quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Não se deixe enganar: Dilma foi responsável pela demissão de Paulo Roberto Costa da Petrobras

A presidenta Dilma tem reafirmado em seus discursos a importância de dizer a verdade como prova de caráter. Mas tem gente por aí, comoRomeu Tuma Jr(link is external) – da turma que não tem compromisso com a verdade -  querendo dizer que a presidenta mentiu quando declarou ter sido decisão dela a demissão do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa. Como, ao contrário da oposição, a gente está aqui para divulgar a verdade, comprovamos, pelas próprias palavras de Paulo Roberto, que a decisão de deixar o cargo que ocupava na estatal não foi dele. A demissão foi comunicada  a Paulo Roberto, pessoalmente, no dia 2 abril de 2012, pelo Ministro de Minas e Energia, Edison Lobão que, como todos sabem, responde diretamente à presidenta Dilma Rousseff.
Na sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado do dia 10 de junho de 2014, Paulo Roberto conta como se deu sua demissão. O diretor estava dando uma palestra no Ceará quando recebeu uma ligação da presidenta da Petrobras, Graça Foster, pedindo que ele fosse a Brasília conversar com o Ministro Edison Lobão. No dia seguinte, já no gabinete do Ministro, Paulo Roberto ouviu de Lobão que haveria uma mudança de gestão na Petrobras e que seria indicada uma nova pessoa para ocupar a Diretoria de Abastecimento. Foi então que, como é de praxe com autoridades, o Ministro Lobão pediu que Paulo Roberto Costa redigisse uma carta de demissão. O ex-diretor entregou a carta à presidenta Graça Foster no dia seguinte.
Contra fatos, não há argumentos. Fica claro, pelo depoimento de Paulo Roberto Costa à CPi da Petrobras, que a responsável por sua demissão foi a presidenta Dilma Rousseff, por meio do ministro de Minas e Energia - e não foi iniciativa do ex-diretor, como andam insinuando por aí, por pura má-fé. Quem tenta plantar esse tipo de factóide para desdizer as declarações de Dilma caminha na contramão do compromisso com a informação e com a verdade. Com Dilma, a corrupção jamais foi jogada para debaixo do tapete e, no caso da Petrobras, que é um patrimônio do povo brasileiro, a história não foi e nem será diferente.
A seguir, trechos do depoimento de Paulo Roberto Costa à CPI da Petrobras, em que ele conta como se deu sua demissão. Para acessar a íntegra do depoimento, clique aqui(link is external):
 http://www.mudamais.com/divulgue-verdade/nao-se-deixe-enganar-dilma-foi-responsavel-pela-demissao-de-paulo-roberto-costa-da

Como a história desenha o pensamento dos líderes


1 de outubro de 2014 | 11:46 Autor: Fernando Brito
gelula
De Nílson Lage, sobre a matéria do Folha  em que Lula diz que, após ler a biografia de Getúlio Vargas,  que ficou “assustado como um setor da imprensa brasileira e da elite tratavam o Getúlio. Se vocês leem a biografia, vocês têm a impressão que é hoje que está acontecendo”:
“Acredito que, enfim, nessa campanha, Lula e pelo menos parte significativa do PT assumem conscientemente o papel de herdeiros do trabalhismo brasileiro, forma própria de gestão que se apoia no pragmatismo e na tradição positivista de Getúlio Vargas, preservando o duplo compromisso com os trabalhadores e com a Pátria, sem o viés étnico dos nacionalismos europeus. 
Trata-se de um passo importante porque o partido, na sua origem, foi tolerado como “novo trabalhismo” formado em “modernas estruturas de produção transnacionais”, com forte matriz católica e, portanto, capaz de “confrontar o populismo e o comunismo” que, na visão de Goibery, fundiam-se no velho PTB de Jango e Brizola.
É exatamente o que a elite paulista não queria.”
Concordo, em gênero, número , grau e experiência de vida política, com o diagnóstico de Lage.
Mas também tenho dito aqui que, por essa origem, o PT sempre foi contaminado por duas distorções, que lhe cobraram alto preço.
A primeira, um “purismo” que é, em si, a apropriação da ideia de ética como um valor pequeno-burguês,  alinhado única e exclusivamente ao comportamento individual, o que abandona a dimensão social e política da ética, e reduz este conceito apenas a um paupérrimo significado moral.
O  comportamento “ético” pessoal – embora seja de minha formação, índole e convicção – é inútil e até hipócrita quando tergiversa diante do necessário à construção de uma sociedade onde não se viole o significado real da ética que é o de conduzir ao que serve ao bem-estar, à felicidade e à igualdade entre os seres humanos em sua vida coletiva.
Vou traduzir isso de maneira simples: o “tenho jatinho porque posso” de Tasso Jereissati ou “eu tenho direito ao meu Rolex” do assalto a Luciano Huck não podem ser considerados imorais ou violações de uma imaginária “ética pessoal” mas são cruelmente antiéticos quando se trata de pessoas que desempenham, na política e na mídia, papéis sociais em  uma comunidade miserável, a mesma que lhes deu avião e relógio, como dera os talheres de prata ao Bispo Myriel, os quais Jean Valjean furta em Os Miseráveis.
O segundo viés petista, que Lage admite agora estar sendo corrigido  é o de um certo economicismo, crendo que a simples elevação do padrão de vida dos trabalhadores os conduziriam, sem contradições, a um alinhamento político invencível.
De alguma forma, este pensamento se assemelha ao do “sindicalismo de resultados” que gerou a Força Sindical, de Paulinho (que hoje já dispensa comentários) e à indevida apropriação neoliberal dos versos de Go Back, do Torquato Neto: “só quero saber do que pode dar certo/não tenho tempo a perder”.
O polêmico professor de Filosofia Renato Janine Ribeiro, da USP, numa entrevista ao Brasil Econômico, outro dia, fez um resumo cru disto:
“Vocês não se escandalizam com o fenômeno da fome?”. O jornal espanhol “El País” publicou um artigo sobre a busca do governo pelos chamados “brasileiros invisíveis”. Pessoas extremamente difíceis de localizar, que muitas vezes não têm documentos, e que poderiam ser incluídas no Bolsa Família, mas que não têm acesso porque estão muito, muito invisíveis para o Estado. Isso é um empreendimento ético de primeira grandeza. E olha que “El País” é um jornal simpático ao tucanato, não gosta do PT. Quando li esse artigo, me perguntei: “Como é que o PT não usa esse tema na campanha?”. O PT priorizou a inclusão pelo consumo, o que tem inúmeras vantagens. Uma delas é a de que havia uma demanda reprimida de gente que queria comprar, e não podia. E esse consumo represado era de coisas essenciais, como comida, geladeira… Depois veio, por extensão, o consumo de itens menos essenciais — maquiagem, roupas melhores. Mas o PT não politizou essa inclusão pelo consumo e isso levou boa parte dos beneficiários a acreditar que eles não devem nada às políticas públicas. Uma parte até vai votar em outros candidatos porque não sente que deve ao PT esse acesso ao consumo — pensa que é graças ao esforço individual deles. Os beneficiários nem cogitam que, se a economia estivesse em recessão prolongada, eles ainda estariam na miséria”.
O segundo mandato de Dilma, caso se confirme, terá de ter esta politização, porque não se deve duvidar nem por um instante que o Brasil não vá sofrer, em escala ainda mais intensa, o ataque que passou a sofrer desde que, com o salto obtido durante a crise de 2008, tornou-se um “player” mundial.
Eu espero – e a esta altura, como Nílson Lage, já até creio – que Dilma e Lula (mais ela do que ele, aliás) não acreditem que esta campanha política vá terminar no dia da eleição de primeiro ou de segundo turno. Ela seguirá a cada dia – o seguinte às eleições, inclusive – até que o Brasil renove suas instituições políticas, partidárias e da comunicação e, com elas, um novo sentido de representação.
O que parece antevisto, na declaração que fez Dilma na entrevista aos blogueiros: “Terei um embate (político) mais sistemático; não serei mais tão bem comportada; me levaram para um outro caminho, que não era o que eu queria”
Ninguém quer, mas o próprio estancieiro e positivista Vargas, ao se converter em símbolo da afirmação do Brasil como Nação chegou ao 1° de Maio de 1954 com o discurso que talvez não quisesse, mas que lhe brotou consciência de  estar abrindo um país ao futuro:
“ Não me perdoam os que me queriam ver insensível diante dos fracos e injusto com os humildes. Continuo, entretanto, ao vosso lado. Mas a minha tarefa está terminando e a vossa apenas começa. O que já obtivestes ainda não é tudo. Resta ainda conquistar a plenitude dos direitos que vos são devidos e a satisfação das reivindicações impostas pelas necessidades.Tendes de prosseguir na vossa luta para que não seja malbaratado o nosso esforço comum de mais de 20 anos no sentido da reforma social, mas, ao contrário, para que esta seja consolidada e aperfeiçoada.
Para isso não cabe nenhuma hesitação na escolha do caminho que se abre à vossa frente. Não tendes armas, nem tesouros, nem contais comas influências ocultas que movem os grandes interesses. Para vencer os obstáculos e reduzir as resistências, é preciso unir-vos e organizar-vos. União e Organização devem ser o vosso lema.
Há um direito de que ninguém vos pode privar, o direito do voto. E pelo voto podeis não só defender os vossos interesses como influir nos próprios destinos da nação. Como cidadãos, a vossa vontade pesará nas urnas. Como classe, podeis imprimir ao vosso sufrágio a força decisória do número. Constituís a maioria. Hoje estais com o governo. Amanhã sereis o governo.
 Não deveis esperar que os mais afortunados se compadeçam de vós, que sois os mais necessitados. Deveis apertar a mão da solidariedade, e não estender a mão à caridade.Trabalhadores, meus amigos, com a consciência da vossa força, coma união das vossas vontades e com a justiça da vossa causa, nada vos poderá deter.”
Este pedaço (imenso) do “populista” Vargas por muito tempo foi desprezado , talvez porque seja da perversa tradição brasileira sonegar ao povo a sua própria história.
http://tijolaco.com.br/blog/?p=21678

Com o povo e “com as pessoas”. O retrato da “reta final” de Lula-Dilma e Marina Silva.


1 de outubro de 2014 | 13:40 Autor: Fernando Brito
elpais
Para quem acha que reportagem, que o descrever cenas do jornalismo não é, como sempre será, uma maneira de revelar o sentido da realidade, eu recomendo a leitura da matéria de Antonio Jimenes Barca, no El País, edição em português.
Melhor que qualquer análise sociológica.
Dá para entender porque Marina Silva acha bonito dizer que Chico Mendes era “elite”.

Dilma se fortalece com apoio de Lula em seus tradicionais comícios

A candidata petista e Marina Silva contrapõem dois estilos de fazer campanha, enquanto as pesquisas confirmam o afundamento da segunda

Antonio Jimenez Barca, do El País
Lula, com a voz destruída pela rouquidão, lança um de seus inflamados discursos e consegue – mais uma vez – galvanizar o público. Depois anuncia a presidenta Dilma Rousseff, que, também com a voz arranhada, atiça ainda mais os espectadores. Um deles, Sergio Cutme, um professor do ensino básico, lembra que as pesquisas são cada vez mais favoráveis à presidenta. E, segundo ele, a tendência vai prosseguir assim. É verdade. Dois levantamentos simultâneos, divulgados na terça-feira, dão como certeza que o final da campanha está sendo de Rousseff. O instituto Datafolha e o Ibope, os dois mais importantes do Brasil, estão de acordo: a petista abriu vantagem sobre Marina Silva, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), que, a poucos dias do decisivo primeiro turno do próximo domingo, perde apoios aos borbotões. Segundo o Datafolha, Rousseff, que no começo de setembro estava empatada com Marina Silva, agora lidera com clareza a disputa, com 15 pontos de vantagem: 40% para ela, e 25% para Silva. O terceiro candidato, o mais conservador Aécio Neves, que no começo de setembro parecia descartado, se recupera e, mantendo essa trajetória, estaria a um passo de superar Silva.
Rousseff, no comício, não fala muito sobre as pesquisas. Nem sobre a Bolsa, que afundou na segunda-feira, quando os mercadoscomeçaram a dar como fato consumado que a presidenta é a favorita. Ela prefere, como vem fazendo durante todo o mês de setembro, arrogar-se como a única capaz de proteger as, a seu ver, conquistas que o PT realizou nos últimos 12 anos, no seu mandato e nos de Lula. “Quem tem a experiência e o poder para manter tudo isso? Quem tirou 36 milhões de brasileiros da pobreza?” As pessoas gritam e aquiescem. Depois, Rousseff acrescenta, considerando o ambiente como seu: “Este é um lugar especial para nós”. As imediações da avenida Silva Samelo, na interminável periferia na zona sul de São Paulo, formam um bairro humilde, quase pobre, com pouca iluminação nas ruas. Minutos antes, marchavam pelas ruas famílias inteiras em formação, grupos de amigos e colegas de fábrica: pessoas que estão no PT desde sempre, e como sempre indo a um comício.
O evento que trouxe Marina Silva na terça-feira a São Paulo foi diferente: um local fechado, bem iluminado: duas centenas de pessoas sentadas em volta de duas cadeiras, a da candidata e a de seu vice, Beto Albuquerque. Por ali desfilaram, apoiando sua candidatura, representantes de povos indígenas, das organizações gays, das associações de mulheres, sociólogos, escritores, artistas, vendedores, empresários, estudantes, sindicalistas… Marina, quando pegou o microfone, afirmou: “Não se trata de fazer política para as pessoas, mas com as pessoas”. E depois acrescentou: “Esta é a festa da diversidade”, sinalizando sua intenção: sua candidatura se dirige a uma camada da população mais ampla que a do PT, esta centrada nos eleitores mais humildes.
Depois disso, Marina levantou a voz e denunciou, quase à beira das lágrimas, o mau juízo que o PT faz dela e da sua capacidade de governar. “Dizem que Marina é sonhadora, que por isso não serve para ser presidenta. E digo a eles que a matéria-prima mais concreta da política são os sonhos”. Suas palavras, no entanto, não parecem impactar os eleitores por enquanto. Se antes estava empatada em um eventual segundo turno com Rousseff, agora as pesquisas a apresentam atrás da presidenta. Prova de que o que vale mesmo são os comícios de sempre.
http://tijolaco.com.br/blog/?p=21683

A incrível “mutação dos votos” que fez Dilma não subir no Datafolha


1 de outubro de 2014 | 19:04 Autor: Fernando Brito

datafolha
Já que o controle – serei chamado de ditador por falar em controle? – da Justiça Eleitoral sobre as pesquisas de opinião, que se constituem hoje  no mais poderoso instrumento de propaganda eleitoral limita-se exclusivamente ao um burocrático registro, e a comunidade estatística nacional parece não existir, faço eu, de leigo, algumas indagações sobre o comportamento dos números do último Datafolha.
Vejam que interessante:
Na faixa com renda até dois salários mínimos, Dilma Rousseff havia subido dois pontos  em uma semana (variação entre as pesquisas  de 17/18 e 25/26 de setembro), passando de 44 para 46 pontos e, agora, com nova pesquisa quatro dias depois, 49 pontos.
Um crescimento bem forte, de quase um ponto diário.
Parou por aí.
No resto da sociedade brasileira, o Datafolha, que mostrava um crescimento de Dilma, em quatro dias, assegura que ela caiu, e caiu fortemente. Em padrões, vocês me perdoem, de comoção social…
Na faixa de 2 a 5 salários mínimos, Dilma havia crescido 3 pontos e e em quatro dias caiu 2.
No segmento com renda de 5 a 10 salários mínimos, a Presidenta havia subido 6 pontos e em quatro dias caiu 3!
E no grupo de mais de 10 salários-mínimos de renda, onde havia subido 6 pontos na semana anterior, no final de semana passado caiu seis pontos, ou quase dois pontos por dia!
Espetacular!
Aécio cresceu sete pontos em quatro dias entre os mais ricos (se é que se pode chamar de rico quem tem renda familiar de 7.500 reais!). Capaz de ter feito uma panfletagem na madruga no Baixo Leblon, só pode!
E não foi às custas da Marina, que também cresceu 4 pontos (um por dia) numa arrancada puxada, talvez, pela Associação de Lojistas dos Jardins!
Curioso é que Dilma sobe em todos os Estados, em todas as faixas etárias (curiosamente, no Datafolha, ela cai em uma única, 2% na de 45 a  59 anos, justamente naquela mais semelhante (de 45 a 54 anos) onde o Ibope registra o  maior crescimento  ( 7%) da  petista!
É bom o Marcos Paulino e o Carlos Augusto Montenegro se entenderem melhor, porque assim a coisa fica feia. Como se já não bastasse a diferença de 100 no número de nulos/brancos e indecisos que a gente mostrou ontem aqui.
http://tijolaco.com.br/blog/?p=21694

O eterno déjà-vu dos programas liberais, por Bruno De Conti


Artigo do Brasil Debate
Por Bruno De Conti*
Ler o programa econômico dos candidatos à Presidência não é exatamente uma tarefa prazerosa. De toda forma, em meio a esses calhamaços repletos de palavras bonitas e vãs, existem propostas importantes, reveladoras da maneira como o candidato pensa o Brasil e de suas estratégias.
Para perceber como os candidatos do PSDB pensam o País desde o início do século até hoje, resolvi ler os programas de suas últimas quatro candidaturas presidenciais. Não sei nem se isso é motivo de espanto, mas os programas revelam que eles continuam enxergando um mesmo Brasil – como se estivéssemos congelados no tempo – e propondo as mesmas coisas ano após ano, eleição após eleição.
Em 2002, o programa do candidato José Serra bradava pela manutenção do tripé macroeconômico; defendia um “choque de eficiência na administração pública”; dizia que a legislação trabalhista deveria se adaptar às “novas tendências da economia e do mercado de trabalho”, dando liberdade para negociações entre trabalhadores e empresas; fazia um apelo ao empreendedorismo. No campo externo, prometia a implementação da ALCA, a Área de Livre Comércio das Américas.
Quatro anos depois, em 2006, o programa de Geraldo Alckmin, ironicamente fazendo ode ao período 1930-80, dizia ser necessário retomar as bases do crescimento.
Para tanto, a receita seria: o ajuste das contas públicas, já que “o Estado é grande e ineficiente”; a modernização da legislação trabalhista; e o aprofundamento da abertura ao comércio exterior, para impor a “disciplina do mercado”. Para a política externa, dizia que os BRICS “não são aliados naturais” e propunha novamente a ALCA.
Passam-se mais quatro anos e, em 2010, José Serra propõe de novo uma “gestão fiscal eficiente”, com austeridade e a criação de um Conselho de Gestão Fiscal. No setor externo, defende menos conivência com a China e os países sul-americanos e acordos preferenciais com os grandes mercados (leia-se EUA).
Outros quatro anos se seguem e, em 2014, Aécio Neves, em suas diretrizes, defende austeridade fiscal, “Estado eficiente”, reformas micro, incentivo ao empreendedorismo, aprofundamento da abertura comercial etc. Afirma, inclusive, que serão “lançadas as bases para um acordo preferencial com os Estados Unidos” – ou seja, até mesmo a ALCA, reiteradas vezes rejeitada nas ruas pelo povo brasileiro, continua a fazer parte da receita.
Não bastasse essa repetição quadrienal do programa econômico do PSDB e, na atual eleição, ele se desdobra em dois! A candidatura Marina Silva – como repetidamente indicado por seus assessores – tem elevadíssima convergência com o programa econômico de Aécio: reforço do tripé macro; austeridade nos gastos públicos, com a criação de um Conselho Fiscal; flexibilização do mercado de trabalho e estímulo ao empreendedorismo.
A diferença é que o programa de Marina é menos despudorado que o dos tucanos, radicalizando os argumentos liberais e propondo um Banco Central independente e o fim dos empréstimos compulsórios.
É impressionante como ao longo de 12 anos e quatro eleições o diagnóstico que eles fazem para o País é exatamente o mesmo e as políticas propostas são exatamente as mesmas.
Alguns dirão que isso se trata de coerência. Concordo em parte. Por um lado, trata-se de uma coerência quase religiosa em torno ao ideário do liberalismo econômico. Por outro lado, revela certo desapego em relação à análise concreta de uma realidade em transformação.
Será que nada mudou de 2002 a 2014?
No cenário internacional, esse período inclui uma fase de elevado dinamismo econômico, uma crise de dimensões globais e o esforço de todos os países do mundo por enfrentar as consequências dessa crise – na Europa, a propósito, a tentativa de enfrentá-la por meio da austeridade fiscal, regra de ouro dos programas supracitados, tem se revelado desastrosa.
No Brasil, algumas coisas também aconteceram. À maioria da população brasileira os números são desnecessários, já que ela percebe, a despeito dos inúmeros problemas que ainda enfrenta, que sua vida melhorou nos últimos 12 anos.
Àqueles que precisam de números, eles mostram, por exemplo, que a dívida líquida do setor público era de 60,4% do PIB em 2002 e de 35% do PIB em 2014. Em 2002, a taxa de desemprego era de 11,7% do PIB e em 2014 está em torno de 5%. Em 2002, a taxa de pobreza era de 34,4%, tendo caído para menos da metade em 2014.
Esses números são evidentemente restritos e as análises não podem parar aí. De toda forma, eles levantam algumas questões: por que o mantra da austeridade, se as contas públicas estão controladas? Por que a obsessão pela flexibilização do mercado de trabalho, se os empregos estão sendo criados? E assim por diante.
Marina e Aécio criticam o programa de Dilma por seu pretenso caráter retrógado. Colocando-se como os arautos da modernidade, dizem que a coordenação estatal da economia é algo do passado, devendo ser substituída pelo ágil Estado (Mínimo) do século 21.
O que não percebem é que o século 21 já está a pleno vapor, com todos os seus conflitos e transformações e eles continuam com o mesmo discurso.
Discurso, aliás, que não retrocede apenas a 2002, mas aos anos 1980, com Thatcher e Reagan; aos anos 1970, com a ditadura Pinochet; e até mesmo ao século 19, na Inglaterra. Se já é estranho ver um mesmo receituário repetido ao longo de mais de uma década no Brasil, mais estranho ainda é vê-lo reiteradamente proposto em países e períodos tão distintos.
A pergunta inevitável é: o que têm a ver o Chile de 1973, os EUA de 1981 e o Brasil de 2014? Bem pouco. Mas, para eles, não importa. O receituário liberal será obstinadamente proposto a qualquer país do mundo e em qualquer momento histórico. Por quê? Porque favorece alguns interesses e classes sociais, em detrimento de outros.
A despeito da sensação de déjà-vu que sempre provoca, esse receituário será reapresentado nas eleições de 2018, 2022 e enquanto houver capitalismo. Cabe, portanto, à população brasileira rejeitá-lo novamente – nas urnas e nas ruas – a cada vez que ele se colocar.
Crédito da imagem: Carta Maior
* Bruno De Conti é professor do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (CECON/Unicamp)
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O padrão de denúncias do jornalismo declaratório


O  primeiro ponto a considerar no denuncismo da mídia, é que ele tem lado político. Até aí nenhuma novidade. O ponto relevante é que o denuncismo não obedece a técnicas mínimas de qualidade jornalística. O jornalismo transformou-se em um autêntico "o que vier eu chuto".
Desde os anos 90, muito mais intensamente agora, nos aquários das redações criou-se uma demanda por escândalos que nenhum exército de repórteres experientes poderia dar conta.
A saída inicial foi cair de cabeça no chamado jornalismo declaratório. Consiga uma declaração qualquer, de uma fonte qualquer, e abstenha-se de checar sua veracidade: plante que o editor garante.
Esse modelo nasceu  com a campanha do impeachment de Collor e desenvolveu-se em várias vertentes. Em Brasília, por exemplo, na fase Ricardo Noblat o Correio Braziliense tornou-se um desses centros de ensinamento do neojornalismo declaratório, que ajudou a modelar toda uma geração de repórteres.
O auge desse modelo foi na fase Veja-Cachoeira, na qual as reportagens não conseguiam passar sequer em testes básicos de verossimilhança. Nesse ponto entra em jogo o padrão Murdoch, importado por Roberto Civita e aceito acriticamente pelos demais grupos de mídia.
Nesse modelo, não há mais a necessidade de nenhum vínculo entre a notícia e o fato. Abdicou-se do próprio conceito de notícia, que passou a ser tratada definitivamente como dramaturgia.
Os novos padrões de escândalo
Mas há outra vertente de escândalos menores que se incorporou ao dia-a-dia das redações, especialmente explorando o desconhecimento - dos leitores e provavelmente dos próprios jornalistas - de aspectos técnicos das manobras de Internet.
Dois problemas muito comuns:
1. O uso individual de computadores ligados em rede.
Trata-se de problema de toda organização. O funcionário usa o computador da rede interna para entrar em redes sociais. É um caso meramente administrativo, de usar o horário comercial para outras tarefas.
No neodenuncismo da mídia, foi adaptado para teorias conspiratórias. Levantaram uma mudança no perfil da Mirian Leitão, ocorrido no ano passado, identificou-se um IP do Palácio do Planalto e imediatamente desenvolveu-se a teoria conspiratória.
Deu certo - já que a presidente Dilma Rousseff endossou o jogo, exigindo apuração rigorosa do ocorrido.
Depois disso, tornou-se padrão graças à imaginação exuberante dos jornais e da oposição. Toca a caçar IPs em páginas da Wikipedia, em comentários de Blog para identificar algum vindo de organizações públicas. E a brava oposição, pavloviana segue o receituário: descobre-se o IP, a mídia faz o alarido e um deputado convoca o presidente da companhia para prestar esclarecimentos.
2. Os ataques maciços de DDOs.
É uma espécie de ataque no qual centenas de computadores acessam ao mesmo tempo um determinado endereço, derrubando-o. Tornei-me especialista na matéria depois que o Blog foi alvo de quarenta dias de ataques da gang da TelexFree.
O sistema funciona através de malwares que infectam computadores. Esses vírus permitem o controle do computador pelo hacker, que monta um exército de zumbis para atacar o alvo. O computador que ataca é tão vítima do hacker quanto os alvos visados.
Ontem, a campanha da Marina Silva denunciou um ataque ocorrido 18 dias atrás (!). E divulgou os IPs localizados.
E aí o douto Jornal Nacional tratou todos os IPs como suspeitos. Parte dos "suspeitos" estava infectada. No máximo valeria um puxão de orelhas no TI, por permitir a contaminação de computadores.
Mas outra parte dos "suspeitos" eram provedores. Assim, entraram na lista de suspeitos a Oi-Telemar, a Claro e a Net.
A mais rica equipe jornalística do país não sabia diferenciar provedor de acesso de proprietário de redes de computadores. Não apenas listaram os provedores "suspeitos" como foram até eles para saber sua posição. Nenhum respondeu. Mas posso imaginar o que pensaram: "esses jornalistas endoidaram de vez".
As relações de causalidade
Outro expediente utilizado é abolir de vez qualquer relação de causalidade entre fatos e notícia.
Por exemplo, o Estadão denunciou que os Correios ajudaram a campanha de Dilma permitindo a distribuição de panfletos em condições especiais. Depois, o próprio jornal admite que as tais "condições especiais" fazem parte de um serviço dos Correios ao qual recorreram todos os partidos e candidatos. Logo, não houve favorecimento algum.
Ontem, um deputado qualquer diz que foi graças aos Correios que o PT conseguiu crescer em Minas Gerais. Em vez de apurar qual foi a ajuda dos Correios, o jornal já saca da algibeira a reportagem que ele próprio desmentiu.
Trocou a pauta - descobrir qual foi a ajuda - pela versão mais cômoda. E o presidente dos Correios, Wagner Pinheiro teria muito a contar sobre temas cabeludos.
http://jornalggn.com.br/noticia/o-padrao-de-denuncias-do-jornalismo-declaratorio

VOTO EM DILMA



Nunca foi tão necessário derrotar o pensamento conservador, o eterno obscurantismo que tenta fazer a roda da História andar para trás
Minha razão para votar em Dilma tem origem na convicção fundamental de que o dever principal do Estado e dos governantes é defender os humildes e os desprotegidos, os que não tiveram oportunidade.
Também se baseia nas melhores estatísticas, que podem ser lembradas sempre que necessário, e ajudam a entender quem fez o quê, quando, para quem.
Estou falando da distribuição de renda, para lembrar que queremos viver num Brasil de cidadãos iguais, homens e mulheres. Acredito que é preciso manter a  prioridade no emprego e no salário, no mercado interno, porque sabemos que  só progresso no bem-estar da população de baixo gera melhoras reais para o conjunto da  sociedade.
Não tenho religião mas tenho  uma fé política: creio que numa democracia todos os poderes emanam do povo. Não imagino um país de cabeça baixa, refúgio de escravos tristes e senhores de sorriso amarelo pelo excesso de esperteza.
Não acredito em contos de fada nem admiro heróis de álbum de figurinha.
Não creio num futuro de privilégios nem de favores. A hierarquia não eleva. A inferioridade incomoda.
Só a luta pela igualdade é ética.
Penso em Dilma quando tentam nos assustar com o medo ridículo de mais uma queda na Bolsa, querendo ligar o destino do país ao enriquecimento de tubarões de um cassino pobre e podre, habituados a embolsar seus lucros e transferir suas desgraças para a maioria da população.
Penso em Dilma quando vejo um candidato aparecer na TV sem conseguir — apesar de muito treinamento — disfarçar sua conversa vazia. Nada consegue dizer porque muito tem a esconder.
Penso nela quando até um ator de Hollywood,  envergonhado, sentiu-se no dever de informar que fez papel de bobo e retira o apoio a uma concorrente.
Os analistas de gabinete estão atônitos, os economistas de encomenda e os consultores milionários fogem de clientes inconformados. Faltam poucos dias para o povo ir às urnas e tudo que imaginaram,  prometeram, deu errado. Mentiram, apenas mentiram, mentiram de novo.
Apesar do massacre cotidiano, das cortinas de fumaça, das trapaças, das demonstrações de má fé, milhões de brasileiros foram capazes de compreender aonde estão seus interesses, distinguir quem zela por suas necessidades e tem disposição de lutar por elas. Não é de hoje que aprenderam o que é classe social.
Por vários caminhos, com as idéias mais exóticas, incongruentes na origem mas idênticas na finalidade, formou-se uma grande aliança para tentar fazer a roda da história andar para trás. Deu errado.
Dilma só é chamada de agressiva, e suas críticas são chamadas de ataques, porque é assim que acontece com quem desafia o coro das ideias dominantes.
Nunca os mais pobres conseguiram vencer tantos enganos, tantas ilusões.
Nunca tiveram a mesma oportunidade de arrumar o país para ficar um pouco do seu jeito, onde possam fazer valer sua vontade e serem tratados com dignidade.
Nunca foi tão necessário derrotar o preconceito, a ideologia nefasta dos senhores de sempre, o pensamento conservador do eterno obscurantismo — marcas daquilo que muitos anos atrás nosso maior poeta do século XX chamou de mundo caduco.
Em meio a tanta dificuldade, tanta injustiça, tanta mudança a ser feita, vivemos num país onde 94% dos favelados dizem que estão felizes com a vida que levam.
Por isso, voto e peço voto em Dilma.
http://paulomoreiraleite.com/2014/10/01/voto-em-dilma/