sábado, 11 de outubro de 2014

Para cumprir liminar judicial, retirada de água para SP terá de cair até 40%. E já


10 de outubro de 2014 | 22:18 Autor: Fernando Brito
cantar4
Se for para cumprir, para valer, a decisão do juiz federal Miguel Florestano Neto, da 3ª. Vara Federal em Piracicaba,  que determinou que  se “revejam as vazões de retirada do Sistema Cantareira pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) para abastecer a Grande São Paulo”  com objetivo, segundo relata o Estadão de ” assegurar que o consumo da primeira cota do volume morto não se esgote antes do dia 30 de novembro”, o abastecimento de água na região servida pelo sistema terá de ser cortado entre 30 e 40%, imediatamente.
Não é preciso um especialista para chegar a esta conclusão, da qual a imprensa e as autoridades do governo paulista fogem ou fingem não perceber.
O Cantareira amanheceu hoje com 5,1% de seu volume, já considerado aí tudo o que ainda se espera retirar do moribundo reservatório do Jacareí.
Havia 49,75 bilhões de litros de água.
No dia primeiro deste mês eram 65,65 bilhões de litros.
Foram consumidos, portanto, 15,9 bilhões de litros em dez dias, ou 1,59 bilhão/dia.
O déficit é, entretanto, crescente. De ontem para hoje esta marca chegou a quase 1,8 bilhão de litros.
Ainda que considerada a média destes dez dias e a média da quantidade de água que tem entrado nas represas (3,83 m³ por segundo), a água daria para 41 dias até zerar totalmente, ou dia 10 de novembro.
Se a afluência de água dobrar, com as chuvas, ao dia 20.
Para chegar ao dia 30, seria necessário triplicar.
Haja chuva, ainda mais porque a terra está ressecada, absorve muito antes de drenar e ainda há o empoçamento, para diminuir a quantidade de água que chega aos pontos de captação.
A foto deste post foi tirada pelo fotógrafo Nilton Fukuda dias atrás. De lá para cá, a água baixou mais de 20 centímetros nesta vala que se tornou um gigantesco reservatório que possuía quase um trilhão de litros de água.
O que está sendo feito com o povo paulista é uma monstruosidade.
Se as providências fossem tomadas logo que os alertas de seca se acenderam, em fevereiro, não seria necessário algo brutal.
Infelizmente, será.
http://tijolaco.com.br/blog/?p=21961

O caso Petrobras e a Justiça das incríveis coincidências


11 de outubro de 2014 | 08:44 Autor: Fernando Brito
coincid
O mundo, realmente, deve ser muito pequeno.
O doleiro Alberto Yousseff já foi acusado, processado, firmou um acordo de delação premiada, rompeu-o e foi condenado por um juiz criminal do Paraná.
Isso em 2004, dez anos atrás, pelo caso Banestado, que envolvia lavagem  de dinheiro para campanha da dupla Jaime Lerner (DEM), que tinha uma coligação informal com Álvaro Dias (PSDB) em 1998.
Quem era o juiz?
O Dr. Sérgio Moro, que definia o doleiro como “um bandido profissional”.
Um década depois, outro  processo envolveu Yousseff e, por uma destas artes incríveis do destino,  o juiz é o mesmo Dr. Sérgio Moro.
A menos que haja uma conexão entre os dois casos, separados por mais de uma década, só pode ser uma imensa coincidência.
Yousseff ficou preso até fevereiro de 2004. Dois meses antes de seu atual comparsa, Paulo Roberto Costa, conseguir, indicado pelo falecido deputado José Janene, do PP, uma nova diretoria na Petrobrás.
E Yousseff passa a ser operador de Costa.
Não parece crível que um executivo corrupto vá chamar para ajudá-lo, em operações secretas, um camarada que acaba de ser solto, depois de gramar meses de cadeia por corrupção empresarial (e política).
Afinal, há dúzias de operadores financeiros “ficha limpa”, sem condenação criminal e muito menos cadeia, prontos a “fazer o serviço”, por polpudas comissões.
Fica-se sabendo agora que o Dr. Moro nada tem a opor ao vazamento dos depoimentos de Yousseff e Costa porque seriam ”um consectário normal do interesse público e do princípio da publicidade dos atos processuais em uma ação penal na qual não foi imposto segredo de justiça”, e que não estariam relacionados com a delação premiada de Costa e Youssef.
Mas, diga o leitor, se o pagamento propinas a partidos políticos não está relacionado à delação premiada negociada com o STF, o que estaria?
Por que Yousseff e Costa, num estranho balé verbal, usaram a expressão “agentes políticos”, para fazerem suas acusações a políticos e não tenham se referido a ninguém que, por deter mandato, estivesse sob foro do STF?
Porque isso foi uma ordem do juiz Moro, transcrita na Folha:
“Esse processo em participar diz respeito a supostos desvios de valores da Petrobras através de empresas contratadas da Petrobras. Antes de lhe indagar a esse respeito, vou fazer alerta: não tratamos autoridades com foro privilegiado porque vão ser tratadas pelo STF, então, não decline nomes de autoridades. Pode se referir a agentes políticos, agentes públicos. Evidentemente, isso vai vir a público no momento adequado”.
Quer dizer, então, que ao não se falar o nome do “agente político” que deve ser julgado no STF, qualquer juiz de comarca pode tratar daquele suposto ilícito que teria de ser apurado e julgado numa ação penal da Suprema Corte?
Por que, se era público, não se permitiu o acesso de todos e “vazou” um vídeo, com características de gravação clandestina, sem imagens e apenas o áudio? Certamente não foi por obra do advogado de Yousseff, Dr. Figueiredo Basto, que só por acaso era, até poucos meses,  integrante nomeado (pelo  governador  tucano Beto Richa) do conselho de uma estatal paranaense e ele próprio advogado de Richa em pelo menos uma ocasião, não é?
E o que  seria  ”momento adequado” para vir a público, Dr. Moro, o senhor poderia fazer a fineza de explicar-nos, a todos quantos confiamos na isenção do Judiciário?
Seria no momento em que todas as tevês e jornais iriam colocar acusações de um ladrão e seu doleiro “bandido profissional” – na sua própria definição, Dr. Moro –  como imputações a partidos e candidatos que não têm sequer o direito de saber das acusações que existem, porque, para negar-lhes acesso, aí vale o segredo de Justiça?
Ah, foi tudo casual, espontâneo, coincidência….
http://tijolaco.com.br/blog/?p=21966

O “ebola” pode não ser ebola, mas o ódio “deu positivo”



11 de outubro de 2014 | 10:22 Autor: Fernando Brito
negros


Apesar do terror que se procurou espalhar – ontem, na Voz do Brasil, ouvi o senador Paulo Davim, médico, criticar o governo brasileiro por não ter “instalado barreiras sanitárias  em portos, aeroportos e estradas de fronteiras (estradas de fronteira com a África? – o exame do paciente internado como suspeito de portar o vírus deu negativo para a possibilidade de estar contaminado, o que será, dentro dos procedimentos sanitários adequados, confirmado ou não por novo teste, no domingo.
Outra doença, porém, “deu positivo”: o ódio racista.
O Dia e o  Clóvis Rossi (do UOL) publicam hoje reportágens sobre como as manifestações agressivas ao cidadão que estava sob suspeita de ter sido contaminado pelo virus se espalharam.
A de cima, que reproduzo de O Dia, chega a propor o assassinato de uma pessoa.
Estes são os monstros de que falei, outro dia, estarem despertos pela agressividade que se incentiva na vida brasileira.
E que perdeu – à revelia, até, de muitos de seus participantes – todos os freios e limites desde que passamos ao “vale-tudo” que muitos aplaudiram desde junho passado.
O caso do ebola não é, em muita coisa, diferente das denúncias que tomam conta de nossa mídia.
Só que aí não há exames que, em 48 horas, possam dizer o que há e o que não há.
Muito menos autoridades que sigam os procedimentos adequados para, prudentemente, verificar se o que diz um ladrão ao qual se acena com o perdão judicial é verdade ou mentira.
Mas há ódio igual, que se expressa num “mata e esfola” semelhante ao extermínio proposto ao pobre paciente.
http://tijolaco.com.br/blog/?p=21970

A pobre e triste condição do homem


Ariano Suassuna


Compadecida: Intercedo por esses pobres, meu filho, que não têm ninguém por eles.
 Não os condene.
É preciso levar e conta a pobre e triste condição do homem.
Os homens começam com medo, coitados, e terminam por fazer o que não presta, quase sem querer. É medo!
(...)
Medo de muitas coisas, do sofrimento, da solidão, e no fundo de tudo, medo da morte.
(...)
Na oração da Ave Maria, os homens pedem para eu rogar por eles na hora da morte.
Eu rogo. E olho para eles nessa hora, e vejo que muitas vezes, que é na hora de morrer que eles finalmente encontram o que procuraram a vida toda.
João Grilo foi um pobre como nós, meu filho, e teve que suportar as maiores dificuldades de uma terra seca e pobre como a nossa. Pelejou pela vida desde menino. Passou sem sentir pela infância. Acostumou-se a pouco pão e muito suor. Na seca comia macambira, bebia o sumo do xique-xique, passava fome.
E quando não podia mais, rezava, quando a reza não dava jeito, ia se juntar a um grupo de retirantes, que iam tentar sobreviver no litoral, humilhado, derrotado, cheio de saudades.
E logo que tinha notícia da chuva, pegava o caminho de volta, animava-se de novo, como se a esperança fosse uma planta que crescesse com a chuva, e quando revia sua terra dava graças à Deus por ser um sertanejo pobre, mas corajoso e cheio de fé.
Peço-lhe muito simplesmente que não o condene.
 http://jornalggn.com.br/blog/gilberto-cruvinel/a-pobre-e-triste-condicao-do-homem