quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Como Dilma conseguiu perder o apoio da indústria


No futuro, a maneira como Dilma Rousseff perdeu o apoio da classe empresarial – especialmente dos industriais paulistas – se constituirá em um caso clássico da ciência política.
Durante seu governo, Dilma ampliou o escopo do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), distribuiu isenções fiscais, implementou a desoneração da folha de salários, definiu políticas industriais, avançou no conceito de conteúdo nacional nas compras públicas, montou parcerias com as Confederações empresariais, especialmente a CNI (Confederação Nacional da Indústria) e a CNA (Confederação Nacional da Agricultura).
Dos três candidatos - ela, Aécio, Marina - é a única que se alinha com uma escola de pensamento econômico que privilegia a indústria como motor do crescimento. Mesmo assim, Dilma conseguiu esse anti-feito extraordinário de ser abominada pelo empresariado paulista.
A análise de seus erros será relevante para todos os que estudam a implementação das chamadas políticas desenvolvimentistas em países emergentes modernos, como é o caso do Brasil.
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A proatividade dessas políticas abre espaço para o voluntarismo. E nas democracias maduras há enorme resistência à chamada vontade do príncipe. As formulações econômicas têm que seguir princípios de impessoalidade, de isonomia, de legitimação de cada medida através da discussão pública.
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Nesse campo, as chamadas formulações neoliberais são politicamente muito mais eficazes.
Elas têm lado: o capital como protagonista principal da economia. Mas fundam-se em um conjunto de regras impessoais. Analisam o orçamento do ângulo do superávit primário – que não engloba a conta de juros. Defendem os superávits para abrir espaço para a apropriação do orçamento pelos juros. Implantam metas inflacionarias, pela qual a taxa de juros sempre será sempre maior do que a inflação esperada. Jogam contra toda forma de subsídio. E prometem o pote de ouro da felicidade no final do arco-íris, se a lição de casa for feita.
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Perto dessa mistificação elegante, a vestimenta política dos planos desenvolvimentistas – tal como implementados pela presidente Dilma Rousseff – parecem formulações pré-históricas getulistas.
  1. A concessão da Rainha.
  2. Os benefícios concedidos a vários setores não são apresentados como parte de uma lógica impessoal de desenvolvimento, mas como a manifestação da generosidade da Rainha. Os campeões nacionais.
    Não há nada que tenha desgastado mais o governo junto ao meio empresarial do que os benefícios concedidos aos chamados “campeões nacionais”: os beneficiados por megafinanciamentos do BNDES, as empreiteiras que cresceram com as obras públicas, as empresas de telefonia beneficiadas pelo Ministério das Comunicações, as montadoras com os incentivos sem contrapartida. Tudo isso em um quadro de câmbio arrasando a estrutura industrial.
    1. A falta de um plano de ação que desse racionalidade às ações de governo.
    A preocupação com a inflação faz Dilma usar o câmbio e as tarifas. O câmbio apreciado acentua os problemas do setor industrial. Toca então a distribuir subsídios, mas provocando uma confusão nas contas públicas
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  3. Do presidente de uma influente associação da indústria de transformação ouvi elogios à entrevista de Eduardo Gianetti - principal porta-voz econômico de Marina - criticando a choradeira dos industriais e propondo o fim do crédito subsidiado, das políticas de conteúdo nacional, defendendo a independência do Banco Central etc.
  4. Elogiou Gianetti e considerou que esse choque trará a confiança de volta às empresas. E o Finame, principal motor de financiamento de máquinas e equipamentos, um dos alvos de Gianetti? Se acabar o Finame, acaba a indústria. Então?
    Então que o estilo Dilma conseguiu transformar em “sonháticos” até industriais que deveriam ter o pé no chão. 
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    Em caso de reeleição, estará em suas mãos o destino de um modelo de desenvolvimento que poderá ser replicado em vários países emergentes. Ou poderá se desmoralizar, caso não haja correções de rumo. 
  5. http://jornalggn.com.br/noticia/como-dilma-conseguiu-perder-o-apoio-da-industria

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