sábado, 11 de outubro de 2014

A pobre e triste condição do homem


Ariano Suassuna


Compadecida: Intercedo por esses pobres, meu filho, que não têm ninguém por eles.
 Não os condene.
É preciso levar e conta a pobre e triste condição do homem.
Os homens começam com medo, coitados, e terminam por fazer o que não presta, quase sem querer. É medo!
(...)
Medo de muitas coisas, do sofrimento, da solidão, e no fundo de tudo, medo da morte.
(...)
Na oração da Ave Maria, os homens pedem para eu rogar por eles na hora da morte.
Eu rogo. E olho para eles nessa hora, e vejo que muitas vezes, que é na hora de morrer que eles finalmente encontram o que procuraram a vida toda.
João Grilo foi um pobre como nós, meu filho, e teve que suportar as maiores dificuldades de uma terra seca e pobre como a nossa. Pelejou pela vida desde menino. Passou sem sentir pela infância. Acostumou-se a pouco pão e muito suor. Na seca comia macambira, bebia o sumo do xique-xique, passava fome.
E quando não podia mais, rezava, quando a reza não dava jeito, ia se juntar a um grupo de retirantes, que iam tentar sobreviver no litoral, humilhado, derrotado, cheio de saudades.
E logo que tinha notícia da chuva, pegava o caminho de volta, animava-se de novo, como se a esperança fosse uma planta que crescesse com a chuva, e quando revia sua terra dava graças à Deus por ser um sertanejo pobre, mas corajoso e cheio de fé.
Peço-lhe muito simplesmente que não o condene.
 http://jornalggn.com.br/blog/gilberto-cruvinel/a-pobre-e-triste-condicao-do-homem

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