segunda-feira, 2 de junho de 2014

O caso Mário Wallace Simonsen

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MÁRIO WALLACE SIMONSEN - O criador da TV Excelsior e dono da Panair 
Por Chico Santto , no Terceiro Tempo
Mário Wallace Simonsen nasceu em 21 de fevereiro de 1909 na cidade de Santos e morreu no vilarejo de Orgevall, aos 56 anos, em 24 de março de 1965 na França. Sobrinho de Roberto Simonsen, fundador da Federação das Industrias do Estado de São Paulo, a FIESP, tornou-se uma das figuras mais notáveis e poderosas do Século XX com o conglomerado de 30 empresas, entre as quais se destacavam a Panair, CELMA, Banco Noroeste do Estado de São Paulo, Biscoitos Aymoré e TV Excelsior, além da Comal ? a maior exportadora de café do Brasil - e  Wasim Trading Company, representada em 65 países. Simonsen atingiu o auge dos negócios entre os anos 1930 e 1950. Durante o período de sangria política, ganhou notoriedade pública como articulador da democracia. Corajoso, lutou abertamente contra o autoritarismo do país tendo, inclusive, colocado a sua TV Excelsior para apoiar o presidente socialista João Goulart. Publicamente, nos anos 60, teve o nome associado de forma oficial à candidatura de Juscelino Kubitschek na campanha presidencial de 1965. Entretanto, mais do que a derrota no Golpe de 1964, viu a ruína de seu império desmoronar diante dos muitos ataques de ordem político-militar da época. Ao fim dos anos 60 não só a TV Excelsior, tida como divisor de águas no que diz respeito à programação moderna da televisão brasileira, como suas demais empresas trocaram o milionário faturamento anual por uma cadeia de falência. De forma rápida e inesperada, seu império entrou em ruína. Abatido pela perseguição, Wallace Simonsen se mudou para Paris. Do outro lado do Atlântico, viu sua mulher Baby, com quem teve três filhos, Wallace, John e Mary Lou - falecer vitima de uma depressão profunda. Neto de ingleses, não chegou a receber a notificação do fechamento da TV Excelsior, em 30 de setembro de 1970. Seu descontentamento com o Brasil era tão grande que seu corpo sequer foi trazido de volta à América após a sua morte, cinco anos antes. Mário Wallace Simonsen foi sepultado no cemitério La Batignolle, de Paris. Junto com o seu corpo foi enterrada, de forma misteriosa, parte da história política do Brasil, um capítulo mal escrito da nossa nação.****************
O CASO PANAIR: O ESQUECIMENTO DE QUE A DITATURA FAZIA MAIS QUE TORTURAR
No caso da repressão, talvez se chegue à punição ou, no mínimo, à identificação de militares torturadores, mas o papel da Oban e da Fiesp e de outros civis coniventes permanecerá esquecido nas brumas do passado, a não ser que a tal Comissão da Verdade siga a sugestão do [Carlos] Araújo e jogue um pouco de luz nessa direção também.
Luís Fernando Verissimo, na crônica Os coniventes, de 21 de março de 2013
Cerveja que tomo hoje é
Apenas em memória dos tempos da Panair
A primeira Coca-cola foi
Me lembro bem agora, nas asas da Panair
A maior das maravilhas foi
Voando sobre o mundo nas asas da Panair
Conversando no bar (Canção de Milton Nascimento e Fernando Brant)



Milton Ribeiro
Há alguns anos, esta canção de Milton Nascimento recuperou seu título original de Saudades dos aviões da Panair. Na época em que foi lançada por Elis Regina, em 1974, os autores tiveram receio de falar em Panair e em suas saudades da empresa logo no título da canção. Então, ela foi rebatizada para Conversando no Bar. Afinal, era proibido sentir saudades da enorme e respeitada empresa que, por ação dos militares, foi desmontada sem maiores explicações nos primeiros meses do Golpe de 1964. Num país pobre e quase desindustrializado, a existência da Panair do Brasil S. A. era motivo de orgulho nacional.
Logotipo da Panair: pouso forçado em abril de 1965
Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 1965, 15 h. Um telegrama do Ministério da Aeronáutica chegou aos escritórios da Panair, a maior companhia aérea do país e uma das maiores do mundo. A mensagem era simples e dava conta de que o governo estava cassando seu certificado de operação em razão da condição financeira insustentável da empresa. O telegrama vinha assinado pelo ministro Eduardo Gomes. A Panair não tinha nenhum título protestado nem impostos atrasados, mas o telegrama adiantava que ela não tinha meios para saldar suas dívidas e que estava proibida de voar. Os dias eram assim, também cantava Elis, ou podiam ser assim.  À noite, tropas do Exército invadiram os hangares da Panair e a Varig imediatamente assumiu todas as  concessões de linhas aéreas e propriedades da concorrente. E conseguiu fazer isto sem atrasar nenhum voo. Provavelmente, tinha sido alertada sobre os caminhos se abririam para ela naquele grande abril.
Um avião que levava um passageiro e 25 fardos de borracha na Amazônia em 1943
A revogação das concessões de linhas aéreas da Panair do Brasil foi decretada pelo Marechal Castelo Branco e a Varig era de propriedade de um aliado do governo militar, Ruben Berta  – nome de bairro em Porto Alegre. De uma tacada, a atitude provocou o desemprego de cerca de 5 mil pessoas, deu à Varig o monopólio dos vôos aéreos internacionais do Brasil e isolou quarenta e três cidades da Amazônia, pois nenhuma outra empresa operava os hidroaviões Catalina, os únicos que alcançavam aquelas localidades. Já a Celma, a subsidiária da Panair que fazia a manutenção das turbinas aeronáuticas civis e militares no Brasil, foi estatizada. Fim.
Provavelmente, não houve apenas uma razão um motivo para que os militares responsáveis pelo Golpe de 1964 perseguissem a Panair. Provavelmente, o motivo foi o conjunto da obra e, certamente, houve considerável influência externa. Mário Wallace Simonsen, o principal sócio da empresa, era um dos homens mais ricos do país. Era uma versão principesca de nossos super-ricos, uma espécie de Eike Batista com glamour. Simonsen era o sócio majoritário da Panair, o dono da TV Excelsior, da Comal — maior exportadora de café do Brasil num período em que o café respondia por dois terços das exportações nacionais –, da Editora Melhoramentos, do Banco Noroeste, do Supermercado Sirva-se (o primeiro a existir no Brasil), da Rebratel (qualquer semelhança com o nome Embratel não é mera coincidência) e de mais 30 empresas. A rapidez com ele foi expurgado do mundo empresarial brasileiro após  1964 foi absolutamente espantosa. A única empresa que continuou a existir foi o Banco Noroeste, que foi repassado a seu primo Léo Cochrane Simonsen até ser recentemente comprado pelo Banco Santander.
A família era admiradíssima como os ricos costumam ser. Presença constante nas colunas sociais, sabia-se que a família Wallace Simonsen – Mário, sua esposa Baby e os três filhos Wallace, John e Mary Lou – viviam como reis. A linda Mary Lou era figura comum nas revistas dos dois lados do Atlântico. Sua festa de debutante foi realizada em Londres, na presença da rainha da Inglaterra. Seu noivado também ocorreu na capital inglesa, só que na embaixada do Brasil. Seu irmão Wallinho andava com um espantoso Mercedes-Benz esportivo nas ruas de São Paulo e tinha casa com mordomo em Paris.
Ou seja, tratava-se do jet set da época, pessoas que normalmente têm boas relações com o poder. Mas Mário Wallace Simonsen devia ter graves problemas, na opinião dos militares. Por que a ditadura empenhou-se tanto para acabar com o império de Simonsen? Há várias possibilidades: é notório que a Varig – cuja diretoria era amiga da ditadura – desejava o mercado aéreo dominado pela Panair, que os Diários Associados queriam o mercado da TV Excelsior e que as empresas americanas de café, representadas por Herbert Levy, queriam abocanhar a Comal. E se havia tais pressões civis, talvez houvesse também um bom motivo militar.
Mário Wallace Simonsen, dono de um grupo de empresas destroçadas pelo Golpe de 64
Simonsen não era especialmente simpático à esquerda nem tinha intimidade com João Goulart, porém, em agosto de 1961, enquanto Jânio Quadros estava em visita à China, Simonsen posicionou-se ao lado da legalidade. Houve “acusações” – fato inverídico – de que Jango teria voltado da China num avião da Panair. Mas a verdade talvez seja ainda pior: Simonsen mandou um executivo da empresa avisar o vice-presidente sobre o que estava em andamento no Brasil. Jango não sabia de nada, pois naquele tempo as comunicações eram tais que o vice-presidente poderia retornar da China sem cargo e sem saber de nada. Então, avisado, Jango deu telefonemas de Paris e Zurique, onde fazia escalas, para San Tiago Dantas — seu futuro Ministro de Relações Exteriores e da Fazenda — e para o ex-presidente Juscelino Kubitschek, articulando sua ascensão ao cargo que lhe cabia constitucionalmente.
Logo após o Golpe, o deputado Herbert Levy conseguiu criar uma CPI da Comal, a empresa de exportação de café de Simonsen.  Levy era uma figura da ditadura militar. Foi deputado federal por dez mandatos consecutivos, entre 1947 e 1987, pela UDN, Arena, Partido Popular, PDS, PFL e PSC, além de secretário da Agricultura do Estado de São Paulo em 1967, durante a administração Abreu Sodré. Na CPI, Levy conseguiu que o novo regime cancelasse a licença da empresa para comercialização de café, sem que ela tivesse um único título protestado.
Sempre com a ditadura: além de deputado, Herbert Levy fundou os jornais Gazeta Mercantil e Notícias Populares
Quando o novo governo, ignorando acordos assinados pela Comal com as autoridades monetárias, concluiu que a empresa tinha para com o Estado uma dívida de café no valor de US$ 23 milhões, Simonsen ofereceu seu vasto patrimônio como garantia para continuar operando. O Banco do Brasil fez as contas e concordou com a proposta, mas, logo em seguida, voltou atrás. O incrível é que depois, ainda em plena ditadura, Levy viu rechaçadas pelo Supremo Tribunal Federal todas as acusações que fizera à Comal. Mas as empresas de Simonsen, àquela altura, já tinham sido fechadas, fracionadas ou vendidas.
A TV Excelsior, como insistisse em cobrir o Golpe Militar, foi invadida e, no Rio de Janeiro, sofreu intervenção do governador Carlos Lacerda, inimigo declarado de Simonsen.
Tudo acabou muito rápido para Mário Wallace Simonsen. Deprimido, vítima de uma campanha governamental que depois partiu para difamações através dos jornais que apoiavam a ditadura, arruinado após oito meses de “investigação” no Congresso, morreu destituído de quase tudo em Orgevall, um local próximo a Paris, no dia 24 de março de 1965. No dia seguinte, os jornais de São Paulo publicaram um anúncio fúnebre assinado pelos funcionários da TV Excelsior. Agora os ódios e as perseguições não o podem mais atingir, dizia.
Merchandising estilo Panair
Apenas em dezembro de 1984, o Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu que a falência da Panair foi uma fraude. A União Federal foi condenada. A Panair luta até hoje, mas ainda não foi indenizada.
São fatos de 48 anos atrás e, obviamente, muita gente morreu, mas há velhos funcionários da Panair que sonham com um impossível retorno da empresa sob alguma forma. Ao menos, até hoje se reúnem anualmente para lembrar os velhos tempos. Têm saudades dos aviões da Panair. A empresa voltou a existir em 1995 e hoje conta com três funcionários, todos advogados, cujo trabalho é o de seguir com as ações indenizatórias. É raro, mas volta e meia o assunto dá notícia.
Em 2008, foi lançado o excelente longa-documentário Panair do Brasil, de Marco Altberg, que pode ser visto na programação da TV Brasil. É um excelente filme.
Neste sábado (23), a Comissão Nacional da Verdade realizou sessão pública para discutir a extinção da Panair e os contínuos atos de perseguições empreendidos pela ditadura militar a partir de 1965. Participaram da audiência o coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Paulo Sérgio Pinheiro, a coordenadora do grupo de trabalho Golpe de 64, Rosa Cardoso, o representante do Arquivo Nacional, Jaime Antunes, e o presidente da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, Wadih Damous. Também estava na reunião Rodolfo da Rocha Miranda, atual presidente da Panair do Brasil.
Como disse Carlos Araújo e confirmou Luís Fernando Verissimo, esta é uma face muito pouco discutida da ditadura: a que não envolve tortura física nem gente da esquerda, a do puro interesse econômico e corrupção, da vingança pessoal, das falências arranjadas e do silêncio.
E, evidentemente, do notável crescimento de algumas empresas de civis que foram beneficiadas durante a ditadura.

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Um tributo a Panair do Brasil











Leia aqui: 
Emoção domina audiência pública sobre o caso Panair
"Mário Wallace Simonsen, entre a memória e a história”
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Do Contexto Livre
Comar, Panair, TV Excelsior: O capitalista que o golpe de 64 destruiu com requintes de crueldade










Bibi na Excelsior: Com os Trapalhões, Barbosa Lima Sobrinho, Cid Moreira, Tarcísio Meira, Glória Menezes e outros…
Dizem por aí que foi um golpe anticomunista. Não exatamente. Foi um golpe que aniquilou todos aqueles que não rezavam pela cartilha dos militares subordinados aos Estados Unidos, que na política econômica assumiram, em 64, o liberalismo de fronteiras abertas pregado por Washington. Com Roberto Campos, o Bob Fields, e Otávio Gouveia de Bulhões. 

Jango não era comunista. Rubens Paiva não era comunista. Brizola não era comunista. Mário Wallace Simonsen não era comunista. O golpe foi contra os trabalhistas e, portanto, contra o trabalhador. Foi o golpe da turma que tinha ódio do salário mínimo. Aliás, acreditamos que o ódio ao PT hoje em dia é alimentado, entre outras coisas, pelo fato de que o partido contribuiu para acabar com a “criadagem” barata. 

PS do Viomundo: A TV Excelsior inventou os horários fixos de programas e, portanto, a grade de programação. O telejornal que chamou a “Revolução” de golpe tinha como editor Barbosa Lima Sobrinho. A Excelsior tinha Bibi Ferreira em horário nobre. Trouxe Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir para falar no Teatro Cultura Artística, sua sede em São Paulo. Sofreu dois incêndios misteriosos, em seguida. No momento final, apresentou um plano de recuperação ao governo Médici dando terras em São José dos Campos como garantia. Quem costurou o acordo foi o advogado Saulo Ramos. Assim que os representantes da emissora deixaram a reunião, Médici cassou a concessão. A Globo herdou o elenco da Excelsior. A emissora de Roberto Marinho tinha surgido graças a uma injeção de capital internacional, da Time Life. Ou seja, foi a vitória do capital internacional sobre o doméstico. Ao fim e ao cabo, Excelsior vs. Globo foi um retrato do próprio golpe. Falida, a emissora teve os ossos descarnados por concorrentes midiáticos, como a turma da Folha. Tudo em casa.
NAS ASAS DA PANAIR 
Panair do Brasil, uma história de glamour e conspiração

O filme Panair do Brasil, resgata a história da empresa Panair do Brasil S.A, símbolo de modernidade e eficiência, foi uma das companhias aéreas pioneiras do Brasil nascida em 1930, viveu o seu auge nas eras JK e Jango(1956/1963). Ao tomar o poder, o regime militar perseguiu a Panair e seus dirigentes, o que resultou na cassação de suas linhas aéreas em 1965. Tudo levava a crer, nos bastidores do poder, que a Varig naturalmente se envolveria na aquisição de parte da Panair, porém, ela acabou nas mãos dos grandes empresários Celso da Rocha Miranda e Mário Wallace Simonsen. Tal desfecho incomodou a VARIG, que dava como certa mais uma aquisição de outra empresa aérea nacional. Entretanto, em seu apogeu acabou por ter suas operações aéreas abruptamente encerradas em 10 de fevereiro de 1965, devido a um decreto do governo militar, que suspendeu suas linhas. A opção pela suspensão, ao invés da cassação, foi um mero artifício técnico encontrado pelo governo militar. Assim as operações poderiam ser, na prática, paralisadas de imediato, sem o decurso dos prazos legais de uma cassação. Até hoje suas linhas encontram-se tecnicamente suspensas. Imediatamente após a suspensão, estranhamente os aviões e tripulações da VARIG já se encontravam prontos para operar os principais voos da Panair nos aeroportos do Brasil e do mundo, evidenciando que a Varig havia sido comunicada do processo de cassação antes mesmo do que a própria Panair do Brasil. Nos dias seguintes, a empresa entrou na Justiça com um pedido de concordata preventiva, já que possuía boa situação patrimonial e financeira, e uma inigualável imagem de confiança e bons serviços prestados ao londo de décadas. Assim a recuperação judicial seria possível caso o decreto do governo fosse revogado. Porém, o Brigadeiro Eduardo Gomes, então Ministro da Aeronáutica, teria interferido no caso, pressionando o juiz responsável pela avaliação do caso, e, fardado, pressionou-o a indeferir a concordata. Assim, em um caso inédito na justiça brasileira, deu-se o indeferimento da ação no prazo recorde de 24 horas. O magistrado, em sua decisão, alegou que a Panair do Brasil não conseguiria recuperar-se, pois sem a operação de suas linhas não haveria receita. Essa decisão não levou em consideração, pela evidente pressão, que a empresa teria receitas provenientes de suas grandes subsidiárias, que atuavam nas mais diversas áreas de aviação civil, manutenção de turbinas ou, ainda, das receitas do conglomerado que a controlava, que incluía desde seguradoras, imobiliárias, fábricas do setor alimentício, exportação de café e telecomunicações e aeroportos da própria Panair. O fechamento total da empresa pela ditadura militar, só se deu definitivamente em 1969, através de um ato até então inédito na história do direito empresarial brasileiro, um "decreto de falência" baixado pelo Poder Executivo, durante o governo do General Costa e Silva. O principal beneficiário deste processo foi Ruben Berta, proprietário da VARIG, que apoiador do regime militar e amigo pessoal de diversos militares de alta patente, que acabou recebendo as concessões de linhas aéreas internacionais da Panair do Brasil e incorporou parte dos qualificados funcionários da empresa sem custo algum.










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