segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Carta de Roberto Amaral denota mais uma divergência com Marina Silva


Jornal GGN - Uma carta de Roberto Amaral ao cientista político Moniz Bandeira denota mais uma divergência entre as bandeiras históricas do PSB e o programa de governo da candidata Marina Silva.
Após discordar publicamente quanto à independência do Banco Central e aos nomes escolhidos por Marina para elaborar propostas para economia, Amaral, também responsável pelo PSB-Internacional, disse que não deixará de defender a "política externa soberana e à aproximação com nossos irmãos africanos e latino-americanos", mesmo com Marina na cabeça da chapa majoritária à Presidência da República.
Conforme o GGN publicou no início de setembro, o programa de Marina para relações internacionais segue uma linha aecista: menos Mercosul e mais potências do norte ocidental. Leia mais clicando aqui
Abaixo, a carta de Roberto Amaral a Moniz Bandeira, publicada originalmente no site do PSB.
Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2014
Estimado professor Moniz Bandeira
Respondo à sua carta-aberta, enviada de seu privilegiado posto de observação em St. Leon-Rot, Alemanha.
Devo-lhe respeito e admiração. Acompanho sua produção literária. Dela é devedor nosso país.
Considero sua liberdade e independência intelectuais, de “livre pensador”, condição que não posso arguir. Militante engajado, tenho compromissos com projetos, ideias e valores expressos em programa partidário que não pode ser alterado ao sabor de especulações como a de que a queda de uma aeronave resultou de conspiração estrangeira. Tampouco posso guiar-me por “premonições”. A famosa ‘realidade objetiva’ não me permite.
O processo político-partidário, mesmo sem o “centralismo democrático”, impõe limites ao millordiano “livre pensar é só pensar”. Certamente, o professor ainda admira aquele autor que escreveu: “Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem, não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”.
Caminhei, da juventude no antigo PCB, para, na maturidade, refundar o PSB ao lado de Antônio Houaiss, Jamil Haddad e, a partir de 1990, Miguel Arraes. Construímos permanentemente, no Partido, pontes para o futuro. O PSB não abandonará o embate contra as desigualdades sociais, pela reforma agrária, pela defesa do meio-ambiente, pelo domínio de novas tecnologias, pela ampliação e melhoria do sistema de ensino e pela segurança do cidadão; não renunciará à luta pelos grandes projetos estratégicos, sejam os de infraestrutura para o desenvolvimento social e econômico, sejam os que darão suporte ao seu papel como ator global. Aqui me refiro, inclusive, às iniciativas que respaldarão militarmente a política externa soberana e à aproximação com nossos irmãos africanos e latino-americanos. O PSB não arrefecerá seu compromisso de atuar como protagonista na construção da nação brasileira e não fará concessões aos desvios do patrimônio público.
Renunciaria, ai sim, à presidência do PSB caso essas proposições fossem abandonadas. No calor de campanhas eleitorais sobram boatos e acusações sem eira nem beira. Eleições passam, professor, o país fica; o processo histórico segue sua marcha, a política sobrevive, os partidos ficam. Alguns, com ideários descaracterizados; outros, mais apegados aos seus princípios.
Como dirigente do PSB, cabe-me zelar pelo cumprimento de nossos compromissos programáticos, observada a realidade objetiva. É o que farei. Mancharia minha biografia se, acossado por premonições e pela libertinagem do “livre pensar”, optasse pela cômoda retirada nesse momento tão rico da construção da democracia brasileira.
Com apreço,
Roberto Amaral
Presidente do Partido Socialista Brasileiro

Abaixo, a carta-aberta do cientista político Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira ao presidente Nacional do PSB, professor Roberto Amaral. Nela, Moniz Bandeira pede que Amaral deixe o partido em função de Marina.
Estimado colega, Prof. Dr. Roberto Amaral
Presidente do PSB,
A Sra. Marina Silva tinha um percentual de intenções de voto bem maior do que o do governador Eduardo Campos, mas não conseguiu registrar seu partido - Rede Sustentabilidade - e sair com sua própria candidatura à presidência da República.
O governador Eduardo Campos permitiu que ela entrasse no PSB e se tornasse candidata a vice na sua chapa. Imaginou que seu percentual de intenções votos lhe seria transferido.
Nada lhe transferiu e ele não saiu de um percentual entre 8% e 10%. Trágico equívoco.
Para mim era evidente que Sra. Marina Silva não entrou no PSB, com maior percentual de intenções de voto que o candidato à presidência, para ser apenas vice.
A cabeça de chapa teria de ser ela própria. Era certamente seu objetivo e dos interesses que representa, como o demonstram as declarações que fez, contrárias às diretrizes ideológicas do PSB e às linhas da soberana política exterior do Brasil.
Agourei que algum revés poderia ocorrer e levá-la à cabeça da chapa, como candidata do PSB à Presidência.
Antes de que ela fosse admitida no PSB e se tornasse a candidata a vice, comentei essa premonição com grande advogado Durval de Noronha Goyos, meu querido amigo, e ele transmitiu ao governador Eduardo Campos minha advertência.
Seria um perigo se a Sra. Marina Silva, com percentual de intenções de voto bem maior do que o dele, fosse candidata a vice. Ela jamais se conformaria, nem os interesses que a produziram e lhe promoveram o nome, através da mídia, com uma posição subalterna, secundária, na chapa de um candidato com menor peso nas pesquisas.
O governador Eduardo Campos não acreditou. Mas infelizmente minha premonição se realizou, sob a forma de um desastre de avião. Pode, por favor, confirmar o que escrevo com o Dr. Durval de Noronha Goyos, que era amigo do governador Eduardo Campos.
Uma vez que há muitos anos estou a pesquisar sobre as shadow wars e seus métodos e técnicas de regime change, de nada duvido. E o fato foi que conveio um acidente e apagou a vida do governador Eduardo Campos. E assim se abriu o caminho para a Sra. Marina Silva tornar-se a candidata à presidência do Brasil.
Afigura-me bastante estranho que ela se recuse a revelar, como noticiou a Folha de São Paulo, o nome das entidades que pagaram conferências, num total (que foi, declarado) R$1,6 milhão (um milhão e seiscentos mil reais), desde 2011, durante três anos em que não trabalhou. Alegou a exigência de confidencialidade. Por que a confidencialidade? É compreensível porque talvez sejam fontes escusas. O segredo pode significar confirmação.
Fui membro do PSB, antes de 1964, ao tempo do notável jurista João Mangabeira. Porém, agora, é triste assistir que a Sra. Marina Silva joga e afunda na lixeira a tradicional sigla, cuja história escrevi tanto em um prólogo à 8a. edição do meu livro O Governo João Goulart, publicado pela Editora UNESP, quanto em O Ano Vermelho, a ser reeditado (4a edição), pela Civilização Brasileira, no próximo ano.
As declarações da Sra. Marina Silva contra o Mercosul, a favor do subordinação e alinhamento com os Estados Unidos, contra o direito de Cuba à autodeterminação, e outras, feitas em vários lugares e na entrevista ao Latin Post, de 18 de setembro, enxovalham ainda mais a sigla do PSB, um respeitado partido que foi, mas do qual, desastrosamente, agora ela é candidata à presidência do Brasil.
Lamento muitíssimo expressar-lhe, aberta e francamente, o que sinto e penso a respeito da posição do PSB, ao aceitar e manter a Sra. Marina Silva como candidata à Presidência do Brasil.
Aos 78 anos, não estou filiado ao PSB nem a qualquer outro partido. Sou apenas cientista político e historiador, um livre pensador, independente. Mas por ser o senhor um homem digno e honrado, e em função do respeito que lhe tenho, permita-me recomendar-lhe que renuncie à presidência do PSB, antes da reunião da Executiva, convocada para sexta-feira, 27 de setembro. Se não o fizer - mais uma vez, por favor, me perdoe dizer-lhe - estará imolando seu próprio nome juntamente com a sigla.
As declarações da Sra. Marina Silva são radicalmente incompatíveis com as linhas tradicionais do PSB. Revelam, desde já, que ela pretende voltar aos tempos da ditadura do general Humberto Castelo Branco e proclamar a dependência do Brasil, como o general Juracy Magalhães, embaixador em Washington, que declarou: "O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil."
Cordialmente,
Prof. Dr. Dres. h.c. Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira 
http://jornalggn.com.br/noticia/carta-de-roberto-amaral-denota-mais-uma-divergencia-com-marina-silva

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