quarta-feira, 23 de julho de 2014

AÉCIO E SUA “BOLSA FAMÍLIA”: PARASITISMO ESTATAL PARA SI, LIBERALISMO PARA OS OUTROS



por Luis Carlos da Silva, especial para o Viomundo

Em várias declarações já ouvimos Aécio dizer que os petistas não podem perder a presidência da República, dentre outros motivos, para não ver cair seu padrão de vida. Provocação barata que ocupa o espaço dos debates estruturais que deveriam presidir uma disputa eleitoral da magnitude desta que temos à frente.

Mas, entremos no clima por ele proposto.

Aécio, de fato, não precisa se preocupar com seu padrão de vida. Ganhando ou perdendo eleições. Aliás, nunca se preocupou. Descendente das oligarquias conservadoras mineiras, que foram geradas nas entranhas do Estado, desde o império, ele não tem a menor ideia do que seja empreender na iniciativa privada. Do que seja arriscar em negócios e disputas de mercado. Do que seja encarar uma falência, uma cobrança bancária, uma perda de patrimônio.

Pasmem: é esse o candidato que faz apologia do livre mercado, da iniciativa individual como base para a ascensão social e da ideia do “cada um por si” como critério de sobrevivência na selva do capitalismo contemporâneo.

Até sua carreira eleitoral tem como fato gerador a agonia terminal do avô, cuja morte “coincidiu” com o dia de Tiradentes . Seu primeiro cargo eletivo é tributário disso: em 1986 ele obteve mais de 200 mil votos para deputado federal sem lastro político próprio. Quatro anos mais tarde, distante do “fato gerador”, ele se reelegeu com magros 42.412 votos.

Reitera-se: trata-se de um “diminuto resumo”. A história de seus avós paternos e maternos é a reprodução integral de como foram formadas as elites mineiras: indispensável vínculo estatal (cargos de confiança no Executivo, cartório e muita influência no Judiciário), formação de patrimônio fundiário à base da incorporação de terras devolutas e estreitas ligações com carreiras parlamentares.

O pai, Aécio Cunha, por exemplo, morava no Rio de Janeiro quando, em 1952 retorna a Belo Horizonte e, com 27 anos de idade, em 1954, “elegeu-se deputado estadual, pela região do Mucuri e do Médio Jequitinhonha, ainda que pouco conhecesse a região (…)” conforme descrição no Wikipédia. Seus oito mandatos parlamentares nasceram de sua ascendência oligarca. Do avô materno, Tancredo, dispensa-se maiores apresentações. Atípico sobrevivente de várias crises institucionais que levaram presidentes à morte, à deposição e ao exílio, Tancredo Neves sempre esteve na “crista da onda”. Nunca como empresário. Quase sempre como interlocutor confiável dos que quebravam a normalidade democrática.

Aécio Neves, por sua vez, era um bon vivant quando passa a secretariar o avô, governador de Minas Gerais, a partir de 1983. Nunca foi empresário, nunca prestou concurso público, nunca chefiou nenhum empreendimento privado. Sua famosa rádio “Arco Íris” foi um presente de José Sarney e Antônio Carlos Magalhães. Boa parte de seu patrimônio é herança familiar construída pelo que se relatou anteriormente. O caso do aeroporto do município mineiro de Cláudio é apenas mais uma ponta do iceberg.

Enfim, ele é isso: um produto estatal que prega liberalismo, competição, livre mercado… para os outros. Uma contradição em movimento. Herdeiro, portanto, de uma típica “bolsa família”; só que orientada para poucos.

Aliás, esse parasitismo estatal é característico da maior parte das elites brasileiras. Paradoxal é defenderem os valores neoliberais.

Luis Carlos da Silva é sociólogo e assessor do bloco Minas Sem Censura

http://www.viomundo.com.br/politica/aecio-e-sua-bolsa-familia-parasitismo-estatal-para-si-e-liberalismo-para-os-outros.html

Haddad e a autofagia brasileira com seus talentos

http://jornalggn.com.br/noticia/haddad-e-a-autofagia-brasileira-com-seus-talentos

A campanha encetada contra o prefeito de São Paulo Fernando Haddad é a prova incontestável de como o país gosta de devorar seus principais ativos intelectuais.
Haddad não é apenas prefeito de São Paulo, eleito pelo PT. Provavelmente é o melhor quadro público que o país produziu nas últimas décadas. Seu trabalho técnico e político à frente do MEC (Ministério da Educação) mostra uma visão de futuro e uma capacidade de formulação inédita na administração pública brasileira - federal ou de qualquer estado.
Haddad demonstrou não apenas ser um iluminista, perseguindo as mudanças e antenado com os temas contemporâneos - ao contrário dos retrógrados e conformados que pululam no seu partido e nos demais - como um formulador de primeiríssima, casando visão técnica com política - entendido, aí, a capacidade de identificar resistências e contorná-las.
Graças à sua insistência, conseguiu criar o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), que significou um corte na educação brasileira, enfrentando com persistência e argumentos a visão míope-fiscalista do então MInistro da Fazenda Antonio Pallocci.
Sua insistência com o ENEM abriu possibilidades sem precedentes para os jovens de menor poder aquisitivo, uma matrícula única permitindo a 8,5 milhões de candidatos prestar um único exame e ter acesso - de acordo com sua nota - ao universo de faculdades públicas e privadas.
Não existe paralelo em outro país de exame com tal amplitude - e absoluta ausência de problemas. O ENEM só foi notícia na fase inicial de implantação, quando apresentava alguns problemas. Depois que ficou azeitado, deixou de ser notícia.
Há outras revoluções feitas por ele, como a política nacional de inclusão de pessoas com deficiência na rede regular de ensino. São 800 mil crianças, que antes dependiam do modelo de exclusão das APAEs (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e que foram incluídas na rede regular com amplo suporte garantido pelo MEC.
O Reuni (Recuperação e Expansão das Universidades Federais) permitiu a abertura de centenas de novos campi, descentralizando o ensino superior.
Em todos esses momentos, Haddad mostrou-se impermeável tanto à pressão do liberalismo educacional inconsequente quanto do corporativismo que existe no meio.
Quando resolveu ampliar o número de vagas nas universidades públicas, enfrentou uma manifestação de professores considerando absurdo salas de aula com mais de 15 alunos. Respondeu que ficaria mais satisfeito se visse cartazes protestando contra salas de aulas com menos de 15 alunos.
O Pronatec, o PROUNI, o FIES foram montados em parceria com o setor privado. E Haddad enfrentou as pressões corporativas, que o acusavam de pretender privatizar a educação.
Em todos os momentos, jamais fugiu da procura e da viabilização das grandes soluções.
Todos esses projetos foram montados sem preconceitos ideológicos, juntando forças já existentes, articulando ações entre agentes públicos e sociedade civil.
E foi esse espírito que levou para a prefeitura de São Paulo, enfrentando problemas seculares que todos seus antecessores recusavam-se a encarar.
Resolveu enfrentar o desafio do transporte coletivo, com os corredores de ônibus; o desafio da desospitalização dos dependentes de drogas, com a Operação Braços Abertos; o desafio de reduzir a segregação social que marca a cidade.
Se a velha mídia quer bater no PT, tenho uma infinidade de dicas. No Ministério de Dilma tem meia dúzia de ministros acomodados, sem espírito público, jogando apenas para a plateia.
Mas deixem Haddad trabalhar. Não privem a vida pública brasileira de alguém do seu quilate. É algo tão atrasado quanto seria as esquerdas crucificando Prestes Maia ou Olavo Setubal, devido à sua origem política.

Agora que não lhe tem mais nenhuma serventia Aécio Never se diz contra protestos



Os protestos de rua só beneficiaram a oposição. Basta ver os índices de aprovação do governo Dilma antes e depois. Dilma voava em céu de brigadeiro, a passos céleres para uma reeleição tranquila, sem sobressaltos, até que subitamente uma histeria coletiva tomou conta das ruas e a imagem da presidenta passou a deteriorar-se, a ser atingida em seu cerne, a de mulher competente e boa gestora. Desde então, entrou numa espiral, numa curva descendente, até conseguir paulatinamente recuperar a popularidade e consolidar sua candidatura como favorita a conseguir mais um mandato.

Daqui, cansamos de avisar a esses esquerdopatas do PSOL e seus acólitos que estavam entrando no perigoso jogo de entregar o país à direita hidrófoba, de colocar em risco todas conquistas implementadas pelos governos petistas. Da valoração do salário mínimo aos programas sociais que beneficiaram milhões de pessoas que só vieram a ter direitos nos governos do PT. Em vão. 

A velha mídia que ao longo de toda uma década buscava ansiosamente a "bala de prata" para ferir de morte o PT e apeá-lo do poder finalmente viu a grande oportunidade, nesses protestos de rua, para impor sua agenda política. Fazer valer a chance de voltar ao poder com o candidato da oposição. De modo que deu apoio incondicional aos protestos. 

Passou a televisá-los em tempo real em sua grade de programação. Mas quando não mais serviam aos seus objetivos políticos passou a descartá-los, a criminalizá-los. Como a população está majoritariamente contra a maneira pela qual os protestos são feitos, com extrema violência, depredações do patrimônio público e privado, num lance de puro oportunismo o candidato da oposição Aécio Never agora se diz contra os protestos e cobra posição da presidenta Dilma. 

Veja bem, quem mais se beneficiou se diz contra e quem mais foi prejudicada é cobrada quanto a dizer que posição defende em relação as prisões dos ativistas que eu chamo de terroristas. Isso é bem feito. ( Bem feito para esses supostos ativistas ) No frigir dos ovos quem vai está a favor desse pessoal será exatamente o Partido dos Trabalhadores pela sua história de luta e identificação com os movimentos sociais. 

A favor desses que queriam derrubar o governo da presidente Dilma e que agora são repelidos pela direita que ajudaram a recolocar no cenário eleitoral. Aliás o presidente do PT soltou nota repudiando as prisões dos ditos ativistas.

Não obstante, a eleição está voltando para seu leito normal, depois daquela curva descendente provocada pelos protestos de rua que só beneficiaram a oposição recolocada no cenário eleitoral pelos esquerdopatas do PSOL e seus acólitos, agora devidamente jogados na cova dos leões por Aécio Never e a velha mídia por não terem mais nenhuma serventia aos seus interesses políticos/ideológicos, o que dá a Aécio Never a cara de pau de vir a público cobrar da presidenta Dilma posição sobre a prisão dos tais "ativistas", os quais chamo de terroristas. 

Justo ela a mais prejudicada e que teria todas as razões do mundo para ser a favor da prisão deles, mas sinto que não é, embora não vá se manifestar. 

O cinismo, a desfaçatez e oportunismo do candidato da oposição parece não ter limites. Logo ele que deveria erguer as mãos para os céus e agradecer aquela histeria coletiva que trouxe a oposição de volta para a disputa. 

Sem as jornadas de Junho e as campanhas que delas resultaram, o NÃO VAI TER COPA E IMAGINA NA COPA, Dilma seria reeleita com o país relativamente unido e fechado com a reeleição, sem sobressaltos e maiores questionamentos. Diferente de agora que vai ter que fazer a disputa política em um clima de pessimismo e desconfiança que ainda persiste em alguns setores da sociedade. 

É assim que Never trata aqueles que só lhe ajudaram. A conta salgada ele apresenta para o governo e o PT. Que os tais ativistas reflitam diante da posição conveniente de Aécio agora que ficou claro que a população não aceita a forma como os protestos se encaminharam e eram organizados. Never chupou a cana e cuspiu o bagaço.

Getúlio, Lula, as eleições e o Estadão

Postado em 23 jul 2014
Fernão e os demônios
Fernão e os demônios
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A boa notícia, para Fernão Lara Mesquita, um dos herdeiros do Estadão, é que nunca um artigo seu repercutiu tanto na internet.
A má é que a repercussão se deu na forma de gargalhadas.
Fernão é, neste momento, uma piada digital.
Merecidamente.
Num texto pomposo e pretensamente profundo, Fernão atribuiu todos os problemas do Brasil a Getúlio Vargas.
Getúlio se matou e entrou para a história em 1954, mas segundo Fernão ele reencarnou em Lula.
Num universo distópico, há um foco de resistência aos dois demônios: São Paulo.
São Paulo, diz Fernão, resistiu primeiro a Getúlio, na fracassada rebelião de 1932. E, mais recentemente, vem resistindo ao PT.
Um capítulo importante dessa saga paulista contra o mal se dará, avisa Fernão, nas eleições de outubro.
Bem, já foi dito que editores ruins fazem mais mal aos jornais que a internet. Antes que a internet varresse a mídia impressa, o Estadão já fora vítima disso, dos maus editores.
Mais especificamente, maus donos, uma vez que os Mesquitas sempre se puseram na condição de jornalistas.
Nos anos 1980, a Folha passou o Estadão muito mais pelos defeitos deste do que por seus próprios méritos.
O Estadão não enxergou a importância do movimento das Diretas Já, e sofreu uma humilhante ultrapassagem sem retorno.
Compare as contribuições de Getúlio e dos Mesquitas, para voltarmos a Fernão.
Getúlio deu o voto para as mulheres. Eliminou o voto de cabresto. Criou leis trabalhistas que civilizaram o ambiente do trabalho no Brasil: limite de jornada, férias, fundo de garantia foram algumas das conquistas.
Estimulou a formação de sindicatos, para que os trabalhadores não ficassem à mercê das empresas. Industrializou o Brasil. Criou a Petrobras.
Também de extrema importância, Getúlio derrotou os paulistas em 1932.
Se São Paulo tivesse vencido, o Brasil retrocederia aos tempos brutalmente arcaicos da República Velha.
Getúlio, numa frase, inaugurou o Brasil moderno.
Mais?
Por coisas assim, os barões da mídia jamais perdoaram Getúlio. Há uma passagem significativa em sua história, contada por seu biógrafo, Lira Neto.
Deposto pela direita em 1945, Getúlio foi se recuperar do desgaste em seu berço, no sul. Recebeu, um dia, jornalistas.
Perguntou a um deles o que achava de um decreto do governo que estipulava um piso para o trabalho dos jornalistas.
O jornalista teceu grandes elogios à medida.
Getúlio então disse que fora exatamente por causa do piso para os jornalistas que os barões da imprensa se bateram tanto para derrubá-lo.
Olhemos agora para o outro lado: as contribuições do Estadão.
A passagem mais marcante dos Mesquitas, na história recente, foi a participação ativa na conspiração que levou à ditadura militar.
Mas, para Fernão, o mal está em Getúlio Vargas, agora reencarnado em Lula.
Para o Estadão, portanto, a luta continua.
Enquanto essa luta épica, sem fim e sem sentido consome a energia do jornal e de seus donos, outras coisas acontecem sem serem notadas.
A passagem do tempo, por exemplo. A mudança de mentalidade das pessoas.
E, nos últimos anos, a internet.
Se você se absorve completamente numa guerra, não consegue administrar outros problemas. Pior: não os vê.
O Estadão está condenado a morrer lutando, ontem, hoje, sempre, contra um fantasma, o de GV – sem enxergar a realidade que vai liquidá-lo.


Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/getulio-lula-as-eleicoes-e-o-estadao/