segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

A Globo e a ditadura militar, segundo Walter Clark



Ainda que não tivesse sido esse o objetivo de sua autobiografia, na qual relatou há 19 anos a incrível trajetória que o transformara no todo-poderoso senhor, por mais de uma década, da quarta rede comercial de televisão do mundo, Walter Clark acabou por oferecer no livro – O Campeão de Audiência (veja a capa abaixo), que teve o jornalista Gabriel Priolli como co-autor, Editora Best Seller, 1991 – uma contribuição importante para a compreensão das relações muito especiais entre a TV Globo e o regime militar à sombra do qual floresceu. Além de rejeitar a conhecida imagem da emissora como uma espécie de porta-voz do “Brasil Grande” do ditador Médici, ele garantia nunca ter visto Roberto Marinho (foto no alto, da capa do livro promocional assinado por seu empregado Pedro Bial), “se humilhar diante de quem quer que fosse, milico ou não, presidente da República ou não. Ao contrário, é uma altivez que fica sempre no limite da arrogância.”



Clark referia-se à suposta independência do dono da Globo por “manter em torno de si homens de esquerda em cargos importantes” (citava Franklin de Oliveira, Evandro Carlos de Andrade e Henrique Caban) – inclusive depois que o SNI ampliou a pressão contra os dois últimos, com acusações contidas numa fita de vídeo que o dono da Globo fora convocado a assistir em companhia de Clark e Armando Nogueira. Explicitamente, admitia apenas que o regime “incomodava” a Globo, que enfrentou “o mesmo gosto amargo da censura, das intimidações, das impossibilidades que todo mundo sentiu: imprensa, rádio, televisão, as artes, a universidade, a cultura”. Claramente na defensiva, o autor mostrava-se ressentido com os que o culpavam – na própria Globo, e mais até do 

que Marinho – pela submissão ao regime militar. Mas ao passar das opiniões subjetivas aos fatos concretos, acabava por confirmar o que pretendia desmentir: a docilidade das TVs (em particular a sua), em parte resultante do caráter precário das concessões de canais pelo governo, tinha uma longa história e já o atropelara antes, na TV Rio.

Essa emissora, na qual também foi autoridade máxima (com o título nominal de “diretor comercial”), Clark submeteu-se, sem reação, ao assalto dos lacerdistas – liderados pelo empresário Abrahão Medina, fazendo valer a condição de patrocinador de programas – no episódio da tomada do Forte de Copacabana, em 1964. Posteriormente, conseguiu o prodígio de entregar-se tanto ao governo estadual como ao federal, até mesmo depois do desafio do governador Carlos Lacerda (foto à esquerda) ao presidente Castello Branco. Clark confessou ter retirado do ar programas de Carlos Heitor Cony e Roberto Campos para satisfazer o coronel Gustavo Borges, chefe de Polícia do Rio, que o chantageava com a ameaça de mudar o horário da novela O Direito de Nascer, líder de audiência.
Da promiscuidade à cumplicidade
Não por acaso, a experiência da Globo acabaria por extremar a tendência à  acomodação, a ponto de Clark contratar um ex-diretor da Censura (“o Otati”) para “ler tudo que ia para o ar” e, pior ainda, uma “assessoria especial” para cortejar o poder, formada pelo general Paiva Chaves, pelo civil linha dura Edgardo Manoel Erickson (“pelego dos milicos”, conforme disse) e mais “uns cinco ou seis funcionários”. O episódio que aparentemente o convenceu a ir tão longe chegava a ser cômico: um certo coronel Lourenço, do Dentel, tinha tirado a estação do ar em 1969, convocando Clark
 

 ao ministério da Guerra, porque Ibrahim Sued, na esperança de agradar ao Planalto, divulgara uma intriga plantada pelo grupo do general Jaime Portela, então na conspiração do “governo paralelo” juntamente com d. Yolanda Costa e Silva. Ibrahim foi preso e Clark (ao lado, numa capa da Veja em 1971) aprendeu a lição depois de levar um pito do coronel Athos, “homem de Sílvio Frota”.

Além da pretensa altivez de Marinho, impressionaram Clark a “integridade”, a “honestidade” e o “patriotismo” do general Garrastazu Médici, que depois de 1974 passara a frequentar seu gabinete na Globo para ver futebol aos domingos. Muita gente apanhava e morria nos cárceres da ditadura, mas para ele isso não podia, de forma alguma, ser coisa do ditador Médici: “Tenho a impressão de que ele não se envolveu com nenhum excesso, nenhuma violência do regime”. De quem era, então, a responsabilidade? “Foi coisa dos caras da Segunda Seção do Exército, do SNI, do Cenimar, do Cisa, a turma da segurança. E era tudo na faixa de major, tenente-coronel”. Pronto a absolver os poderosos, frequentadores de seu gabinete (até mesmo o general Ednardo D’Ávila‚ chamado no livro de “figura agradável”), e a condenar apenas o guarda da esquina, obscuro, Clark comete o disparate de afirmar que “a censura e as pressões não eram feitas pelos generais”, mas por “gente como o Augusto”, beque do Vasco que virou agente do DOPS. Mas se era assim, por que submeter-se a eles?

O autor recorreu ainda a outra desculpa para justificar o adesismo e o ufanismo tão escancarados na ocasião pela rede dos Marinho: “A Globo não fazia diferente dos outros”. E mais: “Se o Estadão não conseguia enfrentar o regime, se a Veja não conseguia, como é que a Globo, sendo uma concessão do Estado, conseguiria resistir à censura, às pressões?” O problema, para os críticos de Clark dentro da própria emissora, é que ela, como ele, parecia preferir aquela filosofia de que se o estupro é inevitável só resta relaxar e aproveitar. Daí os comerciais da AERP (Clark alega que foram feitos para evitar uma “Voz do Brasil” na TV, projeto de um certo coronel Aguiar), as coberturas patrióticas de eventos militares  

(Olimpíadas do Exército e o resto), as baboseiras ufanistas de Amaral Neto (foto à esquerda). “Era o preço que pagávamos para fazer outras coisas”, alegou. Não se deu ao trabalho de explicar que coisas eram essas. E ele mesmo admitiu na autobiografia que o apregoado Padrão Globo de Qualidade “acabou passando por vitrine de um regime com o qual os profissionais da TV Globo jamais concordaram”?

A Globo devia ao regime, como ficou claro no relato de Clark, até mesmo a introdução da TV a cores – imposta pelo ministro das Comunicações, coronel Higino Corsetti, sabe Deus para atender a que lobby multinacional. Mas a intimidade promíscua com o regime foi mais longe, a ponto de compartilhar com o SNI os serviços clandestinos do “despachante” encarregado de liberar contrabandos na Alfândega: para a empresa, equipamentos de TV; para os militares da espionagem oficial, sofisticados aparelhos de escuta ilegal. Graças a isso, Clark podia desfrutar estranhas sessões de lazer como a conversa com um tal general Antônio Marques, pressuroso em exibir foto tirada no escuro de um cinema (com equipamento infravermelho) e identificar o personagem em cena comprometedora como Dom Ivo Lorsheiter, progressista odiado pela linha dura militar.
Para Armando, “uma questão de realismo”
O autor defendeu no livro tudo o que fez para “afagar o regime” (expressão dele) e investiu contra os que o acusavam de “puxar o saco dos militares” (também expressão dele). Para fazer autocensura, revelou, tinha importantes aliados internos, com destaque especial para o papel do diretor de jornalismo, Armando Nogueira. Por “questão de realismo”, por exemplo, Armando e ele tomavam “muito cuidado” para não trombar “com o regime e nem com Roberto Marinho”. Mas o leitor tropeça nas contradições da narrativa, entre elas a ambiguidade em relação ao ex-amigo J. B. (Boni) de Oliveira Sobrinho – acusado de fazer vista grossa quando Dias Gomes e outros enfiavam “coisas nos textos que certamente iam dar problemas”, mas também de cumplicidade com os militares para destruir o próprio Clark (“lá por 1976, Laís, a mulher do Boni, foi me denunciar para o pessoal do SNI, que ela conhecia, dizendo que eu era um toxicômano perigoso”).


Não é preciso inteligência privilegiada para perceber que o jogo de cumplicidade com o regime confundia-se com a luta interna pelo poder dentro da Globo, arbitrada por Marinho e envolvendo não apenas Clark e Boni, mas também o segundo escalão – Joe Wallach (que representou o grupo Time-Life – mais sobre ele AQUI), José Ulisses Alvarez Arce e, em especial, o diretor de jornalismo Armando Nogueira (todos eles estão na sugestiva foto acima). Esse último é pintado no livro como incompetente, preguiçoso e traiçoeiro. Em meio à guerra, as reuniões do conselho de direção nas manhãs de segunda-feira tornaram-se um inferno, em generalizado clima de intriga e discórdia, com todo mundo brigando com todo mundo. O dinheiro farto que todos ganhavam, contou Clark, “era como veneno, especialmente nas mãos das mulheres”. Munidas de talões de cheque, elas estrelavam “um festival de nouveau-richismo, pretensão e falta de educação”. Acusado de consumir drogas, Clark defendeu-se ao encarar a prática como generalizada: “a cocaína era chique nas festas intelecto-sociais, e o seu consumo, bastante disseminado”, mas “resolveram me transformar em drogado”.
Quando Marinho decidiu tomar “o brinquedo de volta” – ou seja, recuperar o controle da Globo, que “tinha emprestado para uns garotos mais moços brincarem” – uma das mãos firmemente agarradas ao tapete de Clark, segundo o livro, foi a do ministro da Justiça, Armando Falcão (na foto abaixo, ao lado do ditador Ernesto Geisel), 

“tipo deletério, que adorava fazer intrigas, dizer que éramos todos comunistas, drogados, os piores elementos”. No relato aparece um Roberto Marinho bem mais coerente na conspícua (e promíscua) aliança com o regime do que o autor chega a reconhecer explicitamente – tanto que o episódio no qual Clark é afinal defenestrado mistura, de forma reveladora, a disputa pelo poder no regime militar com aquela que se processava na Globo, escancarando as relações perigosas entre o governo e a rede de TV consolidada à sombra do autoritarismo.

O autor nega que o motivo de sua saída tenha sido, como se propalou na época, seu comportamento pessoal pouco ortodoxo (em razão de excessos alcoólicos) numa festinha com poderosos de Brasília. O livro atribuiu a demissão a queda de braço com o regime, que exigia o expurgo na Rede Globo da afiliada paranaense de Paulo Pimentel, político que rompera com o antigo protetor, 

 ministro Ney Braga, e ainda era desafeto do chefe do SNI, general João Baptista Figueiredo, então a caminho da presidência (na foto à esquerda, já ditador, de braço dado com Marinho). Se assim foi, faltou a Clark reconhecer ter sido demitido na primeira vez em que de fato ousava contrariar os donos do poder. “Eu argumentava – escreveu ele – que o governo tinha o poder concedente dos canais de rádio e TV e, se quisesse atingir o Paulo (Pimentel), que cassasse a sua concessão e enfrentasse o desgaste político”. Mas Marinho, pragmático, pensava diferente – talvez sintonizado, naquele sombrio ano de 1977, com o clima incerto gerado por mais uma demonstração de força do regime, o Pacote de Abril.
Até veto de música no festival da canção
Clark nem sequer notou a semelhança desse episódio com tantos outros que marcaram a aliança promíscua da Globo com o poder – e nos quais ela se limitara a acatar a vontade do regime. Alguns de tais episódios, envolvendo a TV e autoridades militares, desfilaram ao longo de Campeão de Audiência: o ataque do general Muricy a um documentário da CBS (para ele, “subversivo”) sobre o Vietnã, comprado ironicamente pelo americano Wallach, do Time-Life (na foto, cochichando no ouvido de Roberto Marinho); 

 o Jornal Nacional, no terceiro dia de sua existência, proibido por um coronel (Manoel Tavares) do gabinete do general Lira Tavares (membro da Junta que tomara o poder) de noticiar o sequestro do embaixador dos EUA e a doença de Costa e Silva, os dois principais assuntos; o aviso do general Sizeno Sarmento de que as músicas “Caminhando” e “América, América” estavam proibidas de ganhar o Festival Internacional da Canção; a ordem do general Orlando Geisel para as patriotadas de Amaral Neto serem incluídas no horário nobre; a prisão do próprio Clark pelo DOPS no dia do Ato 5, por ordem do coronel Luís França (em represália por ter ele discutido com o motorista do militar num incidente de trânsito).
Enfim, a especialidade da Globo era acomodar-se a cada situação. A acomodação prevaleceu ainda no dia da queda de Clark. Ele aceitou sem discutir o prêmio de consolação (US$ 2 milhões) oferecido por Marinho. E limitou-se a encomendar o texto da carta de demissão (“em alto  estilo… literário”) ao amigo Otto Lara Resende, suficientemente versátil para também escrever em seguida a resposta na qual o dono da Globo agradeceu os serviços prestados pelo demissionário (quatro anos depois Otto aceitaria também a missão de fazer o prefácio de Campeão de Audiência).
A demissão é uma espécie de anticlímax da autobiografia, na qual o autor assumiu compulsivamente a responsabilidade pelas iniciativas bem sucedidas da Globo, declarou-se adepto de programas de qualidade (mas o salto de audiência veio com os popularescos de baixo nível, de Raul Longras, Chacrinha [foto abaixo], Dercy Gonçalves, etc, bem na linha da atual pornografia BBB) e atribuiu o mal feito a outros – como os que mantiveram elevado o faturamento e a liderança absoluta de audiência nos anos seguintes, enquanto o próprio Clark, que na Globo tinha o maior salário do mundo (compre AQUI, por US$3,95, a notícia no New York Times sobre a demissão do brasileiro com o maior salário do mundo) e frequentava presidentes e ministros, descia ao fundo do poço, de fracasso em fracasso (como diretor de duas TVs, logo demitido, e produtor de dois filmes nos quais sequer se reconheceu sua contribuição, mais um espetáculo teatral altamente deficitário).

“Em 14 anos, depois de minha saída, o que houve de realmente novo?” – perguntou o autor naquele ano de 1991, referindo-se à Globo. Pouca coisa, talvez. Hoje, com a perda crescente de audiência para os concorrentes e sem os privilégios garantidos nos 20 anos de ditadura militar, ela está condenada a conformar-se com as regras da democracia e da competição. E passa a valer para a Globo a amarga reflexão pessoal de Clark no livro: “Não se deve cultivar excessivamente o poder, pendurar-se emocionalmente nele, porque um belo dia o poder acaba, e o dia seguinte é terrível”. 

http://argemiroferreira.wordpress.com/2010/04/03/a-globo-e-a-ditadura-militar-segundo-walter-clark/

Nem na prisão os réus têm o direito de cumprir com suas penas



Não basta que os réus condenados pelos crimes de que foram acusados durante o julgamento da ação penal 470 estejam cumprindo pena de prisão sob um regime jurídico diferente daquele que originalmente foram apenados. É preciso destruir por completa a sua moral, a disposição de continuar lutando em busca do restabelecimento da verdade.

Para que não paire nenhuma dúvida sobre as intenções que movem um grupo de celerados que tem a seu favor poder contar com o espaço da velha imprensa escrita, não obstante sua visível decadência, com o fito de falsificarem a realidade, moerem até sangrar a reputação dos réus que estão completamente indefesos ante à sanha de um juíz que atua politicamente, usando de critérios dúbios, o peso do cargo que ocupa para persecutoriamente atingir aquilo que neste momento é a principal trincheira no combate as injustiças praticadas pelo ministro presidente do STF,

cuja história o colocará no desvão do esquecimento, refiro-me ao estado de ânimo dos réus que aos poucos está sendo minado por uma campanha sórdida que nem na prisão permitem que os réus cumpram com a pena que a justiça lhes impôs, alimentada em nome de um suposto privilégio que é dado aos réus, chamados de poderosos, o que faria qualquer pessoa de bom senso gargalhar com tamanha asneira, acriticamente endossada por uma legião igualmente de pessoas vís, um público formado por esse jornalismo de fancaria que ora vige no país.

Público do faça o que eu digo mas não faça o que faço, os falsos moralistas que gostam de apregoar com vociferações contra a corrupção praticando-a na escuridão, longe da luz do sol, o melhor desinfetante. Os mesmos que votaram nos homens que estão no congresso a legislarem em causa própria, os representantes do povo, da elite fajuta que critica o bolsa família argumentando que é um cabresto que dá votos ao PT, mas vota num candidato porque é seu amigo de infância, ou filho de alguém que conhece, ainda que tal candidato não tenha nenhum preparo moral para assumir as funções legislativas próprias dos congressistas, uma compra de voto disfarçada, pior do que a do pobre que vota por reconhecimento, em gratidão a uma obra social de extrema relevância que para muitos é o tudo que existe em matéria de segurança alimentar.

Mas o tempo urge contra o capitão do mato do STF que está a serviço da casa grande. Em breve sua presidência passará e toda sua obra baseada no ódio ruirá, a verdade reflorescerá para o bem da justiça e essa narrativa mentirosa que prevaleceu durante o julgamento da AP 470 seja por fim recontada porque não há sequer verossimilhança na história segundo a qual o governo do ex presidente Lula teria comprado os votos dos congressistas por meio de uma mesada de 30.000,00

Os votos dos parlamentares são comprados sim. Lula os comprou, Dilma idem, FHC ibidem e todos os demais presidentes. Mas compraram-nos não por meio de uma mesada, compraram-nos por meio da liberação de verbas das famigeradas emendas parlamentares, a maior imoralidade que existe dentro do congresso nacional, a fonte original da corrupção de parlamentares que permanece intocada, remediada através de uma emenda constitucional do orçamento impositivo, institucionalizando e oficializando a corrupção, uma fortuna na casa dos 30 bi movimentada anualmente, sem nenhum critério de fiscalização dado o número de parlamentares, a fragmentação das verbas pulverizadas em centenas de pequenas obras impedindo que sejam devidamente fiscalizadas. Um escândalo de proporções oceânicas. Não é do múnus do congressista a liberação de recursos. Seu papel é o de tão somente propor leis e fiscalizar os atos do executivo, além de outras previstas na constituição.

Essa página grotesca da história do STF precisa ser virada e vai para o negrume que escurece aquela antes egrégia corte, hoje um simulacro de corte de justiça.

Advogado diz que morte de modelo tem ligação com mensalão tucano



Dino, em foto publicada na CartaCapital

Advogado acusa réu do mensalão tucano de ser mandante da morte de modelo
Por Lúcia Rodrigues, em Belo Horizonte*

Um homem acuado e com medo de morrer. É assim que o advogado Dino Miraglia se define.
Até 21 de agosto ele advogava para Nilton Monteiro, o delator do mensalão tucano, que está preso no complexo penitenciário de segurança máxima Nelson Hungria, em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, acusado de ser falsário.

Nilton tinha intimidade com o ninho tucano em Minas Gerais. Participou de esquemas. Para figurões do PSDB, trata-se de um chantagista que decidiu ganhar dinheiro com informação, o que ele contesta.
[Leia aqui a entrevista exclusiva de Nilton Monteiro ao Viomundo]

O advogado Miraglia deixou a defesa de Nilton Monteiro após ter a residência invadida por um grupo de dez delegados da Polícia Civil de Minas Gerais que buscavam, segundo ele, um documento falso. O episódio lhe custou um casamento de décadas, 26 anos de união e seis, de namoro. Assustadas com a operação policial, que envolveu até helicóptero, mulher e filha resolveram se afastar dele.

A esposa já o havia advertido diversas vezes para recusar ações que atingissem políticos mineiros. Dino não ouviu os conselhos e continuou advogando para o delator do mensalão tucano.

A invasão da polícia para cumprimento de mandado de busca e apreensão foi a gota d’água para a família. Antes disso, ele já havia sido ameaçado de morte várias vezes devido à atuação nessas causas.

Apesar de não citar o nome de quem o ameaçou com uma pistola ponto 40, o advogado deixa transparecer que se trata de Márcio Nabak, delegado-chefe do Departamento Estadual de Operações Especiais, o Deoesp, de Minas Gerais.

O policial seria aliado de políticos denunciados no mensalão tucano, segundo o delator do esquema, Nilton Monteiro.



O advogado diz que a invasão policial teve forte impacto psicológico na família.
Ele descreve a cena que viu:



Cristiana, a modelo

“Mula” da corrupção tucana
No currículo profissional, Dino acumula ainda a defesa da família da modelo Cristiana Aparecida Ferreira assassinada, em agosto de 2000, nas dependências de um flat no centro de Belo Horizonte, por um ex-namorado, Reinaldo Pacífico de Oliveira Filho.

É um caso bizarro. Inicialmente a morte da modelo foi considerada “suicídio”.

Vejam aqui, no texto da revista Época.

Isso apesar desta descrição do corpo de Cristiana:



Quando nova perícia foi feita, a polícia passou a dizer que Cristiana foi vítima de crime passional.
Mas o advogado Dino sustenta que tratou-se de queima de arquivo.
Segundo ele, Cristiana tinha papel central no esquema de corrupção do PSDB em Minas Gerais.
Era ela quem transportava o dinheiro das transações do mensalão tucano.

Na linguagem popular, Cristiana era “mula” do esquema de corrupção.



O advogado acusa o ex-ministro do Turismo e das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, um dos réus do mensalão tucano, de ser o mandante do crime.

De acordo com ele, Walfrido teria mandado matar Cristiana porque ela “sabia demais”.
“A morte da modelo foi encomendada”, frisa.

No julgamento do acusado de matar Cristiana, o ex-ministro e ex-vice-governador de Minas (no mandato de Eduardo Azeredo, 1995-1999) foi convocado a depor como testemunha, mas não compareceu. Alegou que estava em viagem aos Estados Unidos.



Acusado pelo crime, Reinaldo Pacífico de Oliveira Filho, um ex-namorado da vítima, está solto até hoje, apesar de ter sido condenado por júri popular a 14 anos de prisão e de a segunda instância ter ratificado a decisão.

“Nunca vi corno de garota-de-programa” que mata dois anos depois do fim do relacionamento, diz o advogado.

Segundo Dino, o assassino está em liberdade graças a um habeas corpus concedido de ofício pela ministra do STJ, o Superior Tribunal de Justiça, Laurita Vaz.



De acordo com o advogado, Cristiana aparece numa lista de pagamentos supostamente compilada pelo publicitário Marcos Valério, como beneficiária de mais de R$ 1,8 milhão.

Valério foi recentemente condenado pelo STF por conta do papel que desempenhou no mensalão petista: segundo a acusação, as empresas dele forjaram contratos de publicidade para encobrir desvio de dinheiro público em benefício do PT e de aliados.

O mesmo tipo de ação é atribuída a Valério no mensalão tucano, que é de 1998, quando Eduardo Azeredo fracassou na tentativa de se reeleger governador de Minas e FHC se reelegeu presidente.
Dino pediu o apensamento dos papéis nas quais a modelo é mencionada ao processo do mensalão tucano, que corre no STF e já inclui a chamada lista de Furnas.

Esta lista é uma relação detalhada de constribuições de campanha feitas com dinheiro que funcionários da estatal teriam arrancado de fornecedores da empresa.

Vários nomes se repetem nas duas listas — a de Valério e a de Furnas.

O objetivo da ação do advogado é mostrar a relação entre a morte da modelo e o esquema de corrupção tucano.



Segundo laudo da Polícia Federal, a lista de Furnas não foi forjada.
Já a lista de Marcos Valério, que Dino Miraglia encaminhou ao ministro Joaquim Barbosa para anexar ao processo do mensalão tucano, não tem laudo de autenticidade da PF.

O documento entregue a Barbosa seria uma cópia, o que impede perícia.

Medo no ar

Dino Miraglia relutou em conceder entrevista. Visivelmente assustado, lançou mão de subterfúgios para protelar o encontro, que ocorreu no começo da tarde do último dia 5.

O primeiro contato da reportagem ocorreu em 2 de dezembro, por meio de celular, e parecia normal.
Do outro lado da linha, o advogado informava que estava em São Paulo e que retornaria à capital mineira naquela noite. Marcou o encontro para o dia seguinte, às 10 horas da manhã, em seu escritório.

Pela porta de vidro opaco da sala de espera do gabinete de advocacia, vimos o vulto de um homem alto sair.

Minutos depois, a secretária recebeu um torpedo de Dino dizendo que não poderia comparecer ao escritório, porque teria de atender flagrante envolvendo um cliente.
Depois de várias outras tratativas telefônicas, quando já não contávamos com a entrevista, o advogado surpreendentemente concordou, questionando com voz de preocupação:  “Você pode vir aqui, agora (para o escritório)?”

O medo de Dino não é infundado. A política mineira é sui generis. Em nossa passagem por Belo Horizonte, constatamos situações que parecem justificar o receio. Alguns dos entrevistados só concordaram em falar em off (sem se identificar publicamente). No caso de uma das fontes, chegou às suas mãos, enquanto conversava conosco, um calhamaço de papéis com transcrições de diálogos de conversas grampeadas pela polícia mineira.

O monitoramento de adversários políticos em Minas faz lembrar o regime de exceção vivido durante a ditadura militar.

*A viagem da repórter a Minas Gerais, para fazer um balanço do mensalão tucano, foi financiada pelos leitores que contribuem com o Viomundo.
Ouça aqui a íntegra explosiva da entrevista:



Leia também:
Nilton Monteiro, delator do mensalão tucano, diz que é perseguido por Aécio Neves
Memória (reportagem da revista Época):
CRIME

E a farsa desmoronou

Novo laudo comprova que a morte de modelo não foi suicídio e promotores querem descobrir quem tentou abafar o caso

ROGER LIBÓRIO

Há crimes que, pela repercussão, geram um esforço de investigação impressionante – a ponto de, em poucos dias, serem elucidados. E há outros que só são apurados após muita insistência. O caso da modelo Cristiana Aparecida Ferreira, morta em agosto de 2000 num flat em Belo Horizonte, em Minas Gerais, pertence à segunda categoria.

Passados dois anos e meio do assassinato, foi apenas na semana passada que se conheceu oficialmente a causa da morte — Cristiana foi sufocada com um objeto de pano, que pode ter sido um travesseiro ou um lençol enrolado.

Ela foi agredida e as marcas da violência foram registradas em seu corpo. Para chegar a essa conclusão foi preciso reanalisar as fotos da vítima, exumar o cadáver e fazer uma necropsia. O primeiro laudo, que atestava ‘suicídio’, revelou-se uma grosseira peça de ficção. Os médicos-legistas responsáveis pelo documento, Remar dos Santos e Tyrone Abud Belmak, não se pronunciam.

O Ministério Público (MP) agora investiga por que foi montada a farsa, típica dos anos da ditadura.

Cristiana, morena de 1,78 metro, queria fazer carreira de modelo, mas, aos 24 anos, havia conseguido apenas se tornar uma figura popular entre os ricos e famosos da capital mineira.

Quando foi morta — aparentemente por um ex-namorado ciumento, que perdeu a carona na ascensão social e nas amizades importantes da moça –, o MP teve de enviar à polícia diversos ofícios pedindo a apuração do caso. ‘Requisitamos várias diligências, mas elas nunca foram feitas’, conta o promotor Luís Carlos Martins Costa.

Quando a polícia encaminha um cadáver para o IML, tem de preencher uma ficha pedindo vários tipos de exame — basta marcar um ‘x’ em cada um deles. Pode-se procurar, por exemplo, indícios de agressão física e violência sexual.

O corpo de Cristiana foi encontrado na cama apenas de sutiã, sem calcinha e com vários hematomas, mas os investigadores solicitaram apenas exame toxicológico, anotando ao lado: ‘Suspeita de suicídio’. Na cena do crime não havia nada que sugerisse isso, como vidro de raticida, seringa ou bilhete de despedida.

O boletim de ocorrência foi lavrado em 6 de agosto. Somente no dia 11 de dezembro, quatro meses depois, foi instaurado um inquérito policial. Ele passou por vários delegados e muitas trapalhadas — um ex-namorado, o empresário Luiz Fernando Novaes, chegou a ser preso e depois solto por falta de provas. A conclusão final, porém, foi novamente de ‘auto-extermínio’.

O Ministério Público teve de investigar sozinho, colher 41 depoimentos e pedir a exumação do cadáver.

O ex-namorado Reinaldo Pacífico, contra quem Cristiana já registrara um boletim de ocorrência por agressão, vinha perseguindo a modelo. Sujeito misterioso, ganhava a vida como detetive particular mas se apresentava como ‘juiz criminal’. Ele tornou-se o principal suspeito depois que uma testemunha — agora sob proteção federal — admitiu tê-lo ouvido confessar o crime.

Parece difícil, contudo, que Pacífico tenha sido capaz de agir sozinho na etapa seguinte do crime — a de embaralhar pistas e transformar sinais de um assassinato brutal em suicídio.

Essa tarefa exige a cumplicidade de policiais, além da boa vontade da cúpula da máquina de segurança de Minas Gerais — recursos pouco acessíveis na mala de truques de um detetive particular.

Por isso a promotoria agora quer apurar o que levou a polícia e os legistas a conduzirem a investigação de forma tão relapsa. ‘Há indícios de supressão e de alteração de documentos’, diz Martins Costa.

Entre outros papéis, sumiu o depoimento de um dos irmãos da vítima, Cláudio Ferreira, que havia dado a lista de todas as pessoas importantes com as quais Cristiana teria se relacionado. ‘O delegado chamou o rapaz alguns dias depois, disse que o depoimento não tinha validade e o questionou novamente, orientando para não citar nomes’, acusa o promotor.

Entre os famosos mencionados pela família de Cristiana estava Jairo Magalhães Costa, diretor do Banco Real, o único a admitir ter tido um caso com a moça.

Mas uma irmã da vítima, Simone Ferreira, testemunhou dizendo que ela ‘estava se encontrando’ com Djalma Moraes, presidente da Cemig.

Ele é casado, nega qualquer relacionamento com a modelo e declarou que a viu apenas duas vezes — foram apresentados pelo ex-secretário da Casa Civil Henrique Hargreaves.

Em outro depoimento, uma amiga de Cristiana disse que ela apregoava um breve caso com o ex-governador Newton Cardoso, que declarou jamais tê-la visto na vida. E vários parentes afirmaram que Cristiana era amiga próxima do ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, para quem trabalhava e viajava freqüentemente.

Num depoimento tomado às vésperas da posse na equipe de Lula, Mares Guia disse que a conhecia de vista. Para uma pessoa tão pouco relacionada, é surpreendente que tenha conseguido ser recebida no Palácio da Liberdade, quando chegou a ser fotografada ao lado do governador Itamar Franco — parentes dizem que ela fora pedir um emprego.

Entende-se que pessoas importantes queiram proteger sua intimidade, especialmente contra boatos que podem não ter fundamento.

Resta saber se foi por influência política que o primeiro laudo notava ‘ausência de lesões externas macroscopicamente visíveis’ num cadáver com três fraturas e vários hematomas. É um erro tão grosseiro que lembra os documentos produzidos nos anos de chumbo para mascarar a tortura de presos políticos.

Colaborou Paula Pereira

http://www.viomundo.com.br/denuncias/advogado-contesta-versao-oficial-e-diz-que-morte-de-modelo-tem-ligacao-com-mensalao-tucano-em-minas.html

Os novos limites da pressão


Depois de seis anos de estudo, especialistas americanos elevam o

nível de pressão arterial considerado seguro para pessoas acima 

de 60 anos

Mônica Tarantino
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BENEFÍCIOS 
Para o médico Machado, a revisão respeita as diferenças
naturais de pressão entre os grupos etários
O controle da pressão arterial elevada é um desafio mundial. Ela é o principal fator de risco para infartos e acidentes vasculares cerebrais, as maiores causas de mortalidade atuais. Nos Estados Unidos, apenas 50% dos hipertensos mantêm a pressão nos níveis certos. No Canadá, o país campeão em resultados, 70% alcançam os patamares recomendados. No Brasil, esse índice fica em torno de 20%. 
Preocupados em melhorar a compreensão de médicos de todas as especialidades e da população sobre o manejo da pressão arterial, um grupo de 17 experts americanos divulgou, na semana passada, o novo consenso sobre os níveis seguros de pressão. O documento, que era aguardado desde 2007, foi publicado na edição online do “The Journal of the American Medical Association” (Jama) na quarta-feira 18. 

A principal mudança é o alargamento dos limites considerados para pessoas acima de 60 anos. A partir de agora, o nível máximo aceito para esse grupo é de 150 mmHg para a pressão sistólica (o número mais alto). Antes, era de 140 mmHg. A pressão diastólica (o valor menor) foi mantida em 90 mmHg.

O aumento se deve a pesquisas bem consolidadas. “Um conjunto importante de evidências científicas está mostrando que idosos tendem a ter pressão mais elevada devido ao endurecimento das artérias natural da idade”, diz Carlos Machado, diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Com a nova medida, milhares de pessoas que teriam indicação de tomar remédio para controlar pequenas elevações na pressão sistólica não precisarão usar comprimidos.
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 Para a faixa de idade entre 30 e 59 anos, não houve alterações: a pressão aceitável é aquela inferior a 140/90 mmHg. Essa determinação vai de encontro a uma ideia generalizada de que quanto mais baixa a pressão, mais protegido o indivíduo está de acidentes cardiovasculares. A revisão dos americanos não encontrou dados que dessem suporte a esse conceito. “Constatou-se também que faltam estudos mais aprofundados em populações abaixo dos 30 anos”, diz o cardiologista mineiro Marcus Malachias, diretor do Instituto de Hipertensão Arterial de Minas Gerais.

Os autores do consenso americano também não encontraram informações substanciais para justificar metas mais baixas para os pacientes com hipertensão associada à doença renal crônica e diabetes. Por isso, estabeleceram uma recomendação que prevê níveis de menos de 140/90 mmHg inclusive para esse grupo. Antes, eles eram menores do que isso. “Essas orientações influenciarão as diretrizes brasileiras de hipertensão a serem publicadas em 2014”, afirma o cardiologista Luiz Bortolotto, de São Paulo. Em janeiro, ele assumirá a presidência do departamento de hipertensão da SBC e estará à frente da elaboração do consenso brasileiro.
foto: Rogerio Albuquerque

O plano de Aécio

Crescimento de Dilma, decisão do PPS de apoiar Eduardo 

Campos e desistência de Serra levam o senador tucano a ser o 

primeiro candidato ao Planalto a apresentar o esboço de seu 

programa de governo

Claudio Dantas Sequeira
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MUDANÇA
“Experiências do PT têm custado caro ao Brasil”, disse
Aécio Neves, pré-candidato do PSDB ao Planalto
Às vésperas do Réveillon de 2012, Aécio Neves reuniu em seu apartamento um grupo de especialistas para avaliar os rumos da economia, que já davam sinais de estagnação. Muitos cobraram do senador um pronunciamento público contra o governo Dilma Rousseff, mas Aécio achou que não era hora de falar. Quando, em maio passado, articulou sua eleição para a presidência do PSDB, o político mineiro foi pressionado a dar solução ao racha que se abria com o grupo do ex-governador José Serra. Na ocasião, Aécio também optou por esperar. De lá para cá, o cenário político mudou em três pontos fundamentais: a presidenta Dilma retomou o crescimento de sua popularidade, o PPS decidiu se bandear para a chapa PSB-Rede, capitaneada por Eduardo Campos, e Serra anunciou a desistência de concorrer ao Planalto, o que liberou o grupo político ligado a ele no PSDB a marchar com Aécio. Os três fatos convenceram o tucano a alterar a estratégia, que até então primava pela discrição. Na terça-feira 17, Aécio tornou-se o primeiro pré-candidato a apresentar um pré-programa de governo. Com duras críticas à condução do País pelo PT, assumiu definitivamente o papel que lhe era reservado: o de líder da oposição. E o fez com o apoio integral do partido. “O PSDB se coloca de forma coerente e unido”, comemorou Aécio.
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FORA DO PÁREO
Na segunda-feira 16, Serra disse que o PSDB deveria
lançar a candidatura de Aécio sem demora
O anúncio de Serra dizendo que o PSDB deveria lançar a candidatura de Aécio “sem demora” ocorrera na segunda-feira 16, o que foi aplaudido publicamente pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Com o grupo de Serra mais à vontade para apoiar o projeto de Aécio, o nome do senador Aloysio Nunes (SP) ganhou força para ser o vice do mineiro numa eventual chapa “puro-sangue”. “Acho um nome forte. O PSDB não precisa e não deve ficar esperando outros partidos para fazer coligações”, avalia o deputado Sérgio Guerra (PE), ex-presidente da legenda.

Com 20 páginas, o documento elaborado pelo PSDB traz 12 diretrizes e se apoia no tripé “confiança, cidadania e prosperidade”. Ele será usado como ponto de partida para uma série de debates nos diretórios estaduais da legenda. O texto foi fruto de impressões e sugestões colhidas pela equipe de Aécio em suas viagens por 20 Estados nos últimos seis meses. A economista Elena Landau foi uma das responsáveis pelo diagnóstico da gestão petista e pela estruturação de propostas, que tiveram importante contribuição do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga. A compilação de todas as sugestões foi feita pelo ex-prefeito de Vitória Luiz Paulo Vellozo Lucas, que é diretor de estudos e pesquisas do Instituto Teotônio Vilela, órgão de formação política do PSDB. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos principais apoiadores da candidatura de Aécio, revisou todo o documento também deu sugestões.

Uma das estratégias do tucanato é justamente mostrar que o partido está organizado e possui quadros qualificados e propostas viáveis para o País. “Quero mostrar que existe uma oposição organizada e capaz de promover uma mudança real e segura. Basta dessas experiências do PT que têm custado caro ao Brasil”, disse o senador mineiro. Ele reitera as críticas à política econômica, ao baixo crescimento do PIB e a volta da inflação, ataca o aparelhamento da máquina pública e os gastos correntes do governo, o abandono da “lei de responsabilidade fiscal” e a adoção de uma “contabilidade criativa” para fechar as contas públicas. Também critica o regime de concessões que, segundo ele, repete a fórmula das privatizações tucanas tão criticadas pelo PT. Na lista de ressalvas aos governos petistas, o tucano cita os gargalos na infraestrutura e promete expor aos eleitores o que chama de “imenso cemitério de obras inacabadas” deixadas pelo País afora.
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Foi justamente o programa de TV em que Aécio mostra o abandono de um trecho da transposição do São Francisco que acendeu a luz amarela no Palácio do Planalto. A propaganda política, aliás, foi da lavra do marqueteiro Renato Pereira, que foi dispensado pelo PSDB na mesma terça-feira 17. Um cacique tucano elogia o trabalho do publicitário, mas diz que Aécio precisa de alguém com mais estatura para comandar uma campanha nacional. Questionado sobre os boatos de que estaria negociando com Duda Mendonça, responsável pela eleição de Lula em 2002, o mineiro desconversa. “É especulação. O PT é que dá muita importância para marqueteiro. Eu não.”
 fotos: Adriano Machado/agência istoé; Fernando Amorim/ag. a tarde/folhapress 

Os bastidores de um negócio de US$ 4,5 bilhões

Por que, depois de 18 anos de intensas negociações, o governo, 

enfim, optou pela compra dos caças Gripen, descartando os 

concorrentes americano e francês. Em entrevista exclusiva à 

ISTOÉ, o comandante da Aeronáutica diz que o preço vai baixar

Claudio Dantas Sequeira
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FIM DA NOVELA
Os aviões suecos, fabricados pela Saab, venceram a concorrência com 
o francês Rafale, da Dassault, e o americano F/A-18, da Boeing
Foram 18 anos de uma guerra envolvendo os maiores lobbies da indústria aeronáutica. Ao longo de quatro mandatos presidenciais, a compra do caça de combate, que será usado pela Força Aérea Brasileira nas próximas três décadas, mobilizou interesses políticos e empresariais dos mais diversos. Na quarta-feira 18, a presidenta Dilma Rousseff pôs fim à novela e autorizou a divulgação do resultado final da concorrência, antecipado por ISTOÉ com exclusividade em seu site (www.istoe.com.br). Contrariando as especulações em torno dos caças americano F-18 Super Hornet e francês Rafale, sagrou-se vencedor o sueco Gripen NG. A decisão já estava delineada na cabeça de Dilma desde o início do mês e foi comunicada ao comandante da FAB, Juniti Saito, pela manhã. “Vocês levaram!”, disse ela durante almoço no Clube Naval. O anúncio oficial foi feito em coletiva de imprensa convocada à tarde pelo ministro da Defesa, Celso Amorim, com a presença de Saito. Os fabricantes foram informados pelo próprio Amorim, minutos antes do evento. Para um processo que foi tantas vezes adiado, parecia improvável que Dilma tomasse uma decisão ainda neste mês. Como 2014 é ano eleitoral, já se falava no cancelamento definitivo do programa apelidado de F-X2. Justamente pelo timing eleitoral foi que Saito alertou Amorim em novembro sobre o risco de não haver clima para uma decisão e apelou para a habilidade diplomática do ex-chanceler. A presidenta foi sensível aos apelos de Amorim. Analisou o relatório sintético da short-list com a classificação de cada um dos concorrentes. Entusiasmou-se com a proposta da Saab: um monomotor de alto desempenho combinando tecnologia de ponta e baixo custo. E isso num pacote com condições de financiamento a longuíssimo prazo e ampla transferência de tecnologia. Sem dúvida a equação perfeita para um país que se projeta no cenário internacional como potência emergente, mas carece de recursos e ainda atravessa uma crise econômica renitente.
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MARTELO BATIDO
A decisão foi comunicada ao comandante da FAB, 
Juniti Saito, na manhã da quarta-feira 18: “Vocês levaram
!” 
 No início deste mês, Dilma pediu a Amorim um novo relatório, resumido, detalhando os critérios que levaram a Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (Copac) a indicar o Gripen como a opção de melhor custo-benefício. No resumo, o comando da FAB ressaltava ainda que o valor estimado de US$ 4,5 bilhões pelo pacote de 36 aeronaves poderia cair até 25%, com a nacionalização de 80% da estrutura do jato – segundo oferta da própria Saab. Também pesou o prazo de financiamento de 15 anos, com início de pagamento após a entrega do último lote de aeronaves. Dilma também foi informada de que a fabricante sueca já entregou os projetos de fuselagem do Gripen à Akae­r, empresa parceira da Embraer sediada em São José dos Campos (SP). Mais importante, porém, foi saber que a Saab está investindo US$ 50 milhões num centro de pesquisas aeronáuticas em São Bernardo do Campo, negócio articulado pelo prefeito petista Luiz Marinho com aval do ex-presidente Lula. O tema foi abordado por Dilma com Marinho e o próprio Lula na visita que fez a São Bernardo, na sexta-feira 13.
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No mesmo dia, Dilma encontrou-se com o presidente da França, François Hollande, que fez o último apelo pelo caça Rafale. Em vão. Diferentemente do antecessor Nicolas Sarkozy, o novo mandatário francês não tem a mesma sintonia com o governo petista. Em 2009, o então presidente protagonizou uma gafe ao anunciar a escolha do Rafale durante visita de Sarkozy. A FAB alertou que o processo de escolha não havia sido concluído e Lula foi obrigado a voltar atrás e “engavetar” o caso. A troca de comando no Palácio Eliseu e na equipe de negociação, além do constrangimento latente, acabou esfriando a relação com a fabricante Dassault. Seus concorrentes, porém, aproveitaram o lapso para fazer o “dever de casa”. A Boeing entrou pesado, firmou parcerias com a Embraer e assinou compromisso de desenvolver um novo caça tático de instrução. Interessada em ajudar a fabricante brasileira, Dilma insinuou escolher o F-18. Nos corredores do Ministério da Defesa e da FAB, era dado como certo o anúncio do acordo durante a visita de Estado que ela iria fazer a Washington em outubro, coincidindo com o Dia do Aviador. Mas o escândalo de espionagem da NSA tensionou o clima bilateral, a viagem foi cancelada e a compra dos Super Hornet tornou-se inviável. Insistir com os EUA poderia ser explorado por adversários durante a campanha eleitoral como um sinal de subserviência. Dilma capitulou.
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 A escolha dos suecos tornou-se agora uma conveniência política que vai ao encontro da opção feita pela Copac, no relatório original de 2010. Na ocasião, o Gripen não tinha a simpatia nem de Lula nem do ministro da Defesa Nelson Jobim, que chegou a elaborar uma versão “política” indicando o Rafale como a melhor opção. Nessa guerra de versões, o resultado da avaliação técnica da Copac vazou para a imprensa, o que provocou novo embaraço e uma caça às bruxas dentro da FAB. Embora não se tenha encontrado o “vazador”, os adversários da Saab passaram a questionar a opção “técnica” da Aeronáutica. É que, para emplacar o Gripen, a fabricante sueca contratou um poderoso lobby de oficiais, como o brigadeiro reformado Fernando Cima, ex-coordenador da Copac na primeira edição do F-X, e o engenheiro Anastácio Katsanos, que foi vice-presidente militar da Embraer. Cima é até hoje recebido na FAB com a reverência que sua patente impõe e direito à continência de membros da própria comissão de licitação. Ambos sempre rejeitaram qualquer favoritismo no processo.
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A cooptação de oficiais da FAB por empresas do setor aeronáutico é vista pelo mercado como um movimento natural. Seja como for, trata-se de uma brecha muito bem explorada. Quem vai produzir a aviônica (tecnologia eletrônica do avião) do Gripen, por exemplo, é a AEL Sistemas. Subsidiária da israelense Elbit, a companhia sediada em Porto Alegre detém os mais importantes contratos de modernização de aeronaves da FAB e já foi denunciada por ISTOÉ por empregar em cargos estratégicos filhos de brigadeiros ligados ao Alto Comando.
Fotos: Adriano Machado; Jose Cruz /Agencia Brasil; 
foto: Michael Buholzer/REUTERS; Alan Marques/Folhapress