segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Aos amigos do Facebook



Por Eduardo Guimarães

Mesmo acreditando que Dilma vai se reeleger, é desolador ver uma parte expressiva do povo brasileiro não estar sabendo reconhecer quanto sua vida melhorou e, mais do que isso, não estar sabendo reconhecer que este governo impediu a crise de nos atingir.

Aliás, quero dizer, publicamente, que minha vida não mudaria nada caso Marina Silva fosse eleita – se Aécio se elegesse, porém, seria diferente porque haveria perseguição política e eu, como tantos outros blogueiros, seria alvo dele, da mídia contra a qual fiz quatro representações ao Ministério Público, seria alvo de um Gilmar contra o qual liderei uma ação na Justiça etc.

Mas sob um governo Marina, eu estaria tranquilo.

Ao longo dos últimos 12 anos, tanto o governo Lula quanto o governo Dilma jamais me deram nada – nem publicidade oficial, nem cargo, nem nada.

Até porque, nunca pedi. E mesmo quem pediu, não levou. Por isso mesmo, inclusive, que muitos que antes apoiavam o governo, deixaram de apoiar. 


Mas meu blog, sob Marina ou Aécio, continuaria dizendo as mesmas coisas que diz hoje. Se Dilma se reeleger, continuará na mesma linha.

E mais: meu Blog não irá parar nunca. Até o dia em que eu morrer continuarei escrevendo no mínimo um texto por dia, dizendo tudo que eu pensar sobre o que interessa à coletividade, jamais fazendo daquele espaço um meio para atingir qualquer tipo de benefício pessoal.

Ninguém, absolutamente ninguém pode citar um único benefício que o Eduardo tenha auferido de sua militância política. Não tive benefício financeiro, não tive benefício profissional.

Aliás, no tempo de FHC eu sou uma exceção porque vivia melhor do que hoje... Ou melhor, vivia com mais dinheiro do que hoje. Mas, aí, descobri que o que me daria felicidade não seria dinheiro, seria paz.

E isso eu tenho, hoje. Ninguém manda em mim. Tenho meu escritório de representação que fatura pouco, mas paga uma vida minimamente digna. De resto, tenho um carro com 9 anos de uso, uma residência simples, uso roupas simples e só tenho despesa, hoje, com a Victoria, que tem uma decisão da Justiça que obriga o Plano de Saúde a lhe dar TUDO.

Nunca acharam nada contra mim e nunca vão achar porque levo uma vida espartana, não ando lambendo o traseiro de políticos – defendo projetos políticos, defendo até políticos, mas não fico correndo atrás deles pedindo isto ou aquilo – e não dependo em nada de governos.

Em fevereiro do ano que vem, o Blog da Cidadania completará 10 anos. Nesse período, tudo que recebi de dinheiro público foi pagamento de uma campanha de 30 dias da prefeitura de Guarulhos, que nada tem que ver com o governo federal.

Não tirei ainda o banner daquela prefeitura do Blog porque vou fazer uma reforma no visual da página e, enquanto não fizer, o banner ficará lá para o espaço não ficar vazio.

Enfim, vamos em frente. Vou trabalhar o quanto puder para ajudar Dilma a se reeleger, mas, se algo não der certo e o país cometer o desatino de eleger Marina, para mim não mudará nada.

Aliás, talvez o governo dela me fosse até melhor. Explico: Marina ou Aécio viriam para acalmar a choradeira dos empresários. Como meu ganha pão é exportação, podem ter certeza que a política econômica desses dois me seria favorável – pregam desvalorização do real e dólar mais caro aumentaria muito os meus ganhos.

O país ter sua moeda desvalorizada poderia ser bom para mim – por eu trabalhar com exportação – e para um setor muito poderoso do empresariado, mas, para a esmagadora maioria, seria um desastre.

O Brasil iria penar com a eleição de Marina. E não vou aqui repisar muito as razões porque há uma fartura de blogs – inclusive o meu – explicando o que seria um governo dessa senhora.

Só digo isto: além do arrocho salarial e do desemprego, acho que o pior que poderia trazer um governo Marina seria a convulsão social.

Ano passado, vimos que mesmo com todo mundo empregado e ganhando mais, com distribuição de renda, com ascensão da classe D para C, da C para B e da B para A, as pessoas ficaram descontentes. Imaginem com desemprego alto e salários arrochados.

Você que mudou de opinião política e abandonou o projeto petista, ou você que continua achando que Dilma e o PT são o “mal menor” mas não está trabalhando para impedir o desastre Marina, caso ela vença espere só para ver. E, depois, não reclame.

Dilma, Lula e a cúpula do PT não iriam se dar mal pessoalmente se Marina vencesse, apesar de perderem o poder. Quem iria se dar mal seria você, tendo ou não ajudado a eleger uma pessoa que já mostrou que só quer chegar ao poder, mesmo não tendo base política para governar, e que, uma vez lá, vai ver o que fará...

Se der, deu; se não der, paciência.

Quem iria se ferrar mais não seriam Dilma, Lula ou o PT, mas o povo brasileiro. Aqueles que mais precisam, inclusive. Mas não só. A classe média pagaria um preço altíssimo.

Por eu não ter qualquer dependência da política ou de quem governa, posso me dar ao luxo de dizer que, sob certo aspecto muito questionável, seria até bom que esse desastre Marina se abatesse sobre o país. Muita gente que a está apoiando precisa de uma lição.

E muita gente que diz apoiar Dilma mas que ajudou os marineiros e psolistas a tocarem fogo no país no ano passado, idem.

Um lado obscuro deste que escreve o tenta a querer ver quem reclamava de Dilma por causa da Secom ter que ir bater na porta da mesma Secom, mas, agora, sob Marina. Seria muito divertido.

Gostaria de ver os movimentos sociais que se engajaram nos protestos cretinos por 25 centavos, nos protestos cretinos contra a Copa, entenderem-se com um governo do banco Itaú.

Bem, uma parte daquela gente já se entendeu faz tempo, mas isso é outra história...

Mas e aqueles que dizem que o governo Lula e o governo Dilma são governos “de banqueiros” ou que são “iguais” ao governo FHC? Agora que banqueiros lutam para eleger Aécio ou Marina contra Dilma, aquela gente fechou suas bocas moles.

Felizmente, para esses desmiolados, acho que Dilma vai se reeleger.

Mas se a desgraça Marina se abatesse sobre o Brasil, eu nem seria mesquinho de dizer que avisei. Às vezes, tudo fica tão evidente que nem é preciso dizer nada. Até porque, a verdade sempre se impõe. Se Marina se elegesse, tudo ficaria muito claro. E rapidinho.


https://www.facebook.com/eduguim?fref=ts

Marina sai menor de debate dominado por juros; Aécio em saia justa





O fato de que os juros bancários e o papel dos banqueiros na economia brasileira dominaram boa parte das falas dos sete candidatos no debate do SBT fez com que a candidata socialista, Marina Silva (PSB), saísse dele menor.

O assunto foi tratado, direta ou indiretamente, pelos candidatos Eduardo Jorge (PV), Luciana Genro (PSOL), Levy Fidelix (PRTB) e Dilma Rousseff (PT).

Marina, que sempre surfou em sua origem humilde, desta vez teve o nome e o projeto político associados a juros e banqueiros.

Fidelix chegou a nomear duas pessoas próximas a Marina — o empresário Guilherme Leal, da Natura, e a educadora Maria Alice Setubal, a Neca, acionista do banco Itaú — como devedores de impostos à União.

Embora não o tenha feito de forma didática, Dilma criticou a proposta de Marina de dar autonomia ao Banco Central. No governo Dilma a decisão do Banco Central de aumentar ou não os juros é tomada depois de consultas ao mercado. Num eventual governo Marina, o BC teria autonomia para fazê-lo independentemente da população ou de seus representantes eleitos.

Eduardo Jorge teve a melhor apresentação individual no debate, considerando a coerência e a ênfase com que defendeu pontos polêmicos. Por exemplo, creditou a falta de apoio popular a duas de suas propostas — descriminalização das drogas e direito à interrupção da gravidez — à falta de coragem dos políticos de debater o assunto com a população. Deu ênfase ao domínio dos dez maiores bancos sobre a economia brasileira e prometeu reduzir os juros. Na mesma linha, Luciana Genro enfatizou acreditar que Dilma, Marina e Aécio são irmãos siameses, ou seja, representam todos interesses de banqueiros.

O maior confronto se deu entre as candidatas que lideram as pesquisas, com Marina afirmando que Dilma fracassou na economia e esta sugerindo que Marina usa “frases de efeito e frases genéricas”, típicas de campanha eleitoral, mas não sabe governar.

Diferentemente do que aconteceu no debate da Band, no debate do SBT os jornalistas se destacaram por perguntas apropriadas, duras e pertinentes, com destaque para Fernando Rodrigues, Fernando Canzian e Kennedy Alencar.

Alencar, que sugeriu ao candidato do PRTB que ele liderava uma legenda de aluguel, foi chamado por Levy Fidelix de “língua de aluguel” e “língua de trapo”.

Fernando Rodrigues encaixou um direto no rosto do pastor Everaldo (PSC), ao revelar que o candidato já foi acusado de agressão por uma mulher com a qual se relacionou. Ao informar que foi absolvido, o defensor dos “valores da família” acabou admitindo que seu primeiro casamento não deu certo, que tinha mesmo namorado a acusadora mas que agora, sim, estava casado de maneira estável. Fernando Rodrigues, de forma sagaz, escolheu Aécio Neves para comentar o assunto — o jornalista Juca Kfouri, do UOL, informou em seu blog que o tucano teria cometido, em 2009, uma “covardia” com uma “acompanhante” num evento no Rio. Foi a saia justa da noite. Aécio mudou de assunto.

A frase de efeito que marcou o debate partiu de Luciana Genro, que perguntou a Marina: “Tu és mesmo a segunda via do PSDB?”. Luciana também questionou o fato de Marina ter mudado seu programa de governo, no trecho que defendia o casamento entre pessoas do mesmo sexo, por pressão do pastor Silas Malafaia, ao que a socialista disse que tinha sido um erro “da equipe” responsável pelo processo.

Aécio Neves aproveitou sua fala final, quando já não havia direito de resposta, para alfinetar Marina Silva e dizer que ele, sim, é uma alternativa segura de mudança.

No conjunto da obra, é opinião deste blog que Marina Silva saiu menor que entrou no debate, por dois motivos: entrou no rol dos que defendem os banqueiros e sofreu acusações de que muda de posição de acordo com o vento.

Além disso, perdeu o debate com Dilma quando ambas trataram do pré-sal, especialmente quando a presidente informou que em breve o Brasil será o segundo maior produtor mundial de energia eólica.

Tanto a presidente Dilma quanto Aécio Neves sairam maiores, com o tucano se apresentando melhor que Dilma no geral, embora tenha perdido para a presidente o confronto específico que ambos travaram — sobre investimentos federais em transporte público.

Luiz Carlos Azenha
No Viomundo 

Audiência do “Debate SBT” foi baixa

De acordo com números prévios do Ibope para a Grande São Paulo, o SBT registrou uma média de quatro pontos. (O normal da emissora o horário é 50% mais alto). Dessa forma, a rede de Silvio Santos obtém o terceiro lugar entre as TVs abertas.

O debate começou com baixos índices. Mas, ao longo da exibição a atração elevou os números e fechou com média de 5.0 pontos com 6.9 de pico e 9.5% de participação, superando assim o primeiro debate das eleições 2014, realizado pela Band, que fechou com 2 pontos. Ainda no horário, a Globo liderou com 14.8 contra 8.2 da Record e 3.1 da Bandeirantes. 

http://www.contextolivre.com.br/2014/09/marina-sai-menor-de-debate-dominado-por.html

Marina não leu a versão final do seu programa de governo?

O pastor precisou apenas de quatro tweets
pra mudar o programa de governo de Marina
Desde os tempos de faculdade de jornalismo, lá na segunda parte dos anos 80, que misturo a atividade de repórter com a de editor. Antes nos boletins do curso e do Centro Acadêmico, depois em diferentes experiências por veículos da mídia tradicional, movimentos sociais até criar, em 2001, a Fórum. Neste período também participei da edição de mais de uma centena de livros e de certamente mais de algumas centenas de produtos customizados. Em geral, como editor. Algumas vezes exercendo diversas funções: repórter, redator, editor, preparador de textos e até revisor.

E nesse processo erra-se e acerta-se como em qualquer outra atividade. Monteiro Lobato dizia que os erros são coisas do saci. O personagem os esconderia durante todo o processo de produção e eles só apareciam com a obra pronta. O erro também é parte integrante desses processos produtivos.

Mas há muitos tipos de erros. Os inadmissíveis, os bizarros, os bestas, os comuns e os que a gente inventa para fazer de conta que errou. Quando na verdade fez uma baita de uma barbeiragem consciente. Ou quando, principalmente, o cliente para quem você está fazendo o produto cometeu um imenso erro e para não ficar chato para ele você assume a culpa.

Faz parte da atividade às vezes aliviar para o cliente. Afinal, um erro de revisão ou de editoração (como os leigos acreditam poder acontecer às pencas) sempre sai mais barato do que um erro conceitual ou político.

Depois do texto que publicamos no blogue ontem de um dos membros do comitê LGBT de Marina  nega que tenha havido erro de revisão no texto que foi retirado pela candidata após o pito público que  levou do líder da sua congregação, o pastor Malafaia, talvez essa postagem fosse desnecessária. Mas como parece que a candidata não pretende fazer uma mea-culpa, vale a pena insistir na questão. Inclusive, porque ela não diz respeito apenas a uma mudança de posição temática.

Um programa de governo de um candidato a presidente da República não é um boletim qualquer. Antes de ir para a gráfica ou ser publicado em um site, ele precisa ser lido e relido não só por um editor, como por uma quantidade grande de pessoas que tem expertise no tema. Precisa ser remendado quantas vezes for necessário e antes da versão final onde só se corrigem os erros de gramática e estilo, a candidata e os seus principais assessores precisam lê-lo e relê-lo.

Em casos como esse de um programa presidencial, se o serviço é feito por uma empresa com algum nível de seriedade, esses assessores e o candidato assinariam a prova final que estaria sendo liberada para a gráfica ou para o site. Para que tivessem a responsabilidade final do trabalho. Ainda depois disso os editores e o principal revisor do produto (em geral, há mais do que um em casos como este) fariam uma leitura da prova para verificar se o tal saci não operou neste processo de fechamento. O que, às vezes, acontece.

A pergunta que fica é, Marina não leu a versão final do seu plano de governo que continha um programa avançado para o segmento LGBT e que falava de incentivar a energia nuclear? Os coordenadores do programa, Neca Setubal e Maurício Rands, pessoas que são bastante preparadas para a função, também não leram o programa? Nenhum assessor político experiente leu antes da versão final ser apresentada para o país? É isso mesmo que a campanha de Marina quer fazer crer aos incautos?

Se for isso, chegamos a um ponto tão ruim quanto o de mudar o programa para se submeter a ordem do Pastor Malafaia emitida em quatro twets. Uma campanha à presidência da República que não tem um maluco no comitê para ler a versão final do programa de governo exatamente no ponto sensível da candidatura exacerba no amadorismo.

A desculpa esfarrapada acionada pela campanha para fazer de conta que Malafaia não exerce forte influência em Marina é tão ruim quanto o que deve ser o verdadeiro motivo da errata. O amadorismo que explode até na forma de se caracterizar o recuo assusta tanto quanto à submissão a um Malafaia da vida. Erros como este num texto enviado a uma Conferência da ONU poderiam transformar o Brasil num país mais desmoralizado do que aquele que nosso chefe da diplomacia tirava os sapatos para entrar nos EUA.


http://www.contextolivre.com.br/2014/09/marina-nao-leu-versao-final-do-seu.html

O novo programa do PSB, por Renato Janine Ribeiro


Jornal GGN – Hoje, no Valor Econômico, Renato Janine Ribeiro analisa o programa de governo do PSB, que acompanha a candidatura de Marina Silva. Segundo ele, um admirador confesso de Marina, o programa não é para Justiça Eleitoral, a intenção da candidata está ali expressa.
Janine faz suas considerações sobre o Programa. Após listar pontos que merecem respeito, o articulista alerta que, depois da página 15 “os meios não dialogam com os fins! Da filosofia se passa para medidas práticas - mas sem relação com ela”. Critica a coincidência de todos os mandatos, com eleições a cada 5 anos, “E por que eleições mais espaçadas, e não mais frequentes? Tudo isso despolitiza. A escolha será menos meditada do que já é hoje. O que vai contra os ideais do programa.”, aponta Janine.
Outro assunto abordado por ele é a questão do mandato ser do eleito e não do partido. Para Janine cria-se um risco de que, ao fazer isso, crie-se “canais paralelos aos da democracia representativa, esta última fique mais frágil, mais vulnerável ao canto de sereia do Poder Executivo”.
É bom lembrar que pontos destacados por Janine sobre o PT e colocados também como mérito da Rede, estão previstos no Plano Nacional de Participação Social, o Decreto 8243, que foi sancionado por Dilma e o Congresso tenta transformar em Projeto de Lei para vetar a participação popular, chamando-o de bolivariano.
Do Valor
Por Renato Janine Ribeiro
Confesso: o programa de governo que li com maior atenção foi o de Marina Silva. Posso criticá-lo e o farei, mas jamais ocultei a admiração por ela e pelo que traz para a discussão pública. Vejamos as propostas políticas do início de seu Eixo I, "Estado e democracia de alta intensidade". Recomendo a leitura do programa. Um dos maiores elogios à candidatura é que ela escreve e assina o que realmente quer. Não é um documento só para a Justiça eleitoral. Tenho ouvido gente dizer que programa se compra ou se encomenda, e depois se esquece. Advirto: não é essa a intenção da candidata.
O melhor da Rede é a vontade de empoderar a sociedade para discutir o que, hoje, é monopólio dos partidos e dos políticos. O projeto acerta ao dizer que não bastam choque de gestão ou eficiência gerencial, pois conferem mais poder ao gestor e desconhecem o caráter essencialmente político, até popular, da reforma do Estado - que deve aumentar seu teor de democracia, assim como democratizar mais a sociedade. A democracia atual é de baixa qualidade porque avessa às formas de participação: diagnóstico de esquerda, com o qual o PSDB dificilmente concordaria. Marina quer mais povo, não menos, no Estado. Critica a concentração de poder. Exige transparência, facilitada pelos recursos digitais hoje disponíveis. Não é fortuito que só ela, dentre as lideranças de oposição, não tenha atacado o decreto de Dilma Rousseff sobre a participação popular. Propõe "plebiscitos e consultas populares, conselhos sociais ou de gestão de políticas públicas, orçamento democrático, conferências temáticas e de segmentos específicos". Elenca um rol admirável de formas de participação.
O projeto de fazer a política sair dos gabinetes, das câmaras, para estar na sociedade, seja em reuniões presenciais, seja em formas de atuação virtuais, é ético e oportuno. É enorme o atual desinteresse pela política, o desdém pelos políticos; quer-se reverter isso. O PT na oposição falava em democracia direta, a Rede em democracia de alta intensidade. Não são a mesma coisa. O PT pensou na democracia direta a partir de movimentos sindicais, aos quais se associavam, com igual legitimidade, movimentos sociais e de vizinhança, grupos unidos por queixas e projetos comuns, como homossexuais, negros, mulheres, usuários de drogas, artistas, em suma, quem acreditasse que outro mundo é possível. A Rede saúda os movimentos sociais "históricos" e quer combiná-los com "as mobilizações que surgem por meio das novas tecnologias", em referência às assim chamadas revoluções do Twitter e do Facebook. É um pouco vago, mas saúdo esse aprofundamento do projeto de democracia participativa de Franco Montoro ou essa retomada da democracia direta do PT em suas primeiras décadas.
Uma participação maior do povo é o tema principal
Mas, quando chegamos à página 15, um "box" pretende traduzir este arrazoado - sério, correto, prioritário - em medidas que devam "deflagrar" a reforma política. Contudo, esse minirresumo executivo não bate com a filosofia antes exposta. Os meios não dialogam com os fins! Da filosofia se passa para medidas práticas - mas sem relação com ela. No "box", é só política institucional. O que se propõe de prático e de imediato? Primeiro, a coincidência de todos os mandatos, inclusive municipais, numa única eleição a cada cinco anos, sem reeleição. Já defendi a reeleição e não volto ao tema. Mas há no país uma queixa constante sobre as eleições federais e estaduais que, sendo simultâneas, nos fazem preencher ao mesmo tempo cinco ou seis cargos. Somar-lhes as municipais fará elegermos de uma só vez sete ou oito cargos. Ora, se este ano a campanha presidencial nublou a dos governadores, para não falar dos legislativos, como será se renovarmos todos os cargos ao mesmo tempo? E por que eleições mais espaçadas, e não mais frequentes? Tudo isso despolitiza. A escolha será menos meditada do que já é hoje. O que vai contra os ideais do programa.
E uma contradição: quer-se preencher os "cargos proporcionais" segundo "a Verdade Eleitoral", definida como a regra de proclamar eleitos os candidatos individualmente mais votados, sem levar em conta o partido ou coalizão a que pertençam. É curioso que isso seja exatamente o "distritão" proposto pelo vice-presidente Michel Temer. Aliás, assim os cargos deixam de ser preenchidos proporcionalmente, portanto a expressão "cargos proporcionais" deveria ser trocada por "deputados e vereadores". Mas isso acaba com os partidos. Na verdade, as candidaturas avulsas, adiante recomendadas, deixam de ser a exceção e se tornam a regra. Todas as candidaturas serão avulsas. Não conheço país no mundo que adote esse critério, dado que esses cargos são preenchidos pelo voto ou distrital ou proporcional.
Há duas más consequências: primeira, cada candidato terá como adversários todos os demais candidatos, não sendo de seu interesse aliar-se ou somar suas forças a ninguém que dispute o mesmo cargo. Segunda, os partidos se liquefazem.
Assim o mandato deverá pertencer ao eleito, não ao partido. Daí, a troca de partidos estará na lógica do sistema. Há o risco de que, em vez de criar canais paralelos aos da democracia representativa, esta última fique mais frágil, mais vulnerável ao canto de sereia do Poder Executivo. Isso pode até piorar nossa política! Porque, enfim, o programa tem um descompasso entre a meta nobre da maior participação popular, mas que não se traduz em nada concreto, e as reformas concretas, só que confusas e possivelmente com efeitos indesejados. Ainda estamos longe do ideal, que aprovo, de uma democracia de alta intensidade.
Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo. Escreve às segundas-feiras no Valor.
http://jornalggn.com.br/noticia/o-novo-programa-do-psb-por-renato-janine-ribeiro

Jorge Furtado lista motivos para votar em Dilma, 'contra tudo que está aí'


Jornal GGN - O cineasta brasileiro Jorge Furtado, em artigo reproduzido pela Revista Fórum, comemora a aparente retirada da "direita autêntica" - PSDB, DEM e PTB - da disputa eleitoral deste ano. Para ele, esse fenômeno vai garantir ao Brasil mais espaço para discutir os rumos certos para o crescimento. E colabora com o debate declarando o voto e os motivos: "Voto na Dilma e contra tudo isso que ainda está aí: a desigualdade social, o poder crescente do capital, a cobiça sobre nossos recursos naturais, o preconceito contra os homossexuais, a criminalização do aborto, o obscurantismo que impede avanços científicos, a criminalização da política, as palavras vazias, os salvadores da pátria", diz. Abaixo, o artigo na íntegra.
Por Jorge Furtado, na Revista Fórum
Se alguém me dissesse, em 2004 – quando o primeiro governo Lula sofria a oposição feroz de toda a mídia brasileira e tinha pouco ou nada para mostrar de resultados – que em dez anos o segundo turno da eleição presidencial seria disputado entre duas ex-ministras do governo Lula, uma pelo Partido dos Trabalhadores e uma pelo Partido Socialista Brasileiro, eu diria ao meu suposto interlocutor que a sua fé na democracia era um comovente delírio. A provável ausência, pela primeira vez no segundo turno das eleições presidenciais, de candidatos da direita autêntica, do PSDB, do DEM e do PTB, é mais uma boa notícia que a democracia nos traz. Imagina-se que, vença quem vença, muitos dos derrotados voltarão correndo para os braços confortáveis do novo governo, esta é a má notícia.
Tenho familiares e bons amigos que vão votar na Marina e também no Aécio. Eu vou votar na Dilma. Acho que foi o Todorov quem disse (mais ou menos assim) que a democracia nos reúne para que a gente resolva qual é a melhor maneira de nos separar. Não sou nem nunca fui filiado a qualquer partido, já votei em vários, tenho amigos em alguns. Neste que é o maior período democrático da nossa história (25 anos, sete eleições consecutivas), o Brasil não parou de melhorar e não há nada que indique que vá parar de melhorar agora.
Votei no Lula, desde sempre até ajudar a elegê-lo em 2002, com o palpite de que um governo popular, o primeiro em 502 anos, talvez pudesse enfrentar com mais vigor o grande problema brasileiro: a desigualdade social. Achei que, talvez, substituindo a ideia de que o bolo deve primeiro crescer para depois ser divido pela ideia de incentivar o crescimento do país com melhor distribuição de farinha, ovos, manteiga, fogões, casas com luz elétrica, empregos e vagas nas escolas e nas universidades, finalmente poderíamos começar a nos livrar da nossa cruel e petrificada divisão entre a casa grande e a senzala. Meu palpite estava certo. A desigualdade brasileira continua grande e cruel mas está, finalmente, diminuindo.
Voto, ainda, primeiro contra a desigualdade social, ainda o maior problema do país, um dos mais injustos do planeta, em poucos lugares há uma diferença tão grande entre pobres e ricos. A elite brasileira (sim, ela existe, esta aí), fundada e perpetuada no escravismo, luta para manter seus privilégios a qualquer custo. Eles são donos dos bancos, das grandes construtoras, fábricas e empresas, das tevês, rádios, jornais e portais da internet e defendem ferozmente sua agradável posição. A única maneira de enfrentar seu enorme poder é no voto.
Voto contra o poder crescente do capital sobre as políticas públicas. Quem vive de rendas pensa sempre mais no centro da meta da inflação e menos nos níveis de emprego, mais na taxa dos juros e menos no poder aquisitivo dos salários. O poder do capital especulativo, rentista, é gigante, mora na casa dos bilhões de dólares. Voto contra, muito contra, a autonomia do Banco Central, que tira do governante, eleito pelo nosso voto, o poder de guiar o desenvolvimento segundo critérios sociais, protegendo o país do ataque de especuladores e garantindo renda e empregos, e entrega este poder ao tal mercado, hereditário e eleito por si mesmo, sempre predador e zeloso em garantir a sua parte antes de lamentar os danos sociais causados por seus lucros. (Ver Espanha, Grécia, EUA, Finlândia, etc.)
Voto contra submeter os critérios de uso dos nossos recursos naturais não renováveis, como o petróleo, ao interesse de grandes empresas estrangeiras. O petróleo brasileiro e seu destino é o grande assunto não mencionado nas campanhas eleitorais. Os ataques contra a Petrobras, que acontecem invariavelmente às vésperas de cada eleição, atendem interesses das grandes empresas petroleiras, especialmente as americanas, que querem a volta do velho e bom sistema de concessões na exploração dos campos de petróleo, sistema que, na opinião delas, deveria ser extensivo às reservas do pré-sal. Aqui o interesse chega na casa do trilhão. Garantir que o uso da riqueza proveniente da exploração de nossos recursos não-renováveis tenha critérios sociais, definidos por governantes eleitos, me parece uma ideia excelente da qual o país não deveria abrir mão.
Voto contra o poder crescente das religiões sobre a vida civil. Respeito inteiramente a fé e a religião de cada um, gosto de muitos aspectos de várias religiões, sei do importante trabalho social de várias igrejas, mas não aceito o uso de argumentos ou critérios religiosos na administração pública. Mesmo para os que professam alguma fé religiosa a divisão entre os poderes da terra e do céu deveria ser clara. Diz a Bíblia, em Eclesiástico, XV, 14: “Deus criou o homem e o entregou ao poder de sua própria decisão”. (Esta é a versão grega, a versão latina fala em “de sua própria inclinação” ou “ao seu próprio juízo”.) Erasmo faz uma boa síntese desta ideia: “Deus criou o livre-arbítrio”. Ele, se nos criou a sua imagem e semelhança e criou também as árvores, haveria de imaginar que, criadores como ele, criaríamos o serrote, e com ele cadeiras, mesas e casas, e ainda, Deus queira!, a ciência que nos permita usar com sabedoria os recursos naturais e viver bem, com saúde. O poder crescente das igrejas, com suas tevês e bancadas no congresso, deve ser contido por um estado laico.
Voto contra o preconceito contra os homossexuais. O estado não tem nada a ver com o desejo dos indivíduos. Ninguém (seriamente) está falando que o sacramento religioso do casamento, em qualquer igreja, deva ser definido por políticas públicas, mas os direitos e deveres sociais devem ser iguais para todos, ponto. Os preconceituosos e mistificadores, que vendem a cura gay ou bradam sua lucrativa intolerância contra os homossexuais, devem ser combatidos sem vacilação ou mensagens dúbias.
Voto contra a criminalização do aborto. A hipocrisia brasileira concede às filhas da elite o direito ao aborto assistido por bons médicos, em boas condições de higiene, e deixa para as filhas dos pobres os métodos cruéis e o risco de vida, milhares de meninas pobres morrem de abortos clandestinos todos os anos. A mulher deve ter direito ao seu corpo, independente de vontades do estado ou de dogmas religiosos.
Voto contra o obscurantismo que impede avanços científicos. Há quem se compadeça com os embriões que serão jogados no lixo das clínicas de fertilização e ignore o sofrimento de milhares de seres humanos, portadores de doenças graves como a distrofia muscular, a diabetes, a esclerose, o infarto, o Alzheimer, o mal de Parkinson e muitas outras, cuja esperança de cura ou melhor qualidade de vida está na pesquisa com as células tronco.
Voto contra palavras vazias. Nossa era da mídia transformou a oralidade num valor em si, esquecendo que há canalhas articulados e bem falantes e pessoas de bem e muito competentes que são de pouca conversa, ou até mesmo mudas. Tzvetan Todorov: “A democracia é constantemente ameaçada pela demagogia, o bem-falante pode obter a convicção (e o voto) da maioria, em detrimento de um conselheiro mais razoável, porém menos eloquente”. (1) Há quem diga de tudo e também o seu oposto, dependendo do público ouvinte a quem se pretende agradar, há quem decore frases feitas repetíveis em qualquer ocasião, há quem não fale coisa com coisa. Prefiro julgar os governantes e aspirantes a cargos públicos menos por suas palavras e mais por seus atos, seus compromissos e sua capacidade de trabalho em equipe, ninguém governa sozinho.
Voto contra os salvadores da pátria. Pelo menos em duas ocasiões o Brasil apostou em candidatos de si mesmos, filiados a partidos nanicos, sem base parlamentar, surfando numa repentina notoriedade inflada pela mídia e alimentada pelo discurso “contra a política”, prometendo varrer a corrupção e as “velhas raposas”. No primeiro caso, a aventura personalista de Jânio Quadros acabou num golpe militar e numa ditadura que durou 25 anos. No segundo, a aventura personalista de Fernando Collor, sem base parlamentar e passada a euforia inicial, terminou em impeachment, bem antes do fim de seu mandato.
Voto na Dilma e contra tudo isso que ainda está aí: a desigualdade social, o poder crescente do capital, a cobiça sobre nossos recursos naturais, o preconceito contra os homossexuais, a criminalização do aborto, o obscurantismo que impede avanços científicos, a criminalização da política, as palavras vazias, os salvadores da pátria. Com a direita autêntica fora do jogo podemos, sem grandes riscos de voltar ao passado, debater o melhor caminho para seguir avançando. Ponto para a democracia.
(1) Tzvetan Todorov, Os inimigos íntimos da democracia, tradução Joana Angelica DÁvila Melo, Companhia das Letras, 2012.
http://jornalggn.com.br/noticia/jorge-furtado-lista-motivos-para-votar-em-dilma-contra-tudo-que-esta-ai

O que está em jogo na sucessão presidencial


Examinemos o contexto em que se disputarão as eleições que irão apontar o presidente dos próximos quatro anos. A situação interna é conhecida: estagnação da economia, talvez contração; forte queda da indústria; aumento gradativo do desemprego; crescente déficit comercial; estagnação do investimento; continuidade da entrada de capitais financeiros especulativos puxados pelas altas taxas de juros e câmbio valorizado; inflação sob controle e declinante.
A situação externa também é amplamente conhecida, porém pobremente interpretada pela imprensa brasileira: estagnação ou contração na Europa, oscilação no fundo do poço nos Estados Unidos, recessão no Japão. Deflação. Corte de gastos públicos, salários e aposentadorias na Europa. Em consequência, pela primeira vez na história e por razões principalmente políticas, não podemos contar com nenhuma contribuição dos países industrialmente avançados para dinamizar nossa economia nessa crise pois o que pretendem é justamente aumentar exportações para nós.
Tendo em vista a indigência de nossa grande imprensa em interpretar a crise nesses países ricos, explique-se que depois do susto cavalar de 2008, que justificou políticas fiscais expansivas em todo o mundo, levando a um início de retomada em 2009, os países ricos refluíram em 2010 para o neoliberalismo adotando políticas de contração fiscal incapazes de serem contrabalançadas por políticas monetárias expansivas, tragadas estas pela chamada armadilha de liquidez – ou seja, pela situação em que as corporações têm dinheiro de sobra no caixa mas não investem por falta de demanda. Com isso a crise ressurgiu, possivelmente por longo prazo.
O que fazer nesse contexto? Esperar que, por algum milagre, as economias maduras se recuperem e nos abram os seus mercados e os seus investimentos produtivos para que possamos levantar nossa economia? Trata-se de uma ilusão ideológica. A Europa e os Estados Unidos não se encontram mais numa crise econômica que gera consequências políticas, mas numa crise política que gera consequências econômicas. O fundamentalismo político neoliberal, ao qual aderiram sociais democratas e socialistas europeus, repele qualquer iniciativa de crescimento pelo lado da expansão fiscal. Portanto, não há crescimento à vista sem o milagre de uma virada política que transcenda as próprias maiorias partidárias.
Além disso, nas economias maduras, com sua alta concentração de renda, só os grandes surtos de inovação, como o carro no início do século passado e a internet nas duas últimas décadas, possibilitam suspiros de forte crescimento. A alternativa é algum fenômeno político que expanda generalizadamente o mercado interno, como ocorreu com a social-democracia europeia. Para a atual Europa e para o Japão, os dois caminhos estão fechados, seja pelo esgotamento do ciclo de inovações de massa da internet, seja pelas razões ideológicas no campo fiscal acima assinaladas.
Os Estados Unidos deixaram uma porta entreaberta para o crescimento pois a despeito do Partido Republicano, que estupidamente quer pagar a dívida pública, Obama tem mantido déficits públicos que, embora decrescentes, ainda estão na faixa de 1 trilhão de dólares. Assim mesmo a economia está na gangorra, ora em contração, ora em expansão. E desde 2010 Obama colocou como objetivo estratégico do país, para estimular a retomada, dobrar as exportações a cada cinco anos. O Japão, o único dos países industrializados avançados que mantém uma política de estilo keynesiano, não deslancha porque, mesmo tendo desvalorizado em 20% o câmbio, não há mercado para suas exportações nas outras economias ricas, todas estagnadas, e os emergentes não podem dar conta de tanto apetite exportador.
Nesse contexto, quais são as propostas das equipes econômicas de Marina e de Aécio? Elas podem ser sintetizadas nas palavras de Armínio Fraga: câmbio totalmente flutuante com tendência à valorização (ele promete que seu BC independente não vai fazer intervenções no mercado cambial), taxa de juros elevada, contração fiscal, obsessão com a redução da inflação, preocupação secundária com o desemprego, este sinalizando uma menor pressão sobre os salários em favor da competitividade externa da economia. Esse receituário, que  importa o essencial da política insana em curso na Europa, mata o que ainda existe de demanda interna, destrói o resto da indústria e nos empurra inexoravelmente para uma depressão sem paralelo.
Não é uma receita radicalmente diferente do que está aí em dose mais leve. Mas é um assombroso sinal para a frente, porque indica não um conserto mas uma virada radical para o lado errado, no interesse exclusivo do estamento financeiro. E as diretivas para a economia interna  não são a pior promessa da dupla que Jânio de Freitas identificou como um só Aécio ou uma só Marina. Armínio Fraga e Gianetti estão convencidos de que devemos fazer um acordo de livre comércio com a Europa, já em discussão, e outro com os Estados Unidos, nesse caso ressuscitando a famigerada Alca. Isso, se realizado, afasta em definitivo qualquer esperança de retomada do que existe de indústria brasileira, nos remetendo sem piedade à condição de primário-exportadores.
 Essa perspectiva é sombria. E o que mais se deplora não é tanto o que vamos sofrer de imediato, mas o que deixaremos de ganhar a médio e longo prazos. O terreno está maduro para uma grande aliança econômica com os BRICS e a Unasul em torno de um projeto de industrialização básica financiado pela China, no Brasil e nos demais países sul-americanos, mobilizando os imensos recursos naturais da região que, hoje, estão inexplorados ou são vendidos como commodities sem qualquer valor agregado.
Por que sustento que uma estratégia desse tipo, que nos tornaria parceiros da China em investimento produtivo e não num comércio que apenas estrangula nossas empresas, é plenamente viável? Simplesmente porque interessa à China. Condenada a crescer a mais de 7% ao ano para sustentar a legitimidade de domínio do Partido Comunista, a China se defronta com gravíssimos problemas de poluição, dramática escassez de água e ameaça de falta de energia elétrica. Nesse quadro, o melhor negócio para ela, para sustentar sua capacidade de crescimento, é fazer o out sourcing da produção de metais contra acordos de compra de longo prazo da maior parte dessa produção, garantindo suas necessidades básicas crescentes desses metais. Quanto a nós, teríamos um mercado cativo que poderia estender-se à Índia, que luta com os mesmos problemas de poluição e falta de água.
Assim, num mesmo movimento, a China financiaria a produção e garantiria a demanda que, por sua vez, seria a garantia financeira do investimento. A construção das indústrias no Brasil e na América do Sul daria tremenda abertura de mercado para a indústria de bens de capital brasileira em sociedade com a chinesa. Um surto vigoroso de investimento em produção de aço, de níquel, de alumínio, de cobre, de zinco, de nióbio e de outros metais, em toda a América do Sul, nos colocaria no eixo de desenvolvimento asiático, com tremendos ganhos para o nosso mercado de trabalho e para a distribuição de renda, rompendo com a concentração de renda dos monopólios minerais e possibilitando um crescimento anual da ordem de 5 a 6%, e talvez mais.
Em termos financeiros, isso não é muito diferente do que fizemos com Carajás, que foi empreendido com garantia de compra a longo prazo de minérios pelos japoneses. A diferença é que agora estamos falando de industrialização e exportação de metais com alto valor agregado, e que servirão tanto à exportação quanto ao mercado interno, disponibilizado que seria também para empresas brasileiras e sul-americanas de segunda e terceira geração no ciclo de industrialização. Nesse contexto, o Banco dos BRICS e o Banco do Sul teriam um papel central pela capacidade de canalização de empréstimos e investimentos.
Este é o meu sonho, que acredito que Dilma, com todos os seus defeitos, poderá colocar em andamento se for reeleita, já que ela ajudou a construir uma ótima articulação com os BRICS e a Unasul. E agora me digam, Marina e Aécio, qual é seu sonho para o Brasil? Fazer o dever de casa da contração econômica para cumprir a pauta da política alemã para a Europa, nos colocando de novo de joelhos perante o FMI? Leiam atentamente os pronunciamentos de Gianetti e Armínio. A bem da verdade, eles não estão escondendo nada. Ao contrário, fazem o que fez o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, quando tomou posse no cargo: para recuperar a competitividade europeia, disse ele, era necessário destruir o estado de bem estar social! Em Portugal, já cortaram as aposentadorias acima de mil euros.
J. Carlos de Assis - Economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, professor titular de Economia Internacional da UEPB, autor de mais de 20 livros sobre economia política brasileira.
http://jornalggn.com.br/noticia/o-que-esta-em-jogo-na-sucessao-presidencial-por-j-carlos-de-assis

Quadrilha do jatinho e PSB zomba do país com “contrato papel de pão”


1 de setembro de 2014 | 07:56 Autor: Fernando Brito
papeldepao
Folha revela hoje o que é, aos olhos até de um adolescente, uma fraude.
O “contrato” de compra do Cessna que servia à campanha de Eduardo Campos e Marina Silva é, obviamente, uma falsificação primária.
Um contrato de mais de R$ 20 milhões se resume a uma “carta de intenção” apócrita, porque traz uma assinatura de “alguém” (ou de ninguém) que sequer se identifica.
Não é preciso mais que os dois fragmentos exibidos pelo jornal para que se veja que é uma montagem, onde uma pessoa física (“me proponho”, sic) não identificada manifesta a “intenção de compra” do avião.
Bastou isso para “levar” um aparelho de US$ 8,5 milhões de dólares e passar a empregá-lo nos deslocamentos de Eduardo Campos e Marina Silva pelo país.
Detalhe sórdido da falsificação: a “validade” da ” intenção de compra” é o mesmo dia em que se a assina.
Portanto, não haveria “intenção de compra”, mas compra.
Os advogados ouvidos pela Folha classificam o documento de “papel de pão”, algo sem validade jurídica.
Não seria preciso ouvir advogados, basta imaginar se você entregaria uma automóvel apenas com um papel assim.
Não é um “papel de pão”, porém, é um documento forjado.
Ou forjado depois do acidente, na esperança de dar “cobertura” a um negócio escuso ou, forjado na ocasião, para dar formalidade a uma transação onde o nome do verdadeiro comprador não poderia aparecer.
Estamos diante de uma quadrilha, que não apenas age para violar as leis – eleitorais, comerciais e fiscais – como se associa para encobrir aos olhos da Justiça este crime.
A Folha, certamente, está “guardando” para novas matérias os detalhes desta carta “de más intenções” que revela hoje.
Já não é o caso de pedir, como determina o Procurador Geral da República, os documentos desta transação.
É o de apreendê-los, porque se tratam, evidentemente, de provas de crimes.
O de obter e incorporar a uma campanha política um bem de mais de 20 milhões, de uma empresa que, em recuperação judicial, agiu em fraude aos seus credores.
E o de quem, simulando esta compra e sustentando diante da opinião pública desculpas e justificativas pueris, está fraudando a formação de consciência de todo um país.
Se não o fizerem, estarão deixando 203 milhões de brasileiros serem vítimas de um estelionato sem comparação em um país democrático.
O PSB tem 24 horas, prazo de sua segunda prestação de contas parcial, para declarar e comprovar a origem do avião.
E para decidir se vai se associar – a si como partido e à sua candidata – a crimes que vão além do Código Eleitoral.
Que são, inapelavelmente, do Código Penal.
http://tijolaco.com.br/blog/?p=20685