domingo, 14 de setembro de 2014

O dia em que Alexandre Quem? julgou ter demolido Celso Furtado


 
Participei de um evento que teve, na rodada anterior à minha, um debate com a participação do economista Alexandre Rands, um dos ideólogos de Eduardo Campos.
 
Naquele momento me causou péssima impressão - que registrei em um post. Agressivo, deslumbrado, trazendo para a cena nacional seus embates provincianos com o PT de Pernambuco, é como se fosse um Roberto Freire da economia.
 
Na entrevista a O Globo, ele se supera.
 
Sem jamais ter conseguido sair dos limites do Estado, sem ter conseguido firmar reputação, resolve emular os economistas de mercado paulistano no que eles têm de mais superficial: a agressividade vazia.
 
A sem-cerimônia com que ataca as ideias de Celso Furtado ou as chamadas escolas desenvolvimentistas é de um ridículo sem tamanho. Um estado que nos forneceu Tânia Bacellar não merecia ser representado na cena nacional por um Alexandre Quem qualquer, que só ganhou relevância pela amizade com Eduardo Campos.
 
De O Globo
‘Dilma trata empresários como prostitutas’, diz coordenador econômico do programa do PSB
Alexandre Rands disse que Marina assumiu de cara propostas como autonomia do Banco Central
POR ALEXANDRE RODRIGUES
14/09/2014 7:00
 
RIO — Faltavam 15 minutos para o economista e empresário Alexandre Rands, de 51 anos, falar num debate sobre propostas dos candidatos à Presidência da República, em São Paulo, quando recebeu um telefonema. A notícia era a do desaparecimento do avião de Eduardo Campos, cujo programa econômico ele estava coordenando. Quando a morte do candidato do PSB se confirmou, naquele dia 13 de agosto, Rands desistiu da palestra, cancelou todos os compromissos dos dias seguintes e voltou ao Recife, onde dirige uma empresa de consultoria e de centros de telemarketing. “Minha missão acabou”, pensou o economista, que perdera não só o interlocutor mais frequente de seu celular nos últimos meses. Eles eram amigos desde que, aos 13 anos, o ex-governador de Pernambuco começou a namorar sua prima, Renata. Quando começou a construir sua candidatura à presidência, Campos procurou o ex-companheiro de chapa no diretório acadêmico da faculdade de economia da Universidade Federal de Pernambuco para iniciar conversas com economistas e empresários em todo o país. Irmão do ex-deputado Maurício Rands, coordenador do programa de governo do presidenciável, Alexandre Rands acabou com a missão de condensar o capítulo econômico, assumido integralmente por Marina Silva na cabeça da chapa do PSB. Poucos dias depois da tragédia, Rands já estava de novo viajando pelo país para defender propostas do programa econômico da candidata, mas agora, ressalta, apenas como “um dos colaboradores”.
 
Diferente da linha direta que tinha com Campos, ele mantém com Marina uma relação mais distante, que passa por intermediários como o irmão e Eduardo Giannetti, o guru econômico da candidata. Em entrevista ao GLOBO, Rands conta que houve consenso entre os economistas do PSB e da Rede em praticamente todas as etapas de elaboração do plano econômico da candidatura, finalizado ainda antes da morte de Campos. Por isso, diz, Marina assumiu logo de cara propostas como a autonomia do Banco Central. Ele estima que, num eventual governo, Marina poderá fazer a economia crescer 4% no fim do mandato.
 
Doutor em economia pela Universidade de Illinois (EUA), ele admite ter feito investimentos em sua empresa com juros subsidiados do BNDES, mas faz uma crítica dura ao atual modelo de incentivos ao setor produtivo de Dilma Rousseff (PT), a quem acusa de manter com o empresariado uma relação contraditória: “Trata o empresariado como uma prostituta. Quer estar com ele, desfrutar de suas benesses, mas depois denigre sua imagem”. Para Rands, o problema está na predominância no governo da escola de pensamento econômico da Universidade de Campinas (Unicamp), onde Dilma foi doutoranda, representada por nomes como Aloizio Mercadante (ministro da Casa Civil), Luciano Coutinho (presidente do BNDES) e Marcio Pochmann (ex-presidente do Ipea que atua na campanha de reeleição da presidente). “Campinas é hoje uma ilha que parou no tempo”.
 
O GLOBO: Quando Campos morreu, sua adesão a Marina foi automática?
 
Alexandre Rands: Em momento nenhum duvidei que votaria nela, mas questionei se teria o mesmo engajamento. Esse entusiasmo fui ganhando quando vi ela assumir o programa, estabelecer a relação com o PSB. Hoje, eu me sinto no mesmo projeto. É uma relação diferente da direta que eu tinha com Eduardo, mas Marina assumiu o nosso programa na área de economia sem mudar nada, até porque foi fruto de um consenso.
 
Que diferença haveria entre um governo de Campos e um de Marina na economia?
 
Pouca. O que faria, talvez, uma diferença, seria a experiência de Eduardo em Pernambuco. Talvez ele faria as mudanças na gestão, que é uma coisa fundamental, mais rapidamente. Nisso, a perda foi grande. Mas Marina tem o mesmo compromisso. Pode ser que não consiga fazer na mesma velocidade, mas é questão de aprendizado. Ela tem uma qualidade: sabe ouvir.
 
Petistas e o próprio PSDB acusam o programa econômico de Marina de ser uma cópia de ideias tucanas. Qual a diferença?
 
O PSDB adora dizer que a gente está copiando. De fato, numa discussão, vamos concordar em 80% das coisas. Não é porque os economistas de Marina são tucanos, mas simplesmente porque hoje em dia existem alguns consensos na teoria econômica. Estão em todas as universidades americanas, em 98% das europeias, em 95% das asiáticas e 97% das brasileiras. Só uma universidade aqui não tem articulação internacional, não traz e não manda ninguém para o exterior: a de Campinas (Unicamp). Ela é endógena. No entanto, tem uma força no governo Dilma que não tinha no de Lula, que era muito mais próximo do que Marina defende hoje. Os economistas de Campinas não consideram todo o desenvolvimento da teoria econômica desde a década de 1960. Dilma pensa com a cabeça de Campinas, que hoje é um lugar isolado, fora do mundo. Uma ilha que parou no tempo. Pela primeira vez, cada candidato tem propostas de desenvolvimento baseada em concepções diferentes.
 
Quais são essas concepções?
 
A dos tucanos é a de que o grande problema do Brasil é o arranjo institucional inadequado. Acham que, destravando as amarras, o investimento em educação, por exemplo, vem a reboque do crescimento. Na visão de Marina, as reformas institucionais são importantes, mas mais importante ainda é o impulso da educação, que aumenta produtividade, para crescer no longo prazo. Para os tucanos, bastaria manter o gasto sob controle e crescer. Depois, isso se resolve. A gente acha que tem que investir agora. O curto prazo é mesmo garantir estabilidade, previsibilidade e começar a retirar as amarras. Por isso dizem que somos parecidos com o PSDB. Mas, para desenvolver um país, é preciso investir em capital humano.
 
E qual é a terceira concepção?
 
Na visão de Dilma, desenvolvimento é feito por demanda (consumo). É impressionante porque, mesmo com pleno emprego, ainda mantêm isso, junto com a a visão estruturalista de privilegiar um ou outro setor com políticas discricionárias. A lógica dela é que o governo tem de reestruturar a economia. E sempre faz isso a partir da demanda. Exemplo é o setor automobilístico, visto como de alta produtividade. O governo fica tentando aumentar o crédito para estimular a demanda. É um modelo econômico altamente inflacionário, baseado no (economista) Celso Furtado. A escola de Campinas, e grande parte da esquerda brasileira, não conseguiu se libertar de Celso Furtado. Só que é um modelo que gera uma crise dentro dele próprio. O que são R$ 500 bilhões do Tesouro no BNDES para subsidiar empresário? Isso é usar a estrtura do Estado para injetar dinheiro direto na veia dos grandes empresários. Tem coisa mais de direita do que isso?
 
O modelo de Celso Furtado não faz mais sentido?
 
Não faz mais sentido hoje, pelo menos. A questão inclusive é se já fez sentido. Esse é um modelo que sai da política para gerar uma argumentação na economia. Mas, lá atrás, quem seguiu modelo diferente se deu melhor. Um exemplo é a Coreia do Sul, que na década de 1960 era mais pobre que o Brasil e vivia igualmente sob sistema autoritário. Lá, a ditadura industrializou, mas sobretudo investiu na educação.
 
Mas defensores da atual política industrial e do papel do BNDES gostam justamente de usar como exemplo a Coreia. Qual a diferença?
 
A diferença é que a Coreia gastava 10% dos seus recursos para promover setores industriais e 90% para garantir educação, oportunidades iguais, para todos. E esses 10% não serviam para o camarada ir para festa com empresário. Lá, o governo dava prazo e meta. Depois de dez ou quinze anos sem resultado, a empresa quebrava. Havia contrato e um Estado independente. Aqui, temos um governo subjugado ao empresariado. Dilma detesta os empresários, mas todas as políticas são para eles fazerem o que bem entenderem. O governo bate, mas depois convida para um drinque. Trata os empresários como prostitutas. Quer estar com eles, desfrutar de suas benesses, mas depois vai criticar, denegrir sua imagem.
 
Se os empresários lucram, como explicar a resistência deles à reeleição de Dilma?
 
Seguindo o exemplo: você acha que a prostituta confia nos homens que recebe? Chamaria um deles para a festa de aniversário do filho? Claro que não. Só tem interesse e medo.E tem outra coisa: um homem agrada três, quatro, dez prostitutas, mas não a todas as outras que não estão participando da festa.
 
Há uma parte do empresariado que se sente excluída?
 
Sim, uma boa parte. Não adianta só dar crédito barato do BNDES. Eu mesmo fiz investimentos na minha empresa com linhas de 5% ao ano do BNDES. Se fossem juros de 8% eu teria investido? Sim, do mesmo jeito. Essa diferença foi transferência direta para o empresariado. Não precisava disso. O governo escancarou o subsídio desnecessariamente. Foi generosidade demais. Mas, o mesmo empresário que se beneficia disso tem que enfrentar a Receita, o INSS, a regulação instável, o licenciamento demorado, as greves... Enfrenta em tudo essa lógica autoritária de Dilma que se espalha pelo governo. Por que, só com um crédito aqui e outro ali, vai gostar do governo? É um governo que joga a burocracia contra o empresariado, que está sitiado. O Brasil está impossível. É um país cheio de oportunidades, que tem um mercado imenso, uma cultura fácil. Mas a dificuldade de agir é muito grande. Abrir negócio, fechar, pagar imposto, tudo é muito difícil. É preciso acabar com essa relação doentia do governo com os empresários, que torna custoso demais crescer.
 
O senhor diz que educação é a chave para o crescimento, mas o governo atual tem como bandeira o aumento do número de universitários e escolas técnicas. O que Marina propõe de diferente?
 
Hoje, o governo não gasta o suficiente e gasta mal. Eficiência não é uma preocupação do PT na educação e nem nas outras esferas. As universidades federais não têm metas, não são cobradas. No ProUni, as privadas são pouco fiscalizadas. É preciso investir em qualidade e reforçar o ensino básico. Por isso, escola de ensino integral tem prioridade total na visão de Marina. Se o jovem passa mais tempo em casa e menos na escola, aprende mais coisa em casa. Temos que inverter isso. Nosso capital humano tem deficiências que não são apenas de conhecimento técnico. Para terem disciplina ou ganhar uma visão de mundo mais ampla, os jovens precisam ficar mais tempo na escola.
 
O senhor se considera um neoliberal?
 
Não. Quem fala isso não sabe o que é neoliberalismo. Gente que leu apenas um livro na vida, o do (economista britânico John) Keynes, e nem conseguiu entender até hoje. O neoliberal acredita que as forças de mercado e um sistema totalmente democrático resolvem tudo. Entre os tucanos, há neoliberais. Entre nós, em torno de Marina, até há alguns. Mas a maioria dos que são tachados (pelo PT) de neoliberais são os que os que acreditam que o mercado é eficiente na maioria das áreas, mas não em todas. Há aquelas que precisam da mediação do Estado. O neoliberalismo não consegue, por exemplo resolver o problema da pobreza na velocidade necessária. Não defende tanto investimento em educação, como é a base de Marina. Acha inclusive que deveria ser privada. Há uma distância imensa entre nós e o neoliberalismo. O que não acreditamos mesmo é em mágica.
 
Marina defende a autonomia do Banco Central com mandato fixo. O que isso faria diferença para o atual presidente do BC, Alexandre Tombini?
 
Ele teria subido os juros antes. Não teria reduzido o compulsório. Fez isso porque Dilma deu um grito e ele teve de fazer. Mas se ele fosse o presidente de fato, não faria. Um mandato fixo faria com que ele não ficasse subjugado à presidente. Ele poderia dizer para ela: cuida do seu quadrado e eu cuido do meu.
 
Campos defendeu reduzir a meta de inflação dos atuais 4,5% para 3% até 2018. Isso não penalizaria o mercado de trabalho, como diz Dilma?
 
Não. Dilma trabalha com uma teoria de curto prazo. Se dissermos agora que o BC vai reduzir a inflação a 3% no ano que vem isso aconteceria. Mas conduzir a economia gradualmente para esse patamar é possível. A presidente Dilma só precisava de um tempinho para ler mais. Não precisa de muita teoria. Todos os estudos empíricos mostram que países com inflação mais baixa crescem mais. Inflação atrapalha o crescimento. Eu discuti essa meta com Eduardo com parâmetros responsáveis. Chegar a 3% em quatro anos é possível. Isso poderia gerar um crescimento de mais longo prazo.
 
Marina foi criticada ao dizer que pré-sal e hidrelétricas de grandes reservatórios não seriam prioridades. Isso não seria desperdiçar vantagens comparativas do Brasil em nome de alternativas arriscadas?
 
O pré-sal está aí, uma descoberta que é fruto de uma estratégia de Petrobras e deve continuar. Quando a gente compra um carro, não discute se tem ou não roda. A gente pressupôs que o pré-sal é algo estabelecido. Vai ser feito. Sobre hidrelétricas, a ideia de grandes reservatórios não foi discutida a fundo. Acho que nem a Rede tem uma posição definitiva. O que eles dizem, e estão corretos, é que é preciso questionar se realmente precisamos de mais reservatórios. Não conseguimos superar com solar, eólica ou biomassa? Vamos tentar. A ideia é elencar as fontes de energia por impacto ambiental e ir alocando. Hidrelétricas sem grandes reservatórios está acima nessa prioridade do que com reservatório, que está acima de termelétrica... E assim vai. Mas ninguém vai ser irresponsável porque o autoritarismo não faz parte da tática de Marina e nem do PSB. Não vi ter uma presidente batendo na mesa dizendo que vai ter que ser assim, mesmo com todo mundo sabendo que é irracional.
 
Marina é criticada por apresentar propostas que aumentam gastos sem apontar origem dos recursos. Não é uma contradição em relação ao discurso de austeridade fiscal?
 
O orçamento tem hoje R$ 253 bilhões de recursos discricionários (não-obrigatórios). Calculamos que é possível abrir no Orçamento em torno de R$ 210 bilhões, em várias brechas. Só o fim desse grande balcão de emendas para angariar votos no Congresso vai resultar em R$ 100 bilhões. Nós queremos reclassificar esses gastos. Hoje, Bolsa Família é discricionário. Se a presidente ficar mal-humorada, pode acabar. Em segundo lugar, fizemos estimativas de que se, na Previdência, houver maior fiscalização para acabar com distorções e sonegações, o rombo de R$ 50 bilhões do ano passado fica positivo. A boa gestão acaba com o deficit.
 
O crescimento da economia no governo Dilma ficou abaixo de 2% ao ano. Qual seria a marca atingida por Marina aplicando suas propostas?
 
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O ano que vem vai ter um crescimento medíocre de novo e o segundo ano de governo ainda será difícil. Mas acho que, no quarto ano, Marina conseguiria algo em torno de 4%. O começo será difícil por causa das caveiras dentro do armário. A prática do governo Dilma é jogar dívida e gasto para fora do Orçamento. Acha que pode enganar. Esse abacaxi está crescendo com aumento de restos a pagar, adiamento de repasses para a Caixa... Tudo isso nós vamos ter que jogar no Orçamento.
 
O mercado financeiro rejeita a reeleição da presidente Dilma. Parecia mais ligado a Aécio, mas agora sinaliza para Marina. Roberto Setubal, presidente do Itaú-Unibanco, fez elogios a ela. É importante ter apoio do mercado para vencer as eleições?
 
Não acho que seja tão importante. Interessa mais do que tudo apresentar as ideias. O importante é ser sincero, dizer o que se quer fazer. Se o banco gostar, tudo bem. Mas não estamos aqui para agradar banco. Marina não seria como Dilma, que gosta de prometer coisas para agradar determinados setores. O que pauta Marina não é o ódio de nenhum setor, mas o que acha que é bom para o povo brasileiro. Assim como Lula, ela é uma legítima representante do povo. Se em algum momento agrada ou desagrada algum setor, isso não a afeta. Ela não quer penalizar ninguém, mas não vai sacrificar a maioria pelos interesses de uma minoria. Se o setor financeiro apoiar, ótimo. Se não, paciência.
 
 
 
Read more: http://oglobo.globo.com/brasil/dilma-trata-empresarios-como-prostitutas-diz-coordenador-economico-do-programa-do-psb-13925349#ixzz3DIldSe1t

http://jornalggn.com.br/noticia/o-dia-em-que-alexandre-quem-julgou-ter-demolido-celso-furtado

Quando a verdade para no meio do caminho, mentira vira


14 de setembro de 2014 | 11:08 Autor: Fernando Brito
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O Globo publica hoje matéria sobre a investigação realizada pelo TCUsobre o adiantamento de recursos, promovido pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, ao falecido governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Não tenho, claro, elementos para julgar o que se questiona ali, que é a regularidade fiscal da operação.
Mas é estranho que não se fale em quem foi o destinatário final daqueles recursos – a multinacional holandesa Van Oord – e as ligações políticas que se estabelecem entre ela e Eduardo Campos, através de doações vultosas e exclusivas ao PSB, comandado por ele.
Agora, imaginem se esta multinacional, que abiscoitou o contrato de dragagem, suspenso pelo Governo Dilma por conta das evidências de superfaturamento, tivesse doado R$ 4,4 milhões de reais ao PT?
Pois foi exatamente o que ela fez à Direção Nacional do PSB, aliás presidido pelo então Governador de Pernambuco Eduardo Campos.
Note que isso não é uma acusação, mas um fato, comprovável por qualquer um que deseje consultar as prestações de contas eleitorais publicadas na internet pelo TSE na internet ( aqui, para 201o e aqui para 2012).
Estamos falando de doações oficiais, não de dinheiro “por fora” como foi o utilizado na compra do fatídico jatinho PR-AFA que se espatifou em Santos.
E das únicas doações feitas pela multinacional Van Oord a direções partidárias, que as redistribuem entre candidatos a seu critério.
Os leitores de O Globo, certamente, gostariam de saber onde foi parar o dinheiro do contrato contestado pelo TCU. E se dele, direta ou indiretamente, sobrevieram vantagens eleitorais. Afinal, o jornal faz isso com todos os outros doadores de campanha que tinham – ou dizem que tinham – contatos com o ex-diretor da Petrobras.
Para no meio do caminho transforma a verdade em farsa, porque parcial e seletivo o trabalho de investigação da imprensa.
Mais ou menos como acontece no caso do avião onde, ao que parece, não existe nenhum jornal interessado em perguntar, mesmo em tese, se dois ou três empresários poderiam ceder um avião, sem qualquer contrato ou documento de propriedade ou desta cessão, muitíssimo acima dos limites fixados na lei eleitoral.
Simples assim, mas muito difícil para a imprensa brasileira.
http://tijolaco.com.br/blog/?p=21220

Jânio acusa Marina de pautar campanha por ofensas e mentiras


Jornal GGN – A pouco menos de um mês das eleições, a campanha presidencial já descambou para o campo das agressões, com pouco ou nenhum teor político. Começou com Aécio, que optou pela agressividade para fazer frente, não mais a uma pouco ameaçadora candidatura de Eduardo Campos, mas a Marina Silva. Foi dar na própria Marina, que não poupou o seu antigo partido e está buscando na Petrobras todos os males do mundo para usar contra o PT – mesmo no caso de Paulo Roberto Costa, que acendeu na estatal durante o governo FHC. No meio dessa confusão, Dilma Rousseff, é a menos ofensiva dos três e tem preferido apenas dar respostas aos ataques.
Por Janio de Freitas
Da Folha de S. Paulo
Não se esperava que a disputa presidencial se fizesse por troca de agressões e um nível tão baixo do teor político
Ainda que não seja novidade nas disputas pela Presidência, o pugilato verbal entre os atuais candidatos veio surpreender. Não se esperava que a campanha se fizesse por troca de agressões, e, sobretudo, não se imaginaria um nível tão baixo do teor político contido nessa agressividade.
A violência verbal não é novidade em termos. Na democracia anterior ao golpe de 64, nas quatro eleições presidenciais houve muita agressividade, mas toda por conta de não candidatos à Presidência. Entre os disputantes, prevaleceu, sempre, a concepção de que pretendentes à Presidência não podiam mostrar-se ao eleitorado sem a compostura apropriada ao cargo.
Getúlio nunca citou o brigadeiro Eduardo Gomes nem foi por ele citado. O mesmo se passara entre o general Dutra e o brigadeiro. O general Juarez Távora fez campanha até raivosa, e Juscelino se ocupou dos seus planos para fazer "50 anos em 5", sem referencia direta entre eles. Jânio fez campanha de fortes insinuações contra tudo o que lembrasse o governo Juscelino, representado na candidatura do general Lott, mas nunca o fez de modo explícito e nominal.
Ditadura militar por 21 anos é, na cultura política, o mesmo que a demolição acelerada de uma edificação construída durante séculos, como as velhas catedrais. Em 1989, a primeira eleição direta da nova democracia retrata, em tudo, os efeitos da demolição feita pela ditadura. Fica muito bem em Collor a personificação da campanha sem ética política e sem compostura pessoal, com variados modos de violência, não só verbal.
Até que chegasse ao vitorioso "Lulinha paz e amor", Lula preencheu três campanhas com irada pregação da temática petista. Sem agressões a Fernando Henrique, cujas condições nas duas disputas dispensavam embates diretos, que nem fariam o seu gênero. O mesmo se deu entre Lula e Alckmin. Mas não com Serra, que se permitiu, contra Lula e contra Dilma, desde diferentes modalidades agressivas até armações com ajuda de terceiros.
Por aí se chegou à atual campanha sem imaginar que o candidato da simpatia, herdeiro de uma prática política sempre elevada, passageiro de uma vida alegre, não fosse isso mesmo como candidato à Presidência. Ainda com Eduardo Campos, os dois fizeram um acordo de mútua preservação que deu o sinal: as farpas logo voaram de um lado e de outro. Dilma e o governo já estavam na mira, mas de tiros políticos.
O que os céus fizeram por Marina tomaram de Aécio, na queda do avião. E, pior, trouxeram-lhe a suposição de se salvar pela agressividade contra a nova concorrente. E logo também contra a antiga. Aécio Neves foi o disparador da deterioração da campanha em que a perda de escrúpulos é crescente.
Não se imaginava que a Marina Silva tão contida, como se toda travada por poderosas forças interiores, ou, sabe-se lá, celestiais ("Deus não quis que eu estivesse naquele avião"), fosse capaz de tamanha desinibição para dizer coisas como esta raridade: "Um partido que coloca por 12 anos um diretor para assaltar os cofres da Petrobras". "Para assaltar"? A desonestidade dessa afirmação, feita em sabatina há três dias no "Globo", não tem limite nem para trás.
Funcionário de carreira, Paulo Roberto Costa fez sua ascensão na Petrobras durante o governo Fernando Henrique, nomeado então para sucessivos postos e funções relevantes, que vieram a culminar no governo Lula. É um mistério o momento em que começou sua corrupção. Mas há a certeza de que, a não ser para Marina, nenhum partido e nenhum governo dos dois presidentes promoveu Paulo Roberto Costa "para assaltar".
Diante de tamanha e perversa difamação, não surpreende a facilidade com que Marina diz inverdades bondosas a seu respeito, atribuindo-se votos, pareceres e projetos no Senado que o Senado nunca ouviu ou leu. Sua agressividade tem este componente adicional: a inverdade. O que aquela sabatina tornou ainda mais perceptível (e registrado jornalisticamente).
Mas de Dilma, a "durona", a "gerentona", esperava-se que ao menos confirmasse a maneira como a imprensa a descreve. A surpresa que lhe cabe vem, no entanto, do oposto: é a menos ofensiva, tanto no sentido de ataque como de insulto. Tem preferido dar respostas, algumas duras e outras irônicas. Sem conseguir, porém, tornar menos deplorável esta campanha indigna de uma disputa pela Presidência da República.
http://jornalggn.com.br/noticia/janio-acusa-marina-de-pautar-campanha-por-ofensas-e-mentiras

“Vocalizador” de Marina quer elevar meta de inflação. É a confirmação do “tarifaço”


14 de setembro de 2014 | 12:35 Autor: Fernando Brito
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Hoje, a Folha revela que o economista Alexandre Rands, um dos integrantes da turma de “vocalizadores” que Marina mandou conversar com a nata do setor financeiro, reunida pela Merryl Lynch-Bank of America, prometeu ali elevar a “meta de inflação”  - um dos integrantes do sacro “tripé macroeconômico” – caso a candidata convertida ao mercado chegue ao governo.
O episódio lembra-me a história que ouvi certa vez e jamais me saiu da cabeça. Depois de um prolongado cerco, um rei resolveu entregar sua cidadela. Foi, com uma pequena embaixada, negociar pessoalmente com o chefe do exército que o ameaçava, junto aos muros da cidade. E, antes de qualquer coisa, pediu-lhe que as conversações fossem em grego, conhecido apenas pelos “cultos”  e não em aramaico, língua do povo que se espremia na amurada para ver e ouvir o que se dizia.
Elevar a meta de inflação é uma espécie de “porteira aberta” para um choque tarifário, porque libera os efeitos da elevação dos preços administrados: gasolina, energia, planos de saúde, água e escoto, gás de cozinha, tarifas em geral e uma série de outros…
São 23 itens, no total, que representam um peso de quase 25% no cálculo total da inflação pelo IPCA.
Claro que há necessidade de fazer, de forma controlada e gradual, permanetes reajustamentos nestes preços.
O que é totalmente diferente de dar um “choque de preços”, em nome da “liberdade de mercado”.
É o que, já há alguns dias, Luís Nassif nos advertia sobre as declarações de outro “guru” marinista, Eduardo Giannetti.
Isso, é obvio, aumenta a inflação e é por isso que, para “dar credibilidade”, como diz Rands, a meta seria elevada. E para evitar que ela também “estourasse”, claro, seria necessário  ”nivelar”  os dois outros suportes do “tripé”.
Juros para cima, porque com inflação mais alta necessário elevá-los para duas coisas: manter o nível real de remuneração do capital e “segurar” a inflação via  redução do crédito.
Dólar para o alto, também, porque isso também contribuiria para frear o consumo, os gastos no exterior, melhorar a balança comercial e, sobretudo, tornar mais baratos e atraentes para o capital internacional os ativos no Brasil.
metasA comparação feita pela matéria da Folha, mencionando o fato de, no primeiro ano do governo Lula, ter sido elevada a meta de inflação é totalmente esdrúxula: ali a “meta” foi ajustada à realidade de desvalorização cambial (53%) e à taxa de inflação (12,53%)  já registradas no final do governo FHC, durante o ano de 2002.
Não é absolutamente comparável, pois a inflação tinha sido mais que o dobro do teto fixado então (de 5,5%), enquanto hoje, mesmo se considerarmos o acumulado em 12 meses, a desvalorização está 0,01%  (isso mesmo, um centésimo de ponto percentual) acima do teto.
Basta alguém olhar o gráfico das metas e do comportamento da inflação ao longo dos anos que verá, mesmo sem conhecimento mais profundo de economia, que se trata de duas situações totalmente diferentes. E a expectativa da inflação futura, em vermelho, não é a do governo, mas a do próprio setor financeiro, através do Boletim Focus.
O que os “vocalizadores” de Marina anunciam, pura e simplesmente, um conjunto de medidas que, como aquela rendição do rei, não pode ser dito na língua do povo: um “tarifaço”, o aumento dos juros e a elevação do dólar.
Esta aí porque esta gente parece falar grego.
http://tijolaco.com.br/blog/?p=21225

Ombudsman diz que Folha terceiriza denúncias de Veja


Jornal GGN – A matéria da revista Veja sobre as delações do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, serviram muito mais para revelar a fragilidade do jornalismo feito pela mídia hegemônica do que cumprir sua função social de informar a população. Mesmo com editais recomendando cautela na leitura, o assunto foi manchete nos principais jornais. Os riscos, provavelmente, foram calculados. E aceitos. Em nome de algum protagonismo no cenário político nacional. Em um país menos imperfeito, pesados processos por injúria e difamação deixariam mais cautelosos editores e diretores de redação.
Por Vera Guimarães Martins
Da Folha de S. Paulo
Reconhecer e resgatar furo dado pela concorrência é do jogo, mas não dá para relaxar alguns parâmetros
Uma das tarefas da ombudsman é tentar dar transparência ao trabalho da Redação, desvelando para o leitor os problemas, dilemas e (sobretudo) erros embutidos no ofício de "espremer vidas complicadas em manchetes simples", na definição precisa da música "Cedars of Lebanon", do U2. No ofício, espremem-se também decisões complicadas.
No fim de semana passado, o noticiário nacional foi mesmerizado pelo vazamento de parte dos depoimentos que Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, vem concedendo num processo de delação premiada que corre em segredo na Justiça Federal do Paraná.
Além da unanimidade das manchetes, havia conformidade na origem: a fonte era a reportagem "O delator entrega os nomes", publicada na revista "Veja" que chegou às bancas no sábado (6).
Segundo a revista, o ex-diretor havia envolvido três governadores, seis senadores, um ministro e pelo menos 25 deputados federais em um esquema de corrupção na Petrobras. O texto só revelava 12 dos nomes. Não havia, ao menos no material publicado, documentos que comprovassem acesso ao depoimento. A "Veja" relatava que obteve detalhes de parte significativa das declarações e deixava claro que eram informações "off the record", ou seja, de fonte mantida em sigilo.
Para evitar mal-entendidos: o "off" é instrumento comum e pode render informações seguras quando jornalista e fonte desenvolvem relação de confiança mútua. Cabe ao veículo, que conhece seu profissional e a identidade da fonte, avaliar o grau de confiabilidade e bancar a publicação, o que a "Veja" fez.
Também é normal que um furo de reportagem como esse seja replicado pelos meios de comunicação.
É raro, porém, que grandes escândalos sejam revelados com base apenas em fontes não identificadas, sobretudo quando envolvem acusações nominais, sujeitas a processos de injúria e difamação. E mais raro ainda que notícia obtida nessas condições ganhe todas as manchetes.
O fato não escapou a alguns leitores. "É um absurdo que um jornal desse porte publique na manchete uma notícia de tal importância cuja única fonte é a Veja', a partir de reportagem, como o próprio jornal assinala, sem detalhes ou documentos", escreveu uma leitora.
A ressalva, aliás, torna o episódio mais curioso. O texto da Folha teve o cuidado de registrar a falta de provas documentais. Na terça (9), o principal editorial recomendava cautela e apontava as fragilidades das informações. Ainda assim, foi manchete. Por quê?
Responde a Secretaria de Redação: "O que a revista "Veja" publicou se aproximava de informações que nossos repórteres haviam recebido e tentavam confirmar. O jornal tinha as linhas gerais da apuração, mas sem detalhes. Preferiu, assim, atribuir a informação sobre os nomes de alguns implicados à revista, que deu o furo."
A Folha poderia, como costuma fazer, publicar a história com destaque e chamada na "Primeira Página" sem dar-lhe o peso de uma manchete em cinco colunas. Seria o reconhecimento da importância do furo, mas também das dificuldades de comprovação vivenciadas pelos seus profissionais. Preferiu um procedimento, digamos, pouco ortodoxo.
Mas o imbróglio da Petrobras comporta outras heterodoxias. A primeira, já apontada e que interessa discutir aqui: todos os grandes jornais tiveram o mesmo comportamento. (A segunda: não se ouviram ameaças de processos por parte dos políticos nominalmente acusados.)
A explicação para o mimetismo dos jornais depende do interlocutor. Há quem enxergue no vazamento uma conspiração para prejudicar as candidaturas à Presidência de Dilma Rousseff e de Marina Silva e para beneficiar o tucano Aécio Neves --o que, convenhamos, não corria o menor risco de dar certo, como se pôde ver pelas últimas pesquisas.
Creio mais na dinâmica jornalística. Nas Redações, reina a convicção de que a delação de Costa deve detonar um escândalo de grandes proporções, com potencial para pautar a política nos próximos anos.
Nenhum veículo quer ficar à margem ou parecer irrelevante em cobertura desse calibre. Todos querem um naco do mérito. Como jornalista, conheço bem a luta pelo protagonismo noticioso --é ela, afinal, que garante a sobrevivência dos meios.
Mas minha avaliação é que faltou cautela. Se, como disse o editorial, a pilhagem da Petrobras é plausível, o malogro de investigações potencialmente explosivas como esta costuma ser ainda mais plausível.
http://jornalggn.com.br/noticia/ombudsman-diz-que-folha-terceiriza-denuncias-de-veja