Nas mais de três horas de conversa com jornalistas
nesta quarta-feira, o ex-presidente rebateu denúncias de investigação
envolvendo seu nome, criticou a imprensa conservadora, o impeachment,
falou de eleições e do PT, mas também mandou recados à presidente Dilma
Rousseff, especialmente sobre medidas econômicas; Lula apontou um
"equívoco político" na mudança do discurso feito pelo governo durante as
eleições e depois de eleito e também sugeriu ações "mais ousadas"
contra a crise; sobre a Petrobras, ele também opinou: "Eu não venderia
os ativos da Petrobras"
20 de Janeiro de 2016 às 19:24
Gisele Federicce, 247
– Nas longas respostas elaboradas aos 11 jornalistas que participaram
da entrevista a blogueiros progressistas nesta quarta-feira 22 no
Instituto Lula, em São Paulo, o ex-presidente rebateu denúncias de
investigação envolvendo seu nome, criticou a imprensa, o impeachment,
falou de eleições e do PT. Mas também usou seu tempo para mandar recados
à presidente Dilma Rousseff. Vários deles.
Diversos trechos de sua fala vinham acompanhados de expressões como
"eu espero que a Dilma..."; "eu acredito que a Dilma vá..." ou ainda
"quero crer que a Dilma...". Eles se referiam principalmente a tomada de
medidas em prol do crescimento econômico do Brasil e, consequentemente,
pela saída da crise, e a uma desejável reação do governo diante de
tantas críticas ou notícias negativas na imprensa.
Lula comentou, em uma das respostas, o quão difícil é eleger um
sucessor. "É muito difícil eleger sucessor. Quando você tem um cara de
oposição no governo, tudo fica mais fácil porque é só descer o cacete.
Mas quando você elege um sucessor, você tem obrigação de ser parceiro,
obrigação de ajudar nos bons momentos e nos maus momentos, se não você
não é parceiro, se não você não é companheiro".
O ex-presidente admitiu um "equívoco político" do governo Dilma, "já
admitido" por ela, que foi o fato de o PT ganhar as eleições com um
discurso e depois tê-lo mudado. "A Dilma dizia que não mexeria no
direito do trabalhador nem que a vaca tussa, que ajuste era coisa de
tucano... e depois ela foi obrigada a fazer", lembrou. "Nós não ganhamos
uma pessoa do mercado com isso", lamentou. "Não ganhamos ninguém e
perdemos a nossa gente".
Segundo ele, "a Dilma tem um desafio agora. Em algum momento nesse
mês vão ter que anunciar alguma coisa, até para explicar por que o
[ex-ministro da Fazenda, Joaquim] Levy saiu, o que vai mudar". Lula
cogitou que a presidente faça um pronunciamento "logo, logo" para
anunciar o que virá nos próximos anos de seu governo.
Como que num lamento, Lula admitiu aos jornalistas que não venderia
os ativos da Petrobras. "Eu, sinceramente, não venderia. Se o governo
entendeu que essa era a saída, paciência. Eu não faria", disse. "Nós não
podemos abrir mão do que é estratégico para o país", acrescentou,
citando França e Alemanha como exemplos. "Aquilo que é estratégico está
nas mãos deles. Não abrem mão, não".
Ao fazer críticas a notícias negativas divulgadas diariamente na
imprensa tradicional, Lula sugeriu: "A Dilma tem que fazer a pauta desse
país, toda semana criar um fato político. Se não será pautada pelos
jornais, todo dia uma denúncia diferente". Para ele, "o governo não pode
deixar que uma minoria paralise o País, paralise o governo".
Sobre medidas econômicas capazes de fazer o Brasil superar a crise, o
ex-presidente defendeu uma "forte política de crédito" a fim de
"colocar os pobres em cena outra vez" e movimentar o mercado interno,
além de ações mais ousadas do governo. "Eu acredito que a Dilma será
ousada daqui para a frente", afirmou. "E deve ser ousada".
Lula ressaltou que presidente "tem que conversar mais com a
sociedade, se organizar mais com os partidos aliados". "Acho que o
grande sinal que o governo tem que dar é esse: nós vamos retomar o
crescimento desse país custe o que custar", disse. "Isso é necessário. É
necessário porque se a gente não tomar iniciativa, há uma estimativa de
que o PIB possa cair mais 3% em 2016", afirmou, em referência às
previsões do FMI divulgadas nesta terça-feira 19.
Questionado sobre a atual política de juros, Lula opinou, poucas
horas antes de o Copom, do Banco Central, anunciar sua posição sobre a
taxa básica de juros, que "não há nenhuma necessidade de aumentar a taxa
Selic nesse momento". Para o petista, "o governo está com a bola e tem
que dizer qual o ritmo do jogo". O antecessor de Dilma defendeu
investimentos em infraestrutura, mesmo que seja necessário se endividar.
"Não tem problema você aumentar a dívida em alguma coisa se for para
construir um ativo novo para gerar emprego novo, para gerar renda, para
gerar desenvolvimento. Não tem nenhum problema", avaliou. Sobre
desemprego, elogiou que a presidente tenha terminado o primeiro mandato
com o menor índice da história do País. "Ela tem que saber que é
primazia dela chegar a 4,8% [anual] e que tem que ser dela a retomada do
crescimento", finalizou, como que num pedido.
http://www.brasil247.com/pt/247/poder/214050/Entrevista-de-Lula-teve-v%C3%A1rios-recados-a-Dilma.htm
Leia aqui reportagem de Thais Arbex sobre o assunto.
http://www.brasil247.com/pt/247/sp247/214074/Doria-Vamos-pedir-para-o-Moro-adiar-essa-pris%C3%A3o.htm