quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A DIREITA FORÇA POR MARINA. E AÉCIO, VAI PARA O LIXO?




A evidente pressão do conservadorismo em favor de que Marina assuma a vaga deixada pela morte de Eduardo Campos é uma faca de dois gumes.

Pode, é claro, levar a um segundo turno das eleições presidenciais.

Mas igualmente pode, pela comoção causada pela morte do candidato e pelo espetáculo mórbido criado pela mídia em torno do desaparecimento de Eduardo Campos, ultrapassar Aécio Neves e roubar dele o lugar neste segundo turno.

E aí?

Como agirão os integrantes do PSB com notórias ligações com os tucanos, como Márcio França (SP), Júlio Delgado (MG) e o notório Roberto Freire, cujo PPS está nesta coligação?

Tentam vetar Marina, não há segundo turno; concordam com ela e arriscam que Aécio fique fora dele?

O que o “stablishment” acha de Marina?

Capaz, preparada, eficiente?

Vai contar que ela seja, como ensaiou várias vezes na campanha de 2010, dócil e cordata com os interesses econômicos, os grandes inimigos, neste país, do meio-ambiente?

Vão jogar Aécio fora, como parece ser a vontade de alguns “mais animados”?

E Dilma, de fato “perde”?

Os votos de Pernambuco e o que o candidato socialista tinha a mais no Nordeste migram para quem?

São perguntas que não se pode responder agora.

Episódios como o de ontem, espetacularizados de forma doentia  na mídia, produzem imenso efeito imediato e, em geral, parcas consequências de médio e longo prazos.

A  mórbida pesquisa Datafolha registrada ontem é, como já se afirmou aqui uma tolice científica – além de uma imensa desumanidade de seus promotores – porque vai medir não intenção de voto, mas comoção.

Há muitas perguntas a serem respondidas, embora o provável seja a candidatura Marina Silva.

Mas nem tudo, com ela, são flores para a direita.
http://tijolaco.com.br/blog/?p=20003

BLÁBLÁ VAI ENTERRAR OS SOCIALISTAS

Ela é um corpo estranho, ideal para um putsch


Bláblárina tem primeira função de levar a eleição ao segundo turno.

E, portanto, dar ao jornal nacional o poder de decidir a eleição.

Se eleita, a função que a Direita conferiu à Bláblárina é destruir o legado trabalhista.

E, portanto, nas duas tarefas, enterrar o PSB.

Bláblá não tem nada de Socialista ou Trabalhista.

Ela é Verdista, o que, no Brasil, não elege um vereador.

Que ninguém nos ouça, mas o brasileiro prefere a motosserra e a hidrelétrica, porque gosta de emprego e luz elétrica, e, não, do Greenpeace ou de bagre.

O legado político de Bláblá é uma mistureba trevosa, de um sub-pentecostalismo pre-luterano, misturado com obscurantismo moralista e farisaico.

Ela se fez naquela que foi a mais suja das campanhas presidênciais, sob a regência do Místico da Móoca, o Padim Pade Cerra, que fazia aborto no Chile, mas aqui, não.

Bláblá não tem representatividade. Não tem nada embaixo.

Ela é um instrumento da Direita, contra Lula e Dilma.

Movida pelo ódio a Dilma.

O PSB não precisa mais conviver com a extemporânea ambição de Eduardo Campos.

O PSB não tinha chance, sozinho.

O PSB só tem viabilidade sob o guarda-chuva do trabalhismo e de Arraes.

E foi que disseram as notas fúnebres de Dilma Lula.

Bláblá significa o definitivo rompimento do PSB com seu passado e futuro.

A matriz nordestina do PSB, desde Arraes, olha para a Bláblá como um ET que não diz coisa com coisa, nem com legenda.

Bláblá é uma aventura da Direita – e dela.

Se for eleita Presidente, o primeiro aliado que ela jogará no lixo será o Socialismo.

Porque governará com o PSDB e o PMDB !

E a Globo !

Bláblá era um corpo estranho no PSB, fruto de um de vários erros de cálculo de Eduardo.

Ela é um corpo estranho, ponto.

E, portanto, ideal para um Golpe.

Ou um putsch pela televisão.

Paulo Henrique Amorim
http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2014/08/14/blabla-vai-enterrar-os-socialistas/

Meus voos com Campos

O texto abaixo, da jornalista Daniela Pinheiro, foi publicado no unisinos.
Campos e equipe no avião que cairia
Campos e equipe no avião que cairia
Entre abril e junho, viajei com o candidato Eduardo Campos e seus assessores em inúmeras ocasiões. Passamos por várias cidades do país no jatinho da campanha, mas também em vans, carros e ônibus alugados.
O avião apertado, de apenas seis lugares, os bancos de couro cor de creme e o mobiliário de madeira escura com detalhes dourados davam a impressão de estarmos numa versão miniaturizada de Las Vegas. Eu brincava que já tinha andado em jatinhos melhores na vida – como o do cartola Ricardo Teixeira, ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol, ou o usado pelo pastor evangélico Silas Malafaia, que eu também havia perfilado em reportagens para a piauí. Campos respondia com humor: o seu Partido Socialista Brasileiro era tão coerente que até o avião tinha “um ar socialista”. Ao que parece, não era a mesma aeronave de doze lugares que caiu hoje pela manhã em Santos.
Nas viagens de que participei estavam sempre o secretário particular, Rodrigo Molina (ausente do fatídico voo), o assessor de imprensa, Carlos Percol, e um dos principais assessores da campanha, o ex-deputado Pedro Valadares, a quem eu conhecia havia mais de vinte anos. Como Campos, os dois morreram na tragédia, ao lado do fotógrafo Alexandre Severo, do cinegrafista Marcelo Lyra e dos pilotos Marcos Martins e Geraldo da Cunha.
Desde a primeira viagem de campanha, Pedro Valadares colecionava fotos dos passageiros dormindo no avião. Mostrava, orgulhoso, os flagras constrangedores armazenados no celular. Um deles babando, outro com o botão da camisa desabotoado na altura do umbigo, um terceiro de boca aberta. Gravara, inclusive, alguns roncos dos viajantes. A ideia, ele dizia em tom jocoso, era produzir um vídeo com as melhores babadas da campanha. Ironicamente, ele era de todos o que mais dormia.
Com quase 1,90 de altura, Campos encurvava todo o corpo, mas quase sempre dava uma topada com a testa no teto do avião antes de se acomodar na primeira cadeira do lado esquerdo. Quando eu estava junto, ele pedia para eu me sentar à sua frente, de modo que pudéssemos nos ouvir melhor. Mas o espaço não era suficiente para os dois pares de pernas. Ele então se colocava na diagonal da cadeira, esparramando as próprias pernas pelo corredor estreito.
Sempre reclamava da comida a bordo. “De novo esse sanduíche safado? Quando é que esse partido vai melhorar e vai comprar pelo menos um micro-ondas para pôr nesse avião?”, dizia, fingindo indignação. Ir ao minúsculo banheiro, no fundo da aeronave, só em caso de muito aperto. A porta era fina como um papel. Rodrigo Molina viajou sentado na tampa do sanitário em uma ocasião para me ceder lugar no voo. O candidato usava as viagens para despachar, mas era também quando se transformava no centro das atenções. Comandava o arsenal de histórias e casos hilários, contados com picardia, e costumava brindar os passageiros com imitações de sotaques, tons de voz e expressões típicas do retratado. O de Dilma Rousseff era um must; o de Roberto Amaral, vice-presidente do PSB, outra pérola. Mas a imitação de Lula mereceria um Oscar.
Uma vez, quando estávamos no quinto compromisso do dia, embarcando para Campina Grande, na Paraíba, ele me perguntou: “Tu tem gêmea?” Fiz cara de quem não havia entendido. “Porque para onde eu olho tem uma de tu me seguindo”, falou, emendando uma gargalhada muda com os enormes olhos azuis cor de piscina arregalados.
A equipe da campanha costumava ser muito bem-humorada. “Amiga, me passa o amendoim”, pedia Valadares a Percol, que devolvia com um “só se você pedir com amor, colega!” Seguia-se uma gaitada geral no avião.
Em uma ocasião, fiz uma foto de Campos enquanto ele ouvia, com o celular colado na orelha, o discurso de um vereador sergipano que falava abobrinhas, numa performance de humor involuntário. Seguiram-se mais quatro ou cinco vídeos com piadas. Aquele era um grupo que visivelmente se gostava. Pareciam todos genuinamente satisfeitos com que estavam fazendo.
Como Campos se benzia antes de levantar voo, perguntei certa vez se tinha medo de avião. “E quem não tem, oxe?”, respondeu, logo acrescentando que quem medrava de verdade era o “argentino”, referindo-se ao marqueteiro Diego Brandy. Durante as turbulências, quando todo mundo dava aquela ajeitada na cadeira e olhava para fora da janelinha, Campos se mantinha impassível.
Da última vez que nos vimos – durante a convenção que lançou sua candidatura à Presidência, no final de junho, em Brasília –, tenho viva a imagem de sua família na primeira fila do evento, ouvindo atenta o discurso do candidato. Os filhos – ainda tão jovens – comentavam entre eles as frases do pai, sorriam, aplaudiam e acenavam para os correligionários. Ao lado deles, sua mulher Renata, que segurava o caçula no colo, seguia vidrada na figura do marido.
Ontem à noite, troquei mensagens com Carlos Percol depois da entrevista que o candidato concedeu ao Jornal Nacional, da Globo. Comentei que Campos havia se saído bem. Na última das mensagens, Percol respondeu com a figurinha de um polegar em riste. Foi para o número dele que passei a ligar com insistência assim que começaram os boatos do acidente hoje pela manhã. Em seguida, tentei muitas vezes o celular de Valadares. Caíram todos na caixa postal.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/meus-voos-com-campos/

Pronunciamento de Dilma sobre o falecimento de Eduardo Campos

É FÁCIL ENTENDER PORQUE CONSERVADORES PREFEREM MARINA


A falta de cerimonia exibida por tantos colunistas conservadores para emplacar Marina Silva de qualquer maneira como candidata presidencial do PSB, menos de 24 horas depois da morte de Eduardo Campos, é um sintoma de vários elementos da campanha de 2014.

O maior é o receio de que Aécio Neves já tenha chegado a seu limite eleitoral – muito longe daquilo que seria necessário para dar a seus aliados esperanças reais de vencer o pleito – e é preciso encontrar um atalho para tentar derrotar Dilma. Desse ponto de vista, a oportunidade-Marina veio a calhar.

Ao contrário de Aécio Neves, herdeiro identificado com o mais tradicional conservadorismo brasileiro, onde até a denúncia de caráter moral se compromete com a descoberta da pista de aeroporto de R$ 14 milhões na fazenda do tio-avô, Marina consegue apresentar-se como candidata do “novo.”

Uma década de esforço permanente para criminalizar a política a pretexto de combater a corrução não poderia deixar de produzir resultados. O mais visível deles, na campanha de 2013, é Marina.

Foi adotada por eleitores , especialmente jovens, sem partido político, para quem todo político é ladrão e só pensa em se arrumar. Basta reparar quais foram partidos que Marina frequentou e quais aliados cultivou ao longo de sua já longa existência política para ponderar o que há de verdade e de mentira nessa visão – mas este é assunto para um longo debate politico, destinado a proteger e recuperar nossos valores democráticos.

Basta registrar que sua assessoria é formada por economistas que transformaram a austeridade e o baixo crescimento num horizonte de busca permanente, usando o argumento ecológico como instrumento para impedir o crescimento econômico. Veja só. Ao contrário de conservadores tradicionais, partidários de políticas de austeridade por um período determinado, para derrubar a inflação, por exemplo, eles defendem o baixo crescimento como um valor em si. Sei que é meio difícil de acreditar, num país que tem tanto emprego para criar, tanta infraestrutura para desenvolver, tanta carência para sanar. Mas é verdade.

Referindo-se a preservação ambiental, o mais conhecido deles, Eduardo Gianetti da Fonseca, já foi capaz de dizer que é preciso combater o consumo excessivo…de carne e leite. Juro. Para ele, como ninguém respeita os padrões ambientais, é preciso encarecer o preço dessas proteínas para que o consumo seja reduzido. Está lá, no livro “O que os economistas pensam sobre sustentabilidade,” página 72 e seguintes:

“Comer um bife é uma extravagância do ponto de vista ambiental. O preço da carne vai ter de ser muito caro, o leite terá de ficar mais caro. Tudo o que tem impacto ambiental vai ter de embutir o custo real e não apenas monetário. Essa é a mudança decisiva.”

Aderindo a palavra de ordem do candidato vizinho de palanque, que falou em medidas impopulares, Gianetti admite na mesma entrevista: “O caminho que estou propondo é sofrido.”

Seu parceiro ideologico, André Lara Rezende, advoga ideias curiosas, próprias de quem admite uma postura de subordinação entre nações. Para ele “a questão Estado-Nação ficou ultrapassada.”

Depois de apontar para um futuro onde uma catástrofe ecológica capaz de reduzir a humanidade para 500 milhões de pessoas (hoje somos sete bilhões) já se tornou “irreversível” e “tangível”, Lara Rezende advoga o baixo crescimento, também, mas adverte: “crescimento material com Ecologia é difícil.”
É certo que uma candidata com essas ideias teria uma vida difícil no PSB, partido nascido à sombra de Miguel Arraes, o líder popular que resistiu a ditadura de forma exemplar, chegando a ser preso em Fernando de Noronha para não entregar o cargo que os generais de 64 pretendiam lhe tomar. Imagine esses cidadãos no comando da política econômica um partido que pede votos em sindicatos de trabalhadores e que, em 2014, conseguiu apoio de lideranças operárias de tradição, como Ubiraci Dantas de Oliveira, o veterano Bira, metalúrgico de São Paulo, que já era possível encontrar em comícios do 1o de maio no final dos anos 1970, e que hoje é dirigente da CGTB (Central Geral dos Trabalhadores do Brasil).

Ninguém deve ignorar que Marina e Eduardo Campos fizeram um casamento de conveniências quando a presidente da ex-Rede ficou sem partido. Campos lhe abriu uma legenda, na esperança de receber uma necessária transferência de votos. 
Marina conquistou um palanque, indispensável para quem corria o risco de ficar calada em 2014. Mostrando uma grande capacidade política para agregar apoios e somar contrários, Eduardo Campos transformou-se no grande ponto de equilíbrio político dentro do PSB. Era o protetor de Marina, o que pedia tolerância para suas opiniões e divergências. 
Querer usar a tragédia do Guarujá para alterar a natureza desse acordo é cometer uma violência. Numa comparação abusada, mas que faz sentido do ponto de vista das diferenças entre PSB e a Rede, o verdadeiro partido de Marina, seria igual a chamar Michel Temer para ser titular na chapa do PT — caso Dilma Rousseff fosse impedida de disputar a presidência por uma razão qualquer.

Um elemento a favor da escolha de Marina não chega a ser especialmente “novo,” como gostam de enxergar seus aliados. Espera-se que, com sua popularidade, ela ajude o partido a engordar a bancada de parlamentares, estaduais e federais. Isso costuma acontecer, mas nem sempre. Em 2010, num caso clínico de sucesso individual, Marina chegou perto de 20% dos votos como candidata presidencial mas não conseguiu acrescentar um único novo parlamentar à bancada do Partido Verde — desempenho que está na origem de boa parte de suas dificuldades para permanecer no PV.
Ainda assim, a popularidade de Marina provoca justo temor no PSDB, pois pode transformar-se numa candidatura capaz de atropelar Aécio e jogá-lo para terceiro lugar e fora da campanha no segundo turno, o que seria, para os tucanos, uma derrota pior que todas as outras desde 2002.
Para o PT, a recíproca, no caso, também é verdadeira. Para o QG da campanha petista, o cenário ideal – fora a hipotética vitória em primeiro turno, cada vez menos realista – é enfrentar Aécio Neves numa segunda votação.

Os petistas sempre estiveram convencidos de que, num segundo turno, a maioria dos parlamentares, dirigentes e eleitores do PSB não serão capazes de abandonar a própria história para votar no PSDB, que sempre denunciaram como partido conservador, e farão o caminho de volta para uma aliança com o PT. Era com essa possibilidade que Dilma e Lula sempre trabalharam nos últimos meses. Evitaram atitudes hostis e indelicadas, reservado a artilharia mais pesada para Aécio. Qualquer mudança, neste horizonte, irá atrapalhar os planos de Dilma.
E é por isso que nossos conservadores já apostam em Marina.
http://paulomoreiraleite.com/2014/08/13/opcao-por-marina-e-menos-obvia-que-parece/