sexta-feira, 20 de junho de 2014

Sustentar que o PT faz de tudo para ser odiado é igual a dizer que assim também agiam os judeus dos guetos.



Chance perdida



Aécio e Eduardo ganhariam ao verberar as manifestações da tribuna vip do Itaquerão. Mas quem odeia quem?



Aécio Neves e Eduardo Campos perderam uma oportunidade de puro diamante para mostrar maturidade política, elegância e até mesmo astúcia. Senhoras e senhores da tribuna vip do Itaquerão, na estreia da Seleção Canarinho, primeiro dia da Copa, encenaram um espetáculo que envergonha o Brasil diante do mundo. Quase todos ali são, obviamente, eleitores dos candidatos da oposição, e estes desperdiçaram a chance de condenar o clamoroso, selvagem desrespeito a quem chefia o Estado e o governo.

O pior calão atirado pelos burguesotes chamados a engalanar a festa não surpreende. A dita elite brasileira em boa parte é primária e feroz, prepotente e vulgar, arrogante e ignorante. Muito ignorante. No fundo, a tribuna vip funcionava no Itaquerão como o alpendre da casa-grande. Creio que aquela manifestação, tão reveladora dos comportamentos de quantos ostentam as grifes e acreditam viver em Dubai, não favoreça as candidaturas da oposição, ao acentuar as diferenças e precipitar a polarização. Mas onde estavam os marqueteiros?

Cabia, no meu entendimento, a reação ponderada e imediata de Aécio e Eduardo, prontos a defender a sadia ideia de que a Presidência da República faz jus ao respeito devido ao cargo, acima do acirramento do confronto eleitoral. Aécio, depois de ter declarado que o ocorrido exibia a impopularidade da presidenta, voltou atrás nas redes sociais para uma crítica morna e tardia. No entanto, a disputa torna-se mais agressiva, com a contribuição useira da mídia. Quem odeia quem? Segundo a tese em voga na área da reação, o PT se esforça, com raro brilho e denodo vitorioso, para ser odiado. E ganha as manchetes a polêmica entre Fernando Henrique e Lula, com réplica, tréplica e não sei mais o quê.

É oportuno registrar algumas verdades factuais, do conhecimento até do mundo mineral, embora não haja como acusar a carência de cavernícolas da Idade da Pedra. Então, vejamos.

A mídia nativa sempre e sistematicamente combateu o PT, nascido da reforma partidária imposta pela ditadura no final de 1979. O partido era apresentado como de esquerda revolucionária, conquanto viesse a sofrer alterações de rota ao longo do caminho. O jornalismo pátrio sempre postou-se contra candidaturas petistas onde quer que aparecessem, a começar por aquela de Lula contra Collor, Fernando Henrique, José Serra e Geraldo Alckmin, e de Dilma Rousseff, novamente contra Serra. E mesmo os meteoritos sabem que a mídia distorce, manipula, inventa, omite e mente para desancar o inimigo.

Ao iniciar a tal polêmica, FHC falou em corrupção e ladrões, e me apresso a garantir que as falésias de Dover, elas inclusive, entenderam que se referia ao PT. Donde, a reação de Lula, inegavelmente alguém que põe medo à direita e tem, ao contrário de FHC, apurado senso de humor. Esqueceu-se o tucano, de todo modo, de alguns fatos a macular seu governo. A compra dos votos para conseguir a reeleição, obtida finalmente ao sabor de uma campanha conduzida à sombra da bandeira da estabilidade, rasgada 12 dias depois de reempossado, com o resultado de quebrar o País. Mas a maior bandalheira-roubalheira da história brasileira deu-se com a privatização das comunicações, largamente demonstrada pelos grampos das conversas entre os rapazes do bando, Luiz Carlos Mendonça de Barros, André Lara Resende e Pérsio Arida, cujas passagens mais candentes foram publicadas por CartaCapital, enquanto Época e Veja saíram com as versões corrigidas pelo governo, simpaticamente entregues à Globo por José Serra e à Abril por Eduardo Jorge.

Sim, o PT no poder portou-se como aqueles que o precederam e o próprio Lula reconheceu na entrevista publicada pela edição 802 de CartaCapital. “O PT erra – disse Lula textualmente – quando usa as mesmas práticas dos demais partidos.” Vale acrescentar que o caminho dos chamados “mensalões” foi aberto pelo tucanato ainda no século passado.

Fala-se em ódio contra Lula, Dilma e o partido. Mas como negá-lo? Tentem ouvir os privilegiados do Brasil e seus aspirantes e verifiquem que os graúdos do Itaquerão os representam à perfeição. E de ódio se trata, semeado e regado em primeiro lugar pela mídia. Há quem alegue ódio de classe e aqui me pergunto se a definição é justa. Não sei, sinceramente. Ódio de classe se espalha depois da Revolução Francesa, evento decisivo que até hoje não ocorreu no Brasil. Envolve burguesia, pequena burguesia e proletariado. Aqui ainda vivemos a dicotomia nefanda da casa-grande e da senzala, e os senhores odeiam quem acena com mudanças. Sustentar que o PT faz de tudo para ser odiado é igual a dizer que assim também agiam os judeus dos guetos.

Aliás, Aécio Neves anuncia um tsunami para varrer o PT da face da terra. Em qual país democrático e civilizado frase similar cairia da boca de um candidato ao se referir ao adversário? Algo é certo: o tsunami não partirá da tribuna vip do Itaquerão. A tigrada, além de tudo, é velhaca.

Aécio indica José Jr amigo de traficante como um dos formuladores de seu programa de governo




Aécio anuncia novos nomes de equipe de governo

Será por isso que José Serra em artigo para Folha disse que o tráfico de drogas deveria ser discutido nessas eleições de 2014?

José Jr do AfroReggae é um dos coordenadores do programa de governo de Aécio Neves. Algo bastante estranho para quem é de Vigário Geral, favela carioca que ficou internacionalmente conhecida por causa de uma chacina em 29 de agosto de 1993 na qual 21 pessoas morreram. Não há nenhuma política pública dos governos do PSDB voltada para as favelas cariocas. Os governos Lula/Dilma investiram bilhões em infraestruta, UPPs e outros. Um marco na história política que em se tratando de favelas, a única política existente era a da higienização. Isso mostra muito bem o caráter de certas pessoas. Uma escolha pessoal do senhor José Jr, discutível até, mas uma escolha que deve ser respeitada.

Ressalte-se porém que José Jr é uma figura bastante controvertida com um passado nada abonador e está no círculo íntimo de um candidato a presidente que costuma falar da boca pra fora de moral e ética na política, só confirma que o candidato do PSDB não leva a sério o que apregoa e essa sua ousadia é somente porque pode contar com o silêncio seletivo da velha mídia que nada diz sobre quem é José Jr, coordenador de uma ONG que recebeu 20 milhões de reias somente dos governos Eduardo Paes e Sérgio Cabral, anda em carro de 140 mil, classe executiva quando viaja de avião e usa roupas de grifes famosas, além de se declarar amigo do bandido Elias Maluco que matou o jornalista Tim Gomes ao colocá-lo dentro de um "microondas", o corpo vivo coberto por vários pneus e atear fogo deixando-o completamente carbonizado.
José Jr afirma em entrevista a revista Alfa que não foi Elias Maluco que matou Tim Gomes. 

Além disso pesa também contra José Jr a acusação de ter ligações com o traficante Fernandinho Beira-Mar. Agora imagine você se no grupo que elabora o programa de governo da presidenta Dilma se encontrasse alguém com uma ficha dessa, páginas de jornais estariam abrindo mais uma nova temporada de escândalos, insinuando que o PT teria envolvimento com o submundo do tráfico já que José Jr mantém relações umbilicais com traficantes da pesada dos morros cariocas. 

Leia aqui sobre a entrevista de José Jr assumindo ser amigo do traficante Elias Maluco http://extra.globo.com/casos-de-policia/em-entrevista-revista-jose-junior-coordenador-do-afroreggae-assume-ser-amigo-de-traficante-4294252.html

Aqui sobre a participação de José Jr como membro do grupo que formula o programa de governo de Aécio Neves http://www.brasil247.com/pt/247/minas247/144182/A%C3%A9cio-anuncia-novos-nomes-de-equipe-de-governo.htm

Aqui artigo de José Serra  em que diz que o debate sobre cocaína pode e deve ser uma pauta das atuais eleições http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2013/12/1385427-jose-serra-drogas-pesadas-no-brasil-inepcia-e-ideologia.shtml

Perfil que a Revista Piauí traçou de Aécio Neves




Comentário de Rodrigo SB no blog da cidadania: "A Revista Piuaí de junho traça um perfil do Aético Neves. Até metade da reportagem, ele é “fofo”, “doce”, “meigo”, “lindo”, “gato” um texto aparentemente comprado… Eis que as perguntas sobre censura começam e o cara fica possesso com a repórter, para depois se acalmar.

Ele tem um exército imenso que trabalha para retirar qualquer informação negativa na internet. É um cara que consegue calar até empresas como Facebook e Twitter, algo visto apenas em países governados por ditaduras.

A reportagem é imperdível, também fala sobre dois documentários proibidos de serem exibidos: um que era trabalho de conclusão de curso de um aluno de mestrado em jornalismo e um outro um documentário internacional, produzido por brasileiros. Os dois falavam sobre a falta de liberdade de expressão em Minas sob o comando do Aético gato-lindo-fofo, e faz entrevistas com diversos jornalistas demitidos ou expulsos de emissoras e jornais por ondem do futuro presidente democrata e boa praça."

Revista PIAUI

 
Edição 93 > _vultos da república > Junho de 2014
 

O PÚBLICO E O PRIVADO

O dilema que acompanha Aécio Neves, o presidenciável tucano
 
por MALU DELGADO
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"Vamos fazer um negócio curtinho lá, senão ninguém aguenta. Pá, pum! E aí entra a música.” Aécio Neves da Cunha batia a lateral da mão direita na palma esquerda, ritmadamente. Orientava os discursos que seriam feitos dali a algumas horas no lançamento da pré-candidatura de Pimenta da Veiga ao governo de Minas Gerais. Dentro do jatinho que ia de Brasília a Belo Horizonte naquela manhã de fevereiro, cinco coadjuvantes da festa ouviam o senador com atenção. Além do presidente do PSDB paulista, Duarte Nogueira, e do líder do partido na Câmara, Antonio Imbassahy, estavam no voo os presidentes da seção mineira do PSB, do PDT e do PT do B. A fauna política era uma pequena amostra do modo de operar de Aécio. Se tudo correr conforme o planejado, Pimenta da Veiga terá mais de 20 legendas apoiando sua candidatura. 

De janeiro a maio, o senador mineiro fez quarenta viagens de avião custeadas pelo partido – dezesseis delas para São Paulo. As agendas eleitorais disfarçadas de compromissos partidários geralmente se iniciam às quintas-feiras, quando o Congresso se esvazia. Na aritmética dos tucanos, se chegar à frente de Dilma Rousseff no estado de Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin e José Serra, Aécio dificilmente fica fora do segundo turno da eleição presidencial. Ele considera que em Minas, segundo colégio eleitoral do país, deve ter ampla vantagem sobre a petista.

Sentado sempre de frente para a cabine de comando – hábito do qual não abdica –, Aécio fez o sinal da cruz assim que o avião decolou. Perguntei se tinha medo de voar. Deu de ombros e respondeu que certas coisas são inevitáveis, “então melhor nem pensar no assunto”. Minutos depois o senador descrevia, efusivo, a ampla coalizão que montava em seu estado. Brincava ao mesmo tempo com os parlamentares, chamando-os por apelidos ou diminutivos. Fez piadinhas inaudíveis ao pé do ouvido de Júlio Delgado, do PSB. Pegou o tablet de um assessor para acompanhar as últimas notícias e passou os olhos em alguns relatórios. Relaxado, pôs-se a falar do lugar de que mais gosta, a fazenda na cidade de Cláudio, no interior de Minas. “São 50 alqueires e alguns pezinhos de café para não ficar feio e também curar a cachaça”, ele disse. Chamou seu refúgio de “meu Palácio de Versalhes”, numa alusão ao château nos arredores de Paris que funcionou como centro do poder do Antigo Regime francês. “Um dia você vai conhecer o meu palácio”, prometeu. Nos quase quatro meses em que o acompanhei em viagens e eventos, ele evitou abrir as portas de seu castelo, sem nunca ter dito “não” claramente. A fortaleza mineira, na descrição de um amigo da família, é “uma fazenda tipicamente colonial, sem pompa, com uma capelinha na entrada e campinho de futebol”.

Imbassahy interrompeu a conversa para mostrar “um vídeo fantástico” no YouTube. “Já viu?”, perguntou, empurrando o tablet em minha direção. Aécio e as irmãs Andrea e Angela aparecem ao lado de outros parentes numa varanda do château. Participam todos de uma cantoria animada. A música é Tocando em Frente, de Renato Teixeira e Almir Sater, aquela que diz “ando devagar porque já tive pressa”. A gravação foi feita em 2006, mas havia sido postada na rede apenas três dias antes da nossa viagem. “Muito bom, muito bom”, repetia o deputado baiano. “Ele é o campeão número 1 nesta arte, a sacanagem de agradar”, emendou, apontando para Aécio.

Entusiasmado, Imbassahy argumentou que, ao contrário de Serra, que disputou a Presidência em 2002 e 2010, e ao contrário de Alckmin, candidato em 2006, o mineiro agora teve tempo e condições, como presidente do PSDB, para gestar acordos políticos e preparar os terrenos regionais. “Esse camaradinha aí costurou coisas que só vão aparecer lá na frente.” Uma dessas “costuras” apareceu durante o voo. Pouco antes de desembarcar, entre goles de Coca-Cola Zero, Aécio conversou por telefone com o ex-prefeito Gilberto Kassab para agradecer o apoio do PSD a Pimenta da Veiga.
Engomados, com ternos escuros bem cortados, Pimenta da Veiga e Antonio Anastasia, à época ainda governador, esperavam por Aécio no aeroporto da Pampulha. Conversaram por alguns minutos numa sala a portas fechadas. De calça jeans, camisa social azul-clara, mangas arregaçadas e um sapato social azul-marinho já gasto, Aécio propôs que todos tirassem as respectivas gravatas. Anastasia foi o primeiro a atender e, empolgado, se livrou também do blazer, deixando em evidência sua silhueta roliça. Mais à vontade, embarcaram na van.
 
"Minas é minha casa e minha causa” – totalmente confortável em seu discurso, Aécio usou e abusou do bordão, que repetiria em outras ocasiões. Governador do estado por duas vezes, de 2003 a 2010, foi reeleito com 77% dos votos válidos. Gosta de mencionar que deixou o governo com 92% de aprovação. Elegeu Anastasia seu sucessor, derrotando a chapa com dois ex-ministros de Lula (Hélio Costa, do PMDB, e Patrus Ananias, do PT, como vice). Formado em direito, professor universitário, Antonio Anastasia foi secretário de Planejamento e Gestão de Aécio no primeiro mandato; filiou-se ao PSDB a pedido do chefe e tornou-se vice-governador no segundo.

“Depois de três meses do primeiro mandato eu já sabia que meu sucessor seria o Anastasia”, disse Aécio. No início da campanha de 2010, o pupilo tinha menos de dois dígitos nas pesquisas. Terminou eleito no primeiro turno. “Anastasia é um príncipe. É de uma lealdade indescritível. Um técnico, um político sem ambição. Mora até hoje num apartamentinho com a mãe, de 90 anos”, contou Aécio no avião, poucos minutos antes de aterrissarmos. Semanas depois, em São Paulo, o tucano anunciaria a empresários que Anastasia iria coordenar seu programa de governo. Se eleito, Aécio transformará Anastasia em um de seus mais poderosos ministros, muito provavelmente na pasta do Planejamento.
No palanque, Aécio cutucou Pimenta da Veiga duas vezes, para que encerrasse seu discurso. Aos 66 anos, ele foi batizado de “candidato naftalínico” pela oposição. “Os mineiros, que sempre foram protagonistas na história nacional, vão ter neste ano papel decisivo, porque o próximo presidente da República está entre nós”, concluiu Pimenta. Anastasia deu seu recado em poucos minutos – sucinto, como o chefe recomendara. E Aécio falou por menos de dez minutos. Citou Tancredo Neves e Juscelino Kubitschek, obviamente. Pá, pum!

Quando se dirige aos mineiros, sua voz ganha uma impostação solene, que faz lembrar discursos políticos à moda antiga. O recado: estava pronto para ser presidente. E isso só seria possível com os votos de Minas. Entrou então a música: um sambinha da década de 80, feito por uma escola tradicional de São João del-Rei para Tancredo Neves.

Suado, com a camisa para fora da calça e os cabelos desalinhados, Aécio secou o rosto com um lenço antes de posar para fãs, a maioria mulheres munidas de celulares. Em todas as imagens – dezenas – não tirava o sorriso do rosto, exibindo, como se estivessem congeladas, as famosas covinhas. Entrou num carro com Pimenta, Anastasia, Imbassahy e Nogueira – e desapareceu. Quando percebi, estava sozinha na van com um assessor do senador.

Cerca de quarenta minutos depois eles ressurgiram no hangar onde os aguardávamos. Aécio explicou a razão do sumiço: fora visitar o ex-deputado Eduardo Azeredo, que na véspera havia renunciado ao mandato. Réu na ação penal do mensalão tucano que tramitava no Supremo Tribunal Federal, Azeredo, com seu gesto, conseguiu levar o processo à primeira instância, postergando o julgamento e mantendo-se distante dos holofotes, ao menos por ora. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, havia pedido sua condenação a 22 anos de prisão por desvio de recursos na campanha eleitoral de 1998. No dia em que esteve com ele, Aécio limitou-se a comentar que Azeredo – como ele, também ex-governador de Minas –, é “um homem de bem” e estava “abatido”. E foi logo puxando outro assunto.  
 
Não foi por acaso que durante o voo Imbassahy me mostrou o vídeo de Aécio na fazenda. A divulgação na rede de uma cena familiar (ou um “conteúdo positivo”, no jargão dos marqueteiros) faz parte de uma operação de guerra. A campanha tucana se preocupa particularmente com os efeitos nocivos da internet para a imagem do candidato. Seus apoiadores discutem a possibilidade de criar um espaço virtual para publicar “todos os boatos” sobre o mineiro, com as respectivas respostas. A inspiração vem de Barack Obama, que fez uso desse recurso na campanha americana.

Aécio move processos contra o Facebook e os buscadores Google, Yahoo e Bing. Alguns tucanos consideram que a estratégia é um tiro no pé. O senador reitera que tem sido mal interpretado e que não há, nem nunca houve, nenhuma intenção de praticar censura.

O escritório de advocacia Opice Blum é um dos mais renomados do país nas questões sobre direito digital. Aécio o contratou como pessoa física e mantém os honorários em segredo. Dois processos contra o Facebook – um deles corre em sigilo de Justiça – pedem a retirada de perfis falsos de Aécio, que usam a primeira pessoa e incitam o uso de drogas.

“Aí não dá para admitir. Isso é criminoso”, me disse Juliana Abrusio, jovem advogada de 36 anos. Sentada em sua mesa, numa sala ampla que divide com outros advogados, ela sorvia um picolé Rochinha enquanto me explicava os processos. De acordo com Juliana, são vários perfis criados por “quadrilhas virtuais criminosas” para difamar a imagem do senador. A crítica, a divergência de opinião e até a zombaria são aceitáveis; “o crime, em hipótese alguma”, frisou.

 Saia justa até o joelho, meia fina, saltinho, camisa social rosa-clara, ao terminar o picolé Juliana fez um coque no cabelo e o prendeu com uma caneta. Explicou que o processo contra os buscadores da internet é referente “a uma mentira que espalharam na rede dizendo que o senador é acusado em ação judicial promovida pelo Ministério Público de ter desviado 4,3 bilhões de reais”. Essa “mentira”, disse Juliana, “foi disseminada na internet por meios ilícitos” (robôs, spams de comentários e outras táticas de guerrilha) “para influenciar os algoritmos desses sites de busca”. Quanto maior o interesse por um tema na rede, mais destaque ele ganha no buscador. O que o senador quer, enfatizou a advogada, é que essa combinação de palavras  “Aécio + desvio de R$ 4 bi” deixe de ser “oferecida espontaneamente pelos buscadores”. Ela insistia: “Não é censura. Não pedimos a retirada de nenhum conteúdo.” Não seria uma luta inglória? Ela admite que, se Aécio vencer as ações, os conteúdos vão continuar na rede. Mas ficaria mais difícil acessar tais notícias.

O caso dos 4,3 bilhões é intricado.

A promotora de Justiça Josely Ramos Pontes, que investigava a aplicação de recursos na Saúde durante o governo Aécio, em determinado momento descobriu que mais de 50% dos investimentos na área provinham de ações desenvolvidas pela Copasa, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais. Achou exagerado. No orçamento, o governo informava que havia transferido dinheiro à entidade para aplicá-lo em ações de saneamento. Uma auditoria mostrou, no entanto, que nos documentos contábeis da Copasa não apareciam tais recursos. Foi a partir dessa constatação que a promotora resolveu mover a ação de improbidade contra Aécio. Em janeiro deste ano, o procurador-geral de Justiça de Minas, Carlos André Bittencourt, entendeu que a promotora não poderia processar um governador e arquivou o caso, sem entrar no mérito. Josely recorreu em abril. “A toda sentença cabe uma apelação. A ação de improbidade ainda existe”, ela me disse por telefone. Não se trata, de acordo com a promotora, de uma ação para questionar o percentual de recursos aplicados na Saúde (que deve ser de 12% da receita estadual, segundo a Emenda 29). Há suspeita de desvio?, indaguei. “O que eu posso afirmar é que o estado não colocou esse dinheiro na Saúde. Os recursos aparecem na prestação de contas do estado, mas não foram gastos. A impressão que eu tenho é que esse dinheiro não existe, é uma invenção”, foi a resposta.
 
"Ele agora está louco para ser presidente e convencido de que vai chegar lá. Mudou muito. Isso é uma coisa curiosa, porque levou algum tempinho. E mais do que isso: ele se entusiasmou com a campanha e com a possibilidade de vitória”, disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quando conversamos em seu apartamento no bairro de Higienópolis, em São Paulo. Principal mentor da candidatura de Aécio em prol da renovação no PSDB, há alguns anos FHC tinha dúvidas sobre o real desejo do mineiro de encarar o projeto presidencial. Em agosto de 2007, ele disse a piauí: “Serra seria um bom presidente. Quebra-lanças. Aécio é mais conservador, acomoda mais. Isso dito, politicamente o Aécio é fortíssimo. Pode ser menos preparado que o Serra, mas é popularíssimo. […] Agora, o Aécio gosta demais da vida privada dele. Pode parecer banal, mas é assim que as coisas funcionam. Com a Presidência, muda tudo. Como ele não poderia mais ter a liberdade de que goza hoje, prefere pensar que tem tempo pela frente.”

Quase sete anos depois, FHC fez um adendo a seu diagnóstico. “Nisso o Aécio se parece comigo: ele não é muuuito apegado, ‘Eu quero ser isso, eu quero ser aquilo’. Ele não é assim”, disse, enfatizando o advérbio. “O que não quer dizer...”, refletiu, sem terminar a frase. E foi direto para a moral da história: “Eu também não era muito apegado. E fui presidente duas vezes.”

 No avião, em meio a leves turbulências, Aécio contou que “não queria de jeito nenhum” ser governador de Minas em 2002. Vivia um momento auspicioso no Parlamento, depois de ter sido eleito presidente da Câmara em 2001. Mas há sempre o imponderável. O então governador Itamar Franco enviou o ex-embaixador José Aparecido como emissário para convencer Aécio a disputar o governo com o apoio dele. Itamar tinha rompido com Newton Cardoso, o todo-poderoso do PMDB. Aécio avisou que aquilo não daria certo, porque Itamar era do mesmo partido de Newton. E fez uma proposta inusitada, imaginando que enterraria o assunto: a única possibilidade de considerar uma candidatura seria se Itamar deixasse o PMDB. Certo de que isso não ocorreria, embarcou para a Chapada dos Veadeiros, em Goiás, com uma namorada de Brasília e um casal de amigos. “Foi ótimo, eu estava leve, cachoeira, aquela energia. Voltei tranquilo, dirigindo uma caminhonetezinha que eu tinha, só nós quatro... Chegando em Brasília começa a aparecer o sinal do celular. Não sei quantos mil recados, telefonemas para a casa da Presidência da Câmara.” Itamar havia se desfiliado. “Todo aquele peso que a cachoeira tinha me lavado voltou de novo. E lá fui eu. Virei governador”, contou.
 
Misto de playboy carioca e menino do interior mineiro seria uma boa definição para Aécio, segundo quem o conhece bem. Quando seu pai, Aécio Ferreira da Cunha, foi fazer um curso na Escola Superior de Guerra, na década de 70, levou toda a família para o Rio. “Aecinho” completou 10 anos de idade na capital fluminense. Era surfista, gostava de moto. Nas férias em Minas, cavalgava. Frequentava badalações em resorts no Nordeste, agitos em Búzios e Angra dos Reis, mas também viajava para a fazenda em Cláudio, fazia cavalgadas até cidades vizinhas. Sempre gostou de jogar peladas de rua. Continuou prezando todos esses hábitos depois de ingressar na política. “Se você precisasse achar o Aécio num final de semana, era melhor desistir. Ele não atendia celular de jeito nenhum. Agora ele me deu um número e até liga pra gente, a qualquer hora e a qualquer dia”, me disse um deputado.

Cruzeirense fanático, quando adolescente Aécio pegava um ônibus no Rio para assistir aos jogos no Mineirão. Não perdia um. Dias depois da posse do primeiro mandato de governador, despediu-se dos ajudantes de ordens, tirou o terno e disse que iria sozinho ao estádio. Foi um fuzuê. O Gabinete Militar se viu obrigado a relaxar os padrões de segurança que adotava para adaptar-se aos hábitos de Aécio.

No Rio, o mineiro começou a cursar direito na Pontifícia Universidade Católica e economia na Cândido Mendes. Em 1982, aos 22 anos, cedeu aos apelos do avô para ajudá-lo na campanha ao governo de Minas. Transferiu o curso de economia para a PUC mineira e abandonou a faculdade de direito. “Se fosse um momento normal da vida brasileira, muito provavelmente eu não teria ido, não teria largado minha vida no Rio”, disse. Por influência do avô, também abortou o mestrado em Harvard, que estava engatilhado para 1985 – “Acho que nunca contei isso pra ninguém, quem sabe eu ainda realize esse sonho represado.” A carreira política começou formalmente em 1986, como constituinte, e se estendeu na Câmara dos Deputados por quatro mandatos consecutivos, até o final de 2002.

 Aos 54 anos, completados em março, Aécio é – ou foi, segundo os que sustentam sua candidatura – uma pessoa boêmia. Durante muitos anos era figura assídua em sites de fofocas de celebridades. Além das namoradas do mundo pop – atrizes, modelos, colunáveis –, em diversas ocasiões apareceu na noite com amigos badalados, entre eles o ex-jogador Ronaldo Nazário, o empresário Alexandre Accioly e o apresentador Luciano Huck. “Mudei para o Rio há quinze anos. Conheci muita gente na Cidade Maravilhosa, mas construí poucas e sólidas amizades, que não enchem a palma de uma mão. Aécio é uma delas”, disse Huck por e-mail no final de um dia cheio de gravações na Globo. O animador televisivo confirmou que ele e Aécio se veem com frequência. Disse que não falam de política nos momentos de lazer. Destacou a lealdade e a capacidade do mineiro de ouvir e declarou sem titubear seu voto. “Sem dúvida, acho Aécio a melhor opção para colocar o país no caminho de uma nação mais bacana de se viver.” Na última semana de maio, Ronaldo também tornou público seu voto no tucano.

Numa reportagem de 2008 intitulada “Menino do Rio”, a revista Época fez um roteiro dos bares e restaurantes cariocas que o governador Aécio frequentava. Trazia fotos de baladas em que o político fora visto e de mulheres com quem havia se relacionado. No texto, o publicitário Nizan Guanaes palpitava sobre as chances de Aécio vencer uma disputa presidencial: “Ele tem o charme do JK e o jogo de cintura do Tancredo. Só faltam uns fios de cabelo branco e uma primeira-dama para ele assentar.” Aécio respondia que a madeixa branca apareceria com o tempo. “Mas casar?! Prefiro apoiar o Serra.”

 Aécio foi casado durante sete anos com a advogada Andréa Falcão, com quem teve a filha Gabriela, em 1991. Separaram-se em 1998. Tentaram uma reaproximação dez anos depois do divórcio, mas não vingou. A ex-miss Natália Guimarães foi apontada como o pomo da discórdia. Hoje casada e mãe de gêmeas, Natália prefere não falar. Com vários fios grisalhos, Aécio casou-se com a modelo Letícia Weber, de 34 anos, em outubro do ano passado, numa cerimônia quase secreta, após de cinco anos de namoro. A imprensa só ficou sabendo dias depois. A modelo está grávida de gêmeos.

Em novembro de 2009, o jornalista Juca Kfouri publicou em seu blog uma nota que tirou Aécio do prumo. Escreveu que testemunhas viram o senador tucano dar um safanão em Letícia numa festa do estilista Francisco Costa, da Calvin Klein, na piscina do Hotel Fasano, no Rio. Aécio negou e disse que processaria o jornalista por calúnia. Nunca o fez. Kfouri manteve a informação, apesar das contestações do ex-governador. Nunca vieram à tona fotos, vídeos ou testemunhas que confirmassem o caso. Seis dias antes, uma nota similar havia sido postada no site Glamurama, da colunista Joyce Pascowitch. A jornalista não citava nomes. Só falava de “tapa na cara” da moça, “que revidou”.
Juca Kfouri respondeu de forma lacônica a perguntas que lhe enviei por e-mail. Disse que não tem mais contato com as testemunhas que lhe relataram o fato do Fasano, mas mantinha o que escrevera. E confirmou que Aécio nunca o interpelou judicialmente. Ficou por aí. “Meus advogados me orientaram a não tocar neste tema”, concluiu o jornalista.

Internada desde o final de maio na clínica Perinatal, no Rio, sob observação e cuidados depois que teve contrações inesperadas com quase seis meses de gestação, Letícia me enviou uma mensagem por torpedo. “Toda essa mentira foi um grande absurdo”, disse, referindo-se à noite do Fasano. “Me impressiona a maldade de pessoas que se especializam em tentar destruir a reputação de adversários, disseminando esse tipo de coisa na internet. A vida do Aécio, pública e privada, é honrada e imune a esse tipo de mentira.”

Aécio admitiu que sua relação com Letícia teve “idas e vindas”, como a de muitos casais, mas hoje é “muito madura”. “Estou achando lindo ser pai novamente. Estou feliz em casa.” Disse que os gêmeos o deixam “renovado, vigoroso e jovem”. E definiu assim seu momento pessoal: “Eu dei muita sorte na vida. Tenho uma filha extraordinária, tenho uma relação fantástica com minha ex-mulher. Ela é minha parceira querida, amiga, uma mãe maravilhosa, convive comigo, eu convivo com ela. Minha mãe é uma coisa única no mundo, presente o tempo inteiro. Tenho uma irmã maravilhosa, sempre com uma solidariedade e uma generosidade que ultrapassam qualquer limite. A Andrea, que você conheceu...”
 
Encontrei Andrea Neves no início de abril, no restaurante do Minas Tênis Clube, tradicional reduto frequentado pela elite belo-horizontina. A poucos metros do Palácio da Liberdade, o local, fundado em 1935, está fora da rota de badalações e perdeu o glamour do passado. De cabelos lisos e longos, blusa branca, echarpe discreta, calça preta e óculos de grau, Andrea Neves é uma pessoa silenciosa até no visual. Tanto que seu único enfeite eram os delicados brincos de pérolas. Ela se dirigiu para a varanda e ocupou a mesa de sempre, num canto. Explicou-me que ali sente a energia fluir melhor. Seu pai costumava fazer reuniões políticas no restaurante.

Avessa a entrevistas e exposições, Andrea se assume como uma mulher dos bastidores, da articulação política. Fala baixo e com delicadeza, mas quase sem pausa, puxando o com afinco – “No Rio dizem que não tenho sotaque, aqui dizem que sou carioca, então resolvi dizer que sou de Juiz de Fora.” Um ano mais velha que o irmão, hoje com 55 anos, foi militante quando jovem e ajudou a fundar o PT no Rio, numa época em que Aécio se ocupava mais de sua prancha. Quando Tancredo chamou o neto em 1982, Andrea não perdeu tempo. “Vim junto, de enxerida.” Desde então ela é o esteio político do irmão. Adversários e mesmo aliados do tucano a chamam de “Goebbels das Alterosas” e “Golbery do Aécio”, alusões ao poder do ministro da Propaganda de Hitler e à iminência parda do governo Geisel.

No primeiro governo do tucano em Minas, no início de 2003, Andrea foi nomeada coordenadora de um grupo de comunicação que reformularia toda a estratégia de marketing no estado. Deu coesão a campanhas e peças publicitárias e pôs em prática a política de distribuir a propaganda oficial entre todos os veículos, ainda que o preço de cada um deles pudesse variar.

“Não há o que atacar na vida privada do Aécio”, afirmou Andrea, entre uma garfada e outra de polvo a vinagrete, que naquele dia “não estava muito bom”, comentaria depois. “As pessoas podem ou não gostar do estilo de vida dele, mas não há razões para ataque”, prosseguiu. “A grande prova disso é que, para atacar, as pessoas precisam inventar, caluniar. Aécio tem uma vida pública de trinta anos. Se houvesse alguma coisa na biografia dele que pudesse sustentar algum tipo de ataque, você não acha que, há muito, já teria sido usada?”, indagou. “Por que a política não pode ser feita com alegria, leveza e integridade?”, perguntou em seguida.

“Leveza” e “alegria” são palavras-chave no repertório do aecismo. Dias antes de falar com Andrea, Anastasia havia me dito que a campanha será “à la JK, leve, sorridente, para cima, animada”. O “lado festeiro” de Aécio, enfatizou o ex-governador, agora candidato ao Senado, “é uma vantagem, um ponto positivo. Dá a ele um aspecto humano. É uma pessoa que se diverte, é feliz”.

No restaurante Andrea disse coisa parecida, traçando uma espécie de genealogia do estilo político do irmão: “Aqui em Minas, o universo político, ainda hoje referenciado nas raízes do PSD e da UDN, registra a grande diferença no modo como os dois partidos fazem política. No PSD, a política era feita com alegria, bom humor, sem ser considerada um fardo. Nessa escola estariam Tancredo e Juscelino. Já a UDN tinha uma postura mais severa, mais pesada, o discurso dos grandes sacrifícios pessoais feitos em nome do povo.”

Semanas mais tarde, o publicitário mineiro Paulo Vasconcelos, que vai coordenar a comunicação da campanha, voltaria ao tema. “O Aécio traz na leveza de ser uma matéria-prima que pode ser explorada tanto para o bem quanto para o mal”, disse.

Em dois momentos Andrea pareceu se emocionar. Suspirou fundo e ficou segundos em silêncio, mirando o horizonte, ao falar da morte de Tancredo. “Eu acho que a decisão do Aécio de entrar na política foi tomada ali. De alguma forma ele selou ali um compromisso. Como nunca fizemos terapia, não sei se é isso”, disse, soltando a seguir uma risada contida. O segundo momento em que o choro se insinuou veio quando ela mencionou o câncer do primeiro marido e o “apoio incondicional” que recebeu de Aécio na ocasião.

Confrontado com a suspeita da irmã de que sua decisão de abraçar a vida pública estava relacionada à morte do avô, o senador tucano disse que foi exatamente o contrário: “A morte dele quase me tirou da política. A vida dele e o convívio que eu tive com ele é que foram preponderantes para me colocar na política. Eu pensava: O que eu vou fazer em Brasília, num governo Sarney? Não tenho nada a ver com esse pessoal. Aí eu fiquei naquela dúvida, se ficava ou não.” O primo Francisco Dornelles, hoje senador pelo PP, o convenceu a ficar em Brasília. Aécio ocupou uma diretoria da Caixa Econômica Federal durante um ano.

No final do nosso encontro, perguntei a Andrea por que ela nunca tinha se candidatado a nada. “Acho que existem várias formas de fazer política. Eu faço política. Nunca quis disputar uma eleição, acho que por pura timidez.” Seria ministra? “Tenha dó!”, gargalhou. Uma coisa é certa: Andrea se muda para Brasília se Aécio vencer. E, dentro ou fora da Esplanada, vai comandar a comunicação do governo.
 
Desarticulada, a oposição mineira passou anos assistindo ao reinado de Aécio. O PT engoliu o Lulécio (o voto casado em Lula e Aécio), o Dilmasia (os eleitores que escolheram Dilma e Anastasia) e o Pimentécio (a inusitada união do ex-prefeito petista Fernando Pimentel e Aécio para levar Marcio Lacerda à prefeitura da capital). “Aécio sempre incentivou esses bichos esquisitos em Minas”, contou o deputado estadual Rogério Correia (PT), um dos principais opositores do tucano. Agora rompido com Aécio e candidato ao governo do estado, Pimentel tem dificuldades para atacar o ex-aliado.
Foi somente em 2011 que uma oposição mais estruturada começou a surgir, com o nome de “Minas Sem Censura”. Atualmente o bloco parlamentar reúne 21 deputados – do PT, do PMDB e do PRB. Pouco numerosos, mas muito barulhentos, atuam sobretudo via internet. Mantêm um site em que denunciam indicações políticas em estatais, reproduzem insatisfações do funcionalismo, dão voz a suspeitas de irregularidades em obras e parcerias público-privadas, além de baterem na tecla da “mordaça” que o governo mineiro impõe ao Judiciário, ao Ministério Público e, sobretudo, à imprensa.

Em 2006, a blindagem do governo foi tema de documentário de um estudante de jornalismo da Universidade Federal de Minas Gerais, a UFMG. O trabalho de conclusão de curso de Marcelo Baêta teve audiência inesperada na rede e repercutiu fora do país. Trazia depoimentos de jornalistas de peso, como o ex-diretor da Globo local Marco Nascimento, entre outros comentaristas e editores. Todos diziam sempre a mesma coisa: havia coerção do governo sobre a mídia. E mais: teriam sido demitidos depois de relatar episódios contrários aos interesses do governo.

Nascimento conta que havia sido contratado pela Globo com a missão de proteger o jornalismo de eventuais assédios políticos em Minas. O Jornal Nacional reproduziu uma reportagem sobre a disseminação do crack e a incapacidade da polícia de coibir o consumo da droga no estado. Andrea convidou-o para um almoço, durante o qual, na versão dele, disse que o momento era difícil para o governo. Depois desse contato, as reclamações continuaram e chegaram à direção da emissora no Rio. Ele perdeu o emprego. Em nota divulgada à época e reproduzida no documentário, a Globo alegou ser “comum que um profissional demitido procure desculpas além de seu desempenho profissional ou do seu comportamento pessoal para justificar sua saída”. [...] “A isenção do nosso jornalismo não pode ser medida por teorias conspiratórias baseadas no ressentimento, mas pelo que levamos ao ar e é julgado permanentemente pelo nosso público.” Agora chefe de redação do SBT, o jornalista não retornou os contatos telefônicos feitos por piauí.

Produtor independente, com passagem pela Bloomberg, BBC e CNN, o jornalista Daniel Florêncio vive em Londres há mais de uma década. Contratado pela Current TV – experimento digital bancado por Al Gore para produzir documentários –, Florêncio fez em 2008 o vídeo Gagged in Brazil (Mordaça no Brasil), sobre a “censura em Minas”. Na esteira do filme de Baêta, esse também teve impacto. Além de reproduzir as histórias relatadas por Baêta, Florêncio coletou alguns depoimentos de jornalistas que pediram o anonimato.

O PSDB mineiro enviou uma carta a executivos da Current TV em São Francisco, nos Estados Unidos, pedindo que o vídeo fosse retirado do ar. “Queriam saber quem eram minhas fontes, de onde vinham minhas informações”, ele me contou por Skype. O jornalista deu as explicações a seus superiores e o documentário voltou a ser exibido depois de um mês. Na época em que fez o vídeo, Florêncio ofereceu à assessoria de imprensa de Aécio espaço de resposta, mas, segundo contou, “o approach deles foi agressivo”. Meses depois, colegas mineiros vieram lhe perguntar quanto ele havia embolsado do PT para produzir a peça. “A elite belo-horizontina cabe no salão de festas do Minas Tênis Clube. Querem chegar ao poder com ele”, disse, preferindo não citar nomes, sobre o comportamento da imprensa local.
 
O jornalista esportivo Ulisses Magnus, que é mencionado no documentário de Baêta, hoje trabalha na Record do Rio. No vídeo, ele relatou sua demissão da Rede Minas, a tevê pública do estado. Então presidente do Cruzeiro, o atual senador Zezé Perrella (pdt) não gostou de uma reportagem em que o técnico Vanderlei Luxemburgo esculhambava um jogador e disse a Magnus que assim que Aécio assumisse ele seria demitido. Três meses depois da posse, coincidência ou não, o editor perdeu o cargo. “Me demitiram pelo episódio. Mas não posso jogar pedras nem acusar. O que eu sei é que esse governo investe bastante em publicidade e existe patrulhamento sobre o que se diz ou não”, sustentou Magnus, numa rápida conversa por telefone. Despediu-se de forma curiosa: “Cuidado aí, só isso.”
Andrea Neves considera estapafúrdias as acusações. Quando conversamos, ela me adiantou que não falaria sobre esse tema – já havia acumulado um desgaste pessoal excessivo, tantas eram as informações infundadas. Para a família, a intriga da censura é o único discurso que a oposição encontrou para macular a imagem de Aécio. Na avaliação da equipe do candidato, nenhum dos dois vídeos foi feito com rigor jornalístico, nenhum merece credibilidade.

O tema, no entanto, tira Aécio de seu habitual bom humor. Ao comentar o assunto, foi um dos raros momentos em que ele elevou o tom de voz. “Desde que eu nasci ouço essa história de que a imprensa mineira é complacente. Isso é dito principalmente por quem não lê a imprensa mineira”, disse. “Os mineiros também são críticos e censura é uma lenda urbana”, prosseguiu, passando a analisar o comportamento dos três principais jornais do estado: “OTempo me critica mais que a imprensa nacional; o Hoje em Dia nem conta porque é menorzinho; e o Estado de Minas sempre teve posição pró-governo pelo seu tipo de jornalismo, que não é um jornalismo de questionamento.”

Fundador do Tempo e do Super Notícia (diário popular vendido a 25 centavos), o ex-tucano Vittorio Medioli me disse que seu jornal atua com independência e critica todas as esferas de governo. “Aécio Neves se mostrou várias vezes incomodado, mas não mudamos nossa atitude.” Acrescentou que o senador cultiva uma relação pessoal e intensa com a imprensa – “uma importância talvez excessiva” – que lhe permitiu ter “trânsito privilegiado” em alguns veículos. Disse ainda que a assessoria de Aécio é rápida nas respostas, sobretudo em momentos de crise. “Ele é muito solícito e preocupado em não deixar que prosperem dúvidas a respeito da imagem dele. É muito persistente em exigir que a versão dele apareça.” Aécio “conhece o processo midiático como poucos políticos”, enfatizou Medioli.

É “primário, ridículo, absurdo” pensar que ele ou Andrea ordenem demissões, me disse Aécio. Alegou ser um dos personagens políticos “mais atacados pessoalmente e de forma leviana” pela mídia que é “sustentada com recursos do governo federal”. E completou: “Nunca liguei para diretor de jornal para criticar jornalista, quanto mais para pedir demissão. Eu posso até ligar para o jornalista e dizer: ‘Olha, está errada essa tua informação.’ Isso eu faço. Mas ligar porque o cara publicou algo contra mim? Zero”, finalizou, já com o tom de voz normalizado.
 
Minas Gerais será a vitrine de Aécio na campanha. Ele não se cansa de frisar que colocou as finanças do estado em ordem, de mencionar o chamado “choque de gestão” ou o “déficit zero”. Em seu primeiro mandato, governou com dezessete secretarias, cinco a menos que o antecessor Itamar Franco, extinguiu quase 3 mil cargos comissionados, reduziu os salários dos secretários e o dele próprio, e passou a remunerar servidores conforme a qualificação e o cumprimento de metas. O tucano costuma apresentar Minas como um oásis do crescimento, mas o fato é que o PIB mineiro, segundo o IBGE, seguiu pari passu o PIB nacional de 2003 a 2010, com pequenas oscilações. O governo do estado divulga o “crescimento chinês” de 8,9% em 2010, mas não faz questão de lembrar que no ano anterior, 2009, o PIB do estado havia diminuído 4%.

À frente da secretaria de Planejamento de Aécio no primeiro mandato, Anastasia dizia na época que a dramaticidade da palavra “choque” não era retórica, mas sim o termo apropriado diante da necessidade de mudanças abruptas num estado marcado pela desordem fiscal. Minas tinha déficit de 2,4 bilhões de reais, salário do funcionalismo escalonado, décimo terceiro atrasado. Como o governo Itamar havia decretado a moratória do pagamento da dívida com a União e não honrara contratos internacionais, era difícil atrair investimentos para o estado.

Aécio adotou medidas pouco populares para atingir o equilíbrio orçamentário. No primeiro ano de seu governo, cortou investimentos, reduziu despesas de custeio, congelou salários do funcionalismo e reviu abonos. Na outra ponta, o estado investiu em parcerias com o setor privado, sobretudo na Saúde e no setor prisional. No ano passado, Minas inaugurou seu primeiro complexo penitenciário administrado pela iniciativa privada, modelo controvertido nos países em que é aplicado. (Nos Estados Unidos, por exemplo, ele é considerado um estímulo à superpopulação carcerária, já que, para que o negócio seja rentável, o poder público precisa garantir um número mínimo de detentos.)
Antes de deixar o governo, Anastasia divulgou um decreto voltando a cortar para dezessete o número de secretarias, que já havia superado as 22 do tempo de Itamar – eram dezenove secretarias fixas e quatro extraordinárias, que, segundo a versão oficial, não aumentavam o custeio. O recuo foi decidido às pressas para não desmoralizar o discurso do presidenciável. O sucessor de Aécio cortou também às pressas os cargos comissionados, que aumentaram 92% (de 2 230 para 4 286) entre dezembro de 2003 e janeiro deste ano. O governo argumenta que esse acréscimo foi justificado pela ampliação dos serviços públicos.

 Se, por um lado, são reconhecidas mudanças positivas na gestão em Minas, também não faltam críticas aos abusos de marketing. Autores do livro A Dívida Pública do Estado de Minas Gerais, os economistas Fabrício Augusto de Oliveira e Claudio Gontijo argumentam que Minas saiu do fosso fiscal em parte porque o país começou a crescer mais a partir de 2004, o que trouxe receitas inesperadas para o estado. O livro foi escrito para subsidiar uma frente parlamentar para a renegociação da dívida estadual presidida por um deputado do PT, com base numa consultoria técnica sobre o orçamento mineiro que Oliveira prestou ao Tribunal de Contas do Estado até 2010.

“Déficit zero é marketing e um conceito destituído de significado porque o governo de Minas inflava as receitas de um lado e subestimava as despesas de outro”, disse Oliveira, ex-professor da Unicamp e da UFMG. No lado da receita, afirmou, o governo de Aécio lançava dívidas contratadas, ou seja, dinheiro que teria que pagar em longo prazo. “Dívida não é receita, você apenas tem um equilíbrio momentâneo.” Do lado das despesas, o governo omitia o que não conseguia quitar do contrato da dívida do estado com a União (juros, encargos, amortização). “Minas decretou moratória em 1999. O cara vai chegar como mágico e equilibrar as finanças?”, perguntou Oliveira, que foi secretário da Fazenda adjunto de Itamar.

Aécio costuma dizer que a situação do estado era tão caótica que não havia possibilidade de eleger prioridades, mas sim “a” prioridade. “E foi a educação”, afirmou. Ele vai explorar na campanha o fato de a educação básica em Minas ter obtido a melhor nota do país no Ideb, o indicador criado em 2007 pelo Ministério da Educação para avaliar o desempenho dos alunos em português e matemática. No último ranking, relativo a 2011, Minas ficou com 5,9, contra 5 da média nacional.
 
O escritório da Gávea Investimentos fica num prédio moderno de uma das ruas mais movimentadas do Leblon, na Zona Sul do Rio. As portas se abrem com sistema biométrico (impressões digitais), como nos laboratórios do seriado americano CSI.

É ali que trabalha Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central de FHC. Crítico agudo e por vezes exaltado da política econômica do governo Dilma Rousseff, ele se tornou o principal fiador de Aécio Neves na área econômica, uma espécie de âncora do discurso da austeridade fiscal.
“Espere três minutos, por favor”, ele disse, entreabrindo a porta da sala de reunião onde eu o aguardava. Voltou exatamente 180 segundos depois – cronometrados.

O economista trabalha em média treze horas por dia e abriu mão de parte de suas tarefas para se dedicar ao projeto presidencial tucano. Ainda se ocupa do plano de construção do campo de golfe olímpico e dos esforços para inaugurar uma unidade do Hospital Sírio-Libanês no Rio. “Também sou consumidor da produção acadêmica”, completou. Atualmente conclui a leitura de O Capital no Século XXI, o best-seller do economista francês Thomas Piketty.

 À campanha eleitoral, Armínio Fraga destina pelo menos três horas por dia. Com 56 anos, Armínio, como é chamado, ainda não pretende deixar a Gávea, empresa que criou em 2003 e atualmente administra investimentos de 15,2 bilhões de reais. “Eu não vou redigir programa e tampouco me envolvo em questões de captação de recursos para a campanha”, disse, justificando ser razoável o tempo dedicado a Aécio. “Ele ganhando, e penso que ele tem tudo para ganhar, certamente aí eu vou ter que me desligar”, antecipa o ex-presidente do Banco Central. Armínio Fraga deve ser o ministro da Fazenda se Aécio Neves chegar ao Planalto. Por ora, ele se limita a dizer que “com certeza consideraria ir para Brasília”.

Calvo, cavanhaque e rosto redondo, Armínio tem uma expressão viva quando conversa. Consegue ser ao mesmo tempo elétrico e sereno. Ele e Aécio se comunicam diariamente por e-mail e com frequência por telefone. Encontram-se pelo menos duas vezes por mês. Para Armínio, é uma convivência parecida com a que mantinha com FHC. “Mesmo nos piores momentos preserva-se um bom humor e há espaço para uma convivência minimamente agradável. E sempre profissional”, disse.

A parceria com o investidor George Soros, para quem trabalhou no Soros Fund Management, rendeu a Armínio duras críticas do PT quando ele se integrou à equipe econômica, no furacão de 1999. Foi identificado como a “raposa que tomava conta do galinheiro”. Ele sente indisfarçável orgulho do ajuste fiscal implementado na época. Lembrou que o Brasil foi obrigado a abandonar a paridade cambial e o momento era de absoluta incerteza. “A previsão de crescimento do PIB era de menos 4%, e a previsão de inflação estava dispersa entre 20% e 50%. Se a inflação passasse de 10%, iria reindexar tudo. Introduzimos um sistema de metas, foi necessário apertar a política monetária, as expectativas se acalmaram. O investimento, que vinha devagar, represado, voltou. O consumo voltou e a economia andou”, resumiu.

Um dia antes de conversar com investidores financeiros em São Paulo, no final de abril, Aécio jantou com Armínio Fraga para calibrar o discurso. Se para o mercado financeiro sua presença na campanha tucana é um conforto, para o PT virou munição. O partido associa os colaboradores de FHC e o “ajuste fiscal” a recessão, desemprego, redução de salários e corte de programas sociais. Aécio ajudou os petistas quando declarou a empresários mineiros, durante um almoço, que fará tudo o que for preciso para colocar o país no rumo, até mesmo adotar “medidas impopulares”.

Precisa “ir com jeito”, disse FHC. “Não dá para repetir o que eu fiz. Tem que fazer outras coisas. Os desafios são de outra natureza. Além de restabelecer a credibilidade do governo e das contas públicas, o central é educação, infraestrutura e segurança”, resumiu. E acrescentou: “Tem que modular esse discurso. Não são [medidas] impopulares. Tem que dizer outra coisa: ‘Eu vou resgatar o poder de compra do salário do povo.’ Tem que ser objetivo.”

O pior, na verdade, já aconteceu, me disse Armínio Fraga, na tentativa de reverter o impacto negativo da frase de Aécio. “Conduzir os assuntos fiscais do país de maneira bagunçada só traz confusão e sofrimento. Não serve para nada.

O país vive um momento de inflação alta e baixíssimo investimento”, disse. No fim, rejeitou a pecha de “neoliberal”. “Eu sou liberal com coração à esquerda”, falou.

Voltei a tocar no tema “medidas impopulares” com Aécio no dia em que ele jantou com Armínio Fraga em São Paulo. Ele foi categórico em dizer que, se eleito, manteria a política de reajuste do salário mínimo conforme o crescimento do PIB. Na época, o PT já estava explorando uma entrevista que Armínio deu ao Estado de S. Paulo em meados de abril. Nela, reconhecendo a delicadeza do tema e sem avançar em propostas, o economista disse que “o salário mínimo cresceu muito ao longo dos anos” e que até líderes sindicais reconheciam que o salário em geral “precisa guardar alguma proporção com a produtividade, sob pena de, em algum momento, engessar o mercado de trabalho”.
Em relação a programas sociais, Aécio foi inicialmente vago: “Vamos avaliar melhor vários programas que estão aí? Vamos. Vamos ver qual é o efeito e a consequência de cada um deles.” E antes que eu formulasse nova pergunta,  antecipou-se: “Eu não vou cair nesta armadilha do ‘nós vamos cortar programas sociais’. Porque nós não vamos. Nós vamos é qualificá-los. Nós vamos evitar o desperdício.” O senador apresentou em 2013 um projeto de lei que transforma o Bolsa Família em programa de Estado. Foi uma das suas principais iniciativas no Senado até o momento.
O PT se recusa a votar a proposta para não dar palco ao tucano.
 
Aécio Neves apresentou no Congresso o esboço de sua plataforma de governo no dia 17 de dezembro do ano passado, uma terça-feira. Composto de doze itens, o documento se organizava em torno de três eixos: confiança, cidadania e prosperidade. Seis dias antes, o tucano havia reunido trinta jornalistas para um jantar em Brasília, no Piantella, tradicional reduto de políticos. No restaurante, fez questão de marcar posição em favor da ética. “Se tiver alguém do PSDB que recebe propina e se isso ficar provado, tem que ir para a cadeia também”, disse aos repórteres. Era uma referência ao Caso Alstom, o escândalo de corrupção no metrô de São Paulo. Aécio estava na ofensiva. Havia escolhido justamente aquela semana para colocar sua candidatura na mídia.

Entre o jantar de quarta-feira com os jornalistas e o discurso na Câmara na terça subsequente, havia uma pedra no meio do caminho. Atendia pelo nome de José Serra. Coincidência ou não, o eterno presidenciável tucano publicou no domingo, dia 15, um artigo na página três da Folha de S.Paulo. O título: “Drogas pesadas no Brasil, inépcia e ideologia.” A primeira frase dizia: “O debate sobre o consumo de cocaína no Brasil pode e deve ser uma pauta em 2014.”

É difícil encontrar no PSDB quem queira falar do assunto. Também é difícil encontrar no partido quem não tenha interpretado o texto como um golpe – e baixo, segundo muitos – contra Aécio. Após contatos por e-mail e telefonemas, Serra alegou, por intermédio de um assessor, falta de tempo e agenda lotada, preferindo não se pronunciar sobre a candidatura do correligionário.

As insinuações de que Aécio já usou cocaína o acompanham há tempos. A internet costuma ser a arena em que isso mais aparece. Com a disputa eleitoral, o assunto recrudesceu na rede. No dia 25 de maio a Folha de S.Paulo revelou que foram enviadas de um computador da Prefeitura de Guarulhos, controlada pelopt, postagens para o perfil “Aécio Boladasso”, um dos vários no Facebook que se passam por Aécio e fazem a apologia do uso de entorpecentes ou tratam do assunto com deboche. O PSDB levou o caso ao Tribunal Superior Eleitoral. No final de maio, o tucano estava de passagem por Porto Alegre, para apoiar o lançamento da candidatura da senadora Ana Amélia, do PP, ao governo do estado. A repórter Letícia Duarte, do jornal Zero Hora, foi direto ao ponto: “Seus adversários têm difundido uma série de informações acusando o senhor de ser usuário de cocaína. Queria saber como o senhor responde a isso e qual a política de drogas do seu governo.”

Aécio pareceu surpreso. A resposta veio longa: “Você sabe que existe hoje um submundo da política, nas redes. Anonimamente, fazem qualquer tipo de acusação sobre os adversários, esperando que alguém, talvez desavisadamente, com um pouco mais de credibilidade, possa trazer esse tema ao jornalismo sério. O que nós assistimos hoje é uma guerrilha da internet.” A seguir passou a falar de si: “Eu tenho uma história de vida, talvez você não conheça, da qual me orgulho muito, absolutamente digna e honrada, e talvez tenha sido isso que tenha me trazido até aqui.”

Defendeu o aumento das penas para traficantes de drogas e na sequência recorreu a uma imagem futebolística para se defender: “Quanto a acusações como essas, e outras que vão surgir, eu fico me lembrando de juiz de futebol. Todo mundo conhece futebol, né? No futebol o juiz tem duas mães: uma que vai para o campo, quando ele erra o impedimento, ou quando marca um pênalti que não foi. E tem aquela que fica em casa, preparando a macarronada, vendo o final do jogo, passando o uniforme dele para o jogo seguinte. Essa é a mãe real... Aquele... Esse Aécio acusado... Eu me especializei... Como é teu nome?”

“Letícia”, disse a jornalista.

“Letícia... um nome que me inspira muito”, comentou Aécio, numa alusão a sua mulher. “Eu, ao longo dos últimos quinze anos, me especializei numa coisa, talvez você não saiba... Em derrotar o PT.”

Aos 33 anos, Letícia Duarte venceu o Prêmio Esso de Reportagem em 2012. Naquele dia, antes de fazer a pergunta ao candidato, debateu com colegas da redação se seria relevante ou não tocar no tema. “Achamos que era. Não por uma questão moral. Tem todo um burburinho circulando de que ele seria usuário de cocaína e isso passou a ser relevante a partir do momento em que ele assumiu uma postura pública [sobre drogas]”, me disse. Depois do episódio, a jornalista recebeu uma avalanche de comentários agressivos em seu Twitter, a maioria de blogs anônimos. “Eles se referiam a mim como ‘fulaninha’ e diziam coisas do tipo: ‘Você acha que porque é jornalista pode perguntar qualquer coisa: então vou perguntar se você dá a bunda, se você dá o cu.’” E encerrou: “Parecia ação orquestrada para me desmoralizar.”

“Hein? Essa é a pergunta que você está doida para fazer, né?”, reagiu Aécio quando lhe perguntei no início de maio se já havia consumido drogas. “Quando eu tinha 18 anos, sim, experimentei.
E ponto final.” Voltei ao assunto dias depois. Por e-mail, pedi que fosse mais explícito sobre o tipo de drogas que experimentou na juventude. Aécio não quis falar por telefone e mandou a resposta também por e-mail: “Eu tenho uma posição clara contra o uso de qualquer tipo de droga. Quando o presidente Obama, e outros políticos no mundo, reconheceram com sinceridade que haviam experimentado maconha na juventude, deram uma contribuição relevante para que debates importantes para a sociedade pudessem acontecer. Quando jovem, experimentei maconha e não recomendo que ninguém faça o mesmo. Como parlamentar, eu tenho posição claramente contrária à proposta de descriminalização do uso da maconha.”

Ao longo da reportagem, assessores, políticos e pessoas próximas de Aécio queriam saber com insistência se a revista também perguntaria ao candidato Eduardo Campos, do PSB, se ele já usou cocaína.

O assunto permeia a campanha de tal forma que empresários, em rodas reservadas, se questionam sobre o impacto da vida privada de Aécio na eleição. Um tucano que defende a candidatura do mineiro, mas que com ele nunca teve intimidade, o interpelou sem rodeios no início do ano e quis saber sobre o suposto consumo de drogas. A sondagem serviria para avaliar se ele se somaria aos colaboradores da campanha. Aécio não reagiu com indignação e também foi direto: “Fui jovem, gosto de mulher, mas nunca fiz nada incompatível com minhas funções públicas”, disse Aécio, segundo descreveu a fonte, que pediu que sua identidade fosse preservada.

Na lista de constrangimentos de Aécio consta o episódio de 2011, quando foi pego numa blitz da Lei Seca no Leblon, nas imediações de seu apartamento. Estava com a carteira vencida e não soprou o bafômetro. Em nota, o governo do Rio disse que Aécio preferiu não fazer o teste. A assessoria do senador afirmou que ele providenciou imediatamente um motorista para conduzir o carro e julgou “não ser necessário se submeter ao bafômetro”. Aécio pagou a multa por infração gravíssima – por se recusar a fazer o teste –, de 957,70 reais, e de 191,54 reais pela habilitação vencida. Disse que teria soprado o aparelhinho se sua habilitação não estivesse vencida.

O publicitário Paulo Vasconcelos lembrou que o tema drogas já havia surgido na disputa pelo governo de Minas em 2002. “O Newton Cardoso botou um comercial no ar insinuando que um dos candidatos cheirava cocaína. E o comercial, com toda sutileza, sinalizava que era o Aécio. O Aécio ganhou no primeiro turno”, disse Vasconcelos, que conduziu todas as campanhas vitoriosas do tucano.

Anos depois, em 2008, no jogo Brasil e Argentina, no Mineirão, Aécio foi surpreendido por um canto inusitado da torcida: “Ô Maradona/Vai se foder/

O Aécio cheira mais do que você.” Jornalistas esportivos que presenciaram a cena relembram que Aécio atribuiu o fato à torcida atleticana, rival do seu Cruzeiro. Mais uma vez, ignorou o episódio.
“É claro que tem uma turma que acha ótimo dizer que ele mexe com drogas, trafica, que leva diamante para fora do país, que ele bate em mulher”, disse Vasconcelos. “Mas todos em Minas sabem quem é Aécio Neves”, logo acrescentou. “Porém, quando você vai para um mundo onde ele é desconhecido, isso se torna um problema. Claro que é um problema. Claro que é desconfortável. A pergunta é: como é que você responde a isso?”

Aos 54 anos, Vasconcelos vai dirigir uma campanha presidencial pela primeira vez, apesar da vasta experiência com marketing político. Além dele – e de Andrea Neves – estão na equipe outros publicitários de peso: PC Bernardes (ex-África, de Nizan Guanaes), Guillermo Raffo (argentino que trabalhou com João Santana e Duda Mendonça) e Pablo Nobel (o argentino que integrava a equipe da campanha de Lula em 2002).

Afável, brincalhão e falante, Vasconcelos me recebeu numa produtora em São Paulo, no final de uma manhã de abril. Atrasou-se porque estava conversando com o ex-governador Alberto Goldman, que Aécio designou como coordenador de sua campanha em São Paulo.
 
Afinado com José Serra, Alberto Goldman é o vice-presidente nacional do PSDB. Vai trabalhar por Aécio ao lado do vereador Andrea Matarazzo, também um ferrenho serrista, escolhido para articular a candidatura presidencial tucana na capital. A indicação de ambos foi uma sugestão de FHC, de Alckmin e do senador Aloysio Nunes Ferreira, nome mais cotado para ocupar a vaga de vice na chapa. Detectou-se que era preciso conter na origem a sabotagem interna. “Se a maioria do PSDB bentendeu que ele deve ser o candidato, é porque ele é o melhor candidato. A minha opinião sobre isso não tem a mínima importância”, disse Goldman.

O ex-governador de São Paulo conviveu com Aécio no Parlamento. Não o apoiou na disputa pela presidência da Câmara em 2001, nunca se frequentaram. Hoje Goldman reconhece que Aécio adquiriu maturidade política, sobretudo após a vivência como governador: “Ele está se preparando bem, com ideias novas. Tem visão bastante realista das dificuldades.” Perguntei se a vida privada do mineiro poderia lhe trazer danos eleitorais. “Não tem nenhuma importância se ele vai para festa, não vai para festa, se é alegre, se é triste, se é ranzinza. Ninguém vai casar com ele, né? Ninguém vai deitar na cama com ele, né? Em princípio, pelo menos... A maioria pelo menos não”, respondeu, finalizando com uma longa gargalhada.

Ao ser questionado sobre as motivações da escolha de dois serristas para coordenar sua campanha no estado, Aécio gracejou: “Não tem que ser unidade? Então, foi isso.” Aliados do senador explicaram o que de fato vai ocorrer. O mineiro, que além do talento para a conciliação tem a desconfiança em seu DNA, planeja uma espécie de “campanha paralela” em São Paulo. Sabe que não pode ficar de braços cruzados esperando a boa vontade de Alckmin e de Serra. O foco do primeiro é a sua reeleição em São Paulo; para isso, está disposto até a abrir o palanque a Eduardo Campos se o PSB o apoiar no estado. “O Geraldo Alckmin é uma pessoa que joga na retranca. Mas ele joga. E é leal ao partido”, definiu FHC, apostando que, desta vez, “vamos conseguir unificar São Paulo”.

O congresso de municípios paulistas em Campos de Jordão no dia 22 de março foi uma das poucas agendas que Aécio e Alckmin compartilharam no primeiro semestre. Caminharam lado a lado pelas ruas da cidade, até que Aécio foi abordado pela equipe do programa CQC e Alckmin seguiu incólume, de mãos dadas com Lu Alckmin. Perderam-se um do outro. Aécio entrou no local do evento inquieto, cercado por repórteres. “Cadê o Geraldo, cadê o Geraldo?” Só o encontrou minutos depois, quando Alckmin já estava no palco. O escândalo da refinaria de Pasadena estava fresco e o momento era excelente para o mineiro ganhar popularidade ao defender a Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras. “Nós vamos ganhar a eleição”, ele me disse, sussurrando, enquanto caminhava espremido no meio de um bando de fotógrafos.

Alckmin fez um discurso grandiloquente, citando Santo Agostinho e Alexandre, o Grande. A menção a Aécio se deu quando falava do rei da Macedônia. Antes de partir para a Ásia, disse, Alexandre distribuiu todos os bens e foi indagado sobre o que reservaria a si próprio; retrucou que seria a esperança. “Você é nossa esperança, Aécio.” O mineiro chamou o governador de “parceiro e amigo. Hoje e no futuro”. O evento se estendeu por horas. A partir de certo momento, Aécio passou a olhar com impaciência para o relógio. Saiu de lá às pressas, justificando que viajaria para a Bahia, onde participaria, à noite, do aniversário de 15 anos da filha do peemedebista Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Lula. “Vou lá dar um espírito mineiro aos baianos.” Semanas depois, Geddel anunciou que seria candidato ao Senado na chapa tucana.
 
Encontrei Aécio para esta reportagem pela primeira vez na véspera do lançamento da candidatura de Pimenta da Veiga ao governo mineiro. Ele me recebeu em seu apartamento funcional em Brasília, num café da manhã às 8h30. Apareceu na sala sorridente, vestindo terno e gravata. Disse que havia despertado às 6 horas, correra por 45 minutos e lera os jornais. Entre goles de suco de melancia com maracujá e mordidas no pão de queijo, falou de sua candidatura com muito otimismo, o mesmo que manifestou meses depois ao cochichar – “nós vamos ganhar essa eleição” – no evento de Campos do Jordão. Já naquela manhã de fevereiro, porém, Aécio fez a ressalva: “Se perder, tudo bem.” Disse não precisar da política “para viver e ser feliz”.

Na última conversa pessoal que tive com o senador, o mesmo paradoxo entre otimismo pela candidatura e desapego pela política voltou a se manifestar. Estávamos num jatinho, no trajeto entre Brasília e Ribeirão Preto. “Se eu vencer as eleições vai ser muito bom para o Brasil. Vou tentar fazer o melhor governo da história. Mas se eu não ganhar as eleições, e pode ser que isso aconteça, vai ser muito bom para mim do ponto de vista pessoal.”

Aécio referiu-se à política como algo “muito chato”, “uma convivência muito desgastante”, “um saco”. E emendou falando sem freios dos prazeres da vida: “Quando posso, pego uma prancha... Outro dia mesmo peguei umas ondinhas ali na Macumba [praia na Barra da Tijuca] com um amigo meu.” No arremate, porém, a gangorra do discurso pendeu novamente para a missão pública: “Agora, claro que eu estou determinado a construir esse projeto para o Brasil. E cada vez mais eu acho que, outros quatro anos desse pessoal do PT, nós todos vamos sofrer muito.”

No trajeto o tucano cochilou por quinze minutos, sem nenhum constrangimento, esticando as pernas. Acordou e pediu um energético a um assessor. Mostrou-me as botinas marrons novas que tinha comprado na véspera da visita ao Agrishow, a feira de agropecuária da cidade. “O pessoal de São Paulo é chique”, zombou. Eu já havia percebido seu cuidado maior com o visual. Passou a cortar os cabelos com mais frequência e a usar ternos impecáveis. “Faço alguns no Ricardo Almeida e outros lá em Belo Horizonte, no Geraldino, um senhorzinho daqueles tradicionais”, contou.

Depois de ter reclamado do sanduíche frio de filé, Aécio mascava um chiclete. Já estávamos em procedimento de descida em Ribeirão Preto, e ele, passando as mãos pelos cabelos, observava pela janela a paisagem do estado cujo eleitorado mais cobiça, sem nenhuma certeza do apoio real que terá do seu partido: “Vamos fazer nossa caminhada. Ganhamos? Que bom para o Brasil. Perdemos? Vamos para Harvard, né?”

http://www.polibiobraga.com.br/aecio.htm

BARROSO SOB PRESSÃO




Sem ruborizar, vozes que pediam "celeridade" na AP 470 criticam novo relator, que prometeu uma decisão rápida aos réus

A pressão sobre o ministro Luiz Roberto Barroso, novo relator da AP 470, obedece a uma finalidade óbvia: eternizar o ambiente de perseguição política que Joaquim Barbosa construiu em torno de José Dirceu, José Genoíno e demais condenados pelo STF.

Sentindo-se em posição de orfandade, agora que se forma uma nova maioria no tribunal, aliados de Joaquim procuram chantagear o novo relator.

Critica-se Barroso por ter lembrado que quem está preso tem pressa – quando essa afirmação merece elogios, não só pelo aspecto humanitário, mas também por revelar uma compreensão adequada da natureza do Direito. No caso da AP 470, a crítica expressa uma incoerência de envergonhar. As mesmas vozes que passaram meses cobrando “celeridade” da Justiça, aceitando atropelos diversos em direitos e prerrogativas dos réus -- inclusive a manutenção do sigilo sobre o inquérito 2474 com o argumento que ele poderia contribuir para atrasar a decisão -- agora têm coragem de criticar Barroso porque ele prometeu rapidez aos condenados.

Discursos festivos à parte, é preciso cultivar um desprezo profundo pelo direito de homens e mulheres a viver em liberdade para não enxergar o caráter inaceitável de manter uma pessoa presa por 24 horas – ou mesmo uma hora, ou 15 minutos – de forma injusta ou arbitrária.

O que se quer, é claro, não é defender a liberdade nem o direito das pessoas. A caminho da mais disputada eleição presidencial desde 2002, pretende-se manter o ambiente de espetáculo e castigo, com a convicção de que será util nas urnas. O que se quer é impedir que críticas cada vez mais amplas sobre o julgamento, envolvendo vozes insuspeitas do judiciário e dos meios acadêmicos, despertem a curiosidade e a dúvida de cidadãos e eleitores.

Em qualquer caso, não custa lembrar que, do ponto de vista da Justiça, a decisão já virá com atraso.
Condenado ao regime semi aberto, José Dirceu já completou sete meses em regime fechado, situação que contraria uma jurisprudência de mais de quinze anos da Justiça brasileira. José Genoíno só retornou a Papuda depois que sucessivas juntas médicas foram convocadass a produzir laudos e mais laudos até que se chegasse a um documento cuja finalidade real não tem a ver só com a medicina, mas com a polícia -- um atestado médico de grande utilidade para evitar denúncias de responsabilidade caso venha a ocorrer um acidente ou mesmo tragédia durante sua permanência na prisão. Não por acaso, o procurador-geral, Rodrigo Janot, já se manifestou a favor de Genoíno.
Outros presos da AP 470 foram liberados e aprisionados de novo ao sabor de conveniencias de momento, a partir de denuncias absurdas de privilégios e regalias que jamais foram comprovadas.

São estes casos que Barroso irá examinar nos próximos dias, com a intenção de chegar a uma solução antes do recesso do Judiciário, que começa a 1 de julho. Preparando-se para deixar o STF numa saída que “não poderia ser menos gloriosa,” nas palavras de Merval Pereira, Joaquim Barbosa já recebeu o pedido de colocar o assunto em pauta, na quarta-feira. Poderá fazê-lo, ou não. A pauta é uma decisão do presidente, diz o estatuto do STF. Se não o fizer, levará Barroso a tomar a decisão de forma monocrática, o que é direito do relator. Não surgiram, até agora, razões jurídicas capazes de fundamentar uma decisão contra os réus..

Ao renunciar a posição de relator da AP 470 o ministro Joaquim Barbosa deu explicações que chamam atenção pelo absurdo. O ministro acusou os advogados dos réus de “agir politicamente.” Antes fosse verdade.

Ao longo de todo julgamento a defesa optou por uma atuação de caráter técnico, de quem acreditava que a AP 470 seria um processo igual a todos os outros, com a preservação dos direitos e garantias assegurados aos milhares de brasileiros que, todos os dias, com motivos justificaveis ou não, são levados a prestar contas a Juistiça. Os advogados cobraram fatos e provas robustas e, na medida em que eles nunca foram apresentados, apostavam na absolvição da maioria de seus clientes.
Não estavam aptos para enfrentar uma ofensiva de conjunto contra os réus. Não imaginaram que iram enfrentar uma força que pretendia arrancar condenações de qualquer maneira.

Num dos momentos culminantes da fase final do espetáculo, quando o recém-chegado Barroso lembrou a denuncia de que as penas haviam sido agravadas artificialmente para permitir condenações em regime fechado, o próprio Barbosa confirmou ao vivo e a cores que havia sido assim mesmo – e ninguém interrompeu o debate, nem pediu maiores explicações, nem achou que era muito estranho nem cobrou nada.

Quem agiu politicamente, no início, no meio e no fim, foi a acusação. A partir da noção de que o país precisava de “exemplos” para deter a corrupção do sistema político, aceitou-se abolir garantias importantes para a defesa dos réus. Negou-se o direito a um segundo grau de jurisidição a toda pessoa que não tem prerrogativa de foro, condição que atingia 90% dos acusados.

Durante o julgamento, ocorrido em 2012, um ano eleitoral, os ministros permitiram-se fazer críticas de caráter político ao Partido dos Trabalhadores, chegando a denunciar que pretendia eternizar-se no poder graças a um sistema financeiro de “compra de votos” que “conspurcava” a vontade do eleitor. Contrariando documentos disponíveis nos autos, ministros falavam em desvio de dinheiro publico -- sem que fosse possível apontar um único centavo retirado dos cofres do Banco do Brasil, onde, conforme a acusação, ocorriam as falcatruas.

Derrotado nos embargos infrigentes, a atuação recente de Joaquim Barbosa não passou de uma tentativa de revogar, na prática, os benefícios a que os réus teriam direito depois que o plenário do STF retirou a condenação por quadrilha. Mais uma forma de “agir politicamente.”

É neste ambiente que Luiz Roberto Barroso terá a responsabilidade de fazer Justiça.

http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/coluna/369266_BARROSO+SOB+PRESSAO