segunda-feira, 30 de junho de 2014

PML E OS QUE JÁ PERDERAM A COPA


Não vai ter Copa começou como uma brincadeira e acabou por revelar a vocação de vira-lata


A partir do Blog do Miro, o Conversa Afiada reproduz artigo de Paulo Moreira Leite:

QUEM JÁ PERDEU A COPA NO BRASIL




Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

O Brasil não ficou melhor nem pior com o Mundial.

Mas, acima de tudo, a Copa de 2014 está sendo, para os brasileiros, uma experiência cultural confortadora. Não vamos ser completamente ingênuos. A partir da versão que era preciso aguardar desastres inevitáveis e inúmeras provas de incompetência durante o Mundial, o Imagine na Copa e o Anti-Copa só tentavam nos convencer de que um grande fracasso se aproximava. Deu errado.

A crítica foi tão exagerada, tão desmedida, que a realidade mostrou-se muito melhor do que se queria imaginar. O choque foi muito grande. Equivale a acordar de um pesadelo.

Num tempo de realidades globalizadas, o Mundial permitiu aos brasileiros conhecer o novo lugar do país entre as nações do mundo. E eles estão gostando daquilo que podem enxergar.

Por muito tempo, fomos ensinados a só gostar daquilo que se via lá fora. Nem futebol tinha importância porque “só” era popular no Brasil e outros países parecidos, pobres, pretos, periféricos…

Hoje, o país sedia um campeonato que mobiliza uma plateia que formará uma audiência somada de 20 bilhões de bilhões de pessoas no mundo inteiro, ao longo de todas as partidas. Até os norte-americanos querem feriado para assistir a Copa.

É isso: o Mundial mostra aos brasileiros que eles tem motivos para gostar de seu país. Talvez ajude a diminuir, um pouquinho, quem sabe, nosso complexo de vira-lata.

Era isso, claro, que se temia e se queria impedir.

Quando a Copa chega às oitavas-de-final, e 75% das partidas foram disputadas, com recorde de gols marcados em mais de meio século, a única dúvida sobre o Mundial envolve aquela angustia maravilhosa que vai nos acompanhar até o apito final, em 13 de julho, no Maracanã: qual seleção será campeã?

É bom que seja assim.

Estamos falando de futebol, não de política. Quem não soube distinguir as proximidades e distâncias destes universos, perdeu a Copa na partida inaugural, aquela do VTNC, e foi eliminado sem nenhum ponto ganho.

Os brasileiros aproveitam cada instante para festejar e celebrar o Mundial e as alegrias que proporciona. Cantam, bebem, se esborracham. Dispensando intermediários de imensa desfaçatez e inacreditável ganância, namoram à vontade e beijam com gosto. Adoram feriados. Aplaudem a beleza dos estádios, mais confortáveis e seguros do que jamais visto no país. Aproveitam aeroportos, onde atrasos e cancelamentos de voos estão num padrão aceitável para a ocasião.

Pode-se encontrar até taxistas que falam bem da Copa, o que vai contra o código de ética de uma categoria habituada a reclamar de tudo.

Concordo com quem reclama do preço dos ingressos, que são altíssimos para um país de renda como o nosso. A queixa é certíssima. Sempre será possível pedir preços mais em conta mas é razoável lembrar que não se pode querer um espetáculo milionário, com fortunas para suas estrelas, de tamanho global, com preço de quermesse junina. Um ingresso para um jogo da Copa nunca vai custar barato.

O futebol tornou-se uma parcela dos investimentos de marketing de grandes empresas globais, que moldam o capitalismo no mundo inteiro.

Mesmo assim, e isso tem um divertido aspecto surrealista, não custa lembrar quem foram os campeões do “anti-Copa”, os influentes, aqueles que contam, que colocaram a coisa no debate: grandes campeões da iniciativa privada, porta-vozes das causas mais reacionárias. Não custa lembrar que, em 14 de janeiro, você podia ler o seguinte apelo nas páginas de dois dos mais tradicionais jornais do país:

“A maior Copa de todos os tempos na frase de Dilma, é a Copa mais cara da história. A festa macabra da Fifa, bancada com dinheiro público, simboliza a inigualável soberba do lulismo. Que as pessoas voltem às ruas desde a hora do apito inicial e, no entorno das arenas bilionárias, até a cerimônia de encerramento, exponham ao mundo a desfaçatez dessa aliança profana entre os donos do negócio do futebol e os gerentes dos “negócios do Brasil”. Que a polícia trate com urbanidade os manifestantes -e com a dureza da lei os vândalos mascarados.”

Não há nada de errado em criticar investimentos da Copa. Ninguém é obrigado a achar que um país deve sediar um campeonato mundial de futebol. Na época devida, 2007, eu também me perguntei: por que? Para que?

Depois da crise de 2008, a Copa revelou-se uma ideia mais útil do que parecia. Ajudou a economia a crescer – 0,5% do PIB anual – e a criar empregos. O debate mudou: se é verdade que hoje o país cresce menos do que se gostaria, a média de crescimento seria ainda pior sem a Copa.

No debate político de fundo, que se prolongará até as urnas de 2014, investir na Copa foi uma forma de evitar a recessão e rejeitar a austeridade que derrubou a maioria dos países da Europa. Simplificando: Neymar, Messi & os outros ajudaram as ideias de John Maynard Keynes — economista que ensinou o capitalismo a criar empregos e crescimento com apoio do Estado — a entrar em campo.

Será por isso que o Anti-Copa ganhou tanta força? Difícil negar, ainda que se tratava, vamos combinar, de uma ideia que já nasceu condenada a morte.

Baseava-se no desprezo por um sentimento profundo do povo, que é o gosto pelo futebol, que ajudou os brasileiros a construir sua nacionalidade, em particular depois da Copa de 1958, onde se cantava que “com o brasileiro não há quem possa.” (E nós sabemos como a turma anti-Copa, que desembarcou aqui de caravelas, considera o nacionalismo verde-amarelo um atraso, um “populismo”). A única forma de assegurar alguma vitalidade ao ambiente anti-Copa era produzir informaçõesa parciais e manipuladas, o que implicava em esconder dados reais sobre os estádios, sobre investimentos em educação, aeroportos e até sobre a isenção fiscal combinada com a FIFA.

Não vamos falar do tratamento generoso que todas as manifestações –anarquistas, stalinistas, tucanas, liberais e fascistas – receberam nos últimos meses. Até vídeos em inglês, com legendas em português!, foram recebidos com simpatia e calor.

E me diga quantas vezes você pode ler manifestações a favor da Copa. Estou falando, e este é um exemplo, do jornal do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá onde se diz o seguinte: “Não seremos contaminados pelo pessimismo dessa elite que apodrece a olhos vistos, porque nossa alegria de ser brasileiro é imbatível.” O texto lembra que não” desanimávamos quando éramos submetidos a uma inflação de mais de mil por cento por ano, quando o Brasil era governado pelos militares para concluir que “nossa vida é só alegria. E trabalho, muito trabalho.”Na semana passada, o mesmo boletim do sindicato dizia na manchete: “Mostramos nossa alegria e capacidade de trabalho para o resto do mundo.” Detalhe: o sindicato é ligado a Força Sindical, aquela central que promete apoio a oposição.

Na Folha de hoje, 28 de junho, Ruy Castro fala do tempo em que “Não ia ter Copa”. Chama manifestantes que tentavam impedir a Copa de “desajustados mentais” e reconhece:

“Nós, da mídia, fomos essenciais para esse pessimismo, denunciando a Fifa como Estado invasor, o fracasso na preparação da infraestrutura exigida para receber os visitantes e a diferença entre o custo estimado dos estádios e o custo real –embora não me lembre de nenhuma reportagem dizendo para onde foi o dinheiro. O ‘ Imagina na Copa!, que começou como uma brincadeira, tornou-se a sentença para a nossa inabalável vocação para o subdesenvolvimento.”

Pois é, meus amigos.

http://www.conversaafiada.com.br/economia/2014/06/30/pml-e-os-que-ja-perderam-a-copa/

Se a mídia mentiu assim na Copa, imagina nas eleições


Imagina nas eleições 

Poucas vezes viu-se tamanha desinformação como antes desta Copa. A previsão era dantesca. Caos nos aeroportos, estádios incompletos, gramados incapazes de abrigar jogos de várzea, tumulto, convulsões sociais, epidemias. Os profetas do caos capricharam: alguns apostaram que as arenas só ficariam prontas após 2030. Só faltou pedirem à população que estocasse alimentos em face da catástrofe. 

Diante de um cenário diametralmente oposto, os mensageiros do apocalipse ensaiam explicações. A principal é a de que a alegria do povo brasileiro suplantou a penca de problemas que estava aí, a olhos vistos, e ninguém queria enxergar. Desculpa esfarrapada. 

Se é inquestionável que os brasileiros têm uma tradição amistosa, ela por si só não ergue estádios decentes, melhora aeroportos, acomoda milhares de turistas e garante acesso aos locais das partidas. Problemas? Claro que houve, mas infinitamente menores do que os martelados pela imprensa em geral. Muita gente mentiu, ou, no mínimo, não falou toda a verdade --o que em geral dá no mesmo.
Durante um tempo quase infinito, os brasileiros foram vítimas de uma carga brutal de notícias irreais. Se tudo estava tão atrasado e fora dos planos, como a Copa acontece sem contratempos maiores do que os de outros eventos do gênero? Talvez o maior legado deste choque entre fantasia e realidade seja o de que, acima de tudo, cumpre sempre duvidar de certas afirmações repetidas como algo consumado. 

A profusão de instrumentos de informação atual, ainda bem, oferece inúmeras alternativas para que opiniões travestidas de certezas sejam postas à prova. Mais do que nunca, desconfiar do que se ouve, assiste e lê é o melhor caminho para tentar, ao menos, aproximar-se do que é real. 

No final das contas, é bom que essa distância entre versão e fato tenha ficado escancarada num ano eleitoral. Se com a Copa foi assim, imagine doravante, quando está em jogo o cargo mais importante da República. A enxurrada de algarismos para mostrar um país à beira do abismo ocupa boa parte do noticiário "mainstream". Na outra ponta, estatísticas de toda sorte surgem para falar o inverso. Quem tem razão?
 
Nessa hora, o decisivo é avaliar como está a vida do próprio cidadão e como ela pode ficar se vingar a proposta de cada candidato. O mais difícil, como sempre, é descobrir se estes têm coragem de dizer o que realmente pretendem realizar.
 
ME SUGA QUE EU TE SUGO
 
O ciclo de convenções partidárias dá uma ideia do nível da campanha pela frente. A convenção do PSB de Campos e Marina elegeu como lema tirar o país do "atoleiro". Antes disso, porém, seria preciso tentar resgatar a própria legenda do lodaçal. Anunciado como terceira via, o acordo entre Campos e Marina até agora não exibiu nada de diferente da velha política que dizia combater. Mas suas alianças país afora parecem autoexplicativas.
 
Já a convenção estadual paulista do PSDB seria apenas cômica, não fosse ainda mais cômica. O ponto alto, se é que houve algum, foi o discurso do candidato à Presidência Aécio Neves. Ao se referir ao PT, ele disse: "Infelizmente, a vitória para eles não significou apenas uma oportunidade de exercer uma proposta de poder mas a possibilidade de ascensão econômica."
 
O impressionante é que ele não ficou sequer ruborizado, embora seu partido acoberte pessoas como Robson Marinho, para citar apenas São Paulo, e outros tantos que enriqueceram na base da rapinagem do dinheiro do povo. Bem, tudo se pode esperar de quem outro dia recomendou a eventuais futuros aliados hoje no governo federal: "Vão sugar um pouco mais. Façam isso mesmo: suguem mais um pouquinho e depois venham para o nosso lado". De preferência com a mala cheia.
 
http://saraiva13.blogspot.com.br/2014/06/se-midia-mentiu-assim-na-copa-imagina.html

'Não vai ter Copa' virou 'Não vai ter Hexa'

247 – O colunista Ricardo Kotscho critica “nossa mídia familiar e os coxinhas tucanos da elite que vão aos estádios da Copa”, que insistem em discursos derrotistas sobre o Mundial. Leia:

Mudaram o Não vai ter Copa pelo Não vai ter Hexa

Eles não esquecem, não perdoam e não aprendem. E não desistem. Para a nossa mídia familiar e os coxinhas tucanos da elite que vão aos estádios da Copa, como mostra a Folha deste domingo, o Brasil simplesmente não pode dar certo, nem dentro nem fora do campo.

Sem jogar nenhuma maravilha, a seleção brasileira vinha fazendo sua melhor partida até aqui, contra o Chile, neste sábado, no Mineirão, até marcar o primeiro gol. Parecia até que seria fácil a classificação para as quartas de final. De repente, numa bobeada grotesca de Hulk, que deu de presente o gol de empate para La Roja, até então assustada em campo, mudou tudo. A nossa torcida chique silenciou, a seleção de Felipão se perdeu, e os chilenos tomaram conta da festa.

Nas praias do Nordeste, os bugueiros (não confundir com blogueiros) costumam perguntar ao turista se prefere fazer os passeios pelas dunas com emoção ou sem emoção. Para nós, ninguém perguntou nada, mas a teimosia do nosso técnico em não mexer no time quando as coisas não estão dando certo, mantendo dois laterais que não marcam nem atacam, e deixam avenidas às suas costas, um meio de campo sem criatividade e o cone Fred estático no meio do ataque, fez do jogo um sofrimento sem fim até a cobrança do último pênalti.

Vejam como é a vida: pois foi esta mesma teimosia mostrada por Felipão ao manter Julio César no gol, contra a vontade de 10 entre 10 comentaristas e torcedores, porém, que acabou sendo o principal responsável pelo Brasil garantir a vaga para a próxima fase. Em lugar de Neymar, que joga numa solidão danada, o herói desta vez foi Julio César, o goleiro crucificado pela nossa eliminação no jogo contra a Holanda, na Copa de 2010.

Quem poderia imaginar uma reviravolta dessas? Só conheci uma pessoa, além de Felipão, que defendeu Julio César antes e durante o jogo, a minha amiga Ana Paula Padrão, com quem assisti ao jogo ao lado de outros amigos aqui no bar da esquina.

Até o Sebastian, meu primo alemão que vive nos Estados Unidos e está adorando o Brasil, acabou sofrendo junto, cada vez que errávamos mais um passe e o time simplesmente não conseguia chegar ao gol do Chile. "Eu não disse?" comemorou a Ana Paula ao ver Julio César fazer uma defesa impossível e depois defender dois pênaltis.

Se já não era muito grande a confiança na conquista de mais um título porque esta Copa revelou ótimas seleções, como a da Colômbia, que estão jogando um futebol melhor do que o nosso no momento, agora a urubuzada da imprensa deitou e rolou diante das dificuldades que encontramos, depois de muita emoção, para seguir em frente na Copa. E tem graça futebol sem surpresas e emoções?

Após passar o ano inteiro jogando no "Não vai ter Copa" e batendo pesado no governo, que seria incapaz de organizar um evento como esse sem colocar em risco os torcedores nativos e as seleções visitantes, além dos cofres públicos, eles acabaram se rendendo à grande festa em que se transformou esta Copa no Brasil, e até já estão fazendo autocríticas envergonhadas sobre o erro das suas previsões apocalíticas. Agora, com a maior cara de pau, simplesmente colocam a culpa na "imprensa estrangeira", como se não tivessem sido eles próprios que alimentaram o noticiário negativo desde que o Brasil foi escolhido, sete anos atrás, para sediar a Copa.

Como se dissessem, tudo bem, a Copa é um sucesso, mas vocês vão ver a ressaca que virá depois, agora jogam tudo nas fragilidades da nossa seleção, mudando o discurso para "Não vai ter hexa". Felipão pode até ter um estalo e acertar o time para o próximo jogo que eles vão continuar torcendo contra e anunciando o fim do mundo. Se fora de campo tudo está funcionando muito bem, então dentro do campo tem que dar tudo errado.

Ganhar ou não o hexa pode depender de mil coisas, inclusive da sorte na cobrança de pênaltis e das virtudes de adversários cada vez mais fortes daqui para a frente. Como disse um amuado Felipão na véspera do jogo, se perdermos, não vai ser nenhuma tragédia, e a vida vai seguir em frente. Só uma certeza eu tenho: para quem jogou tudo no caos para desgastar o governo e ficou até com vergonha do Brasil, no entanto, esta Copa já foi perdida. Eles parecem ter nascido para perder.

Que venha a Colômbia!

http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/145134/Kotscho-%27N%C3%A3o-vai-ter-Copa%27-virou-%27N%C3%A3o-vai-ter-Hexa%27.htm