domingo, 27 de julho de 2014

Dois aeroportos e cinco perguntas que pairam no ar

Amanhã completa uma semana desde que foi revelado que o governo de Minas teria construído um aeroporto na fazenda do tio de Aécio Neves. Depois veio a público o fato de a construtora do aeroporto haver doado dinheiro para a campanha tucana, e de que o uso de dinheiro público em propriedades privadas não é exatamente novidade em MG. Além disso,  veio à tona  a história do aeroporto de Montezuma, onde o pai de Aécio tinha uma agropecuária. Mas de lá pra cá, ao invés de explicações, só surgiram mais dúvidas. O senador pouco aparece em público e não dá respostas a ninguém. Por isso muitas perguntas ainda pairam no ar. Vamos a elas:
1) Por que dos 14 aeroportos previstos pelo governo de Minas, apenas dois saíram do papel?
programa ProAero(link is external), lançado em 2003 pelo então governador Aécio Neves previa 14 novos aeroportos para Minas Gerais. Acontece que, daqueles, apenas dois saíram do papel: o Regional da Zona da Mata e, vejam só, o de Cláudio! Andrelândia, Barão de Cocais, Brumadinho, Buenópolis, Chapada Gaúcha, Itabira, Lagoa da Prata, Mantena, Monte Santo de Minas, Ouro Preto, Sete Lagoas e Volta Grande ainda estão no aguardo das obras, como afirmou reportagem da Folha de S.Paulo de hoje(link is external). Por que apenas dois saíram do papel e um deles é exatamente o de Cláudio, onde a família de Aécio tem fazenda?
2) Por que o aeroporto de Cláudio, concluído em 2010, ainda funciona irregularmente?
Ainda que o aeroporto de Cláudio tenha tido as obras concluídas em 2010, ele não tem autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para operar com o público. A Anac afirmou(link is external) que irá solicitar “informações sobre a suposta utilização irregular do aeródromo local, ainda não homologado pela Agência”.
3) Aécio usa o aeroporto de Cláudio? Quem mais?
Opa, mas se o aeroporto não tem autorização para funcionar, como funciona? Isso não sabemos. Mas temos certeza de que ele funciona, como afirmou Múcio Tolentino, ex-prefeito de Cláudio e tio-avô de Aécio. “Aquilo sempre foi de uso público por mais de 50 anos”, disse ao Estadão, em matéria publicada hoje(link is external). Será mesmo que o “aeroporto era para todo mundo usar, até Aécio”? Quem tem avião particular no Brasil? Quem usa serviço de transporte aéreo fretado? Parece que esse pessoal precisa aprender como é que se faz paratodo mundo usar um aeroporto.
E Aécio, usa rotineiramente o aeroporto de Cláudio? Já o usou alguma vez? Está difícil conseguir que o candidato responda a essa pergunta. Ontem, quando indagado novamente sobre o assunto(link is external), Aécio respondeu: "De novo? Essa matéria já foi mais que esclarecida. Todo homem público tem que esclarecer quaisquer questionamentos. O que é importante é que os esclarecimentos possam chegar à opinião pública. O Estado de Minas não fez um, fez mais de 30 aeródromos". Depois, ainda disse: "há uma exploração política, e é natural que haja. Eu tenho a oferecer ao Brasil uma vida correta."
4) Por que o governo de Minas admite pagar 20 vezes mais pelo terreno de Cláudio?
Em 2009, o governo de Minas ofereceu R$ 1 milhão em indenização pelo terreno de Cláudio. Mas o tio-avô de Aécio pediu mais,  R$ 9 milhões, e a contenda corre na justiça. Entretanto, agora o estado cogita ser possível pagar R$ 20,5 milhões pelo terreno. O valor consta na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2015(link is external), como mostrou o R7 hoje(link is external). Na LDO de 2013(link is external) e 2014(link is external), o valor máximo era de R$ 3,4 milhões. A Justiça, por enquanto, suspendeu a decisão para fazer nova perícia. Se o pagamento for confirmado, os gastos com indenização chegariam a R$ 33,9 milhões, mais do que o valor da construção do aeródromo.
5) Por que não há registro do aeroporto de Montezuma junto à Anac?
Sabe o aeroporto de Montezuma (cidade de apenas 7500 habitantes) cuja pista foi pavimentada na gestão de Aécio como governador,  que fica onde a família do senador tem propriedades rurais, que fica na terra de uma agropecuária em que Aécio é sócio? Então, esse aeroporto não tem registro na Anac e por isso não pode ser usado pelo público. "Não há, junto à Anac, aeródromo cadastrado ou homologado em Montezuma. Também não há aeródromo no município em processo de homologação/cadastro junto à agência", informou a Anac, em nota divulgada pela Folha hoje(link is external).
E aí, Aécio? Temos várias perguntas. Vamos conversar?
http://www.mudamais.com/divulgue-verdade/dois-aeroportos-e-cinco-perguntas-que-pairam-no-ar

Aecioporto: Aécio não passou no teste

Aecioporto
O escândalo do aecioporto foi o primeiro teste de vida real enfrentado pelo candidato do PSDB a presidente da República.
E ele foi reprovado.
Especular um pouquinho não mata ninguém, então vamos lá.
Um blogueiro amigo fez a pergunta: quem vazou a informação? Ora, agora que temos mais dados, sabemos que não era exatamente uma informação secreta. Há anos que Aécio usava o aeroporto de Claudio para descansar na fazenda de sua família, a seis quilômetros dali. Todo mundo na cidade via o aeroporto como uma propriedade privada da família Neves.
Ou seja, a informação pode ter vazado de mil maneiras. Por exemplo: o repórter da Folha, querendo alguma matéria sobre o candidato do PSDB, foi tomar uma cerveja num botequim em Belo Horizonte e o primeiro pinguço que conheceu na madrugada lhe contou o “causo” do aeroporto.
Acho mais provável isso do que a teoria de que Serra está por trás, embora também não a possa descartar.
Então os editores da Folha decidiram: “vamos fazer um teste com nosso candidato. Ele tem que mostrar couro duro se quiser ganhar eleição e manter um mínimo de estabilidade no governo. Afinal, teremos que publicar escândalos de vez em quando, e ele terá de aprender a lidar com isso”.
Talvez eles não esperassem o impacto profundo do escândalo nas redes sociais. O editorial da Folha deste domingo deixa transparecer a perplexidade do jornal com a magnitude do impacto do aecioporto nas redes sociais.
E aí eu faço outra especulação.
A repercussão gigantesca do escândalo do aecioporto não tem como pano de fundo nenhuma histeria moralista. Não acho sequer que se estourou mais uma dessas bolhas de ódio, que frequentemente atinge o PT.
Tenho a impressão que a repercussão alastrou-se tanto porque o episódio revela a personalidade política de Aécio Neves.
Preenche uma lacuna que já começava a incomodar os brasileiros: quem é, afinal, esse homem da oposição que apregoa ser o único capaz de derrotar a situação?
Mais que uma denúncia, é um episódio revelador, ilustrativo, pedagógico.
Aécio Neves revelou-se, para um Brasil profundamente angustiado pelo desejo de ter um governo mais moderno e mais ousado, um caso melancólico e contraditório.
Um coronelzinho metido a playboy carioca.
Construiu aeroporto, com verba pública, na fazenda ao lado da sua. Na fazenda que pertencia ao tio.
Outro aeroporto construído por Aécio, em Montezuma, também fica ao lado de uma grande propriedade que herdou do pai, o qual a obteve através de uma bizarra operação de “grilagem” legal de terras públicas do estado de Minas Gerais.
Á luz de tanto aereo-patrimonialismo, redescobrimos que FHC também tinha seu aeroportozinho particular, construído pela Camargo Correa num terreno ao lado da fazenda do presidente, logo após sua vitória em 1994.
Enfim, o escândalo do aecioporto parece ter causado sérios danos nas turbinas eleitorais do candidato.
Aécio tenta fugir do assunto dizendo que “está tudo esclarecido” e atribuindo tudo a uma grande conspiração do PT.
De fato, as coisas agora ficaram bem esclarecidas.
A máscara de “moderno”, de “ético”, de Aécio Neves, caiu no chão e se quebrou.
Pior que isso: ele não consegue reagir, porque não sabe o que fazer. Durante anos, em Minas, nunca ninguém lhe contestou.
O Brasil está conhecendo Aécio Neves apenas agora.
Não dá para saber se o escândalo afetará as próximas pesquisas, mas é fácil identificar o estrago profundo que ele já causou em sua candidatura, visto que esta é ancorada nas classes médias e altas, fortemente vulneráveis a essas ondas de escândalo das redes sociais.
http://tijolaco.com.br/blog/?p=19466

Cruzeiro já faz o que o resto do Brasil não conseguiu entender

Guilherme Palenzuela
Do UOL, em São Paulo

O Cruzeiro é um time de ponta europeu jogando contra brasileiros. É uma Alemanha fazendo jogos semanais contra seleções brasileiras emocionalmente fragilizadas e sem Neymares. Neste sábado o atual campeão nacional matou mais uma: 5 a 0 no Figueirense, sem medo de fazer mais um, sem substituir um atacante por um volante no segundo tempo. Sem Bastian Schweinsteiger. Sem Philipp Lahm. Sem megalomania, também. Não foi preciso gastar uma fábula para montar a melhor equipe do país. Só foi preciso compreender que o futebol praticado no Brasil – e pelo próprio Cruzeiro – até 2012 é totalmente inferior ao praticado pelos principais clubes da Europa. É líder absoluto do Brasileirão, com 28 pontos. 
O 4-2-3-1 virou mania mundial, até no Brasil, depois de ser revivido intensamente e com sucesso na Europa, nos últimos anos. Mas futebol não é pebolim (ou totó). Não basta posicionar os jogadores da forma como manda o manual para o futebol europeu acontecer de forma mágica. Marcelo Oliveira, técnico, sem a grife de Pep Guardiola, sabe bem disso. E conseguiu compreender e aplicar aquilo que muitos treinadores no Brasil entendem, mas não têm capacidade de fazer acontecer. O Cruzeiro é o único time do país que supera o abismo visto nos 90 minutos do Mineirazo no dia 8 de julho.
1. Não há mais espaço para centroavantes que só chutem
Sim, Marcelo Moreno é centroavante e ele é titular do Cruzeiro. Mas ele não é um empurrador de bolas para o gol, como há na maioria das equipes do país. O 9 genuíno hoje em dia é pior que o 9 falso – Marcelo Moreno não é falso 9, mas um verdadeiro atacante completo. Sai da área, participa da construção de um time com fluidez tática, no qual volantes, meias e atacantes participam das fases defensiva e ofensiva.
Com o boliviano, a equipe ganha mais um trabalhador sem a bola e não depende de um ou dois jogadores para iniciarem jogadas ofensivas. O técnico Marcelo Oliveira mostra o tipo de futebol que pratica em alterações como a deste domingo, no meio da goleada sobre o Figueirense, com duas trocas ao mesmo tempo: Marquinhos, ponta, por Dagoberto; Marcelo Moreno, centroavante, por Marlone. Jogou 25 minutos sem ninguém na área. Fez mais dois gols.
2. Não há mais espaço para armadores que só armem
"Ele é meia à moda antiga". A frase que normalmente é usada como elogio na verdade celebra a incapacidade de um jogador para se encaixar nas novas necessidades do futebol. Hoje em dia quem mais sofre com isso é Paulo Henrique Ganso, que ouve a cada jogo de Muricy Ramalho que tem de entrar mais na área adversária e arriscar mais finalizações. Ricardo Goulart, do Cruzeiro, nunca foi à seleção brasileira e é muito menos conhecido, mas joga muito mais. Faz tudo o que Ganso não faz, e sem ter a técnica do camisa 10 do São Paulo. No meio de campo, é artilheiro do Brasileirão com 8 gols. James Rodríguez, artilheiro da Copa do Mundo de 2014 e contratado nessa semana pelo Real Madrid, também é meia.
O Cruzeiro é a equipe que mais finaliza no Brasileirão. E com pontaria: 70 chutes certos, no gol, em 12 jogos, segundo números do Footstats. Ricardo Goulart chuta tanto no gol quanto o centroavante Marcelo Moreno: 14 finalizações certas. Ser meia não significa ser responsável por armar o jogo, mas sim ocupar aquela faixa de campo e trabalhar igualmente para o time. Éverton Ribeiro e Marquinhos, que têm ocupado as pontas do setor ofensivo, não chutam com a mesma frequência, mas também desempenham funções inglórias, como o acompanhamento ao lateral adversário, o que muitas vezes os deixa longe do gol. Mas faz o time vencer.
3. Não há mais espaço para volantes que só destruam
A dupla que ocupa o centro do 4-2-3-1 do Cruzeiro é Henrique e Lucas Silva. Henrique foi, durante toda a carreira, um segundo volante. No próprio Cruzeiro, em outros tempos, chegou a ser até o terceiro homem de meio de campo. Hoje é o primeiro, quem toma a bola dos companheiros de defesa e inicia as jogadas.
Sabe, também, destruir jogadas. Mas cumpre o mais importante, algo que o holandês Johan Cruyff – que participou das duas últimas revoluções táticas do futebol, na Holanda e na Espanha – já falava no início dos anos 90: os jogadores de defesa têm de saber jogar futebol. Henrique sabe. Seu  companheiro de posição sabe mais ainda. O jovem Lucas Silva, de 21 anos, chegará à seleção brasileira até 2018 se Dunga – ou outro – entender aquilo que o Cruzeiro entende e aplica sobre futebol. Lucas Silva vai de uma área à outra, passa bem e finaliza melhor. Fez gol neste sábado.  
4. A bola corre mais que o ser humano
O Cruzeiro não encurta tanto o espaço quanto extremos espanhóis vistos nos últimos anos, mas toca muito a bola. Mais do que qualquer equipe no Brasileirão, uma média de 408 passes por partida. Número ainda inferior aos das principais seleções da Copa do Mundo, mas acima da média do país. O que já é um padrão no futebol de ponta ainda não virou prática comum no Brasil.
http://esporte.uol.com.br/futebol/campeonatos/brasileiro/serie-a/ultimas-noticias/2014/07/27/cruzeiro-entendeu-o-que-o-futebol-brasileiro-nao-conseguiu-entender.htm

Por que Hollywood evita falar sobre Gaza?


Publicado na bbc.
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Ao longo das décadas, muitas estrelas de Hollywood não hesitaram em expressar publicamente suas posições políticas ou emprestar sua imagem para apoiar diversas causas humanitárias.
Mas, nos últimos dias, quando o mundo debate a operação militar de Israel na Faixa de Gaza, durante a qual morreram até agora mais de 900 palestinos e 35 israelenses, o silêncio impera no templo das celebridades americanas.
Nesta semana, a revista americana The Hollywood Reporter publicou um artigo em que analisa as razões pelas quais a indústria do entretenimento permanece calada sobre o atual conflito entre Israel e o Hamas.
Na reportagem, intitulada “Regra número um: fale de qualquer assunto político em Hollywood…exceto de Gaza”, a jornalista Tina Daunt escreve que “enquanto o número de vítimas continua a aumentar”, há, nas altas esferas da indústria cinematográfica, uma relutância “atípica” para falar sobre o que está acontecendo no Oriente Médio.
Daunt lembra que “a afinidade e apoio político” de executivos de Hollywood – muitos dos quais são judeus – a Israel já ocorre há muitas décadas, mas “no momento” a operação militar israelense não vem gerando o esperado debate público.
Ao mesmo tempo, de acordo com a jornalista, esses mesmos executivos acreditam que os poucos artistas que nos últimos dias têm mostrado apoio à causa palestina estão “desinformados”.
Um desses artistas é a cantora pop americana Rihanna, que há poucos dias publicou uma mensagem em sua conta no Twitter com a hashtag #FreePalestine (“Palestina livre”, em tradução livre).
Minutos depois, Rihanna apagou a postagem, em meio a uma chuva de críticas. A polêmica levou um de seus representantes a emitir uma declaração na qual afirmou que a cantora não quis tomar partido e “está apenas a favor da paz”.
A cantora hispânica Selena Gomez também foi criticada por postar uma mensagem em sua conta no Instagram na qual, entre outras coisas, disse: “É uma questão de humanidade. Rezem por Gaza”.
No dia seguinte, Gomez postou nova mensagem, em que esclareceu que não estava apoiando nenhuma das partes envolvidas no conflito e que rezava pela paz “para o mundo inteiro”.
Foram poucos os artistas do showbiz americano que nos últimos dias vêm demonstrado abertamente solidariedade com as vítimas civis de Gaza. Entre eles, estão o diretor de cinema Jonathan Demme, a atriz Mia Farrow e os atores Mark Ruffalo, Javier Bardem e John Cusack.
Bardem, por exemplo, publicou uma carta aberta criticando a posição dos Estados Unidos, a União Europeia e Espanha contra o que ele chamou de “guerra de ocupação e de extermínio contra um povo sem meios”.
“Hollywood, como indústria, tem uma certa ambivalência ao decidir sobre essas questões. Quando o bom funcionamento do seu negócio depende do sucesso no mercado internacional, é bom não criar polêmicas e Israel é sempre uma questão muito controversa”, afirmou a jornalista Danielle Berrin, do jornal The Jewish Journal, de Los Angeles.
“Se você é cineasta e quer que seu filme seja visto na Turquia, não é uma boa ideia aparecer como defensor de Israel. É por isso que em Hollywood normalmente se permanece em silêncio quando se trata de assuntos polêmicos”, assinalou Berrin.
A jornalista, autora do blog Hollywood Jew, em que divulga notícias relacionadas à indústria do entretenimento voltadas para a comunidade judaica, diz que “os executivos de grandes estúdios, ao comandar empresas de capital aberto, não acham que devem tomar partido em assuntos tão polêmicos e que dividam o público”.
“No caso das celebridades, tampouco elas ganham alguma coisa ao se posicionarem, uma vez que tudo o que disserem será criticado. Se eles escolherem falar de um determinado assunto, por exemplo, muita gente vai pensar ‘quem eles pensam que são para opinar’, se não dizem nada, vão criticá-los por não usar a fama para uma boa causa”.
Berrin garante que, mesmo não se pronunciando a respeito do conflito, muitos famosos estão preocupados com o que está acontecendo e indica que “Hollywood tem uma longa história de ativismo” a favor da causa judaica.
Uma das celebridades que mais tem chamado atenção nos últimos dias por suas posições a respeito do conflito em Gaza foi o apresentador do The Daily Show, Jon Stewart, que é judeu.
Stewart foi fortemente criticado por alguns setores da comunidade judaica dos Estados Unidos ao falar sobre as diferenças entre a tecnologia que os israelenses e os palestinos têm para se proteger.
O apresentador brincou que, embora os judeus tenham um aplicativo em seus celulares para alertá-los com antecedência sobre onde um foguete vai cair, os palestinos são avisados por bombas lançadas por Israel.
Após a declaração, o comentarista de rádio conservador Mark Levin disse que Stewart é um “idiota exaltado” e um “judeu que odeia a si mesmo”, enquanto jornalista do The Times of Israel David Horovitz o acusou de banalizar o conflito em Gaza com suas paródias.
Poucos dias depois da polêmica, Stewart voltou ao tema, fazendo piada dos ataques que recebe de ambos os lados sempre que fala sobre Israel ou o Hamas, mas deu a entender – como muitos fazem em Hollywood – que o melhor teria sido não se pronunciar sobre o assunto.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-hollywood-evita-falar-sobre-gaza/

Conhece Alan Turing? A sua dívida com esse gênio trágico é maior do que você suspeita

Postado em 26 jul 2014
Alan-Turing

Talvez você não saiba o tamanho de sua dívida com o sábio britânico Alan Turing, um gênio essencial que você precisa conhecer. Mas não se sinta sozinho. Se usarmos o Google como medidor de popularidade, vamos ver que a pesquisa de nomes importantes da Ciência, como Stephen Hawking e Richard Dawkins, têm cerca de quatro vezes mais resultados que Turing. E eu quero mostrar para você que ele merecia muito mais reconhecimento do que tem.
Eu vou apontar três razões para o tributo que devemos pagar a Alan Turing. Se você precisa de apenas uma, fique com esta: ele criou o computador moderno. Foi num artigo de 1936, quando ele tinha 24 anos. Seu objetivo não era fazer um projeto de fabricação da máquina, pois na época nem existiam os recursos tecnológicos necessários — o que, aliás, torna sua precocidade ainda mais marcante. O que ele queria em seu artigo era analisar a questão dos “números indecidíveis”, um problema levantado pelo matemático Kurt Gödel, que tinha implicações de natureza mais abstrata.
Para lidar com a complexidade desse problema tão árduo, Turing foi engenhoso: ele imaginou máquinas simples, cada uma responsável por uma pequena operação matemática, e em seguida “postulou” a existência, a partir delas, de uma máquina complexa que pudesse ser programada para funcionar como qualquer outra máquina. Ela foi chamada de “máquina universal de Turing”, e constitui um sólido fundamento teórico para todo o desenvolvimento tecnológico que aconteceu depois, e que fez Turing ser considerado o Pai da Computação.
Alan Turing também é um nome central nas pesquisas sobre Inteligência Artificial. Em 1950, mesmo ano em que Isaac Asimov lançou a obra ficcional “Eu, robô”, Turing publicou um artigo que se iniciava com uma simples questão: “Podem as máquinas pensar?”. Neste texto ele define o que poderia ser considerado “pensar” para uma máquina, e despertou uma discussão filosófica que ainda não se encerrou e que tem profundas implicações sobre o sentido de nossa consciência e humanidade. Ele também descreve como seria um “teste” para verificar se uma máquina pensa ou não.
O teste consiste de um ser humano que, fechado em uma sala com acesso apenas a um terminal com teclado, “conversa”, como num chat de internet, ao mesmo tempo, com um ser humano (que está em outra sala igual à dele) e com um computador que tenta ir montando frases coerentes com a conversa. Se no final o aplicador do teste não conseguir distinguir, dentre os dois “indivíduos”, qual era o computador e qual era o ser humano, o computador terá então sido convincente em sua tentativa de parecer um ser humano e terá passado no teste de Turing.
Até hoje desenvolvedores de aplicativos tentam construir um programa de inteligência artificial que vença o teste de Turing, mas esse teste é menos importante em seu aspecto prático do que pelo que representa filosoficamente, pelo desafio que levanta à nossa condição humana.
Afinal, se chegarmos à conclusão de que um computador consegue pensar, não nos veríamos então reduzidos ao estado de simples máquinas?
O impacto da genialidade de Turing também deve assombrar os mais pragmáticos. Ele foi um herói da Segunda Guerra Mundial, quando trabalhou como decifrador de mensagens nazistas, fundamental para as decisões de guerra dos Aliados. Turing se destacou desde 1939 na equipe de quebradores de códigos que se reunia secretamente em Bletchley Park, local próximo a Londres. Durante o conflito, os alemães usaram intensamente uma máquina de codificação de mensagens chamada Enigma.

A máquina Enigma havia sido criada logo depois do fim da Primeira Guerra, e foi evoluindo continuamente para fazer com que os códigos que ela produzia se tornassem cada vez mais difíceis de decifrar. Quando a guerra começou, os cuidadosos alemães passaram a trocar as chaves a cada 24 horas. Com isso, a monitoria das comunicações inimigas era praticamente um trabalho de Sísifo: toda meia-noite, tudo o que havia sido descoberto durante o dia se tornava imediatamente inútil. Embora já existissem algumas estratégias de ataque aos códigos da Enigma, Turing manifestou o receio de que em algum momento os alemães iriam implementar uma correção no uso da ferramenta e eliminar determinadas falhas que permitiam que os aliados decifrassem as mensagens.
Por isso ele se antecipou, elaborando e mandando construir uma super-máquina para a época, que seria capaz de atacar consistemente os códigos. Turing estava certo, os inimigos agiram e Bletchley Park chegou a ficar às cegas durante alguns meses de 1940, enquanto sua máquina era aperfeiçoada. Enfim ela ficou pronta e foi batizada de Agnus Dei, sendo essencial para o trabalho dos decifradores, e fazendo com que eles passassem a desfrutar de um enorme prestígio com Churchill.
O especialista Simon Singh, autor de “O livro dos códigos”, considera que o trabalho em Bletchley Park pode ter sido decisivo para a vitória dos aliados ou que, no mínimo, encurtou a guerra significativamente. Um dos colegas de Turing em Bletchley exaltou sua importância com uma afirmação muito curiosa. Ele disse: “Felizmente as autoridades não sabiam que Turing era homossexual. De outro modo, podíamos ter perdido a guerra”.
O trabalho dos criptoanalistas era altamente confidencial, e precisou se manter secreto, por razões de segurança, durante quase trinta anos. Alan Turing não pôde desfrutar do status de herói. Pelo contrário: em 1952, ele foi preso e processado por ser homossexual gênio essencial que você precisa conhecer. Proibiram suas pesquisas e o forçaram a iniciar um tratamento com hormônios, que o deixou obeso, doente e deprimido.
Um pouco mais tarde, infeliz e afastado de seus projetos, Alan Turing envenenou uma maçã com cianeto e em seguida a comeu, aos 42 anos de idade.
Paulo Santoro
Sobre o Autor
Escritor paulista de 41 anos. No Teatro, Seu principal trabalho foi "O canto de Gregório", peça dirigida por Antunes Filho em 2004. Participou da equipe de criação dos roteiros para a 3.a temporada de "Sessão de Terapia", da GNT. www.paulosantoro.com.

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/conhece-alan-turing-a-sua-divida-com-esse-genio-tragico-e-maior-do-que-voce-suspeita/