oliveira, 54 anos, divorciada desde 2008 e hoje vivendo uma vida de casada com Roberto de Oliveira, 63 anos. Logo que se separou, Cecília se afastou da comunidade que frequentava, na cidade de Itu, interior do Estado de São Paulo, por causa das fofocas e da crueldade de parte dos leigos da paróquia. Hoje, porém, ela não só voltou à Igreja, como participa ativamente da comunidade. “É esse envolvimento completo, que vai além da frequência em missa, que aproxima o fiel de sua missão”, diz João Bosco Oliveira, 76 anos, autor de dez livros sobre a vida de casais nessa situa-ção e fundador da Pastoral de Casais em Segunda União, hoje com mais de três mil grupos espalhados pelo Brasil.

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"Não podemos falar que tudo é família.
Se tudo é família, nada é família"

Dom Vicenzo Paglia, arcebispo italiano e presidente do Pontifício Conselho
para a Família, questionado sobre o batismo de filhos de casais gays

Não se sabe ao certo o que será feito com os resultados dessa extensa pesquisa. No longo texto que introduz o questionário, fala-se, em tom alarmante, da “crise social e espiritual” contemporânea e de “como são urgentes os desafios apresentados à evangelização pela situação atual”. Mas a agenda estabelecida pelo mesmo documento para discussão desses resultados não mostra tanta urgência. Segundo consta, no Sínodo de Bispos de 2014, os resultados da pesquisa serão apenas apresentados. Eventuais decisões no sentido de “procurar linhas de ação para a pastoral da pessoa humana e da família” ficarão para o Sínodo de 2015. “O sínodo tem força pastoral – ele não vem para mudar doutrina, porque isto não cabe a ele”, diz o padre Wladimir Porreca, assessor nacional da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “Mudanças no papel dos sacramentos também estão fora de questão”, afirma Porreca, que diz, ainda, não ser concebível elevar a união entre duas pessoas do mesmo sexo à condição de família. A afirmação faz eco a outra declaração de dom Vicenzo Paglia. “Não podemos falar que tudo é família. Se tudo é família, nada é família”, cravou. As coisas mudam lentamente na milenar instituição de Roma. Mas mudam. E ninguém discute que o censo de Francisco talvez seja um dos mais poderosos sinais de transformação desde que o argentino assumiu o trono de Pedro.

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PECADO
Cecília di Ciero de Oliveira e Roberto de Oliveira são um dos milhares
de casais católicos em segunda união que frequentam as paróquias
do País e são impedidos de comungar e confessar
Colaborou Débora Crivellaro

http://www.istoe.com.br/reportagens/333849_O+PAPA+QUER+OUVIR+SEU+REBANHO

Impasse nas pesquisas


Após invasão de defensores dos animais, Instituto Royal anuncia fechamento e cientistas não têm onde testar novos medicamentos no País

por Camila Brandalise


O fechamento do Instituto Royal, em São Roque (SP), anunciado na semana passada, deixou a comunidade científica preocupada. O laboratório, que fazia testes de medicamentos em animais, decidiu encerrar suas atividades alegando “irreparáveis perdas” após a invasão de ativistas que retiraram de lá 178 beagles. A decisão traz o impasse: onde serão feitas as etapas mais avançadas das pesquisas com animais para desenvolver remédios a partir de agora? Segundo a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), não há outro instituto com capacitação para fazer os mesmos testes. Por isso, a professora Helena Nader, presidente da entidade, articula uma reunião de emergência com pesquisadores e representantes dos ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia para estudar a criação de uma nova instituição nos moldes do Royal.

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CRISE
Presidida pela professora Helena Nader (abaixo), SBPC fará reunião
de urgência para criar novo laboratório após fechamento do Royal (acima)

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O Royal afirma ter sido peça fundamental para o desenvolvimento da ciência por ser o único instituto do País com o certificado de Boas Práticas de Laboratório (BPL), concedido pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). Há outros laboratórios, como o Tecam, também em São Roque, que possuem a mesma certificação. Mas, segundo a SBPC, nenhum outro biotério realiza pesquisas com cães como fazia o Royal. Os cachorros são a última etapa da aplicação das substâncias antes dos humanos. Diante da situação, a única opção no momento é fazer os experimentos no Exterior, uma vez que o Brasil está atrás de outros países em relação às pesquisas. Mas a ideia não agrada à comunidade científica. “Descobertas de moléculas e quebra de patente são interesses nacionais. São informações que precisam ficar aqui”, diz Marcelo Morales, secretário da SBPC e secretário-geral da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe).

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Enquanto isso, o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), principal órgão de regulamentação de pesquisas com animais, tenta colocar ordem na casa. Das 375 instituições credenciadas na entidade, 178 estão irregulares por não entregarem os relatórios anuais – algumas nem sequer enviaram a documentação de 2011 – e 14 por motivos específicos.

http://www.istoe.com.br/reportagens/333840_IMPASSE+NAS+PESQUISAS

Crise e intrigas no balé russo


Bailarino suspeito de planejar ataque com ácido contra o ex-diretor do Bolshoi cria polêmica ao assumir a maior escola de balé do mundo em São Petersburgo

por Fabíola Perez
 

O balé russo é reconhecido em todo o mundo por sua tradição e grandiosidade. Casos de corrupção, prostituição e escândalos políticos, porém, têm saído frequentemente das coxias para vir a público. No início do mês, o consagrado bailarino do teatro Bolshoi, Nikolai Tsiskaridze, foi nomeado pelo ministro da Cultura da Rússia, Vladimir Medinsky, o novo diretor da maior e mais antiga escola de balé do país, a Academia de Vaganova, em São Petesburgo. A nomeação ocorreu à revelia da comunidade artística. Não tardou para que uma das melhores bailarinas do renomado balé local, Diana Vishneva, criticasse a escolha. “Não havia motivos para uma mudança tão controversa”, disse ela. Tsiskaridze é apontado como o mandante do atentado contra o ex-diretor artístico do teatro Bolshoi, Sergei Filin, em janeiro. “A reputação do teatro foi drasticamente abalada com esse episódio”, disse à ISTOÉ Simon Morrison, professor da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e autor do livro “Bolshoi Confidencial – Os Segredos do Balé Russo”.

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ISOLADO
Tsiskaridze virou diretor do balé de São Petersburgo sem apoio da comunidade artística

O ataque com o ácido, que obrigou Filin a se submeter a 24 cirurgias para reconstituir o rosto, jogou luz sobre a crise interna do Bolshoi. “Nos últimos tempos o teatro estava em guerra”, afirma Elena Jaeger, diretora do Instituto Cultural Russo no Brasil. “Ao que tudo indica, a inveja e a ambição profissionais foram os motivos do crime.” Em junho, Tsiskaridze não teve seu contrato renovado pelo Bolshoi. Um dos motivos que pode ter levado à demissão é o desentendimento do bailarino com o diretor-geral da companhia, Anatoly Iksanov. Na sequência, o ministro da Cultura da Rússia nomeou Vladimir Urin como o novo diretor-geral. “Um de seus primeiros atos foi estabelecer um novo acordo coletivo de trabalho com os dançarinos”, diz Morrison, de Princeton. “A iniciativa melhorou instantaneamente o convívio entre os profissionais.”

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Enquanto no Bolshoi a esperança é que as nuvens comecem a se dissipar, na Academia de Vaganova a dúvida sobre o futuro da instituição ainda paira. Além de Tsiskaridze, sua companheira de dança, Uliana Lopatkina, também suspeita de participar do ataque a Filin, foi nomeada diretora artística. A bailarina de São Petersburgo, Diana Vishneva, é taxativa: “Temos muitas esperanças de que não seja o fim de uma grande escola”. Por enquanto, é necessário esperar para saber se a crise no balé russo, de fato, chegará ao norte do país.

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O tesouro dos nazistas


Estima-se que partidários de Hitler confiscaram 16 mil obras de arte na guerra. Descoberta de 1.406 peças de mestres como Picasso e Matisse, avaliadas em R$ 3 bilhões, é a mais importante até agora

Wilson Aquino
 

Quase 70 anos após o fim da Segunda Grande Guerra, até hoje surgem revelações desse que é considerado o conflito mais terrível da humanidade. Na semana passada, veio a público a descoberta de 1.406 obras de arte que passaram as últimas décadas encerradas em porões e quartos escuros, longe da vista de todos, em Munique, na Alemanha. Assinadas por 16 gênios, entre os quais Picasso, Matisse e Chagall, esses quadros, aquarelas, litografias, gravuras e desenhos – alguns datados do século XVI – constituem um acervo avaliado em um bilhão de euros (R$ 3 bilhões). Por trás do sumiço, há a suástica nazista: as preciosidades pertenciam a judeus obrigados a vendê-las a preços módicos ou foram confiscadas pelo regime.

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“É a maior descoberta de quadros roubados durante a Segunda Guerra”, diz o presidente do Registro de Obras de Arte Perdidas, Julian Radcliffe, de Londres. O Museu do Holocausto, dos Estados Unidos, estima que os nazistas se apropriaram de cerca de 16 mil obras de arte – muitas estão espalhadas pelo mundo, com paradeiro ainda desconhecido. Recentemente, museus holandeses identificaram, em exposição naquele país, 139 quadros apreendidos de judeus. O confisco atendia a um capricho de Adolf Hitler, para quem “obras degeneradas”, como ele se referia à arte moderna, deveriam ser banidas do planeta. “Hitler era um artista frustrado que associava qualquer tipo de obra abstrata à decadência, aos doentes mentais ou aos judeus”, diz Fernando Amed, do Centro Universitário Belas Artes, de São Paulo.

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JOIA
Reprodução de tela de Matisse encontrada no apartamento de Cornelius Gurlitt,
em Munique, na Alemanha. O acervo dos nazistas é procurado em todo o mundo

As peças recém-descobertas eram mantidas escondidas no apartamento de Cornelius Gurlitt, 79 anos, filho do historiador e negociador de arte alemão Hildebrando Gurlitt, conhecido nos círculos internacionais por comercializar – com autorização de Joseph Goebbels, ministro de Hitler – as obras que os nazistas tiraram dos judeus. Com o fim da guerra, alegou que sua coleção havia sido destruída nos bombardeios a Dresden, em 1945. Seu filho Cornelius passou a vida se mantendo graças ao lucro da venda de algumas obras. As investigações em torno dele começaram por suspeita de sonegação fiscal.

Os integrantes do Projeto de Restituição de Arte Max Stern (um conceituado galerista judeu que teve obras confiscadas nessa época), da Universidade de Concórdia, no Canadá, acreditam que quadros de Stern também estejam no acervo. “Infelizmente, até que o governo alemão libere uma lista das obras, nós não sabemos ao certo”, disse à ISTOÉ Fiona Downey, relações-públicas da universidade. A expectativa é grande e animadora, já que, tudo indica, as peças estão em boas condições. O Ministério Público de Munique contratou uma especialista para avaliar e levantar a origem dos trabalhos.

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PREFERÊNCIA
Reprodução de obra de Marc Chagall recuperada pela polícia: Hitler não
gostava de arte moderna e chamava o estilo de "obra degenerada"

Apesar da pressão internacional, o procurador público alemão Reinhard Nemetz ainda não fixou data para divulgar a lista completa das obras recuperadas. O motivo de alguns quadros serem desconhecidos dos historiadores é explicado pelo marchand paulista José Marton: “Naquela época, era comum obras serem compradas e não catalogadas.” No entanto, o fato de as obras não terem sido destruídas reafirma que muitas atrocidades nazistas eram motivadas por dinheiro, e não por ideologia. “Eles atacaram os bens materiais, desde valores em banco, joias, propriedades e obras de arte, até dente de ouro arrancado das bocas dos judeus”, complementa Osias Wurman, cônsul honorário de Israel no Rio de Janeiro. As geniais criações de artistas plásticos confirmam que o passado insepulto da guerra sempre volta.

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Uma relação tão delicada


Embora de origens musicais distintas, Roberto Carlos e Caetano Veloso construíram uma amizade de décadas, com homenagens mútuas. O racha no grupo Procure Saber provocou o rompimento dos dois

Michel Alecrim

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Década de 1960. Maria Bethânia diz ao irmão Caetano Veloso: ?Presta atenção no Roberto Carlos?. O cantor baiano procurou saber sobre o capixaba e assim começou um rito de aproximação entre eles, que se tornaram amigos de décadas, a despeito de terem frequentado movimentos culturais diferentes ? Caetano integrava a vanguardista tropicália e Roberto liderava a romântica jovem guarda ? e posições políticas igualmente díspares. Exilado em Londres, na Inglaterra, nos anos 1970, fugindo da perseguição de militares na ditadura, Caetano recebeu a visita de Roberto, que vivia ?alienado? no Brasil, como dizia na época a combativa ala cultural da esquerda. Foi para o baiano que Roberto compôs, em parceria com Erasmo Carlos, ?Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos?, em 1971. No mesmo ano, Caetano retribuiu entregando ao Rei a letra de ?Como Dois e Dois?, em que diz: ?Tudo em volta está deserto/Tudo certo/Tudo certo como/Dois e dois são cinco?. A delicada relação construída ao longo de décadas rompeu-se dentro do único grupo que integravam juntos, o Procure Saber, criado para tentar proibir biografias não autorizadas. O tom amigável e respeitoso de ambos desafinou geral.

No início, todos tinham a mesma meta dentro do grupo, que ainda conta com Chico Buarque, Milton Nascimento, Djavan e Gilberto Gil, além da empresária Paula Lavigne, ex-mulher de Caetano e presidente da associação. Com a imediata e forte reação da sociedade, de editores de livros e de outros artistas, Roberto Carlos resolveu incluir na luta seu advogado, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. ?Só que ele entrou em rota de colisão com Paula, e a amizade de Roberto e Caetano foi para o ralo?, diz um amigo de ambos, que pediu anonimato. Roberto deu entrevista ao programa ?Fantástico?, da Rede Globo, desdizendo o que defendia antes e declarou-se contra a censura. Sem disfarçar a irritação, Caetano saiu-se com uma frase que ainda pode virar letra de música. ?Apanhamos muito da mídia e das redes, ele vem de Rei?, escreveu, em sua coluna dominical no jornal ?O Globo?. A resposta do Rei foi seca: ?A partir de agora, fiquem à vontade com o andamento do Procure Saber sem a presença direta do Roberto?, informou o empresário do cantor, Dody Sirena, aos integrantes da associação.

O advogado Kakay disse à ISTOÉ que sempre defendeu, nas reuniões do Procure Saber, que o grupo desistisse da ideia de censura. Os argumentos teriam convencido Erasmo Carlos e Gilberto Gil a reverem suas posições, tanto que gravaram um vídeo, divulgado na internet no fim de outubro. ?Agradecemos a todos os que se expuseram conosco, que tiveram suas vidas expostas em nome de uma ideia e que, por isso, foram chamados de censores?, declarou Gil. ?O Erasmo é maria-vai-com-as-outras do Roberto?, disse uma pessoa ligada ao meio musical, para frisar que o apoio já era esperado. ?Mas o Gil, que é amigo-irmão de Caetano, também??, questiona. Segundo pessoas próximas aos dois, o imbróglio entre Caetano e Gil já foi resolvido em conversa com ambos e tudo continua bem entre eles.

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Mas o mesmo não aconteceu com Caetano e Roberto. Na noite da terça-feira 5, o Rei se desligou definitivamente do Procure Saber. Detalhes pequenos da mágoa dos dois podem ser captados nas entrelinhas do comunicado oficial assinado por Sirena: ?Não é bem assim o nosso jeito de trabalhar, somos mais discretos. Afinal, defendemos também a privacidade no sentido profissional.? Referia-se ao estilo de Paula Lavigne, que botou mais lenha na fogueira na semana passada, quando declarou que a entrada de Kakay ?gerou desconforto?. E mandou: ?Não precisamos de lobista em Brasília e muito menos de advogado criminalista.?

?No mercado, comenta-se que a Paulinha (Lavigne) é a Yoko Ono da hora: ?separou uma fantástica dupla musical?, diz uma pessoa importante do meio musical. Afinal, 13 anos depois de ser homenageado por Roberto, Caetano retribuiu com a canção ?O Homem Velho?, em 1984, e gravou a música do Rei ?Fera Ferida?, em 1987. Por sua vez, Roberto prestigiou o tropicalista incluindo em seus discos ?Muito Romântico? e ?Força Estranha?. Em 2008, Roberto fez uma concessão a Caetano nunca dada a qualquer outro artista: um show, que virou disco e DVD, em dueto com ele, ?Roberto Carlos e Caetano Veloso e a Música de Tom Jobim?.

A questão da censura às biografias está agora nas mãos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e dos parlamentares. Audiências no STF estão marcadas para os próximos dias 21 e 22 e a Câmara deve votar ainda neste mês projeto de lei do deputado Newton Lima (PT-SP), que altera o Código Civil e acaba com a autorização prévia para biografias. Um acordo entre líderes do Congresso incluiu um parágrafo proposto pelo deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), que prevê rito sumário em casos graves de ofensa. Procurados por ISTOÉ, Roberto Carlos, Caetano Veloso e Paula Lavigne não responderam.  

montagem sobre fotos de leonardo aversa/ag. o globo e adriana spaca/brasil fotopress; arquivo/agência o globo 

http://www.istoe.com.br/reportagens/333870_UMA+RELACAO+TAO+DELICADA