terça-feira, 12 de agosto de 2014

A cobertura restritiva da Globo e a campanha do PT em São Paulo


Jornal GGN - O critério que a Rede Globo adotou para cobrir os candidatos ao governo de São Paulo causou indignação entre petistas. Na semana passada, a empresa da família Marinho estabeleceu que somente os postulantes com mais de 6% de intenções de votos nas pesquisas Ibope e Datafolha terão agendas de campanha divulgadas diariamente.
Alexandre Padilha, candidato do PT, terá até duas inserções semanais em função do número baixo de concorrentes no Estado, segundo informou a Globo. Ele registrou apenas 5% no Ibope de julho, ficando atrás do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que obteve 50%, e Paulo Skaf (PMDB), 11%. Como a margem de erro dos estudos citados varia entre 2 e 3 pontos, é possível que Padilha seja preferência de até 8% do eleitorado, mas a Globo descartou esse fator.
Na avaliação de especialistas ouvidos pelo Jornal GGN, os critérios de cobertura da Globo, mais que restritivos, são questionáveis do ponto de vista “democrático”. Para eles, a emissora escorrega ao não considerar, por exemplo, que o PT é um partido com representatividade no plano nacional, estadual e municipal, além de historicamente contar com apoio de 30% do eleitorado paulista. Eles avaliam ainda que a pouca exposição de Padilha no noticiário global não é tão prejudicial quanto pode parecer.
O cientista político Cláudio Couto, docente da Fundação Getúlio Vargas, indica que “um critério bom e objetivo para selecionar os candidatos seria cruzar as intenções de voto com a relevância dos partidos no Congresso”. À parte a sugestão, o especialista observa que, embora o poderio da Globo seja inegável, esse tratamento dado às campanhas paulistas não determina a vantagem de um candidato sobre outro, ou mesmo a vitória de Alckmin no primeiro turno, como apontam as sondagens.
“Em São Paulo, esse critério de cobertura não é suficiente para definir a eleição. Isso porque as pessoas, hoje, são informadas por outros canais. A Globo tem força, mas não é mais única. Tem outras emissoras de peso e mais plurais, e mais do que isso, tem o horário eleitoral e também a campanha boca a boca, nas ruas e nas redes sociais. Os partidos que estão de fora da cobertura não podem apostar apenas nos meios tradicionais”, defendeu.
Rui Tavares Maluf, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, também minimizou o poder de influência da Globo. “É preciso considerar que o eleitor que acompanha política com frequência não se informa apenas na Globo, e o eleitor que dá as costas, quando se vê obrigado a decidir o voto, passa a dar mais atenção ao horário eleitoral no rádio e na TV. Isso vai refletir nas pesquisas. A Globo só será fator determinante ao candidato que tiver muito pouco tempo de propaganda", comentou, apostando, ainda, no crescimento de Padilha nesta fase.
O horário eleitoral gratuito começa oficialmente em 19 de agosto e aponta para uma disputa relativamente equilibrada entre os três principais candidatos ao Palácio dos Bandeirantes. Padilha terá cerca de 4 minutos e 22 segundos. Skaf terá o maior tempo, 5 minutos e 58 segundos. Alckmin, 4 minutos e 51 segundos. 
No núcleo duro da campanha petista, o horário eleitoral é a aposta para driblar a baixa exposição de Padilha no noticiário global e contornar, em parte, os estragos provocados pela cobertura da mídia impressa. Há meses, o ex-ministro da Saúde vem sendo desgastado pelo caso Labogen. A bola da vez é a associação entre o deputado Luiz Moura e o PCC. Enquanto isso, Alckmin e Skaf ocupam poucas ou quase nenhuma página com informes negativos.
Dificuldades de Padilha
Rui Tavares Maluf ainda faz uma ressalva em relação as dificuldades que Padilha enfrenta em São Paulo. Para ele, elas estão mais relacionadas com o arranjo partidário deste ano do que com a mídia tradicional. 
“O desafio da candidatura de Padilha tem um diferencial: a base [aliada] no plano federal sofreu uma mudança grande com a candidatura do Skaf. Da mesma maneira que agora Skaf tem condições políticas de chegar em Alckmin, ele também pisou no PT ao provocar esse racha [com os aliados]", comentou. 
Enquanto o PDT, PSD, PP e PMDB apoiam a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), em São Paulo todas essas siglas caminham com Skaf, restando a Padilha a aliança PT-PCdoB-PR. A formação de coligações está justamente na raiz da disputa por maior tempo de TV.
"Sei que tem muita gente no PT com a expectativa de que Padilha estivesse melhor nessa fase, mas isso tem menos a ver com a cobertura da mídia do que com esse fator partidário”, completou.
http://jornalggn.com.br/noticia/nao-publicar-a-cobertura-restritiva-da-globo-e-a-campanha-do-pt-em-sao-paulo

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