domingo, 9 de novembro de 2014

Para não perder para Eduardo Cunha governo recua e diz aceitar outro candidato do PMDB



É lamentável que o governo fique refém da chantagem do PMDB e não tenha outra escolha que passe por abdicar do direito legítimo de presidir a câmara por meio de seu partido, o PT, para não ter que entregá-la a Eduardo Cunha, expressão mais repulsiva do político profissional, demagogo, corrupto que está disposto a ser um dos maiores, senão o maior obstáculo ao governo Dilma nesse segundo mandato que ainda nem se iniciou, caso seja eleito presidente da câmara, e que prenuncia maus presságios com as dificuldades geradas por agentes de sua própria base de sustentação política, depois de uma eleição renhida e difícil na qual parte do PMDB fazia oposiçao declarada a candidatura da presidenta. 

Setores do partido que foram derrotados juntos com o candidato da oposição, Aécio Neves, ao qual apoiaram abertamente, insistem em criar uma crise política em torno da disputa pela presidência da câmara que por acordo de rodízio deveria ser ocupada pelo PT, tornando a eleição que seria mera formalidade num cabo de guerra puxado numa ponta por Eduardo Cunha e aliados e, na outra, pelo governo e o PMDB de Temer que nessa demonstração de força e exibição de músculos aparenta ter sido facilmente vencido. 

O governo para não sofrer uma derrota humilhante sinaliza estrategicamente retirar a candidatura do PT e abrir caminho para que o PMDB presida tanto a câmara quanto o senado desde que o partido isole Cunha e impeça que seja o candidato. De todas as maneiras estamos em apuros. Em minha modesta opinião no PMDB não há nada de bom. Numa e noutra situação ficamos naquele paradoxo de se correr o bicho pega e se ficar o bicho come. O melhor caminho seria construir uma alternativa que não levasse em conta o PMDB. Como essa hipótese não existe, o governo tem que dialogar, buscar meios de frear uma eventual eleição de Cunha que seria um monumental desastre.

Quem poderia nos livrar dessa maldição seria a mídia se de fato sua campanha pela moralização dos costumes políticos fosse verdadeira. Assim poderia trabalhar pelo esclarecerimento da opinião pública ao mostrar que neste momento, a presidenta Dilma se ver obrigada a ter que ceder as ameaças do PMDB, partido que está na base do governo não por acordo programático, mas por interesses outros, menores, envolvendo cargos e verbas que mais tarde resultarão numa sucessão de escândalos de corrupção que são alimentados por esses acordos espúrios, pelos conchavos que garantem a governabilidade por um lado, e por outro faz essa administração descer as raias da política miúda por não dispor de outra alternativa e ter seu campo de escolhas políticas limitado, uma repetição dos mesmos erros cometidos. 

A mídia exerceria um importante papel na defesa do interesse público se colocasse de lado suas questões de preferências partidárias para denunciar a chantagem da qual é vítima não a presidenta da República, mas o estado brasileiro ameaçado por uma malta de salteadores, corruptos empedernidos que estão a criar uma situação de conflito ético que terá desdobramentos futuros para perplexidade do povo que ficará mais uma vez indignado diante do descaso com o qual é tratada a coisa pública quando estourar mais uma daquelas centenas de escândalos de corrupção tantas vezes apurados pela policial federal, fruto desse tipo de ameaça que coloca o governo entre as cordas. 

À imprensa, enquanto partido de oposição que age na defesa de sua própria agenda que é diferente da agenda do governo e do interesse público geral da nação, importa que a atual conjuntura se mantenha para ter mais munição que alimente o denuncismo hipócrita e instale o clima de profunda insatisfação na população para favorecer seu espectro político.

Em harmonia com isso, Eduardo Cunha não tem a menor condição moral de presidir a câmara. Todos sabemos e salta aos olhos que seu passado de transgressão as leis vigentes fique muito bem escondido para além dos holofotes que o colocariam sob o olhar crítico da opinião pública que está mais impaciente e menos tolerante com os maus feitos dos políticos papel que caberia a mídia realizar. 

A câmara não merece passar pelo constrangimento de ser presidida por um tipo como Eduardo Cunha. A doença do antipetismo porém faz a mídia jogar às favas todos seus escrúpulos e se dá por satisfeita de ter um aliado que já declarou que em caso de vitória não permitirá que uma das principais propostas de governo da presidenta Dilma durante a campanha siga adiante, a saber, a regulação econômica da mídia. Somente por isso a Eduardo Cunha a mídia dá uma cobertura tão favorável e distoante do passado que representa. 

Cunha não é um aliado qualquer. É um corrupto respondendo a inúmeros procedimentos judiciais que pelos padrões morais tão decantados pela mídia de mercado, em oposição a "roubalheira petralha", não deveria sequer sonhar pretender presidir a câmara alta do congresso nacional. Mas como a cruzada pseudomoralista da mídia é apenas um disfarce para fazer oposição acirrada ao PT e criar dificuldades políticas ao governo, seu aliado de ocasião atende perfeitamente a esses interesses subalternos em detrimento dos anseios que foram incutidos no povo e que supostamente prezavam valores que protegeriam as instituições de homens inescrupulosos como o próprio que anuncia que disputará a presidência da câmara e nem de longe representa e/ou personifica tais princípios de gestão que a mídia apregoa defender.

Somente a responsabilidade de manter as instituições a salvo dos riscos de uma presidência com Eduardo Cunha chefiando uma coalizão de chantagistas, dispostos a levarem o governo a constantes derrotas no plenário da câmara, obriga-o a recuar do propósito de fazer seu partido disputar as eleições e oferecer ao PMDB, ou a seção do partido que a presidenta considera capaz de agir eticamente, o poder total sobre o legislativo para buscar uma política de redução de danos em nome de um bem maior que evite que se instaure a corrupção como modelo de gestão na câmara alta do parlamento e cada votação de interesse do governo se torne um espetáculo degradante de negociatas, de fisiologismo desbragado, baseado na filosofia franciscana do é dando que se recebe. 

Não há mais espaço na opinião pública que a faça suportar que esse tipo de modelo político na construção das relações do governo com aliados prevaleça. Isso só aumentaria a tensão e traria insatisfações maiores, de proporções imprevisíveis cujo desaguadouro seria as ruas novamente tomadas por manifestações de protestos que dessa vez derrubaria todo sistema.